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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ENSAIADOR
O ENSAIADOR

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

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22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

CONTINUA

22. Se por acaso alguém se atrevesse a afirmar: nada impede que o vapor aquoso, mesmo grosso, impulsionado ao alto por alguma força, cause assim refração e reflexão do cometa (parece-me que não existe outra solução: por longa experiência foi demonstrado que os corpos quanto mais ralos e transparentes, menos brilham, ao menos em aparência, o contrário quando são grossos e escuros; como, pois, o cometa brilhava com uma luz tão intensa, suficiente para superar o brilho das estrelas de primeira grandeza e os próprios planetas, sua matéria deverá ser grossa e escura ao menos em alguma parte; com efeito, observamos a madeira, sendo grandíssima sua refração, esbranquiçada mais que esplendorosa e sem algum raio brilhante); e se este vapor fumacento foi tão grosso de refletir uma luz tão brilhante e intensa, e se, como Galileu quer, ela ocupou uma parte bastante ampla do céu, que aconteceu nas estrelas que brilhavam através deste vapor embaixo, não suportavam refração alguma insólita e não apareciam maiores nem menores que antes? Com certeza, havendo ao mesmo tempo medido o mais exatamente possível a distância entre uma e outra estrela que circundavam o cometa de toda parte, verificamos que as nossas medidas não eram diferentes das de Tycho; todavia, a experiência nos ensina, e Vitello e Halazen o deixaram escrito, que as grandezas das estrelas e suas respectivas distâncias variam pela interferência de tais vapores. É necessário, então, afirmar ou que estes vapores foram tão leves e ralos que não impediram de forma alguma a luz dos astros (eles, porém, já demonstraram serem menos aptos a produzir a luz do cometa por refração) ou, o que é muito mais verdadeiro, que foram nulos.

Podemos raciocinar muito sobre este argumento, o que não me parece ser do agrado de Sarsi.

Em primeiro lugar, nem o Sr. Mário nem eu ousamos nunca afirmar que os vapores aguacentos e grossos foram atirados para o alto para produzir o cometa; assim, toda a argumentação que se apoia na impossibilidade desta posição cai e desaparece. Em segundo lugar, que os corpos se iluminem sempre menos, quanto à aparência, conforme sejam mais ralos e notáveis, e sempre mais quanto mais grossos, como afirma Sarsi ter verificado através de longas experiências, eu o considero bem errado.

Confirma-me esta teoria uma única experiência, isto é, observar igualmente iluminada uma nuvem como se ela fosse uma montanha de mármore, mesmo sendo o material da nuvem suficientemente mais ralo que o das montanhas. Assim, não percebo que necessidade tenha Sarsi de afirmar que a matéria do cometa é mais densa e escura que a dos planetas (assim parece-me que ele afirme, se entendi bem o significado de suas palavras), e, além disso, não tendo muita certeza de que o cometa fosse mais brilhante que as estrelas de primeira grandeza e os planetas. Porém, mesmo que ele fosse assim, por que introduzir tanta densidade de matéria, se nós percebemos os vapores crepusculares resplandecerem mais que as estrelas e do que ele? Sem falar daquelas pequenas nuvens do outro cem vezes mais brilhantes. Em terceiro lugar, mesmo aceitando que um vapor fumacento e grosso tivesse sido aquele que produziu o cometa, não era necessário que ele produzisse tanta diferença nos intervalos entre estrela e estrela, mas que, por causa da refração nesse vapor, ele discordasse das medidas de Tycho, e que, pelo contrário, diversidade alguma fosse observada medindo-os com extrema exatidão.

Se devo dizer a verdade, percebo duas coisas que me desagradam muito. Uma, que eu não vejo a possibilidade de poder acreditar na teoria de Sarsi sem negar a de seu Mestre, pois um diz ter medido com enorme exatidão as distâncias entre estrelas e o outro desculpa-se ingenuamente de não ter tido a possibilidade de fazer tais observações com a tranquilidade que teria sido necessária, por falta de instrumentos grandes e exatos como os de Tycho, pelo que pede que não se leve em muita conta suas observações experimentais. A outra é que eu não sei de que forma explicar para V. E. Ilustríssima, com a modéstia e reserva que desejo, a minha dúvida de que o Sr. Sarsi não entende perfeitamente o que sejam estas refrações, e como e quando elas se originam e produzem seus efeitos. Porém V. E., que sabe fazê-lo com sua infinita gentileza, comunique-lhe que os raios que cortam em ângulos retos, ficando o objeto à vista, a superfície daquele ar que produz a refração, não se manifesta refração onde existe possibilidade de refração. Porém, as estrelas, rumo ao vértice como aquelas que nos enviam seus raios perpendiculares à superfície esférica dos vapores que circulam a Terra, não sofrem refração; mas as mesmas, conforme declinem mais ou menos na linha do horizonte e por consequência sempre mais obliquamente cortam com seus raios a referida superfície, sempre mais produzem uma refração, mais falsamente nos mostram seus lugares. Avise-o também de que, sendo o limite desta matéria não muito alto, onde a esfera com vapores não é muito maior que o globo terrestre, em cuja superfície nós nos encontramos, a incidência dos raios originados pelos pontos próximos do horizonte é muito oblíqua, obliquidade que se tornaria sempre menor quanto mais a superfície dos vapores se colocasse no alto; assim, quando se elevasse tanto que sua distância compreendesse muitos semidiâmetros da Terra, os raios que chegassem a nós de qualquer ponto do céu muito pouco obliquamente poderiam cortar a referida superfície, mas seriam como se tendessem ao centro da esfera, que é o mesmo que dizer que eles são perpendiculares à sua superfície. Ora, porque Sarsi coloca o cometa mais alto que a Lua, nos vapores que cobrissem tanta altura, não se poderia verificar refração alguma, e por conseguinte nenhuma sensível aparência de diversidade de lugar nas estrelas fixas. Não é necessário, então, que Sarsi diminua mais ainda esses vapores para desculpar a falta de refração, e muito menos necessário é que os tire de tudo. Caíram outros neste mesmo erro, enquanto persuadiram-se de poder mostrar que a substância celeste não difere da próxima elementar, nem pode existir aquela multiplicidade de orbes, pois, se ela existisse, verificar-se-ia grande diversidade nos lugares aparentes das estrelas devido à diversidade das refrações realizadas em tantos diáfanos diferentes; este discurso é vão, pois a grandeza desses orbes, mesmo sendo todos os lugares diáfanos diferentes entre eles, não produziria à nossa vista refração alguma, como se fossem colocados no mesmo centro desses orbes.


23. Passemos ao terceiro argumento: Galileu afirma que a matéria do cometa não difere da matéria dos corpúsculos que se movimentam ao redor do Sol com revolução estabelecida, chamados pelo vulgo manchas solares. Não nego isto, pelo contrário, afirmo que no tempo no qual foi observado o cometa mancha alguma foi percebida no Sol por um mês inteiro, e mui raramente foram depois observadas nele tais manchas; assim, algum poeta poderia, não sem razão, partir daqui e afirmar brincando que naqueles dias o Sol havia lavado o rosto luminosíssimo mais diligentemente que de costume e, com os restos de seu banho espalhados pelo céu, ele próprio formou o cometa e depois admirou-se de que sua sujeira brilhasse mais claramente que as estrelas. Mas por que vou eu perseguir tal brincadeira poética? Volto ao meu discurso. Admitamos, então, que cometas e manchas, por assim dizer solares, possuam a mesma matéria; como, então, esta matéria que deve gerar o cometa sai sempre com movimento reto e perpendicular à Terra, o que é que o leva a ir ao redor do Sol e a movimentar-se perpetuamente no mesmo sentido ao longo das linhas paralelas da eclíptica, deturpando a face do Sol com aquelas manchas? Se a natureza dos corpos leves é de ir rumo ao alto, por que, então, o mesmo vapor ora sobe em linha reta, ora movimenta-se ao redor com leis tão determinadas? Se por acaso alguém afirmar que ele, por causa da sua força poderosíssima, movimenta-se sempre em linha muito reta e, aproximando-se do Sol, obediente à sua vontade, movimenta-se rumo ao lugar que o poder régio do senhor indicou-lhe, com certeza me admirarei que, enquanto os outros corpos formados pela mesma matéria encontram-se tão unidos ao Sol, só o cometa nascido perto do Sol deseja ardentemente destacar-se o mais possível e prefira apagar-se entre as gélidas ursas, em lugar obscuro, em vez de permanecer entre os raios do Sol podendo sombreá-lo interpondo o próprio corpo. Porém estes são raciocínios físicos mais que matemáticos.

Sarsi continua, como já relatei mais acima, apresentando conclusões arbitrárias, atribuindo-as ao Sr. Mário e a mim, para contestar-nos e desta forma atribuir-nos a autoria de opiniões absurdas e falsas.

O Sr. Mário, para exemplificar ser possível que matérias ralas elevem-se muito acima da Terra, trouxe o exemplo da aurora boreal, querendo Sarsi com isso demonstrar ser da mesma matéria que o cometa.

Por isso, não satisfeito ainda, opinando que a reflexão da luz não se pudesse verificar com outras condições atmosféricas a não ser as úmidas, atribuiu ao Sr. Mário e a mim a afirmação de que os vapores úmidos e pesados sobem ao céu formando o cometa. Acontece que nós afirmamos que a matéria do cometa é a mesma das manchas solares, lembradas somente pelo Sr. Mário para demonstrar como ele acha que a matéria celeste possa movimentar-se, gerar e dissolver algumas matérias, mas nunca para afirmar que elas originem o cometa. Por tudo isto entenda, V.E. Ilustríssima, como meu protesto, manifestado acima, de que o cometa não deve ser imaginado dentro de uma enorme garrafa gordurosa não foi nem ridículo nem fora de propósito. Nunca afirmei que o cometa e as manchas solares são da mesma matéria; mas vou me explicar melhor agora, apesar das grandes oposições de Sarsi, porque não tenho medo de afirmar e sustentar minha posição. Ele não gosta de afirmar que uma matéria sutil procede em linha reta rumo ao corpo solar e que, chegando lá, procede em órbita; porém, por que não perdoa o argumento apresentado pelo Sr. Mário, nem perdoa Aristóteles e os peripatéticos que fazem subir o fogo em linha reta até a Lua e ali mudar seu movimento reto circular? E como faz Sarsi para sustentar que é impossível que um pedaço de madeira caia do alto perpendicularmente num rio rápido, e chegado à água comece logo a ser levado ao redor do globo terrestre? Mais válida seria, na verdade, a outra hipótese colocada por ele, isto é, como pode verificar-se que, querendo todas as outras matérias do cometa ir juntas avidamente rumo ao Sol, ela só tenha fugido afastando-se rumo ao norte.

Esta dificuldade, como afirmo, o obrigaria, se ele mesmo não tivesse explicado mais acima, quando dizendo que Apoio lavava a face, jogando fora a água, da qual originava-se o cometa, ele não houvesse declarado de ter a opinião que a matéria das manchas solares sai do Sol e não procede em direção ao Sol.


24. Observemos agora o quarto argumento: Vamos agora para os argumentos ópticos que provam, com muita eficácia, que nunca o cometa foi ilusão vã e que nunca vagueou feito fantasma entre as trevas noturnas; mas mostrou-se a todos, num lugar determinado com o aspecto que sempre ele teve. Com efeito, tudo aquilo que aparece originado pela refração da luz, mesmo que não exista realmente, como o arco-íris, o halo e muitas outras coisas parecidas, segue sempre a lei de acompanhar o corpo luminoso por cuja luz é gerado com movimento contínuo e obrigatório, qualquer que seja a direção. Assim o arco-íris IHL que, encontrando-se o Sol no horizonte A, possui o vértice de seu semicírculo em H, se considerarmos que o Sol subirá de A para D, descerá na parte oposta e inclinará o vértice H rumo ao horizonte de seu semicírculo; e quanto mais alto subir o Sol tanto mais baixar-se-á o vértice H do arco-íris; de modo que o arco-íris movimenta-se sempre no mesmo sentido do movimento solar. E isto pode-se observar também nos halos, nas coroas e nos periélios, pois tendo forma de coroa numa determinada distância, ao redor de um corpo luminoso do qual são gerados, são também levados no mesmo rumo, por seu próprio movimento. Percebe-se isto mais claramente ainda na imagem luminosa que o Sol, pondo-se, forma sobre a superfície do mar e dos rios: com efeito, quanto mais o sol afasta-se de nós tanto mais afasta-se ela também, até que, depois de se pôr, desaparece. Com efeito, consideramos que o BI seja a superfície do mar, insensivelmente diferente de uma superfície plana; coloque-se em A o olho do observador do litoral; coloque-se o Sol no começo em F, transportem-se de D os raios FD e DA, de maneira que formem os ângulos ADB, FDE de incidência e de reflexão iguais em D: então a luz do Sol será vista em D. Desça agora o Sol em G, e da mesma forma de antes, levem-se do Sol G ao olho de A duas linhas que formam com a reta BE ângulos de incidência e de reflexão iguais: elas coincidirão no ponto E e não em outro lugar, como resulta claro: a luz do Sol, então, aparecerá em E: e pela mesma razão, descendo o Sol ainda mais em H, a luz aparecerá em I. O contrário acontece todas as vezes que esta mesma luz é produzida nas águas pelo Sol nascente: então, com efeito, como o Sol aproxima-se mais do nosso zênite, assim também a luz aproxima-se daquele que a observa: por exemplo, antes aparecerá em I, depois em E, enfim em D. Qualquer um poderia entender que estas aparências luminosas movimentam-se sempre em direção ao mesmo lado onde vão os corpos luminosos que as produzem. Como, portanto, o cometa, sem controvérsia, considera-se produzido pela luz do Sol, deve seguir também o rumo dele; se não o faz, não pode ser colocado entre os meteoros luminosos. Afirmo, então, que nunca se observou no cometa tal coisa. Com efeito, encontrando-se o Sol, no primeiro dia no qual foi observado o cometa, isto é, dia 29 de novembro, de 6 graus e 43 m em Sagitário, e tendendo ainda rumo ao Capricórnio, necessariamente em todos os sucessivos dias até ao 22 de dezembro teve necessariamente de baixar numa linha vertical qualquer; e, se observamos este movimento, o Sol naquela época estava se afastando do equador sempre mais rumo ao sul; e assim, se o cometa foi do gênero das luzes produzidas por refração ou reflexão, necessariamente teve que ir para o sul; contudo, foi tão diferente seu movimento que preferiu proceder rumo ao norte; para talvez demonstrar com isto a Galileu sua liberdade, e ensinar que ele nada teve do Sol mais daquilo que têm os homens que andam na sua luz, e aonde o desejo deles os levar eles irão livremente. Se por acaso alguém apresentar alguma outra regra de reflexão e refração, diferente das acima mencionadas, regra que achasse dever-se atribuir ao cometa por alguma razão oculta, é necessário ao menos estabelecer se o cometa, admitindo uma vez a regra do movimento, a segue depois exatamente. Se alguém quer isto, seja como quiser. Era próprio dos cometas não movimentar-se seguindo o movimento do Sol, mas fazendo o contrário; enquanto o Sol ia para o sul, eles fugiam para o norte; os mesmos deveriam, porém, voltando o Sol para o norte, pela mesma razão ir rumo ao sul. Então quando o Sol, aos 22 de dezembro, isto é, na época do solstício de inverno, voltava novamente para o norte, nosso cometa devia voltar, pelo contrário, ao lugar de onde se tinha afastado: todavia, guardou constantemente sempre o mesmo movimento para o norte: assim, resulta bem claro que não existe relação alguma entre o movimento do Sol e o movimento do cometa, pois, nem mesmo que o Sol se movimente em direção a um lado ou a outro, o cometa avança com o mesmo rumo que havia escolhido desde o início.

Qual fora a sequência dos três argumentos apresentados antes, ficou bem claro até agora; e acredito que o próprio Sarsi não lhes tenha dado, por serem físicos, muita consideração, considerando mais os seguintes, derivados das demonstrações ópticas, muito mais concludentes e eficazes que os anteriores: claro indício de não ter ficado muito satisfeito com os argumentos naturais. Mas raciocine melhor e concorde que alguém que queira nos persuadir a respeito de uma coisa senão falsa ao menos duvidosa leva uma grande vantagem em utilizar argumentos prováveis, hipóteses, exemplos verossímeis, sofismas, alicerçando-se e escondendo-se atrás de textos muito claros, atrás da autoridade de outros filósofos, de naturalistas, de retóricos, de historiadores. Mas apresentar rigorosas demonstrações geométricas é perigoso demais para aquele que não as sabe utilizar bem; pois, como em relação a uma coisa não existe caminho do meio entre a verdade e o falso, assim nas demonstrações necessárias ou aceitamos conclusões indubitáveis ou silogiza-se sem desculpa, sem ter a possibilidade, mesmo limitadamente, com distinções distorcendo as palavras ou com outros recursos, sustentar-se em pé, mas é necessário, com palavras breves e na primeira vez, permanecer César ou nada. Esta exatidão geométrica permitirá que eu, com maior brevidade e menor tédio para V. E. Ilustríssima, possa me libertar das provas seguintes, provas que eu chamarei ópticas ou geométricas mais para ajudar a Sarsi, pois possuem, das figuras em diante, muita perspectiva ou geometria.

Como V. E. Ilustríssima pode perceber, Sarsi tem a intenção de concluir, neste quarto argumento, que o cometa não pertence ao gênero das imagens só aparentes, originadas pela reflexão e pela refração dos raios por causa do relacionamento que possui com o Sol, relacionamento diferente daquele que nós sabemos ser aparências puras, como os arco-íris, o halo, os periélios, os reflexos marinhos, todos os quais, afirma ele, movimentam-se de acordo com o movimento do Sol; mas, como em relação ao cometa aconteceu o contrário, então não é uma ilusão. Aqui, mesmo que a resposta precisa teria sido afirmar que não há necessidade de que o cometa deva seguir o estilo do arco-íris, do halo e das outras imagens já nomeadas, pois é diferente do arco-íris, do halo e das outras, todavia eu quero conceder-lhe algo mais que a obrigação, se Sarsi não quiser ter mais pretensões em relação a mim, pois alguma argumentação sua, que por ele deveria ser concludente, por mim poderia ser considerada inútil. Portanto, pergunto para Sarsi se ele considera o argumento da contrariedade do estilo observado em relação ao cometa e às puras imagens contrário àquele e de acordo com estas sejam concludentes ou não. Se ele responde não, toda a sua demonstração resulta vã, nem eu acrescento mais palavras, mas, se ele responde sim, é justo que me seja permitido também, para concluir que o cometa é uma ilusão, demonstrar que ele procede de acordo com o estilo de alguma vã imagem, no que diz respeito a secundar ou contrariar o movimento do Sol. Mas para encontrar tal imagem não é nem necessário que eu parta de um exemplo fornecido pelo próprio Sarsi como o mais apto a nos fazer entender claramente que o andamento do cometa é contrário ao desta imagem; o que não me parece contrário, mas um exemplo muito justo.

Observe, então, V. E. Ilustríssima, sua terceira imagem, onde ele apresenta o paralelo do cometa com a reflexão solar sobre a superfície do mar; onde, uma vez que o Sol se encontre em H, sua imagem é percebida pelo olho A segundo a linha AI; e uma vez que o Sol se encontre em G, ver-se-á sua imagem na linha AE; e encontrando-se em F, a imagem aparecerá na linha AD. Agora temos que observar que, enquanto o Sol nos aparece em movimento no céu através de um arco HGF, parece movimentar-se junto com sua imagem em relação ao céu no qual Sarsi observou o movimento do cometa e do Sol: assim, é necessário continuar o arco FGHLMN e prolongar as linhas AI, AE, AD em L, M, N e depois afirmar: quando o Sol encontrava-se na linha H, a sua imagem seria pela linha AI, que no céu corresponde ao L; e, quando o Sol chegou em G, sua imagem via-se através da linha AE, e aparecia em M; enfim, chegado o Sol em F, a imagem aparece em N. Então, movimentando-se o Sol de H rumo a F, sua imagem parece movimentar-se de L a N: porém isto, Sr. Sarsi, é movimentar-se ao contrário do Sol e não no mesmo sentido, como o senhor acreditou, ou melhor, como quis nos fazer acreditar. Eu, V. E. Ilustríssima, formulo esta afirmação porque não posso me persuadir de que ele pudesse equivocar-se em uma coisa tão clara. Além disso, em suas explicações Sarsi usa palavras muito impróprias e inusitadas só para acordar com suas necessidades aquilo que não se pode acordar. Por exemplo, ele percebe que o Sol, passando de H a G e de G a F, sua imagem chega de I a E e de E a D, e o desenvolvimento de IED é um verdadeiro e realíssimo aproximar-se e movimentar-se em direção ao olho A; porque a necessidade de Sarsi é poder afirmar que a imagem e o Sol se movimentam de acordo, ele resolve afirmar arbitrariamente que o movimento do Sol através do arco GF é um aproximar-se ao ponto A e ir para o vértice é o mesmo que ir para o centro. Ainda mais notável é o fato de ele dissimular não perceber uma coisa muito mais absurda que se tornaria contra ele no momento em que quisesse sustentar que a imagem secundasse o movimento do objeto real; pois, se fosse assim, seria preciso necessariamente que, pelo contrário, o objeto secundasse a imagem. Veja V. E. Ilustríssima o que derivaria disto. Tire-se do término do diâmetro O a linha reta OR que cai fora do círculo, e com a linha BO, que contenha qualquer ângulo, prolonguem-se até ela as retas DF, EG, IH nos pontos R, Q e P: é claro que, quando o objeto real estiver em movimento através da linha PQR, a imagem se realizaria através da lED e porque este é um aproximar-se e movimentar-se rumo ao olho A, e da forma que procede a imagem, procede (segundo Sarsi) o objeto, então objeto, movimentando-se do término P para R, veio se aproximar do ponto A; mas na realidade ele afastou-se; assim fica demonstrado um evidente absurdo. Note-se, além disso, que as considerações de Sarsi a este respeito, isto é, sobre o que acontece entre o objeto e sua imagem, são formuladas como se a matéria onde se deve formar a imagem permaneça sempre imóvel, e movimente-se somente o objeto, pois, se afirmássemos que também esta matéria se movimenta, muitas outras consequências derivariam a respeito da aparência e da imagem. Em relação àquilo que Sarsi acrescenta, ou seja, que o cometa não voltou atrás na volta do Sol, não se poderá deduzir nunca nada, se antes não ficar determinado o estado e o movimento da matéria onde o cometa se produziu.


25. Passo, então, ao quinto argumento: Além disso, se o cometa se encontrava no número das imagens aparentes, foi necessário vê-lo sob um ângulo bem determinado, como acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e coisas semelhantes: porém, neste ponto Galileu deve lembrar-se de ter afirmado que foi ocupada, por estes vapores, uma região bastante vasta no céu: se for assim, afirmo que o cometa teve que aparecer como circunferência, ou arco de uma circunferência. Com efeito, eu raciocino assim. Todas as coisas que são vistas sob um ângulo bem determinado percebem-se no ponto onde aquele bem determinado ângulo forma-se: mas este bem determinado ângulo do cometa forma-se em mais lugares, com disposição circular: então o cometa será observado em mais lugares dispostos em linha circular. A tese maior é certíssima e não precisa de demonstração alguma. Vou, assim, demonstrando a menor. Admitamos que o Sol encontre-se abaixo do horizonte em I, isto é, o lugar do vapor fumacento ao redor de A, e que o cometa mostre-se por exemplo em A, posto o olho em D: admitamos que o vapor ocupe também as outras partes colocadas ao redor de A, o que o próprio Galileu concede. Pensemos uma linha reta conduzida através do centro do Sol I e do centro da vista D; dos pontos I e D ao lugar do cometa A concorram os raios IA e DA, que constituem o triângulo IAD; será o ângulo IAD o ângulo bem determinado sob o qual nos são enviadas as imagens do cometa. Imaginemos que o triângulo IAD movimente-se ao redor do eixo IDH; então o vértice daquele A descreverá um arco de círculo, onde os raios do Sol IA direto e AD refletido formarão sempre o mesmo ângulo lAD: mas sendo alcançados pelo vértice A nesta sua rotação, muitas partes do vapor espalhado nos arredores, em todas aquelas partes formar-se-á aquele ângulo determinado, depois do qual deve-se necessariamente enxergar o cometa: então em todo o arco da circunferência BAC que toca o vapor aparecerá o cometa: com certeza pela mesma razão pela qual as nuvens úmidas provocam o arco-íris e os halos formam-se circularmente ou em arcos de círculo. Então, se nada de semelhante será observado no cometa, não deverá ser posto por isso no número das imagens aparentes, não se mostrando semelhantes a eles em nada.

Mais ainda, aumenta, em seguida, minha admiração que nasce vendo quão frequentemente Sarsi dissimula a percepção das coisas que ele tem à frente dos olhos, na esperança talvez de que sua dissimulação deva parir nos outros não uma simulada mas uma verdadeira cegueira. Ele quer, com seu argumento atual, provar que, mesmo que o cometa fosse uma imagem nua, deveria mostrar-se por meio de uma figura de círculo ou de parte de círculo, porque o mesmo acontece com o arco-íris, o halo, a coroa e as outras várias imagens. Não entendo como isto possa ser afirmado, tendo sido apresentada cem vezes a reflexão no mar das imagens solares e aquelas projeções das aberturas das nuvens, as quais aparecem em forma de linhas retas bem semelhantes ao cometa. Talvez se persuada a si mesmo de que, sem outros acréscimos, a demonstração óptica que ele apresenta conclui necessariamente sua intenção referente ao cometa. Duvido, porém, e parece-me que, se não estou enganado, seu desenvolvimento seja incompleto, faltando-lhe a parte principal da tese (o que leva a um grande defeito de lógica), isto é, a disposição local, em relação ao olho, da superfície daquela matéria onde deve verificar-se a reflexão, disposição esta que Sarsi não considera; e esta é a desculpa menos grave que posso atribuir-lhe, porque, se ele tivesse percebido isto e o tivesse dissimulado para manter o leitor na ignorância, parece-me uma falta muito maior. A consideração desta disposição inclui o todo; pois a demonstração de Sarsi não terá conclusão a não ser que a superfície do vapor ao redor do ponto A de sua figura se encontre oposta ao olho D diretamente, de modo que o eixo IDH caia perpendicularmente no plano onde se estende esta superfície; pois, girando, então, o triângulo IDA ao redor do eixo IH, o ponto A iria ter minando continuamente nessa superfície e descrevendo uma circunferência de círculo; uma vez que a supramencionada superfície fosse exposta ao olho obliquamente, o ângulo A a alcançaria em um único ponto e no girar do triângulo o mesmo ângulo A o penetraria além desta superfície ou não chegaria a ela. Em suma, para querer que o cometa apareça circular, é necessário que a superfície onde ela é produzida seja plana e exposta diretamente à linha que passa pelos centros dos olhos e do Sol, o que não pode nunca verificar-se a não ser na oposição diametral à linha que passa através dos centros do olho e do Sol: porém, o arco-íris é visto sempre do lado oposto, o halo ou a coroa sempre junto ao Sol, onde aparecem de forma circular, mas não sei se alguma vez os cometas foram percebidos em oposição ou em conjunto com o Sol. Se, ao escrever sua demonstração, passasse alguma vez pela cabeça de Sarsi chamar aquela matéria que ele imagina ao redor do ponto A, em vez de vapores, água marinha, ele teria percebido que sua argumentação teria, da mesma forma e com as mesmas palavras, concluído que a reflexão no mar deve estender-se necessariamente em linha circular; descobriu depois pelo sentido, que mostra o contrário, o engano de seu silogismo.


26. Examinemos agora o sexto argumento: É útil confirmar isto com palavras do próprio Galileu.

Afirma ele, o que é bem verdadeiro, que estas luminosas imagens vãs observam na paralaxe a mesma lei que observa o corpo luminoso que as origina; assim, se algumas dessas imagens fossem originadas pela Lua, admite-se a mesma paralaxe; aquelas originadas pelo Sol possuem sua própria diversidade de aspecto. Além disso, ao combater a teoria de Aristóteles e assumindo um argumento tirado da paralaxe, escreve: Afirmar enfim que o cometa é fogo e é colocado abaixo da Lua é impossível, pois opõe-se a ela a pequenez da paralaxe estudada pela cuidadosa observação de muitos astrônomos importantes. Concluo assim a questão. Segundo Galileu, todas as puras aparências produzidas pelo Sol admitem a mesma paralaxe que admite o Sol; o cometa não admite a mesma paralaxe que admite o Sol; logo, ele não é algo de aparente produzido pelo Sol. Se alguém está em dúvida sobre a proposição menor deste silogismo, compare as observações de Tycho com as dos outros, quando se referem ao cometa de 1577: o mesmo Tycho, por suas observações, considerou demonstrada a distância do cometa do centro da Terra, no dia 13 de novembro, só de duzentos e onze semidiâmetros terrestres, enquanto o Sol se distanciava daquele centro ao menos mil, cento e cinquenta semidiâmetros e a Lua sessenta. Em relação a esse nosso raciocínio, se cada um quisesse lembrar as observações que, na Dissertação proferida por um dos padres, meu mestre, expôs, flcar-lhe-á suficientemente clara a verdade desta proposição; com efeito, encontraremos a paralaxe do cometa sempre maior do que a do Sol. Nem observações semelhantes podem ser suspeitas a Galileu, pois ele mesmo foi testemunha dessas observações corretas, de acordo com cálculos astronômicos operados por grandes astrônomos.

É completamente falso que o Sr. Mário e eu tenhamos escrito ou falado que as imagens produzidas pelo Sol possuam a mesma paralaxe dele (como Sarsi afirma aqui como alicerce de seu silogismo); pelo contrário, o Sr. Mário, depois de ter observado e considerado muitas destas imagens, acrescenta: "Em relação a estas imagens, em algumas a paralaxe é nula e em outras opera muito diversamente daquilo que ela faz nos objetos reais". Não se encontra no texto do Sr. Mário a afirmação de que a paralaxe seja igual à do Sol ou da Lua, a não ser no halo; nos outros e também no próprio arco-íris, é diferente. E falsa, então, a primeira proposição do silogismo. Observemos agora quanto seja verdadeira a segunda e quanto conclua, uma vez que a paralaxe de todas as vãs imagens deve ser igual à do Sol.

Sarsi quer, seja com a autoridade de Tycho, seja com a de seu Mestre, provar (como lhe é necessário) que a paralaxe observada nos cometas é maior daquela do Sol, mas não fornece observações particulares de Tycho e de muitos outros astrônomos de renome, enunciadas em relação à paralaxe do cometa; e procede assim para que o leitor não perceba como são diferentes entre elas. E quaisquer que elas sejam, ou são exatas ou são erradas; se são exatas, assim deve-se acreditar completamente nelas, é necessário concluir que ou o próprio cometa se encontra ao mesmo tempo abaixo do Sol, e sobre firmamento,ou, por não ser ele um objeto fixo e real mas vago e vão, não é ligado às leis dos elementos fixos e reais; porém, se tais observações são erradas, carecem de autoridade, nem se pode determinar coisa alguma através delas; e o próprio Tycho, entre tantas dificuldades, escolheu, como se fossem mais certas, aquelas que serviam mais à sua determinação antecipada, de querer colocar o lugar do cometa entre o Sol e Vênus. Em relação depois às outras observações apresentadas por seu Mestre, elas são tão diferentes entre si que o Mestre mesmo as considera não aptas a estabelecer o lugar do cometa, afirmando que as observações foram conduzidas com instrumentos inexatos e sem a necessária consideração das horas e da refração e de outras circunstâncias; por outro lado, ele mesmo não leva os outros a acreditar muito nele, mas resume-se a uma única observação que, não necessitando de instrumento algum, mas podendo-se realizar simplesmente a olho, a antepõe a todas as outras: e esta foi a conjunção perfeita da cabeça do cometa com uma estrela fixa, conjunção que foi observada ao mesmo tempo em lugares distantes entre si. Mas, Sr. Sarsi, se aconteceu assim, isto é, de todo contrário às vossas necessidades, pois deduz-se daqui ter sido nula a paralaxe, enquanto apelais à autoridade dele para confirmar vossa proposição, isto é, que tal paralaxe é maior que aquela do Sol. Observai, então, como os próprios autores por vós citados testemunham contra a vossa tese.

Depois, em relação àquilo que afirmais de que nós mesmos confessamos que as observações dos grandes astrônomos foram realizadas com muita exatidão, respondo-vos que se observardes melhor onde e quando foram realizadas, compreenderíeis que podiam ser consideradas exatas mesmo que elas tivessem sido mais diferentes entre elas daquilo que foram. Com efeito, foram consideradas exatas e suficientes para refutar a opinião de Aristóteles de que o cometa fosse objeto real e bem perto da Terra. Não sabeis que o vosso próprio Mestre mostra que mesmo o intervalo entre Roma e Anversa, em um objeto real que estivesse acima da região suprema do ar, pode originar uma paralaxe maior de 50, 60, 100 e mesmo de 140 graus? E se isto é verdade, não poderão ser chamadas observações exatas e poderosas aquelas que, sendo todas menores de um único grau, diferem entre elas de poucos minutos?


27. Leia agora V. E. Ilustríssima o último argumento: Enfim, não podemos omitir aquele argumento que mesmo sozinho pode convencer bastante a um homem desejoso de procurar a verdade mais que discutir aquilo que vimos afirmando. Experimentamos cada dia que tudo aquilo que não possui uma determinada forma estável, que ilude os olhos dos homens com imagem vã de cor e luz, acaba sua própria vida em tempo brevíssimo, e em brevíssimo tempo também muda em várias formas: ora extingue-se, ora acende-se novamente; ora torna-se mais ralo, ora brilha de luz mais intensa; ora suas partes separam-se, ora juntam-se novamente; em suma, não aparece nunca igual por muito tempo. Se tudo isto for comparado com o estável movimento e aspecto do cometa, mostra quanta discórdia de comportamento e de natureza existe entre ele e tais imagens vãs. Por isso, se não encontras nada semelhante ao cometa, por que afirmas que existe entre eles afinidade de natureza ou algum vínculo? Antiquíssimos e ótimos filósofos o afirmaram, e o afirmaram também os modernos e os mais eruditos; atualmente apenas Galileu opõe-se a eles; mas parece que a verdade, se não me engano, opõe-se a Galileu.

Sarsi considera tanto esta argumentação que lhe parece que somente esta é suficiente para persuadir seu intento. Todavia, eu não percebo a eficácia persuasiva dele, pois considero que, ao produzir estas imagens vãs, intervém o Sol como eficiente e as nuvens e os vapores ou outras coisas como matéria; portanto, o eficiente é perpétuo, quando não se aliena da matéria, e o arco-íris, o halo, os periélios e todas as outras aparências são perpétuas; a breve, então, ou a longa duração da estabilidade e posição da matéria deve ser aceita. Qual raciocínio nos dissuade de que possa existir acima das regiões elementares alguma matéria mais durável do que as nuvens, a neblina, a chuva que cai em pequenas gotas, ou outras matérias elementares assim como a reflexão ou a refração do Sol realizada neles nos mostre o arco-íris, os periélios, os halos por mais tempo? Mas, sem partir dos nossos elementos, a alvorada, que é uma refração dos raios solares na região de vapores, e as reflexões na superfície marinha não são elas perpétuas aparências, assim como se o observador, o Sol, os vapores e a superfície do mar permanecessem sempre na mesma posição, poder-se-ia ser sempre a alvorada e a linha esplêndida sobre a água? Além disso, deriva-se da menor ou maior duração uma diferença essencial pouco conclusiva; até dos próprios cometas, sem procurar outros exemplos, foram observadas algumas durar mais de noventa dias; e outros desaparecer no quarto ou até no terceiro dia. E, pois, que observou-se que as mais diuturnas aparecem, mesmo desde o primeiro momento, muito maiores que as outras, quem sabe se não existem, mesmo com frequência, algumas que permaneçam não somente poucos dias mas também poucas horas, mas que por serem muito pequenas não possam ser facilmente observadas! E para concluir, que no lugar onde se formam os cometas exista matéria apta a conservar a si mesma mais que a nuvem e a neblina elementar, os próprios cometas no-lo asseguram, originando-se de matéria ou em matéria não celeste e eterna, nem se dissolva necessariamente em pouquíssimo tempo, assim a dúvida é ainda se aquilo que é produzido nesta matéria seja uma pura e simples reflexão de luz, e por conseguinte uma imagem aparente, ou se é outra coisa fixa e real. Portanto, coisa alguma apoia a argumentação do Sr. Sarsi, nem a concluirá se ele primeiramente não demonstrar que a matéria do cometa não é apta a refletir ou refranger a luz solar, porque, por aquilo que diz respeito à duração de poucos ou muitos dias, a duração dos próprios cometas nos dá mais que certeza.


28. Passemos agora à segunda questão deste segundo exame: Chego agora ao movimento que Galileu afirma ter sido retilíneo, coisa que eu nego com boas argumentações. Estou induzido a fazer isto especialmente pela razão que ele ingenuamente confessa de não saber ou não ousar explicar isto: aquela razão é tão evidente e tão eficaz para nos dissuadir do movimento retilíneo que, mesmo talvez desejando-o muito, Galileu não conseguiu dissimulá-la. Se com efeito (são palavras suas) atribuímos ao cometa apenas este movimento, não se pode explicar de que forma aconteceu que não só ele se aproximou sempre mais do zênite mas até alcançou o pólo: onde, ou é necessário abandonar esta maravilhosa teoria, e não conseguiria fazê-lo, ou é necessário acrescentar outro movimento, e não ousaria. Assim, é muito esquisito que um homem livre absolutamente corajoso tenha sido tomado por um repentino terror, qual seja, o de não ousar pronunciar um discurso já estudado. Eu, na verdade, não o consigo imaginar.

Aqui, antes de prosseguir, não posso evitar ficar um pouco magoado com Sarsi por esta acusação, de todo imerecida, que ele me atribui, de ser dissimulador, estando essa acusação muito longe de minha profissão, a qual consiste em confessar livremente como sempre fiz, encontrar-me quase completamente cego para poder penetrar os segredos da natureza, mas estar muito desejoso de conseguir um pequeno conhecimento de algum deles, a cujo desejo nada é mais contrário que a falsidade e a dissimulação. O Sr. Mário, em seu texto, nunca fingiu coisa alguma, nem pôde fingir, pois que, tudo aquilo que propôs de novidade, apresentou-o sempre como dúvida ou conjetura; nem procurou fazer com que os outros considerassem certo o que ele e eu considerávamos duvidoso, no máximo provável, e expusemos à consideração dos mais inteligentes que nós, para alcançar, com a ajuda deles, a confirmação de alguma conclusão verdadeira e a exclusão total das falsas. Porém, se o texto do Sr. Mário é verdadeiro e sincero, o vosso é cheio de dissimulação, Sr. Lotário, pois que, para abrir caminho às confutações, nove vezes sobre dez fingis não entender aquilo que o Sr. Mário escreveu, dando um sentido muito alheio às intenções dele, e muitas vezes acrescentando ou tirando, manuseais arbitrariamente a matéria, de tal maneira que o leitor, acreditando naquilo que apresentais como contrário, permaneça na ideia de nós termos escrito muitas ingenuidades, e que as descobristes e as refutastes: o que foi até agora observado por mim e será observado igualmente no restante do texto.

Mas chegando ao ponto, qual é a razão que vos leva a escrever que nós temos desejado fortemente, mas não podido, dissimular que o cometa, movimentando-se com simples movimento retilíneo, tivesse necessariamente que proceder sempre rumo ao vértice, nem se afastando nunca dele?

Quem vos fez ciente desta consequência, a não ser o próprio Sr. Mário, que a descreve? Consequência que ele, com certeza, haveria podido dissimular e vós, por vossa amabilidade, haveríeis disfarçado sua dissimulação. E que mais? Mesmo vós, duas linhas acima, escrevestes que eu ingenuamente confessei não saber ou não ousar explicar este raciocínio por mim apresentado, e logo em seguida acrescentais que eu haveria desejado imensamente dissimulá-la. E não é uma contradição, apresentar, escrever, publicar ingenuamente uma tese, sendo o primeiro a apresentá-la, escrevê-la e publicá-la, e depois vós afirmardes que ele tenha desejado dissimulá-la e escondê-la? Realmente, Sr. Lotário, desejais muito que existam no leitor uma grande simplicidade e um conhecimento relativo.

Examinemos agora se neste texto, onde não dissimulamos nada, não existe, em vez, alguma dissimulação de Sarsi. Em poucas palavras, existe, com certeza, mais que uma. Primeiro, para ele abrir o campo à sua declaração de que eu sou um geômetra muito ignorante por não ter chegado a entender aquelas consequências que, por demonstração, não precisam de ciência maior que algumas pequenas já repetidas teses do primeiro livro dos Elementos, ele me acusa de afirmar aquilo que nunca foi falado nem escrito por mim; e, enquanto nós afirmamos que se o cometa se movimentasse em linha reta ele nos apareceria movimentando-se em direção ao vértice e zênite, Sarsi retruca que temos afirmado que ele, movimentando-se, tivesse que chegar até o vértice e o zênite. É necessário que Sarsi confesse aqui, ou não haver entendido bem aquilo que significa a frase "movimentar-se rumo a um lugar", ou haver desejado, com falsidade e simulação, atribuir-nos uma mentira. Não acredito que seja verdadeira a primeira hipótese, pois, assim, deveria ele considerar também que a afirmação "navegar rumo ao polo" e "atirar uma pedra em direção ao céu" chegariam a significar que a nave alcança o polo e a pedra o céu; então nos resta a afirmação de que ele, dissimulando entender o nosso verdadeiro texto, nos atribui as imerecidas objeções. Além disso, Sarsi não refere com sinceridade estas palavras do Sr. Mário, mesmo em outro ponto, pois, onde ele afirma ser necessário ou eliminar o movimento retilíneo atribuído ao cometa, ou, considerando-o verdadeiro, é necessário acrescentar alguma outra razão pela deviação aparente, Sarsi, arbitrariamente, muda as palavras "alguma outra razão" em "algum outro movimento" para poder depois, fora de qualquer intenção minha, induzir-me a falar do movimento da Terra, escrevendo aqui várias teses vãs. Finalmente conclui Sarsi não ser ele um adivinho, porém com muita frequência chega a querer penetrar os profundos raciocínios alheios.


29. V. E. Ilustríssima preste atenção: Pergunto eu, então, se este outro movimento que poderia explicar tudo e que Galileu não se atreve a levar à frente deve-se atribuir a este vapor do cometa ou algum outro corpo, segundo o movimento do qual ele pareça movimentar-se só aparentemente. Acredito que a primeira hipótese não seja verdadeira, porque, com efeito, destruir-se-ia assim aquele movimento retilíneo e perpendicular, pois, se o vapor sobe da Terra colocada abaixo do equador, por exemplo, com movimento perpendicular, e por outro movimento este mesmo vapor é levado rumo ao norte, este segundo movimento necessariamente destruirá o primeiro. Depois, se apesar de tudo o cometa parecer movimentar-se rumo ao norte, ao menos aparentemente, será necessário afirmar, então, que tudo isto origina-se do movimento de outro corpo qualquer. Com certeza, quando Galileu afirma que o movimento a acrescentar-se seria a causa só do aparente desvio do cometa, muito claramente admite que este movimento deve ser colocado em outro lugar que o vapor do cometa, pois ele necessita que se movimente rumo ao norte só aparentemente. Se isto for verdade, não entendo de qual corpo seja originado este movimento. Pois, com efeito, para Galileu, não existem os orbes celestes de Ptolomeu, e, segundo seu sistema, não existe nada de sólido no céu, não acreditará, então, que o cometa se movimente de acordo com o movimento daqueles orbes que ele considera não existentes. Mas, chegado a este ponto, escuto não sei quem me assoprar no ouvido, em voz baixa e timidamente: o movimento da Terra. Longe de mim esta palavra contrária à verdade e desagradável para os ouvidos religiosos. Com certeza, sopraste cautelosamente em voz muito baixa. Se fosse assim, ficaria confirmada clamorosamente a opinião de Galileu, opinião que não se encontrava baseada sobre este falso fundamento.

Com efeito, se a Terra não está em movimento, este movimento retilíneo não está de acordo com as observações sobre o cometa; para os católicos é certo que a Terra não se move; será, portanto, igualmente certo que este movimento retilíneo não concorda em absoluto com as observações de cometas e por isso deve-se julgar não apto para nossa questão. Nem acredito que isto tenha chegado ao conhecimento de Galileu, que eu conheci sempre como piedoso e religioso.

Como V. E. percebe, aqui Sarsi procura mostrar que movimento algum que seja atribuído ao próprio cometa ou a outro corpo mundano não pode manter movimento retilíneo, movimento introduzido pelo Sr. Mário substituindo junto o aparente desvio do vértice. Este discurso é de todo supérfluo e vão, pois nem o Sr. Mário nem eu escrevemos alguma vez que a causa de tal desvio dependesse de algum modo, seja da Terra, seja dos céus, ou seja, de outro corpo. Sarsi o introduziu voluntariamente; então ele mesmo se responda, e não tenha a pretensão de obrigar os outros a sustentarem aquilo que ele não afirmou, não escreveu nem pensou, segundo confissão do próprio Sarsi, que abertamente admite não acreditar que eu haja tido a ideia alguma vez de introduzir o movimento da Terra para salvar tal desvio conhecendo-me como pessoa piedosa e religiosa. Mas, se é assim, com que propósito o apresentaste e com qual finalidade procuraste mostrá-lo inapto a tal necessidade?

Parece-me melhor prosseguir.

 

 

                          CONTINUA

 

 

                                                              

 

 

                                                   

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