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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ENSAIADOR
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Biblio VT

 

 

 

 

7. Mas leia agora V. E. Ilustríssima: Desde que aqui no início da discussão devo me opor àquilo que me parece de menor importância com respeito àquele homem tão humano que como tal todo mundo o conhece, não haveria sem dúvida imaginado nunca que, mais severo quase que o próprio Catão, se opusesse tão fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por nós utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza não deleita os poetas. Eu, porém, quanto me encontrava longe desta opinião! Até hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca dá fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu tão severo assim, que julgasse dever excluir nas questões importantes algum agradável alívio? Este comportamento é indicado mais para um estoico que para um acadêmico. Todavia, com razão nos acusaria se houvéssemos tentado, com brincadeiras e sátiras, iludir, em vez de explicar, tão importantes questões; mas, quem proíbe alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de sérias questões? Eis que o acadêmico o proíbe. Não obedeceremos. Ele não gosta da nossa forma de espirituosidade?

Muitos, não menos sábios que ele, gostam. Com efeito, não foi este o parecer de homens famosíssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes à nossa discussão, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto presságio para o vulgo, fora tratado com certo benévolo linimento de palavras e quase diminuído. Porém, você afirma que estas são coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente diluídas.

De acordo com aquilo que está escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. Mário nem eu somos de natureza tão austera que as brincadeiras e as suavidades poéticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. Mário não proferiu palavra alguma de reprovação; pelo contrário, foram lidos com grande deleite o nascimento, o berço, as habitações, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Mercúrio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol são inúteis e supérfluas as velas, e que o Sol não ceia, almoça somente, isto é, ele come de dia e não de noite, período de tempo que lhe é completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a não deixarem em nós escrúpulo algum, pois não nos deixariam nada a desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser notório e manifesto por si mesmo, não tinha necessidade de outra mais profunda demonstração. Porém, que numa questão tão importante e tão difícil, qual é o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho não pode dar uma explicação da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu raciocínio então deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte poético, o qual não produz fruto algum, isto é, aquilo que o Sr. Mário recusa, e com razão e com verdade afirma que a natureza não se deleita com poesias.

Afirmação esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente não acreditar e finja não conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, não podem subsistir. Estas mentiras são tão detestadas pela natureza que é mais possível encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora já é tempo de tratarmos do assunto de maior importância. Leia V. E. Ilustríssima o seguinte:


8. Vou tratar agora de coisas muito mais sérias. Meu mestre achou que fosse necessário procurar o lugar do cometa especialmente através de três argumentos: primeiro, sem dúvida, pelas observações da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele através da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e privá-los de sua importância. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas várias observações de lugares diferentes, e por causa disto fora necessário colocá-lo além da Lua, Galileu afirma que o argumento originado pela pesquisa referente à paralaxe não é de peso algum se antes não se estabelecer se de fato as coisas observadas são reais e estáveis ou puras aparências em movimento. Está certo, mas não havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto já estava assentado? Sem dúvida, como nós éramos contrários ao parecer dos peripatéticos principalmente, cuja opinião é ainda importantíssima para os numerosos seguidores, em vão poderíamos ter excluído os cometas do número das coisas irreais, pois que esta dúvida não existia no espírito de nenhum de nós. E o próprio Galileu, contradizendo Aristóteles, não usa argumento mais convincente nem mais válido do que aquele originado pela paralaxe. Por que, então, para uma questão em tudo semelhante, não nos era permitido usar livremente a mesma argumentação?

Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, será suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. Mário afirma e aquilo do qual sofreu oposição. De uma forma geral o Sr. Mário escreveu: Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela é uma coisa fixa e real e não uma vaga aparência, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e não da aparência, como ele exemplifica com abundância de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe não é compatível com as duas preposições Aristotélicas que afirmam que o cometa é fogo, isto é, uma coisa bem real e que se encontra no espaço bem perto da Terra. A isto opõe-se Sarsi, afirmando: Está tudo bem, porém não tem nada a ver com o nosso assunto, porque nós discutimos contra Aristóteles, e teria sido vão o esforço de provar que o cometa não seja uma aparência, pois nós concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real, porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta até que o próprio adversário não utiliza o argumento mais válido contra Aristóteles; e se chega a utilizá-lo, por que não podemos, pelo mesmo motivo, utilizá-lo livremente nós também?

Ora, não entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. Mário, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto é, que a lei da paralaxe não vale nas coisas aparentes, porém bem vale nos objetos reais, e consequentemente vai contra Aristóteles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permissão de Sarsi, não podemos dizer outra coisa a não ser que ele, disfarçando as palavras do Sr. Mário, quis ofuscar a vista do leitor para que este permaneça na opinião de que o Sr. Mário tenha-se exprimido fora do propósito. Porque, querendo que a objeção de Sarsi vigorasse, seria necessário que, onde o Sr. Mário, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, é necessário provar antes que aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Aristóteles, que considera o cometa uma coisa real e não aparente, é necessário que prove antes que o cometa seja uma coisa real e não aparente. Assim as palavras do Sr. Mário seriam de fato um enorme despropósito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Porém o Sr. Mário nunca escreveu nem pensou estupidez semelhantes.


9. Mas deveriam ter sido discutidas também as opiniões de Anaxágoras, dos pitagóricos e de Hipócrates.

Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa é uma ilusão óptica. Anaxágoras, com efeito, afirmou que o cometa é uma reunião de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hipócrates como Esquilo não diferem em nada dos pitagóricos. Aristóteles, na verdade, quando expôs a opinião dos próprios pitagóricos que dizem que o cometa é uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de nós e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram também aqueles que seguiram Hipócrates de Quio e seu discípulo Esquilo, mas afirmam que o cometa não possui uma cauda em si mesmo, porém às vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido atraído por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no início de sua dissertação, quando examina as opiniões deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodaria para si convenientemente não a cabeça mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja originado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitagóricos, que achavam que ele existia por causa da refração da luz; na realidade, eles não perceberam nada de ilusório no cometa, com exceção da cauda.

Entende, então, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabeça, deve ser considerado pura aparência. Então, pois, todo o mundo estava de acordo em relação a este argumento, por que deveríamos ter despojado este brilhantíssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinião tivesse certo valor, lhe imputava? Cardano e Telésio, com efeito, dos quais Galileu parece haver tirado alguma coisa a propósito deste assunto caindo em uma estéril e infeliz filosofia, não sendo alegrados por descendência alguma, deixaram livros para a posteridade, não filhos. Para nós e Tycho é suficiente afirmar que não discutiram erradamente aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantasma vão e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do próprio Galileu, as academias de todos os filósofos existentes até agora. Pois, se existiu alguém que eloquentemente ensinou que estes fenômenos devem ser colocados entre os fenômenos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se não estou errado, quanto os cometas são diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-íris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega à conclusão de que o cometa, com exceção da cauda, não se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que é comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua órbita para a qual sua natureza o impelir e levar.

Querendo aqui também mostrar universalmente que a dúvida levantada pelo Sr. Mário era vã e supérflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma consideração, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que por isto seu Mestre, que só com eles discutia e que aspirava exclusivamente à vitória sobre eles, não se esforçava nada para tirá-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um raciocínio semelhante, podia deixar de lado o Sr. Mário e a mim porque não pertencemos ao número daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a intenção de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as forças investigar não importa qual verdade na natureza, deixando completamente na própria opinião aqueles que, só para ostentar estrondosas discussões, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados não pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se tão ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais.

Ele devia, em segundo lugar, considerar que é muito mais escusável a alguém que em alguma profissão não se engane em alguma particularidade relativa a esta profissão, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opinião, lembraram e concordaram com uma coisa que é vã e inútil naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, não tinha nem pensado que o cometa podia ser uma aparência, em vez de esforçar-se para declarar vã a dedução à qual nós chegamos. Porquanto, semelhante admissão, além de não ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido indício de uma liberdade ingênua, que, não podendo aceitar isto sem ofensa à minha reputação (quando ele tivesse conseguido o intento), é antes sinal de espírito alterado por alguma paixão. O Sr. Mário, na esperança de fazer algo agradável e profícuo para os estudiosos da verdade, propôs, com toda modéstia possível, que no futuro fosse mais conveniente considerar a essência do cometa para verificar se ele pudesse ser algo não real mas simplesmente aparente, e não reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por não o terem feito até aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a dúvida tinha sido colocada fora de propósito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma consideração, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opinião velha já apresentada pelo Cardano e pelo Telésio, porém desprezada pelo seu Mestre como fantasia de filósofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e não percebe com quão pouca caridade ele despoja e tira toda a reputação daqueles filósofos para encobrir uma pequeníssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna discípulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor não se torna, porém, seu discípulo na moral porque ninguém acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telésio escreveram eu não o vi, porém, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi não tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advertência para ele e como defesa para aqueles filósofos, como carecem de lógica as conclusões do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ciência filosófica deles devido ao pequeno número de seus discípulos. Por acaso acredita Sarsi que bons filósofos podemos encontrá-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os filósofos voam como águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros filósofos fossem como as águias e não como a fênix. Sr. Sarsi, infinito é o bando dos estúpidos, isto é, daqueles que não entendem nada; muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ciência que através de demonstrações e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfeição tanto menor número de conclusões prometerá ensinar, tanto menor número delas demonstrará, e, consequentemente, tanto menos agradará, e tanto menor será o número de seus seguidores. Pelo contrário, porém, a magnificência dos títulos, a grandiosidade e a abundância das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma única demonstração, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguirão desta forma manter ocupado grande número deles. E grande sorte terá alguém que, iluminado por uma luz natural, saberá sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, então, as teorias de alguém em matéria de filosofia pelo número dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzidíssimo o número de seguidores da melhor filosofia, não chego porém à conclusão de que aquelas opiniões e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que alguém possa considerar certas opiniões tão erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas razões origina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgraçados, eu não sei nem estudei suas obras para que me fosse possível julgá-los.

Voltando ao nosso assunto, afirmo que é tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, não porque não raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente vã a ideia de que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que nestes não vinga o argumento da paralaxe, não fez nem menção. Muito tarde, digo, é uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer é colocada entre o céu e a Terra, assim que possa ser vista de lugares diferentes, aparecerá também em diversas partes do céu, claramente demonstra não ter pensado a respeito do arco-íris, do halo, dos periélios e outras teorias que não repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exceção, especialmente ele que, deixando Aristóteles e seguindo Kepler, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferença entre a cabeça do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilusão da nossa vista e é verdadeiramente aparência, e que como tal a tenham considerado aqueles pitagóricos mencionados por Aristóteles. Quanto à cabeça, considera, porém, necessário que ela seja tida como coisa real e que ninguém jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distinção entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a razão que faz ser real aquilo que verdadeiramente é real e aparente aquilo que é verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabeça por ser de matéria e substância real, eu afirmo que também a cauda é real; assim, se alguém afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda também, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco-íris e o halo. E se afirmar que a cauda não é real porque sem o reflexo do Sol não existiria, eu afirmo que este mesmo raciocínio deve-se atribuir à cabeça, porque, quer a cauda quer a cabeça, não são outra coisa que reflexos de raios em uma matéria qualquer, pois, enquanto eles são puras aparências, enquanto matéria são coisas reais. E se Sarsi admite que em relação à mudança de lugar do observador pode verificar-se mudança em relação ao lugar da origem da cauda na matéria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em relação à cabeça. E não acredito que aqueles antigos filósofos tivessem opiniões diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabeça fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliquidade da esfera, não se verifica a refração de nossa vista face ao Sol, não se percebe mais a cauda, mas a estrela que é a cabeça do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contrário, afirmam que neste caso o cometa não era visível. Mas, mesmo que os antigos tenham ou não tenham feito tais afirmações, elas estão sendo elaboradas agora pelo Sr. Mário com válidas razões para duvidar, razões que devem ser ponderadas, como faz o próprio Sarsi. Nós, de nossa parte, traçaremos considerações sobre aquilo que ele escreve.


10. Por enquanto continue V. E. Ilustríssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder às objeções sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento horário, em linha reta, nós inferíamos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunferência máxima: mas Galileu replica: "Não se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posições também, realizando-se em movimento horário, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento não teria se verificado através de um círculo máximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retilíneo deveria ter sido representado também com uma linha reta. Como todavia era uma controvérsia contra aqueles que, ou não haviam tido dúvida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou não haviam pensado nunca sobre este movimento retilíneo, isto é, contra Anaxágoras, os pitagóricos, Hipócrates e Aristóteles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorreria órbitas maiores ou menores, não desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o círculo descrito pelo movimento era uma circunferência máxima: ninguém, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular.

Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em quantas dificuldades iria afundar-se. Por isso não afirmou este movimento perpendicular à Terra, mas sim transversal, não igual mas mais vagaroso no início que no fim, com velocidade máxima no ponto médio. Além disso, achou que este movimento deve ser reforçado pelo movimento circular da própria Terra, para explicar todos os fenômenos dos cometas: isto não é de modo algum permitido a nós católicos. Eu então resolvi considerar nula aquela opinião que não podia ser sustentada com argumentações piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas alterações Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retilíneo, não havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que nós não pecamos contra as leis da lógica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi traçada a mesma parte do círculo máximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retilíneo e perpendicular que era bem conhecido por não fazer parte em nada dos cometas?

O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em consideração os equívocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do já mencionado cometa procedesse através de uma circunferência máxima, considerando que, apesar de o movimento através de uma circunferência máxima possuir a aparência de movimento retilíneo, o contrário, porém, não era necessariamente verdadeiro, isto é, que o movimento que fosse percebido como reto fosse originado de uma circunferência máxima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava através de uma circunferência máxima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele não haveria chegado se não tivesse tido tal precursor. Para mim é excusável o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital importância o aviso do Sr. Mário, atribuindo-lhe grande importância. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esforça-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvertência e como falta de consideração, acreditando salvar desta forma seu Mestre: porém, parece-me que surte efeito contrário (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um único erro, caía em muitos.

Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar vão e supérfluo o aviso relativo àquelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Aristóteles e os pitagóricos que nunca haviam introduzido em relação aos cometas movimento reto, estaria fora de cogitação que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Porém, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa não ajuda em nada o Padre, porque aqueles adversários seus não havendo introduzido jamais em relação aos cometas o movimento por circunferências menores, da mesma forma é supérfluo demonstrar que eles se movimentam por circunferências máximas. Sarsi precisa, então, afirmar que aqueles antigos filósofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunferências menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunferência máxima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta.

E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investigação o movimento reto, pois o próprio Kepler já o havia atribuído aos cometas e o próprio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto é, para se tirar esta opinião de Kepler referente à mobilidade da Terra, opinião que pia e santamente não pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava inútil, pois isto devia antes ser-lhe estímulo para destruí-la e manifestá-la impossível. Talvez não seja errado demonstrar também com razões naturais, quando isto é possível, a falsidade daquelas proposições que são declaradas contrárias às Sagradas Escrituras.

Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque não somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o está observando, e isto foi relatado também pelo Sr. Mário. Assim, será necessário para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribuído alguma vez aos cometas; coisa esta não muito fácil de realizar; porque, mesmo que ninguém mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudança local do Sol de mais de 90 graus, ele dá lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, então, necessário que o mesmo movimento se apresente, às vezes circular, às vezes oval, às vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, deverá admitir que a defesa de seu Mestre é defeituosa.

Quarto, o que acontecerá quando eu admitir que o movimento do cometa é circular não somente pela opinião comum mas de verdade e por necessidade? Pensará talvez Sarsi que por isto mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, será demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza através de uma circunferência máxima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto até agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que não lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais são na esfera aquelas circunferências que ele considera máximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que é também o centro da terra) a dividem em duas partes. Então afirmaria eu que as circunferências realizadas por Vênus, Mercúrio e pelos planetas Mediceus não são circunferências máximas, pelo contrário, são muito pequenas, tendo estas como centro Júpiter, e aquelas o Sol.

Contudo, se observarmos quais são os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunferências realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Concluímos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retilíneo, não podemos concluir a respeito dele outra coisa a não ser que ele está se realizando com a mesma probabilidade através de uma circunferência mínima. Podemos, então, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa através do olho, isto é, no plano de uma circunferência máxima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser originado por uma linha circular, ou também por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecerá como movimento reto; então, não sendo substituíveis as duas proposições por nós já examinadas, aceitar uma pela outra é equivocar-se, o que é um procedimento ilógico.

Se eu acreditasse que Sarsi não ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o próprio Sarsi deixou passar. Entretanto, não gostaria de deixá-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu não o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua reação, quero discuti-lo com V. E. Ilustríssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabeça dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda é um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba não houve ninguém, por aquilo que podemos conhecer até agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o pedaço do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabeça do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, três ou mais elementos, é suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poderão ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria através de Marte ou da Lua. Então, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposição ao Sol, não podemos concluir outra coisa a não ser que ele se encontra no mesmo plano do olho.

E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, certa inconstância nas palavras finais lidas por V. E. Ilustríssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto é, o Sr. Mário, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e depois, três linhas mais abaixo, afirma não existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto não se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento é clara e evidente, por que preocupar-se em querer excluí-lo? E de que forma é ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ninguém jamais não somente não a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler não o impugna, pelo contrário, o introduz como possível e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livrá-lo.


11. Mas quando se opõe ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, até a Terra, talvez Galileu não perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol não só de um modo. E se a órbita, através da qual movimentava-se, tivesse sido excêntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento não tivesse sido circular mas elíptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se não tivesse sido nem mesmo elíptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa pôde movimentar-se sem empecilho algum em uma direção qualquer? Assim, não haveria tido nada a temer que a Terra e o Tártaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas.

Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusação que Sarsi me faz, isto é, de ser superficial por não haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribuídos ao cometa, não sei de que forma conseguirá Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um raciocínio semelhante haveria de ser considerado supérfluo, pois este movimento não fora tomado em consideração por nenhum outro autor, não percebo então de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contrário, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, não se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e não a mim raciocinar sobre estes movimentos, através dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudanças de lugar dos cometas. E se existisse alguém apto a dar esta explicação, seu Mestre devia citá-lo e aceitá-lo com exclusividade, e não deixá-lo em silêncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma aparência semelhante, e querer que não ele mas nós teríamos errado, por não adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Além disso, o Sr. Mário nunca afirmou que não exista na natureza forma alguma de salvar a mudança de lugar de uma quarta (pelo contrário, se tal mudança de lugar existiu, é claro que existe também a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hipótese recebida do Padre, não é possível esta mudança de lugar sem que o cometa toque a Terra e até a penetre". É muito vã, então, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matéria sem importância, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja proibida qualquer desculpa, mesmo em matéria de suma importância. Se isto é verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo.

E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. Mário), confessando ingenuamente não ter pensado nos movimentos excêntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque não é meu feitio prestar ouvido aos conceitos que não estão ligados ao argumento de que se está tratando. E qual é a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa?

Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcançar seu intento? Certo que não, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no excêntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da inteligência de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá alguma vez, depois de tê-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular à reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se há de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, é necessário que seja a reta DA, isto é, DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunferência máxima. V. E. Ilustríssima peça depois para Sarsi que, por causa do nosso ensinamento, descreva o movimento excêntrico ou o movimento oval afirmados por ele, através dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha ADB, porque confesso que eu não conseguiria fazer.

Até agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro excêntrico com o centro em declínio à direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao excêntrico, é verdade que não é de todo impossível desenhá-lo numa determinada maneira que dê origem à mudança procurada; porém ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Mercúrio e de Vênus ao redor, e além disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como é necessário fazer em relação aos dois, e depois se ele tentar introduzir o excêntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentarão tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de fazê-lo. Com respeito às linhas irregulares, não temos dúvida alguma de que não somente esta aparência como qualquer outra aparência pode ser salva. Porém, quero avisar a Sarsi que a introdução de tal linha não só não ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e não por não tê-la nunca citado, pelo contrário, aceitou a teoria da linha circular regularíssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque citá-la seria um engano ainda maior. Isto o próprio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. São chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma única linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral é regular e considera-se originada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e elíptica, nascendo de uma secção do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, porém, são aquelas que, não tendo determinação alguma, são infinitas e casuais e por isto indefiníveis; nem destas, por consequência, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conheça alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" é a mesma coisa que dizer "eu não sei por que acontece". A introdução de um tal tipo de linha não é em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influências e outros termos usados por alguns filósofos para máscara da verdadeira resposta que seria "eu não sei", resposta muito mais aceitável que as outras, porque uma sinceridade cândida é muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, então, muito mais inteligente, não propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer à pergunta, do que seu discípulo, ao citá-las.

É bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opinião, acredito que o próprio Sarsi tenha compreendido muito bem a ineficácia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece provável devido à brevidade de sua exposição com referência a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto importantíssimo na matéria que estamos tratando e fossem gravíssimas as objeções promovidas pelo Sr. Mário. E ele me é um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de quanta importância era para nós este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e áridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de preferência haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.

E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, não por outras coisas, mas por não ter reproduzido as figuras dos excêntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, não é de vantagem nenhuma para a demonstração principal que se acha naquela passagem.

E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustríssima de um mar de distinções, silogismos e outros termos lógicos, e poderá verificar que Sarsi considerara importantíssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.


12. Mas Já que Galileu acusa meu mestre de ignorância em matéria de lógica, permita-me que nós também mostremos com quanta exatidão ele próprio haja respeitado as leis desta lógica, e, não precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Havíamos afirmado que as estrelas, observadas através da luneta, ofereciam à vista um aumento mínimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande número foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas através da luneta, deve-se dizer que elas não receberam da luneta um aumento insensível, mas antes infinito.

Nada, pois, nem alguma coisa está separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, então, de que ver alguma coisa que antes não se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que não seja possível deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o não ser visto existe uma distância infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela proporção que existe entre o nada e alguma coisa, isto é, nenhuma proporção.

Entretanto, quando aquilo que não existia antes começa a existir, não podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressupõe sempre algo, tanto é que não afirmamos que o mundo, quando foi originariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor.

Por isto, do fato de que alguma coisa que antes não podia ser vista depois porém é vista, não se pode deduzir, nem sequer visível pela razão, um aumento infinito. Mas no momento não quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento à passagem do não ser ao ser: prefiro ir para a frente. O próprio Galileu, quando deduziu, por ter visto através da luneta as estrelas não percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma proporção. Então, se aumenta numa determinada proporção, por exemplo cêntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aumentará na mesma proporção também aquelas estrelas bem pequenas que fogem à vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas não será infinito, pois isto não admite proporção alguma.

Em segundo lugar, quando entre visível e invisível coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, é o significado da palavra aumento por ele usada), é necessário mostrar que entre quantidade percebida ou não percebida existe uma diferença infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito não será nunca deduzível.

Com efeito, se alguém raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do invisível para o visível, então aumenta infinitamente; as estrelas passam de invisíveis a visíveis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-á distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em relação à visibilidade é aceitável: que aumentem em relação à quantidade deve ser negado. Assim, também, o que deriva disto resolve-se com a mesma distinção: aumentam em relação à visibilidade mas não à quantidade. Disto resulta que o termo aumento não é usado da mesma forma na tese maior e em sua derivação. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da lógica, reflita Galileu.

Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, é lei da lógica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, é difícil do mesmo efeito deduzir uma só daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras causas, dificilmente alguém poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna visível algo que antes era invisível pode proceder de mais causas, não se pode deduzir daquela visibilidade uma única causa. E que este efeito pode ser referido a numerosas causas, acredito que é bem claro. Com efeito, permanecendo o mesmo objeto imutável, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imutável, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos será suficiente para produzir o mesmo efeito. Então, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria não está bem de acordo com a regra dos lógicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se originar o mesmo efeito. Com certeza não há motivo por que Galileu atribua este aumento à luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por todas, afirmará com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes não se viam e agora são vistas. Depois, afirma dever-se falar só sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se só da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto é suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, não mostra de um único modo os objetos que sem ela não são vistos, primeiro, possibilitando a visão dos objetos sob um ângulo maior, dando assim a possibilidade de vê-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a visão mais eficazmente: uma destas coisas é suficiente para fazer ver aquilo que antes não víamos. Por isso não foi possível deste efeito deduzir uma só daquelas causas.

Quarto, não está de acordo nem com as leis dos lógicos que as estrelas, se não são aumentadas pela luneta, por uma qualidade específica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telescópio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; não as aumenta, logo as ilumina". Todavia, é outra lei dos lógicos aquela que diz que nas divisões em partes devem ser incluídas todas as partes a serem divididas. Mas nesta divisão de Galileu não estão incluídos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados são próprios da luneta. Com efeito, a iluminação, como acredita o mesmo Galileu, não pode ser efeito originado pela luneta, e ele deixou de lado também a junção dos raios ou imagens, que é característica particular da luneta; sua divisão era então errada. Não acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para fazê-lo compreender que sua dissertação possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (faço questão agora de relatar uma coisa que Galileu ainda não ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir à luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo não ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma força oculta e incrível, os ilumina. Ê exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstrar isto, tenho esperança de conseguir as boas graças de Galileu; atribuindo à sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) também esta incrível particularidade. Pois bem, os objetos são aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um ângulo maior do que aquele que possuem quando são observados a olho nu. Todas as coisas que são observadas sob um ângulo maior são vistas, segundo o parecer dos ópticos, como maiores. A luneta, porém, enquanto dirige e reúne quase num único ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pirâmide luminosa através da qual veem-se os objetos, e por isto mostra os objetos através de uma pirâmide mais luminosa. Então, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um ângulo maior ou menor, sob o qual vê-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, assim a pirâmide mais ou menos luminosa, através da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrará igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experiências e a própria razão demonstram com suficiente clareza como a pirâmide óptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razão ensina que a fonte luminosa, quanto mais é contida em menor espaço, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um único lugar encerram a mesma luz num espaço menor e por isto o iluminam também mais. Esta mesma coisa poderá esclarecer a experiência se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, então, que os raios reunidos em um único lugar não somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser tão verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, claríssimas luzes, podem agora, por meu próprio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente.

Aqui, como V. E. Ilustríssima pode perceber, em vez do equívoco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no raciocínio lógico. Para demonstrar que o aumento do telescópio é o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento não imperceptível ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invisíveis a olho nu tornam-se visíveis com o telescópio; então, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discussões esforça-se para me tachar de péssimo lógico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, já que estou farto de sobra com todas as discussões das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto é, pouco conhecedor de lógica, enquanto ele considera absoluto o que é relativo.

Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. Mário avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se visíveis depois de terem sido invisíveis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem é tão simplório assim de não entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e não nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e não nulo, e não entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. Mário falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer referência a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. Mário de pouca memória por não haver lembrado a afirmação feita anteriormente, isto é, que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma proporção, esta acusação é vã. Pelo contrário, mesmo que sem outra referência o Sr. Mário o tivesse chamado de infinito, eu não haveria acreditado na existência de alguém tão cuidadoso que lhe desse importância, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grandíssimo. Campo vasto terá Sarsi em mostrar-se mais lógico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrará a palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grandíssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o sábio levantar-se contra o senhor e disser: "É infinito o número dos estúpidos", qual será a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposição é falsa, provando, até com a autoridade das próprias Escrituras, que o mundo não é eterno e que, tendo sido criado no tempo, não podem existir nem ter existido homens infinitos? E não obstante não poder acontecer que esta teoria seja alguma vez possível, mesmo que todos os homens presentes, passados e até, direi, futuros fossem tão estúpidos de afirmar uma coisa parecida, impossível, aos seres humanos, mesmo que a duração do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos?

Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta inteligência descoberta por Sarsi, em relação ao fato de nós chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invisível torna-se visível por meio de telescópio? Isto, afirma ele, não pode ser chamado aumento porque o aumento pressupõe antes alguma quantidade, e aumentar não é outra coisa que tornar maior o que era menor. Em relação a este argumento eu não saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. Mário, senão que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telescópio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invisíveis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espécie ou do objeto visível, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, não de aumento, mas de trânsito do não ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um óculo nos permite ler mesmo de uma grande distância aquelas letras que não poderíamos enxergar sem ele senão as maiúsculas, para falar logicamente diríamos que os óculos aumentam as maiúsculas mas que em relação às minúsculas as faz transitar do não ser para o ser. Contudo, se não é possível usar sem erro a palavra aumento onde não se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, será que a palavra trânsito ou passagem será ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, não existindo algum dos dois termos, isto é, nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue?

Mas quem sabe se o Sr. Mário não fosse e não seja da opinião de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem até nós as espécies sob ângulos tão agudos que permaneçam imperceptíveis ao nosso sentido, como se não existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, não seriam suficientes todos os óculos do mundo para torná-las alguma coisa); mesmo que as espécies das estrelas invisíveis sejam, não menos que aquelas das visíveis, difundidas pelo universo e que consequentemente seja possível também a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena lógica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em dúvida algo do qual tenho necessariamente prova sensível? Aquela luminosidade nublada das estrelas não está realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a espécie nua e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa não é outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a nós invisíveis; com tudo isto, não nos é invisível aquele campo que é ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, originada pela junção dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradiações luminosas não estão senão em nosso olho, torna-se necessário que cada espécie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto é, as nebulosas e a Via Láctea não existem no céu, mas são uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista tão aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via Láctea não se encontrariam no céu.

Estas conclusões, até agora nunca afirmadas por outros, acredito que não deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. Mário tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado trânsito do ser para o não ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permissão do Sr. Mário (para não criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vitória completa desta discussão e de tudo aquilo que deriva de posições semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invisíveis possa ser chamada aumento infinito em relação ao visível mas não em relação à intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condição de que nos conceda que as estrelas invisíveis e visíveis, mesmo crescendo da forma que a Sársi agrada mais, cresçam porém de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirmações de seu Mestre, que escreveu que elas não aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das razões com as quais ele tinha começado a demonstrar a primeira proposição de seu tratado, isto é, o lugar do cometa.

Mas, o que deveríamos nós responder ao outro erro, também de lógica, que Sarsi nos atribui?

Apresentamos este erro e depois assumiremos as opiniões que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, não satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, já inúmeras vezes mencionado, das estrelas fixas invisíveis não deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirmação de que este aumento proceda do telescópio é um grave erro de lógica, cujas leis querem que, quando um efeito pode originar-se de causas múltiplas, é muito difícil originar-se um efeito de uma única causa. Poder ver agora aquilo que antes não se podia ver é um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, além daquela do telescópio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas não eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telescópio as estrelas invisíveis. Assim o Sr. Mário, para fugir da acusação de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telescópio no olho não era um aumentar em si e por si o poder visivo (que é também uma causa por meio da qual, sem outro auxílio, pode-se ver aquilo que antes não era possível); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplicação não era tirar as nuvens, as árvores, os telhados ou os outros empecilhos intermediários; em terceiro lugar, devia demonstrar que não era possível servir-se de um par de óculos comuns (estou, como V. E. Ilustríssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo próprio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento não é iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia mostrar que este procedimento não traz as estrelas à Terra ou nos leva ao céu, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito não consiste em fazê-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se visíveis; em sétimo lugar, devia mostrar que este não é um abrir os olhos fechados: ações todas, cada uma das quais (e especialmente a última) é suficiente para nos mostrar aquilo que antes nós não víamos. Sr. Sarsi, eu não sei o que lhe dizer, senão que discute brilhantemente.

Somente sinto que todas estas acusações recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. Mário ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por vós relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas não se poderia ver, como, por exemplo, aproximá-lo, interpor vapores ou cristais, etc., pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos visíveis, assim como faz o telescópio. Creio que responderíeis que sim. Então acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusação de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra característica do telescópio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opinião, teria obrigação de fazer. Obrigação esta, porém, que não toca ao Sr. Mário, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e não mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusação de lógico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasião muito importante, transgrediu esta lei, isto é, deduzir a circulação da aparência do movimento reto através da máxima circunferência, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas três causas podiam duvidar com muita razão também os homens extremamente sensatos.

Até o vosso próprio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular.

Porém, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na aparição de estrelas invisíveis, enquanto que com o telescópio são observadas, se me for permitido falar livremente, não acredito que pudesse ser cogitado, a não ser por pessoas extremamente simples.

Neste grupo, porém, Ilustríssimo Senhor, não entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que não falou sinceramente, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telescópio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusação anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um péssimo lógico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa é suficiente para uma exata argumentação.

E a razão de o telescópio não apresentar aquilo que se via sob um único aspecto mas em dois é: o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um ângulo maior para permitir que apareça maior; o outro consiste em unir os raios e as espécies onde operem com mais eficácia. Como um só dos dois é suficiente para tornar manifesto aquilo que antes não se percebia, não se deve deduzir deste efeito uma única causa. Estas são as suas exatas palavras das quais não saberia penetrar no seu sentido íntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declaração ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que é por acaso o primeiro a ocorrer na mente contém uma contradição manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob ângulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contrário ao estreitar-se dos raios e espécies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espécies, não aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um ângulo maior. E se Sarsi imaginava outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um ângulo maior (coisa que eu não nego que possa por acaso ser verdade), devia declará-lo e distingui-lo do outro, para não deixar o leitor em dúvidas e equívocos. Mas, aceitando por enquanto que o telescópio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do ângulo deixa de lado a conjunção dos raios, e quando estreita os raios deixa o ângulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, é grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. Mário por não ter aceito e citado um e excluído o outro. Porém, se ele opera com um só, também errou Sarsi em não o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando nós olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do ângulo, mas quando se olha para as estrelas o ângulo não aumenta mas somente juntam-se os raios.

Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muitíssimas vezes olhado com este instrumento, não pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necessário que as duas operações, o aumento do ângulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de questão a oposição de Sarsi.

Porque é bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas são entre elas inseparáveis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito está presente a causa também está presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ustório" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fricção de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "então ele possui uma pedra", sem razão seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal operação, além da pedra, a espingarda, a isca e o fósforo, não era possível logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do ângulo e a união dos raios participam sempre da operação do telescópio, de cujas operações uma é fazer ver o invisível, por que deste efeito não se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se não estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo não acredita em absoluto, isto é, que o poder ver as estrelas que antes eram invisíveis derivasse não do aumento do ângulo mas da união dos raios; pois se fizeram visíveis não porque sua espécie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. Não quis, porém, revelar abertamente porque são demais contra ele as outras razões do Sr. Mário silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espaços entre uma estrela e outra na mesma percepção que os objetos aqui embaixo, cujos espaços não deveriam aumentar nada se as estrelas também não aumentassem, sendo esses espaços tão distantes de nós como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas operações do telescópio, isto é, da conjunção dos raios e do aumento do ângulo, haverá de declarar não somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o ângulo e que eles todos são a mesma coisa. Se ele tivesse outra teoria, teria que mostrar que o telescópio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o ângulo e que isto se verifica justamente na contemplação das estrelas fixas. Isto ele nunca poderá mostrar, porque é uma vã quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade.

Eu não acreditava, meu Ilustríssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, já que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto à outra acusação, de transgredir as leis da lógica, na divisão dos efeitos do telescópio, o Sr. Mário colocou lá um que não existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telescópio torna visíveis as estrelas, quer aumentando as suas espécies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as espécies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. Mário nunca teve a intenção de operar uma divisão a respeito daquilo que é uma coisa só, isto é, a operação do telescópio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. Mário afirmou: "Se o telescópio não nos torna visíveis as estrelas aumentando-as, é necessário que as ilumine de alguma forma", não introduziu a iluminação como efeito aceito, mas o contrapôs ao outro, para que sobressaísse mais sua verdade; e esta é uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos não subiram a montanha, é necessário que eles tenham caído do céu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, além daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de lógica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, porém, que em querer aparecer como grande lógico não apareça como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustríssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. Mário, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, não somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o impossível. Mas, voltando ao assunto, já está claro que o Sr. Mário não colocou a iluminação como efeito originado do telescópio. E que mais? O próprio Sarsi admitiu tê-lo colocado como efeito impossível. Então ele não dividiu seu pensamento daquele do Sr. Mário, porque não existe divisão. Depois, no que diz respeito à união das espécies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte não considerada pelo Sr. Mário, seria ótimo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda operação é diferente da primeira, porque nós até agora a entendemos como igual. E quando tivermos certeza de que as duas são diversas, então compreenderemos ter errado; mas o erro não será de lógica no dividir mal, mas de perspectiva por não ter percebido bem todas as funções do instrumento.

Quanto à conclusão, onde Sarsi afirma não querer por ora relatar erros além daqueles poucos encontrados por acaso numa parte só, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agradeço a Sarsi pela piedosa afeição para conosco; depois alegro-me com o Sr. Mário, o qual pode ter certeza de não ter cometido no texto todo mínima falha de raciocínio lógico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as consequências produzidas pelos outros.

Vou considerar finalmente a última parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telescópio como uma admirável condição e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como também de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua objeção tenha muito resultado depois de ter investigado a força de sua demonstração, demonstração que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explicá-la, ir, não sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opiniões.

O telescópio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um ângulo maior do que quando são observados sem aquele instrumento. O mesmo telescópio, quase restringindo a um ponto as espécies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto é, a pirâmide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior.

Depois, o fato de que a pirâmide óptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, é provado pela razão e pela experiência. Com efeito, a razão nos ensina que a luz recolhida num espaço menor deve necessariamente iluminá-lo mais; e a experiência nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, não somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a visão; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telescópio ilumina as estrelas e as aumenta.

Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admirável instrumento, eu não posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposições e experiências acima mencionadas. Porém, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes é mais prejudicial que serem falsas. A principal conclusão que devia ser demonstrada por meio delas é de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que não peque em lógica aquele que de proposições verdadeiras deduz uma conclusão falsa. É verdade que o telescópio aumenta os objetos colocando-os sob um ângulo maior; verdadeira é a prova que nos dão os pesquisadores de perspectiva; nem é menos verdadeiro que os raios da pirâmide luminosa quanto mais estão juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; é verdadeira a razão apresentada por Sarsi, isto é, que a mesma intensidade de luz num espaço menor ilumina mais; finalmente, é verdadeira a experiência da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. É, porém, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telescópio que sem ele, pelo contrário, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telescópio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esforço o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fenômeno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra.

Extremamente clara é, então, a falsidade da conclusão: falta agora mostrá-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situação, ficasse lendo só o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclusão que é exata se não existisse a outra parte, isto é, aquela do dever.

É verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto é, o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclusão. Mas, onde o senhor deixa o vidro côncavo, que no telescópio é a contralente e é a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e através da qual passam os últimos raios e é o último balanço do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, não sabe que o vidro côncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios através de ambos os vidros do telescópio, como observou aqueles que resultam da refração de uma única lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto vão ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espaço enorme. Esta experiência pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telescópio, sempre maior circunferência realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em comparação com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor não tivesse conhecido esta e qualquer outra experiência, me é difícil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros côncavos, quanto maior mostram um objeto, o que é verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, então, com a mesma intensidade a ação do telescópio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades tão admiráveis, se não quer fazê-lo desprezar por aqueles que até agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposição aceitei como verdadeira uma opinião sua que é falsa, isto é, que a luz reforçada mediante a junção dos raios torne o objeto mais brilhante.

Seria verdade isto quando esta luz recaísse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contrário; assim, além de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta é a única razão por que as estrelas aparecem mais brilhantes à medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustríssima pode ver, são tão manifestas que não me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu raciocínio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opinião dele. E sua última conclusão me firma nesta minha opinião, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo então que se pode acreditar ser verdade que o telescópio ilumina as estrelas da mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustríssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele não as aumenta nada: conclusão que Sarsi se esforça por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue.


CONTINUA

7. Mas leia agora V. E. Ilustríssima: Desde que aqui no início da discussão devo me opor àquilo que me parece de menor importância com respeito àquele homem tão humano que como tal todo mundo o conhece, não haveria sem dúvida imaginado nunca que, mais severo quase que o próprio Catão, se opusesse tão fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por nós utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza não deleita os poetas. Eu, porém, quanto me encontrava longe desta opinião! Até hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca dá fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu tão severo assim, que julgasse dever excluir nas questões importantes algum agradável alívio? Este comportamento é indicado mais para um estoico que para um acadêmico. Todavia, com razão nos acusaria se houvéssemos tentado, com brincadeiras e sátiras, iludir, em vez de explicar, tão importantes questões; mas, quem proíbe alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de sérias questões? Eis que o acadêmico o proíbe. Não obedeceremos. Ele não gosta da nossa forma de espirituosidade?

Muitos, não menos sábios que ele, gostam. Com efeito, não foi este o parecer de homens famosíssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes à nossa discussão, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto presságio para o vulgo, fora tratado com certo benévolo linimento de palavras e quase diminuído. Porém, você afirma que estas são coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente diluídas.

De acordo com aquilo que está escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. Mário nem eu somos de natureza tão austera que as brincadeiras e as suavidades poéticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. Mário não proferiu palavra alguma de reprovação; pelo contrário, foram lidos com grande deleite o nascimento, o berço, as habitações, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Mercúrio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol são inúteis e supérfluas as velas, e que o Sol não ceia, almoça somente, isto é, ele come de dia e não de noite, período de tempo que lhe é completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a não deixarem em nós escrúpulo algum, pois não nos deixariam nada a desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser notório e manifesto por si mesmo, não tinha necessidade de outra mais profunda demonstração. Porém, que numa questão tão importante e tão difícil, qual é o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho não pode dar uma explicação da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu raciocínio então deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte poético, o qual não produz fruto algum, isto é, aquilo que o Sr. Mário recusa, e com razão e com verdade afirma que a natureza não se deleita com poesias.

Afirmação esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente não acreditar e finja não conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, não podem subsistir. Estas mentiras são tão detestadas pela natureza que é mais possível encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora já é tempo de tratarmos do assunto de maior importância. Leia V. E. Ilustríssima o seguinte:


8. Vou tratar agora de coisas muito mais sérias. Meu mestre achou que fosse necessário procurar o lugar do cometa especialmente através de três argumentos: primeiro, sem dúvida, pelas observações da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele através da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e privá-los de sua importância. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas várias observações de lugares diferentes, e por causa disto fora necessário colocá-lo além da Lua, Galileu afirma que o argumento originado pela pesquisa referente à paralaxe não é de peso algum se antes não se estabelecer se de fato as coisas observadas são reais e estáveis ou puras aparências em movimento. Está certo, mas não havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto já estava assentado? Sem dúvida, como nós éramos contrários ao parecer dos peripatéticos principalmente, cuja opinião é ainda importantíssima para os numerosos seguidores, em vão poderíamos ter excluído os cometas do número das coisas irreais, pois que esta dúvida não existia no espírito de nenhum de nós. E o próprio Galileu, contradizendo Aristóteles, não usa argumento mais convincente nem mais válido do que aquele originado pela paralaxe. Por que, então, para uma questão em tudo semelhante, não nos era permitido usar livremente a mesma argumentação?

Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, será suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. Mário afirma e aquilo do qual sofreu oposição. De uma forma geral o Sr. Mário escreveu: Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela é uma coisa fixa e real e não uma vaga aparência, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e não da aparência, como ele exemplifica com abundância de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe não é compatível com as duas preposições Aristotélicas que afirmam que o cometa é fogo, isto é, uma coisa bem real e que se encontra no espaço bem perto da Terra. A isto opõe-se Sarsi, afirmando: Está tudo bem, porém não tem nada a ver com o nosso assunto, porque nós discutimos contra Aristóteles, e teria sido vão o esforço de provar que o cometa não seja uma aparência, pois nós concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real, porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta até que o próprio adversário não utiliza o argumento mais válido contra Aristóteles; e se chega a utilizá-lo, por que não podemos, pelo mesmo motivo, utilizá-lo livremente nós também?

Ora, não entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. Mário, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto é, que a lei da paralaxe não vale nas coisas aparentes, porém bem vale nos objetos reais, e consequentemente vai contra Aristóteles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permissão de Sarsi, não podemos dizer outra coisa a não ser que ele, disfarçando as palavras do Sr. Mário, quis ofuscar a vista do leitor para que este permaneça na opinião de que o Sr. Mário tenha-se exprimido fora do propósito. Porque, querendo que a objeção de Sarsi vigorasse, seria necessário que, onde o Sr. Mário, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, é necessário provar antes que aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Aristóteles, que considera o cometa uma coisa real e não aparente, é necessário que prove antes que o cometa seja uma coisa real e não aparente. Assim as palavras do Sr. Mário seriam de fato um enorme despropósito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Porém o Sr. Mário nunca escreveu nem pensou estupidez semelhantes.


9. Mas deveriam ter sido discutidas também as opiniões de Anaxágoras, dos pitagóricos e de Hipócrates.

Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa é uma ilusão óptica. Anaxágoras, com efeito, afirmou que o cometa é uma reunião de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hipócrates como Esquilo não diferem em nada dos pitagóricos. Aristóteles, na verdade, quando expôs a opinião dos próprios pitagóricos que dizem que o cometa é uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de nós e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram também aqueles que seguiram Hipócrates de Quio e seu discípulo Esquilo, mas afirmam que o cometa não possui uma cauda em si mesmo, porém às vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido atraído por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no início de sua dissertação, quando examina as opiniões deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodaria para si convenientemente não a cabeça mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja originado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitagóricos, que achavam que ele existia por causa da refração da luz; na realidade, eles não perceberam nada de ilusório no cometa, com exceção da cauda.

Entende, então, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabeça, deve ser considerado pura aparência. Então, pois, todo o mundo estava de acordo em relação a este argumento, por que deveríamos ter despojado este brilhantíssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinião tivesse certo valor, lhe imputava? Cardano e Telésio, com efeito, dos quais Galileu parece haver tirado alguma coisa a propósito deste assunto caindo em uma estéril e infeliz filosofia, não sendo alegrados por descendência alguma, deixaram livros para a posteridade, não filhos. Para nós e Tycho é suficiente afirmar que não discutiram erradamente aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantasma vão e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do próprio Galileu, as academias de todos os filósofos existentes até agora. Pois, se existiu alguém que eloquentemente ensinou que estes fenômenos devem ser colocados entre os fenômenos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se não estou errado, quanto os cometas são diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-íris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega à conclusão de que o cometa, com exceção da cauda, não se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que é comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua órbita para a qual sua natureza o impelir e levar.

Querendo aqui também mostrar universalmente que a dúvida levantada pelo Sr. Mário era vã e supérflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma consideração, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que por isto seu Mestre, que só com eles discutia e que aspirava exclusivamente à vitória sobre eles, não se esforçava nada para tirá-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um raciocínio semelhante, podia deixar de lado o Sr. Mário e a mim porque não pertencemos ao número daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a intenção de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as forças investigar não importa qual verdade na natureza, deixando completamente na própria opinião aqueles que, só para ostentar estrondosas discussões, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados não pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se tão ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais.

Ele devia, em segundo lugar, considerar que é muito mais escusável a alguém que em alguma profissão não se engane em alguma particularidade relativa a esta profissão, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opinião, lembraram e concordaram com uma coisa que é vã e inútil naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, não tinha nem pensado que o cometa podia ser uma aparência, em vez de esforçar-se para declarar vã a dedução à qual nós chegamos. Porquanto, semelhante admissão, além de não ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido indício de uma liberdade ingênua, que, não podendo aceitar isto sem ofensa à minha reputação (quando ele tivesse conseguido o intento), é antes sinal de espírito alterado por alguma paixão. O Sr. Mário, na esperança de fazer algo agradável e profícuo para os estudiosos da verdade, propôs, com toda modéstia possível, que no futuro fosse mais conveniente considerar a essência do cometa para verificar se ele pudesse ser algo não real mas simplesmente aparente, e não reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por não o terem feito até aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a dúvida tinha sido colocada fora de propósito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma consideração, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opinião velha já apresentada pelo Cardano e pelo Telésio, porém desprezada pelo seu Mestre como fantasia de filósofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e não percebe com quão pouca caridade ele despoja e tira toda a reputação daqueles filósofos para encobrir uma pequeníssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna discípulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor não se torna, porém, seu discípulo na moral porque ninguém acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telésio escreveram eu não o vi, porém, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi não tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advertência para ele e como defesa para aqueles filósofos, como carecem de lógica as conclusões do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ciência filosófica deles devido ao pequeno número de seus discípulos. Por acaso acredita Sarsi que bons filósofos podemos encontrá-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os filósofos voam como águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros filósofos fossem como as águias e não como a fênix. Sr. Sarsi, infinito é o bando dos estúpidos, isto é, daqueles que não entendem nada; muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ciência que através de demonstrações e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfeição tanto menor número de conclusões prometerá ensinar, tanto menor número delas demonstrará, e, consequentemente, tanto menos agradará, e tanto menor será o número de seus seguidores. Pelo contrário, porém, a magnificência dos títulos, a grandiosidade e a abundância das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma única demonstração, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguirão desta forma manter ocupado grande número deles. E grande sorte terá alguém que, iluminado por uma luz natural, saberá sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, então, as teorias de alguém em matéria de filosofia pelo número dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzidíssimo o número de seguidores da melhor filosofia, não chego porém à conclusão de que aquelas opiniões e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que alguém possa considerar certas opiniões tão erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas razões origina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgraçados, eu não sei nem estudei suas obras para que me fosse possível julgá-los.

Voltando ao nosso assunto, afirmo que é tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, não porque não raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente vã a ideia de que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que nestes não vinga o argumento da paralaxe, não fez nem menção. Muito tarde, digo, é uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer é colocada entre o céu e a Terra, assim que possa ser vista de lugares diferentes, aparecerá também em diversas partes do céu, claramente demonstra não ter pensado a respeito do arco-íris, do halo, dos periélios e outras teorias que não repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exceção, especialmente ele que, deixando Aristóteles e seguindo Kepler, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferença entre a cabeça do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilusão da nossa vista e é verdadeiramente aparência, e que como tal a tenham considerado aqueles pitagóricos mencionados por Aristóteles. Quanto à cabeça, considera, porém, necessário que ela seja tida como coisa real e que ninguém jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distinção entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a razão que faz ser real aquilo que verdadeiramente é real e aparente aquilo que é verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabeça por ser de matéria e substância real, eu afirmo que também a cauda é real; assim, se alguém afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda também, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco-íris e o halo. E se afirmar que a cauda não é real porque sem o reflexo do Sol não existiria, eu afirmo que este mesmo raciocínio deve-se atribuir à cabeça, porque, quer a cauda quer a cabeça, não são outra coisa que reflexos de raios em uma matéria qualquer, pois, enquanto eles são puras aparências, enquanto matéria são coisas reais. E se Sarsi admite que em relação à mudança de lugar do observador pode verificar-se mudança em relação ao lugar da origem da cauda na matéria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em relação à cabeça. E não acredito que aqueles antigos filósofos tivessem opiniões diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabeça fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliquidade da esfera, não se verifica a refração de nossa vista face ao Sol, não se percebe mais a cauda, mas a estrela que é a cabeça do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contrário, afirmam que neste caso o cometa não era visível. Mas, mesmo que os antigos tenham ou não tenham feito tais afirmações, elas estão sendo elaboradas agora pelo Sr. Mário com válidas razões para duvidar, razões que devem ser ponderadas, como faz o próprio Sarsi. Nós, de nossa parte, traçaremos considerações sobre aquilo que ele escreve.


10. Por enquanto continue V. E. Ilustríssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder às objeções sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento horário, em linha reta, nós inferíamos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunferência máxima: mas Galileu replica: "Não se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posições também, realizando-se em movimento horário, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento não teria se verificado através de um círculo máximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retilíneo deveria ter sido representado também com uma linha reta. Como todavia era uma controvérsia contra aqueles que, ou não haviam tido dúvida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou não haviam pensado nunca sobre este movimento retilíneo, isto é, contra Anaxágoras, os pitagóricos, Hipócrates e Aristóteles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorreria órbitas maiores ou menores, não desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o círculo descrito pelo movimento era uma circunferência máxima: ninguém, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular.

Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em quantas dificuldades iria afundar-se. Por isso não afirmou este movimento perpendicular à Terra, mas sim transversal, não igual mas mais vagaroso no início que no fim, com velocidade máxima no ponto médio. Além disso, achou que este movimento deve ser reforçado pelo movimento circular da própria Terra, para explicar todos os fenômenos dos cometas: isto não é de modo algum permitido a nós católicos. Eu então resolvi considerar nula aquela opinião que não podia ser sustentada com argumentações piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas alterações Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retilíneo, não havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que nós não pecamos contra as leis da lógica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi traçada a mesma parte do círculo máximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retilíneo e perpendicular que era bem conhecido por não fazer parte em nada dos cometas?

O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em consideração os equívocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do já mencionado cometa procedesse através de uma circunferência máxima, considerando que, apesar de o movimento através de uma circunferência máxima possuir a aparência de movimento retilíneo, o contrário, porém, não era necessariamente verdadeiro, isto é, que o movimento que fosse percebido como reto fosse originado de uma circunferência máxima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava através de uma circunferência máxima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele não haveria chegado se não tivesse tido tal precursor. Para mim é excusável o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital importância o aviso do Sr. Mário, atribuindo-lhe grande importância. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esforça-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvertência e como falta de consideração, acreditando salvar desta forma seu Mestre: porém, parece-me que surte efeito contrário (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um único erro, caía em muitos.

Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar vão e supérfluo o aviso relativo àquelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Aristóteles e os pitagóricos que nunca haviam introduzido em relação aos cometas movimento reto, estaria fora de cogitação que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Porém, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa não ajuda em nada o Padre, porque aqueles adversários seus não havendo introduzido jamais em relação aos cometas o movimento por circunferências menores, da mesma forma é supérfluo demonstrar que eles se movimentam por circunferências máximas. Sarsi precisa, então, afirmar que aqueles antigos filósofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunferências menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunferência máxima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta.

E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investigação o movimento reto, pois o próprio Kepler já o havia atribuído aos cometas e o próprio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto é, para se tirar esta opinião de Kepler referente à mobilidade da Terra, opinião que pia e santamente não pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava inútil, pois isto devia antes ser-lhe estímulo para destruí-la e manifestá-la impossível. Talvez não seja errado demonstrar também com razões naturais, quando isto é possível, a falsidade daquelas proposições que são declaradas contrárias às Sagradas Escrituras.

Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque não somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o está observando, e isto foi relatado também pelo Sr. Mário. Assim, será necessário para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribuído alguma vez aos cometas; coisa esta não muito fácil de realizar; porque, mesmo que ninguém mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudança local do Sol de mais de 90 graus, ele dá lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, então, necessário que o mesmo movimento se apresente, às vezes circular, às vezes oval, às vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, deverá admitir que a defesa de seu Mestre é defeituosa.

Quarto, o que acontecerá quando eu admitir que o movimento do cometa é circular não somente pela opinião comum mas de verdade e por necessidade? Pensará talvez Sarsi que por isto mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, será demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza através de uma circunferência máxima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto até agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que não lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais são na esfera aquelas circunferências que ele considera máximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que é também o centro da terra) a dividem em duas partes. Então afirmaria eu que as circunferências realizadas por Vênus, Mercúrio e pelos planetas Mediceus não são circunferências máximas, pelo contrário, são muito pequenas, tendo estas como centro Júpiter, e aquelas o Sol.

Contudo, se observarmos quais são os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunferências realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Concluímos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retilíneo, não podemos concluir a respeito dele outra coisa a não ser que ele está se realizando com a mesma probabilidade através de uma circunferência mínima. Podemos, então, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa através do olho, isto é, no plano de uma circunferência máxima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser originado por uma linha circular, ou também por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecerá como movimento reto; então, não sendo substituíveis as duas proposições por nós já examinadas, aceitar uma pela outra é equivocar-se, o que é um procedimento ilógico.

Se eu acreditasse que Sarsi não ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o próprio Sarsi deixou passar. Entretanto, não gostaria de deixá-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu não o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua reação, quero discuti-lo com V. E. Ilustríssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabeça dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda é um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba não houve ninguém, por aquilo que podemos conhecer até agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o pedaço do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabeça do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, três ou mais elementos, é suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poderão ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria através de Marte ou da Lua. Então, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposição ao Sol, não podemos concluir outra coisa a não ser que ele se encontra no mesmo plano do olho.

E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, certa inconstância nas palavras finais lidas por V. E. Ilustríssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto é, o Sr. Mário, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e depois, três linhas mais abaixo, afirma não existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto não se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento é clara e evidente, por que preocupar-se em querer excluí-lo? E de que forma é ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ninguém jamais não somente não a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler não o impugna, pelo contrário, o introduz como possível e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livrá-lo.


11. Mas quando se opõe ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, até a Terra, talvez Galileu não perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol não só de um modo. E se a órbita, através da qual movimentava-se, tivesse sido excêntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento não tivesse sido circular mas elíptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se não tivesse sido nem mesmo elíptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa pôde movimentar-se sem empecilho algum em uma direção qualquer? Assim, não haveria tido nada a temer que a Terra e o Tártaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas.

Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusação que Sarsi me faz, isto é, de ser superficial por não haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribuídos ao cometa, não sei de que forma conseguirá Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um raciocínio semelhante haveria de ser considerado supérfluo, pois este movimento não fora tomado em consideração por nenhum outro autor, não percebo então de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contrário, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, não se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e não a mim raciocinar sobre estes movimentos, através dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudanças de lugar dos cometas. E se existisse alguém apto a dar esta explicação, seu Mestre devia citá-lo e aceitá-lo com exclusividade, e não deixá-lo em silêncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma aparência semelhante, e querer que não ele mas nós teríamos errado, por não adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Além disso, o Sr. Mário nunca afirmou que não exista na natureza forma alguma de salvar a mudança de lugar de uma quarta (pelo contrário, se tal mudança de lugar existiu, é claro que existe também a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hipótese recebida do Padre, não é possível esta mudança de lugar sem que o cometa toque a Terra e até a penetre". É muito vã, então, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matéria sem importância, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja proibida qualquer desculpa, mesmo em matéria de suma importância. Se isto é verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo.

E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. Mário), confessando ingenuamente não ter pensado nos movimentos excêntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque não é meu feitio prestar ouvido aos conceitos que não estão ligados ao argumento de que se está tratando. E qual é a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa?

Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcançar seu intento? Certo que não, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no excêntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da inteligência de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá alguma vez, depois de tê-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular à reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se há de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, é necessário que seja a reta DA, isto é, DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunferência máxima. V. E. Ilustríssima peça depois para Sarsi que, por causa do nosso ensinamento, descreva o movimento excêntrico ou o movimento oval afirmados por ele, através dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha ADB, porque confesso que eu não conseguiria fazer.

Até agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro excêntrico com o centro em declínio à direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao excêntrico, é verdade que não é de todo impossível desenhá-lo numa determinada maneira que dê origem à mudança procurada; porém ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Mercúrio e de Vênus ao redor, e além disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como é necessário fazer em relação aos dois, e depois se ele tentar introduzir o excêntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentarão tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de fazê-lo. Com respeito às linhas irregulares, não temos dúvida alguma de que não somente esta aparência como qualquer outra aparência pode ser salva. Porém, quero avisar a Sarsi que a introdução de tal linha não só não ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e não por não tê-la nunca citado, pelo contrário, aceitou a teoria da linha circular regularíssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque citá-la seria um engano ainda maior. Isto o próprio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. São chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma única linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral é regular e considera-se originada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e elíptica, nascendo de uma secção do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, porém, são aquelas que, não tendo determinação alguma, são infinitas e casuais e por isto indefiníveis; nem destas, por consequência, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conheça alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" é a mesma coisa que dizer "eu não sei por que acontece". A introdução de um tal tipo de linha não é em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influências e outros termos usados por alguns filósofos para máscara da verdadeira resposta que seria "eu não sei", resposta muito mais aceitável que as outras, porque uma sinceridade cândida é muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, então, muito mais inteligente, não propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer à pergunta, do que seu discípulo, ao citá-las.

É bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opinião, acredito que o próprio Sarsi tenha compreendido muito bem a ineficácia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece provável devido à brevidade de sua exposição com referência a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto importantíssimo na matéria que estamos tratando e fossem gravíssimas as objeções promovidas pelo Sr. Mário. E ele me é um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de quanta importância era para nós este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e áridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de preferência haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.

E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, não por outras coisas, mas por não ter reproduzido as figuras dos excêntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, não é de vantagem nenhuma para a demonstração principal que se acha naquela passagem.

E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustríssima de um mar de distinções, silogismos e outros termos lógicos, e poderá verificar que Sarsi considerara importantíssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.


12. Mas Já que Galileu acusa meu mestre de ignorância em matéria de lógica, permita-me que nós também mostremos com quanta exatidão ele próprio haja respeitado as leis desta lógica, e, não precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Havíamos afirmado que as estrelas, observadas através da luneta, ofereciam à vista um aumento mínimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande número foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas através da luneta, deve-se dizer que elas não receberam da luneta um aumento insensível, mas antes infinito.

Nada, pois, nem alguma coisa está separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, então, de que ver alguma coisa que antes não se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que não seja possível deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o não ser visto existe uma distância infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela proporção que existe entre o nada e alguma coisa, isto é, nenhuma proporção.

Entretanto, quando aquilo que não existia antes começa a existir, não podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressupõe sempre algo, tanto é que não afirmamos que o mundo, quando foi originariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor.

Por isto, do fato de que alguma coisa que antes não podia ser vista depois porém é vista, não se pode deduzir, nem sequer visível pela razão, um aumento infinito. Mas no momento não quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento à passagem do não ser ao ser: prefiro ir para a frente. O próprio Galileu, quando deduziu, por ter visto através da luneta as estrelas não percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma proporção. Então, se aumenta numa determinada proporção, por exemplo cêntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aumentará na mesma proporção também aquelas estrelas bem pequenas que fogem à vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas não será infinito, pois isto não admite proporção alguma.

Em segundo lugar, quando entre visível e invisível coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, é o significado da palavra aumento por ele usada), é necessário mostrar que entre quantidade percebida ou não percebida existe uma diferença infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito não será nunca deduzível.

Com efeito, se alguém raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do invisível para o visível, então aumenta infinitamente; as estrelas passam de invisíveis a visíveis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-á distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em relação à visibilidade é aceitável: que aumentem em relação à quantidade deve ser negado. Assim, também, o que deriva disto resolve-se com a mesma distinção: aumentam em relação à visibilidade mas não à quantidade. Disto resulta que o termo aumento não é usado da mesma forma na tese maior e em sua derivação. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da lógica, reflita Galileu.

Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, é lei da lógica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, é difícil do mesmo efeito deduzir uma só daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras causas, dificilmente alguém poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna visível algo que antes era invisível pode proceder de mais causas, não se pode deduzir daquela visibilidade uma única causa. E que este efeito pode ser referido a numerosas causas, acredito que é bem claro. Com efeito, permanecendo o mesmo objeto imutável, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imutável, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos será suficiente para produzir o mesmo efeito. Então, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria não está bem de acordo com a regra dos lógicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se originar o mesmo efeito. Com certeza não há motivo por que Galileu atribua este aumento à luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por todas, afirmará com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes não se viam e agora são vistas. Depois, afirma dever-se falar só sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se só da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto é suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, não mostra de um único modo os objetos que sem ela não são vistos, primeiro, possibilitando a visão dos objetos sob um ângulo maior, dando assim a possibilidade de vê-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a visão mais eficazmente: uma destas coisas é suficiente para fazer ver aquilo que antes não víamos. Por isso não foi possível deste efeito deduzir uma só daquelas causas.

Quarto, não está de acordo nem com as leis dos lógicos que as estrelas, se não são aumentadas pela luneta, por uma qualidade específica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telescópio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; não as aumenta, logo as ilumina". Todavia, é outra lei dos lógicos aquela que diz que nas divisões em partes devem ser incluídas todas as partes a serem divididas. Mas nesta divisão de Galileu não estão incluídos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados são próprios da luneta. Com efeito, a iluminação, como acredita o mesmo Galileu, não pode ser efeito originado pela luneta, e ele deixou de lado também a junção dos raios ou imagens, que é característica particular da luneta; sua divisão era então errada. Não acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para fazê-lo compreender que sua dissertação possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (faço questão agora de relatar uma coisa que Galileu ainda não ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir à luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo não ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma força oculta e incrível, os ilumina. Ê exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstrar isto, tenho esperança de conseguir as boas graças de Galileu; atribuindo à sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) também esta incrível particularidade. Pois bem, os objetos são aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um ângulo maior do que aquele que possuem quando são observados a olho nu. Todas as coisas que são observadas sob um ângulo maior são vistas, segundo o parecer dos ópticos, como maiores. A luneta, porém, enquanto dirige e reúne quase num único ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pirâmide luminosa através da qual veem-se os objetos, e por isto mostra os objetos através de uma pirâmide mais luminosa. Então, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um ângulo maior ou menor, sob o qual vê-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, assim a pirâmide mais ou menos luminosa, através da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrará igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experiências e a própria razão demonstram com suficiente clareza como a pirâmide óptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razão ensina que a fonte luminosa, quanto mais é contida em menor espaço, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um único lugar encerram a mesma luz num espaço menor e por isto o iluminam também mais. Esta mesma coisa poderá esclarecer a experiência se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, então, que os raios reunidos em um único lugar não somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser tão verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, claríssimas luzes, podem agora, por meu próprio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente.

Aqui, como V. E. Ilustríssima pode perceber, em vez do equívoco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no raciocínio lógico. Para demonstrar que o aumento do telescópio é o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento não imperceptível ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invisíveis a olho nu tornam-se visíveis com o telescópio; então, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discussões esforça-se para me tachar de péssimo lógico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, já que estou farto de sobra com todas as discussões das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto é, pouco conhecedor de lógica, enquanto ele considera absoluto o que é relativo.

Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. Mário avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se visíveis depois de terem sido invisíveis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem é tão simplório assim de não entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e não nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e não nulo, e não entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. Mário falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer referência a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. Mário de pouca memória por não haver lembrado a afirmação feita anteriormente, isto é, que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma proporção, esta acusação é vã. Pelo contrário, mesmo que sem outra referência o Sr. Mário o tivesse chamado de infinito, eu não haveria acreditado na existência de alguém tão cuidadoso que lhe desse importância, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grandíssimo. Campo vasto terá Sarsi em mostrar-se mais lógico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrará a palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grandíssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o sábio levantar-se contra o senhor e disser: "É infinito o número dos estúpidos", qual será a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposição é falsa, provando, até com a autoridade das próprias Escrituras, que o mundo não é eterno e que, tendo sido criado no tempo, não podem existir nem ter existido homens infinitos? E não obstante não poder acontecer que esta teoria seja alguma vez possível, mesmo que todos os homens presentes, passados e até, direi, futuros fossem tão estúpidos de afirmar uma coisa parecida, impossível, aos seres humanos, mesmo que a duração do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos?

Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta inteligência descoberta por Sarsi, em relação ao fato de nós chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invisível torna-se visível por meio de telescópio? Isto, afirma ele, não pode ser chamado aumento porque o aumento pressupõe antes alguma quantidade, e aumentar não é outra coisa que tornar maior o que era menor. Em relação a este argumento eu não saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. Mário, senão que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telescópio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invisíveis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espécie ou do objeto visível, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, não de aumento, mas de trânsito do não ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um óculo nos permite ler mesmo de uma grande distância aquelas letras que não poderíamos enxergar sem ele senão as maiúsculas, para falar logicamente diríamos que os óculos aumentam as maiúsculas mas que em relação às minúsculas as faz transitar do não ser para o ser. Contudo, se não é possível usar sem erro a palavra aumento onde não se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, será que a palavra trânsito ou passagem será ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, não existindo algum dos dois termos, isto é, nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue?

Mas quem sabe se o Sr. Mário não fosse e não seja da opinião de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem até nós as espécies sob ângulos tão agudos que permaneçam imperceptíveis ao nosso sentido, como se não existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, não seriam suficientes todos os óculos do mundo para torná-las alguma coisa); mesmo que as espécies das estrelas invisíveis sejam, não menos que aquelas das visíveis, difundidas pelo universo e que consequentemente seja possível também a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena lógica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em dúvida algo do qual tenho necessariamente prova sensível? Aquela luminosidade nublada das estrelas não está realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a espécie nua e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa não é outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a nós invisíveis; com tudo isto, não nos é invisível aquele campo que é ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, originada pela junção dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradiações luminosas não estão senão em nosso olho, torna-se necessário que cada espécie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto é, as nebulosas e a Via Láctea não existem no céu, mas são uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista tão aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via Láctea não se encontrariam no céu.

Estas conclusões, até agora nunca afirmadas por outros, acredito que não deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. Mário tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado trânsito do ser para o não ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permissão do Sr. Mário (para não criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vitória completa desta discussão e de tudo aquilo que deriva de posições semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invisíveis possa ser chamada aumento infinito em relação ao visível mas não em relação à intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condição de que nos conceda que as estrelas invisíveis e visíveis, mesmo crescendo da forma que a Sársi agrada mais, cresçam porém de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirmações de seu Mestre, que escreveu que elas não aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das razões com as quais ele tinha começado a demonstrar a primeira proposição de seu tratado, isto é, o lugar do cometa.

Mas, o que deveríamos nós responder ao outro erro, também de lógica, que Sarsi nos atribui?

Apresentamos este erro e depois assumiremos as opiniões que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, não satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, já inúmeras vezes mencionado, das estrelas fixas invisíveis não deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirmação de que este aumento proceda do telescópio é um grave erro de lógica, cujas leis querem que, quando um efeito pode originar-se de causas múltiplas, é muito difícil originar-se um efeito de uma única causa. Poder ver agora aquilo que antes não se podia ver é um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, além daquela do telescópio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas não eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telescópio as estrelas invisíveis. Assim o Sr. Mário, para fugir da acusação de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telescópio no olho não era um aumentar em si e por si o poder visivo (que é também uma causa por meio da qual, sem outro auxílio, pode-se ver aquilo que antes não era possível); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplicação não era tirar as nuvens, as árvores, os telhados ou os outros empecilhos intermediários; em terceiro lugar, devia demonstrar que não era possível servir-se de um par de óculos comuns (estou, como V. E. Ilustríssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo próprio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento não é iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia mostrar que este procedimento não traz as estrelas à Terra ou nos leva ao céu, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito não consiste em fazê-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se visíveis; em sétimo lugar, devia mostrar que este não é um abrir os olhos fechados: ações todas, cada uma das quais (e especialmente a última) é suficiente para nos mostrar aquilo que antes nós não víamos. Sr. Sarsi, eu não sei o que lhe dizer, senão que discute brilhantemente.

Somente sinto que todas estas acusações recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. Mário ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por vós relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas não se poderia ver, como, por exemplo, aproximá-lo, interpor vapores ou cristais, etc., pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos visíveis, assim como faz o telescópio. Creio que responderíeis que sim. Então acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusação de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra característica do telescópio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opinião, teria obrigação de fazer. Obrigação esta, porém, que não toca ao Sr. Mário, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e não mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusação de lógico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasião muito importante, transgrediu esta lei, isto é, deduzir a circulação da aparência do movimento reto através da máxima circunferência, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas três causas podiam duvidar com muita razão também os homens extremamente sensatos.

Até o vosso próprio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular.

Porém, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na aparição de estrelas invisíveis, enquanto que com o telescópio são observadas, se me for permitido falar livremente, não acredito que pudesse ser cogitado, a não ser por pessoas extremamente simples.

Neste grupo, porém, Ilustríssimo Senhor, não entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que não falou sinceramente, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telescópio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusação anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um péssimo lógico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa é suficiente para uma exata argumentação.

E a razão de o telescópio não apresentar aquilo que se via sob um único aspecto mas em dois é: o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um ângulo maior para permitir que apareça maior; o outro consiste em unir os raios e as espécies onde operem com mais eficácia. Como um só dos dois é suficiente para tornar manifesto aquilo que antes não se percebia, não se deve deduzir deste efeito uma única causa. Estas são as suas exatas palavras das quais não saberia penetrar no seu sentido íntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declaração ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que é por acaso o primeiro a ocorrer na mente contém uma contradição manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob ângulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contrário ao estreitar-se dos raios e espécies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espécies, não aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um ângulo maior. E se Sarsi imaginava outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um ângulo maior (coisa que eu não nego que possa por acaso ser verdade), devia declará-lo e distingui-lo do outro, para não deixar o leitor em dúvidas e equívocos. Mas, aceitando por enquanto que o telescópio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do ângulo deixa de lado a conjunção dos raios, e quando estreita os raios deixa o ângulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, é grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. Mário por não ter aceito e citado um e excluído o outro. Porém, se ele opera com um só, também errou Sarsi em não o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando nós olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do ângulo, mas quando se olha para as estrelas o ângulo não aumenta mas somente juntam-se os raios.

Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muitíssimas vezes olhado com este instrumento, não pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necessário que as duas operações, o aumento do ângulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de questão a oposição de Sarsi.

Porque é bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas são entre elas inseparáveis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito está presente a causa também está presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ustório" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fricção de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "então ele possui uma pedra", sem razão seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal operação, além da pedra, a espingarda, a isca e o fósforo, não era possível logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do ângulo e a união dos raios participam sempre da operação do telescópio, de cujas operações uma é fazer ver o invisível, por que deste efeito não se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se não estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo não acredita em absoluto, isto é, que o poder ver as estrelas que antes eram invisíveis derivasse não do aumento do ângulo mas da união dos raios; pois se fizeram visíveis não porque sua espécie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. Não quis, porém, revelar abertamente porque são demais contra ele as outras razões do Sr. Mário silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espaços entre uma estrela e outra na mesma percepção que os objetos aqui embaixo, cujos espaços não deveriam aumentar nada se as estrelas também não aumentassem, sendo esses espaços tão distantes de nós como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas operações do telescópio, isto é, da conjunção dos raios e do aumento do ângulo, haverá de declarar não somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o ângulo e que eles todos são a mesma coisa. Se ele tivesse outra teoria, teria que mostrar que o telescópio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o ângulo e que isto se verifica justamente na contemplação das estrelas fixas. Isto ele nunca poderá mostrar, porque é uma vã quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade.

Eu não acreditava, meu Ilustríssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, já que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto à outra acusação, de transgredir as leis da lógica, na divisão dos efeitos do telescópio, o Sr. Mário colocou lá um que não existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telescópio torna visíveis as estrelas, quer aumentando as suas espécies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as espécies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. Mário nunca teve a intenção de operar uma divisão a respeito daquilo que é uma coisa só, isto é, a operação do telescópio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. Mário afirmou: "Se o telescópio não nos torna visíveis as estrelas aumentando-as, é necessário que as ilumine de alguma forma", não introduziu a iluminação como efeito aceito, mas o contrapôs ao outro, para que sobressaísse mais sua verdade; e esta é uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos não subiram a montanha, é necessário que eles tenham caído do céu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, além daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de lógica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, porém, que em querer aparecer como grande lógico não apareça como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustríssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. Mário, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, não somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o impossível. Mas, voltando ao assunto, já está claro que o Sr. Mário não colocou a iluminação como efeito originado do telescópio. E que mais? O próprio Sarsi admitiu tê-lo colocado como efeito impossível. Então ele não dividiu seu pensamento daquele do Sr. Mário, porque não existe divisão. Depois, no que diz respeito à união das espécies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte não considerada pelo Sr. Mário, seria ótimo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda operação é diferente da primeira, porque nós até agora a entendemos como igual. E quando tivermos certeza de que as duas são diversas, então compreenderemos ter errado; mas o erro não será de lógica no dividir mal, mas de perspectiva por não ter percebido bem todas as funções do instrumento.

Quanto à conclusão, onde Sarsi afirma não querer por ora relatar erros além daqueles poucos encontrados por acaso numa parte só, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agradeço a Sarsi pela piedosa afeição para conosco; depois alegro-me com o Sr. Mário, o qual pode ter certeza de não ter cometido no texto todo mínima falha de raciocínio lógico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as consequências produzidas pelos outros.

Vou considerar finalmente a última parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telescópio como uma admirável condição e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como também de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua objeção tenha muito resultado depois de ter investigado a força de sua demonstração, demonstração que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explicá-la, ir, não sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opiniões.

O telescópio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um ângulo maior do que quando são observados sem aquele instrumento. O mesmo telescópio, quase restringindo a um ponto as espécies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto é, a pirâmide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior.

Depois, o fato de que a pirâmide óptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, é provado pela razão e pela experiência. Com efeito, a razão nos ensina que a luz recolhida num espaço menor deve necessariamente iluminá-lo mais; e a experiência nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, não somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a visão; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telescópio ilumina as estrelas e as aumenta.

Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admirável instrumento, eu não posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposições e experiências acima mencionadas. Porém, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes é mais prejudicial que serem falsas. A principal conclusão que devia ser demonstrada por meio delas é de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que não peque em lógica aquele que de proposições verdadeiras deduz uma conclusão falsa. É verdade que o telescópio aumenta os objetos colocando-os sob um ângulo maior; verdadeira é a prova que nos dão os pesquisadores de perspectiva; nem é menos verdadeiro que os raios da pirâmide luminosa quanto mais estão juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; é verdadeira a razão apresentada por Sarsi, isto é, que a mesma intensidade de luz num espaço menor ilumina mais; finalmente, é verdadeira a experiência da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. É, porém, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telescópio que sem ele, pelo contrário, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telescópio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esforço o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fenômeno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra.

Extremamente clara é, então, a falsidade da conclusão: falta agora mostrá-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situação, ficasse lendo só o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclusão que é exata se não existisse a outra parte, isto é, aquela do dever.

É verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto é, o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclusão. Mas, onde o senhor deixa o vidro côncavo, que no telescópio é a contralente e é a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e através da qual passam os últimos raios e é o último balanço do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, não sabe que o vidro côncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios através de ambos os vidros do telescópio, como observou aqueles que resultam da refração de uma única lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto vão ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espaço enorme. Esta experiência pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telescópio, sempre maior circunferência realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em comparação com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor não tivesse conhecido esta e qualquer outra experiência, me é difícil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros côncavos, quanto maior mostram um objeto, o que é verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, então, com a mesma intensidade a ação do telescópio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades tão admiráveis, se não quer fazê-lo desprezar por aqueles que até agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposição aceitei como verdadeira uma opinião sua que é falsa, isto é, que a luz reforçada mediante a junção dos raios torne o objeto mais brilhante.

Seria verdade isto quando esta luz recaísse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contrário; assim, além de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta é a única razão por que as estrelas aparecem mais brilhantes à medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustríssima pode ver, são tão manifestas que não me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu raciocínio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opinião dele. E sua última conclusão me firma nesta minha opinião, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo então que se pode acreditar ser verdade que o telescópio ilumina as estrelas da mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustríssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele não as aumenta nada: conclusão que Sarsi se esforça por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue.


CONTINUA

7. Mas leia agora V. E. Ilustríssima: Desde que aqui no início da discussão devo me opor àquilo que me parece de menor importância com respeito àquele homem tão humano que como tal todo mundo o conhece, não haveria sem dúvida imaginado nunca que, mais severo quase que o próprio Catão, se opusesse tão fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por nós utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza não deleita os poetas. Eu, porém, quanto me encontrava longe desta opinião! Até hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca dá fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu tão severo assim, que julgasse dever excluir nas questões importantes algum agradável alívio? Este comportamento é indicado mais para um estoico que para um acadêmico. Todavia, com razão nos acusaria se houvéssemos tentado, com brincadeiras e sátiras, iludir, em vez de explicar, tão importantes questões; mas, quem proíbe alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de sérias questões? Eis que o acadêmico o proíbe. Não obedeceremos. Ele não gosta da nossa forma de espirituosidade?

Muitos, não menos sábios que ele, gostam. Com efeito, não foi este o parecer de homens famosíssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes à nossa discussão, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto presságio para o vulgo, fora tratado com certo benévolo linimento de palavras e quase diminuído. Porém, você afirma que estas são coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente diluídas.

De acordo com aquilo que está escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. Mário nem eu somos de natureza tão austera que as brincadeiras e as suavidades poéticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. Mário não proferiu palavra alguma de reprovação; pelo contrário, foram lidos com grande deleite o nascimento, o berço, as habitações, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Mercúrio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol são inúteis e supérfluas as velas, e que o Sol não ceia, almoça somente, isto é, ele come de dia e não de noite, período de tempo que lhe é completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a não deixarem em nós escrúpulo algum, pois não nos deixariam nada a desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser notório e manifesto por si mesmo, não tinha necessidade de outra mais profunda demonstração. Porém, que numa questão tão importante e tão difícil, qual é o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho não pode dar uma explicação da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu raciocínio então deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte poético, o qual não produz fruto algum, isto é, aquilo que o Sr. Mário recusa, e com razão e com verdade afirma que a natureza não se deleita com poesias.

Afirmação esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente não acreditar e finja não conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, não podem subsistir. Estas mentiras são tão detestadas pela natureza que é mais possível encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora já é tempo de tratarmos do assunto de maior importância. Leia V. E. Ilustríssima o seguinte:


8. Vou tratar agora de coisas muito mais sérias. Meu mestre achou que fosse necessário procurar o lugar do cometa especialmente através de três argumentos: primeiro, sem dúvida, pelas observações da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele através da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e privá-los de sua importância. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas várias observações de lugares diferentes, e por causa disto fora necessário colocá-lo além da Lua, Galileu afirma que o argumento originado pela pesquisa referente à paralaxe não é de peso algum se antes não se estabelecer se de fato as coisas observadas são reais e estáveis ou puras aparências em movimento. Está certo, mas não havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto já estava assentado? Sem dúvida, como nós éramos contrários ao parecer dos peripatéticos principalmente, cuja opinião é ainda importantíssima para os numerosos seguidores, em vão poderíamos ter excluído os cometas do número das coisas irreais, pois que esta dúvida não existia no espírito de nenhum de nós. E o próprio Galileu, contradizendo Aristóteles, não usa argumento mais convincente nem mais válido do que aquele originado pela paralaxe. Por que, então, para uma questão em tudo semelhante, não nos era permitido usar livremente a mesma argumentação?

Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, será suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. Mário afirma e aquilo do qual sofreu oposição. De uma forma geral o Sr. Mário escreveu: Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela é uma coisa fixa e real e não uma vaga aparência, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e não da aparência, como ele exemplifica com abundância de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe não é compatível com as duas preposições Aristotélicas que afirmam que o cometa é fogo, isto é, uma coisa bem real e que se encontra no espaço bem perto da Terra. A isto opõe-se Sarsi, afirmando: Está tudo bem, porém não tem nada a ver com o nosso assunto, porque nós discutimos contra Aristóteles, e teria sido vão o esforço de provar que o cometa não seja uma aparência, pois nós concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real, porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta até que o próprio adversário não utiliza o argumento mais válido contra Aristóteles; e se chega a utilizá-lo, por que não podemos, pelo mesmo motivo, utilizá-lo livremente nós também?

Ora, não entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. Mário, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto é, que a lei da paralaxe não vale nas coisas aparentes, porém bem vale nos objetos reais, e consequentemente vai contra Aristóteles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permissão de Sarsi, não podemos dizer outra coisa a não ser que ele, disfarçando as palavras do Sr. Mário, quis ofuscar a vista do leitor para que este permaneça na opinião de que o Sr. Mário tenha-se exprimido fora do propósito. Porque, querendo que a objeção de Sarsi vigorasse, seria necessário que, onde o Sr. Mário, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, é necessário provar antes que aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Aristóteles, que considera o cometa uma coisa real e não aparente, é necessário que prove antes que o cometa seja uma coisa real e não aparente. Assim as palavras do Sr. Mário seriam de fato um enorme despropósito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Porém o Sr. Mário nunca escreveu nem pensou estupidez semelhantes.


9. Mas deveriam ter sido discutidas também as opiniões de Anaxágoras, dos pitagóricos e de Hipócrates.

Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa é uma ilusão óptica. Anaxágoras, com efeito, afirmou que o cometa é uma reunião de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hipócrates como Esquilo não diferem em nada dos pitagóricos. Aristóteles, na verdade, quando expôs a opinião dos próprios pitagóricos que dizem que o cometa é uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de nós e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram também aqueles que seguiram Hipócrates de Quio e seu discípulo Esquilo, mas afirmam que o cometa não possui uma cauda em si mesmo, porém às vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido atraído por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no início de sua dissertação, quando examina as opiniões deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodaria para si convenientemente não a cabeça mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja originado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitagóricos, que achavam que ele existia por causa da refração da luz; na realidade, eles não perceberam nada de ilusório no cometa, com exceção da cauda.

Entende, então, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabeça, deve ser considerado pura aparência. Então, pois, todo o mundo estava de acordo em relação a este argumento, por que deveríamos ter despojado este brilhantíssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinião tivesse certo valor, lhe imputava? Cardano e Telésio, com efeito, dos quais Galileu parece haver tirado alguma coisa a propósito deste assunto caindo em uma estéril e infeliz filosofia, não sendo alegrados por descendência alguma, deixaram livros para a posteridade, não filhos. Para nós e Tycho é suficiente afirmar que não discutiram erradamente aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantasma vão e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do próprio Galileu, as academias de todos os filósofos existentes até agora. Pois, se existiu alguém que eloquentemente ensinou que estes fenômenos devem ser colocados entre os fenômenos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se não estou errado, quanto os cometas são diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-íris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega à conclusão de que o cometa, com exceção da cauda, não se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que é comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua órbita para a qual sua natureza o impelir e levar.

Querendo aqui também mostrar universalmente que a dúvida levantada pelo Sr. Mário era vã e supérflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma consideração, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que por isto seu Mestre, que só com eles discutia e que aspirava exclusivamente à vitória sobre eles, não se esforçava nada para tirá-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um raciocínio semelhante, podia deixar de lado o Sr. Mário e a mim porque não pertencemos ao número daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a intenção de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as forças investigar não importa qual verdade na natureza, deixando completamente na própria opinião aqueles que, só para ostentar estrondosas discussões, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados não pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se tão ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais.

Ele devia, em segundo lugar, considerar que é muito mais escusável a alguém que em alguma profissão não se engane em alguma particularidade relativa a esta profissão, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opinião, lembraram e concordaram com uma coisa que é vã e inútil naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, não tinha nem pensado que o cometa podia ser uma aparência, em vez de esforçar-se para declarar vã a dedução à qual nós chegamos. Porquanto, semelhante admissão, além de não ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido indício de uma liberdade ingênua, que, não podendo aceitar isto sem ofensa à minha reputação (quando ele tivesse conseguido o intento), é antes sinal de espírito alterado por alguma paixão. O Sr. Mário, na esperança de fazer algo agradável e profícuo para os estudiosos da verdade, propôs, com toda modéstia possível, que no futuro fosse mais conveniente considerar a essência do cometa para verificar se ele pudesse ser algo não real mas simplesmente aparente, e não reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por não o terem feito até aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a dúvida tinha sido colocada fora de propósito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma consideração, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opinião velha já apresentada pelo Cardano e pelo Telésio, porém desprezada pelo seu Mestre como fantasia de filósofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e não percebe com quão pouca caridade ele despoja e tira toda a reputação daqueles filósofos para encobrir uma pequeníssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna discípulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor não se torna, porém, seu discípulo na moral porque ninguém acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telésio escreveram eu não o vi, porém, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi não tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advertência para ele e como defesa para aqueles filósofos, como carecem de lógica as conclusões do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ciência filosófica deles devido ao pequeno número de seus discípulos. Por acaso acredita Sarsi que bons filósofos podemos encontrá-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os filósofos voam como águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros filósofos fossem como as águias e não como a fênix. Sr. Sarsi, infinito é o bando dos estúpidos, isto é, daqueles que não entendem nada; muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ciência que através de demonstrações e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfeição tanto menor número de conclusões prometerá ensinar, tanto menor número delas demonstrará, e, consequentemente, tanto menos agradará, e tanto menor será o número de seus seguidores. Pelo contrário, porém, a magnificência dos títulos, a grandiosidade e a abundância das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma única demonstração, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguirão desta forma manter ocupado grande número deles. E grande sorte terá alguém que, iluminado por uma luz natural, saberá sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, então, as teorias de alguém em matéria de filosofia pelo número dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzidíssimo o número de seguidores da melhor filosofia, não chego porém à conclusão de que aquelas opiniões e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que alguém possa considerar certas opiniões tão erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas razões origina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgraçados, eu não sei nem estudei suas obras para que me fosse possível julgá-los.

Voltando ao nosso assunto, afirmo que é tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, não porque não raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente vã a ideia de que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que nestes não vinga o argumento da paralaxe, não fez nem menção. Muito tarde, digo, é uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer é colocada entre o céu e a Terra, assim que possa ser vista de lugares diferentes, aparecerá também em diversas partes do céu, claramente demonstra não ter pensado a respeito do arco-íris, do halo, dos periélios e outras teorias que não repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exceção, especialmente ele que, deixando Aristóteles e seguindo Kepler, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferença entre a cabeça do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilusão da nossa vista e é verdadeiramente aparência, e que como tal a tenham considerado aqueles pitagóricos mencionados por Aristóteles. Quanto à cabeça, considera, porém, necessário que ela seja tida como coisa real e que ninguém jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distinção entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a razão que faz ser real aquilo que verdadeiramente é real e aparente aquilo que é verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabeça por ser de matéria e substância real, eu afirmo que também a cauda é real; assim, se alguém afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda também, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco-íris e o halo. E se afirmar que a cauda não é real porque sem o reflexo do Sol não existiria, eu afirmo que este mesmo raciocínio deve-se atribuir à cabeça, porque, quer a cauda quer a cabeça, não são outra coisa que reflexos de raios em uma matéria qualquer, pois, enquanto eles são puras aparências, enquanto matéria são coisas reais. E se Sarsi admite que em relação à mudança de lugar do observador pode verificar-se mudança em relação ao lugar da origem da cauda na matéria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em relação à cabeça. E não acredito que aqueles antigos filósofos tivessem opiniões diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabeça fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliquidade da esfera, não se verifica a refração de nossa vista face ao Sol, não se percebe mais a cauda, mas a estrela que é a cabeça do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contrário, afirmam que neste caso o cometa não era visível. Mas, mesmo que os antigos tenham ou não tenham feito tais afirmações, elas estão sendo elaboradas agora pelo Sr. Mário com válidas razões para duvidar, razões que devem ser ponderadas, como faz o próprio Sarsi. Nós, de nossa parte, traçaremos considerações sobre aquilo que ele escreve.


10. Por enquanto continue V. E. Ilustríssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder às objeções sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento horário, em linha reta, nós inferíamos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunferência máxima: mas Galileu replica: "Não se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posições também, realizando-se em movimento horário, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento não teria se verificado através de um círculo máximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retilíneo deveria ter sido representado também com uma linha reta. Como todavia era uma controvérsia contra aqueles que, ou não haviam tido dúvida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou não haviam pensado nunca sobre este movimento retilíneo, isto é, contra Anaxágoras, os pitagóricos, Hipócrates e Aristóteles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorreria órbitas maiores ou menores, não desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o círculo descrito pelo movimento era uma circunferência máxima: ninguém, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular.

Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em quantas dificuldades iria afundar-se. Por isso não afirmou este movimento perpendicular à Terra, mas sim transversal, não igual mas mais vagaroso no início que no fim, com velocidade máxima no ponto médio. Além disso, achou que este movimento deve ser reforçado pelo movimento circular da própria Terra, para explicar todos os fenômenos dos cometas: isto não é de modo algum permitido a nós católicos. Eu então resolvi considerar nula aquela opinião que não podia ser sustentada com argumentações piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas alterações Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retilíneo, não havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que nós não pecamos contra as leis da lógica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi traçada a mesma parte do círculo máximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retilíneo e perpendicular que era bem conhecido por não fazer parte em nada dos cometas?

O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em consideração os equívocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do já mencionado cometa procedesse através de uma circunferência máxima, considerando que, apesar de o movimento através de uma circunferência máxima possuir a aparência de movimento retilíneo, o contrário, porém, não era necessariamente verdadeiro, isto é, que o movimento que fosse percebido como reto fosse originado de uma circunferência máxima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava através de uma circunferência máxima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele não haveria chegado se não tivesse tido tal precursor. Para mim é excusável o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital importância o aviso do Sr. Mário, atribuindo-lhe grande importância. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esforça-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvertência e como falta de consideração, acreditando salvar desta forma seu Mestre: porém, parece-me que surte efeito contrário (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um único erro, caía em muitos.

Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar vão e supérfluo o aviso relativo àquelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Aristóteles e os pitagóricos que nunca haviam introduzido em relação aos cometas movimento reto, estaria fora de cogitação que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Porém, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa não ajuda em nada o Padre, porque aqueles adversários seus não havendo introduzido jamais em relação aos cometas o movimento por circunferências menores, da mesma forma é supérfluo demonstrar que eles se movimentam por circunferências máximas. Sarsi precisa, então, afirmar que aqueles antigos filósofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunferências menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunferência máxima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta.

E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investigação o movimento reto, pois o próprio Kepler já o havia atribuído aos cometas e o próprio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto é, para se tirar esta opinião de Kepler referente à mobilidade da Terra, opinião que pia e santamente não pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava inútil, pois isto devia antes ser-lhe estímulo para destruí-la e manifestá-la impossível. Talvez não seja errado demonstrar também com razões naturais, quando isto é possível, a falsidade daquelas proposições que são declaradas contrárias às Sagradas Escrituras.

Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque não somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o está observando, e isto foi relatado também pelo Sr. Mário. Assim, será necessário para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribuído alguma vez aos cometas; coisa esta não muito fácil de realizar; porque, mesmo que ninguém mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudança local do Sol de mais de 90 graus, ele dá lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, então, necessário que o mesmo movimento se apresente, às vezes circular, às vezes oval, às vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, deverá admitir que a defesa de seu Mestre é defeituosa.

Quarto, o que acontecerá quando eu admitir que o movimento do cometa é circular não somente pela opinião comum mas de verdade e por necessidade? Pensará talvez Sarsi que por isto mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, será demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza através de uma circunferência máxima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto até agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que não lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais são na esfera aquelas circunferências que ele considera máximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que é também o centro da terra) a dividem em duas partes. Então afirmaria eu que as circunferências realizadas por Vênus, Mercúrio e pelos planetas Mediceus não são circunferências máximas, pelo contrário, são muito pequenas, tendo estas como centro Júpiter, e aquelas o Sol.

Contudo, se observarmos quais são os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunferências realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Concluímos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retilíneo, não podemos concluir a respeito dele outra coisa a não ser que ele está se realizando com a mesma probabilidade através de uma circunferência mínima. Podemos, então, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa através do olho, isto é, no plano de uma circunferência máxima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser originado por uma linha circular, ou também por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecerá como movimento reto; então, não sendo substituíveis as duas proposições por nós já examinadas, aceitar uma pela outra é equivocar-se, o que é um procedimento ilógico.

Se eu acreditasse que Sarsi não ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o próprio Sarsi deixou passar. Entretanto, não gostaria de deixá-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu não o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua reação, quero discuti-lo com V. E. Ilustríssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabeça dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda é um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba não houve ninguém, por aquilo que podemos conhecer até agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o pedaço do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabeça do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, três ou mais elementos, é suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poderão ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria através de Marte ou da Lua. Então, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposição ao Sol, não podemos concluir outra coisa a não ser que ele se encontra no mesmo plano do olho.

E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, certa inconstância nas palavras finais lidas por V. E. Ilustríssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto é, o Sr. Mário, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e depois, três linhas mais abaixo, afirma não existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto não se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento é clara e evidente, por que preocupar-se em querer excluí-lo? E de que forma é ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ninguém jamais não somente não a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler não o impugna, pelo contrário, o introduz como possível e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livrá-lo.


11. Mas quando se opõe ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, até a Terra, talvez Galileu não perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol não só de um modo. E se a órbita, através da qual movimentava-se, tivesse sido excêntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento não tivesse sido circular mas elíptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se não tivesse sido nem mesmo elíptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa pôde movimentar-se sem empecilho algum em uma direção qualquer? Assim, não haveria tido nada a temer que a Terra e o Tártaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas.

Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusação que Sarsi me faz, isto é, de ser superficial por não haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribuídos ao cometa, não sei de que forma conseguirá Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um raciocínio semelhante haveria de ser considerado supérfluo, pois este movimento não fora tomado em consideração por nenhum outro autor, não percebo então de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contrário, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, não se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e não a mim raciocinar sobre estes movimentos, através dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudanças de lugar dos cometas. E se existisse alguém apto a dar esta explicação, seu Mestre devia citá-lo e aceitá-lo com exclusividade, e não deixá-lo em silêncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma aparência semelhante, e querer que não ele mas nós teríamos errado, por não adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Além disso, o Sr. Mário nunca afirmou que não exista na natureza forma alguma de salvar a mudança de lugar de uma quarta (pelo contrário, se tal mudança de lugar existiu, é claro que existe também a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hipótese recebida do Padre, não é possível esta mudança de lugar sem que o cometa toque a Terra e até a penetre". É muito vã, então, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matéria sem importância, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja proibida qualquer desculpa, mesmo em matéria de suma importância. Se isto é verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo.

E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. Mário), confessando ingenuamente não ter pensado nos movimentos excêntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque não é meu feitio prestar ouvido aos conceitos que não estão ligados ao argumento de que se está tratando. E qual é a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa?

Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcançar seu intento? Certo que não, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no excêntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da inteligência de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá alguma vez, depois de tê-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular à reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se há de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, é necessário que seja a reta DA, isto é, DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunferência máxima. V. E. Ilustríssima peça depois para Sarsi que, por causa do nosso ensinamento, descreva o movimento excêntrico ou o movimento oval afirmados por ele, através dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha ADB, porque confesso que eu não conseguiria fazer.

Até agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro excêntrico com o centro em declínio à direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao excêntrico, é verdade que não é de todo impossível desenhá-lo numa determinada maneira que dê origem à mudança procurada; porém ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Mercúrio e de Vênus ao redor, e além disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como é necessário fazer em relação aos dois, e depois se ele tentar introduzir o excêntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentarão tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de fazê-lo. Com respeito às linhas irregulares, não temos dúvida alguma de que não somente esta aparência como qualquer outra aparência pode ser salva. Porém, quero avisar a Sarsi que a introdução de tal linha não só não ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e não por não tê-la nunca citado, pelo contrário, aceitou a teoria da linha circular regularíssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque citá-la seria um engano ainda maior. Isto o próprio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. São chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma única linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral é regular e considera-se originada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e elíptica, nascendo de uma secção do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, porém, são aquelas que, não tendo determinação alguma, são infinitas e casuais e por isto indefiníveis; nem destas, por consequência, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conheça alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" é a mesma coisa que dizer "eu não sei por que acontece". A introdução de um tal tipo de linha não é em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influências e outros termos usados por alguns filósofos para máscara da verdadeira resposta que seria "eu não sei", resposta muito mais aceitável que as outras, porque uma sinceridade cândida é muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, então, muito mais inteligente, não propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer à pergunta, do que seu discípulo, ao citá-las.

É bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opinião, acredito que o próprio Sarsi tenha compreendido muito bem a ineficácia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece provável devido à brevidade de sua exposição com referência a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto importantíssimo na matéria que estamos tratando e fossem gravíssimas as objeções promovidas pelo Sr. Mário. E ele me é um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de quanta importância era para nós este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e áridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de preferência haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.

E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, não por outras coisas, mas por não ter reproduzido as figuras dos excêntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, não é de vantagem nenhuma para a demonstração principal que se acha naquela passagem.

E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustríssima de um mar de distinções, silogismos e outros termos lógicos, e poderá verificar que Sarsi considerara importantíssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.


12. Mas Já que Galileu acusa meu mestre de ignorância em matéria de lógica, permita-me que nós também mostremos com quanta exatidão ele próprio haja respeitado as leis desta lógica, e, não precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Havíamos afirmado que as estrelas, observadas através da luneta, ofereciam à vista um aumento mínimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande número foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas através da luneta, deve-se dizer que elas não receberam da luneta um aumento insensível, mas antes infinito.

Nada, pois, nem alguma coisa está separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, então, de que ver alguma coisa que antes não se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que não seja possível deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o não ser visto existe uma distância infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela proporção que existe entre o nada e alguma coisa, isto é, nenhuma proporção.

Entretanto, quando aquilo que não existia antes começa a existir, não podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressupõe sempre algo, tanto é que não afirmamos que o mundo, quando foi originariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor.

Por isto, do fato de que alguma coisa que antes não podia ser vista depois porém é vista, não se pode deduzir, nem sequer visível pela razão, um aumento infinito. Mas no momento não quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento à passagem do não ser ao ser: prefiro ir para a frente. O próprio Galileu, quando deduziu, por ter visto através da luneta as estrelas não percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma proporção. Então, se aumenta numa determinada proporção, por exemplo cêntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aumentará na mesma proporção também aquelas estrelas bem pequenas que fogem à vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas não será infinito, pois isto não admite proporção alguma.

Em segundo lugar, quando entre visível e invisível coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, é o significado da palavra aumento por ele usada), é necessário mostrar que entre quantidade percebida ou não percebida existe uma diferença infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito não será nunca deduzível.

Com efeito, se alguém raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do invisível para o visível, então aumenta infinitamente; as estrelas passam de invisíveis a visíveis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-á distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em relação à visibilidade é aceitável: que aumentem em relação à quantidade deve ser negado. Assim, também, o que deriva disto resolve-se com a mesma distinção: aumentam em relação à visibilidade mas não à quantidade. Disto resulta que o termo aumento não é usado da mesma forma na tese maior e em sua derivação. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da lógica, reflita Galileu.

Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, é lei da lógica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, é difícil do mesmo efeito deduzir uma só daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras causas, dificilmente alguém poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna visível algo que antes era invisível pode proceder de mais causas, não se pode deduzir daquela visibilidade uma única causa. E que este efeito pode ser referido a numerosas causas, acredito que é bem claro. Com efeito, permanecendo o mesmo objeto imutável, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imutável, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos será suficiente para produzir o mesmo efeito. Então, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria não está bem de acordo com a regra dos lógicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se originar o mesmo efeito. Com certeza não há motivo por que Galileu atribua este aumento à luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por todas, afirmará com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes não se viam e agora são vistas. Depois, afirma dever-se falar só sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se só da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto é suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, não mostra de um único modo os objetos que sem ela não são vistos, primeiro, possibilitando a visão dos objetos sob um ângulo maior, dando assim a possibilidade de vê-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a visão mais eficazmente: uma destas coisas é suficiente para fazer ver aquilo que antes não víamos. Por isso não foi possível deste efeito deduzir uma só daquelas causas.

Quarto, não está de acordo nem com as leis dos lógicos que as estrelas, se não são aumentadas pela luneta, por uma qualidade específica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telescópio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; não as aumenta, logo as ilumina". Todavia, é outra lei dos lógicos aquela que diz que nas divisões em partes devem ser incluídas todas as partes a serem divididas. Mas nesta divisão de Galileu não estão incluídos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados são próprios da luneta. Com efeito, a iluminação, como acredita o mesmo Galileu, não pode ser efeito originado pela luneta, e ele deixou de lado também a junção dos raios ou imagens, que é característica particular da luneta; sua divisão era então errada. Não acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para fazê-lo compreender que sua dissertação possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (faço questão agora de relatar uma coisa que Galileu ainda não ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir à luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo não ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma força oculta e incrível, os ilumina. Ê exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstrar isto, tenho esperança de conseguir as boas graças de Galileu; atribuindo à sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) também esta incrível particularidade. Pois bem, os objetos são aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um ângulo maior do que aquele que possuem quando são observados a olho nu. Todas as coisas que são observadas sob um ângulo maior são vistas, segundo o parecer dos ópticos, como maiores. A luneta, porém, enquanto dirige e reúne quase num único ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pirâmide luminosa através da qual veem-se os objetos, e por isto mostra os objetos através de uma pirâmide mais luminosa. Então, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um ângulo maior ou menor, sob o qual vê-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, assim a pirâmide mais ou menos luminosa, através da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrará igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experiências e a própria razão demonstram com suficiente clareza como a pirâmide óptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razão ensina que a fonte luminosa, quanto mais é contida em menor espaço, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um único lugar encerram a mesma luz num espaço menor e por isto o iluminam também mais. Esta mesma coisa poderá esclarecer a experiência se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, então, que os raios reunidos em um único lugar não somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser tão verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, claríssimas luzes, podem agora, por meu próprio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente.

Aqui, como V. E. Ilustríssima pode perceber, em vez do equívoco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no raciocínio lógico. Para demonstrar que o aumento do telescópio é o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento não imperceptível ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invisíveis a olho nu tornam-se visíveis com o telescópio; então, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discussões esforça-se para me tachar de péssimo lógico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, já que estou farto de sobra com todas as discussões das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto é, pouco conhecedor de lógica, enquanto ele considera absoluto o que é relativo.

Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. Mário avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se visíveis depois de terem sido invisíveis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem é tão simplório assim de não entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e não nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e não nulo, e não entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. Mário falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer referência a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. Mário de pouca memória por não haver lembrado a afirmação feita anteriormente, isto é, que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma proporção, esta acusação é vã. Pelo contrário, mesmo que sem outra referência o Sr. Mário o tivesse chamado de infinito, eu não haveria acreditado na existência de alguém tão cuidadoso que lhe desse importância, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grandíssimo. Campo vasto terá Sarsi em mostrar-se mais lógico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrará a palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grandíssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o sábio levantar-se contra o senhor e disser: "É infinito o número dos estúpidos", qual será a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposição é falsa, provando, até com a autoridade das próprias Escrituras, que o mundo não é eterno e que, tendo sido criado no tempo, não podem existir nem ter existido homens infinitos? E não obstante não poder acontecer que esta teoria seja alguma vez possível, mesmo que todos os homens presentes, passados e até, direi, futuros fossem tão estúpidos de afirmar uma coisa parecida, impossível, aos seres humanos, mesmo que a duração do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos?

Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta inteligência descoberta por Sarsi, em relação ao fato de nós chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invisível torna-se visível por meio de telescópio? Isto, afirma ele, não pode ser chamado aumento porque o aumento pressupõe antes alguma quantidade, e aumentar não é outra coisa que tornar maior o que era menor. Em relação a este argumento eu não saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. Mário, senão que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telescópio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invisíveis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espécie ou do objeto visível, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, não de aumento, mas de trânsito do não ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um óculo nos permite ler mesmo de uma grande distância aquelas letras que não poderíamos enxergar sem ele senão as maiúsculas, para falar logicamente diríamos que os óculos aumentam as maiúsculas mas que em relação às minúsculas as faz transitar do não ser para o ser. Contudo, se não é possível usar sem erro a palavra aumento onde não se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, será que a palavra trânsito ou passagem será ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, não existindo algum dos dois termos, isto é, nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue?

Mas quem sabe se o Sr. Mário não fosse e não seja da opinião de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem até nós as espécies sob ângulos tão agudos que permaneçam imperceptíveis ao nosso sentido, como se não existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, não seriam suficientes todos os óculos do mundo para torná-las alguma coisa); mesmo que as espécies das estrelas invisíveis sejam, não menos que aquelas das visíveis, difundidas pelo universo e que consequentemente seja possível também a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena lógica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em dúvida algo do qual tenho necessariamente prova sensível? Aquela luminosidade nublada das estrelas não está realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a espécie nua e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa não é outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a nós invisíveis; com tudo isto, não nos é invisível aquele campo que é ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, originada pela junção dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradiações luminosas não estão senão em nosso olho, torna-se necessário que cada espécie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto é, as nebulosas e a Via Láctea não existem no céu, mas são uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista tão aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via Láctea não se encontrariam no céu.

Estas conclusões, até agora nunca afirmadas por outros, acredito que não deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. Mário tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado trânsito do ser para o não ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permissão do Sr. Mário (para não criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vitória completa desta discussão e de tudo aquilo que deriva de posições semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invisíveis possa ser chamada aumento infinito em relação ao visível mas não em relação à intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condição de que nos conceda que as estrelas invisíveis e visíveis, mesmo crescendo da forma que a Sársi agrada mais, cresçam porém de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirmações de seu Mestre, que escreveu que elas não aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das razões com as quais ele tinha começado a demonstrar a primeira proposição de seu tratado, isto é, o lugar do cometa.

Mas, o que deveríamos nós responder ao outro erro, também de lógica, que Sarsi nos atribui?

Apresentamos este erro e depois assumiremos as opiniões que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, não satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, já inúmeras vezes mencionado, das estrelas fixas invisíveis não deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirmação de que este aumento proceda do telescópio é um grave erro de lógica, cujas leis querem que, quando um efeito pode originar-se de causas múltiplas, é muito difícil originar-se um efeito de uma única causa. Poder ver agora aquilo que antes não se podia ver é um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, além daquela do telescópio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas não eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telescópio as estrelas invisíveis. Assim o Sr. Mário, para fugir da acusação de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telescópio no olho não era um aumentar em si e por si o poder visivo (que é também uma causa por meio da qual, sem outro auxílio, pode-se ver aquilo que antes não era possível); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplicação não era tirar as nuvens, as árvores, os telhados ou os outros empecilhos intermediários; em terceiro lugar, devia demonstrar que não era possível servir-se de um par de óculos comuns (estou, como V. E. Ilustríssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo próprio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento não é iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia mostrar que este procedimento não traz as estrelas à Terra ou nos leva ao céu, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito não consiste em fazê-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se visíveis; em sétimo lugar, devia mostrar que este não é um abrir os olhos fechados: ações todas, cada uma das quais (e especialmente a última) é suficiente para nos mostrar aquilo que antes nós não víamos. Sr. Sarsi, eu não sei o que lhe dizer, senão que discute brilhantemente.

Somente sinto que todas estas acusações recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. Mário ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por vós relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas não se poderia ver, como, por exemplo, aproximá-lo, interpor vapores ou cristais, etc., pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos visíveis, assim como faz o telescópio. Creio que responderíeis que sim. Então acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusação de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra característica do telescópio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opinião, teria obrigação de fazer. Obrigação esta, porém, que não toca ao Sr. Mário, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e não mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusação de lógico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasião muito importante, transgrediu esta lei, isto é, deduzir a circulação da aparência do movimento reto através da máxima circunferência, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas três causas podiam duvidar com muita razão também os homens extremamente sensatos.

Até o vosso próprio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular.

Porém, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na aparição de estrelas invisíveis, enquanto que com o telescópio são observadas, se me for permitido falar livremente, não acredito que pudesse ser cogitado, a não ser por pessoas extremamente simples.

Neste grupo, porém, Ilustríssimo Senhor, não entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que não falou sinceramente, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telescópio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusação anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um péssimo lógico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa é suficiente para uma exata argumentação.

E a razão de o telescópio não apresentar aquilo que se via sob um único aspecto mas em dois é: o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um ângulo maior para permitir que apareça maior; o outro consiste em unir os raios e as espécies onde operem com mais eficácia. Como um só dos dois é suficiente para tornar manifesto aquilo que antes não se percebia, não se deve deduzir deste efeito uma única causa. Estas são as suas exatas palavras das quais não saberia penetrar no seu sentido íntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declaração ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que é por acaso o primeiro a ocorrer na mente contém uma contradição manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob ângulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contrário ao estreitar-se dos raios e espécies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espécies, não aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um ângulo maior. E se Sarsi imaginava outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um ângulo maior (coisa que eu não nego que possa por acaso ser verdade), devia declará-lo e distingui-lo do outro, para não deixar o leitor em dúvidas e equívocos. Mas, aceitando por enquanto que o telescópio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do ângulo deixa de lado a conjunção dos raios, e quando estreita os raios deixa o ângulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, é grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. Mário por não ter aceito e citado um e excluído o outro. Porém, se ele opera com um só, também errou Sarsi em não o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando nós olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do ângulo, mas quando se olha para as estrelas o ângulo não aumenta mas somente juntam-se os raios.

Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muitíssimas vezes olhado com este instrumento, não pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necessário que as duas operações, o aumento do ângulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de questão a oposição de Sarsi.

Porque é bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas são entre elas inseparáveis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito está presente a causa também está presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ustório" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fricção de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "então ele possui uma pedra", sem razão seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal operação, além da pedra, a espingarda, a isca e o fósforo, não era possível logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do ângulo e a união dos raios participam sempre da operação do telescópio, de cujas operações uma é fazer ver o invisível, por que deste efeito não se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se não estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo não acredita em absoluto, isto é, que o poder ver as estrelas que antes eram invisíveis derivasse não do aumento do ângulo mas da união dos raios; pois se fizeram visíveis não porque sua espécie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. Não quis, porém, revelar abertamente porque são demais contra ele as outras razões do Sr. Mário silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espaços entre uma estrela e outra na mesma percepção que os objetos aqui embaixo, cujos espaços não deveriam aumentar nada se as estrelas também não aumentassem, sendo esses espaços tão distantes de nós como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas operações do telescópio, isto é, da conjunção dos raios e do aumento do ângulo, haverá de declarar não somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o ângulo e que eles todos são a mesma coisa. Se ele tivesse outra teoria, teria que mostrar que o telescópio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o ângulo e que isto se verifica justamente na contemplação das estrelas fixas. Isto ele nunca poderá mostrar, porque é uma vã quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade.

Eu não acreditava, meu Ilustríssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, já que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto à outra acusação, de transgredir as leis da lógica, na divisão dos efeitos do telescópio, o Sr. Mário colocou lá um que não existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telescópio torna visíveis as estrelas, quer aumentando as suas espécies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as espécies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. Mário nunca teve a intenção de operar uma divisão a respeito daquilo que é uma coisa só, isto é, a operação do telescópio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. Mário afirmou: "Se o telescópio não nos torna visíveis as estrelas aumentando-as, é necessário que as ilumine de alguma forma", não introduziu a iluminação como efeito aceito, mas o contrapôs ao outro, para que sobressaísse mais sua verdade; e esta é uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos não subiram a montanha, é necessário que eles tenham caído do céu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, além daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de lógica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, porém, que em querer aparecer como grande lógico não apareça como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustríssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. Mário, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, não somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o impossível. Mas, voltando ao assunto, já está claro que o Sr. Mário não colocou a iluminação como efeito originado do telescópio. E que mais? O próprio Sarsi admitiu tê-lo colocado como efeito impossível. Então ele não dividiu seu pensamento daquele do Sr. Mário, porque não existe divisão. Depois, no que diz respeito à união das espécies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte não considerada pelo Sr. Mário, seria ótimo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda operação é diferente da primeira, porque nós até agora a entendemos como igual. E quando tivermos certeza de que as duas são diversas, então compreenderemos ter errado; mas o erro não será de lógica no dividir mal, mas de perspectiva por não ter percebido bem todas as funções do instrumento.

Quanto à conclusão, onde Sarsi afirma não querer por ora relatar erros além daqueles poucos encontrados por acaso numa parte só, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agradeço a Sarsi pela piedosa afeição para conosco; depois alegro-me com o Sr. Mário, o qual pode ter certeza de não ter cometido no texto todo mínima falha de raciocínio lógico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as consequências produzidas pelos outros.

Vou considerar finalmente a última parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telescópio como uma admirável condição e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como também de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua objeção tenha muito resultado depois de ter investigado a força de sua demonstração, demonstração que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explicá-la, ir, não sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opiniões.

O telescópio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um ângulo maior do que quando são observados sem aquele instrumento. O mesmo telescópio, quase restringindo a um ponto as espécies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto é, a pirâmide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior.

Depois, o fato de que a pirâmide óptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, é provado pela razão e pela experiência. Com efeito, a razão nos ensina que a luz recolhida num espaço menor deve necessariamente iluminá-lo mais; e a experiência nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, não somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a visão; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telescópio ilumina as estrelas e as aumenta.

Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admirável instrumento, eu não posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposições e experiências acima mencionadas. Porém, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes é mais prejudicial que serem falsas. A principal conclusão que devia ser demonstrada por meio delas é de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que não peque em lógica aquele que de proposições verdadeiras deduz uma conclusão falsa. É verdade que o telescópio aumenta os objetos colocando-os sob um ângulo maior; verdadeira é a prova que nos dão os pesquisadores de perspectiva; nem é menos verdadeiro que os raios da pirâmide luminosa quanto mais estão juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; é verdadeira a razão apresentada por Sarsi, isto é, que a mesma intensidade de luz num espaço menor ilumina mais; finalmente, é verdadeira a experiência da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. É, porém, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telescópio que sem ele, pelo contrário, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telescópio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esforço o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fenômeno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra.

Extremamente clara é, então, a falsidade da conclusão: falta agora mostrá-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situação, ficasse lendo só o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclusão que é exata se não existisse a outra parte, isto é, aquela do dever.

É verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto é, o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclusão. Mas, onde o senhor deixa o vidro côncavo, que no telescópio é a contralente e é a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e através da qual passam os últimos raios e é o último balanço do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, não sabe que o vidro côncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios através de ambos os vidros do telescópio, como observou aqueles que resultam da refração de uma única lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto vão ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espaço enorme. Esta experiência pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telescópio, sempre maior circunferência realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em comparação com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor não tivesse conhecido esta e qualquer outra experiência, me é difícil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros côncavos, quanto maior mostram um objeto, o que é verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, então, com a mesma intensidade a ação do telescópio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades tão admiráveis, se não quer fazê-lo desprezar por aqueles que até agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposição aceitei como verdadeira uma opinião sua que é falsa, isto é, que a luz reforçada mediante a junção dos raios torne o objeto mais brilhante.

Seria verdade isto quando esta luz recaísse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contrário; assim, além de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta é a única razão por que as estrelas aparecem mais brilhantes à medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustríssima pode ver, são tão manifestas que não me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu raciocínio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opinião dele. E sua última conclusão me firma nesta minha opinião, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo então que se pode acreditar ser verdade que o telescópio ilumina as estrelas da mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustríssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele não as aumenta nada: conclusão que Sarsi se esforça por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue.


CONTINUA

7. Mas leia agora V. E. Ilustríssima: Desde que aqui no início da discussão devo me opor àquilo que me parece de menor importância com respeito àquele homem tão humano que como tal todo mundo o conhece, não haveria sem dúvida imaginado nunca que, mais severo quase que o próprio Catão, se opusesse tão fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por nós utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza não deleita os poetas. Eu, porém, quanto me encontrava longe desta opinião! Até hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca dá fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu tão severo assim, que julgasse dever excluir nas questões importantes algum agradável alívio? Este comportamento é indicado mais para um estoico que para um acadêmico. Todavia, com razão nos acusaria se houvéssemos tentado, com brincadeiras e sátiras, iludir, em vez de explicar, tão importantes questões; mas, quem proíbe alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de sérias questões? Eis que o acadêmico o proíbe. Não obedeceremos. Ele não gosta da nossa forma de espirituosidade?

Muitos, não menos sábios que ele, gostam. Com efeito, não foi este o parecer de homens famosíssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes à nossa discussão, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto presságio para o vulgo, fora tratado com certo benévolo linimento de palavras e quase diminuído. Porém, você afirma que estas são coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente diluídas.

De acordo com aquilo que está escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. Mário nem eu somos de natureza tão austera que as brincadeiras e as suavidades poéticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. Mário não proferiu palavra alguma de reprovação; pelo contrário, foram lidos com grande deleite o nascimento, o berço, as habitações, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Mercúrio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol são inúteis e supérfluas as velas, e que o Sol não ceia, almoça somente, isto é, ele come de dia e não de noite, período de tempo que lhe é completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a não deixarem em nós escrúpulo algum, pois não nos deixariam nada a desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser notório e manifesto por si mesmo, não tinha necessidade de outra mais profunda demonstração. Porém, que numa questão tão importante e tão difícil, qual é o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho não pode dar uma explicação da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu raciocínio então deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte poético, o qual não produz fruto algum, isto é, aquilo que o Sr. Mário recusa, e com razão e com verdade afirma que a natureza não se deleita com poesias.

Afirmação esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente não acreditar e finja não conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, não podem subsistir. Estas mentiras são tão detestadas pela natureza que é mais possível encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora já é tempo de tratarmos do assunto de maior importância. Leia V. E. Ilustríssima o seguinte:


8. Vou tratar agora de coisas muito mais sérias. Meu mestre achou que fosse necessário procurar o lugar do cometa especialmente através de três argumentos: primeiro, sem dúvida, pelas observações da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele através da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e privá-los de sua importância. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas várias observações de lugares diferentes, e por causa disto fora necessário colocá-lo além da Lua, Galileu afirma que o argumento originado pela pesquisa referente à paralaxe não é de peso algum se antes não se estabelecer se de fato as coisas observadas são reais e estáveis ou puras aparências em movimento. Está certo, mas não havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto já estava assentado? Sem dúvida, como nós éramos contrários ao parecer dos peripatéticos principalmente, cuja opinião é ainda importantíssima para os numerosos seguidores, em vão poderíamos ter excluído os cometas do número das coisas irreais, pois que esta dúvida não existia no espírito de nenhum de nós. E o próprio Galileu, contradizendo Aristóteles, não usa argumento mais convincente nem mais válido do que aquele originado pela paralaxe. Por que, então, para uma questão em tudo semelhante, não nos era permitido usar livremente a mesma argumentação?

Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, será suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. Mário afirma e aquilo do qual sofreu oposição. De uma forma geral o Sr. Mário escreveu: Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela é uma coisa fixa e real e não uma vaga aparência, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e não da aparência, como ele exemplifica com abundância de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe não é compatível com as duas preposições Aristotélicas que afirmam que o cometa é fogo, isto é, uma coisa bem real e que se encontra no espaço bem perto da Terra. A isto opõe-se Sarsi, afirmando: Está tudo bem, porém não tem nada a ver com o nosso assunto, porque nós discutimos contra Aristóteles, e teria sido vão o esforço de provar que o cometa não seja uma aparência, pois nós concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real, porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta até que o próprio adversário não utiliza o argumento mais válido contra Aristóteles; e se chega a utilizá-lo, por que não podemos, pelo mesmo motivo, utilizá-lo livremente nós também?

Ora, não entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. Mário, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto é, que a lei da paralaxe não vale nas coisas aparentes, porém bem vale nos objetos reais, e consequentemente vai contra Aristóteles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permissão de Sarsi, não podemos dizer outra coisa a não ser que ele, disfarçando as palavras do Sr. Mário, quis ofuscar a vista do leitor para que este permaneça na opinião de que o Sr. Mário tenha-se exprimido fora do propósito. Porque, querendo que a objeção de Sarsi vigorasse, seria necessário que, onde o Sr. Mário, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, é necessário provar antes que aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Aristóteles, que considera o cometa uma coisa real e não aparente, é necessário que prove antes que o cometa seja uma coisa real e não aparente. Assim as palavras do Sr. Mário seriam de fato um enorme despropósito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Porém o Sr. Mário nunca escreveu nem pensou estupidez semelhantes.


9. Mas deveriam ter sido discutidas também as opiniões de Anaxágoras, dos pitagóricos e de Hipócrates.

Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa é uma ilusão óptica. Anaxágoras, com efeito, afirmou que o cometa é uma reunião de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hipócrates como Esquilo não diferem em nada dos pitagóricos. Aristóteles, na verdade, quando expôs a opinião dos próprios pitagóricos que dizem que o cometa é uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de nós e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram também aqueles que seguiram Hipócrates de Quio e seu discípulo Esquilo, mas afirmam que o cometa não possui uma cauda em si mesmo, porém às vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido atraído por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no início de sua dissertação, quando examina as opiniões deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodaria para si convenientemente não a cabeça mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja originado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitagóricos, que achavam que ele existia por causa da refração da luz; na realidade, eles não perceberam nada de ilusório no cometa, com exceção da cauda.

Entende, então, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabeça, deve ser considerado pura aparência. Então, pois, todo o mundo estava de acordo em relação a este argumento, por que deveríamos ter despojado este brilhantíssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinião tivesse certo valor, lhe imputava? Cardano e Telésio, com efeito, dos quais Galileu parece haver tirado alguma coisa a propósito deste assunto caindo em uma estéril e infeliz filosofia, não sendo alegrados por descendência alguma, deixaram livros para a posteridade, não filhos. Para nós e Tycho é suficiente afirmar que não discutiram erradamente aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantasma vão e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do próprio Galileu, as academias de todos os filósofos existentes até agora. Pois, se existiu alguém que eloquentemente ensinou que estes fenômenos devem ser colocados entre os fenômenos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se não estou errado, quanto os cometas são diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-íris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega à conclusão de que o cometa, com exceção da cauda, não se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que é comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua órbita para a qual sua natureza o impelir e levar.

Querendo aqui também mostrar universalmente que a dúvida levantada pelo Sr. Mário era vã e supérflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma consideração, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que por isto seu Mestre, que só com eles discutia e que aspirava exclusivamente à vitória sobre eles, não se esforçava nada para tirá-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um raciocínio semelhante, podia deixar de lado o Sr. Mário e a mim porque não pertencemos ao número daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a intenção de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as forças investigar não importa qual verdade na natureza, deixando completamente na própria opinião aqueles que, só para ostentar estrondosas discussões, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados não pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se tão ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais.

Ele devia, em segundo lugar, considerar que é muito mais escusável a alguém que em alguma profissão não se engane em alguma particularidade relativa a esta profissão, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opinião, lembraram e concordaram com uma coisa que é vã e inútil naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, não tinha nem pensado que o cometa podia ser uma aparência, em vez de esforçar-se para declarar vã a dedução à qual nós chegamos. Porquanto, semelhante admissão, além de não ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido indício de uma liberdade ingênua, que, não podendo aceitar isto sem ofensa à minha reputação (quando ele tivesse conseguido o intento), é antes sinal de espírito alterado por alguma paixão. O Sr. Mário, na esperança de fazer algo agradável e profícuo para os estudiosos da verdade, propôs, com toda modéstia possível, que no futuro fosse mais conveniente considerar a essência do cometa para verificar se ele pudesse ser algo não real mas simplesmente aparente, e não reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por não o terem feito até aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a dúvida tinha sido colocada fora de propósito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma consideração, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opinião velha já apresentada pelo Cardano e pelo Telésio, porém desprezada pelo seu Mestre como fantasia de filósofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e não percebe com quão pouca caridade ele despoja e tira toda a reputação daqueles filósofos para encobrir uma pequeníssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna discípulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor não se torna, porém, seu discípulo na moral porque ninguém acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telésio escreveram eu não o vi, porém, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi não tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advertência para ele e como defesa para aqueles filósofos, como carecem de lógica as conclusões do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ciência filosófica deles devido ao pequeno número de seus discípulos. Por acaso acredita Sarsi que bons filósofos podemos encontrá-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os filósofos voam como águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros filósofos fossem como as águias e não como a fênix. Sr. Sarsi, infinito é o bando dos estúpidos, isto é, daqueles que não entendem nada; muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ciência que através de demonstrações e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfeição tanto menor número de conclusões prometerá ensinar, tanto menor número delas demonstrará, e, consequentemente, tanto menos agradará, e tanto menor será o número de seus seguidores. Pelo contrário, porém, a magnificência dos títulos, a grandiosidade e a abundância das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma única demonstração, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguirão desta forma manter ocupado grande número deles. E grande sorte terá alguém que, iluminado por uma luz natural, saberá sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, então, as teorias de alguém em matéria de filosofia pelo número dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzidíssimo o número de seguidores da melhor filosofia, não chego porém à conclusão de que aquelas opiniões e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que alguém possa considerar certas opiniões tão erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas razões origina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgraçados, eu não sei nem estudei suas obras para que me fosse possível julgá-los.

Voltando ao nosso assunto, afirmo que é tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, não porque não raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente vã a ideia de que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que nestes não vinga o argumento da paralaxe, não fez nem menção. Muito tarde, digo, é uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer é colocada entre o céu e a Terra, assim que possa ser vista de lugares diferentes, aparecerá também em diversas partes do céu, claramente demonstra não ter pensado a respeito do arco-íris, do halo, dos periélios e outras teorias que não repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exceção, especialmente ele que, deixando Aristóteles e seguindo Kepler, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferença entre a cabeça do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilusão da nossa vista e é verdadeiramente aparência, e que como tal a tenham considerado aqueles pitagóricos mencionados por Aristóteles. Quanto à cabeça, considera, porém, necessário que ela seja tida como coisa real e que ninguém jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distinção entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a razão que faz ser real aquilo que verdadeiramente é real e aparente aquilo que é verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabeça por ser de matéria e substância real, eu afirmo que também a cauda é real; assim, se alguém afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda também, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco-íris e o halo. E se afirmar que a cauda não é real porque sem o reflexo do Sol não existiria, eu afirmo que este mesmo raciocínio deve-se atribuir à cabeça, porque, quer a cauda quer a cabeça, não são outra coisa que reflexos de raios em uma matéria qualquer, pois, enquanto eles são puras aparências, enquanto matéria são coisas reais. E se Sarsi admite que em relação à mudança de lugar do observador pode verificar-se mudança em relação ao lugar da origem da cauda na matéria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em relação à cabeça. E não acredito que aqueles antigos filósofos tivessem opiniões diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabeça fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliquidade da esfera, não se verifica a refração de nossa vista face ao Sol, não se percebe mais a cauda, mas a estrela que é a cabeça do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contrário, afirmam que neste caso o cometa não era visível. Mas, mesmo que os antigos tenham ou não tenham feito tais afirmações, elas estão sendo elaboradas agora pelo Sr. Mário com válidas razões para duvidar, razões que devem ser ponderadas, como faz o próprio Sarsi. Nós, de nossa parte, traçaremos considerações sobre aquilo que ele escreve.


10. Por enquanto continue V. E. Ilustríssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder às objeções sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento horário, em linha reta, nós inferíamos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunferência máxima: mas Galileu replica: "Não se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posições também, realizando-se em movimento horário, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento não teria se verificado através de um círculo máximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retilíneo deveria ter sido representado também com uma linha reta. Como todavia era uma controvérsia contra aqueles que, ou não haviam tido dúvida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou não haviam pensado nunca sobre este movimento retilíneo, isto é, contra Anaxágoras, os pitagóricos, Hipócrates e Aristóteles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorreria órbitas maiores ou menores, não desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o círculo descrito pelo movimento era uma circunferência máxima: ninguém, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular.

Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em quantas dificuldades iria afundar-se. Por isso não afirmou este movimento perpendicular à Terra, mas sim transversal, não igual mas mais vagaroso no início que no fim, com velocidade máxima no ponto médio. Além disso, achou que este movimento deve ser reforçado pelo movimento circular da própria Terra, para explicar todos os fenômenos dos cometas: isto não é de modo algum permitido a nós católicos. Eu então resolvi considerar nula aquela opinião que não podia ser sustentada com argumentações piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas alterações Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retilíneo, não havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que nós não pecamos contra as leis da lógica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi traçada a mesma parte do círculo máximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retilíneo e perpendicular que era bem conhecido por não fazer parte em nada dos cometas?

O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em consideração os equívocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do já mencionado cometa procedesse através de uma circunferência máxima, considerando que, apesar de o movimento através de uma circunferência máxima possuir a aparência de movimento retilíneo, o contrário, porém, não era necessariamente verdadeiro, isto é, que o movimento que fosse percebido como reto fosse originado de uma circunferência máxima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava através de uma circunferência máxima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele não haveria chegado se não tivesse tido tal precursor. Para mim é excusável o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital importância o aviso do Sr. Mário, atribuindo-lhe grande importância. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esforça-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvertência e como falta de consideração, acreditando salvar desta forma seu Mestre: porém, parece-me que surte efeito contrário (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um único erro, caía em muitos.

Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar vão e supérfluo o aviso relativo àquelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Aristóteles e os pitagóricos que nunca haviam introduzido em relação aos cometas movimento reto, estaria fora de cogitação que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Porém, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa não ajuda em nada o Padre, porque aqueles adversários seus não havendo introduzido jamais em relação aos cometas o movimento por circunferências menores, da mesma forma é supérfluo demonstrar que eles se movimentam por circunferências máximas. Sarsi precisa, então, afirmar que aqueles antigos filósofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunferências menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunferência máxima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta.

E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investigação o movimento reto, pois o próprio Kepler já o havia atribuído aos cometas e o próprio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto é, para se tirar esta opinião de Kepler referente à mobilidade da Terra, opinião que pia e santamente não pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava inútil, pois isto devia antes ser-lhe estímulo para destruí-la e manifestá-la impossível. Talvez não seja errado demonstrar também com razões naturais, quando isto é possível, a falsidade daquelas proposições que são declaradas contrárias às Sagradas Escrituras.

Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque não somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o está observando, e isto foi relatado também pelo Sr. Mário. Assim, será necessário para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribuído alguma vez aos cometas; coisa esta não muito fácil de realizar; porque, mesmo que ninguém mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudança local do Sol de mais de 90 graus, ele dá lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, então, necessário que o mesmo movimento se apresente, às vezes circular, às vezes oval, às vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, deverá admitir que a defesa de seu Mestre é defeituosa.

Quarto, o que acontecerá quando eu admitir que o movimento do cometa é circular não somente pela opinião comum mas de verdade e por necessidade? Pensará talvez Sarsi que por isto mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, será demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza através de uma circunferência máxima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto até agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que não lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais são na esfera aquelas circunferências que ele considera máximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que é também o centro da terra) a dividem em duas partes. Então afirmaria eu que as circunferências realizadas por Vênus, Mercúrio e pelos planetas Mediceus não são circunferências máximas, pelo contrário, são muito pequenas, tendo estas como centro Júpiter, e aquelas o Sol.

Contudo, se observarmos quais são os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunferências realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Concluímos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retilíneo, não podemos concluir a respeito dele outra coisa a não ser que ele está se realizando com a mesma probabilidade através de uma circunferência mínima. Podemos, então, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa através do olho, isto é, no plano de uma circunferência máxima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser originado por uma linha circular, ou também por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecerá como movimento reto; então, não sendo substituíveis as duas proposições por nós já examinadas, aceitar uma pela outra é equivocar-se, o que é um procedimento ilógico.

Se eu acreditasse que Sarsi não ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o próprio Sarsi deixou passar. Entretanto, não gostaria de deixá-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu não o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua reação, quero discuti-lo com V. E. Ilustríssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabeça dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda é um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba não houve ninguém, por aquilo que podemos conhecer até agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o pedaço do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabeça do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, três ou mais elementos, é suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poderão ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria através de Marte ou da Lua. Então, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposição ao Sol, não podemos concluir outra coisa a não ser que ele se encontra no mesmo plano do olho.

E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, certa inconstância nas palavras finais lidas por V. E. Ilustríssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto é, o Sr. Mário, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e depois, três linhas mais abaixo, afirma não existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto não se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento é clara e evidente, por que preocupar-se em querer excluí-lo? E de que forma é ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ninguém jamais não somente não a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler não o impugna, pelo contrário, o introduz como possível e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livrá-lo.


11. Mas quando se opõe ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, até a Terra, talvez Galileu não perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol não só de um modo. E se a órbita, através da qual movimentava-se, tivesse sido excêntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento não tivesse sido circular mas elíptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se não tivesse sido nem mesmo elíptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa pôde movimentar-se sem empecilho algum em uma direção qualquer? Assim, não haveria tido nada a temer que a Terra e o Tártaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas.

Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusação que Sarsi me faz, isto é, de ser superficial por não haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribuídos ao cometa, não sei de que forma conseguirá Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um raciocínio semelhante haveria de ser considerado supérfluo, pois este movimento não fora tomado em consideração por nenhum outro autor, não percebo então de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contrário, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, não se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e não a mim raciocinar sobre estes movimentos, através dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudanças de lugar dos cometas. E se existisse alguém apto a dar esta explicação, seu Mestre devia citá-lo e aceitá-lo com exclusividade, e não deixá-lo em silêncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma aparência semelhante, e querer que não ele mas nós teríamos errado, por não adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Além disso, o Sr. Mário nunca afirmou que não exista na natureza forma alguma de salvar a mudança de lugar de uma quarta (pelo contrário, se tal mudança de lugar existiu, é claro que existe também a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hipótese recebida do Padre, não é possível esta mudança de lugar sem que o cometa toque a Terra e até a penetre". É muito vã, então, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matéria sem importância, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja proibida qualquer desculpa, mesmo em matéria de suma importância. Se isto é verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo.

E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. Mário), confessando ingenuamente não ter pensado nos movimentos excêntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque não é meu feitio prestar ouvido aos conceitos que não estão ligados ao argumento de que se está tratando. E qual é a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa?

Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcançar seu intento? Certo que não, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no excêntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da inteligência de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá alguma vez, depois de tê-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular à reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se há de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, é necessário que seja a reta DA, isto é, DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunferência máxima. V. E. Ilustríssima peça depois para Sarsi que, por causa do nosso ensinamento, descreva o movimento excêntrico ou o movimento oval afirmados por ele, através dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha ADB, porque confesso que eu não conseguiria fazer.

Até agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro excêntrico com o centro em declínio à direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao excêntrico, é verdade que não é de todo impossível desenhá-lo numa determinada maneira que dê origem à mudança procurada; porém ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Mercúrio e de Vênus ao redor, e além disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como é necessário fazer em relação aos dois, e depois se ele tentar introduzir o excêntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentarão tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de fazê-lo. Com respeito às linhas irregulares, não temos dúvida alguma de que não somente esta aparência como qualquer outra aparência pode ser salva. Porém, quero avisar a Sarsi que a introdução de tal linha não só não ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e não por não tê-la nunca citado, pelo contrário, aceitou a teoria da linha circular regularíssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque citá-la seria um engano ainda maior. Isto o próprio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. São chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma única linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral é regular e considera-se originada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e elíptica, nascendo de uma secção do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, porém, são aquelas que, não tendo determinação alguma, são infinitas e casuais e por isto indefiníveis; nem destas, por consequência, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conheça alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" é a mesma coisa que dizer "eu não sei por que acontece". A introdução de um tal tipo de linha não é em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influências e outros termos usados por alguns filósofos para máscara da verdadeira resposta que seria "eu não sei", resposta muito mais aceitável que as outras, porque uma sinceridade cândida é muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, então, muito mais inteligente, não propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer à pergunta, do que seu discípulo, ao citá-las.

É bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opinião, acredito que o próprio Sarsi tenha compreendido muito bem a ineficácia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece provável devido à brevidade de sua exposição com referência a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto importantíssimo na matéria que estamos tratando e fossem gravíssimas as objeções promovidas pelo Sr. Mário. E ele me é um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de quanta importância era para nós este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e áridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de preferência haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.

E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, não por outras coisas, mas por não ter reproduzido as figuras dos excêntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, não é de vantagem nenhuma para a demonstração principal que se acha naquela passagem.

E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustríssima de um mar de distinções, silogismos e outros termos lógicos, e poderá verificar que Sarsi considerara importantíssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.


12. Mas Já que Galileu acusa meu mestre de ignorância em matéria de lógica, permita-me que nós também mostremos com quanta exatidão ele próprio haja respeitado as leis desta lógica, e, não precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Havíamos afirmado que as estrelas, observadas através da luneta, ofereciam à vista um aumento mínimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande número foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas através da luneta, deve-se dizer que elas não receberam da luneta um aumento insensível, mas antes infinito.

Nada, pois, nem alguma coisa está separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, então, de que ver alguma coisa que antes não se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que não seja possível deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o não ser visto existe uma distância infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela proporção que existe entre o nada e alguma coisa, isto é, nenhuma proporção.

Entretanto, quando aquilo que não existia antes começa a existir, não podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressupõe sempre algo, tanto é que não afirmamos que o mundo, quando foi originariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor.

Por isto, do fato de que alguma coisa que antes não podia ser vista depois porém é vista, não se pode deduzir, nem sequer visível pela razão, um aumento infinito. Mas no momento não quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento à passagem do não ser ao ser: prefiro ir para a frente. O próprio Galileu, quando deduziu, por ter visto através da luneta as estrelas não percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma proporção. Então, se aumenta numa determinada proporção, por exemplo cêntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aumentará na mesma proporção também aquelas estrelas bem pequenas que fogem à vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas não será infinito, pois isto não admite proporção alguma.

Em segundo lugar, quando entre visível e invisível coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, é o significado da palavra aumento por ele usada), é necessário mostrar que entre quantidade percebida ou não percebida existe uma diferença infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito não será nunca deduzível.

Com efeito, se alguém raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do invisível para o visível, então aumenta infinitamente; as estrelas passam de invisíveis a visíveis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-á distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em relação à visibilidade é aceitável: que aumentem em relação à quantidade deve ser negado. Assim, também, o que deriva disto resolve-se com a mesma distinção: aumentam em relação à visibilidade mas não à quantidade. Disto resulta que o termo aumento não é usado da mesma forma na tese maior e em sua derivação. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da lógica, reflita Galileu.

Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, é lei da lógica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, é difícil do mesmo efeito deduzir uma só daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras causas, dificilmente alguém poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna visível algo que antes era invisível pode proceder de mais causas, não se pode deduzir daquela visibilidade uma única causa. E que este efeito pode ser referido a numerosas causas, acredito que é bem claro. Com efeito, permanecendo o mesmo objeto imutável, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imutável, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos será suficiente para produzir o mesmo efeito. Então, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria não está bem de acordo com a regra dos lógicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se originar o mesmo efeito. Com certeza não há motivo por que Galileu atribua este aumento à luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por todas, afirmará com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes não se viam e agora são vistas. Depois, afirma dever-se falar só sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se só da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto é suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, não mostra de um único modo os objetos que sem ela não são vistos, primeiro, possibilitando a visão dos objetos sob um ângulo maior, dando assim a possibilidade de vê-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a visão mais eficazmente: uma destas coisas é suficiente para fazer ver aquilo que antes não víamos. Por isso não foi possível deste efeito deduzir uma só daquelas causas.

Quarto, não está de acordo nem com as leis dos lógicos que as estrelas, se não são aumentadas pela luneta, por uma qualidade específica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telescópio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; não as aumenta, logo as ilumina". Todavia, é outra lei dos lógicos aquela que diz que nas divisões em partes devem ser incluídas todas as partes a serem divididas. Mas nesta divisão de Galileu não estão incluídos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados são próprios da luneta. Com efeito, a iluminação, como acredita o mesmo Galileu, não pode ser efeito originado pela luneta, e ele deixou de lado também a junção dos raios ou imagens, que é característica particular da luneta; sua divisão era então errada. Não acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para fazê-lo compreender que sua dissertação possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (faço questão agora de relatar uma coisa que Galileu ainda não ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir à luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo não ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma força oculta e incrível, os ilumina. Ê exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstrar isto, tenho esperança de conseguir as boas graças de Galileu; atribuindo à sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) também esta incrível particularidade. Pois bem, os objetos são aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um ângulo maior do que aquele que possuem quando são observados a olho nu. Todas as coisas que são observadas sob um ângulo maior são vistas, segundo o parecer dos ópticos, como maiores. A luneta, porém, enquanto dirige e reúne quase num único ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pirâmide luminosa através da qual veem-se os objetos, e por isto mostra os objetos através de uma pirâmide mais luminosa. Então, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um ângulo maior ou menor, sob o qual vê-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, assim a pirâmide mais ou menos luminosa, através da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrará igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experiências e a própria razão demonstram com suficiente clareza como a pirâmide óptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razão ensina que a fonte luminosa, quanto mais é contida em menor espaço, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um único lugar encerram a mesma luz num espaço menor e por isto o iluminam também mais. Esta mesma coisa poderá esclarecer a experiência se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, então, que os raios reunidos em um único lugar não somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser tão verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, claríssimas luzes, podem agora, por meu próprio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente.

Aqui, como V. E. Ilustríssima pode perceber, em vez do equívoco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no raciocínio lógico. Para demonstrar que o aumento do telescópio é o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento não imperceptível ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invisíveis a olho nu tornam-se visíveis com o telescópio; então, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discussões esforça-se para me tachar de péssimo lógico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, já que estou farto de sobra com todas as discussões das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto é, pouco conhecedor de lógica, enquanto ele considera absoluto o que é relativo.

Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. Mário avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se visíveis depois de terem sido invisíveis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem é tão simplório assim de não entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e não nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e não nulo, e não entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. Mário falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer referência a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. Mário de pouca memória por não haver lembrado a afirmação feita anteriormente, isto é, que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma proporção, esta acusação é vã. Pelo contrário, mesmo que sem outra referência o Sr. Mário o tivesse chamado de infinito, eu não haveria acreditado na existência de alguém tão cuidadoso que lhe desse importância, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grandíssimo. Campo vasto terá Sarsi em mostrar-se mais lógico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrará a palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grandíssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o sábio levantar-se contra o senhor e disser: "É infinito o número dos estúpidos", qual será a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposição é falsa, provando, até com a autoridade das próprias Escrituras, que o mundo não é eterno e que, tendo sido criado no tempo, não podem existir nem ter existido homens infinitos? E não obstante não poder acontecer que esta teoria seja alguma vez possível, mesmo que todos os homens presentes, passados e até, direi, futuros fossem tão estúpidos de afirmar uma coisa parecida, impossível, aos seres humanos, mesmo que a duração do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos?

Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta inteligência descoberta por Sarsi, em relação ao fato de nós chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invisível torna-se visível por meio de telescópio? Isto, afirma ele, não pode ser chamado aumento porque o aumento pressupõe antes alguma quantidade, e aumentar não é outra coisa que tornar maior o que era menor. Em relação a este argumento eu não saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. Mário, senão que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telescópio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invisíveis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espécie ou do objeto visível, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, não de aumento, mas de trânsito do não ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um óculo nos permite ler mesmo de uma grande distância aquelas letras que não poderíamos enxergar sem ele senão as maiúsculas, para falar logicamente diríamos que os óculos aumentam as maiúsculas mas que em relação às minúsculas as faz transitar do não ser para o ser. Contudo, se não é possível usar sem erro a palavra aumento onde não se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, será que a palavra trânsito ou passagem será ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, não existindo algum dos dois termos, isto é, nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue?

Mas quem sabe se o Sr. Mário não fosse e não seja da opinião de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem até nós as espécies sob ângulos tão agudos que permaneçam imperceptíveis ao nosso sentido, como se não existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, não seriam suficientes todos os óculos do mundo para torná-las alguma coisa); mesmo que as espécies das estrelas invisíveis sejam, não menos que aquelas das visíveis, difundidas pelo universo e que consequentemente seja possível também a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena lógica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em dúvida algo do qual tenho necessariamente prova sensível? Aquela luminosidade nublada das estrelas não está realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a espécie nua e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa não é outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a nós invisíveis; com tudo isto, não nos é invisível aquele campo que é ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, originada pela junção dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradiações luminosas não estão senão em nosso olho, torna-se necessário que cada espécie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto é, as nebulosas e a Via Láctea não existem no céu, mas são uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista tão aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via Láctea não se encontrariam no céu.

Estas conclusões, até agora nunca afirmadas por outros, acredito que não deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. Mário tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado trânsito do ser para o não ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permissão do Sr. Mário (para não criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vitória completa desta discussão e de tudo aquilo que deriva de posições semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invisíveis possa ser chamada aumento infinito em relação ao visível mas não em relação à intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condição de que nos conceda que as estrelas invisíveis e visíveis, mesmo crescendo da forma que a Sársi agrada mais, cresçam porém de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirmações de seu Mestre, que escreveu que elas não aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das razões com as quais ele tinha começado a demonstrar a primeira proposição de seu tratado, isto é, o lugar do cometa.

Mas, o que deveríamos nós responder ao outro erro, também de lógica, que Sarsi nos atribui?

Apresentamos este erro e depois assumiremos as opiniões que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, não satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, já inúmeras vezes mencionado, das estrelas fixas invisíveis não deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirmação de que este aumento proceda do telescópio é um grave erro de lógica, cujas leis querem que, quando um efeito pode originar-se de causas múltiplas, é muito difícil originar-se um efeito de uma única causa. Poder ver agora aquilo que antes não se podia ver é um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, além daquela do telescópio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas não eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telescópio as estrelas invisíveis. Assim o Sr. Mário, para fugir da acusação de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telescópio no olho não era um aumentar em si e por si o poder visivo (que é também uma causa por meio da qual, sem outro auxílio, pode-se ver aquilo que antes não era possível); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplicação não era tirar as nuvens, as árvores, os telhados ou os outros empecilhos intermediários; em terceiro lugar, devia demonstrar que não era possível servir-se de um par de óculos comuns (estou, como V. E. Ilustríssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo próprio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento não é iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia mostrar que este procedimento não traz as estrelas à Terra ou nos leva ao céu, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito não consiste em fazê-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se visíveis; em sétimo lugar, devia mostrar que este não é um abrir os olhos fechados: ações todas, cada uma das quais (e especialmente a última) é suficiente para nos mostrar aquilo que antes nós não víamos. Sr. Sarsi, eu não sei o que lhe dizer, senão que discute brilhantemente.

Somente sinto que todas estas acusações recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. Mário ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por vós relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas não se poderia ver, como, por exemplo, aproximá-lo, interpor vapores ou cristais, etc., pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos visíveis, assim como faz o telescópio. Creio que responderíeis que sim. Então acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusação de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra característica do telescópio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opinião, teria obrigação de fazer. Obrigação esta, porém, que não toca ao Sr. Mário, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e não mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusação de lógico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasião muito importante, transgrediu esta lei, isto é, deduzir a circulação da aparência do movimento reto através da máxima circunferência, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas três causas podiam duvidar com muita razão também os homens extremamente sensatos.

Até o vosso próprio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular.

Porém, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na aparição de estrelas invisíveis, enquanto que com o telescópio são observadas, se me for permitido falar livremente, não acredito que pudesse ser cogitado, a não ser por pessoas extremamente simples.

Neste grupo, porém, Ilustríssimo Senhor, não entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que não falou sinceramente, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telescópio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusação anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um péssimo lógico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa é suficiente para uma exata argumentação.

E a razão de o telescópio não apresentar aquilo que se via sob um único aspecto mas em dois é: o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um ângulo maior para permitir que apareça maior; o outro consiste em unir os raios e as espécies onde operem com mais eficácia. Como um só dos dois é suficiente para tornar manifesto aquilo que antes não se percebia, não se deve deduzir deste efeito uma única causa. Estas são as suas exatas palavras das quais não saberia penetrar no seu sentido íntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declaração ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que é por acaso o primeiro a ocorrer na mente contém uma contradição manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob ângulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contrário ao estreitar-se dos raios e espécies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espécies, não aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um ângulo maior. E se Sarsi imaginava outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um ângulo maior (coisa que eu não nego que possa por acaso ser verdade), devia declará-lo e distingui-lo do outro, para não deixar o leitor em dúvidas e equívocos. Mas, aceitando por enquanto que o telescópio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do ângulo deixa de lado a conjunção dos raios, e quando estreita os raios deixa o ângulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, é grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. Mário por não ter aceito e citado um e excluído o outro. Porém, se ele opera com um só, também errou Sarsi em não o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando nós olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do ângulo, mas quando se olha para as estrelas o ângulo não aumenta mas somente juntam-se os raios.

Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muitíssimas vezes olhado com este instrumento, não pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necessário que as duas operações, o aumento do ângulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de questão a oposição de Sarsi.

Porque é bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas são entre elas inseparáveis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito está presente a causa também está presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ustório" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fricção de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "então ele possui uma pedra", sem razão seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal operação, além da pedra, a espingarda, a isca e o fósforo, não era possível logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do ângulo e a união dos raios participam sempre da operação do telescópio, de cujas operações uma é fazer ver o invisível, por que deste efeito não se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se não estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo não acredita em absoluto, isto é, que o poder ver as estrelas que antes eram invisíveis derivasse não do aumento do ângulo mas da união dos raios; pois se fizeram visíveis não porque sua espécie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. Não quis, porém, revelar abertamente porque são demais contra ele as outras razões do Sr. Mário silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espaços entre uma estrela e outra na mesma percepção que os objetos aqui embaixo, cujos espaços não deveriam aumentar nada se as estrelas também não aumentassem, sendo esses espaços tão distantes de nós como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas operações do telescópio, isto é, da conjunção dos raios e do aumento do ângulo, haverá de declarar não somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o ângulo e que eles todos são a mesma coisa. Se ele tivesse outra teoria, teria que mostrar que o telescópio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o ângulo e que isto se verifica justamente na contemplação das estrelas fixas. Isto ele nunca poderá mostrar, porque é uma vã quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade.

Eu não acreditava, meu Ilustríssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, já que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto à outra acusação, de transgredir as leis da lógica, na divisão dos efeitos do telescópio, o Sr. Mário colocou lá um que não existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telescópio torna visíveis as estrelas, quer aumentando as suas espécies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as espécies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. Mário nunca teve a intenção de operar uma divisão a respeito daquilo que é uma coisa só, isto é, a operação do telescópio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. Mário afirmou: "Se o telescópio não nos torna visíveis as estrelas aumentando-as, é necessário que as ilumine de alguma forma", não introduziu a iluminação como efeito aceito, mas o contrapôs ao outro, para que sobressaísse mais sua verdade; e esta é uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos não subiram a montanha, é necessário que eles tenham caído do céu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, além daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de lógica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, porém, que em querer aparecer como grande lógico não apareça como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustríssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. Mário, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, não somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o impossível. Mas, voltando ao assunto, já está claro que o Sr. Mário não colocou a iluminação como efeito originado do telescópio. E que mais? O próprio Sarsi admitiu tê-lo colocado como efeito impossível. Então ele não dividiu seu pensamento daquele do Sr. Mário, porque não existe divisão. Depois, no que diz respeito à união das espécies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte não considerada pelo Sr. Mário, seria ótimo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda operação é diferente da primeira, porque nós até agora a entendemos como igual. E quando tivermos certeza de que as duas são diversas, então compreenderemos ter errado; mas o erro não será de lógica no dividir mal, mas de perspectiva por não ter percebido bem todas as funções do instrumento.

Quanto à conclusão, onde Sarsi afirma não querer por ora relatar erros além daqueles poucos encontrados por acaso numa parte só, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agradeço a Sarsi pela piedosa afeição para conosco; depois alegro-me com o Sr. Mário, o qual pode ter certeza de não ter cometido no texto todo mínima falha de raciocínio lógico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as consequências produzidas pelos outros.

Vou considerar finalmente a última parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telescópio como uma admirável condição e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como também de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua objeção tenha muito resultado depois de ter investigado a força de sua demonstração, demonstração que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explicá-la, ir, não sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opiniões.

O telescópio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um ângulo maior do que quando são observados sem aquele instrumento. O mesmo telescópio, quase restringindo a um ponto as espécies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto é, a pirâmide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior.

Depois, o fato de que a pirâmide óptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, é provado pela razão e pela experiência. Com efeito, a razão nos ensina que a luz recolhida num espaço menor deve necessariamente iluminá-lo mais; e a experiência nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, não somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a visão; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telescópio ilumina as estrelas e as aumenta.

Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admirável instrumento, eu não posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposições e experiências acima mencionadas. Porém, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes é mais prejudicial que serem falsas. A principal conclusão que devia ser demonstrada por meio delas é de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que não peque em lógica aquele que de proposições verdadeiras deduz uma conclusão falsa. É verdade que o telescópio aumenta os objetos colocando-os sob um ângulo maior; verdadeira é a prova que nos dão os pesquisadores de perspectiva; nem é menos verdadeiro que os raios da pirâmide luminosa quanto mais estão juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; é verdadeira a razão apresentada por Sarsi, isto é, que a mesma intensidade de luz num espaço menor ilumina mais; finalmente, é verdadeira a experiência da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. É, porém, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telescópio que sem ele, pelo contrário, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telescópio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esforço o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fenômeno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra.

Extremamente clara é, então, a falsidade da conclusão: falta agora mostrá-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situação, ficasse lendo só o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclusão que é exata se não existisse a outra parte, isto é, aquela do dever.

É verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto é, o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclusão. Mas, onde o senhor deixa o vidro côncavo, que no telescópio é a contralente e é a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e através da qual passam os últimos raios e é o último balanço do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, não sabe que o vidro côncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios através de ambos os vidros do telescópio, como observou aqueles que resultam da refração de uma única lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto vão ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espaço enorme. Esta experiência pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telescópio, sempre maior circunferência realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em comparação com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor não tivesse conhecido esta e qualquer outra experiência, me é difícil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros côncavos, quanto maior mostram um objeto, o que é verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, então, com a mesma intensidade a ação do telescópio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades tão admiráveis, se não quer fazê-lo desprezar por aqueles que até agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposição aceitei como verdadeira uma opinião sua que é falsa, isto é, que a luz reforçada mediante a junção dos raios torne o objeto mais brilhante.

Seria verdade isto quando esta luz recaísse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contrário; assim, além de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta é a única razão por que as estrelas aparecem mais brilhantes à medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustríssima pode ver, são tão manifestas que não me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu raciocínio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opinião dele. E sua última conclusão me firma nesta minha opinião, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo então que se pode acreditar ser verdade que o telescópio ilumina as estrelas da mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustríssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele não as aumenta nada: conclusão que Sarsi se esforça por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue.


CONTINUA

7. Mas leia agora V. E. Ilustríssima: Desde que aqui no início da discussão devo me opor àquilo que me parece de menor importância com respeito àquele homem tão humano que como tal todo mundo o conhece, não haveria sem dúvida imaginado nunca que, mais severo quase que o próprio Catão, se opusesse tão fastidiosamente a alguma brincadeira e piada, propositalmente por nós utilizadas no discurso, e antes para gozar afirmava que a natureza não deleita os poetas. Eu, porém, quanto me encontrava longe desta opinião! Até hoje considerei a natureza uma poetisa. Ela quase nunca dá fruto sem que haja antes, quase para brincar, manifestado as flores. E quem haveria imaginado Galileu tão severo assim, que julgasse dever excluir nas questões importantes algum agradável alívio? Este comportamento é indicado mais para um estoico que para um acadêmico. Todavia, com razão nos acusaria se houvéssemos tentado, com brincadeiras e sátiras, iludir, em vez de explicar, tão importantes questões; mas, quem proíbe alguma brincadeira divertida e alguma piada no meio da severidade de sérias questões? Eis que o acadêmico o proíbe. Não obedeceremos. Ele não gosta da nossa forma de espirituosidade?

Muitos, não menos sábios que ele, gostam. Com efeito, não foi este o parecer de homens famosíssimos, quer pela nobreza quer pela sabedoria, que estiveram presentes à nossa discussão, os quais lhes pareceu tudo sabiamente discutido que o cometa, triste e infausto presságio para o vulgo, fora tratado com certo benévolo linimento de palavras e quase diminuído. Porém, você afirma que estas são coisas superficiais. E justo e por isto devem ser ligeiramente diluídas.

De acordo com aquilo que está escrito aqui, resumindo-o em poucas palavras, afirmo que nem o Sr. Mário nem eu somos de natureza tão austera que as brincadeiras e as suavidades poéticas nos enjoem. Sejam testemunho disto as outras brincadeiras inseridas habilmente em seu texto pelo Pe. Grassi, sobre as quais o Sr. Mário não proferiu palavra alguma de reprovação; pelo contrário, foram lidos com grande deleite o nascimento, o berço, as habitações, os funerais do cometa, e o ter-se ele acendido para iluminar o encontro e a ceia do Sol e de Mercúrio; nem ficamos incomodados que as luzes permanecessem escondidas vinte dias depois da ceia, nem ficamos incomodados sabendo que onde existe o Sol são inúteis e supérfluas as velas, e que o Sol não ceia, almoça somente, isto é, ele come de dia e não de noite, período de tempo que lhe é completamente desconhecido. Todas estas coisas foram relatadas de forma a não deixarem em nós escrúpulo algum, pois não nos deixariam nada a desejar sobre a verdade do conceito contido nestas brincadeiras, o qual, por ser notório e manifesto por si mesmo, não tinha necessidade de outra mais profunda demonstração. Porém, que numa questão tão importante e tão difícil, qual é o querer nos persuadir de que exista realmente e fora de qualquer brincadeira na natureza um orbe celeste particular para cometas, enquanto que Tycho não pode dar uma explicação da deformidade do movimento aparente deste cometa, meu raciocínio então deve parar de raciocinar e satisfazer-se com um requinte poético, o qual não produz fruto algum, isto é, aquilo que o Sr. Mário recusa, e com razão e com verdade afirma que a natureza não se deleita com poesias.

Afirmação esta bem verdadeira, se bem que Sarsi aparente não acreditar e finja não conhecer os mitos e as fantasias, pois, sem a natureza e a poesia, não podem subsistir. Estas mentiras são tão detestadas pela natureza que é mais possível encontrar nela alguma mentira do que encontrar trevas na luz. Mas agora já é tempo de tratarmos do assunto de maior importância. Leia V. E. Ilustríssima o seguinte:


8. Vou tratar agora de coisas muito mais sérias. Meu mestre achou que fosse necessário procurar o lugar do cometa especialmente através de três argumentos: primeiro, sem dúvida, pelas observações da paralaxe; segundo, pelo seu movimento; terceiro, pelas coisas que se observam nele através da luneta. Galileu procura minimizar cada um deles e privá-los de sua importância. Tendo-nos demonstrado que o cometa apareceu com uma pequena diversidade de aspecto nas várias observações de lugares diferentes, e por causa disto fora necessário colocá-lo além da Lua, Galileu afirma que o argumento originado pela pesquisa referente à paralaxe não é de peso algum se antes não se estabelecer se de fato as coisas observadas são reais e estáveis ou puras aparências em movimento. Está certo, mas não havia necessidade. Por que argumentar a respeito, se tudo isto já estava assentado? Sem dúvida, como nós éramos contrários ao parecer dos peripatéticos principalmente, cuja opinião é ainda importantíssima para os numerosos seguidores, em vão poderíamos ter excluído os cometas do número das coisas irreais, pois que esta dúvida não existia no espírito de nenhum de nós. E o próprio Galileu, contradizendo Aristóteles, não usa argumento mais convincente nem mais válido do que aquele originado pela paralaxe. Por que, então, para uma questão em tudo semelhante, não nos era permitido usar livremente a mesma argumentação?

Para conhecer qual o teor das coisas aqui relatadas, será suficiente resumir brevemente aquilo que o Sr. Mário afirma e aquilo do qual sofreu oposição. De uma forma geral o Sr. Mário escreveu: Aqueles que pela paralaxe querem determinar o lugar do cometa precisam antes estabelecer se ela é uma coisa fixa e real e não uma vaga aparência, porque a lei da paralaxe deriva da realidade de um objeto e não da aparência, como ele exemplifica com abundância de particulares. Acrescenta depois que a falta de paralaxe não é compatível com as duas preposições Aristotélicas que afirmam que o cometa é fogo, isto é, uma coisa bem real e que se encontra no espaço bem perto da Terra. A isto opõe-se Sarsi, afirmando: Está tudo bem, porém não tem nada a ver com o nosso assunto, porque nós discutimos contra Aristóteles, e teria sido vão o esforço de provar que o cometa não seja uma aparência, pois nós concordamos com ele que seja coisa real, e nosso argumento como de coisa real, porque derivado de paralaxe, conclui assim. Acrescenta até que o próprio adversário não utiliza o argumento mais válido contra Aristóteles; e se chega a utilizá-lo, por que não podemos, pelo mesmo motivo, utilizá-lo livremente nós também?

Ora, não entendo o que Sarsi pretende aqui nem em que ponto pensa ele contestar o Sr. Mário, pois que ambos relatam as mesmas coisas, isto é, que a lei da paralaxe não vale nas coisas aparentes, porém bem vale nos objetos reais, e consequentemente vai contra Aristóteles, enquanto quer que o cometa seja coisa real. Aqui, se temos que dizer a verdade, com permissão de Sarsi, não podemos dizer outra coisa a não ser que ele, disfarçando as palavras do Sr. Mário, quis ofuscar a vista do leitor para que este permaneça na opinião de que o Sr. Mário tenha-se exprimido fora do propósito. Porque, querendo que a objeção de Sarsi vigorasse, seria necessário que, onde o Sr. Mário, falando em geral para o mundo inteiro, diz Quem quer que o argumento da paralaxe se refira ao cometa, é necessário provar antes que aquela coisa seja real, precisasse, afirmo, ter dito: Se o Pe. Grassi quer que o argumento da paralaxe seja contra Aristóteles, que considera o cometa uma coisa real e não aparente, é necessário que prove antes que o cometa seja uma coisa real e não aparente. Assim as palavras do Sr. Mário seriam de fato um enorme despropósito, que como tal Sarsi gostaria que parecessem. Porém o Sr. Mário nunca escreveu nem pensou estupidez semelhantes.


9. Mas deveriam ter sido discutidas também as opiniões de Anaxágoras, dos pitagóricos e de Hipócrates.

Todavia nenhum deles havia afirmado que o cometa é uma ilusão óptica. Anaxágoras, com efeito, afirmou que o cometa é uma reunião de estrelas bem verdadeiras. Tanto Hipócrates como Esquilo não diferem em nada dos pitagóricos. Aristóteles, na verdade, quando expôs a opinião dos próprios pitagóricos que dizem que o cometa é uma das estrelas errantes vagarosamente aproximando-se de nós e rapidissimamente afastando-se, acrescenta: "De maneira igual enunciaram também aqueles que seguiram Hipócrates de Quio e seu discípulo Esquilo, mas afirmam que o cometa não possui uma cauda em si mesmo, porém às vezes adquire por causa do lugar enquanto anda vagando, ficando nossa vista refratada pelo fluido atraído por ele mesmo para o Sol". Galileu, na verdade, no início de sua dissertação, quando examina as opiniões deles, afirma que eles consideram o cometa uma estrela que, uma vez chegada perto da Terra, atrairia a si alguns vapores, mesmo da Terra, com os quais acomodaria para si convenientemente não a cabeça mas a cauda. Diga-se de passagem que Galileu julga com menos oportunidade que o cometa seja originado por aqueles mesmos lugares acreditados pelos pitagóricos, que achavam que ele existia por causa da refração da luz; na realidade, eles não perceberam nada de ilusório no cometa, com exceção da cauda.

Entende, então, que a nenhum deles pareceu que o cometa, se falarmos de sua cabeça, deve ser considerado pura aparência. Então, pois, todo o mundo estava de acordo em relação a este argumento, por que deveríamos ter despojado este brilhantíssimo fogo daqueles fantasmas ou daqueles jogos de luzes, e afastar dele aquela culpa que homem algum, cuja opinião tivesse certo valor, lhe imputava? Cardano e Telésio, com efeito, dos quais Galileu parece haver tirado alguma coisa a propósito deste assunto caindo em uma estéril e infeliz filosofia, não sendo alegrados por descendência alguma, deixaram livros para a posteridade, não filhos. Para nós e Tycho é suficiente afirmar que não discutiram erradamente aqueles que nunca suspeitaram que o cometa fosse um fantasma vão e falso, o que fizeram, segundo o testemunho do próprio Galileu, as academias de todos os filósofos existentes até agora. Pois, se existiu alguém que eloquentemente ensinou que estes fenômenos devem ser colocados entre os fenômenos puramente aparentes, eu lhe mostraria, no momento certo, se não estou errado, quanto os cometas são diferentes, em seu comportamento e em seu movimento, do arco-íris, dos halos e das coroas, e com quais argumentos se chega à conclusão de que o cometa, com exceção da cauda, não se movimenta segundo o mando e o desejo do Sol, o que é comum a todos os astros aparentes, mas movimenta-se livremente e percorre sua órbita para a qual sua natureza o impelir e levar.

Querendo aqui também mostrar universalmente que a dúvida levantada pelo Sr. Mário era vã e supérflua, afirma que nenhum escritor antigo ou moderno, digno de alguma consideração, poderia alguma vez ter pensado que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que por isto seu Mestre, que só com eles discutia e que aspirava exclusivamente à vitória sobre eles, não se esforçava nada para tirá-la dos puros simulacros. A isto eu respondo afirmando em primeiro lugar que Sarsi, mesmo com um raciocínio semelhante, podia deixar de lado o Sr. Mário e a mim porque não pertencemos ao número daqueles antigos e modernos contra os quais discutia seu Mestre, e temos tido a intenção de falar somente com aqueles (sejam eles antigos ou modernos) que procuram com todas as forças investigar não importa qual verdade na natureza, deixando completamente na própria opinião aqueles que, só para ostentar estrondosas discussões, aspiram, com um grandioso aplauso popular, a serem julgados não pesquisadores de verdades, mas somente serem superiores aos outros; nem devia empenhar-se tão ansiosamente para derrubar coisas que nem para ele mesmo, nem para seu Mestre, eram prejudiciais.

Ele devia, em segundo lugar, considerar que é muito mais escusável a alguém que em alguma profissão não se engane em alguma particularidade relativa a esta profissão, e especialmente quando nem mil outros, que tenham a mesma opinião, lembraram e concordaram com uma coisa que é vã e inútil naquele assunto. Assim, ele podia e devia antes confessar que seu Mestre, como nenhum dos seus antecessores, não tinha nem pensado que o cometa podia ser uma aparência, em vez de esforçar-se para declarar vã a dedução à qual nós chegamos. Porquanto, semelhante admissão, além de não ser nenhuma ofensa para seu Mestre, teria sido indício de uma liberdade ingênua, que, não podendo aceitar isto sem ofensa à minha reputação (quando ele tivesse conseguido o intento), é antes sinal de espírito alterado por alguma paixão. O Sr. Mário, na esperança de fazer algo agradável e profícuo para os estudiosos da verdade, propôs, com toda modéstia possível, que no futuro fosse mais conveniente considerar a essência do cometa para verificar se ele pudesse ser algo não real mas simplesmente aparente, e não reprovou, de forma alguma, nem o Pe. Grassi nem outros por não o terem feito até aquele momento. Sarsi se levanta e com mente alterada procura demonstrar que a dúvida tinha sido colocada fora de propósito e que era manifestamente falsa. Todavia, para se encontrar, como se diz, pronto para as duas possibilidades, sob qualquer forma em que ela pudesse aparecer digna de alguma consideração, para despojar-me daquele elogio que dela derivaria, ele a declara como opinião velha já apresentada pelo Cardano e pelo Telésio, porém desprezada pelo seu Mestre como fantasia de filósofos fracos e sem seguidor algum; e no mesmo instante finge e não percebe com quão pouca caridade ele despoja e tira toda a reputação daqueles filósofos para encobrir uma pequeníssima verruga daquele seu Mestre. Sarsi, se o senhor se torna discípulo daqueles venerandos Padres seguidores da filosofia natural, o senhor não se torna, porém, seu discípulo na moral porque ninguém acreditaria no senhor Aquilo que o Cardano e o Telésio escreveram eu não o vi, porém, por outros relacionamentos que faremos depois, posso facilmente conjeturar que Sarsi não tenha compreendido bem as teorias deles. Seria uma falta de minha parte deixar de demonstrar, como advertência para ele e como defesa para aqueles filósofos, como carecem de lógica as conclusões do Sarsi, que afirma ser pouca a profundidade da ciência filosófica deles devido ao pequeno número de seus discípulos. Por acaso acredita Sarsi que bons filósofos podemos encontrá-los em todas as quadras, dentro de cada recinto dos muros? Eu, Sr. Sarsi, acredito que os filósofos voam como águias e não como pássaros pretos. É bem verdade que as águias, por serem raras, oferecem pouca chance de serem vistas e muito menos de serem ouvidas, e os pássaros pretos, que voam em bando, param em todos os cantos enchendo o céu de gritos e rumores, tirando o sossego do mundo. Mas queira Deus que os verdadeiros filósofos fossem como as águias e não como a fênix. Sr. Sarsi, infinito é o bando dos estúpidos, isto é, daqueles que não entendem nada; muitos são aqueles que sabem alguma coisa de filosofia; poucos são aqueles que entendem um pouco de filosofia; pouquíssimos são aqueles que conhecem alguma parte dela; um só, Deus, é o que a entende toda. Assim que, para relatar aquilo que eu deduzi, ocupando-me da ciência que através de demonstrações e de discurso humano se pode conseguir dos homens, eu acredito firmemente que quanto mais ela participar da perfeição tanto menor número de conclusões prometerá ensinar, tanto menor número delas demonstrará, e, consequentemente, tanto menos agradará, e tanto menor será o número de seus seguidores. Pelo contrário, porém, a magnificência dos títulos, a grandiosidade e a abundância das promessas, atraindo a natural curiosidade dos homens, mantendo-os entretidos perpetuamente com mentiras e quimeras, sem nunca proporcionar-lhes o prazer da profundidade de uma única demonstração, onde o gosto uma vez apurado saiba reconhecer a falta de sal nos alimentos costumeiros, conseguirão desta forma manter ocupado grande número deles. E grande sorte terá alguém que, iluminado por uma luz natural, saberá sair dos confusos labirintos nos quais teria continuado a caminhar com o comum e no entanto sempre mais amarrado. Julgar, então, as teorias de alguém em matéria de filosofia pelo número dos seguidores, considero pouco exato. Mesmo considerando que possa ser reduzidíssimo o número de seguidores da melhor filosofia, não chego porém à conclusão de que aquelas opiniões e doutrinas, por terem poucos seguidores, sejam necessariamente perfeitas; porque compreendo muito bem que alguém possa considerar certas opiniões tão erradas que sejam recusadas por todos os outros. Ora, de qual das duas razões origina-se a escassez de seguidores dos dois autores chamados por Sarsi infecundos e desgraçados, eu não sei nem estudei suas obras para que me fosse possível julgá-los.

Voltando ao nosso assunto, afirmo que é tarde demais para Sarsi querer demonstrar que o seu Mestre, não porque não raciocinasse sobre o argumento, mas porque desprezou como coisa extremamente vã a ideia de que o cometa pudesse ser uma simples aparência, e que nestes não vinga o argumento da paralaxe, não fez nem menção. Muito tarde, digo, é uma desculpa, porque quando ele escreveu no seu Problema: Afirmo que se uma coisa qualquer é colocada entre o céu e a Terra, assim que possa ser vista de lugares diferentes, aparecerá também em diversas partes do céu, claramente demonstra não ter pensado a respeito do arco-íris, do halo, dos periélios e outras teorias que não repousam sobre esta lei, teorias que ele deveria mencionar e colocar como exceção, especialmente ele que, deixando Aristóteles e seguindo Kepler, afirma que o cometa pode consistir em um reflexo. Continuando, parece-me que Sarsi faz grande diferença entre a cabeça do cometa e a cauda, aceitando que a cauda pode ser mesmo uma ilusão da nossa vista e é verdadeiramente aparência, e que como tal a tenham considerado aqueles pitagóricos mencionados por Aristóteles. Quanto à cabeça, considera, porém, necessário que ela seja tida como coisa real e que ninguém jamais tenha considerado de modo diferente. Neste ponto, gostaria de fazer uma bem clara distinção entre aquilo que o Sarsi entende como real e aquilo que entende como aparente, e qual a razão que faz ser real aquilo que verdadeiramente é real e aparente aquilo que é verdadeiramente aparente. Porquanto, se ele chama real a cabeça por ser de matéria e substância real, eu afirmo que também a cauda é real; assim, se alguém afastasse aqueles vapores onde nossa vista se reflete face ao Sol, destruir-se-ia a cauda também, da mesma forma que tirando as nuvens, tiram-se o arco-íris e o halo. E se afirmar que a cauda não é real porque sem o reflexo do Sol não existiria, eu afirmo que este mesmo raciocínio deve-se atribuir à cabeça, porque, quer a cauda quer a cabeça, não são outra coisa que reflexos de raios em uma matéria qualquer, pois, enquanto eles são puras aparências, enquanto matéria são coisas reais. E se Sarsi admite que em relação à mudança de lugar do observador pode verificar-se mudança em relação ao lugar da origem da cauda na matéria, eu afirmo que a mesma coisa pode acontecer em relação à cabeça. E não acredito que aqueles antigos filósofos tivessem opiniões diferentes, porque se, por exemplo, tivessem acreditado que a cabeça fosse realmente uma estrela em si mesma, brilhante e consistente, e que somente a cauda fosse aparente, teriam dito que quando, por causa da obliquidade da esfera, não se verifica a refração de nossa vista face ao Sol, não se percebe mais a cauda, mas a estrela que é a cabeça do cometa. Isto nunca foi afirmado por eles, pelo contrário, afirmam que neste caso o cometa não era visível. Mas, mesmo que os antigos tenham ou não tenham feito tais afirmações, elas estão sendo elaboradas agora pelo Sr. Mário com válidas razões para duvidar, razões que devem ser ponderadas, como faz o próprio Sarsi. Nós, de nossa parte, traçaremos considerações sobre aquilo que ele escreve.


10. Por enquanto continue V. E. Ilustríssima a ler: Exatamente da mesma forma devo responder às objeções sobre o argumento oriundo do movimento. Pela forma como se encontram os lugares do cometa nos dias determinados, lugares que aparecem em plano, seguindo o movimento horário, em linha reta, nós inferíamos que aquele movimento se verificava necessariamente em uma circunferência máxima: mas Galileu replica: "Não se deve deduzir isto necessariamente; pois, se o movimento do cometa tivesse sido verdadeiramente em linha reta, suas posições também, realizando-se em movimento horário, teriam formado uma linha reta; todavia este movimento não teria se verificado através de um círculo máximo". Entretanto, mesmo sendo bem verdade, o movimento retilíneo deveria ter sido representado também com uma linha reta. Como todavia era uma controvérsia contra aqueles que, ou não haviam tido dúvida alguma a respeito do movimento circular do cometa, ou não haviam pensado nunca sobre este movimento retilíneo, isto é, contra Anaxágoras, os pitagóricos, Hipócrates e Aristóteles, perguntava-se somente se o cometa, que se considerava movimentar-se circularmente, percorreria órbitas maiores ou menores, não desreguladamente, mas ordenadamente; pelo movimento aparente em linha reta deduzia-se que o círculo descrito pelo movimento era uma circunferência máxima: ninguém, com efeito, havia apresentado este movimento reto e perpendicular.

Apesar de Kepler, antes de Galileu, em algumas breves notas a respeito do movimento dos cometas, procurar explicar este movimento por meio de linhas retas, percebeu todavia em quantas dificuldades iria afundar-se. Por isso não afirmou este movimento perpendicular à Terra, mas sim transversal, não igual mas mais vagaroso no início que no fim, com velocidade máxima no ponto médio. Além disso, achou que este movimento deve ser reforçado pelo movimento circular da própria Terra, para explicar todos os fenômenos dos cometas: isto não é de modo algum permitido a nós católicos. Eu então resolvi considerar nula aquela opinião que não podia ser sustentada com argumentações piedosas e santas. Pois, se Galileu com poucas alterações Julgou dever-se atribuir aos cometas este movimento retilíneo, não havendo ele explicitado isto claramente, eu mostrarei isto minuciosamente mais adiante. Saiba, por enquanto, que nós não pecamos contra as leis da lógica quando do movimento aparente em linha reta deduzimos que foi traçada a mesma parte do círculo máximo. Qual era, com efeito, a necessidade de excluir aquele movimento retilíneo e perpendicular que era bem conhecido por não fazer parte em nada dos cometas?

O Sr. Guiducci, com a finalidade mais que honesta de facilitar mais o caminho daqueles que pesquisam a verdade, havia tomado em consideração os equívocos daqueles que, havendo percebido que o cometa movimentava-se em linha reta, ficaram acreditando que o movimento do já mencionado cometa procedesse através de uma circunferência máxima, considerando que, apesar de o movimento através de uma circunferência máxima possuir a aparência de movimento retilíneo, o contrário, porém, não era necessariamente verdadeiro, isto é, que o movimento que fosse percebido como reto fosse originado de uma circunferência máxima, como havia sido afirmado por aqueles que do aparente movimento reto deduziam que o cometa se movimentava através de uma circunferência máxima. Entre eles estava o Pe. Grassi, o qual, apoiando-se talvez na autoridade de Tycho, que por primeiro se havia equivocado, passou por cima dele chegando a um ponto onde ele não haveria chegado se não tivesse tido tal precursor. Para mim é excusável o pequeno erro do Padre que, acredito eu, considerou de capital importância o aviso do Sr. Mário, atribuindo-lhe grande importância. Agora vem Sarsi e, continuando segundo seu feitio costumeiro, esforça-se por fazer aparecer o aviso como uma inadvertência e como falta de consideração, acreditando salvar desta forma seu Mestre: porém, parece-me que surte efeito contrário (se o Padre fosse de acordo com as desculpas e defesas do Sarsi) e que, para evitar um único erro, caía em muitos.

Em primeiro lugar, continuando Sarsi a considerar vão e supérfluo o aviso relativo àquelas coisas que nem ele nem outro haviam feito, afirma que, contestando seu Mestre, Aristóteles e os pitagóricos que nunca haviam introduzido em relação aos cometas movimento reto, estaria fora de cogitação que seu Mestre houvesse advertido a respeito. Porém, se refletirmos cuidadosamente, esta desculpa não ajuda em nada o Padre, porque aqueles adversários seus não havendo introduzido jamais em relação aos cometas o movimento por circunferências menores, da mesma forma é supérfluo demonstrar que eles se movimentam por circunferências máximas. Sarsi precisa, então, afirmar que aqueles antigos filósofos tenham escrito que os cometas se movimentam por circunferências menores ou confessar que seu Mestre tenha procedido superficialmente ao considerar o movimento provir de uma circunferência máxima, como teria acontecido considerar o movimento proceder de linha reta.

E mais (e seja como segunda coisa), aceitando o jogo de Sarsi, muito maior falta foi deixar sem investigação o movimento reto, pois o próprio Kepler já o havia atribuído aos cometas e o próprio Sarsi o coloca em seu texto. Nem me parece que a desculpa que ele apresenta seja completamente suficiente, isto é, para se tirar esta opinião de Kepler referente à mobilidade da Terra, opinião que pia e santamente não pode ser aceita, Sarsi por isto a considerava inútil, pois isto devia antes ser-lhe estímulo para destruí-la e manifestá-la impossível. Talvez não seja errado demonstrar também com razões naturais, quando isto é possível, a falsidade daquelas proposições que são declaradas contrárias às Sagradas Escrituras.

Terceiro, resta ainda uma falta de Sarsi, porque não somente o movimento verdadeiramente reto nos aparece em linhas retas, mas qualquer outro, todas as vezes que ele se realiza no mesmo plano do olho que o está observando, e isto foi relatado também pelo Sr. Mário. Assim, será necessário para Sarsi achar um modo de persuadir-nos que movimento algum fora do circular foi atribuído alguma vez aos cometas; coisa esta não muito fácil de realizar; porque, mesmo que ninguém mais o tivesse afirmado, ele mesmo o relatou poucas linhas abaixo, quando, em defesa da mudança local do Sol de mais de 90 graus, ele dá lugar ao movimento circular, mesmo em linha oval, e, por necessidade, em qualquer outra linha irregular. Torna-se, então, necessário que o mesmo movimento se apresente, às vezes circular, às vezes oval, às vezes completamente irregular, conforme necessidade de Sarsi; de outra forma, deverá admitir que a defesa de seu Mestre é defeituosa.

Quarto, o que acontecerá quando eu admitir que o movimento do cometa é circular não somente pela opinião comum mas de verdade e por necessidade? Pensará talvez Sarsi que por isto mesmo, quer pelo seu Mestre quer por outros, será demonstrado de forma concludente que o movimento se realiza através de uma circunferência máxima porque ele nos aparece em linha reta? Sei, por certo, que Sarsi acreditou nisto até agora; ele enganou-se; eu o tiraria do erro se soubesse que não lhe causaria desgosto; por isto eu lhe perguntaria quais são na esfera aquelas circunferências que ele considera máximas. Sei com certeza que me responderia serem aquelas que passando pelo centro daquela (que é também o centro da terra) a dividem em duas partes. Então afirmaria eu que as circunferências realizadas por Vênus, Mercúrio e pelos planetas Mediceus não são circunferências máximas, pelo contrário, são muito pequenas, tendo estas como centro Júpiter, e aquelas o Sol.

Contudo, se observarmos quais são os movimentos que nos apresentam, veremo-los aparecer em linha reta, o que acontece por se encontrar nosso olho no mesmo plano das circunferências realizadas por aquelas estrelas acima mencionadas. Concluímos, portanto, que, pelo fato de aparecer-nos um movimento retilíneo, não podemos concluir a respeito dele outra coisa a não ser que ele está se realizando com a mesma probabilidade através de uma circunferência mínima. Podemos, então, concluir que este movimento manifesta-se no plano que passa através do olho, isto é, no plano de uma circunferência máxima e que, em si mesmo, aquele movimento pode ser originado por uma linha circular, ou também por alguma outra, irregular como se queira, pois sempre nos aparecerá como movimento reto; então, não sendo substituíveis as duas proposições por nós já examinadas, aceitar uma pela outra é equivocar-se, o que é um procedimento ilógico.

Se eu acreditasse que Sarsi não ficasse de mal comigo, gostaria poder levantar a seu respeito outro engano semelhante que, como vejo, passou desapercebido a homens de grande talento, e que talvez o próprio Sarsi deixou passar. Entretanto, não gostaria de deixá-lo desgostoso demonstrando como eu e muitos outros mais perspicazes que eu não o deixamos passar desapercebido. Mas, qualquer que seja a sua reação, quero discuti-lo com V. E. Ilustríssima. Foi observado com muita agudeza que a extremidade da cauda, a cabeça dos cometas e o centro do disco do Sol se percebem sempre segundo a mesma linha reta, deduzindo-se disto que a cauda é um comprido reflexo da luz solar, diametralmente oposta ao Sol. Que eu saiba não houve ninguém, por aquilo que podemos conhecer até agora, que tenha cogitado que a forma de se manifestar do Sol e todo o pedaço do cometa em linha reta que possa concluir que necessariamente a linha reta tirada pela extremidade da cauda e pela cabeça do cometa alcance, prolongada, o Sol. Para aparecerem em linha reta, três ou mais elementos, é suficiente que sejam colocados no mesmo plano que o olho. Assim, Marte ou a Lua poderão ser vistos diretamente no meio de duas estrelas fixas, mas nem por isto a linha reta que uniria as duas estrelas passaria através de Marte ou da Lua. Então, do aparecer da cauda do cometa diretamente em oposição ao Sol, não podemos concluir outra coisa a não ser que ele se encontra no mesmo plano do olho.

E agora, como quinta coisa, pode-se perceber, direi assim, certa inconstância nas palavras finais lidas por V. E. Ilustríssima e por mim examinadas, onde Sarsi preocupa-se em querer, mais abaixo, demonstrar como eu, isto é, o Sr. Mário, erradamente atribuiu ao cometa o movimento reto, e depois, três linhas mais abaixo, afirma não existir necessidade alguma de excluir este movimento reto, o qual era certo e manifesto não se encontrar nos cometas. Mas se a impossibilidade deste movimento é clara e evidente, por que preocupar-se em querer excluí-lo? E de que forma é ele claro e manifesto se, pelas mesmas palavras de Sarsi, ninguém jamais não somente não a relatou como nem alguma vez a considerou? Somente Kepler, afirma ele, considerou este movimento. Mas Kepler não o impugna, pelo contrário, o introduz como possível e verdadeiro. Parece-me que Sarsi, percebendo que podia fazer outra coisa, procura emaranhar o leitor, mas eu procurarei livrá-lo.


11. Mas quando se opõe ainda sobre este ponto: Se o cometa se movimentasse ao redor do Sol, quando ele se afastasse do mesmo Sol por um quadrante inteiro, ele desceria um dia, até a Terra, talvez Galileu não perceba que o cometa pode movimentar-se ao redor do Sol não só de um modo. E se a órbita, através da qual movimentava-se, tivesse sido excêntrica ao Sol, e em sua maior parte tivesse sido colocada ou acima do Sol ou virada para o norte? E se o movimento não tivesse sido circular mas elíptico e por isto comprimido na parte mais alta e na mais baixa, muito alongado nos lados? E se não tivesse sido nem mesmo elíptico, mas completamente irregular, pois, segundo o sistema do mesmo Galileu, o cometa pôde movimentar-se sem empecilho algum em uma direção qualquer? Assim, não haveria tido nada a temer que a Terra e o Tártaro nunca haveriam de ver de perto a luz dos cometas.

Primeiramente, se admito aqui ser verdadeira a acusação que Sarsi me faz, isto é, de ser superficial por não haver eu considerado os diversos movimentos que podem ser atribuídos ao cometa, não sei de que forma conseguirá Sarsi desculpar seu Mestre, que nem sequer considerou a possibilidade de o cometa poder movimentar-se em linha reta. E se ele desculpa seu Mestre afirmando que um raciocínio semelhante haveria de ser considerado supérfluo, pois este movimento não fora tomado em consideração por nenhum outro autor, não percebo então de que forma poderia ser acusado eu de superficialidade. Pelo contrário, devo ser desculpado da mesma forma que seu Mestre, não se encontrando, com efeito, nenhum autor que haja introduzido estes movimentos desconhecidos, relatados aqui por Sarsi. E mais, Sr. Sarsi, cabia ao seu Mestre e não a mim raciocinar sobre estes movimentos, através dos quais se pudesse explicar convenientemente as grandes mudanças de lugar dos cometas. E se existisse alguém apto a dar esta explicação, seu Mestre devia citá-lo e aceitá-lo com exclusividade, e não deixá-lo em silêncio e introduzir com Tycho o simples movimento circular ao redor do Sol, inapto a explicar uma aparência semelhante, e querer que não ele mas nós teríamos errado, por não adivinhar que ele pudesse internamente ter abrigado pensamentos bem diferentes daqueles que tinha relatado. Além disso, o Sr. Mário nunca afirmou que não exista na natureza forma alguma de salvar a mudança de lugar de uma quarta (pelo contrário, se tal mudança de lugar existiu, é claro que existe também a possibilidade de saber bem como ela tinha sido), mas afirmou: "Pela hipótese recebida do Padre, não é possível esta mudança de lugar sem que o cometa toque a Terra e até a penetre". É muito vã, então, a desculpa de Sarsi. Pode ser que pretenda que qualquer desculpa, mesmo em matéria sem importância, deva ser admitida em favor de seu Mestre, mas que para mim seja proibida qualquer desculpa, mesmo em matéria de suma importância. Se isto é verdade, com muita boa vontade me calo e livremente o concedo.

E, em segundo lugar, apresento outra desculpa para mim mesmo (como se eu fosse o Sr. Mário), confessando ingenuamente não ter pensado nos movimentos excêntricos ou nas linhas ovais ou nas outras irregulares. Isto aconteceu porque não é meu feitio prestar ouvido aos conceitos que não estão ligados ao argumento de que se está tratando. E qual é a finalidade de Sarsi ao transformar o movimento ao redor do Sol em uma figura oval, para transportar de uma quarta o lugar do cometa?

Acredita ele, por acaso, que alongando de um lado e restringindo de outro uma figura possa ele alcançar seu intento? Certo que não, mesmo que ele a prolongasse ao infinito. A mesma impossibilidade apresenta-se no excêntrico que se encontra na parte menor embaixo do Sol. E, por causa da inteligência de Sarsi, V. E. Ilustríssima poderá alguma vez, depois de tê-lo encontrado, propor-lhe duas linhas retas AB, CD, das quais a reta CD seja perpendicular à reta AB, e dizer a Sarsi que, supondo a reta DC ser aquela que se prolonga do olho para o Sol, aquela pela qual se há de ver o cometa transportado de lugar 90 graus, é necessário que seja a reta DA, isto é, DB, sendo comumente aceito que o movimento aparente do cometa se encontre no plano de uma circunferência máxima. V. E. Ilustríssima peça depois para Sarsi que, por causa do nosso ensinamento, descreva o movimento excêntrico ou o movimento oval afirmados por ele, através dos quais o cometa, ao se movimentar, possa abaixar-se tanto que possa ser visto na linha ADB, porque confesso que eu não conseguiria fazer.

Até agora conseguimos excluir dois modos propostos; falta o outro excêntrico com o centro em declínio à direita ou para a esquerda da Unha DC, e a linha irregular. Quanto ao excêntrico, é verdade que não é de todo impossível desenhá-lo numa determinada maneira que dê origem à mudança procurada; porém ponho Sarsi de sobreaviso que, se ele delinear o Sol com os orbes de Mercúrio e de Vênus ao redor, e além disso a Terra circundada pelo orbe da Lua, como é necessário fazer em relação aos dois, e depois se ele tentar introduzir o excêntrico do cometa, acredito com toda certeza que se lhe apresentarão tantos excessos e monstruosidades que, mesmo que pudesse ajudar com tais desculpas a seu Mestre, ele ficaria com medo de fazê-lo. Com respeito às linhas irregulares, não temos dúvida alguma de que não somente esta aparência como qualquer outra aparência pode ser salva. Porém, quero avisar a Sarsi que a introdução de tal linha não só não ajudaria em nada a causa de seu Mestre como o prejudicaria mais gravemente, e não por não tê-la nunca citado, pelo contrário, aceitou a teoria da linha circular regularíssima, sobre todas as outras, para assim dizer, mas porque citá-la seria um engano ainda maior. Isto o próprio Sarsi poderia entender todas as vezes que ele considerasse o que uma teoria de linha irregular traz consigo. São chamadas linhas regulares aquelas que, tendo uma única linha de movimento e sendo ela sempre constante e determinante, podem ser definidas e podem-se demonstrar os seus acidentes e propriedades: assim a espiral é regular e considera-se originada por dois movimentos uniformes, um reto e o outro circular, e elíptica, nascendo de uma secção do cone e do cilindro, etc. As linhas irregulares, porém, são aquelas que, não tendo determinação alguma, são infinitas e casuais e por isto indefiníveis; nem destas, por consequência, pode-se demonstrar propriedade alguma nem pode-se afirmar que se conheça alguma coisa a seu respeito. Assim, dizer "tal acidente acontece por causa de uma linha irregular" é a mesma coisa que dizer "eu não sei por que acontece". A introdução de um tal tipo de linha não é em nada melhor para simpatias, antipatias, propriedades ocultas, influências e outros termos usados por alguns filósofos para máscara da verdadeira resposta que seria "eu não sei", resposta muito mais aceitável que as outras, porque uma sinceridade cândida é muito mais linda que uma mentira enganadora. O Pe. Grassi foi, então, muito mais inteligente, não propondo tais linhas irregulares como suficientes para satisfazer à pergunta, do que seu discípulo, ao citá-las.

É bem verdade, se tenho que expressar livremente a minha opinião, acredito que o próprio Sarsi tenha compreendido muito bem a ineficácia de suas respostas e que pouco fundamento houve a respeito, pois me parece provável devido à brevidade de sua exposição com referência a esta teoria, mesmo que este fosse o ponto importantíssimo na matéria que estamos tratando e fossem gravíssimas as objeções promovidas pelo Sr. Mário. E ele me é um bom testemunho daquilo que estou afirmando, pois na parte 16, falando de um determinado argumento usado por seu Mestre, escreve: Por outro lado, de quanta importância era para nós este argumento, penso que podia ser compreendido bem facilmente pelo fato de haver sido exposto por meio de poucas e áridas palavras, enquanto que os dois outros argumentos de preferência haviam sido explicados muito mais cuidadosa e amplamente.

E com quanta superficialidade e brevidade ele tenha tocado neste assunto, pode ver-se, não por outras coisas, mas por não ter reproduzido as figuras dos excêntricos e das elipses introduzidas para salvar o todo. Mais abaixo encontraremos depois uma quantidade de desenhos inseridos em um longo discurso como prova de um experimento que, afinal das contas, não é de vantagem nenhuma para a demonstração principal que se acha naquela passagem.

E, sem querer ir longe demais, aproxime-se V. E. Ilustríssima de um mar de distinções, silogismos e outros termos lógicos, e poderá verificar que Sarsi considerara importantíssimas determinadas coisas que eu considero, podendo falar livremente, ainda menos importantes que discursos vazios.


12. Mas Já que Galileu acusa meu mestre de ignorância em matéria de lógica, permita-me que nós também mostremos com quanta exatidão ele próprio haja respeitado as leis desta lógica, e, não precisando de muitas palavras, nos limitaremos a um ou outro exemplo. Havíamos afirmado que as estrelas, observadas através da luneta, ofereciam à vista um aumento mínimo. Mas, como as estrelas, afirma ele, cujo grande número foge aos olhos mais perspicazes, podem ser enxergadas através da luneta, deve-se dizer que elas não receberam da luneta um aumento insensível, mas antes infinito.

Nada, pois, nem alguma coisa está separado com efeitos por um intervalo infinito. Pelo fato, então, de que ver alguma coisa que antes não se via, Galileu deduz um aumento infinito do objeto, um aumento, afirmo eu, ao menos aparente, de quantidade. Mas eu acredito que não seja possível deduzir nem aumento infinito nem aumento algum. Primeiramente, embora seja verdade que entre o ser visto e o não ser visto existe uma distância infinita, ao menos de um lado, contudo entre as duas coisas existe aquela proporção que existe entre o nada e alguma coisa, isto é, nenhuma proporção.

Entretanto, quando aquilo que não existia antes começa a existir, não podemos dizer que cresce ou aumenta, pois cada aumento pressupõe sempre algo, tanto é que não afirmamos que o mundo, quando foi originariamente criado por Deus, aumentou infinitamente, visto antes nada existir. Com efeito, crescer significa tornar maior aquilo que antes era menor.

Por isto, do fato de que alguma coisa que antes não podia ser vista depois porém é vista, não se pode deduzir, nem sequer visível pela razão, um aumento infinito. Mas no momento não quero continuar sobre isto; chame-se mesmo de aumento à passagem do não ser ao ser: prefiro ir para a frente. O próprio Galileu, quando deduziu, por ter visto através da luneta as estrelas não percebidas antes, que as estrelas haviam recebido pela luneta um aumento infinito, deveria ter-se lembrado de ter afirmado alhures que a mesma luneta aumenta tudo na mesma proporção. Então, se aumenta numa determinada proporção, por exemplo cêntupla, as estrelas que percebemos a olho nu, aumentará na mesma proporção também aquelas estrelas bem pequenas que fogem à vista, quando ele as torna evidentes, e por isto o aumento delas não será infinito, pois isto não admite proporção alguma.

Em segundo lugar, quando entre visível e invisível coloca-se um aumento infinito na quantidade aparente (este, com efeito, é o significado da palavra aumento por ele usada), é necessário mostrar que entre quantidade percebida ou não percebida existe uma diferença infinita quantitativamente; por outro lado, este aumento infinito não será nunca deduzível.

Com efeito, se alguém raciocinasse assim: "Quando alguma coisa passa do invisível para o visível, então aumenta infinitamente; as estrelas passam de invisíveis a visíveis; logo, aumentam infinitamente", dever-se-á distinguir a premissa maior: que aumentem infinitamente em relação à visibilidade é aceitável: que aumentem em relação à quantidade deve ser negado. Assim, também, o que deriva disto resolve-se com a mesma distinção: aumentam em relação à visibilidade mas não à quantidade. Disto resulta que o termo aumento não é usado da mesma forma na tese maior e em sua derivação. Na primeira significa aumento de visibilidade e na segunda aumento de quantidade. Quanto tudo isto esteja de acordo com as leis da lógica, reflita Galileu.

Em terceiro lugar, afirmo que aumento algum pode ser deduzido daqui. Com efeito, é lei da lógica que todas as vezes que um efeito pode possuir numerosas causas, é difícil do mesmo efeito deduzir uma só daquelas causas. Por exemplo, como o calor pode obter-se do calor, do movimento, do Sol e de outras causas, dificilmente alguém poderia dizer: "Existe calor, logo deriva do fogo". Quando, portanto, do fato de que se torna visível algo que antes era invisível pode proceder de mais causas, não se pode deduzir daquela visibilidade uma única causa. E que este efeito pode ser referido a numerosas causas, acredito que é bem claro. Com efeito, permanecendo o mesmo objeto imutável, se aumentado o poder da visibilidade em si mesma ou tirado qualquer impedimento que existir ou por meio de algum instrumento, como as lunetas, torna-se mais forte o poder ou o poder permanece imutável, o objeto mesmo torna-se mais claramente iluminado ou aproxima-se mais perto da vista ou, enfim, seu volume aumenta; um destes elementos será suficiente para produzir o mesmo efeito. Então, quando, pelo fato de perceberem-se as estrelas que antes permaneciam ocultas, deduz-se que elas receberam um aumento infinito, esta teoria não está bem de acordo com a regra dos lógicos, pois foram deixadas de lado outras causas das quais podia se originar o mesmo efeito. Com certeza não há motivo por que Galileu atribua este aumento à luneta; com efeito, se ele abrir os olhos de uma vez por todas, afirmará com igual verdade que todas as coisas aumentam infinitamente porque antes não se viam e agora são vistas. Depois, afirma dever-se falar só sobre os efeitos que se podem obter por meio da luneta, pois no texto tratava-se só da luneta, e por isto pude deixar de lado as outras causas; respondo-lhe que nem isto é suficiente para um argumento verdadeiro. A mesma luneta, com efeito, não mostra de um único modo os objetos que sem ela não são vistos, primeiro, possibilitando a visão dos objetos sob um ângulo maior, dando assim a possibilidade de vê-los maiores; segundo, reunindo raios e imagens assim que ajam sobre a visão mais eficazmente: uma destas coisas é suficiente para fazer ver aquilo que antes não víamos. Por isso não foi possível deste efeito deduzir uma só daquelas causas.

Quarto, não está de acordo nem com as leis dos lógicos que as estrelas, se não são aumentadas pela luneta, por uma qualidade específica do instrumento, que se iluminem. A partir destes argumentos, parece que Galileu reparte adequadamente em duas partes os efeitos da luneta, como se afirmasse: "O telescópio ou aumenta as estrelas ou as ilumina; não as aumenta, logo as ilumina". Todavia, é outra lei dos lógicos aquela que diz que nas divisões em partes devem ser incluídas todas as partes a serem divididas. Mas nesta divisão de Galileu não estão incluídos todos os efeitos da luneta, nem os efeitos apresentados são próprios da luneta. Com efeito, a iluminação, como acredita o mesmo Galileu, não pode ser efeito originado pela luneta, e ele deixou de lado também a junção dos raios ou imagens, que é característica particular da luneta; sua divisão era então errada. Não acrescento mais nada: mas, deixando de lado as outras coisas no momento, eu quis assinalar estas poucas que casualmente encontrei em algumas partes do texto, para fazê-lo compreender que sua dissertação possui os mesmos erros que ele reprova nos outros. Mas (faço questão agora de relatar uma coisa que Galileu ainda não ouviu), e se eu conseguir demonstrar que se deve atribuir à luneta uma prerrogativa que Galileu mesmo não ousa atribuir-lhe? A luneta, afirma, ou aumenta os objetos ou, com uma força oculta e incrível, os ilumina. Ê exatamente assim: a luneta ilumina mais todas as coisas luminosas. Se conseguir demonstrar isto, tenho esperança de conseguir as boas graças de Galileu; atribuindo à sua luneta (de cujo poder de aumento ele se gloria) também esta incrível particularidade. Pois bem, os objetos são aumentados pela luneta porque chegam aos olhos por meio de um ângulo maior do que aquele que possuem quando são observados a olho nu. Todas as coisas que são observadas sob um ângulo maior são vistas, segundo o parecer dos ópticos, como maiores. A luneta, porém, enquanto dirige e reúne quase num único ponto as imagens luminosas e os raios dispersos, toma muito mais luminoso o cone visivo ou a pirâmide luminosa através da qual veem-se os objetos, e por isto mostra os objetos através de uma pirâmide mais luminosa. Então, da mesma forma, pode-se afirmar que a luneta ilumina as estrelas assim como podemos afirmar que as aumenta. Como, pois, um ângulo maior ou menor, sob o qual vê-se uma coisa, mostra a coisa maior ou menor, assim a pirâmide mais ou menos luminosa, através da qual enxerga-se o corpo luminoso, mostrará igualmente o objeto com uma maior ou menor luminosidade. As experiências e a própria razão demonstram com suficiente clareza como a pirâmide óptica torna-se mais luminosa com o juntar-se dos raios. A razão ensina que a fonte luminosa, quanto mais é contida em menor espaço, mais ilumina o lugar onde se encontra situada. Por outro lado, os raios reunidos em um único lugar encerram a mesma luz num espaço menor e por isto o iluminam também mais. Esta mesma coisa poderá esclarecer a experiência se ficarmos expondo ao Sol uma lente de vidro: perceberemos, então, que os raios reunidos em um único lugar não somente queimam a madeira e derretem o chumbo mas podem cegar a vista, por causa da luz muito brilhante. Por tudo isto afirmo ser tão verdade que as estrelas tornam-se iluminadas pela luneta como tomam-se aumentadas por ela. Esta nossa luneta torna-se, assim, um instrumento extremamente afortunado, pois as estrelas e o Sol, claríssimas luzes, podem agora, por meu próprio merecimento, ser iluminadas ainda mais claramente.

Aqui, como V. E. Ilustríssima pode perceber, em vez do equívoco no qual o Pe. Grassi havia incorrido, como adverte o Sr. Guiducci, seguindo o rumo de Tycho e dos outros, Sarsi quer mostrar que eu, outro tanto ou ainda mais, havia errado no raciocínio lógico. Para demonstrar que o aumento do telescópio é o mesmo para as estrelas fixas que para outros objetos, e que este aumento não imperceptível ou nulo, como havia afirmado o padre, argumentou-se desta forma: muitas estrelas completamente invisíveis a olho nu tornam-se visíveis com o telescópio; então, este argumento deveria chamar-se infinito em vez de nulo. Contra isto insurge-se Sarsi, que com demoradas discussões esforça-se para me tachar de péssimo lógico por ter eu chamado este aumento de infinito. Contra tudo isto, já que estou farto de sobra com todas as discussões das quais eu mesmo me deleitava quando ainda jovem e estudante, responderei breve e simplesmente que Sarsi parece mostrar a todo mundo aquilo que ele diz de mim, isto é, pouco conhecedor de lógica, enquanto ele considera absoluto o que é relativo.

Nunca se afirmou que o aumento das estrelas fixas fosse infinito. Mas, tendo escrito o Padre ser aquele considerado nulo e havendo o Sr. Mário avisado sobre o engano, pois uma quantidade enorme de estrelas tornam-se visíveis depois de terem sido invisíveis, acrescentou que este aumento haveria de ser chamado antes infinito que nulo. Quem é tão simplório assim de não entender que um lucro de mil sobre cem de capital possa ser chamado grande e não nulo, e que o mesmo lucro sobre dez de capital possa ser chamado enorme e não nulo, e não entenda que o lucro de mil sobre nada de capital possa ser chamado mais infinito que nulo? Mas quando o Sr. Mário falou de aumento absoluto, Sarsi sabe muito bem, porque o escreveu ele mesmo em muitos lugares, que quis fazer referência a todos os outros objetos observados com o mesmo instrumento. Assim, pois, quando aqui Sarsi quer acusar o Sr. Mário de pouca memória por não haver lembrado a afirmação feita anteriormente, isto é, que o mesmo instrumento aumentava todos os objetos na mesma proporção, esta acusação é vã. Pelo contrário, mesmo que sem outra referência o Sr. Mário o tivesse chamado de infinito, eu não haveria acreditado na existência de alguém tão cuidadoso que lhe desse importância, sendo um modo de falar de todos os dias o uso do termo infinito em vez do termo grandíssimo. Campo vasto terá Sarsi em mostrar-se mais lógico que todos os outros escritores do mundo nos textos dos quais eu asseguro que ele encontrará a palavra infinito usada nove vezes em dez em vez de grande ou grandíssimo. Ainda mais, Sr. Sarsi, se o sábio levantar-se contra o senhor e disser: "É infinito o número dos estúpidos", qual será a atitude do senhor? Ficaria com esta teoria e sustentaria que esta proposição é falsa, provando, até com a autoridade das próprias Escrituras, que o mundo não é eterno e que, tendo sido criado no tempo, não podem existir nem ter existido homens infinitos? E não obstante não poder acontecer que esta teoria seja alguma vez possível, mesmo que todos os homens presentes, passados e até, direi, futuros fossem tão estúpidos de afirmar uma coisa parecida, impossível, aos seres humanos, mesmo que a duração do mundo fosse eterna, que eles fossem infinitos?

Voltando ao assunto, o que poderemos afirmar da outra mentira, com tanta inteligência descoberta por Sarsi, em relação ao fato de nós chamarmos aumento aquilo que se verifica num objeto que de invisível torna-se visível por meio de telescópio? Isto, afirma ele, não pode ser chamado aumento porque o aumento pressupõe antes alguma quantidade, e aumentar não é outra coisa que tornar maior o que era menor. Em relação a este argumento eu não saberia mais o que dizer que sirva de desculpa ao Sr. Mário, senão que ele demonstrou ser um pouco superficial. Acreditando ele que a faculdade do telescópio por meio do qual ele nos apresenta aqueles objetos, os quais eram invisíveis sem ele, fosse a mesma faculdade daquela com a qual nos mostra muito maiores aqueles objetos vistos anteriormente, e sabendo que esta faculdade era chamada em linguagem comum aumento da espécie ou do objeto visível, deixou-se induzir a chamar aquela faculdade com o mesmo nome. Esta faculdade, como agora nos ensina Sarsi, deveria ter o nome, não de aumento, mas de trânsito do não ser para o ser. Da mesma forma que, por exemplo, quando um óculo nos permite ler mesmo de uma grande distância aquelas letras que não poderíamos enxergar sem ele senão as maiúsculas, para falar logicamente diríamos que os óculos aumentam as maiúsculas mas que em relação às minúsculas as faz transitar do não ser para o ser. Contudo, se não é possível usar sem erro a palavra aumento onde não se suponha antes alguma coisa em ato que possa receber este aumento, será que a palavra trânsito ou passagem será ainda mais usada arbitrariamente por Sarsi, não existindo algum dos dois termos, isto é, nem o termo de onde se saia nem o outro aonde se chegue?

Mas quem sabe se o Sr. Mário não fosse e não seja da opinião de que dos objetos, mesmo que muito distantes, cheguem até nós as espécies sob ângulos tão agudos que permaneçam imperceptíveis ao nosso sentido, como se não existissem, mesmo que elas sejam de fato alguma coisa (porque, se devo manifestar meu parecer, considero que, mesmo que elas fossem nada, não seriam suficientes todos os óculos do mundo para torná-las alguma coisa); mesmo que as espécies das estrelas invisíveis sejam, não menos que aquelas das visíveis, difundidas pelo universo e que consequentemente seja possível também a respeito delas, desculpando-nos Sarsi e com plena lógica, afirmar o aumento? Mas por que ponho eu em dúvida algo do qual tenho necessariamente prova sensível? Aquela luminosidade nublada das estrelas não está realmente nas estrelas, mas no nosso olho, visto que da estrela nos chega a espécie nua e definida. Sabemos com certeza que uma nebulosa não é outra coisa que um conjunto de estrelas pequenas a nós invisíveis; com tudo isto, não nos é invisível aquele campo que é ocupado por elas, mas se nos apresenta como uma mancha alva, originada pela junção dos brilhos que circunda cada uma das pequenas estrelas. Sendo que estas irradiações luminosas não estão senão em nosso olho, torna-se necessário que cada espécie destas pequenas estrelas exista real e distintamente no olho. Daqui podemos deduzir outra teoria, isto é, as nebulosas e a Via Láctea não existem no céu, mas são uma simples particularidade do nosso olho. Assim, pois, para aqueles que possuem uma vista tão aguda que possam distinguir aquelas diminutas estrelas, as nebulosas e a Via Láctea não se encontrariam no céu.

Estas conclusões, até agora nunca afirmadas por outros, acredito que não deveriam ser admitidas por Sarsi, e acredito que ele gostaria muito que o Sr. Mário tivesse errado ao chamar aumento aquilo que para Sarsi deveria ser chamado trânsito do ser para o não ser. Mas, seja o que for, eu tenho a permissão do Sr. Mário (para não criar novas brigas) de conceder a Sarsi a vitória completa desta discussão e de tudo aquilo que deriva de posições semelhantes onde Sarsi se contentar que a descoberta das estrelas fixas invisíveis possa ser chamada aumento infinito em relação ao visível mas não em relação à intensidade. Tudo isto lhe seja concedido com a condição de que nos conceda que as estrelas invisíveis e visíveis, mesmo crescendo da forma que a Sársi agrada mais, cresçam porém de uma maneira que tornem totalmente falsas as afirmações de seu Mestre, que escreveu que elas não aumentavam de forma alguma. Sobre tudo isto fundamentava-se a terceira das razões com as quais ele tinha começado a demonstrar a primeira proposição de seu tratado, isto é, o lugar do cometa.

Mas, o que deveríamos nós responder ao outro erro, também de lógica, que Sarsi nos atribui?

Apresentamos este erro e depois assumiremos as opiniões que nos parecerem mais oportunas. Sarsi, não satisfeito de haver demonstrado como o conhecimento, já inúmeras vezes mencionado, das estrelas fixas invisíveis não deve ser chamado aumento infinito, passa a provar que a afirmação de que este aumento proceda do telescópio é um grave erro de lógica, cujas leis querem que, quando um efeito pode originar-se de causas múltiplas, é muito difícil originar-se um efeito de uma única causa. Poder ver agora aquilo que antes não se podia ver é um dos efeitos que podem depender de numerosas causas, além daquela do telescópio, como demonstra claramente Sarsi, citando-as umas depois das outras; e todas estas causas haviam de ser removidas, mostrando como elas não eram separadas do ato que nos permitia ver por meio do telescópio as estrelas invisíveis. Assim o Sr. Mário, para fugir da acusação de Sarsi, em primeiro lugar devia demonstrar que o encostar o telescópio no olho não era um aumentar em si e por si o poder visivo (que é também uma causa por meio da qual, sem outro auxílio, pode-se ver aquilo que antes não era possível); em segundo lugar, devia demonstrar que a mesma aplicação não era tirar as nuvens, as árvores, os telhados ou os outros empecilhos intermediários; em terceiro lugar, devia demonstrar que não era possível servir-se de um par de óculos comuns (estou, como V. E. Ilustríssima pode ver, relatando todas as causas colocadas pelo próprio Sarsi, sem mudar nada); em quarto lugar, devia demonstrar que tal procedimento não é iluminar o objeto mais claramente; em quinto lugar, devia mostrar que este procedimento não traz as estrelas à Terra ou nos leva ao céu, assim que o intervalo diminua; em sexto lugar, devia demonstrar que o efeito não consiste em fazê-las inchar, de modo que, aumentadas, tornem-se visíveis; em sétimo lugar, devia mostrar que este não é um abrir os olhos fechados: ações todas, cada uma das quais (e especialmente a última) é suficiente para nos mostrar aquilo que antes nós não víamos. Sr. Sarsi, eu não sei o que lhe dizer, senão que discute brilhantemente.

Somente sinto que todas estas acusações recaiam todas sobre vosso Mestre, sem tocar de forma alguma no Sr. Mário ou em mim. Eu vos pergunto se algumas destas causas por vós relatadas como aptas a fazer-nos ver aquilo que sem elas não se poderia ver, como, por exemplo, aproximá-lo, interpor vapores ou cristais, etc., pergunto-vos se alguma destas causas pode produzir o efeito de aumentar os objetos visíveis, assim como faz o telescópio. Creio que responderíeis que sim. Então acrescentaria eu que este comportamento seria uma manifesta acusação de ilogicidade para com o vosso Mestre que, falando em geral para todo o mundo, reconheceu o aumento da Lua e de todos os outros objetos como obra característica do telescópio, sem excluir alguma das outras causas, como, segundo vossa opinião, teria obrigação de fazer. Obrigação esta, porém, que não toca ao Sr. Mário, uma vez que, falando exclusivamente com o vosso Mestre e não mais a todo o mundo, e querendo mostrar falso aquilo que ele havia afirmado sobre o efeito deste instrumento, considerou-o (nem podia proceder diferentemente) da mesma forma que seu opositor. A vossa acusação de lógico inexperiente recai tanto mais gravemente sobre vosso Mestre porque ele, em outra ocasião muito importante, transgrediu esta lei, isto é, deduzir a circulação da aparência do movimento reto através da máxima circunferência, podendo ser causa do mesmo efeito o movimento realmente reto e qualquer outro movimento realizado no mesmo plano do olho, de cujas três causas podiam duvidar com muita razão também os homens extremamente sensatos.

Até o vosso próprio Mestre, segundo vossas palavras, aceitou o movimento oval ou mesmo irregular.

Porém, duvidar se alguma das vossas sete causas acima mencionadas pudesse verificar-se na aparição de estrelas invisíveis, enquanto que com o telescópio são observadas, se me for permitido falar livremente, não acredito que pudesse ser cogitado, a não ser por pessoas extremamente simples.

Neste grupo, porém, Ilustríssimo Senhor, não entendo por que colocar Sarsi; pois, mesmo que ele tenha se deixado levar por esta teoria, todavia, percebe-se bem claro que não falou sinceramente, porquanto no fim quase que ele aceita em conceder que, sendo causa relativa ao telescópio, pudessem ser deixadas de lado todas as outras causas. No entanto, concedendo isto abertamente, destruiu a acusação anterior e o conceito que pudesse talvez ter influenciado algum de seus leitores de eu ser um péssimo lógico; para evitar tudo isto, acrescenta que tal coisa é suficiente para uma exata argumentação.

E a razão de o telescópio não apresentar aquilo que se via sob um único aspecto mas em dois é: o primeiro consiste em levar o objeto aos olhos sob um ângulo maior para permitir que apareça maior; o outro consiste em unir os raios e as espécies onde operem com mais eficácia. Como um só dos dois é suficiente para tornar manifesto aquilo que antes não se percebia, não se deve deduzir deste efeito uma única causa. Estas são as suas exatas palavras das quais não saberia penetrar no seu sentido íntimo, pois ele generaliza demais quando deveria especificar mais, podendo sua declaração ser entendida de muitos modos, dos quais aquele que é por acaso o primeiro a ocorrer na mente contém uma contradição manifesta. Com efeito, apresentar os objetos sob ângulo maior, para aparecerem maiores, resulta ser um efeito contrário ao estreitar-se dos raios e espécies, porque, sendo os raios aqueles que conduzem as espécies, não aparece claro de que forma, em conduzi-las, se estreitem e ao mesmo tempo realizem um ângulo maior. E se Sarsi imaginava outro modo por meio do qual os raios pudessem, juntando-se, formar um ângulo maior (coisa que eu não nego que possa por acaso ser verdade), devia declará-lo e distingui-lo do outro, para não deixar o leitor em dúvidas e equívocos. Mas, aceitando por enquanto que o telescópio tenha estas duas formas de operar, eu gostaria de saber se ele trabalha sempre com ambas simultaneamente ou uma vez com uma e outra vez com outra separadamente; assim, quando ele se serve do aumento do ângulo deixa de lado a conjunção dos raios, e quando estreita os raios deixa o ângulo em sua quantidade anterior. Se ele opera simultaneamente com ambos os meios, é grande ingenuidade de Sarsi, que acusa o Sr. Mário por não ter aceito e citado um e excluído o outro. Porém, se ele opera com um só, também errou Sarsi em não o mencionar, excluindo o outro, e mostrar que quando nós olhamos para a Lua, por exemplo, que aumenta enormemente, ele opera com o aumento do ângulo, mas quando se olha para as estrelas o ângulo não aumenta mas somente juntam-se os raios.

Eu, naquilo que posso testemunhar de verdade, por ter infinitas vezes, ou melhor, muitíssimas vezes olhado com este instrumento, não pude perceber diversidade alguma em seu modo de operar, pois acredito que ele opere sempre da mesma maneira, e assim eu penso que Sarsi acredite o mesmo. Para que isto se verifique, toma-se necessário que as duas operações, o aumento do ângulo e o juntar-se dos raios, verifiquem-se juntas. Isto coloca completamente fora de questão a oposição de Sarsi.

Porque é bem verdade que, quando um efeito que pode depender de mais causas separadamente, outros fazem derivar uma particular, cometendo um erro; mas, quando as causas são entre elas inseparáveis, assim que necessariamente verifiquem-se sempre todas, pode-se arbitrariamente deduzir aquilo que se quer, porque todas as vezes que o efeito está presente a causa também está presente. Assim, para dar um exemplo, quem afirmasse "Fulano acendeu o fogo, logo, serviu-se do espelho ustório" erraria, podendo o acender do fogo ser efeito do bater de um ferro, da espingarda e da isca, da fricção de dois paus e de outras causas. Mas quem afirmasse "eu escutei o vizinho acender o fogo batendo" e acrescentasse "então ele possui uma pedra", sem razão seria ele repreendido por quem opusesse o argumento que, participando de tal operação, além da pedra, a espingarda, a isca e o fósforo, não era possível logicamente deduzir definitivamente a pedra. E assim, se o aumento do ângulo e a união dos raios participam sempre da operação do telescópio, de cujas operações uma é fazer ver o invisível, por que deste efeito não se pode inferir qual das duas causas mais agrada? Acredito penetrar em parte no pensamento de Sarsi que, se não estou enganado, gostaria que o leitor acreditasse naquilo que ele mesmo não acredita em absoluto, isto é, que o poder ver as estrelas que antes eram invisíveis derivasse não do aumento do ângulo mas da união dos raios; pois se fizeram visíveis não porque sua espécie se tornasse maior, mas porque os raios se tornaram mais fortes. Não quis, porém, revelar abertamente porque são demais contra ele as outras razões do Sr. Mário silenciadas por ele, e em particular aquela que faz perceber os espaços entre uma estrela e outra na mesma percepção que os objetos aqui embaixo, cujos espaços não deveriam aumentar nada se as estrelas também não aumentassem, sendo esses espaços tão distantes de nós como as estrelas. Mas, para acabar com o assunto, tenho certeza de que quando Sarsi resolver se manifestar sobre como entende estas duas operações do telescópio, isto é, da conjunção dos raios e do aumento do ângulo, haverá de declarar não somente que eles ocorrem sempre juntos mas que nunca acontece de poder juntar os raios sem aumentar o ângulo e que eles todos são a mesma coisa. Se ele tivesse outra teoria, teria que mostrar que o telescópio, algumas vezes, junta os raios sem aumentar o ângulo e que isto se verifica justamente na contemplação das estrelas fixas. Isto ele nunca poderá mostrar, porque é uma vã quimera, ou, para falar mais francamente ainda, uma falsidade.

Eu não acreditava, meu Ilustríssimo Senhor, ter que gastar tantas palavras com estas superficialidades, mas, já que foi feito o maior, vamos fazer o menor. E quanto à outra acusação, de transgredir as leis da lógica, na divisão dos efeitos do telescópio, o Sr. Mário colocou lá um que não existe e passou por cima do outro que devia ser colocado, quando disse: o telescópio torna visíveis as estrelas, quer aumentando as suas espécies, quer iluminando-as, em vez de dizer: aumentando ou juntando as espécies e os raios, como queria Sarsi que fosse dito. Respondo que o Sr. Mário nunca teve a intenção de operar uma divisão a respeito daquilo que é uma coisa só, isto é, a operação do telescópio em representar-nos os objetos, como eu e ele acreditamos. E quando o Sr. Mário afirmou: "Se o telescópio não nos torna visíveis as estrelas aumentando-as, é necessário que as ilumine de alguma forma", não introduziu a iluminação como efeito aceito, mas o contrapôs ao outro, para que sobressaísse mais sua verdade; e esta é uma forma de se falar muito usada, como quando se diz: "Se os inimigos não subiram a montanha, é necessário que eles tenham caído do céu". Se Sarsi acredita mesmo poder com louvor se opor a esta forma de falar, abre-se outra porta para ele, além daquela acima mencionada relativa ao infinito, de triunfar em duelo de lógica sobre todos os escritores do mundo. Cuide, porém, que em querer aparecer como grande lógico não apareça como um grande sofista. Parece-me ver V. E. Ilustríssima quase sorrir, pensando: Mas que quer este aqui? Sarsi tinha resolvido escrever opondo-se ao texto do Sr. Mário, e para isto teve necessariamente que se agarrar a qualquer argumento. Eu, por mim, não somente o desculpo mas o louvo, e parece-me que ele tenha feito o impossível. Mas, voltando ao assunto, já está claro que o Sr. Mário não colocou a iluminação como efeito originado do telescópio. E que mais? O próprio Sarsi admitiu tê-lo colocado como efeito impossível. Então ele não dividiu seu pensamento daquele do Sr. Mário, porque não existe divisão. Depois, no que diz respeito à união das espécies e dos raios, lembrada por Sarsi como parte não considerada pelo Sr. Mário, seria ótimo que Sarsi especificasse de que forma esta segunda operação é diferente da primeira, porque nós até agora a entendemos como igual. E quando tivermos certeza de que as duas são diversas, então compreenderemos ter errado; mas o erro não será de lógica no dividir mal, mas de perspectiva por não ter percebido bem todas as funções do instrumento.

Quanto à conclusão, onde Sarsi afirma não querer por ora relatar erros além daqueles poucos encontrados por acaso numa parte só, deixando de lado os outros, eu, antes de tudo, agradeço a Sarsi pela piedosa afeição para conosco; depois alegro-me com o Sr. Mário, o qual pode ter certeza de não ter cometido no texto todo mínima falha de raciocínio lógico. Pois, mesmo que Sarsi afirme que existem ali muitos outros, todavia creio ao menos que estes, relatados e descobertos por ele, tenham sido considerados os maiores; deixo agora para ele julgar a qualidade e as consequências produzidas pelos outros.

Vou considerar finalmente a última parte, onde Sarsi, para me fazer um grande favor, quer enobrecer o telescópio como uma admirável condição e faculdade de iluminar os objetos que podemos observar por meio dele, como também de nos aumentar estes mesmos objetos. Mas, antes de proceder, quero agradecer-lhe pelo seu afeto, porque duvido que sua objeção tenha muito resultado depois de ter investigado a força de sua demonstração, demonstração que me parece ser esta, apesar de o autor, ao explicá-la, ir, não sei por que, emaranhando-a e replicando sempre as mesmas opiniões.

O telescópio representa os objetos em forma maior porque os apresenta sob um ângulo maior do que quando são observados sem aquele instrumento. O mesmo telescópio, quase restringindo a um ponto as espécies dos corpos luminosos e os raios esparsos, toma o cone visivo, isto é, a pirâmide luminosa, por meio da qual podem ser observados os objetos enormemente mais brilhantes; por isto, os objetos igualmente brilhantes se nos apresentam aumentados e iluminados com uma luz maior.

Depois, o fato de que a pirâmide óptica se torne mais brilhante pelo restringir-se dos raios, é provado pela razão e pela experiência. Com efeito, a razão nos ensina que a luz recolhida num espaço menor deve necessariamente iluminá-lo mais; e a experiência nos demonstra que colocada uma lente cristalina ao Sol, no ponto onde os raios se encontram, não somente a lenha se queima mas o chumbo derrete e a vista perde a visão; pelo que se conclui novamente poder-se afirmar com igual verdade que o telescópio ilumina as estrelas e as aumenta.

Em recompensa da delicadeza e da bondade que teve Sarsi em exaltar e enobrecer muito este admirável instrumento, eu não posso fazer outra coisa que consentir, por enquanto, com todas as proposições e experiências acima mencionadas. Porém, muito me entristece ver que serem elas verdadeiras lhes é mais prejudicial que serem falsas. A principal conclusão que devia ser demonstrada por meio delas é de todo falsa e nem acredito que possa existir possibilidade de sustentar que não peque em lógica aquele que de proposições verdadeiras deduz uma conclusão falsa. É verdade que o telescópio aumenta os objetos colocando-os sob um ângulo maior; verdadeira é a prova que nos dão os pesquisadores de perspectiva; nem é menos verdadeiro que os raios da pirâmide luminosa quanto mais estão juntos mais a tornam brilhante, assim como os objetos observados por meio dela; é verdadeira a razão apresentada por Sarsi, isto é, que a mesma intensidade de luz num espaço menor ilumina mais; finalmente, é verdadeira a experiência da lente que, juntando-se os raios solares, queima e cega. É, porém, falso que os objetos luminosos se nos apresentem mais brilhantes com o telescópio que sem ele, pelo contrário, vemo-los mais escuros. Se Sarsi, ao observar por exemplo a Lua com o telescópio, tivesse aberto o outro olho e com este livre tivesse olhado a mesma Lua, teria podido comparar sem esforço o brilho da Lua maior, vista pelo instrumento, com a menor, vista a olho nu. E observando este fenômeno teria com certeza escrito que a luz vista a olho nu era muito maior que a outra.

Extremamente clara é, então, a falsidade da conclusão: falta agora mostrá-la falsa mesmo de premissas verdadeiras. Parece-me que aqui aconteceu a Sarsi aquilo que aconteceria a um comerciante, o qual, ao verificar em seus livros sua situação, ficasse lendo só o lado do haver e ficasse assim persuadido de ser bem rico, conclusão que é exata se não existisse a outra parte, isto é, aquela do dever.

É verdade, Sr. Sarsi, que a lente, isto é, o vidro convexo, junta os raios e por isto multiplica a luz e favorece vossa conclusão. Mas, onde o senhor deixa o vidro côncavo, que no telescópio é a contralente e é a mais importante por ser aquela onde se fixa o olho e através da qual passam os últimos raios e é o último balanço do haver e dever? Se a lente convexa junta os raios, não sabe que o vidro côncavo os amplia e forma o cone inverso? Se tivesse experimentado receber os raios através de ambos os vidros do telescópio, como observou aqueles que resultam da refração de uma única lente, teria percebido que onde eles se juntam num ponto vão ampliando-se sempre mais ao infinito, ou, para dizer melhor, a um espaço enorme. Esta experiência pode facilmente ser comprovada recebendo sobre uma folha de papel a imagem do Sol, como quando se desenham suas manchas, e sobre este papel, conforme ele se afaste sempre mais da extremidade do telescópio, sempre maior circunferência realiza o cone dos raios solares, e quanto maior ele se torna tanto menos luminoso ele se torna em comparação com o restante da folha onde pousam os raios livres do Sol. E como o senhor não tivesse conhecido esta e qualquer outra experiência, me é difícil acreditar que nunca escutou dizer que os vidros côncavos, quanto maior mostram um objeto, o que é verdade, mais escuro o mostram. Como afirma, então, com a mesma intensidade a ação do telescópio de aumentar e de iluminar? Sr. Sarsi, deixe de procurar exaltar este instrumento com estas suas novas faculdades tão admiráveis, se não quer fazê-lo desprezar por aqueles que até agora pouco o estimaram. E sabe que na minha exposição aceitei como verdadeira uma opinião sua que é falsa, isto é, que a luz reforçada mediante a junção dos raios torne o objeto mais brilhante.

Seria verdade isto quando esta luz recaísse sobre o objeto, mas ela se dirige para o olho, coisa esta que produz o efeito contrário; assim, além de ofender a vista, torna o meio mais luminoso e o meio mais luminoso faz aparecer (como acredito que saiba) os objetos mais escuros; esta é a única razão por que as estrelas aparecem mais brilhantes à medida que a noite fica mais escura, e no clarear tornam-se mais foscas. Estas coisas, como V. E. Ilustríssima pode ver, são tão manifestas que não me deixam acreditar poder ser desconhecidas por Sarsi. Creio que ele, em vez de mostrar a agilidade de seu raciocínio, haja preferido mostrar um paradoxo, em vez de pensar que esta fosse mesmo a opinião dele. E sua última conclusão me firma nesta minha opinião, porque, para mostrar (acredito eu) que estava brincando, termina com estas palavras: Afirmo então que se pode acreditar ser verdade que o telescópio ilumina as estrelas da mesma forma que ele as aumenta. V. E. Ilustríssima sabe muito bem que ele e seu Mestre afirmam sempre, e afirmam ainda agora, que ele não as aumenta nada: conclusão que Sarsi se esforça por sustentar ainda, como podemos perceber naquilo que segue.

 

 


                                                  CONTINUA

 

 

 

                                                   

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