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O LORDE DAS MIL NOITES
O LORDE DAS MIL NOITES

                                                                                                                                                  

 

 

 

 

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Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.


CONTINUA

Capítulo 11

Reyna entrou no solar onde Ian, David, e Morvan esperavam por ela. Estava contente por ter uma desculpa para escapar de seu pai e seu irmão.
Doze anos não tinham apagado o medo que sentia de Duncan e as emoções mais negras que Aymer lhe evocava, mas ela não deixou que eles vissem isso. Tinha-nos enfurecido dar-se conta que já não mais lidavam com uma moça submissa e obediente. Ela estava segura que se Christiana e Anna não tivessem estado presentes, Aymer a teria golpeado várias vezes durante a acalorada conversação.
Morvan Fitzwaryn a saudou cortesmente.
—Não nos apresentamos, milady. Quando era um menino, conheci seu finado marido. Ele era respeitado em toda a região como um cavalheiro honorável.
Ela estudou a esse homem. Teria trinta anos, olhos negros brilhantes como os de sua irmã Christiana. Lhe ocorreu que estava rodeada por três tipos diferentes de beleza masculina.
—É algum tipo de vaidade particular. Sir Morvan, que só homens bonitos o sirvam? Como uma marca distintiva de sua companhia, como as cores do estandarte de um Lorde?
Morvan não piscou.
—Sim, milady. E eu insisto para que todos os arqueiros sejam loiros e os soldados de cabelo escuro. A companhia de Ian não segue esse critério, e é por isso que os mandei para cá.
Ela riu e ele sorriu em resposta. Apesar de sua brincadeira, ela sentia um humor obscurecido no quarto. Emanava de Ian, fora de seu campo de visão, apoiado na chaminé.
—Lady Reyna, estou seguro que concordará que seria melhor se o duelo entre seu irmão e Ian fosse impedido—, Morvan disse.
—Concordo. Acabo de passar uma hora tentando convencer a Aymer de seu engano. Mas, meu pai e meu irmão não aceitam conselhos de uma mulher, e menos ainda, os meus.
—Já que é uma viúva, não existe nenhum modo de provar que você não foi abusada. Mas, se Ian enfrentar a seu irmão, o matará. Conheço as habilidades de Ian, e o duelo terminará com a morte de Aymer. Nós gostaríamos de evitar isso. Não é verdade?
—Claro. Mas como disse, eles não me ouvem quando lhes explico.
—Há outra alternativa que os deixará satisfeitos.
—Não acredito que exista.
—Claro que existe. Se um homem seduz ou abusa de uma mulher, sua honra e o de sua família podem ser recuperados se ele se casa com ela.
Ela de repente se sentiu pequena e vulnerável e superada em número.
—Não desejo me casar com Sir Ian. Sinto muito se isso desfizer seus planos—, ela sentiu o interior de Ian tremer detrás dela, em reação a seu anúncio. —Vocês os homens fazem suas guerras e suas brigas, e nós as mulheres nos convertemos em peões de um jogo para a resolução delas. Eu já fui usada uma vez nesse jogo, o que é bastante para uma vida.
—As mulheres não podem controlar seus destinos. Minha própria esposa e minha irmã podem te dizer isso.
—Não necessito de nenhuma mulher que me instrua nas grande verdades da vida, mas recordo que sou viúva. Nós temos mais controle que a maioria das mulheres. Além disso, Sir Ian e eu somos incompatíveis. Certamente ele não dá as boas vindas a nada disto.
—Ele está disposto.
—Considero tão estranho. Dois dias atrás ele estava seguro que eu tramei com um amante para assassinar a meu marido. Justo naquela manhã ele sugeriu que eu me tinha deitado com a metade do exército de Armstrong. Porque ele aceitaria casar-se com uma mulher tão perversa? Certamente não para evitar o duelo com Aymer. Ian é muitas coisas, mas covarde não é uma delas.
Ela estudou o rosto de Morvan quando ele não respondeu.
—Você o subornou—, ela disse, analisando-o em voz alta. —Dinheiro ou terras? Terras, acredito—, as peças do quebra-cabeças foram para seu lugar. —Estas terras.
—É muito inteligente, Lady Reyna—, Morvan assentiu.
—Sim, este casamento é muito conveniente para seus propósitos, mas não vejo como beneficia a mim. Ian não é um material muito promissor como marido, e há algo mais que uma pequena discussão entre nós. Nem sequer ele confia em mim. O casamento com ele me condenará a toda uma vida de inferno.
—Insulta a Ian e está perdendo uma grande oportunidade—, Morvan disse. —Sua origem é melhor que a sua e sua família é da nobreza.
—Bem, ele está muito longe de sua casa, de todo modo. Ele é um mercenário, com muitas ações pouco nobres em sua alma. E seu apetite pelas mulheres é famoso. De fato, penso que comete um engano lhe dando estas terras. Não funcionará matematicamente.
—Matematicamente?
—Considerando sua reputação das mil noites, conforme dizem. Eu calculo que ele necessitará pelo menos três mulheres por semana. Contando esta fortaleza e as granjas vizinhas e contando com que algumas das esposas resistirão a sua sedução, estas terras não o conterão por longo tempo. Sem dúvida com este tipo de homem a repetição causa aborrecimento. Ele estará uivando para fugir daqui antes de um ano.
A boca de Morvan se retorceu. David tossiu ligeiramente.
—Já vê, Sir Morvan, este casamento terminará sendo um desastre—, Ian disse fervendo.
—Mas eu exijo.
—Não pode exigir que eu concorde com isto.
—Não. Então te dou uma opção. Ou se casa com Ian, ou ele matará a seu irmão amanhã, depois do qual seu pai a aceitará em devolução para a levar para sua casa. Não queria isso antes e não acredito que sua situação melhore depois disto. Além da vergonha associada ao que eles pensam que aconteceu aqui, é sabido que é estéril e portanto de pouco valor para futuras alianças de casamento. Estando sob a autoridade de seu pai nem sequer te salvará do julgamento relativo à morte de seu marido, já que seu pai não parece tão interessado em te proteger como eu pensei.
Morvan resumiu a situação brusca e cruelmente, mas não disse nada que ela não soubesse. Entretanto ele tocou um tema que despertava um medo muito maior que a vida austera no lar de Duncan.
—Se me casar com Ian e te ajudo desse modo, assegura-me que não serei julgada pela morte de Robert?
Ela conteve a respiração durante a pausa que seguiu. Quando ele finalmente falou foi com resignação.
—É melhor que esse assunto seja esclarecido.
—Então este casamento não me beneficia em nada. Não pense em me manipular, Lorde Morvan. Desde menina aprendi a sobreviver a isso. Se a alternativa é ir ao de meu pai, farei-o, e sobreviverei novamente. Melhor esta vez, pois Robert de Kelso me ensinou a ser forte.
Voltando-se com calma, e deliberadamente nem olhando para Ian, que estava perto da chaminé, ela se retirou.
—Não é nenhuma idiota—, David disse. Ian amaldiçoou vivamente sua resposta. Pois ter que escutar aquela pequena moça cuspir sobre ele insultos tinha sido intolerável e queria segui-la e... Ian se deu conta que queria segui-la e acariciar seu corpo até que ela estivesse submetida a ele.
—Não posso acreditar que ela está disposta a voltar com Duncan—, Ian disse. —Se esse homem abusou dela diante de nós, quem sabe o que lhe fará quando estiverem a sós.
Que aquele tratamento abusivo de Duncan era preferível a casar-se com ele só adicionava mais um insulto.
—Ela não deseja ir para lá, mas está resistindo para obter condições que a beneficiem—, David disse. —Morvan, terá que garantir sua vida no assunto da morte de seu marido.
—Não posso ignorar semelhante crime como Lorde, da mesma maneira que você não poderia fazê-lo em Senlis.
—Então... algum tipo de compromisso, talvez.
Morvan ponderou a sugestão.
—Se ela fosse culpada, não a executaria. Pode ir para um convento.
—Isso poderia ser suficiente.
Ian de repente viu outras condições que não tinham sido oferecidas mas que poderia fazer mudar a opinião da mulher.
Ele caminhou para a porta, fervendo com determinação.
—Onde está indo?—, Morvan perguntou.
—Capturar uma gata selvagem. Digam ao sacerdote e ao mordomo que haverá um casamento amanhã.
Reyna se agachou em um caminho ao lado de uma série de flores e apontou umas plantas medicinais, explicando seus usos. Em um banco próximo, Christiana escutou com interesse, mas Anna continuava olhando para a fortaleza.
—Eles estão armando algo. Posso pressenti-lo—, Anna murmurou, suas sobrancelhas franzindo-se. —Que solução lhe propuseram?
Reyna encolheu os ombros. A última coisa que queria era escutar aquelas mulheres dando argumentos para apoiar a seus maridos.
—OH, santos céus. Eles querem que se case com aquele canalha, não é verdade?
—Ela têm razão, Reyna? É isso que lhe pediram?— Christiana disse.
—Claro que sim—, Anna estalou. —Típico dos homens. Ian se comporta como um canalha e sua vítima paga o preço. Confio que recusou.
—Sim.
—Bem para você. A simples idéia de estar presa a semelhante homem é horrível.
—Sempre pensei que Ian era muito bom—, Christiana disse.
—Isso é porque o conheceu estando casada, — Anna disse. —É muito generosa com todos.
—Recordo-te que ele salvou a vida de Morvan. Só por isso, acredito que deveria ser mais amável em suas opiniões. David me disse que ele só pediu uma oportunidade para voltar para a Inglaterra e um serviço honrado em retribuição por sua coragem.
—Ian provavelmente calculou que conseguiria mais se não pedisse muito. Ele tem que ir a França e unir-se a uma companhia independente em primeiro lugar. Morvan não o fez, e só possuía a Ian como um jovem cavalheiro.
—Morvan pelo menos teve o sonho de recuperar estas terras, e a amizade de um rei—, Christiana assinalou. —E então ele teve você e suas propriedades. O que podia fazer Ian quando deixou a corte?
—Poderia ter retornado a sua família. Ele não tinha que converter-se em um criminoso.
—Ele não podia voltar, embora não sei por que. E muitos cavalheiros respeitados se unem a esse tipo de companhias. Eu vi uma aldeia saqueada por cavalheiros guiados por um rei. As vítimas de guerra não debatem a honra relativa de ser saqueados por um exército do rei ou ser sitiados por uma companhia independente .
Reyna estava fascinada por aquela discussão entre duas mulheres que conheciam Ian melhor que ela. Se perguntou porque Ian não poderia voltar para sua família.
—Falando do diabo—, Anna disse, olhando fixamente o portal do jardim por onde Ian entrava. —O que quer?—, ela exigiu.
Ian se aproximou com uma faísca perigosa em seus olhos escuros.
—Quero falar com Lady Reyna. É de seu interesse ouvir o que tenho para dizer. Te peço que você e Christiana nos deixem.
—Não acredito...
—Falarei com Sir Ian—, Reyna interrompeu .
Christiana começou a empurrar uma Anna reticente.
—Ele tem uma debilidade debaixo das costelas se precisa golpeá-lo—, Anna gritou antes de sair do jardim.
Ian enfrentou Reyna e houve um súbito silêncio no jardim. Ela podia deduzir que ele estava zangado. E realmente não podia culpá-lo.
—O que quis dizer ela com isso?—, Reyna perguntou.
Ian começou a levá-la em direção à horta das maçãs com mais sombras.
—É uma velha história—. Reyna olhou seu perfil. Sua expressão era enigmática, mas por alguma razão ela não tinha dificuldade em ler isso.
—Não dormiu com a esposa de Morvan? Realmente, Ian, isso seria muito. Ele sabe?
—Ele sabe. E essa era toda a idéia. Ele se foi da Inglaterra por vários anos, e conduziu Anna à corte para encontrar-se com o rei a respeito de umas propriedades de sua família. Ele era só um cavalheiro a seu serviço, mas eu podia adivinhar o que sentia por ela. Eu procurei provocar-lhe ciúme, e então cortejei Anna.
—Cortejar me parece que apenas descreve o que aconteceu, se ela sabe que tem uma debilidade debaixo de suas costelas.
—Havia uma mulher na corte que tinha sido amante de Morvan antes que ele deixasse a Inglaterra. Era nela em quem eu realmente estava interessado, mas com seu retorno parecia que ela voltaria para ele novamente. Então eu cortejei à dama que ele realmente queria, ou seja, Anna.
—Funcionou?
—Sim. Ele nos encontrou pouco depois que ela usou seu punho para me afastar. Morvan quase me matou. Eu cortejara à mulher ele queria, e a que eu queria estava sendo distraída por ele, então achamos a solução óbvia.
—Qual foi?
Ele encolheu os ombros.
—Nós negociamos as damas.
Reyna imaginou a ele e a Morvan anos atrás. Dois homens seguros de seu êxito a respeito a suas habilidades com as mulheres, repartindo as damas ganhas com seus encantos.
Ian se inclinou contra o tronco de uma árvore e dobrou seus braços sobre seu peito. Observou-a de um modo franco que incomodamente lhe recordava daquele dia no rio.
—Não tem nenhuma opção real—, ele disse.
—Certamente que tenho.
—Matarei-o amanhã. Não duvide que essa vitória será minha. O mandaria à morte devido a este equívoco ? E mais tarde, quando Duncan ficar contra Morvan, quantos mais sofrerão? Esta fortaleza ficará no meio desta briga. O povo de Fitzwaryn e o povo de Armstrong, mais seu povo, também. Como acredita que será para os camponeses quando esta região estiver em meio de uma guerra entre três famílias?
—É desprezível. Como se atreve a apelar a meu sentido de dever para seus próprios propósitos?
—Morvan não me subornou com estas terras, Reyna. Elas são minhas com ou sem você. Mas se nosso casamento evitará a matança que te descrevi, devemos nos casar.
—Muito bom para todos menos para mim, canalha. E não me fale como se fosse a lei que me rege.
Ian agarrou seu braço e a fez voltar-se contra a árvore onde ele estava apoiado. Ele apoiou sua mão em cima de sua cabeça no tronco e curvou seu corpo sobre o seu.
—Será a lei para você muito em breve, e a aceitará. Não é a esposa perfeita e eu não sou o marido ideal, mas igualmente se fará o casamento. Que espera ao voltar para a casa de seu pai? A golpes e a maus tratos pode sobreviver, Reyna, mas o que há de resto?
Ela olhou seu rosto. Sua expressão era pensativa, determinada e dura. Não era um homem estúpido. Como o tinha descoberto?
—O que diz?—, ela perguntou.
—Seu medo da escuridão, Reyna. Ultrapassa o normal. O que lhe fizeram, te trancaram na escuridão quando era uma menina? Em um calabouço? Como castigo?
—Uma cripta. Era uma cripta, debaixo da capela.
Enquanto ela dizia isto, podia sentir a umidade do espaço escuro, ouvir o silêncio eterno, sentir as mãos dos mortos agarrando-a.
—Pensa que esse medo foi esquecido por Duncan? Por Aymer?
—Eu era uma criança então, é um medo infantil. Sou adulta agora.
—Pode ser um medo infantil, mas ainda vive em você. Sim, será forte com eles, até a primeira vez que eles lhe traquem lá novamente, e logo se romperá, como quase o fez outra noite na velha fortaleza.
Ela desviou a vista de seu inexorável olhar.
— É cruel. Odeio você.
Ele tomou seu queixo entre as mãos.
—Não, você não me odeia. Tem medo de você mesma comigo, mas isso é uma coisa completamente distinta do ódio.
A lembrança da paixão que eles tinham compartilhado brilhou em seus olhos. Ela se sentiu horrivelmente consciente do calor de sua mão sobre seu rosto e da proximidade de seu corpo. De repente ela se sentiu encurralada, e débil contra o poder dessa atração que ele podia exercer nela.
—Correrei o risco com Duncan e Aymer—, ela conseguiu dizer. Ainda que despedaçada, pelo menos estarei viva, e poderei deixá-los com o tempo.
Ian sorriu. Seu coração se acelerou. Deus querido, que sorriso. Enviou um estremecimento de excitação ao centro de seu corpo.
—Não. Você ficará e nós vamos nos casar, Morvan garantiu sua vida sem importar o resultado do julgamento da morte de seu marido. Um convento será seu destino no pior dos casos, ele disse, mas não chegará a isso. Como seu marido, eu o farei e pedirei julgamento por combate. E não perderei.
Uma pequena esperança cresceu em seu coração.
—Você lutaria por mim? Mudou de idéia novamente e agora me considera inocente?
—Não, Reyna. Não perderei porque sou um guerreiro muito qualificado.
Sua falta de convicção em sua inocência a irritou, especialmente porque ele uma vez havia fingido ser seu aliado. Mas ele pretendia seduzi-la então.
—Que classe de homem é você, Ian de Guilford, que aceitaria se casar com uma assassina? E sem filhos depois de doze anos de matrimônio.
—Sou um homem prático que te oferece um acordo que você não pode recusar. Você não quer este casamento? Bem, em três ou quatro anos, será anulado. Porque estas terras serão inglesas novamente e será o bispo de Carlisle a quem o solicitaremos, e ele não quer que haja brigas nesta região. Ele aceitará sua condição sem filhos todos estes anos como razão para a anulação. Morvan te dará algumas terras, com uma renda decente, e haverá uma casa em Londres para você. Christiana te apresentará na corte. Poderá discutir filosofia a seu gosto com os homens instruídos que há ali. É Melhor que Edimburgh, e mais seguro para você.
Ian realmente lhe estava oferecendo um acordo que seria difícil de recusar. Pois viver nessa grande cidade, ser independente, ser livre para estudar ou fazer algo que ela quisesse… a perspectiva imediatamente a excitou. Imagens e possibilidades se confundiram em sua mente. Ela nunca tinha estado longe daquela região em toda sua vida. E sua oferta de lutar em nome dela como seu campeão em um julgamento lhe dava mais segurança que contar com o amparo de Duncan.
Haviam condições do pacto que podiam ser comprometidas se ela concordasse, mas se o matrimônio seria anulado, isso significava que nunca realmente existiria tal matrimônio.
—Promete que fará isso?—, ela perguntou cautelosamente.
—Sim. Em alguns anos estará livre deste inglês filho da puta, e eu poderei me casar com uma mulher obediente e dócil que pode me dar filhos. Não será um matrimônio real, a não ser uma conveniência temporária.
—Um casamento de conveniência—, ela meditou. —Isso não deveria ser muito dificil. Tive um assim antes.
—Aceita, então?
—Aceito.
Um olhar triunfal iluminou sua expressão dura. Seu coração começou a pulsar mais forte, porque ela suspeitou que ele ia beijá-la.
Pelo contrário, com uma reserva apropriada dadas as circunstâncias, ele se apartou da árvore e estendeu sua mão.
—Então vamos contar aos outros. Seu pai e seu irmão têm que acreditar que você aceitou isto de própria vontade, vão se zangar, pois por alguma razão eles lhe querem de volta. Eu ficarei com você, ou estará com as damas. Não estará a sós com eles novamente.
Reyna vacilou, e logo aceitou sua mão. Se eles iam casar-se no dia seguinte, o gesto era o mas íntimo que eles teriam nesse compromisso.

 

 

 

 


Capítulo 12

O jantar foi festivo e alegre. Alice se excedeu com a abundância e a variedade de comida, e Andrew trouxe um vinho especial de Gascon. O salão estava cheio de sons de conversações alegres. Reyna tentou não sentir-se culpada por todo aquela algazarra criada por um casamento que não era um casamento real e que seria um passatempo por apenas alguns anos.
A presença de Ian a seu lado só fez piorar. De vez em quando o descobria contemplando-a com uma expressão dissimulada, como se ele estivesse pensando que ela era culpada pelos eventos que o colocavam naquela situação.
Ian parecia mas bonito que nunca aquele dia. Ela o tinha visto nas roupas toscas do acampamento e com sua armadura de um guerreiro, mas nunca o tinha visto assim. Ele vestia uma túnica cinza claro com um bordado cinza mais escuro nas mangas. Ian, o aristocrata, ela pensou, imaginando por um momento sua vida passada na França. Não era surpreendente que ele houvesse ganhado os favores de muitas damas de Windsor e Westminster.
Quando a tarde se fazia noite, e o vinho e a cerveja fluíam abundantemente, a razão da festividade começou a fazer com que os casais se mostrassem mais apaixonados. Christiana estava sentada no colo de David, ambos envolvidos num abraço. Morvan alimentava Anna e parecia que estavam sustentando uma conversação muda e erótica. O óbvio amor que suas novas amigas compartilhavam com seus maridos causava uma inquietação em Reyna. Ela tinha uma dolorosa consciência do que se havia perdido em sua própria vida.
Ela olhou para baixo, para o vestido rosa que estava usando. Podia inalar o perfume das flores que adornavam sua cabeça.
E se lembrou de outro dia, fazia muito tempo, e de outro casamento. O vestido não tinha sido tão importante nem o jantar tão alegre. Os homens tinha estado mais interessados na trégua sendo negociada que na jovem noiva que estava sendo negociada. Ela tinha antecipava o casamento com um medo mortal, mas naquele dia o tinha esperado impacientemente, porque ela já tinha conhecido a seu marido paternal e tinha visto a generosidade e a salvação que ele oferecia.
Lembranças e remorsos voltaram com uma renovação do duelo por Robert mais intensos dos que tinha sentido por meses.
Uma mão tocou seu ombro, e Christiana lhe falou baixo ao seu ouvido. —Ninguém nunca sabe como este tipo de coisas acabarão. Não há nenhuma pegada nem marca na neve que cobre o campo que vais atravessar.
Reyna sorriu ante o otimismo de sua nova amiga. Mas claro que existiam pisadas e marcas, muitas delas, postas ali pelas pessoas vivas e mortas, e as mais frescas tinham sido feitas por Ian e ela mesma no jardim no dia anterior.
Ela decidiu que era um bom momento para visitar Alice e os criados fora do salão. Ela se desembaraçou da perturbadora companhia do homem com quem havia casado, e passou as próximas horas entre seus velhos amigos.
O sol estava se pondo quando uma comoção ocorreu no portão de entrada. Gregory entrou apressado no salão e foi até Ian. Eles desapareceram na direção do portão. Algum tempo mas tarde eles voltaram, e correu o rumor de que um mensageiro tinha vindo enviado por Thomas Armstrong solicitando o retorno das damas da Fortaleza Black Lyne. Reyna ouviu Ian instruindo Gregory para que tivesse cem homens preparados para cavalgar para a fronteira cedo de manhã. Quando ele terminou, caminhou até ela.
—Christiana estava te procurando. É hora de ir para seus aposentos, milady.
Reyna observou o crepúsculo crescente. Sim, era momento de interpretar a parte seguinte da farsa.
—Diga a Christiana que Alice me ajudará.
Ian lhe deu um olhar peculiar antes de ir. Alice escutou o dialogo, ao seu lado, exalando o cheiro de vinho.
—Pode subir todos os degraus, Alice?— ela perguntou.
—Claro. Pensa que deixaria que qualquer outra fizesse isto?
Reyna ajudou Alice a subir as escadas. No quinto piso, Alice quis entrar no solar, mas Reyna a levou a outro lugar.
Alice a seguiu ao seu próprio quarto.
—Ah. Não quer compartilhar a mesma cama que usou com Sir Robert.
Reyna não respondeu. Alice a agarrou pelos ombros e os baixou.
—Não estará sentindo-se culpada ou algo assim, não é verdade? Algumas viúvas o fazem quando se casam novamente, se elas tiveram afeto por seus primeiros maridos, mas Robert não quereria que você continuasse vivendo sozinha.
Juntas tiraram as muitas fivelas de seu cabelo e tiraram a coroa de rosas. Alice penteou o cabelo sedoso, e logo lhe tirou o adorável vestido.
A cozinheira se aproximou para preparar a cama.
—Me deixe agora, Alice—, disse Reyna.
Alice a olhou desconfiadamente.
—O que está planejando, criatura?
—Só gostaria de ter algum tempo a sós, isso é tudo.
—Posso ver sua tristeza, esteve estranha todo o dia. Planejou permanecer fiel a ele, até depois da morte?
—Se estive estranha é porque tudo isto aconteceu tão rápida e inesperadamente. Deveria estar dançando de alegria?
—Talvez. Mas poderia ajudar se não olhasse esse cavalheiro como se estivesse enfrentando a forca.
Era uma escolha infeliz de palavras, mas não completamente acidental. Alice estava lhe recordando o amparo que Ian lhe proveu, e o que lhe devia em troca.
—Deixe-me agora—, Reyna repetiu.
Alice grunhiu e sacudiu a cabeça. Deu palmadinhas leves na bochecha de Reyna e partiu.
Reyna exalou profundamente. Ela foi para seu baú e tirou um de seus vestidos singelos e o pôs. Então rapidamente arrumou seu cabelo em uma longa trança.
Lançando-a para suas costas, moveu as três velas de noite para perto da escrivaninha. Sentia-se muito inquieta para dormir. Começaria sua carta para Lady Hildegard da Suécia.
Cuidadosamente compôs a primeira linha em latim para a abadessa instruída com quem ela se correspondia. A abadessa em sua última carta lhe havia oferecido um argumento cuidadosamente detalhado provando que as mulheres tinham almas, um ponto que os teólogos debatiam. Reyna havia achado alguma falha na lógica do argumento que queria assinalar de maneira que Hildegard pudesse as corrigir antes de fazer circular sua tese.
Estava se preparando para entrar na metade de sua análise quando a porta de seu quarto se abriu. Ian entrou e a fechou atrás dele.
—O que está fazendo?—, ele perguntou.
—Escrevendo uma carta—. Ela escreveu outra palavra sobre o papiro.
Reyna tentou concentrar-se em uma construção difícil do latim que necessitava formar. Não era fácil fazer isso. Ian tinha um modo de distraí-la sempre que estava perto. Ela realmente desejava que ele fosse embora.
—Tem uma atitude muito peculiar em relação aos casamentos, Reyna. Passa o dia ignorando seu marido, e se para o quarto para escrever sobre filosofia.
Ela fez uma careta ante seu tom irônico, mas não o olhou. Ele ignorou.
Não esperava que ele o notasse, ou que se importasse muito. Sendo um homem orgulhoso e vaidoso, provavelmente pensava que ela deveria ter deixado de lado seu papel e fingir algum interesse nele.
Ela voltou seus pensamentos ao latim.
Um movimento e um som distraíram sua atenção. Levantou seus olhos por uma fração de segundo.
O cinturão de Ian jazia no chão perto de suas pernas embainhadas nas botas.
Ela olhou fixamente para aquele cinturão. E um sinal de alerta antecipado a dominou.
Seu olhar se elevou para percorrer toda a extensão de seu corpo. Ele estava desabotoando o frente de sua túnica.
—O que está fazendo?—, ela perguntou cautelosamente.
—Me despindo. Uma esposa obediente me ajudaria.
O alerta a golpeou novamente.
—Esquece que não sou uma esposa obediente. Sou uma conveniência temporária.
—E é temporariamente conveniente para você ser minha esposa. E como tal realizar os deveres que eu ordene—, ele a olhou, seus olhos grandes e negros sob o brilho da vela. —Por que ainda está vestida? Por que Alice não te preparou?
—Me preparar?
—Te preparar. Para ir para a cama. Te preparar para mim.
Ela apoiou a pena, surpreendida e intimidada.
—Não pode acreditar que… não pode pretender dormir aqui.
—Era minha intenção dormir no solar, mas já que você não estava lá, assumi que você não queria compartilhar a cama usada por seu finado marido. Agradar-te-ei nisso durante algum tempo.
—Seria inapropriado que nós compartilhássemos qualquer cama.
Suas mãos se congelaram sobre a túnica.
—Seria mais que apropriado. Nós estamos casados.
—Não é um casamento real, disse que era uma conveniência temporária—, ela se sentia realmente desesperada agora, atacada por uma raiva crescente. Ele sabia as implicações de seu acordo. Era incrivelmente desonroso que ele fingisse não fazê-lo.
Ian apoiou suas mãos na escrivaninha, seus olhos escuros refletindo raiva enquanto a olhava.
—Sim, conveniente para todos os que estão a nosso redor. É conveniente para Morvan para manter a neutralidade de seu pai. É conveniente para seu amparo. Como estas terras me teriam sido dadas de qualquer maneira, a única conveniência que vejo para mim é ter uma mulher disponível quando eu queira uma.
Ela reuniu toda sua coragem para enfrentar sua fúria.
—Se quiser uma mulher, vá procurar outras. Há pelo menos uma dúzia que lhe dariam as boas vindas.
—Mas eu não lhes dou as boas vindas, Reyna, não em minha noite de bodas—, sua voz era muito baixa e intensa. —Além disso, conforme eu vejo tudo isto, nós temos um assunto pendente.
Sua respiração se deteve.
—Bastardo canalha, me enganou deliberadamente.— Ela parou para enfrentá-lo. —Disse que era um casamento de conveniência. Temporário. Não real.
—Suficientemente real até que seja anulado.
—Espera que mais tarde minta a um bispo para obter essa anulação?
—Espero que sua condição de estéril possa falar eloqüentemente em nosso favor. Disse que essa seria a base do pedido de anulação, Reyna, falta-nos a consumação.
Sua mente procurava freneticamente uma solução para aquele horrendo mal-entendido. Aquilo era terrível. Terrível. Talvez a lógica ajudaria.
—Ian, o objetivo de um matrimônio é produzir filhos. Nós entramos neste acordo sem a intenção de fazer isso. Então, nós não estamos casados.
—Um elegante, mas fracassado, silogismo. Tenta vê-lo ao reverso. Os votos fazem válido um casamento, e só os bispos podem desfazer esses votos. Nós acabamos de trocar votos. Então, até que um bispo os anule, nós estamos casados. Se você procurava um matrimônio somente no nome, deveria havê-lo dito antes.
Ela notou com desânimo que sua lógica carecia de falhas.
Ele começou a dar a volta à mesa, indo até ela. Ela se afastou e manteve a escrivaninha entre eles. Seu coração pulsava como um tambor, e tentou encontrar alguma explicação que terminasse com aquele pesadelo. Não havia nenhuma. Nada do que ela pudesse dizer teria sentido.
Olhando-o implorantemente, como se as palavras mudas em sua cabeça pudessem viajar até ele, então, ela sussurrou.
—Não posso.
O olhar obscuro que ele lançou quase a derrubou.
— Não pode?
—Não.
—Você realmente pensou que íamos viver como um irmão e uma irmã? Não conhece os homens, não é verdade?
—Suficientemente bem, mas isto é impossível.
—Então não pode viver aqui. Não prejudicaremos os planos de Morvan devido a seu caráter caprichoso. Ofereço agora outro trato, e o único que importará essa noite. Eu nunca forcei uma mulher, e tampouco deixarei que você me leve a isso. Se não pode ser uma esposa para mim, irá para um convento. Um em Brittany, onde não criará dificuldades no futuro. Com ou sem anulação, poderá apodrecer lá.
Sua raiva circulava pelo ar. Sua expressão parecia perigosa e determinada. Ele realmente queria dizer isso. Faria isso .
Ian caminhou para a porta.
—Tome sua decisão, Reyna. Submeta a toda filosofia que queira.
Reyna se afundou na cadeira e contemplou inexpressivamente as velas brilhando diante dela. Estupidamente reviveu todo o que acontecera naquele dia e admitiu, se houvesse prestado mais atenção, poderia ter se prevenido daquilo. Os olhares compridos. A tensão da expectativa a tinha desestabilizado muito. A satisfação consigo mesma por ter conseguido dirigir as coisas tão bem a tinha cegado às suposições de Ian.
Ela olhou o anel em seu dedo. Deus santo, o que tinha feito?
Ian realmente não lhe tinha dado muita opção. Ocasionalmente compartilhar sua cama por vários anos, ou ser confinada para sempre em algum convento. Ninguém tinha direito de lhe pedir semelhante sacrifício.
Ela pensou no homem mais velho que lhe tinha demonstrado que alguns homens podiam ser bons e generosos. Revisou as promessas que ela tinha feito. Não as trairia. Não podia. Pois se o fizesse, ele pensaria que ela o tinha traído deliberadamente. Mas deixaria que as circunstâncias fizessem isso, e não suas palavras, e tentaria salvar algo, de algum jeito. Devia a Robert ao menos isso, até se ele houvesse insistido que ela não o fizesse .
Reyna caminhou para a porta, imaginando o cavalheiro orgulhoso e insultado esperando por ela. Duvidou que Ian se sentisse muito inclinado à bondade ou a generosidade naquela noite.
Ia ser horrível. Absolutamente horrível.
Abriu a porta do solar e silenciosamente entrou. A noite se pôs fresca, e os criados tinham preparado quarto, acendendo um fogo baixo na lareira. Três velas ardiam em seus altos castiçais, perto da cama, e ela se perguntou se, recordando seu medo da escuridão, Ian tinha ordenado velas extras.
Ele estava sentado em um dos bancos da janela, uma perna dobrada no assento e outro pé apoiado no chão. Ele não notou sua presença no princípio, enquanto contemplava a noite.
Ainda estava zangado. Ela o podia sentir. Reyna ficou perto da porta. Todo seu corpo cheio de um medo que fluía como água.
Ian tornou-se consciente de sua presença. Voltou sua cabeça. Ela não podia ver claramente seu rosto nas sombras.
—Venha aqui.
Ela respirou profundamente e se aproximou. Não podia olhá-lo, mas sentia que ele a observava. Ela permaneceu de pé silenciosamente por uma terrível eternidade, com seu olhar quente perturbando-a.
Seus dedos deslizaram pela extensão de sua trança. Seus olhos baixos o viram apertar o extremo da trança. Sua mão começou a girar lentamente, e a trança se enroscou ao redor dela. Reyna sentiu o puxão em seu couro cabeludo e baixou sua cabeça, mas a mão seguia girando.
Sim, estava zangado, e não seria generoso.
Fechando seus olhos de humilhação, ela não teve nenhuma opção a não ser dobrar seus joelhos enquanto a trança a empurrava para baixo. Mais baixo. E mais baixo, até que finalmente ela se ajoelhou no chão, a seu lado. Seu coração pulsou furioso com indignação, mas ela conteve sua língua.
—Parece que pode, depois de tudo, Reyna.
—Sim—, ela sussurrou.
—Sim, meu Lorde—, ele corrigiu.
Ela apertou os dentes.
—Sim, meu Lorde.
Reyna pensou que ele a soltaria então, mas não o fez.
—O amava?
Ela se surpreendeu com a pergunta inesperada.
—Amar a quem, Ian? A Robert? A Reginald? A Edmund? Você afirmou que eu era amante de vários.
Sua mão se apertou em advertência.
—Seu marido. Amava-o?
Ele lhe estava oferecendo uma desculpa, uma explicação para suas repetidas recusas. Ela suspeitava que a resposta não mudaria nada, e então falou honestamente.
—Robert era tudo para mim. Eu construí minha vida em torno dele, e sua morte me partiu ao meio. Ele era meu salvador, meu professor, meu pai—. Ela fez uma pausa. —Ele era meu amigo.
Ian a olhou intensamente, atônito pela emoção irracional que sua resposta lhe causava. Uma declaração de amor eterno teria sido mais fácil de ouvir. Ele podia competir com a paixão, mas suas palavras deixaram claro, qualquer coisa que acontecesse naquela noite, o velho seguiria possuindo uma parte dela que ele nunca teria.
Sentia ciúmes de um homem morto, Ian pensou com raiva. De seu rei Alfred.
Ele visualizou um retrato de Robert de Kelso em sua mente, apoiando-se no pouco que ela e os outros tinham contado. Não era um homem alto nem de corpo poderoso, porte forte em um estilo magro. Um bom guerreiro, mas sua inteligência provavelmente contava tanto quanto a habilidade de seus braços. Cabelo cinza claro no momento de sua morte, e provavelmente também sua barba. Não era um homem bonito, a não ser alguém de aparência aceitável com olhos inteligentes, especialmente ao olhar de sua esposa.
Ela tinha chegado a Robert sendo uma criança, e tinha vivido como tal em sua casa por vários anos. O que teria passado por sua cabeça quando finalmente a levou a sua cama? Ele a tinha cuidado e amado como se ela fosse uma filha. Tinha a ajudado a vencer seus medos e tinha lhe dado liberdade para crescer. Ele havia reconhecido sua mente perspicaz e brandamente a tinha guiado em seu desenvolvimento.
Provavelmente ele tinha adiado levá-la à cama por muito tempo, e logo essa cama tinha estado cheia de ternura e cuidado, mas não de uma grande paixão. A proximidade provavelmente contava mais que o prazer. Suas uniões mais intensas ocorriam de diferentes modos, perto do fogo enquanto discutiam sobre livros, na mesa durante as refeições, no pátio enquanto a observava passear pelo jardim.
Ian olhou seu corpo mudo curvado em posição de submissão debaixo dele. Ela não se moveu ou falou, mas ele podia sentir o medo crescente nela. Imagens dela nua debaixo dele no rio, de seu prazer inesperado e de sua resistência cautelosa, confundiram-se em sua mente.
—Ele era meu salvador, meu professor, meu pai, meu amigo.
Soltando seu cabelo, ele desfez a trança.
—Tire a roupa e deite na cama, Reyna.
Ela ficou de pé e caminhou para a cama, respirando para controlar o pânico.
Voltando-se de maneira que não teria que vê-lo observá-la, ela desarmou a trança, deixando cair seu cabelo para cobrir-se um pouco. Começou a tirar o vestido, e sentiu seu inexorável olhar todo o tempo.
Tirando a camisa, rapidamente subiu à cama e cobriu-se com o lençol. Fechando seus olhos firmemente, permaneceu de costas e esperou.
O tempo passou. Muito tempo. Ela realmente começou a ficar sonolenta. Abrindo um olho, viu Ian ainda sentando na janela, olhando-a. Sua cabeça estava inclinada para um lado, como se estivesse considerando se ela valia a pena tantos problemas.
Ele saiu de seu banco e ela fechou os olhos novamente. Já não estavam sonolentos, escutou os sons de seus movimentos. As botas caindo no chão. O tecido da roupa deslizando. Um peso afundou o colchão ao lado dela. Seu cheiro e seu calor assaltou seus sentidos e seu coração começou a pulsar ferozmente.
Sua mão tomou seu queixo e girou seu rosto para ele. Sentiu-o inclinar-se para mais perto. Seus lábios roçaram os seus, e logo ele se afastou.
—Não pensa que me deveria dizer isso agora?
Ela abriu os olhos surpresa. Seu torso nu apoiado sobre um braço. O lençol cobrindo-o até a cintura.
—Saberei a verdade muito em breve— ele adicionou.
Ian sabia. Uma variedade de reações se atropelaram dentro dela. Reyna não disse nada. Não havia nada que pudesse dizer.
—Não, se não falou para salvar o pescoço de seu irmão, tampouco falará agora para te salvar de minha irritação.
Pensativamente deslizou sua mão sobre a borda do lençol próxima de seus ombros. Ela respirou profundamente. Talvez ele soubesse. Talvez finalmente houvesse visto de que se tratava o vergonhoso desejo que ela tinha mostrado no rio.
—Fiquei pensando sobre o que você disse sobre Robert—, ele disse. —E logo pensei sobre este mal-entendido, e o que disse no jardim ontem, sobre que tinha tido um matrimônio de conveniência antes. Outras coisas me vieram à memória. A ignorância da cortesã Melissa, por exemplo. Me disse mesmo que você tinha fingido sobre sua falta de experiência sexual quando fiz amor com você perto do rio, mas aquela noite em minha tenda ainda não era seu interesse fazer isso.
Ele a olhou nos olhos.
—Robert de Kelso era realmente muitas coisas para você, Reyna. Tudo o que mencionou. Mas não acredito que ele verdadeiramente tenha sido marido. Ainda é virgem, não é verdade?
Ela desviou sua cabeça. Ele a forçou a olhá-lo.
—Não pode falar disto, inclusive agora que sei? Se prometeu silêncio, não quebraste a promessa comigo. Ele a fez fazer esse juramento?
Ela desesperadamente examinou as emoções que a inundavam. Debateu sobre o valor de manter silêncio e não achou nenhum. Suspirando profundamente, exalando uma respiração contida por muitos anos, ela sacudiu a cabeça.
—Ele não me fez jurar. Só me pediu que mantivesse silêncio enquanto ele vivia. Ele não soube que eu jurei fazê-lo muito depois que ele morreu.
—Por que jurou?
—Não queria que as pessoas falassem dele, ridicularizando-o. Procurando as razões para esta situação. Ele era um homem bom, respeitável e honorado. Se isto fosse conhecido, iriam rir dele ou pensar algo pior.
—Ele está morto.
—Sim, ele está morto, e tudo o que ficou é sua memória. Não aceitarei que isso seja destruído.
Ela se perguntou se ele pensava que ela era uma completa idiota. Talvez para um homem como Ian, ninguém nem nada valia a pena os riscos que ela tinha corrido.
—Ele não podia?—, Ian perguntou. —Preferia outros homens?
—Esse é o tipo de especulação que eu queria evitar, Ian. A resposta eu não sei. Nós falamos sobre ele só uma vez, quando eu tinha 17 anos. Dava-me conta nesse tempo que nosso matrimônio não era normal.
Ela piscou com a lembrança daquela noite sete anos atrás, quando Robert havia retornado de uma visita a Clivedale. Ela tinha decidido que talvez o problema era que ele ainda a via como uma menina, e então tinha decidido recebê-lo aquela vez como uma mulher. Cuidadosamente tinha arrumado seu cabelo e sua roupa. Corajosamente tinha tentado beijá-lo em sua chegada. Funcionou. Ela tinha visto a perplexidade em seus olhos e tinha notado o modo com que ele a olhava durante o jantar.
Mas aquela noite, ele a deixou na porta do solar como sempre o fazia.
—Robert não explicou as razões. Pediu-me que não procurasse a anulação, por que ameaçaria o matrimônio e a trégua entre as famílias. Claro que aceitei. Não desejava voltar para Duncan, amava Robert e queria ficar com ele.
—Alguém mais sabe?
Outra lembrança veio, uma voz no solar aquela noite, repreendendo Robert.
—Ela pensa que o problema é ela. Ela tem direito de saber.
—Andrew, creio que sabia. Se haviam outros, não sei sobre eles.
Ela se levantou apoiando-se em seu cotovelo, apertando o lençol ao redor de seu corpo.
—Deve me prometer não dizer a ninguém.
—Eu não prometo nada. Isto muda tudo.
Ela se afundou de volta sobre o travesseiro e cobriu seu rosto com o braço. Sim, mudava tudo. Era muito pedir a Ian que continuasse com aquele matrimônio nas condições que ela tinha assumido, deixar que todos pensassem que era estéril e conseguir a anulação. Por que ele deveria esperar e passar por todos aqueles problemas? Se ela tivesse admitido a verdade, nunca teria havido um matrimônio em primeiro lugar. A prova que ela não tinha sido abusada estava em seu próprio corpo, e um simples exame revelaria isso.
Não existiria o duelo com o Aymer, então, e nenhuma necessidade de evitar as conseqüências daquele acordo.
Ela soube que Ian não ia tocá-la novamente aquela noite. Ele não destruiria a evidência que o deixaria livre da assassina com quem tinha sido forçado a casar-se. Imediatamente, ela adivinhou que uma vez que ele tivesse revelado a mentira dela para todos, até o sacerdote concordaria em romper o contrato de matrimônio e declarar inválidos os votos.
Tentei, Robert. Se não tivesse morrido, se Morvan Fitzwaryn não houvesse escolhido este ano para voltar, se Reginald tivesse provado ser leal e me tivesse levado para Edimburgh… Ela suspirou ante a inutilidade de todas aquelas hipóteses.
Ela afastou o lençol e se sentou, agarrando a camisa, indiferente a sua própria nudez agora.
—Aonde vai, Reyna?
—Para meu quarto.
—A noite está gelada e não há um fogo aceso lá. Você ficará aqui.
—Dificilmente me congelarei até a morte.
—Ficará aqui. De outro modo, os criados falarão.
Ian levantou o lençol.
Os criados e todos os outros teriam material para falar em um ou dois dias. Ela se deitou e ergueu o lençol, cobrindo-se.
Ian deitou-se ao lado dela. Seus olhos estavam fechados, mas um cenho franzido enrugava sua fronte. Ela sentia o calor de sua pele ao lado dele. A intimidade de estar deitados nus a perturbou. Ela se perguntou se ele fazia isso muito freqüentemente para estar imune a esse clima perturbador que se criou.
Se ela soubesse algo sobre sedução, poderia resolver aquele dilema naquele mesmo momento. Claro que teria que passar toda sua vida com um homem em quem não confiava nem a queria, que a odiaria porque ela o tinha aprisionado em um matrimônio. E ele poderia estar suficientemente zangado para contar a todo mundo sobre Robert.
—Não funcionará, Reyna—, ele disse. —Apesar do que você pensa, eu não sou um escravo de meus sentidos quando as circunstâncias não o permitem.

 

 


Capítulo 13

Ian saiu da cama antes do amanhecer e vestiu suas roupas. A audaciosa declaração feita a Reyna na noite anterior tinha sido realmente apenas uma resposta corajosa. A maior parte da noite ele passou só olhando para ela, lutando contra a tentação de despertá-la com sua boca e suas mãos, silenciosamente persuadindo-a para que o tocasse e quebrasse sua própria resolução.
Ian riu de si mesmo com ironia. Tinha passado dias sonhando com conseguir levá-la para cama, e quando ela dofinalmente estava ali porque se havia casas com ela, não podia tocá-la.
Olhou para ela novamente agora. Ele havia dito na noite anterior que tudo tinha mudado, e realmente era assim. Enquanto observava o rosto adormecido de Reyna durante a noite, tinha sido capaz de salvar seu orgulho e ver que seu amor por Robert era puro. Ela não o tinha traído com amantes enquanto ele esteve vivo e tampouco depois de sua morte, e ela certamente não o tinha matado. Não existia razão para fazê-lo. Robert certamente não tinha planejado abandoná-la, e ela não era estéril. Tal como ela havia dito, tinha construído sua vida ao redor dele, e Reyna não teria destruído aquela vida.
Ela estaria disposta a manter seu silêncio até mesmo se lhe colocassem uma corda ao redor do pescoço, ou finalmente teria quebrado seu juramento e tivesse revelado a evidência em favor de sua defesa? Ian olhou seu corpo frágil e vulnerável, impactado pela força e a devoção que ela tinha demonstrado nos últimos meses. Apesar do que ela havia dito, Robert de Kelso não a tinha deixado vazia. Ele a tinha ajudado a construir um caráter de honestidade e bondade que sustentavam sua alma como um eixo de aço. Uma mulher admirável, forte, inteligente e fiel. Ian tinha conhecido poucos homens com uma combinação semelhante de mente e espírito.
O curso da ação era claro. Realmente não existia nenhuma opção, mas ela dificilmente lhe agradeceria por isso.
Ian deixou o quarto e caminhou até o salão escuro. Os criados já estavam servindo pão e cerveja. Viu a figura de Andrew Armstrong em uma das mesas e deslizou em um banco diante dele. O mordomo de cabelo grisalho parou de mastigar por um momento, e logo impassivamente continuou. Resignação passou pelos olhos de Andrew durante aquela pausa breve, e Ian viu que Reyna tinha razão, e que Andrew sabia e assumia que Ian agora sabia também.
—Sir Robert já tinha sido casado antes de casar-se com Reyna?— Ian perguntou enquanto se servia de um pouco de cerveja.
—Não que eu saiba.
—Ele viajou muito. Poderia tê-lo feito.
—Possivelmente. Mas pelo que conheci do homem, ele não abusaria desse sacramento desse modo, tomando uma esposa enquanto já tinha outra.
—O homem era impotente? As pálpebras de Andrew cobriram seus olhos. —Não acredito.
—Sabe se ele tinha levado alguma mulher para sua cama?
—Não—. Andrew o olhou de um modo franco, como se o desafiasse a continuar.
Ian também o olhou francamente.
—Ele preferia homens e rapazes?
—Não. Esse tipo de homens podem cumprir seus deveres matrimoniais quando são obrigados. Vários de seus reis ingleses provaram isso.
—Esta obrigação não era tão grande.
—Qualquer história que espalhe sobre isto, estará equivocada—. Ele fez uma pausa e adicionou, —Esse tipo de homens se reconhecem uns aos outros quando se encontram.
—Talvez sim. Talvez, não—. Ian esperava que o mordomo oferecesse uma explicação alternativa. O silêncio plácido do homem o irritou. —Vai dizer me a razão real, ou não? Você também fez um juramento para proteger sua memória?
O mordomo não respondeu à raiva de Ian.
—Você teria deixado que eles a julguassem e não teria falado? Teria os deixado matá-la? O honorável Lorde Robert esperava muito de seus amigos.
—Ela tinha intenção de ir para o norte. Eu a teria ajudado a fazer isso. Mas se tivéssemos chegado a esse ponto, eu teria falado o suficiente para exigir que alguém procurasse evidência de que ela não era estéril.
Ian soube que não conseguiria nada mais definido do mordomo, e ficou de pé caminhando pelo salão. Precisava conversar com Christiana Fitzwaryn antes de levar seus homens à fronteira para fazer a troca das mulheres de Armstrong.
Um grupo de trinta Armstrongs esperava sobre uma colina. Detendo sua tropa, Ian fez sinais para David para que trouxesse os cavalos com as mulheres.
Thomas Armstrong e dez de seus homens desceram pela colina. Ian e David se moveram para frente, com as mulheres junto a eles. detiveram-se cinqüenta metros de distância de Thomas, e as mulheres começaram a cruzar a fronteira.
Thomas olhou às mulheres que se aproximavam.
—Onde está Lady Reyna?—, ele gritou.
—Ela escolheu não vir,— Ian respondeu.
—Eu exijo...
—Não tem direito a exigir nada. Estas damas estão aqui por minha generosidade, mas as outras permanecerão comigo.
As damas alcançaram seus salvadores. Margery cavalgou para seu marido. Thomas apenas sacudiu a cabeça saudando-a. E então, em um gesto carente de qualquer sutileza, Margery deu a volta sobre seu cavalo e lançou a Ian um olhar doído de despedida.
Thomas franziu o cenho para sua esposa e depois para Ian. Seu rosto se avermelhou. Um rude intercambio com Margery continuou.
—Diabos, Ian—, David murmurou. —Não me surpreende que tenha trazido cem homens com você.
—Ela estava permanentemente flertando comigo. Te asseguro que minha contenção para não tocá-la foi impressionante.
—Eventualmente um desses maridos ou irmãos lhe matarão.
—Provavelmente.
—Aí vem ele.
Thomas trotou em direção a eles.
—Não acredito que me esteja devolvendo minha esposa como eu a deixei—, ele disse bruscamente.
—Isso é o que ela diz?

—Será um prazer te matar quando tirarmos Fitzwaryn destas terras.
—Não há necessidade de esperar. Se desejas tentar isso agora, estou disposto.
Thomas furiosamente replicou.
—Ela diz que te casaste com a viúva de Robert.
—Sim, é verdade.
—Ela matou aquele bom homem!
—Nesse caso, ela responderá por isso, mas não você.
—Duncan Graham está por trás de tudo isto?
—Se estivesse, ele estaria te cortando em pedaços agora mesmo.
Thomas grunhiu e girou seu cavalo.
—Se sobreviver a este verão, vamos a encontrar. Enquanto isso, seja cuidadoso com o que come.

Christiana emergiu do salão para saudar David e Ian em seu retorno. Ian olhou-a significativamente. Christiana fez um gesto com sua cabeça.
—Onde está ela?—, ele perguntou.
—No jardim.
—Sinto muito te haver envolvido nisto, milady.
—Melhor eu que Duncan e Aymer, Ian, embora ela está perturbada por que não acredita que eles aceitarão minha palavra e que exigirão…— Suas palavras se perderam e ela fez uma careta. —Não posso te prometer poder salvá-la dessa odisséia.
Ele a deixou, mas não foi procurar Reyna no jardim. Precisava verificar algo primeiro. Pedindo a David que o acompanhasse, tomou uma tocha de uma parede e subiu as escadas para os quartos.
—O que estamos fazendo?—, David perguntou quando Ian permaneceu no quarto e olhou pensativamente as paredes.
—Estas paredes são grossas, David. É comum que elas sejam escavadas para ter salas secretas em fortalezas como estas. Há uma no quarto de Lorde e Lady Margery, por exemplo, que ela usava como guarda-roupa. Tem uma porta e é óbvio à vista. É estranho que este solar não tenha uma também .
—Pensa que está escondido?
—Sim. Um lugar seguro para guardar ouro e coisas assim.
Ele moveu a tocha cuidadosamente pela parede do leste sem nenhuma sorte, mas tinha feito isso antes e não tinha achado nada. Girou pensativamente para o sul.
—As escadas que levam ao túnel posterior chegam até para aqui—, ele explicou. Passou a David a tocha e se curvou para empurrar as pedras. A entrada baixa se abriu.
David examinou as dobradiças e a barra de ferro que mantinham as pedras juntas.
—Engenhoso.
—Sim. Quase impossível de notar se a gente não sabe que está ali. Penso que Robert de Kelso construiu isto. Tem a marca de sua inteligência. Mas esta é a única parede externa, e com estas escadas aqui…—, Ian se agachou e deslizou para dentro da parede. O teto era muito baixo para que ele pudesse permanecer de pé. Descendo uns degraus, ele girou e tentou procurar a entrada.
—Me dê a tocha.
David a passou. As escadas ficaram iluminadas.
Endireitando-se, olhou a parede enfrentando o alto das escadas. Era oca no nível superior. Não era uma sala, a não ser um nicho fundo.
Segurando a tocha mais próxima, ele escrutinou dentro do nicho. Metal brilhava na parte de atrás do espaço. Reconheceu a velha armadura e as bordas de uns tecidos. Mas perto havia dois objetos pequenos.
Ele levantou o primeiro. Um livro. Ele passou algumas páginas com uma mão. O herbário perdido. Deixou-o e tirou o outro. Um baú para guardar moedas, mas ele achou que não continha moedas.
Guardando-o debaixo de seu braço, voltou para o solar. David levantou suas sobrancelhas quando ele viu a caixa.
—Tinha que estar em algum lugar—, Ian disse. Levou-a para a escrivaninha e a deixou com os livros. Abriu-a. Os pergaminhos estavam dentro.
—Os documentos—, David disse. —Concluí que Thomas Armstrong não os teria levado, ainda se soubesse onde estavam. Ele teve que escapar muito rápido quando a fortaleza foi tomada.— David começou a desdobrar os pergaminhos.
—Procure o contrato de matrimônio—, Ian disse. —A descrição de seu dote. As terras do leste? Asseguradas para ela como propriedade quando ele morresse?
—Sim. Como soube?
Ela mencionou as terras uma vez, mas Morvan falou de sua propriedade terminando a meia milha ao leste, até antes que a ruínas comecem. Aquele velho castelo estava originalmente em terras Graham, porém foi dado a Robert como parte do dote dela.
David procurou um pedaço pequeno de pergaminho, tinta e uma pena. Começou a desenhar. Aqui está Clivedale ao norte e Harclow ao sul, com a fortaleza de Black Lyne entre eles. As terras de Graham ao leste. Ele desenhou três retângulos horizontais em um lado da folha, e um comprido verticalmente a sua direita.
—Por isso posso deduzir, o dote de Reyna transferiu estas terras aqui. Ele cortou uma franja de terras dos Graham.
Ian estudou a nova configuração. As terras do dote não só estendia as terra da propriedade de Black Lyne algumas milhas a leste. Estendia seus braços separando as fronteiras dos Grahams e dos Armstrongs ao norte e ao sul. O matrimônio tinha criado uma área neutra.
—Não é surpreendente que Duncan as quisesse de volta—, David meditou.
—Olhe novamente, David. Se o testamento final for reconhecido, Black Lyne e suas terras vão com a Reyna, Duncan Graham rodeia os Armstrongs em Clivedale pelos dois lados.
A expressão de David se fez dura.
—Ele também rodeia Harclow pelos dois lados. Maccus Armstrong tinha muita fé em Robert de Kelso para deixar que o homem tivesse uma propriedade tão estratégica. Se os Grahams ou os Armstrongs reclamam a fortaleza de Black Lyne ou inclusive as terras do dote dela, não são boas notícias para Morvan, e não faz pressagiar nenhuma paz futura.
Ian estudou o desenho de David, mas suas implicações estratégicas realmente não iriam fazer nenhuma diferença.
Nas horas obscuras da manhã ele já tinha decidido o destino da viúva de Robert de Kelso.

 

 

Capítulo 14

Reyna ouviu os passos pelo caminho do pomar. Ela sabia quem seria. Ela continuou cavando a terra do jardim até que os passos se detiveram atrás dela.
—Bastardo—, ela disse sem girar. Ela moveu seus joelhos em direção à camomila, empurrando a caixa com terra onde transplantava as ervas.
—Poderia me haver advertido. Isso teria feito isto mais fácil?—, Ian perguntou.
Na verdade, Christiana havia feito o exame tão facilmente como pôde, distraindo a ambas do que estava acontecendo, com contos graciosos sobre a corte inglesa.
—Poderia ter aceitado minha palavra, entretanto.
—Eu não necessitava de nenhuma prova, mas os outros sim. Sua palavra e a minha contaria para muito pouco.
—Por que eles deveriam acreditar em Christiana?
—Morvan e David nunca duvidariam dela, além disso ela é a Condessa de Senlis, nenhum sacerdote a chamaria de mentirosa. Morvan, David e o sacerdote. Menos homens observando a próxima vez, pelo menos.
Ela ficou de pé e limpou a terra de suas mãos. As ervas transplantadas se viam em estado lamentável em sua caixa com terra. Isso era um desperdício de tempo. Duncan nunca deixaria que as levasse com ela. Toda sua vida aqui terminaria em algumas horas, quando partisse com seu pai para voltar para a casa de sua infância.
Ela se voltou para Ian. Ele tinha retirado a armadura e estava usando uma azul túnica. Parecia tão bonito, sua expressão séria, aquelas sombrancelhas espessas baixadas para proteger os olhos escuros do sol.
—Só tenho dois pedidos—, ela disse. —Duncan e Aymer provavelmente não aceitarão a palavra de Christiana. Se devo passar por isso com eles, quero que seja feito imediatamente. Também quero que pergunte a Morvan se posso levar meus livros. Eles me foram dados por Robert...
—Os livros ficarão aqui, Reyna.
—Eles são tudo o que tenho, Ian. Deixe-me manter algo desta vida.
—Os livros ficam. E você também.
O choque foi tão grande que ela pensou a princípio que tinha ouvido mau.
—Não entendo.
—Estamos casados. Permaneceremos casados. Nenhuma anulação agora ou mais tarde. Quando ficar grávida, atribuiremos à graça de Deus.
—Então por que Christiana?
—Não será prova para Duncan. Pois como diz, não lhe acreditaria, mas sua virgindade sustenta sua inocência na morte de Robert, já que ela nega qualquer das motivações que todos lhe atribuíram. Só Morvan se inteirará sobre isso quando chegar o momento, e ele não duvidará de sua irmã.
Ela olhou seu jardim de ervas. Estava cheio de plantas encontradas em passeios com Robert, ou haviam sido trazidas por ele depois de visitar mercados distantes. O círculo de ervas se foi ampliando ao longo dos anos à medida que novas mudas eram adicionadas. De algum modo, aquelas ervas representavam a história de sua vida com ele. Uma ternura por Ian invadiu-a. Ele estava lhe dando isso. Oferecendo proteção à memória de Robert. Ninguém exceto Christiana e Morvan iam saber de seu segredo. Era um gesto incrivelmente nobre de sua parte.
—Não tinha que fazer isso. Robert está morto. As pessoas falariam, mas eles esquecer-se-iam logo, especialmente se eu não estivesse mais aqui—. Ele se aproximou, e passou seus dedos por seu queixo e moveu seu rosto para o dele.
—Eu escolhi fazer isto.
—Por quê?
—Eu poderia dizer que cumpro com a promessa de proteção que te fiz junto ao rio. Poderia dizer que porque nosso matrimônio assegura esta propriedade para mim de maneira mais consistente. Mas a verdade não é nem nobre nem prática—. Ele roçou seus lábios com os seus. —Eu não permiti que você fosse no começo, e não o farei agora—. Ele a beijou. Um beijo doce, mas sedutor.
—Te desejo, é simples assim—, ele disse. —Você não vai.
Ela olhou seu rosto perfeito. Não viu a raiva dos últimos poucos dias, ao contrário, viu uma expressão firme e determinada, como se ele esperasse uma discussão. Ela se perguntou se ele pensava que ela repetiria os insultos que lhe tinha dirigido no passado, e que declararia que preferia ir com Duncan que ser sua esposa. Ele não podia saber que ela se refugiou nessa hostilidade para proteger-se daquelas outras pessoas que ele evocava.
Então, novamente, talvez ele suspeitava disso.
—Tem medo de você mesma comigo, e isso é outra coisa completamente diferente do ódio.
Ele a beijou novamente, e todo seu corpo se estremeceu. Era uma sensação maravilhosa.
Reyna não lutou contra ela, porque já não tinha que fazê-lo.
—Pensei que havia mudado—, ela disse.
—Não. Te desejar, isso nunca muda—. Suas mãos acariciaram seu rosto para apoiar-se possessivamente em seus ombros. Seu dedo polegar acariciou acima e abaixo seu pescoço, criando uma linha de calor.
—Fez um mau acordo, Ian. Depois que essa fome seja satisfeita, você ainda estará preso a mim para sempre. Eu não sou a mulher obediente com quem você tinha planejado se casar depois que nos separássemos.
—Verdade. Mas espero que você seja menos mal-humorada depois de que seja bem cuidada na cama.
—Isso é o que pensa? Que eu...
—Penso que Robert te forçou a viver uma vida antinatural. Algumas mulheres estão preparadas para esse tipo de vida e não lhes importa, mas não era uma vida para você.
—Pensa me mostrar minha verdadeira natureza?
—Se alguma vez conheci uma mulher que foi uma donzela por muito tempo, essa é você.— Podia ser a verdade, mas soava como um insulto. Sua raiva cresceu.
—Minha vida era prazeirosa e completa.
—Por algum tempo, mas não nos últimos. Não desde que a menina virginal se converteu na mulher virginal. Nega seu ressentimento por seu salvador e seu professor não poder ser um homem com você?
Afastando-o, ela o olhou fixamente.
—Não zombe dele. Nunca faça isso. Se provar ser a metade do homem que Robert era, é possível que não lamente muito este matrimônio. Ele a atraiu de volta, em seus braços, contra seu corpo tenso.
—Se vai me demonstrar uma décima parte da lealdade que mostrou a esse homem, eu tampouco o lamentarei—, ele disse firmemente, reivindicando sua boca com um beijo consumidor.
Um ofego de surpresa morreu em sua garganta e o desejo que ele tinha estado estimulando cresceu rapidamente, assombrando-a. Sua própria paixão esperou por ela, assustando-a com sua força e seu perigo.
Não havia nada de gentil no modo com que sua língua percorreu seus dentes e seu paladar antes de empurrar de um modo selvagem e insistente. Todo seu corpo respondeu àquela ordem com uma frenética rapidez.
Ian suavizou o beijo, misturando selvageria com sedução. Era igualmente devastador a seu próprio modo, enquanto provocava sua boca quase delicadamente e acariciava seu corpo quase castamente. Ele brincou com a fome que tinha despertado, e uns estremecimentos maravilhosos de prazer a percorreram até que ela quase gritou para que ele lhe desse mais.
Ian envolveu seus braços ao redor dela.
—Quero tomá-la agora mesmo, aqui, já, mas esperarei até esta noite. Uma virgem merece um pouco de galanteio.
Ela se inclinou contra sua força, seu ouvido contra seu peito, a necessidade que ele podia facilmente lhe provocar a enchia de frustração. Tinha sido uma eloqüente demonstração de seu conhecimento sobre aquela parte escondida dela que ele esperava ver participando daquele matrimônio.
—Você gosta disso, não é? Que eu seja uma virgem passada em anos.
—Acho agradável.
—Por quê? Porque seria um prêmio tomado pela primeira vez?
—Talvez. Ou um presente dado pela primeira vez.
Ela fez uma careta.
—Não penso que será tão bom quanto seus beijos sugerem.
—Não me diga que ainda tem o medo de uma virgem adolescente.
—Tive mais tempo que a maioria das mulheres para me preocupar por isso.
—Tem sorte, Reyna—, ele disse brandamente. —Depois de tudo, se entregará ao Lorde das Mil Noites. Eu te mostrarei tanto prazer que não terá que se preocupar sobre tais coisas.
Ela olhou seus olhos. Realmente tinha pouca escolha em tudo aquilo. A decisão tinha sido dele, não dela. Perguntou-se se sua luxúria temporária não levaria ambos a cometer um engano lamentável, e se aquela vida não poderia terminar sendo o inferno que ela tinha declarado que seria dois dias atrás. Ian não era Robert de Kelso, ela pensou, e notou, para seu próprio choque, que estava contente por isso. Aquela noite teria sido de algum jeito obscena para compartilhar com Robert.
—O que está olhando?—, Ian perguntou.
—Você.
—E o que vê?—, ele perguntou um pouco tenso, como se antecipasse uma resposta ofensiva.
—Não estou segura. Contrastes estranhos. Um homem que pode ser ao mesmo tempo amável e cruel.
—Está vendo complexidade onde não há, Reyna. Eu sou muito simples. Quando estou contente, sou amável. Quando estou zangado, sou cruel.
Ele a guiou em direção ao caminho do pomar.
—Agora te darei um conselho para evitar o segundo. Pode me chamar Ian, ou marido, ou meu Lorde, ou qualquer outra palavra carinhosa que queira. Mas não mais filho de puta, bastardo, canalha, ou semente do diabo. Ele sorriu quando disse isto, mas ela sabia que não tinha sido uma brincadeira.

Ian tinha mentido. Ele não a galanteou durante o dia. Ele a seduziu. Reyna suspeitou que aquele era o estilo de Ian de Guilford.
Nenhuma bonita palavra ou lisonjas. Nada de poesia ou gestos cavalheirescos. Só uma presença constante, e sua considerável total atenção, uma lembrança tácita de que ele a desejava e que a teria logo.
Uma série de festividades criaram um marco colorido que antecipava o encontro entre eles. Com o passar do torneio, a comida e a partida de caça, inclusive durante a partida de Duncan, cada olhar terno, cada contato casual ou beijo ocasional, ele aumentava a cadência da excitação espectante.
Ela se sentia impotente diante daquilo. Seu espírito já se havia rendido, e ele sabia que não havia resistência para uma sedução tão longamente praticada. Seu corpo colaborava menos que seu espírito. A excitação que ele tinha despertado no jardim nunca se sossegou completamente, e sua condição a fazia estar muito alerta quanto a ele, estar muito consciente do braço sobre seu ombro ou sua cintura, dos lábios roçando sua bochecha, da sua mão tomando dela. Seus contatos possessivos se converteram em disparadores de uma cadeia contínua de desejo. Deliciosa. Devastadora.
Durante a refeição da noite uma tensão estranha se alojou na parte baixa de seu ventre, e todo seu corpo parecia tenso e estranhamente vivo. Sua excitação, e a consciência dela, a fizeram estar mais perturbada e silenciosa que o habitual. Ian, por outro lado, parecia completamente cômodo com a situação. Como se ele tivesse feito isso, bem..., umas mil vezes antes.
Morvan e David planejavam partir para Harclow pela manhã e então o jantar durou mais tempo que o normal. Todos pareciam dispostos a ficar sentados na mesa, discutindo e tomando vinho, inclusive depois que a mesa foi retirada. Então surpreendeu a Reyna quando a mão de Ian deslizou sobre suas costas.
—Nos retiraremo agora—, ele disse.
Ela olhou a mesa comprida.
—Todos saberão que...
—Eles já sabem, Reyna. Estamos recém casados. De fato, Morvan me lançou várias olhares, como se estivesse estranhado porque não nos fechamos em nosso quarto todo o dia de hoje.
—Estou segura que ele está estranhando, considerando o pouco tempo que esteve fora de seu próprio quarto desde que chegou. Ian ficou de pé e tomou sua mão e a levou em direção às escadas.
Logo que estiveram fora de visão, a mão que estava apoiada em sua cintura de repente a aproximou e uma boca abrasadora achou seu pescoço. Com um ofego ela se encontrou pressionada contra a parede da escada, olhando para um rosto sério e olhos ardentes. Ele sujeitou sua cabeça e reivindicou sua boca com um beijo tão intenso que fez com que o beijo do jardim parecesse afável. Era maravilhoso. E atemorizante.
—Pensei que este dia nunca concluiria—, ele murmurou, com uma carícia possessiva em suas costas e seus quadris. Deveria ser canonizado pelo controle que demonstrei com você.
Ele agarrou sua mão e a empurrou escada acima, subindo dois degraus de uma vez. Ela tentou impedir de ser arrastada, preocupada porque sua impaciência significasse que Ian a lançaria na cama e faria aquela coisa imediatamente. Ela contava que as coisas se dessem mais lentamente, como no rio.
Ian a empurrou para dentro do solar, chutou a porta para a fechar, e a tomou em seus braços. Ela estava assombrada tão perigoso ele parecia. Instintivamente o afastou um pouco.
Ele notou.
—Te assustei.
—Um pouco—, ela murmurou, sentindo-se absurdamente tola. —Um pouco. Ele foi em direção à mesa. Um vinho tinha sido colocado ali e ele se serviu de uma taça. Levou muito tempo para fazer isso, e ela se perguntou se seu fracasso para alcançar o mesmo nível de sua paixão o tinha irritado. Ele se voltou, parecendo muito menos ameaçador, e lhe ofereceu vinho. Ela sacudiu sua cabeça, negando.
—Penso que talvez deveria—. Ele a atraiu para a cadeira, sobre seu colo, e lhe ofereceu sua taça novamente. Ela tomou obedientemente pequenos goles. Ele a observou enquanto lhe acariciava as costas de modo reconfortante.
—Como se sente agora?— ele perguntou.
—Tola.
Ele riu.
—Tola? Tanto que falam de minha reputação.
Ela mordeu o lábio inferior.
—Não, não completamente tola, mas um pouco tola. Tenho vinte e quatro anos, Ian, e aqui estamos sentados, você me acalmando como se eu fosse uma menina—. Ele tomou a taça e a deixou no chão.
—Deveria ter sido mais cuidadoso com você. Disse que tinha se preocupado pelo tema mais que a maioria das mulheres.
—Sim. Quando era mais jovem convenci a mim mesma que era muito afortunada por ter um marido como Robert, e de nunca ter tido uma noite de bodas adequada.
Ele acariciou seu braço.
—E quando estava mais velha?— Ela olhou os dedos que acariciavam a manga de seda de seu vestido. A leve pressão lhe pareceu incrivelmente calmante e comovedora.
—E quando você estava mais velha?—, ele perguntou novamente.
Ela estava envergonhada que ele descobrisse isso. Mas Ian entendia o mundo dos sentidos muito melhor que ela.
—Quando estava mais velha minha mente se apegava àquela idéia. Mas às vezes, de noite...
—Quem estava em seus sonhos de noite? Robert? Um de seus cavalheiros?
Ele brandamente perguntou, movendo sua mão por seu cabelo e seu rosto. Carícias gentis. Sutis e excitantes.
—Ninguém que eu conhecesse. Uma presença mais que uma pessoa. Ela começou a ter consciência de estar sentada em seu colo, de seu braço ao redor dela e da outra mão acariciando seu rosto e seus ombros, laboriosamente despertando novamente a antecipação excitante daquele dia, que seu medo temporariamente tinha suprimido.
—E preferia o beijo desse fantasma ao meu, Reyna?
—Estará com ciúmes de um fantasma agora?
—Talvez.
O humor mudou sutilmente.
Ela se permaneceu em um silêncio pesado, observando sua mão acariciar seu braço mais firmemente e logo o movimento desceu por sua coxa e sua perna. Aquele poder sensual fluía dele, cercando-a invisivelmente, recordando-lhe o prazer que havia sentido antes com ele.
—Quase enlouqueci com você deitada a meu lado ontem à noite—, ele disse, beijando sua bochecha, mantendo seu rosto perto do dele, inalando e fechando seus olhos como para saborear o que cheirava e sentia.
—Deveria ter me deixado partir.
—Não podia. Pude deduzir pelo modo como se despiu que nunca o tinha feito antes. Estava deitada muito rigidamente e soube que nunca tinha compartilhado uma cama com um homem. Assim foi como soube seu segredo com certeza. Não deveria me importar que eu seja o primeiro com você em todas estas coisas, mas me importa, por isso te mantive comigo, assim poderia saborear esse prazer. Parecia tão bonita enquanto dormia, não podia tirar os olhos de cima de você.
Suas palavras suaves comoveram seu coração. Elas vagamente aludiam a emoções diferentes da luxúria. Ela se endireitou e o olhou.
O calor de seus olhos encontrou os seus. Sua mão acariciou seu cabelo e embalou a cabeça.
—Me beije, Reyna.
Ela se inclinou indecisamente e pressionou sua boca contra a sua, consciente de que seus lábios tremiam. Ian respondeu brandamente, cuidadosamente. Quando suas línguas se uniram, ele a abraçou com mais força, fazendo-a parecer muito pequena dentro de seus braços. Já sem impaciência, ele a levou lentamente em sua paixão, seduzindo-a com beijos lânguidos em sua boca e seu pescoço, e carícias lentas em suas coxas e estômago. Rapidamente ela ficou impaciente, seus seios ansiando ser tocados. Ela inundou sua língua em sua boca corajosamente e sentiu uma alegria especial quando ele a beijou com mais força.
Reyna sentiu uma liberdade gloriosa enquanto as sensações tomavam o controle de seu corpo. Eram maravilhosas quando não havia nenhuma preocupação, nenhuma culpa, nenhuma vergonha. Ele levantou a saia de seu vestido, e logo a carícia foi de pele contra pele. Algo dentro dela cantou com euforia e alívio. Seu corpo estava vivo de um modo sobrenatural, como se possuísse uma consciência própria que se despertou pelas carícias íntimas. Ela emergiu ofegante de seus beijos, seus braços se apertaram ao redor de seu pescoço, e examinou os olhos conhecedores dele.
Ela tocou aquela boca sensual, acariciando os lábios com as pontas de seus dedos. Os beijou suavemente, mordeu-os delicadamente, imitando-o, tentando lhe dar o doce prazer que ele lhe tinha dado. Sua mandíbula se apertou e seus braços se esticaram, mas ele aceitou sua pequena sedução durante algum tempo. Logo algo se liberou nele e Ian a inclinou lhe dando um beijo de posse primitiva.
Sem soltá-la, ele fez que ficassem de pé e tomou suas nádegas com suas mãos e a empurrou contra seu corpo. Estirada entre seus braços, seus seios se apertaram contra seu peito, e sua virilha pulsava com uma dolorosa necessidade de ser preenchida.
Como ele mantinha a sanidade quando ela só conhecia a loucura? Como ele podia separar-se quando os batimentos de seu coração, sua respiração, e cada centímetro de seu corpo gritava para chegar a uma conclusão? Quando ele se afastou, ela quase o amaldiçoou, mas então ela sentiu seus dedos desatando seu vestido.
—Não é fácil que eu vá lentamente, Reyna—, ele disse, roucamente com seu devastador sorriso enquanto deslizava o vestido fora de seus ombros. Ian se ajoelhou para tirar as ligas e deslizar as meias fora de suas pernas.
—Já não tenho medo—, ela disse, olhando-o, passando seus dedos por seu cabelo: —Não quero ir lentamente.
Ele levantou cada um de seus pés e tirou o vestido.
—Mas eu sim—, ele disse. —Quero te olhar enquanto seu prazer cresce. Quero observar seu corpo tremer com meu contato e implorar por alívio. Quero ouvir seus gritos quando a loucura te fizer se entregar a mim—. Ian ficou de pé e olhou seu corpo. —Tire a camisa, Reyna.
Suas palavras enviaram um raio por seu corpo, diretamente ao ventre pulsante. A camisa se deslizou por seus braços, seios, passou por suas pernas.
Ian tomou seus seios, acariciando-os ligeiramente, e eles se incharam. Ela logo soube o que ele queria dizer sobre seu corpo tremendo com seu contato e rogar por alívio.
—É tão bonita. Perfeita—. Seus polegares estimularam os mamilos tensos. Ela baixou seus olhos para as mãos bronzeadas estimulando-a, despertando incríveis sensações.
Ela não duvidou que finalmente tudo seria como ele havia dito. Ela começou a desabotoar os broches de sua túnica.
Sua coragem o agradou. Ian continuava acariciando-a, trazendo-a para mais perto, movendo suas mãos sobre sua nudez enquanto ela o despia. Aquele contato a distraiu, fazendo-a mais lenta e mais vagarosa, mas finalmente ela obteve a camisa.
Ian a empurrou contra ele, e ela se gozou a intimidade de abraçar suas costas e seu peito nus.
Ele a levantou e a colocou na cama, e logo se sentou para tirar as botas e a roupa íntima. Ela observou os músculos de suas costas e o movimento de seus ombros, e não pôde deixar de olhar quando ele ficou de pé e baixou a roupa por seus quadris. Ele voltou-se magnificamente nu. Ela examinou seu torso esculpido e seu membro, surpreendida pelo novo calor que a imagem dele causava.
Ian deitou ao lado dela. Apoiada em seu antebraço, delineou seus lábios com um dedo e observou o caminho com uma expressão pensativa.
—Teve pouca escolha em tudo isto—, ele disse. —Eu gostaria de saber qual é sua vontade agora. Quer isso?—. A pergunta a deixou atônita. Certamente ele não podia perguntar isso quando ela quase implorava como ele havia dito que o faria.
Ian leu sua expressão e sacudiu a cabeça.
—Não quis dizer isso. Soube desde a primeira vez que poderia fazer que seu corpo me desejasse.
Ele estava fazendo uma pergunta mais difícil. Ela só estava surpresa que ele procurasse saber, surpreendida porque ele se importara.
—Sim. Quero .
—Comigo?— Aquela palavra fazia referência aos insultos dela, a todos seus xingamentos. Mas sua mente não se apegou a essas negações defensivas naquele momento. Pelo contrário, ela recordou sua justiça rápida para com o camponês pobre, o braço forte que a tinha salvado da escuridão no velho castelo, e de sua decisão de continuar com um matrimônio que era sua única oportunidade para um futuro decente.
—Com você.
Ian se inclinou e a beijou tão suavemente que ela pensou que seu coração se romperia.
—Então vamos ver o que é possível entre nós dois, Reyna.
Ele a empurrou contra seu corpo até moldar-se a ele, cada centímetro de sua pele conectado com a dela.
Ele fez amor como se seu próprio controle fora ilimitado. Os beijos e as carícias a deixaram ofegante e cega. Ele tocou seus seios, criando uma ansiedade deliciosa, roçando-os e estimulando-os com sua língua até que ela ofegou novamente e arqueou suas costas, rogando por mais.
Sua coxa veio colocar-se entre a sua e ela se pressionou contra ele, tentando aliviar sua necessidade de prazer. Enquanto isso suas mãos exploravam, excitavam, e achavam lugares inesperados de prazer.
Sua perna se moveu, e ele a deitou de costas. Ele apalpou entre suas coxas e ela se arqueou afastando-se do colchão. Ian separou suas pernas e ela se arqueou novamente exclamando quando ele a acariciou suavemente. Um dedo provando seu sexo. Ela sentiu a invasão, chocante mas estranhamente bem-vinda, no lugar onde se alojava sua necessidade.
oeu-lhe. Ele sugou seus seios e lhe doeu um pouco menos. Ele retirou a mão e acariciou suas coxas.
—É muito pequena, Reyna.
Ele cuidadosamente se desembaraçou dos braços dela.
Ian sentou-se com as costas contra a cabeceira, então a levantou, voltando-a em sua direção.
—Sente-se aqui.
Ele disse, movendo seus joelhos para acomodar seus quadris.
—Assim será mais fácil para você—. Ela se acomodou, enfrentando a umidade morna de seu sexo. Roçando seu membro duro. A sensação era incrivelmente erótica, e ela se moveu um pouco, fazendo que todo o corpo dele se esticasse. Ele se inclinou para frente e lhe deu um beijo enquanto suas mãos tomavam seus seios.
Reyna se sentiu completamente louca. Ian podia acariciá-la livremente nessa posição, e ela podia tocá-lo e beijá-lo também. Ela ouviu seus suspiros quando se moveu com a boca sobre seu peito.
—Levante um pouco—, ele disse pondo sua mão entre suas coxas, acariciando-a e excitando-a, provocando uma série de gritos. Era glorioso, maravilhoso, apaixonante. Ela sentiu seu corpo alagado pelas sensações que havia sentido aquele dia no rio, e nada mas que a iminente satisfação lhe importou.
Ian separou seus joelhos mais. Agarrando seus quadris, ele a baixou sobre seu membro.
A dor se mesclou com seu frenesi. Sua respiração se deteve bruscamente. Reyna abriu seus olhos e viu a expressão dura de seu controle levado ao limite.
—Quer que pare?
—Não—, ela sussurrou, baixando sua fronte sobre seu ombro tenso, cravando seus dedos em seus braços.
De qualquer modo, ele o fez suavemente, acariciando-a até que o choque inicial passou e a dor se diluiu um pouco e o prazer reapareceu. Sua mão se moveu no lugar onde estavam unidos, e ela estremeceu quando ele achou o ponto onde as sensações eram mais intensas. Esfregou-o suavemente e o delírio de prazer retornou, lançando-a mais alto e mais alto, fazendo-a desejar aquela união a pesar da dor, forçando gritos implorantes que se mesclavam com seus ofegos de choque quando ele a penetrou ainda mais. A sensação celestial irrompeu, se derramou e se ampliou, partindo sua essência, e ela gritou. Ela estava vagamente consciente de uma agonia submergida da euforia.
Ela desmoronou no abraço apertado contra seu peito, sentindo-se lânguida e saciada, o membro ereto ainda os conectava. Ele levantou seu queixo e lhe deu um beijo terno.
Cuidadosamente ele a deitou e se colocou sobre ela sustentando-se em seus braços.
Suavemente se retirou e a penetrou novamente. Doeu, mas doeu menos na próxima vez, e logo a dor não lhe importou. A ascensão para o céu começou novamente, apenas a sensação foi mais prolongada e mais intensa daquela vez, e se concentrava onde eles estavam unidos. Ian diminuiu o ritmo, e ela se agarrou a ele desesperadamente, levantando seus quadris para encontrá-lo.
Ele fez uma pausa.
—Vai me fazer te machucar mais se fizer assim, Reyna.
Ela se moveu novamente. Os estremecimentos se intensificaram. Os olhares se encontraram, e ele leu no dela sua paixão renascida, ele continuou com as investidas até que o prazer se converteu em uma emoção compartilhada. Ele os manteve unidos por muito tempo, deixando-a prostada, desprovida de vontade e pensamento, flutuando em um lugar onde reinava o prazer. Só com a investida final ela fechou seus olhos.
Ainda estava firmemente unida a ele muito depois de seus estremecimentos passarem. Suas profundas respirações encheram seu ouvido. Sua alma se sentia exposta, e seu corpo sem ossos. Ele não parecia inclinado a mover-se ou falar, e ela estava agradecida por isso. Queria estar abraçada a ele um pouco mais de tempo em silêncio. Seu peso era uma protetora barreira contra o mundo que logo a traria de volta à realidade.
Ian se levantou.
—Estou te esmagando.
Ela começou a protestar, mas ele se acomodou de lado, seus membros entrelaçados, os corpos ainda unidos. Reyna estava agradecida porque ele não queria terminar aquele clima doce. O prêmio tomado ou um presente dado? Tinha sido ambas as coisas.
Uma explosão aguda desfez o feitiço, sobressaltando-a.
—É somente um trovão—, Ian disse. —Uma tormenta.
Ela não tinha notado. Reyna escutou o aguaceiro e observou os raios refletir-se em seu rosto. Seus olhos, a centímetros dos seus, foram-se fechando.
—Sempre é assim?—, ela perguntou.
—Não vai doer novamente.
Ela desviou a vista. Ela não queria dizer isso.
Sua mão tocou seu rosto e ela o olhou e o encontrou observando-a.
—Não, isto nem sempre é assim, mas às vezes é. Depende de você e de mim.
Ele retirou suas pernas de dos quadris para que ela pudesse estar mais confortável, e a abraçou para dormir.
Horas mais tarde Ian continuava acordado, olhando-a novamente. O vento da tormenta tinha apagado as velas, e uma tênue luz da lua delineava suas formas. Ela parecia muito pequena e vulnerável, com seu corpo esbelto encolhido contra o seu. Desejava-a novamente, mas não fez nenhum movimento para despertá-la .
Como se sentisse seu olhar, ela se moveu em seu sonho. Seus olhos se abriram. De repente ela ficou rígida, e ele se deu conta que o temor da escuridão a tinha assaltado.
—Estou aqui, Reyna. Não tem que se assustar—. Ela se voltou para ele, e seu corpo relaxou. Ele a abraçou mais perto e a acalmou com carícias até que ela adormeceu.
—E agora o que?—, ela murmurou sonolenta.
—E agora o que?
—Sim. E agora? Com este matrimônio precipitado que você manteve porque me queria em sua cama? Me teve. E agora o que?— Ian ouviu as hipóteses que sua pergunta continha, e os temores que revelava.
Ele não podia culpá-la. Ela não podia saber que seus sentimentos por ela era mais complexos e confusos que a simples luxúria, ou que isso que tinha acontecido aquela noite não acontecia muito freqüentemente. Sua opinião a respeito de sua perseverança, seu valor como marido, tinha todo o direito de ser má.
—Então agora nos damos prazer nessa cama, e temos filhos, e se a boa sorte quiser, envelheceremos juntos. Assim é como é um matrimônio, ou não?—, ele disse.
E o resto depende de você e de mim, ele adicionou silenciosamente. Ian pensou na capacidade de entrega dela aquela noite.
Depende principalmente de mim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 15

Os lábios sobre sua face despertou em Reyna a consciencia.
—Devemos nos levantar, esposa. Morvan estará partindo logo. Esposa. Suas pálpebras se abriram. Ela respondeu a seu beijo um pouco timidamente, sentindo-se incômoda de achar-se em seus braços. Ela procurou algum comentário casual que escondesse seu desconcertante acanhamento. O que podia dizer a um homem com quem se faz aquele tipo de coisas?
Ian se livrou da coberta e ficou de pé. Seu olhar recaiu na roupa de cama.
—Há cobertas limpas aqui? Devemos tirar estas.
Ela viu as manchas de sangue. Ele tinha razão, eles não quereriam que os criados vissem aquilo. Ela colocou a camisa e foi procurar roupas de cama limpas em um baú. Ela as colocou enquanto Ian se lavava e se vestia.
Realizar aquelas tarefas rotineiras possuía uma intimidade quase tão densa como ter feito amor. Demonstrava a realidade de que sua vida tinha mudado para sempre em formas ainda a serem aprendidas, e que esse homem dominando o quarto agora a possuía.
Ela não lamentou quando Ian saiu para chamar uma criada. Ela fez com que a mulher esquentasse um pouco de água e lhe penteasse o cabelo, mas a fez sair antes que lavasse toda evidência de sua virgindade perdida.
Esposa. Não querida ou meu amor ou alguma outra palavra carinhosa, por outro lado, ela não esperava nenhuma palavra de carinho. Entendia suas razões para realizar e manter aquele matrimônio.
Ian tinha deixado claro no jardim, e logo novamente na noite anterior. Ele queria a conveniência de ter uma mulher quando queria obter prazer, e filhos eventualmente.
Era o que a maioria dos homens procuravam, e ela deveria estar agradecida de que ele a desejasse o suficiente para seguir com tudo isto. Ian a tinha salvado de Duncan e de Aymer, e a protegeria da injustiça na morte de Robert. Ela se tinha informado na noite anterior que o que ele esperava em retorno não seria muito difícil de dar. E no entanto ela se sentia triste enquanto se lavava, como se o ato sexual tivesse exposto um canto escondido de seu coração que ansiava uma coisa que ela sabia que nunca teria.
Reyna chegou ao salão ao mesmo tempo que Morvan e David se preparavam para partir. Seu coração se oprimiu enquanto os observava despedir-se de suas esposas. As expressões que ambos os casais exibiam, emoções inconfundíveis: confiança completa, desejo eterno, e alegre satisfação.
De repente entendeu sua própria melancolia. Amizade profunda e paixão exaltada estavam combinados em um amor poderoso nos casais diante dela.
Reyna tinha conhecido a primeira com Robert, e finalmente tinha desfrutado da último com Ian. Mas nunca conheceria ambos os sentimentos com um mesmo homem. Ela não devia sentir-se ciumenta, mas a dor a invadiu e ela teve que desviar o olhar.
Reyna recuperou a posição como a senhora da fortaleza imediatamente.
Seu matrimônio com Ian não tinha sossegado as suspeitas sobre ela, e as expressões firmes que mostravam a maior parte dos criados sugeriam que isso tinha piorado as coisas. Ela sabia que para eles aquele matrimônio devia parecer muito conveniente realmente, e não do modo concebido por Morvan. Ninguém se atreveu a desafiá-la mas eles obedeciam de um modo duro e mudo que revelava suas opiniões sobre essa nova união.
Depois da refeição do meio-dia, ela voltou para o solar por algum tempo, procurou o livro A Suma de Tomás de Aquino que tinha estado relendo e a encontrou em sua escrivaninha, não sobre a prateleira onde a tinha deixado. Em cima da mesa havia uma caixa de metal que ela não reconheceu. Tinha estado ali na noite anterior, ela recordou.
Por curiosidade a abriu. Uns documentos estavam dobrados dentro. Ela levantou o primeiro e o leu. Era seu contrato de matrimônio com Robert, e descrevia as terras que dote lhe tinha assegurado.
O próximo documento descrevia os títulos de Robert do Maccus Armstrong, e debaixo dele havia uma grande folha várias vezes dobrada. Ela a abriu e viu o testamento de Robert.
Leu com assombro. Na falta de um herdeiro, ele tinha deixado tudo para ela.
Era isso o que Ian tinha querido dizer aquela manhã quando tinha mencionado as terras que ela ia herdar. Ela também entendeu sua referência no jardim sobre como aquele matrimônio asseguraria as terras para ele de um modo mas consistente. Se Morvan falhasse em Harclow, Ian poderia reclamar a fortaleza de Black Lyne para ela.
Aquela dor desoladora a invadiu novamente. Essa era a razão real pela qual Ian tinha mantido o matrimônio, não por desejar a ela.
Ela reprimiu sua decepção e olhou o pergaminho intrigada.
Onde Ian tinha achado aqueles documentos? Quem sabia sobre este testamento? Ela examinou as assinaturas das testemunhas. Uma era do sacerdote de Bewton; e outra que ela não reconhecia. Não era ninguém do castelo.
Colocou os pergaminhos em sua caixa quando Ian entrava no solar.
—O dia está quente, Reyna. Nós iremos ao rio e tomaremos um banho. Montaram nos cavalos que esperavam no pátio, e trotaram para o lugar retirado onde as mulheres iam lavar, uma curva tranqüila do rio formada por algumas pedras perto da margem.
Ian desatou um pacote de roupa de sua sela. Reyna reconheceu as roupas que ela tinha retirado da cama. Ele pôs pedras dentro das fronhas, e logo as lançou no centro do rio. Ela observou como a água tragava a evidência do segredo de Robert. Dando-se conta que a generosidade de Ian naquele assunto não tinha sido quase tão abnegada como ela tinha pensado. Se o mundo descobrisse que ela e Robert não tinham tido um matrimônio verdadeiro, o valor do testamento e do contrato de matrimônio seria anulado.
Ian se sentou na relva e começou a tirar suas botas.
—Decidi que você me ensinará a nadar. Tinha razão. É uma habilidade útil para um soldado.
Reyna se despiu. Sentia-se muito exposta caminhando nua ao lado de Ian, e estava agradecida quando alcançaram uma profundidade suficiente para cobrir a maior parte de seu corpo.
Ela se perguntou como lhe ensinar a nadar. Não podia recordar como tinha aprendido. Simplesmente tinha acontecido enquanto jogava nos lagos sendo uma menina.
—Não pode nadar a menos que aprenda a deixar flutuar seu corpo—, ela explicou. —Vou sustentá-la, a princípio. Tudo é mais leve na água. Agora se estire.
Ela deslizou seus braços debaixo de suas costas e quadris, muito consciente da pele e dos músculos debaixo de suas mãos e da beleza magnífica do corpo que sustentava.
Ela se afastou. Ele se afundou alguns centímetros, mas nada mais.
—Uma sensação agradável—, ele disse. —Um pouco fora deste mundo—. Reyna olhou a extensão de seu corpo brilhando com a água. Flutuar desse modo era uma experiência agradável, afastada do terrestre. Por um breve tempo se sentia desligado da Terra.
No lapso de uma hora, Ian tinha se convertido em um nadador passável. Ele tinha descoberto que podia nadar sob a água. Eles brincaram como crianças, e suas risadas apagaram o desconforto que ela havia sentido todo o dia na presença dele. Finalmente, cansado, ele tomou sua mão e a levou para a margem.
O sol e a brisa suave rapidamente os secaram. Ian jazia deitado com os olhos fechados, não fez nenhum movimento para vestir-se, mas Reyna colocou a camisa.
Seu movimento fez que ele abrisse um olho.
—É um pouco tarde para o pudor, Reyna. Além disso, se estivesse decidido a tomá-la novamente já o teria feito na água;
Ele a puxou para sentar-se a seu lado.
—Descansa comigo. O sol e a brisa estão deliciosos.
Estavam deliciosos, moviam-se como dedos frescos acariciando as peles quentes.
Reyna fechou os olhos e desfrutou da sensação, concentrando nela. Seus membros ficaram lânguidos sob a carícia morna da natureza.
—Você está mexendo no meu livro—, ela disse. —o de Tomas de Aquino. Quando vou procurar, nunca está onde o deixei.
—É muito grande e está sempre se interpondo no meu caminho.
—Talvez deveria levá-lo para meu quarto, então.
—Manterei os livros no solar. Se insistir em ler filosofia, pode fazê-lo lá.
—Insistir? Não aprova que leia filosofia?
—Não aprovo nem desaprovo, mas penso que é muito jovem para isso. A filosofia não tem nenhum significado sem a sabedoria da experiência de vida. Como pode concordar ou discordar se ainda não sabe nada da vida?
—O pensamento racional pode levar à verdade, independentemente da experiência, Ian—.
—Não retiro o valor da filosofia, Reyna. Decidi faz muito tempo que tem suas limitações. E não tenho paciência para todos os filósofos e teólogos que se isolam do mundo.
Ele falava despreocupadamente, como se suas conclusões fossem tão evidentes que não exigiam nenhum tipo de pensamento.
Ela se levantou em seus braços.
—Eles não se afastam do mundo, mas, sim, advertem que este é uma distração.
Ele arrancou uma flor silvestre do pasto.
—Cheira isto—, ele disse, segurando-a diante de seu nariz. Ele acariciou as pétalas contra sua face para que ela pudesse sentir sua carícia aveludada.
—Como se faz sentir, Reyna? É uma distração do caminho verdadeiro? Os antigos filósofos alguma vez acreditaram isso. Foram nossos filósofos cristãos que rejeitaram o mundo por ser corrupto e se refugiaram em suas teorias racionais. Ela tomou a flor e a cheirou.
—Não tem nenhum respeito por seus ensinamentos, Ian?
Ele riu.
—Tenho grande respeito por eles.
Ela se aconchegou a seu lado novamente. Enquanto adormecia, lhe ocorreu que acabava de ter uma discussão filosófica com o Ian de Guilford.
Despertou para encontrá-lo deitado sobre seu estomago brincando com uma madeira. Ela olhou seu corpo nu, firmes e rigidos músculos esculpidos, as nádegas e as coxas firmes, mais pálidas que o resto de sua pele bronzeada. Um calor a invadiu. Ela se virou e examinou o pequeno brinquedo que ele estava fabricando.
—O que é isso?—, ela perguntou, seu rosto aparecendo perto de seu ombro. Ela lutou contra o desejo de lamber sua pele.
—Uma arma de fogo—, ele disse, apontando para a pequena bifurcação superior. São muito toscas. Se pudessem ser mais móveis teriam maior alcance e efetividade.
De repente ela compreendeu. Ian estava tentando montar a arma sobre um carro.
—Ian, em relação aos livros. Certamente seria melhor que levasse o que estou usando para meu quarto.
—Por que?
—Sem dúvida exigirá um pouco de privacidade algumas noites. Eu não gostaria de te incomodar.
O pequeno carro abruptamente se deteve.
—Se alguma vez não quisesse sua companhia uma noite, te direi isso, Reyna.
Ele a empurrou para deitá-la de costas. Ian se inclinou sobre ela e passou seus dedos por sua face. Seu contato fez ferver a pele como o sol e a brisa tinham feito, as sensações percorreram seu corpo e se espalharam por seu sangue.
—Acredito que passará um longo tempo antes que canse de você, Reyna.
Seu olhar abaixou e localizou os ossos de seu pescoço e seu
esterno.
—Planejo te ensinar tudo o que sei sobre o prazer. Uma vez que se refaça de ontem à noite, começaremos suas lições. A imagem e o aroma dele encheram seus sentidos. Seu coração começou a pulsar rapidamente. Seus maus presságios a respeito dele de repente deixaram de existir, assim como tampouco existia algum pensamento racional.
—Não preciso me refazer de nada—, ela sussurrou.
Ian suavemente mordeu seu lábio inferior.
—Estava desejando que dissesse isso.
Ele lentamente a beijou, saboreando-a com seus lábios e sua língua. Todo seu corpo flutuava em um mar nascente de paixão que ele criava. Era diferente da fome febril da noite anterior, mas perfeitamente encantador.
—Tire a camisa, Reyna.
Ela se sentou e tirou o objeto, consciente da excitação que essa ordem sempre lhe causava. Enquanto o objeto caía ao chão, ela se deu conta que esse gesto era de submissão, um símbolo que se oferecia a ele, mas por ordem dele. O prêmio tomado ou o presente dado?
—Me toque e me beije, Reyna. Usa suas mãos e sua boca como eu fiz. Ele a levou a uma longa e deliciosa lição, mostrando como lhe dar agradar. Ele beijou e explorou seu ouvido com sua língua até que ela soltou um risinho e logo fez o mesmo com ele. Ela tentou imitar o modo com que ele explorava seu pescoço com os lábios e os dentes. Quando ele acariciou e lambeu seus seios, levo um momento dar-se conta que ele queria isso também.
Passo a passo, ele a guiou nas explorações, usando seu corpo como exemplo. Uma sensualidade pacífica e lânguida que não lhe causava nenhuma vergonha, e ela seguiu seu método, acariciando quadris, nádegas, e coxas. Quando ele levemente acariciou a pele suave de seu sexo, ela não teve dificuldade em traduzir seu pedido e cuidadosamente passou seus dedos pela extensão de seu membro.
Ela delineou círculos na cabeça de seu membro, curiosa por saber se podia criar sensações semelhantes às que ele provocava nela. Um suspiro profundo lhe disse que podia. Logo ele a deitou, separando suas pernas com seus joelhos, e lentamente a penetrou.
Ela não se recompôs completamente, mas a carne masculina atuou mais como uma pomada suavizante que como um elemento irritante, e logo ela perdeu consciência de tudo exceto dessa conexão carnal. Seu corpo se estendeu para aceitá-lo, absorvendo-o, unindo-se a ele brevemente e totalmente. Não entendia a emoção potente que a invadiu, mas lhe fez recordar o desejo contínuo que tinha tomado conta de sua alma durante todo o dia.
Era tão diferente ali, ao sol, com o aroma da relva e os sons dos pássaros. Nenhuma sombra obscurecia o corpo movendo-se sobre e dentro dela, nenhuma luz de vela ocultava a tensão do desejo em seu rosto. Ela soube muito antes que concluíram que o tenso desconforto entre eles tinha ido embora para sempre.
Ele se retirou e a penetrou cuidadosamente uma e outra vez, como se desfrutasse da sensação tanto como ela o fazia. Enlaçando suas pernas sobre seus quadris a conexão se fez mais profunda, ele inclinou a cabeça para lamber seus seios.
Um dilúvio de prazer se acumulou em seu ventre, precipitando-se por seus membros, e tocando sua própria alma. Quando o alívio chegou, não nublou suas percepções como tinha feito na noite anterior, mas sim se elevou maravilhosamente e logo baixou graciosamente, ativando a consciência de estar próxima do homem em seus braços. E então ela sentiu a tensão dele, sentiu seus músculos endurecer-se debaixo de suas mãos, e aceitou com alegria os estremecimentos de seu orgasmo.
Ian apertou seus lábios contra sua fronte.
—É bom com você, esposa.
Um tempo mais tarde eles voltaram para o rio e se banharam, logo se secaram ao sol antes de vestir-se e voltar para a fortaleza.
—Como é que sabe de filosofia? Reyna perguntou enquanto seus cavalos cruzavam o prado.
—Os cavalheiros ingleses recebem um pouco de educação. Não somos bárbaros criados somente para dominar aos escoceses.
—Receber educação de um cavalheiro e saber o suficiente sobre filosofia para rechaçá-la são duas coisas diferentes. Falou como se tivesse lido sobre estas coisas.
—Quando era adolescente, li. Meu pai pôs um tutor excelente para mim. Ele pretendia que me convertesse em um sacerdote.
Ele olhou para cima e captou sua reação de choque. Ian encontrou seu olhar, e os dois começaram a rir.
—É bastante comum. Um filho menor se tornar clérigo, e serve a um grande nobre como sacerdote ou administrador—, ele disse. —Dá um certo poder a uma família ter um sacerdote. Quando tinha doze anos se fez claro que eu não era adequado para ser um. Eu queria ser um cavalheiro, e comecei a treinar secretamente. Gostava muito de mulher, e comecei a treinar com elas também. Eventualmente meu pai viu a futilidade de seu plano e me mandou a serviço de um Lorde vizinho para me formar como cavalheiro. Naquele momento, considerei isso um grande triunfo.
—Não o considera agora? Certamente nunca poderia ter vivido a vida de um sacerdote.
—Não, não poderia. Mas toda mudança traz conseqüências, e minha mudança para a propriedade vizinha trouxe alterações que nem eu nem meu pai pudemos antecipar.
Ele disse isso pensativamente, como se estivesse distraído por suas lembranças. Ela esperou que ele continuasse e se explicasse, mas ele só cavalgou silenciosamente com o cenho franzido.
—Quem você pensa que o envenenou?—, ele perguntou, surpreendendo-a com a troca de tema. Ele não estava contemplando seu próprio passado, mas o dela.
—Não posso pensar em ninguém que quisesse ver Robert morto.
—Se ele foi morto, era para a vantagem de alguém. Quem poderia ter feito isso? Quem teve a oportunidade de fazê-lo?
—Ninguém. Supõe-se que ele estava bebendo vinho em seu solar. Qualquer criado, cavalheiro ou guarda poderia pedir para falar com ele e conseguir pôr algo no vinho.
—O que pensa que lhe deram?—, ela encolheu os ombros.
—Não sei sobre essas coisas, Ian. Nunca procurei aprender isso, entretanto há curandeiras em qualquer aldeia que asseguram saber sobre tais coisas.
—Não tem nenhum livro que descreva tais poções?
—Tenho um herbário que menciona algumas plantas com tais propriedades, mas o escritor não explica as receitas para as poções.
—Onde está o herbário?
—Não o consultei por anos porque o tenho memorizado, até as imagens. Acredito que está nas prateleiras com os outros livros. O interrogatório dele a estava incômodando. —Por que quer averiguar isto, Ian? Ainda pensa que eu...
—É obvio que não. Mas Morvan tinha razão; é melhor que este assunto fique esclarecido. Você está vivendo aqui com estas pessoas. Não importa o que acontecer, eles sempre estarão especulando e suspeitando. Não quero que você tenha que suportar isso. Nem queremos um assassino em nossa casa. Devemos tentar descobrir a verdade para o bem de todos.
—E se a verdade me acusar?
—Então saberemos que não é a verdade.
Ela não estava completamente tranqüila com sua resposta. Na mente de Ian, sua virgindade tinha destruído qualquer motivação que todos atribuíam para seu crime, mas outros motivos sempre poderiam ser imaginados por um homem inteligente analisando a evidência.
Ian tinha razão. Ela devia tentar descobrir o que tinha acontecido por Robert. E pelo bem de todos, especialmente o seu.
Ian desceu à cozinha naquela noite, e ficou satisfeito por ver que Reyna não estava ajudando a Alice. Os criados perto do fogão estavam tirando o caldeirão de sopa de seu gancho, e ele esperou enquanto eles o carregavam cuidadosamente para o salão. Alice plácidamente cortava queijo sobre uma tabela de madeira, só olhando uma vez para o lugar onde estava de pé, perto da parede.
—Informaram-me que você veio com Reyna da casa de Duncan. Me conte mais sobre Reyna—, ele disse quando os criados finalmente desapareceram.
Alice sorriu.
—Estava-me perguntando o que é que quer averiguar. Esse é um assunto que é melhor não tocar.
—Você vivia naquela casa. Deve saber o que aconteceu lá.
—Sei. Mas me estou perguntando por que precisa saber.
Ele não tinha uma boa resposta para isso Somente que tinha decidido que o modo mais sensato de descobrir algo sobre a morte de Robert era preencher todos os vazios nas histórias que tinha ouvido.

—Eu gostaria de saber por minhas próprias razões—, ele disse, decidindo que sendo o Lorde devia contar para algo com um criado.
Alice lançou um olhar que dizia que ela nunca tinha sido intimidada por Lordes e que ele não seria a exceção.
—Duncan abandonou à mãe de Reyna, trancou-a em um convento ao norte de suas terras. Ele sustentava economicamente aquele lugar, então a abadessa se via obrigada a lhe obedecer e sua esposa foi mantida ali. Reyna tinha quatro anos naquela época.
—Ele anulou o matrimônio?—
—Não, não que eu saiba—, Alice disse. —Jordana foi sua segunda esposa, uma bonita moça do clã Eliot. Sua primeira esposa tinha morrido no nascimento de Aymer, e ele esperou seis anos para voltar a casar-se. Jordana tentou dar àquela casa um pouco de boas maneiras, mas Duncan é um homem duro, e não era um marido amável.
Mais criados chegaram procurarando queijo e pão para ser postos nas mesas.
Ian esperou enquanto eles corriam apressados para fora.
—Por que ele a trancou no convento?—, ele finalmente perguntou.
Alice o estudou rudemente, como se debatesse seu valor.
—Direi, mas não deve falar disto com Reyna. Isto está no passado para ela, e é melhor que fique lá—. Ela lambeu os lábios. —Eles estavam casados por seis anos, e só Reyna tinha nascido, mas não outros filhos. As coisas estavam indo mal entre eles inclusive antes que Reyna nascesse. Os criados sempre sabem dessas coisas. Jordana foi uma boa mãe para Reyna. Quando fazia bom tempo ela levava a menina às colinas, para afastá-la daquela casa. Um dia elas saíram, e não voltaram por muito tempo. Finalmente, dez homens de Duncan voltaram com Reyna, mas sem Jordana.
—O que aconteceu?—. O rosto redondo de Alice se enrugou com tristeza.
—Duncan sempre tinha sido desconfiado. Aquele dia, ele tinha partido antes delas com alguns de seus homens e então as esperaram e as seguiram. Ela se encontrou com seu amante, tentando escapar para sempre, conforme dizem. Ela levava suas jóias com ela, e roupa para si mesmo e a menina. Ele as alcançou perto da fronteira, perto do velho castelo. Ela sacudiu a cabeça. —Lá estava com um Armstrong. O filho de Maccus, James. Ele tinha sido seu amante por mais ou menos um ano, alguns disseram.
Ela fez uma pausa enquanto Ian absorvia a história surpreendente.
—Duncan enforcou James Armstrong, logo—, Alice disse. —No velho castelo. Depois levou Jordana para um convento, e nunca mais a vimos.
—A guerra de clãs terminou com o matrimônio de Reyna com Robert, Ian disse.
—Assim foi como tudo isto começou?
—Sim. Nos primeiros anos era como uma guerra entre reis, muitos morreram. Diminuiu a violência depois do matrimônio, mas represálias em ambas as partes continuaram. A região se cansou da guerra.
—Ela sabe sobre isto? Por que sua mãe foi afastada para sempre?
—Com Duncan chamando sua mãe de puta durante os oito anos seguintes, ela entendeu a razão para o convento.
As lembranças nublaram os velhos olhos.
—Posteriormente, Reyna não foi tratada melhor que uma criada. Ela se parecia com Jordana, e Duncan não pôde agüentar a semelhança com ela. Todos sabiam que não haveria nenhum castigo se ela fosse golpeada ou abusada. Ela aprendeu a estar quieta e a ser invisível, do mesmo modo que um cachorrinho maltratado faz. Eu tentei ser uma mãe para ela, mas não tinha nenhuma autoridade para protegê-la. Entretanto, na cozinha eu era a rainha, e ela estava segura comigo ali.
—Logo a aliança do matrimônio terminou com a guerra de clãs, e Robert de Kelso recebeu terras dos dois clãs, e ele se converteu no Salvador de Reyna—, Ian concluiu.
A falta de afeto de Duncan certamente tinha mais sentido agora.
—Obrigado pelo amor e o cuidado que demonstrou para com minha esposa durante esses anos—, ele disse, voltando-se para a entrada.
—Eu mataria a qualquer um que tentasse prejudicá-la—, Alice disse bruscamente.
Ele a olhou, e soube que acabava de ser advertido por uma mulher velha determinada a executar sua ameaça.
Enquanto subia as escadas para o salão, perguntou-se se Alice teria ouvido rumores sobre a carta de Robert ao bispo, e se preocupou muito pelo destino de Reyna e teria intervindo.
Andrew Armstrong se deteve a seu lado enquanto ele cruzava o salão. Um mordomo era outra pessoa com amplas oportunidades para usar veneno, mas Ian não podia pensar em nenhum motivo para o assassinato.
—Tenho boas notícias—, Andrew disse. —A água voltou para poço. Estive o verificando periodicamente, e hoje, depois da refeição, desci o balde e tudo funciona como antes.
—Um milagre—, Ian disse.
—Parece. Talvez a noite de ontem ajudou. A chuva, quis dizer.
—Nesse caso só podemos esperar que continue chovendo.
Reyna entrou no salão, então. Estava adorável com um vestido azul, com seu cabelo loiro prateado brilhante como a luz do sol.
As lembranças dela perto do rio, seu corpo banhado pela água, fizeram que seu corpo se retesasse. Considerando que ela nunca falhava em excitá-lo, choveria mais que suficiente por um bom tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 16

—Robert de Kelso administrou estas terras bem—. Reyna levantou a vista da mesa onde ela lia Tomás de Aquino com a luz de uma vela. Ian estava sentado em um tamborete perto da lareira com o registro contábil da propriedade aberto sobre seu colo.
—A maior parte das rendas vêm das ovelhas, e os mercados ingleses sempre estão procurando mais lã—, ele continuou. —Há um segundo moinho para oeste, o que tem sentido, considerando a extensão das terras.
—Robert o construiu. Ele tinha visto um homem velho que tinha viajado dois dias para trazer seus grãos aqui, e ele decidiu que era crueldade esperar aquilo dos mais fracos—, Reyna explicou.
—É também por esse sentido de caridade que a maior parte dos camponeses são livres e não vassalos?
—Se uma família podia comprar sua própria liberdade, Robert sempre concordava. Ele sustentava que um homem suficientemente trabalhador para economizar dinheiro certamente seria um bom inquilino.
Ian sacudiu a cabeça e ficou absorvido com as páginas do registro. Reyna voltou para sua filosofia, mas periodicamente olhava para cima para observar o modo como a luz do fogo brilhava em seu rosto bonito. A chegada dele aquela noite a tinha surpreendido. A maior parte de seu tempo juntos durante aquela primeira semana de matrimônio tinha transcorrido nas refeições ou na cama. No salão eles eram Lorde e Lady, e não marido e esposa, como se chamavam na cama. Aquela noite, entretanto, recordava horas semelhantes passadas com Robert, e a amizade que eles tinham compartilhado.
Era possível ter isso com um homem que era um marido verdadeiro? As emoções e intimidades que ela sentia quando fazia amor com Ian eram muito diferentes daquelas que tinha conhecido com Robert. Mais intensas e consumidoras, e também mais perigosas, de um modo que ela não poderia explicar. Embora fortes durante o momento de sua paixão, elas pareciam passageiras, inconsistentes e lutavam por sobreviver à luz do dia.
Ela tentou concentrar-se em sua leitura. Uma vez mais, o livro não tinha estado onde ela o tinha deixado na noite anterior, mas na prateleira. Em seu lugar ela encontrou o tratado de Bernardo de Clairveaux. Perguntou-se se Ian o estava lendo.
Ela reprimiu o impulso de lhe perguntar sua opinião sobre as idéias de Bernardo. Muito provavelmente ele estava verificando os livros da biblioteca com os registros contábeis para ver se podia encontrar as entradas que indicassem seus valores. Além disso, ele havia dito que não gostava de filosofia.
Sua mente se moveu de volta à conversação daquele dia no rio, e sua surpreendente revelação de que ele tinha sido educado para o sacerdócio em sua adolescência. Tinha sido uma referência estranha à história de sua vida. Ele nunca falava sobre sua família ou os eventos de seu passado.
Reyna tinha pensado muito sobre ele naqueles últimos dias, observando-o enquanto ela chegava a aceitar aquele matrimônio. Ele era um homem inquieto, sempre procurando novos projetos e idéias, planejando melhoras para a fortaleza. Seus intensos impulsos de atividade ocasionalmente se interrompiam no momento menos esperado, e ele procurava silêncio e reflexão, normalmente no jardim. Ela se perguntava no que pensaria ele nesses momentos.
Gradativamente ela tinha notado que ele não tinha amigos íntimos em sua própria companhia. Ian gozava de uma camaradagem com seus homens, mas não havia nenhum homem que fosse seu companheiro especial. Ele estava normalmente com um grupo, ou com ela, ou sozinho. Isso lhe parecia estranho para um homem com um trato e sociabilidade tão fáceis.
A vela piscou quando o pavio queimado se fez muito comprido. Ela levantou uma pequena faca que tinha perto e se esticou para cortar a ponta queimada. Ian observou o movimento antes de voltar para seus registros.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote está vivo?—, ela perguntou.
Não tinha planejado a pergunta. Acabava de emergir como produto de seus pensamentos.
Ian reagiu como se fora uma curiosidade intrusiva. Ela viu sua tensão sutil, as pálpebras baixas, e o movimento de seus olhos que indicava que ele tinha deixado de ler.
Mas Ian não respondeu sua pergunta.
A pergunta ficou pendurada no ar entre eles. Ela ficou perplexa por sua rejeição insolente.
O silêncio se tornou pesado com as palavras não ditas. Ela fingiu voltar para seu livro. A noite agradável fora arruinada.
Seu silêncio era uma declaração em relação aos limites que eles dois teriam. Era a clara rejeição de um homem que escolhia restringir o conhecimento a respeito de seus aspectos mais profundos. A surpreendeu quão profundamente ele a tinha ferido. Durante as horas compartilhadas na cama, ela tinha pensado que um vínculo se estava formando. Aquele silêncio revelava que ele não queria esse vínculo.
Um sentimento de dor se estendeu em seu coração enquanto olhava a página do livro. Tristemente admitiu que a novidade da paixão tinha escurecido os fatos sobre aquele matrimônio.
Sua mente racional os tinha reconhecido quando descobriu o testamento, mas seu coração afetado pela intimidade falsa da primeira semana e do dia feliz no rio, a tinha persuadido a ignorá-los.
Ela tinha pensado... Não, não queria nomear o que tinha pensado. Isso somente ia adicionar humilhação à tristeza que enchia seu coração.
Ouviu Ian ficar de pé e caminhar para ela. Sentiu-o detrás dela. Suas mãos apoiando-se em seus ombros. As mãos de um estranho. Pois ele para sempre permaneceria como um estranho.
—Vem para a cama, Reyna—. Em sua decepção, ela se endureceu ligeiramente e vacilou. Suas mãos se deslizaram ao longo de seu peito e uma mão acariciou seu seio. Com uma habilidade sem falha ele venceu sua resistência breve e ela levantou seu rosto e seus braços para ele.
Mas não foi o mesmo. A melancolia que ela havia sentido a manhã depois de sua noite de bodas pulsava viva no centro de seu desejo. Embora seu corpo respondia como sempre, seu espírito resistia ao fluxo da paixão.
Ela chegou ao pico da paixão como em uma viagem particular.
Ela emergiu do êxtase para descobrir que Ian tinha terminado também, embora ela não tivesse nenhuma lembrança disso. Ele dormiu, deixando-a só para reconhecer a triste lição que tinha aprendido naquela noite.
Cedo, na manhã siguinte, uma patrulha se apresentou no portão para reportar que um grupo de homens dos Armstrong se estava juntando perto da fronteira norte das terras de Black Lyne. Os homens tinham sido recrutados à força de aldeias e granjas. A patrulha julgou que o exército tinha trezentos homens e seguia crescendo.
—Soa como se Thomas Armstrong estivesse chamando a todo homem são e apto na propriedade de Clivedale—, Ian disse aos homens que se juntaram para ouvir o relato.
Reyna se sentou a seu lado para tomar o café da manhã. As coisas tinham sido frias entre eles desde que despertaram. Trataram um ao outro do modo formal e cuidadoso que as pessoas usam depois de ter um discussão séria.
—Alguém pensaria que ele os reuniria mais distante a oeste, ou pelo menos mais perto do caminho para Harclow—, um dos cavalheiros disse.
—Não penso que ele vá a Harclow. Penso que ele vem para cá. Uma estratégia inteligente. Não dava a Thomas suficiente crédito.
Para Reyna isso não tinha nenhum sentido. Ela falou, embora não estava em posição de fazê-lo.
—Maccus necessita alívio em Harclow. O que pode obter Thomas enfrentando você aqui?
—Anna de Leon está aqui. Neste momento, Margery deve haver descrito o amor de Morvan por sua esposa. Talvez Thomas espera que Morvan faça que parte do exército deixe o cerco e venha aqui quando se inteirar que ela está em perigo. E provavelmente Morvan lideraria esses homens. O plano é arriscado, mas é a melhor oportunidade que Thomas tem. Se ele puder derrotar Morvan em Black Lyne, toda a situação em Harclow muda.
—Isso tem mais sentido—, ela disse. —Mas se Morvan vier, ele trará suficientes homens para lutar com Thomas. Seu plano falhará.
—Provavelmente, mas eu não gosto de ficar sentado aqui. Além disso, há um problema esperando na fronteira, e esta companhia já foi muito paciente. Depois de um verão indolente, todos necessitamos um pouco de ação.
Ele voltou-se para seus homens.
—Avisem que nos moveremos em uma hora.
Enquanto os soldados se apressaram para preparar-se, Reyna lançou um olhar duro a Ian.
—A patrulha disse que há mais de trezentos homens esperando na fronteira. Seria uma tolice enfrentar esse risco quando não é necessário.
—Já sei que Thomas planeja nos sitiar ou continuar seu ataque a Morvan, meu dever é detê-lo.
—Não é lógico enfrentar semelhante força no campo de batalha. Morvan nunca poderia te pedir que fizesse isso.
—Não pretenda me ensinar lógica neste momento.
—Sem dúvida pensa que isto é um grande gesto cavalheiresco, mas é um suicídio.
Sua expressão se endureceu.
—Não sabia que tinha uma opinião tão desfavorável a respeito de minhas habilidades na guerra, Reyna.
—Confunde preocupação com insulto, Ian. O guerreiro mais valente é vulnerável em tais condições—. Lançou um olhar escrutinador. —Teme que meu bonito pescoço seja quebrado no campo de batalha? Até se morrer, Thomas nunca tomará esta fortaleza, Morvan nunca deixará que os Armstrongs lhe capturem, não se preocupe.
Mas ela se preocupou terrivelmente, e passou as próximas horas alternando entre a fúria e o desespero. Deu-se conta que isto era outra coisa em que seu segundo matrimônio diferia do primeiro. Robert tinha usado sua armadura pela última vez dez anos atrás. Ela era uma criança então, e quando o tinha observado cruzar o portão, nunca lhe tinha ocorrido que ele poderia não voltar.
Ela estava aflita com imagens de Ian cansado, morrendo penosamente, seu sangue regando a terra das colinas. Tentou distrair sua mente com as preparações para a refeição, mas ela sabia instintivamente quando o momento de sua partida tinha chegado. Enxaguando suas mãos, ela se apressou para o salão e fora aos degraus da entrada.
Ian estava no centro do pátio, sua armadura parecia água prateada com a luz cinza do dia nublado. As pessoas do castelo se detiveram para observar os cavalheiros e seus cavalos partindo.
Quando Reyna caminhou para os degraus inferiores, uma criada chamada Eva se aproximou de Ian. Eles falaram, permanecendo muito perto, Ian olhou para baixo e lhe sorriu com seu sorriso devastador.
Finalmente, para o desânimo de Reyna, ele acariciou o queixo de Eva num mesmo gesto afetuoso que ele usava tão freqüentemente com ela.
Reyna era testemunha da conversação íntima acontecendo diante de todos os habitantes da casa. Eva a viu chegar, disse algo apressadamente, e se afastou.
—Onde estava?—, Ian perguntou, nada envergonhado de ter sua nova esposa observando-o seduzir aquela mulher imoral.
—Não queria me cruzar em seu caminho. Não estou bem treinada em como uma esposa se comporta nestas situações. Se se supunha que devia te atender, desculpo-me por minha negligência.
Seu olho captou Eva parada perto do muro, falando com um jovem arqueiro. Uma bonita jovem, com seios e um vestido apertado. Nada magra ou miúda.
—Não precisa me dar atenção se escolher não fazê-lo—, Ian disse. Reyna ouviu uma insinuação que se referia a algo mais que as preparações para uma batalha. Não, obviamente ela não precisava atendê-lo.
Uma mulher era tão útil como qualquer outra para o Lorde das Mil Noites.
Ela forçou uma expressão de indiferença em seu rosto. Tinha sido uma noite e uma manhã cheias de descobertas decepcionantes, mas ela era uma mulher de linhagem e sabia como atuar com dignidade.
Os cavalheiros montaram e começaram a dirigir-se para o portão com seus escudeiros. Ela esticou-se e beijou a fase de Ian.
—Deus vá contigo.
Ele olhou para baixo com uma expressão particularmente perplexa, e logo virou.
A meio caminho, ele deu a volta abruptamente e voltou. Tomou-a em um abraço selvagem, apertando-a contra seu corpo, reclamando sua boca com um furioso beijo.
—Espera meu retorno como uma esposa deve— ordenou-lhe.
Ian guiou seus homens em direção à fronteira tentando ignorar a estranha inquietação que invadia seu espírito. Tentou culpar Reyna por havê-lo perturbado com seu discusso e seu comportamento frio. Sabia, entretanto, que a causa não era ela. Suspeitava de que se tratava aquela sensação, pois ele havia sentido algo semelhante havia muito tempo, mas se recusava a nomeá-la.
A metade de sua mente se mantinha ocupada revisando a estratégia que eles executariam quando encontrassem o exército de Thomas. A outra metade, entretanto, estava ocupada com Reyna, como estava desde a primeira vez que a tinha conhecido. Incomodava-o que havê-la possuído não tivesse solucionado o modo com que ela se intrometia em sua cabeça. Isso era algo mais que ele havia sentido uma vez antes, hhavia muito tempo, e com conseqüências terríveis.
Ela tinha considerado negar-se a ele na noite anterior. Ele tinha percebido sua vacilação, mas não lhe tinha permitido considerá-la por longo tempo. Finalmente, a indiferença dela poderia também ter sido física, pois claramente uma parede invisível se ergueu entre eles. Embora seu corpo se uniu ao seu com um intenso abandono, a parte essencial dela tinha permanecido indiferente.
Pela primeira vez com Reyna tinha sido como sempre tinha sido para ele ao longo dos anos, duas pessoas satisfazendo sua paixão e procurando alívio por suas próprias motivações. A passagem da inocência de Reyna àquela essa indiferença o tinha ferido mais do que esperava.
Tinha sido inevitável, ele supôs. Reyna não era uma moça tola. O dia em que ela começaria a examinar o que havia mais além dos encontros prazeirosos tinha que chegar. E então ela pesaria o valor do que estava entregando e o valor do homem a quem ela se oferecia.
Sua tentativa para evitar isso a noite anterior tinha sido em vão, e, Ian suspeitava, só tinha apressado o momento em que ela abrisse seus olhos.
Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda vive? Tinha sido uma pergunta tão simples. Talvez uma resposta simples teria bastado, mas duvidava.
Aquela pergunta levaria a outras, como era habitual em tais temas. Ele tinha um passado, e eventualmente ela procuraria conhecer a história que o teria trazido até ali.
Pouco podia imaginar ela que a desonra dos últimos quatro anos, a parte que ela já conhecia, tinha sido o menos grave de seu passado.
Ian tinha considerado responder aquela pergunta, mas acreditou que não podia arriscar-se. Não se atreveu a por à prova o vínculo delicado se que tinha formado entre eles, porque sua alma solitária apreciava aqueles vínculos tênues mais do que outros pensavam possível. Mas o silêncio tenso de sua rejeição e mais tarde na cama, ele havia sentido que algo do vínculo se quebrara de qualquer modo.

O crepúsculo estava se instalando quando a tropa avançava pelo caminho que levava à fortaleza de Black Lyne. Eles avançavam lentamente, com os carros carregados com o butim, armaduras e armas arrastados pelos cavalos de Armstrong.
Tinha sido uma batalha breve, seguida de um ataque surpresa, e tinha concluído antes do esperado, quando Ian desafiou Thomas Armstrong a um combate individual.
Derrotar o homem tinha sido bastante fácil, e Ian tinha perdoado a vida de Thomas em troca de um juramento de manter os Armstrongs em Clivedale, longe da fortaleza de Black Lyne e longe do cerco a Harclow.
O bom humor reinava na tropa. Por iniciativa própria os soldados comuns haviam decidido compartilhar a vitória com os membros da companhia que perderam a diversão por ter sido enviados a Harclow. Ian fazia brincadeiras, e se deixou invadir pelo clima de familiaridade e amizade.
A maior parte daqueles companheiros se afastariam de sua vida logo, ele se deu conta. Em seis meses a companhia voltaria para a França, estabelecendo um cerco em alguma outra cidade exaurida por ataques.
A maioria eram mercenários e não conheciam outro tipo de vida.
Ian ficou no acampamento fora das muralhas da fortaleza por muitas horas, compartilhando cerveja e comida trazida por alguns criados. Escutou as histórias de campanhas do passado e aventuras, deixando que o bom humor o invadisse. Uma fina garoa caíra por algum tempo quando ele finalmente ficou de pé e se foi.
Tirou a armadura, e colocou uma capa e uma túnica comprida por baixo. Se aproximou do portão parecendo um mendigo, e teve que gritar antes que o guarda o reconhecesse à luz da tocha.
As grades se levantaram. Ele fez uma pausa e olhou para trás em despedida. Logo caminhou pelo pátio deserto. Com um rangido o portão de ferro se fechou detrás dele, afogando os sons de diversão de sua tropa.
Aproximou-se da fortaleza. Uma só tocha ficara acesa perto da porta, e com sua chama quase apagando viu um corpo encolhido no meio da escada de madeira.
Lentamente subiu os degraus em direção àquele corpo. O rosto pálido de Reyna surgiu para fora da capa que envolvia seu corpo.
Esquecera-se que lhe tinha ordenado que o esperasse.
—Poderia ter me esperado no salão. Faz frio aqui fora.
—Estou suficientemente seca e aquecida. Tenho pouca experiência nisto de esperar um homem depois de uma batalha, mas uma vez esperei Robert aqui quando ele voltou para casa depois de uma viagem. Há alguns lá dentro que se lembram disso. E não queria que pensassem que honro menos a você.
Ele aceitou sua declaração sobre seu dever conjugal sem fazer nenhum comentário. Ele não podia ver sua expressão, mas seu tom tinha sido suave e cuidadoso. Como alguém termina uma discussão que nunca começou? Nenhuma palavra tinham sido dita que pudesse ser retirada, nenhum insulto do qual desculpar-se. Ela simplesmente tinha perguntado uma coisa pequena, mas igualmente era mais do que ele se atreveria a dar. E soube, no profundo de sua alma, que ela se resignou a nunca mais perguntar algo novamente.
—Pode ter pouca experiência em saudar um homem depois de uma batalha, Reyna, mas tem muito mais anos como esposa do que eu tenho como marido.
Ela inclinou sua cabeça pensativamente, e quando ela falou novamente sua voz soou mais natural.
—Sim. E sua esposa vai te enfrentar agora, por ter demorado tanto a atravessar aquele portão. Ouvi tudo sobre sua luta com Thomas, e tem feridas que deveriam ser limpas. Há água esquentando na lareira do solar, e colocarei algumas pomadas nos cortes.
A idéia de Reyna cuidando de seus cortes o agradou. Ian abriu sua capa e estendeu um braço para trazer seu corpo pequeno mais para perto do dele. Ela não estava nem morna nem seca como assegurara, mas ele se ocuparia disso muito em breve. Desejava-a, e ia aceitar qualquer coisa que ela lhe desse, e talvez, com o tempo, tudo seria como tinha sido antes da noite anterior.
—Contaram-me que deixou Thomas vivo—, ela disse.
—Não havia nenhuma vantagem em matá-lo. Se tivesse pensado que sua morte terminaria com as acusações contra você...
—Não. Estou contente que não o matou. As pessoas diriam que foi porque...— sua voz perdeu-se.
— Porque eu desejava a esposa de Thomas, e procurava liberar Margery de seu marido.
Não lhe importava o que os outros pensassem, mas não queria que Reyna especulasse sobre aquilo. Isso, pelo menos, era algo que podia dar a ela.
—Nunca existiu nada entre Margery e eu—, ele disse. —Agora saiamos da chuva.
Com sua capa flutuando ao redor de ambos, ele a guiou para casa.

 

 

 

Capítulo 17

Ian comtemplou os campos da sua posição na muralha sudeste. A seu lado estava Giles.
Ian apontou a terra ao sul.
—Andrew Armstrong diz que o rio uma vez, anos atrás, já correu mais próximo da fortaleza, e que era mas largo, cobria aqueles banhados de lá. Giles sacudiu a cabeça.
—Vi isso antes. O curso de um rio muda ou se reduz, às vezes.
—Estou me perguntando se pode mudar novamente. Por que alguém não poderia escavar e trazer o rio para mais perto da murulha?
—Esse é o modo como se fazem os fossos, claro.
—Não se trata de só desviar parte do rio para fazer um fosso, mas mover todo o curso do rio. Quero saber: quantos homens e quanto tempo precisa.
—Digamos cem homens dos campos. Não os pode usar durante a época do plantio nem da colheita, então seria só os meses de crescimento do cultivo e alguns meses antes do inverno. Se não se encontrarem rochas na escavação, e se tudo sair bem, talvez três estações.
Dois meses atrás, se alguém tivesse proposto um projeto que levasse tanto tempo, Ian haveria rido diante daquela sugestão. Agora, três anos pareciam um investimento pequeno no tempo de uma vida.
Ian deu a Giles a ordem de fazer os planos para o projeto, depois caminhou ao longo da muralha em direção às escadas. Quando desceu ao pátio, viu Reyna caminhando.
Tinha seu cabelo preso numa grossa trança arrumada ao redor de sua cabeça, mas ele sabia que ela chegaria ao jantar com o cabelo solto, do modo que ele preferia. Ela fazia aquilo para agradá-lo.
Observou-a passear tranquilamente pelo jardim com uma cesta pendurada no braço, estava indo colher flores e ervas para temperar a comida. Ela ajudava Alice em todas as refeições agora, porque ele a preferia cozinhando. Nas refeições ela conversava sobre seus planos para a fortaleza e sobre as notícias do cerco a Harclow. Nas noites ela retirava-se para ler sobre filosofia ou para escrever, e mais tarde seus braços e seu corpo davam boas vindas a ele. Aqueles encontros íntimos transbordavam de prazer, mas sempre estavam marcados por silenciosos limites que ela não se permitiria cruzar nunca mais.
Ela era bonita. Não com um rosto ou um corpo perfeitos, mas igualmente bonita. Dócil, alegre, complacente e adorável. Mais do que ele jamais tivesse esperado.
Então por que ele vivia recordando seu disfarce de cortesã, e sentindo saudades dos dias quando lhe dizia insultos como bastardo e filho da puta? Pelo menos seu antigo conflito com o desprezível Ian de Guilford possuía energia e vida. Ao contrário, aquela esposa devota e submissa prometia entrar em uma rotina que o aborreceria muito rapidamente.
Ian começou a subir os degraus da entrada da fortaleza. Um movimento e um ruído no portão o detiveram. Um guarda anunciou que um solitário cavalheiro se aproximava.
As grades se levantaram e um cavalo passou pelo portão. Seu cavaleiro girou e estudou os estandartes brancos e verdes flutuando nas torres, então lançou um olhar para o pátio. Estava sentado em seu corcel, ereto e orgulhoso, com sua armadura completa e com um capa negra colocada sobre seus ombros.
O homem teria talvez trinta anos e tinha cabelo loiro dourado. Ele girou seu rosto em direção à fortaleza, e seus olhos azuis pousaram em Ian. Quando ele desmontou do seu garanhão, sua capa negra caiu para frente e se abriu.
Ian observou a cruz branca no ombro de sua capa, e soube imediatamente quem havia chegado. Edmund, o cruzado. Ele ficou parado ali como a encarnação de um arcanjo.
Um grito surgiu do portão do jardim. Ian observou Reyna soltar sua cesta e correr como um cervo para os braços estendidos do cavalheiro loiro sorridente. Deu a Edmund um beijo de boas vindas e lhe sorriu encantadoramente.
Formando um sorriso de boas vindas que não sentia, Ian se aproximou do cavalheiresco monge. Reyna deu um passo atrás, o braço dele ainda estava apoiado ao redor de seus ombros.
—Ian, este é Edmund, de quem te contei.
—Bem vindo, Edmund. Sentimo-nos honrados de ter um cavalheiro da ordem de Saint John nos visitando.
—Alguns assuntos para o superior me trouxeram para esta área. Obrigado pelas boas vindas, já que ouvi durante os últimos dias que houveram muitas mudanças por aqui.
Sim, Edmund teria ouvido as notícias sobre o cerco a Harclow e a queda da fortaleza de Black Lyne enquanto cavalgava pelas colinas. E que outras coisas teria ouvido? Ian decidiu esclarecer a situação.
—Nossa hospitalidade sempre está aberta aos amigos de minha esposa.
O homem era hábil, Ian teve que reconher isso. Sua expressão logo mudou diante de suas palavras. Só um pestanejar de vaga surpresa.
O braço de Edmund se retirou dos ombros de Reyna. Ian podia dizer que o cavalheiro tinha muitas perguntas para fazer, e que Reyna sentiu a necessidade de dar uma explicação, mas eles não podiam manter aquela conversação agora. Eventualmente eles achariam tempo para fazer isso, e Ian se imaginou o que Reyna diria e não gostou muito.
—Conheci seu irmão, Reginald—, Ian disse.
—Ouvi que o capturou.
—Ele me disse que tinha jurado a Robert me proteger, Edmund, mas antes de me levar até você queria forçar-me a um matrimônio—, Reyna explicou tristemente. —Ele se comportou como um homem diferente. Eu não o entendi.
—Ele estava ferido, mas se curará—, Ian adicionou.
—Eu gostaria de vê-lo, se me permitir isso.
—Levarei você a ele agora. Faça que os criados prepararem uma habitação para nosso convidado, esposa, enquanto eu levo Edmund até seu irmão.
—Sei quais são meus deveres, Ian—, ela disse. —Conversaremos no jantar, Edmund. É bom te ver novamente, querido amigo.
—Meu irmão não é o mais perito dos homens—, Edmund disse enquanto Reyna se afastava.
—Não estou de acordo. Ele criou um plano brilhante, e teria ganho a ambos, a dama e suas terras, se tivesse funcionado.
—Não sei nada sobre as terras, e se Reginald lhe ofereceu casamento foi para protegê-la.
—Você pode ter tomado um voto de castidade, mas seu irmão, não. Certamente algo mais que o cavalheirismo o impulsionava, e foi uma oferta estranha de matrimônio já que não permitia a negativa dela.
O rosto de Edmund se ruborizou.
—Como ela está unida a você agora, é claro que sabe tudo sobre ofertas de matrimônio aceitas sob coerção.
—Ao menos, podemos assumir que eu me ofereci mais cortesmente que Reginald fez.
—Ou mais coercitivamente.
—Ou fui mais persuasivo.
Ian caminhou à frente para o quarto onde Reginald se recuperava. Ele destrancou a pesada porta.
Vendo os dois homens juntos, Ian pôde notar sua semelhança. Edmund era uma versão melhorada e mais jovem de seu irmão maior. Possuía um rosto mais atraente e, pelo que Reyna tinha contado, uma mente muito mais perspicaz. Entretanto, o parentesco entre ambos era óbvio.
—Os deixarei por um momento.
Ele fechou a porta e a travou. A tentação de deixar Edmund ali para sempre, para assegurar-se que Reyna nunca mais visse aquele amigo, cruzou pela sua mente.
O corredor pequeno estava mal iluminado, e então ele não notou a outra porta até que se apoiou contra ela.
Ele girou e apalpou as dobradiças de ferro e finalmente a maçaneta. A porta se abriu brandamente, e uma luz inundou seus olhos. Uma mistura de aromas encheu sua cabeça.
Seu olhar viu uma mesa coberta com vasilhas de terracota e uma variedade de plantas penduradas no teto. Ian molhou um dedo no conteúdo seco de alguns dos recipientes.
Ervas.
Caminhando pelo cômodo, ele disse a si mesmo que Reyna deliberadamente não lhe teria mantido oculto aquele quarto. Estava aberto, e todo o castelo devia saber de sua existência.
Ian recordou a visita da propriedade que exigiu a Andrew Armstrong no dia depois que a torre foi tomada. O mordomo simplesmente tinha apontado as escadas e havia dito que só as celas da prisão estavam ali e Ian não tinha suspeitado daquele lugar previsível. Se tinha existido algum engano deliberado, tinha sido por parte de Andrew.
Esquadrinhando a parede direita que não dava para a cela de Reginald, ele viu um buraco entre algumas pedras tapado por um pedaço de madeira.
Agachando-se, atirou uma pedra pelo buraco. A pedra caiu tocando uma barreira sólida no fundo. Sem dúvida havia tocado o fundo do poço de água da fortaleza.
Antecâmaras secretas, o túnel traseiro, e agora aquela oportunidade para fazer uma sabotagem à fortaleza. Robert de Kelso tinha sido um homem muito inteligente.

Ian retirou a prancha de madeira e deixou o buraco a descoberto, de modo que Reyna soubesse que ele tinha descoberto aquilo.
Retornando à cela, ele abriu a porta. Edmund tinha uma expressão amarga no rosto, e Reginald parecia tão envergonhado como uma criatura que acabava de ser açoitada.
Sem uma palavra de despedida a seu irmão, Edmund se uniu a Ian no corredor.
—Devo me desculpar por ele a Reyna—, ele murmurou enquanto subiam as escadas. —Meu irmão pode ser obstinado ao extremo. Ele interpreta qual é seu dever e segue adiante, e ninguém o pode parar. Muito útil em uma batalha, mas para outros casos...
Ian o acompanhou ao salão, onde Andrew fiscalizava como se colocavam os pratos de prata na mesa principal. Parecia que Reyna tinha decidido honrar a seu amigo com a preparação de um banquete. Ian se disse a si mesmo que não deveria se preocupar, já que ele teria os benefícios daquela refeição, pelo menos. Também, as preparações teriam ocupado Reyna e assegurariam que nenhuma conversação privada fosse mantida com seu casto cavalheiro por algumas horas. Muito repentinamente Ian decidiu que uma longa caçada para entreter seu convidado à tarde parecia uma idéia muito boa.
—Sua intenção é manter Reginald encarcerado?— Edmund perguntou.
—Até que os eventos em Harclow se solucionem e se estabeleçam condições com os Armstrongs, não vejo nenhuma outra opção. —Ele era um cavalheiro de Robert, mas se estabelecer um resgate, eu me ocuparei que os Armstrongs o paguem. Se não, tentarei pagá-lo eu mesmo. Se pudesse encontrar um modo de ser generoso nisto, eu levaria meu irmão comigo, para longe daqui. O farei jurar que não voltará.
—Ele já falhou em um juramento.
—Ele não pensou que estava faltando a um juramento, mas se o prefere, eu farei o juramento, e prometerei mantê-lo comigo.
—Pensarei sobre isso—, Ian disse. —Agora, o mordomo te mostrará seu quarto. Esteve cavalgando por muitos dias, e estou seguro que você gostaria de se refrescar.
O jantar quase tinha sido elaborada como seu banquete nupcial, e Ian tentou reprimir uma ponta de ressentimento que ele sentiu quando imaginava Reyna cheia de excitação enquanto preparava a comida. Ela manteve uma conversação animada com seu amigo, mas Ian podia sentir a tensão com que ambos evitavam os temas que mais desejavam discutir. A morte de Robert, sua tentativa de fuga, o matrimônio forçado de Reyna com o nitidamente nada santo Ian de Guilford.
Ele finalmente sucumbiu ao desejo diabólico de manchar a perfeição presumida daquele arcanjo.
—Trabalha no hospital em Edimburgh, Edmund?
—Fiz isso durante meu treinamento. Atender aos doentes é uma das missões de minha ordem.
—Sim, e libertar Jerusalém foi sua outra grande missão, não é verdade? Passou algum tempo na Terra Santa?—. Os lábios de Edmund se apertaram.
—Minha ordem não fez campanha durante meu tempo, isso lamento.
—De fato, os cavalheiros Santos não lutaram no oriente desde que se dissolveu a ordem dos Templários—, Ian disse.
—Falou-se de uma nova cruzada.
—Bem, sempre se fala disso. Diga-me, o que faz alguém da ordem dos Hospitalares quando não atendem aos doentes nem lutam em nome de Deus? Que assuntos lhe trazem para o sul?
—Sou o secretário do superior, e ajudo a verificar as propriedades da ordem.
—Ah. Então viaja para coletar rendas, aluguéis e coisas assim? Enfim as tarefas de um auxiliar...
O insulto era sutil, mas Edmund o captou.
—Meus deveres envolvem um pouco mais que isso.
—Como assim?— Reyna perguntou curiosamente.
Ela nunca tinha perguntado a Edmund sobre sua vida, Ian de repente notou. E nunca lhe tinha ocorrido indagar sobre aspectos pessoais. Ele era um monge santo que conversava de filosofia com ela e que era amigo de Robert, e isso era tudo o que ela precisava saber.
—Estamos investigando o assunto de certas propriedades concedidas a nós pelo Santo Padre anos atrás, mas que nunca recebemos. Sou formado em leis e direito canônico e me ocuparei de examinar isso. A mente inquisitiva de Reyna tinha sido estimulada.
—Propriedades da Igreja que estão em posse de outros? Mas se as petições da Igreja forem concedidas, vão desalojar a muitas famílias.
—Essas famílias sabiam quando ocuparam aquelas propriedades que não tinham nenhum direito a elas, pois o Santo Padre as concedeu para minha ordem.
—Fala de terras templárias, não é verdade?—, Ian perguntou, encantado pela oportunidade de abordar outro tema que certamente ia incomodar Edmund.
Edmund lhe lançou um olhar severo.
—Os Templarios foram dissolvidos pela Papa há quarenta anos atrás—, Ian explicou a Reyna. —A propriedade da Igreja devia ser transferida à ordem dos Hospitalares, porém, na Inglaterra, o rei a deu a seus próprios amigos. O parlamento finalmente aprovou leis para que as terras fossem transferidas à Ordem de Saint John, mas houveram muitos pedidos, pois as famílias lutaram contra aquela transferência. Presumo: o mesmo aconteceu na Escócia, Edmund?
—Sim.
—Por que eles foram dissolvidos?—, Reyna perguntou.
Edmund fez uma careta.
—Eles foram acusados de blasfêmias e práticas diabólicas, milady, e de outros crímes que não são apropriados para seus ouvidos.
—Então o Papa e os reis tomaram o ouro dos templários, e os Hospitalares tomaram suas terras—, Ian adicionou.
Reyna levantou uma sobrancelha, mostrando que considerava que aquilo era injusto. Ian sentiu a satisfação por ter manchado um pouco a aureóla de santo de Edmund.
Reyna e Edmund entraram em uma discussão de filosofia. Enquanto Ian escutava vagamente, ele se inclinou para frente e observou seus outros convidados. Anna de Leon estava interrogando Andrew sobre o estábulo, decidindo que cavalo ela solicitaria para a caça da tarde.
Ian decidiu que ia arrumar para que Edmund caçasse com Anna. Ele tinha ouvido que ela podia cavalgar mais velozmente que a maioria dos homens e tinha um olho agudo para as caças ao qual poucos se podiam equiparar. Sorriu diante da imagem de Anna afastando-se de sua escolta masculina e trazendo mais presas que o cavalheiro perfeito e casto. Deixaria que a esposa de Morvan pusesse aquele Hospitalar em seu lugar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 18

—Esta é a mensagem tal como foi dada?
—Palavra por palavra. Lorde Morvan me disse que devia esperar e voltar com sua resposta.
Ian repetiu a mensagem em sua cabeça. Não era uma ordem, a não ser um pedido. Era um reconhecimento por parte de Morvan de que Ian era o proprietário da fortaleza de Black Lyne através de seu casamento com Reyna, e que até agora, não lhe tinha jurado fidelidade a nenhum Lorde.
—Diga-lhe que irei amanhã Agora vá procurar um pouco de comida, e diga a Gregory que lhe dê um cavalo descansado.
O homem partiu, e Ian caminhou para a janela do solar. Uma brisa noturna fresca entrou por ela. Desejou que Reyna estivesse ali assim ele poderia lhe contar isso imediatamente.
Sabia que aquele chamado de Morvan ia chegar. Se havia ressentido quando não o fez pouco depois de que a fortaleza de Black Lyne tinha caído. Tinha sido como se a negativa de Morvan de aceitar sua ajuda em Harclow tivesse sido um reflexo silencioso de sua opinião sobre o valor do mercenário que lhe tinha salvado a vida.
Agora, entretanto, a situação em Harclow era crítica, e todas as espadas eram necessárias. Morvan tinha montado ataques mais agressivos durante algum tempo, e os próximos quinze dias provavelmente decidiriam as coisas. Maccus Armstrong não mostrava inclinação para render-se, e a fortaleza teria que ser tomada de assalto.
Desejou que Reyna estivesse ali. Amanhã eles estariam separados indefinidamente, talvez para sempre. Ele não se considerava invulnerável. Escalar muralhas e lutar em torres no meio de um cerco era muito diferente de uma batalha em campo aberto, e homens melhores que ele tinham morrido durante o assalto a uma torre. A estranha inquietação que tinha experimentado quando tinha cavalgado para enfrentar Thomas Armstrong o invadiu novamente, e sentiu a necessidade de refugiar-se no calor de Reyna nas horas antes da separação.
Desejou que ela estivesse ali, mas ela não estava, e ele sabia onde estava.
Reyna intencionalmente tinha convidado Edmund para visitar a tumba de Robert com ela quando a refeição da noite chegara ao fim. Ian os observou partir do salão juntos, apenas resistindo ao desejo de lhes proibir aquele passeio. Eles partiram antes que o mensageiro de Harclow chegasse.
Dando a volta abruptamente pela janela, ele desceu ao salão e logo foi para fora, no pátio.
O que importava se ela passasse tempo com aquele homem que, de todos os homens, não deveria representar nenhuma ameaça? Realmente pensava que uma sedução estava acontecendo, que o cavalheiro piedoso tentaria tomá-la sobre chão sagrado? Acreditava verdadeiramente que Reyna permitiria isso? Sua mente racional disse que não, mas igualmente imagens mentais deles juntos abraçados invadiram sua cabeça, alimentando o ressentimento e os ciúmes que sentia, e que o tinham irritado todo o dia.
Olhou em direção ao cemitério, logo distinguindo as sombras das cruzes por cima da paliçada de madeira baixa, pensando que via dois corpos sentados à luz da lua ao lado da tumba central.
Edmund, o Hospitalar. Nobre, educado e casto. Nenhuma marca em seu corpo ou em sua alma, nenhuma fome ingovernável, nenhum maldito pecado para esconder. Ele era, em muitos sentidos, uma versão mais jovem de Robert de Kelso. Não lhe surpreendia que Reyna se sentira primeiro atraída por ele.
Edmund também era, de muitas formas, o oposto de Ian de Guilford. Ela não desconhecia aquele agudo contraste. O rei Alfred e agora o Santo Edmund. Uma coisa tinha sido competir com a memória de um homem morto. Mas este aqui estava vivo e respirava.
Ela não está dormindo com ele, mas está lhe dando partes dela mesma que não compartilha comigo.
Ian ficou de pé sobre o muro, esperando algum movimento no cemitério, resistindo ao desejo de ir buscá-la. O tempo passou e com cada segundo suas reações irracionais cresciam e seu pensamento racional retrocedia. Amanhã ele a deixaria, só Deus sabia por quanto tempo, e ela escolhia passar aquele último tempo com aquele homem. Que ela o estivesse fazendo sem sabê-lo não pesava muito em sua raiva.
Quando pareceu que uma eternidade havia passado e ele ainda não os via emergir pelo portão do cemitério, Ian girou e caminhou de volta para o solar.
Reyna terminou suas preces e se sentou para trás, sobre os seus calcanhares, olhando o cavalheiro ajoelhado com os olhos fechados do outro lado da tumba. Ele parecia um pouco misterioso naquela noite ventosa.
—É bom vir visitar aqui—, ela disse, arrastando seus dedos pela terra. Seu coração parecia estar cheio das lembranças de Robert, e sentiu o consolo de seu amor atravessando a eternidade para alcançar a ela.
—É bom estar aqui com alguém que o conheceu como eu.
Edmund se moveu e se sentou no chão com a tumba entre eles, uma conexão mais que uma separação.
—Trago-lhe um manuscrito. Uma cópia de um dos Diálogos de Platão, em grego original. Se lê diferentemente das traduções, penso que deve o ter.
—OH!, Edmund, obrigada. Não temos nada de Platão. Deveria me deixar te pagar por isso.
—Não me custou nada. O superior o tinha em sua biblioteca, e um dos irmãos fez uma cópia para mim. Além disso, não acredito que seu novo marido quereria que gastasse dinheiro desse modo.
Reyna sabia que Edmund educadamente estava levando a conversação em direção a seu matrimônio, mas ela não queria discutir isso ainda.
—É uma alegria ter algo novo para ler.
Ele entendeu a indireta e que eles falariam sobre os livros que ele tinha lido desde sua última visita. Invejava a variedade de experiências possíveis por ser homem e por viver perto de uma cidade. Ian tinha desfrutado desse tipo vida também, e ela se perguntava como ele podia estar contente de estar encerrado no isolamento daquela torre.
—Estou contente de ouvir que ainda aprofunda seus estudos,— Edmund disse. —Durante o jantar dava-me conta disso, pois suas idéias são provocadoras. Não me tinha dado conta quando te visitei o ano passado quanto tinha crescido sua mente.
—Eu era uma adolescente quando nos conhecemos. Cinco anos é muito tempo em uma vida jovem. Já não sou uma menina.
—Não, não é—, sua cabeça se inclinou. —Me conte sobre sua morte, Reyna. Ouvi que...
—Sei bem o que ouviu. O quanto longe viajou essa história? Não até Edimburgh, espero.
—Não até Edimburgh.
Ela descreveu a enfermidade abrupta e a morte rápida de Robert, sua voz comovida quando relatava seu sofrimento.
—Pode ter sido uma morte natural, Reyna? O corpo humano é muito complexo, e ele era velho.
—Poderia ter sido, mas não parecia isso. Ninguém acredita que foi, de qualquer maneira.
—Não há nenhuma pista de quem fez isto? Nenhuma evidência além da que sugere que foi você?
—Ian sempre me faz perguntas sobre isso. Ele quer descobrir para que não exista nenhuma suspeita sobre mim. Eu também estou tentada a descobrir a verdade também.
—E o que descobriu?—
—Nada. Procurei nos cômodos daqueles que viviam na fortaleza naquele tempo, nem sequer sabia o que estava procurando. Finalmente, tudo foi em vão.
—E seu marido? Ele não descobriu nada?
—Ele prometeu lutar por mim em um julgamento por combate se for necessário. Confio em que não chegaremos a isso.
—Crê que ele fará isso?— Ela ouviu o cepticismo em sua voz.
—Ele prometeu que ele o faria—. Um suspiro atravessou o sepulcro.
—Reyna, aquele tipo de homem só vive para si mesmo e seus lucros. Se puser sua confiança nele, temo que vai ser horrivelmente decepcionada. Você não o conhece. Ele não é como diz.
—Verdadeiramente crê que ele vai te proteger? Que vai arriscar sua própria vida para salvar a uma esposa que pode ser facilmente trocada, e cujos bens já foram entregues a ele?
—Eu não valho nada para ele. Morvan lhe entregou estas terras de qualquer maneira.
—Morvan pode falhar em Harclow. As possibilidades são que pode ganhar ou pode perder.
Ela não necessitava que Edmund lhe recordasse os modos como aquele matrimônio havia sido conveniente para Ian. Uma semana atrás, ela tinha visto aqueles fatos e os havia aceitado como realidades com as quais devia viver.
—Está segura que ele verdadeiramente procura provar sua inocência, Reyna?—, sua voz saiu lenta e cuidadosamente.
—O que quer dizer?
—Por que ele não te mandou para longe daqui? Por que não se preocupa com sua segurança até que tudo tenha sido iluminado? Desse modo, se ele não tivesse êxito no combate, você ainda estaria protegida.
—Há um julgamento pendente, devo estar aqui para falar por mim mesma.
—Assumindo que Morvan mantenha o controle destas terras talvez tudo resulte bem, mas se ela não o fizer, se Harclow não cair, Morvan e seu exército deixarão esta região, e a fortaleza de Black Lyne não demorará para ser tomada pelos Armstrongs. Talvez é por isso que Sir Ian precisa de você aqui. Sua lealdade é para si mesmo, eu acredito, e ele servirá a quem ofereça mais, inclusive a Maccus, se isso significar obter o que quer. Renunciar a uma esposa que já cumpriu seu propósito seria um custo muito pequeno.
Sua sugestão continha uma possibilidade cruel mas prática que sua mente não podia ignorar, mas seu espírito se rebelava contra aquelas acusações.
—Nunca me teria casado com ele se o pensasse capaz disso.
—Penso que teve poucas opções.
—Está equivocado nisso também. Eu definitivamente tive uma opção. Várias, de fato. Eu podia ter retornado com meu pai. Podia ter aceitado ir com o Reginald.
—A opção de Reginald veio antes que a de Ian, e você tomou cada decisão independentemente uma da outra. Quer dizer que se todas elas se tivessem apresentado juntas, ou ir para Edimburgh, ser a esposa de Reginald ou ficar aqui como esposa de Ian, teria escolhido a última, com todos os perigos que trazia?
Era uma pergunta devastadora, de um modo que ele não podia adivinhar. Ela realmente estivera fazendo escolhas à medida que elas se apresentavam, uma de cada vez. Ela havia dito a si mesmo que era Ian ou Duncan, e a escolha tinha sido inevitável uma vez que Ian tinha aceitado manter o segredo de Robert.
Agora Edmund a forçava a enfrentar uma nova realidade. A segurança ao lado de Reginald teria sido a opção sensata, lógica.
Mas nunca teria sido a que ela teria tomado.
Edmund interpretou mal seu silêncio perplexo.
—Ian manipulou a situação para te coagir. Um matrimônio feito sob semelhante pressão não precisa continuar.
—Ninguém me forçou a assinar o contrato nupcial, Edmund. Não fui drogada nem golpeada para fazê-lo.
—Uma mulher não precisa ser golpeada para render-se. Este matrimônio pode ser anulado.
Ele levou sua mão entre as suas. Uma mão fria e seca, ela notou, muito menos áspera que a de Ian. Mas como a de Robert. A mão de um homem bom, mas com menos vida e sangue que a mão de Ian do Guilford.
—Sou conhecido pelo bispo de Edimburgh, Reyna. Quando ele ouvir como aconteceu isto, certamente dissolverá os votos matrimoniais.
—E então o que, Edmund? Vai me oferecer a opção entre Ian e Reginald que alguma vez tive?
—Meu irmão está fora disto. Ofereço-te liberdade e segurança, e meu amparo que estava ali para você desde o primeiro momento. Agora que as defesas desta fortaleza relaxaram não será difícil escapar. Vêem comigo, Reyna, e nunca mais sentirá medo novamente.
Ela olhou para o monte de terra. Sua última oração havia lhe trazido lembranças da primeira vez que tinha visto Robert, e as primeiras palavras que lhe havia dito. Ele tinha chegado à casa de Duncan para seu matrimônio um dia antes do esperado. Ela não estivera no pátio para saudá-lo porque Aymer, zangado por alguma desobediência de sua parte, a tinha arrastado à cripta e a tinha trancado para que ela lutasse contra o terror e a escuridão.
Exigindo conhecê-la, Robert tinha feito com que a trouxessem. Por um momento, enquanto olhava a tumba, ela era novamente aquela menina de doze anos, encolhida contra a parede da cripta, lutando para manter sua sanidade mental. E então, de repente, uns passos soaram nos degraus de pedra, e a luz de uma tocha quebrou a eternidade negra, e uma mão se estendeu em sua direção.
—Virá comigo, criança, e nunca mais ficará assustada novamente.
A lembrança se afastou e ela estava olhando fixamente sua mão apertada. Sentiu a presença de Robert de repente, de um modo incrivelmente comovedor, como se ele permanecesse ao lado dela. Fechou os olhos e sentiu seu espírito tentando falar com ela.
Talvez as almas no céu conheciam o futuro. Era a oferta de Edmund, ditas em palavras tão semelhantes à promessa de Robert, um sinal? Era o espírito de Robert persuadindo-a a aceitar a seu amigo? Robert sabia que se ela recusasse a oferta, tudo seria como Edmund predisse, e Ian a abandonaria?
A imagem de seus pesadelos, de seu próprio rosto azulado pela falta de oxigenio e seu pescoço se estreitando, assaltou-a. Ian era um mercenário e um oportunista, e definitivamente ela podia ser substituída sem dificuldade pelo encantador homem conhecido como o Lorde das Mil Noites.
—Eu organizarei isto e não interpretarei mal meu dever como o fez meu irmão. Estará muito longe daqui antes que seu marido se dê conta. Edmund a persuadiu com um sussurro.
Ela sabia que tinha que tomar uma decisão agora, pois eles nunca teriam a oportunidade de falar a sós novamente. Ela se balançou em muitas emoções confusas.
O pânico a dominou, e sua mente se nublou com dúvidas e medo.
Então uma brisa se levantou e lhe acariciou o cabelo, como a mão de Robert tinha acariciado suas tranças quando tinha partido em uma viagem. Seus olhos se fecharam enquanto sua memória e sua presença a invadiu totalmente, trazendo consolo e fazendo desaparecer a confusão. Ela suspirou com o alívio que ele dava.
Quando se acalmou, sentiu sua presença retroceder, levando toda a confusão com ele à medida que partia, tirando as sombras de seu coração para que ela pudesse ver o que havia ali dentro mais claramente.
Com dolorosa reticência, voltou seu olhar interior para o que tinha descoberto. Outra emoção ardia em seu coração, atemorizante e tentadora, mas emitindo um forte calor. Ela reconheceu sua existência, e sua aceitação atuou como um combustível que o fez arder com mas força.
Mas não é como o amor que tive por você, Robert, ela silenciosamente argumentou.
Poderia haver muita dor e pouca satisfação naquele amor.
Novamente a brisa acariciou seu cabelo reconfortando-a.
Ela cuidadosamente retirou sua mão da de Edmund. Toda a lógica do mundo, todas as análises dos perigos potenciais, não teriam tido nenhuma força contra o que ela sentia agora mesmo. Não duvidaria de Ian, e se ele em última instância a abandonasse, que assim fosse.
—Ele é meu marido, Edmund. E o aceitei como tal em meu coração, e nenhum decreto de um bispo pode desfazer isso.
Ela viu seu corpo estender-se e endireitar-se, e sentiu seus olhos que a escrutinavam na escuridão.
—Reginald me disse que era assim, mas eu não podia acreditar.
—Não sei o que Reginald disse, mas...
—Disse que este cavalheiro estava brincando com sua dor e sua solidão. Que te seduziu de uma forma insidiosa e coersiva, e que uma mulher é mais vulnerável à sedução que à violência. Talvez ele tinha razão, mas isso não mudava nada. Sua decisão derivava de suas próprias emoções e motivos, não dos de Ian.
—Ele não me seduziu. Não compartilhei a cama com ele até depois de nosso matrimônio. Mas existia um afeto peculiar entre nós, e não fingirei que não existia.
—Reyna, o que você interpreta como afeto não é mais que luxúria. Essa fome da carne passa, especialmente com homens como ele.
—Não conhece meu marido, e entretanto fala de seu caráter e de suas intenções com tanta certeza.
—Perguntei sobre ele esta manhã. Os criados me conhecem, e estavam dispostos a conversar.
Sim, eles encheriam os ouvidos de Edmund, Reyna não tinha dúvida disso.
—Pode ser que somente haja luxúria entre nós, mas ele é meu marido agora, o aceito por minha própria vontade. Não mentirei a um bispo para desfazer este matrimônio. Considera-me tão pouco digna de afeto que é impossível que um homem sinta algo por mim, Edmund?
—Sabe que isso é uma tolice. Robert teve um afeto ilimitado e um amor profundo por você. Isso surpreendia a qualquer um que o visse.
Robert me amava como a uma filha, ela queria dizer.
—Partirei amanhã, Reyna. Se mudar de idéia, mande me dizer em meu quarto esta noite. Há alguém aqui em quem pode confiar?
—Alice, mas não mudarei de idéia. Deve partir tão cedo?
—Devo fazer o trabalho para o superior, e apesar da hospitalidade de Ian, não gosta de minha presença.
Enquanto eles caminhavam em direção à fortaleza, Reyna podia sentir uma nova distância crescente entre ela e Edmund. Ele era tão parecido com Robert que lhe oprimia o coração saber que ele estava reconsiderando sua opinião sobre ela, e não era para melhor.
Eles fizeram uma pausa fora do portão.
—Te perdi como amigo agora, como perdi a Reginald?—, ela perguntou suavemente.
Edmund tomou suas mãos e as beijou.
—Não, milady. Sempre estarei aqui para você, embora acredito que é improvável que nos encontremos novamente por um longo tempo. Ian não gosta de nossa amizade.
—Ele não vai negar-me ver meus amigos.
Ele a olhou à luz da tocha.
—Se convier a seus propósitos, ele te negará o que quer que seja. Mas temo que se fosse forçado a fazer a uma escolha, negará até sua vida.
O silêncio envolveu a fortaleza. Era muito tarde e todos dormiam, Reyna notou. Ela e Edmund tinham conversado por mais tempo do que imaginava.
Ela subiu ao quinto piso e fez uma pausa no corredor. Uma tocha iluminava o recinto, e ela acreditou que Ian tinha ordenado que ela permanecesse acesa para ela. Provavelmente ele já dormia mas ela esperava ansiosamente para estar a seu lado. Necessitava de sua certeza, do calor de sua força naquele momento.
Quando se aproximou da porta do solar, esta se abriu e uma figura com saias saiu. Uma cabeça envolta com um lenço voltou com um sorriso brilhante que se apagou quando enfrentou Reyna. Eva se ruborizou violentamente e se afastou correndo pelas escadas.
Reyna olhou fixamente para a porta do solar. Um estupor invadiu seu corpo como se alguém lhe tivesse derrubado um balde de água gelada sobre o corpo.
O bastardo.
Fervendo com dor e fúria, ela entrou em seu próprio quarto. Com a escassa luz da lua que entrava pelas janelas ela procurou na escuridão uma brasa acesa na lareira. Chocando-se com a mesa e a cama, ela caminhou para fora do quarto e tomou a tocha do corredor, logo retornou com a luz para si mesmo. Preparou-se para ir para a cama com a cabeça cheia de maldições e insultos dirigidos à alma negra de Ian de Guilford. Enquanto retirava o vestido azul, seu olhar recaiu nos pergaminhos empilhados em seu escritório. A carta para Lady Hildegard não havia progredido muito. Vários dias ela tinha passado sentada ali com a pena na mão, tentando formar suas frases em latim, só para descobrir que as horas passavam sonhando acordada com o homem que consumia seus pensamentos.
Um enorme engano, sem dúvida. O filho de puta. De repente desejou ser tão grande e forte como Lady Anna. Desejou poder usar seus punhos naquele homem e que ele o sentisse. Poderia não ser capaz de tocar o coração daquele mercenário se o insultasse, mas seria muito agradável pelo menos ver contusões em seu corpo.
Com movimentos bruscos ela tirou as meias e a camisa, levantou o lençol. Ela golpeou o travesseiro e se moveu impacientemente para encontrar um pouco de comodidade naquela cama estreita e fria. Talvez devesse ir ter com Edmund e lhe dizer que tinha mudado de idéia. Até poderiam escapar aquela mesma noite. Deus sabia que Ian tinha bom motivo para dormir profundamente.
Seu recentemente reconhecido amor piscou com sua afronta, lhe dizendo que ela não faria uma coisa assim. Ela enfrentou a emoção como se fora um corpo estranho que se entremetia em seu espírito. Não vai me controlar, lhe advertiu perigosamente. Não deixarei que faça isso. É uma forma de tortura, e eu continuarei negando combustível porque se te alimento crescerá até se converter no fogo do inferno.
Ela se perguntou se Anna ainda estaria acordada. Anna não gostava nada de Ian, e elas poderiam procurar um pouco de vinho e xingá-lo...
—Que diabos está fazendo aqui? A voz baixa e severa vinha da entrada. Reyna voltou sua cabeça para ver Ian. Ela tinha estado tão distraída por seus pensamentos furiosos que não tinha ouvido a porta sendo aberta.
—Dormindo. É rude que me desperte assim.
—Não estava dormindo. Ouvi quando entrou.
Ele caminhou para dentro do quarto e a olhou severamente. Ela se sentou apoiando-se contra a parede, observando a tensão de seu corpo e os reflexos profundos em seus olhos. Ele parecia tão zangado quanto ela se sentia.
—Esteve até mais de meia-noite com aquele homem—, ele disse incisivamente.
—Ele é um amigo a quem raras vezes vejo, e tínhamos muito para conversar.
—Aposto que sim. Debateu sobre filosofia todas estas horas, Reyna? Sua insinuação fez que seu sangue se acelerasse. Ele acabava de deitar-se com Eva, a de seios grandes, e se atrevia a lançar acusações a ela. A tensão para controlar sua fúria lhe fez doer a cabeça. Ela só o olhou, encontrando sua pergunta com o mesmo silêncio frio ele tinha usado uma certa vez com ela.
Com um movimento abrupto ele virou para a escrivaninha, agarrou-a e o lançou violentamente contra a parede. Uma tábua se partiu com a força do choque. Os pergaminhos e as penas voaram em todas as direções e caíram tremendo no chão como arrasadas por uma tormenta de outono.
Seu controle frágil se rompeu ao ver sua escrivaninha quebrada. Correndo afastando o cobertor, ela saltou a seus pés.
—Você, seu desprezível filho do diabo. Que direito tem...
—É minha esposa. Se eu te perguntar o que esteve fazendo esta noite com aquele homem, você vai responder isso.
—Passamos a maior parte do tempo falando mal de você.
—E o resto do tempo?— Emoções complexas e vis irradiaram dele, perturbando o ar no quarto, mas não se importou nem um pingo.
—De que se trata tudo isto? Por que se sente ofendido agora? Ainda crê que Edmund e eu compartilhamos esse tipo de amor? Está louco. Ele é um cavalheiro com votos de celibato. Não julgue a todos os homens por seus próprios parâmetros vis, inglês filho da puta.
—Meus parâmetros podem ser vis, mas posso me dar conta quando um homem quer algo apenas de vê-lo. O que era que São Edmund queria de você, esposa?
Uma paz perigosa e fria arrastou o calor de sua fúria. Ela realmente não se havia acalmado, simplesmente tinha encontrado o centro de sua tormenta. Eles se enfrentavam a uma curta distância de separação, dois corpos tensos e dois pares de olhos que não vacilavam.
—Edmund queria me levar daqui—, ela disse. —Ele não confia em você para me proteger se isso não o beneficiar. Como uma idiota, recusei-me, mas logo que subi aquelas escadas lamentei aquela decisão. Sua mandíbula se apertou.
—Então veio aqui para estudar sua filosofia e reconsiderar sua decisão? Para submeter aquela decisão a uma lógica fria e considerar suas opções?
—Vim aqui porque uma puta estava saindo de sua cama quando passei pela porta do solar.
Ele não respondeu à sua acusação, mas, que podia dizer? Os ventos da fúria começaram a crescer nela novamente.
—Era sua intenção que os encontrasse juntos, Ian, ou o teria agradado que me inteirasse pelas fofocas dos criados amanhã? Me diga, canalha fornicador, mandou-a chamar porque eu não era suficiente para satisfazer sua fome voraz, ou planejou isto como uma vingança e castigo porque me atrevi a me demorar com meu amigo e não o atendi como faço habitualmente?— Seus olhos ficaram mais quentes, mas ela não se retratou. Se sentia muito ferida e zangada para sentir algum medo. Uma tensão horrível se estabeleceu entre eles. Ela quase esperava que ele a golpeasse para poder lhe lançar alguns golpes, embora só fosse para aliviar a tensão nela.
Ian se voltou, as mãos sobre seus quadris.
—Se tivesse sido como você diz, teria sido exatamente o que merecia. Deveria ter estado aqui, e não com ele.
—Maldição! Edmund é um amigo que me preza como você nunca o fará. Como uma idiota escolhi contra toda lógica confiar em você mais que nele, e como um menino rancoroso, se irrita porque por uma noite não teve toda minha atenção.
Ele se voltou para enfrentá-la com uma expressão surpresa, mas seu rosto rapidamente se fez duro.
—Nem menino nem rancoroso, só um homem que quer a sua esposa com ele na noite antes de partir para uma guerra, Reyna.
Um murro na cara não a poderia ter chocado mais. A gravidade de suas palavras lhe apagou completamente a raiva.
Sentiu de repente o torvelinho de emoções que batalhavam nele. A raiva e o desejo carnal, ela os reconhecia, mas haviam outras correntes ali também, algumas pouco conhecidas.
—Quando soube disso?—, ela perguntou.
—Um mensageiro veio pouco depois que deixou o salão. Partirei amanhã.
Sua voz era amarga.
—E por que não me disse ou mandou alguém para me dizer?
—Era claro que queria conversar com seu cavalheiro e discutir seus infortúnios. Pressenti que ele queria algo de você mas não pensei ele seria tão valente para violar minha hospitalidade tentando roubar minha esposa.
—Isso explica, não é que...— ela deixou que as explicações morressem. Não queria conversar mais sobre Edmund. A preocupação e o medo substituíram sua raiva.
As advertências de Edmund, o sorriso de Eva, até aquela discussão, tudo se converteu imediatamente em algo insignificante.
Em algumas horas Ian estaria partindo. Não estava indo para uma batalha rápida na fronteira, mas para um cerco perigoso onde homens morriam todos os dias enquanto escalavam as muralhas, enquanto eram atacados com flechas e fogo.
Eles ainda estavam um em frente ao outro, tensos, como estátuas de pedra decorando um jardim açoitado por um vento forte e sem som.
—Por quanto tempo irá?
—Por umas semanas. Um mês. Até que termine o cerco.
Duas semanas. Um mês. Para sempre.
—Vai sozinho?
—Levarei a maior parte da companhia comigo. Seu convidado tem que partir amanhã porque o portão se fechará quando nós partimos e ninguém entrará até que eu mande meu sinal.
Ele não estava olhando para ela diretamente, mas ela podia ver chamas ardendo nas profundidades de seus olhos.
Doeu em Reyna o abismo entre eles. Mas igualmente ela deu um passo, e levantou uma mão na tentativa para tocá-lo. Mas a deteve, sem completar seu caminho.
—Então nós viveremos como se estivéssemos sob cerco até que você volte?
—Não. Morvan ordenou que sua esposa e sua irmã sejam enviadas a Carlisle. Você irá com elas.
A ida a Carlisle soava tão permanente, como se ele a estivesse mandando para o outro lado do mundo.
—Esta é minha casa, Ian. Não entendo.
—Estará segura lá.
—Estarei segura aqui.
—Se Morvan falhar e eu morrer...
Uma angustia cheia de medo, arrependimento e amor estava crescendo dentro dela, e sua garganta se apertou e seus olhos ardiam.
—Tinha razão. Eu deveria ter estado aqui. Você esperava que me ocupasse das preparações, e sua partida está atrasada agora por minha culpa. Despertarei aos criados em umas horas e prepararemos...
—Importam-me um caralho as preparações.
Ele estendeu suas mãos e a agarrou com força. Um movimento violento que a surpreendeu tanto que ela exclamou. Suas mãos aferraram a parte superior de seus braços virtualmente levantando seus pés do piso, e ele a olhou com loucura.
—Para uma viúva casada durante doze anos, há muito que não sabe sobre ser uma esposa.
O perigo em seus olhos e o aperto brutal de suas mãos deveriam havê-la assustado, mas não o fizeram.
—Então cumpre a você me ensinar—, ela sussurrou.
Com um movimento brusco, ele a empurrou em um beijo urgente e um abraço rude.
Os dedos capturaram sua cabeça para que ela não pudesse evitar a boca apertando seus lábios, devorando seus maus pressentimentos, exigindo seus direitos. Não havia nenhum pedido de submissão voluntária em seu assalto selvagem. Seu corpo respondeu com uma onda de calor, e seu amor ardeu diante daquela evidência, aonde quer que ele a dirigisse, ela claramente precisava e queria ir.
Ian levantou sua cabeça e o sangue voltou a circular em sua boca extasiada. Através de olhos nublados ela viu sua expressão inflexível. Ele se apegou a seu corpo, com uma mão ele apertou suas nádegas de maneira que seu membro rígido roçasse seu ventre.
—Sim, isto é que a idéia de nossa separação me produz—, ele murmurou roucamente, examinando seu rosto como se procurasse memorizá-lo. —Se estou sendo pouco menos que gentil, se culpe a você mesma por me haver dado tanto tempo para pensar nisso.
—Não penso em culpar a ninguém.
—Pode pensar diferente antes que esta noite termine.
Ele a beijou novamente, menos violentamente.
—Ocuparei-me de que você não esqueça rapidamente que é minha. Se outro homem te olhar, serão meus olhos os que verá em seu rosto, e de noite em seus sonhos não será algum fantasma a te possuir mas eu. Se seu cavalheiro santo te seguir a Carlisle, sentirá as mãos deste diabo sobre seu corpo enquanto ele tenta te persuadir e sentirá a respiração deste mercenário em seu ouvido enquanto ele tente te convencer que o ouça.
Ian a levantou em seus braços, e seus beijos quentes queimaram sua boca e seu pescoço enquanto o quarto e o corredor para o solar ficavam nublados. Ele a soltou sobre sua cama e arrancou o lençol que ela ainda apertava contra seu corpo. Completamente vestido, ele desceu sobre dela, separando suas pernas, acomodando-se entre elas. Uma mão acariciou a parte interna de sua coxa seguindo um caminho que concluía na umidade de seu sexo.
Seu braço rodeou seu ombro e se entrelaçou em seu cabelo, sujeitando sua cabeça para que ela o olhasse diretamente. Ela viu seu triunfo quando ele descobriu sua próprio excitação, mas não lhe importou. Ansiava dolorosamente ser completada por ele, e gemeu de alívio quando ele entrou nela com um movimento duro.
Era pouco menos que gentil. Naquela posse primitiva, seu corpo se abateu sobre ela uma e outra vez enquanto a ira da paixão girava ao redor deles. Ele curvou suas pernas para poder penetrá-la mais profundamente, e as investidas violentas levantavam seus quadris com sua força. Ian observou sua reação àquela contundente reivindicação de seus direitos. Ela ficou impotente contra aquela invasão espiritual e quando o êxtase começou a crescer e ela começou a responder às investidas dele.
—Sim, Reyna—, ele disse quando sentiu os primeiros espasmos dela. —Robert pode ainda ser o dono de seu coração, e seu monge pode inspirar sua mente, mas é completamente minha. Não me vai negar nada esta noite. Ela sabia que ele não falava só de coisas físicas, mas ela não encontrou a vontade para despertar sua resistência. Reconhecer seu amor tinha debilitado os muros frágeis que temerosamente protegiam seu coração.
Ao calor daquela paixão, a posse agressiva se converteu em uma unidade compartilhada entre almas. Ela alcançou uma onda de prazer turbulento em seu êxtase frenético. Eles se fizeram um em um feroz momento cheio de ofegos, gritos e arranhões, fundindo-se em um rapto violento.
Permaneceram entrelaçados e esgotados, os corpos colados pelo suor e o abraço.
Ela lentamente se fez consciente da respiração em seu ouvido com que ele tinha prometido marcar sua memória. O som lhe recordou a separação iminente. Ela fechou seus olhos escutando seu ritmo, e tentou suprimir a tristeza que queria intrometer-se na perfeição daquele momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulo 19

Ela acariciou suas costas, e ele sentiu seu contato sobre o tecido da túnica. Ela moveu sua mão pelo lençol sem desfazer da cama abaixo deles e o alisou. Ian se levantou sobre os antebraços para olhá-la. A viu raciocinando que ele ainda estava vestido, e que a cama não tinha sido usada antes. Ao comprovar isto ele experimentou uma irritação renovada porque ela não tinha perguntado sobre Eva antes de acusá-lo. A maior parte de sua raiva ferida tinha sido absorvida pela paixão, mas não toda.
—Talvez tenha lhe tomado no chão ou contra a parede...
Ela desviou o olhar com uma expressão desalentada, e ele se sentiu culpado por machucá-la deliberadamente especialmente agora, depois de terem feito amor.
—Isso é uma idiotice minha—, ele sussurrou, aninhando-se em seu ouvido. —Eu não a chamei. Ela veio sozinha, terminar o pedido que ela começou a fazer no pátio na semana passada. Há um jovem arqueiro em minha companhia que é amigo dela, mas ele não a toca. Por minha ordem.
—Ela pediu permissão a você para deitar-se com outro homem?
—Algo assim. Duvido que Eva esteja preocupada com tais formalidades, mas o homem considerou prudente. Ele quer casar-se com ela. O pai dela não tem nenhum filho varão, e eles iriam para suas terras.
—Ela quer partir?
—Eu lhe disse que tinha que te perguntar para ver se você poderia se arrumar sem ela.
Reyna enrugou sua frente pensativamente.
—Não sei se posso. Ela é uma excelente costureira. E se meu marido decide usar uma mulher de maneira regular, poderia ser útil tê-la aqui.
Ele olhou para baixo, à evidência de sua rude posse. As marcas de seus dedos apareciam onde ele tinha agarrado seus ombros, e uma dentada vermelha marcava seu pescoço. Seria visível para todos amanhã e ele suavemente beijou o lugar, pensando que se pudesse deixar aquela marca permanente, o faria.
—Te diria que sinto, mas em realidade não o lamento.
—Eu tampouco.
Ele permaneceu deitado por um momento, agradecido porque ela nem o lamentara nem estivesse ressentida pelo que ele tinha forçado.
Ian deslizou para fora da cama e tirou suas roupas, logo foi à lareira onde um balde de água esquentava para o banho da manhã. Molhando um pedaço de pano, ele voltou e se sentou perto dela, apertando o tecido contra as marcas que ele tinha deixado. Moveu-se mais abaixo para levar a compressa morna entre suas coxas. Em sua mente ouviu o eco das palavras de Morvan, ditas naquele quarto:
—Maldição, Ian, Elizabeth não te ensinou nada?
Sim, lhe tinha ensinado muito, mas enquanto esperava Reyna naquela noite, aquelas lições e seus anos as aperfeiçoando tinham sido esquecidos. Ele se tinha convertido em um adolescente inexperiente novamente, consumido por necessidades cruas, e todas elas estavam concentradas em Reyna. A idéia de compartilhar qualquer parte dela com outro homem o enlouquecia. Ele tinha entrado no quarto cheio de emoções furiosas, e a raiva e a paixão dela o tinham desequilibrado completamente.
Então, vendo o que havia nele, ela simplesmente se abriu para absorvê-lo.
Ele passou o tecido por seu corpo, observando a pele abaixo de sua mão, acendendo lembranças em sua cabeça. Coisas incontornáveis ainda davam voltas dentro dele, suavizadas mas não suprimidas pela paixão, perturbando-o com seu poder. A idéia de deixá-la o entristecia de um modo assombroso, oprimindo seu coração com a dor que uma criança poderia sentir quando era separada de sua mãe. Talvez teria sido melhor havê-la evitado aquela noite e nunca lhe solicitar que cruzasse aqueles limites. O custo poderia ser muito alto, especialmente se ela se retraísse novamente.
Ian girou sua cabeça e seus olhares se encontraram. Seu rosto parecia muito jovem e doce, mas seus olhos eram os de uma mulher sábia.
—Seu pai que queria que fosse sacerdote ainda está vivo?—, ela fez a pergunta como se nunca a tivesse feito antes, mas seu olhar continha um desafio.
Sim, teria seu custo. Essa era Reyna. Ela nunca entregaria nada sem saber se haveria uma devolução.
—Ele não está vivo—. Ele se preparou para a próxima pergunta, e a seguinte, e começou a sentir o sabor da perda dela depois que todas elas tivessem sido perguntadas e respondidas. E logo ele quase gemeu de alívio quando ela escolheu seguir um caminho indireto em vez do direto.
—Ele morreu quando você ainda era adolescente?
—Ele morreu quando eu tinha 19 anos, pouco antes de ir à corte. Ele tinha organizado me mandar com um parente para lá.
Era a verdade, embora incompleta.
—Seu parente servia ao rei?
—Ele era um funcionário secundário. Ele me levou para sua casa. Nenhuma mentira, até ali.
—Viveu com ele todo tempo?— Sim, uma pergunta levaria a outra, e ele viu onde estes estavam indo. Não poderia negar-se a ela sem perder o que acabara de lutar por recuperar, mas o aborrecia o julgamento que o aguardava. —A peste veio pouco depois que eu cheguei. Meu parente estava longe de casa, e morreu disso. A família se mudou a um dos solares de sua esposa em Sussex até que a peste passasse.
Ele fez uma pausa, perguntando-se se poderia deixar o relato ali. Provavelmente não. Estando a sós com Christiana em Carlisle, ela poderia inteirar-se sobre o menor de seus pecados.
—Eu fiquei com sua esposa por dois anos, vivendo dos prêmios dos torneios, principalmente.
—Depois partiu para a França?
—Vivi sozinho por um ano depois disso, antes de ir procurar fortuna na França.
Ela imediatamente encontrou as falhas no relato.
—Por que? Brigou com a esposa de seu parente?
Quando ele não respondeu, suas sobrancelhas se levantaram e ele observou como as peças caíam em seu lugar.
—A mulher que mencionou aquele dia... do acordo com Morvan... era a esposa de seu parente?
—Sim.

Ele se sentiu aliviado porque ela não parecia tão atônita.
—Ela deve ter sido muito mais velha que você ou Morvan.
—Ela era a segunda esposa de meu parente, e muito mais jovem que ele. Mas sim, com idade suficiente para ser minha mãe.
—Amou-a?
Ela queria que ele dissesse que tinha estado louco de amor. Elizabeth não tinha sido um familiar de sangue, mas ela tinha estado aparentada com ele por seu matrimônio. Embora aquele tipo de relações não era desconhecido na sociedade, não eram aceitáveis. Afirmar que ele estivera apaixonado faria tudo aquilo mais digerível, mas ele acreditou que não devia mentir para ela.
—Amei-a na medida que pude, o que não era muito. Menos do que devia. Mais do que ela queria.
—Por que terminaram?
Porque deixei de lhe ser fiel, que era tudo o que exigia de seus amantes. Porque eu sabia que ela amava outra pessoa e me resentí disso, embora eu nunca teria sabido o que fazer com o amor dela se tivesse sido dirigido a mim. Porque os dois nos havíamos curado de nossas piores feridas, e era o momento de viver vidas separadas.
—Elizabeth tinha muito de minha mãe, e tivera sido muito tentador ficar para sempre sob sua asa protetora. Mas igual a uma mãe, também chegou o momento de partir.
—Acredito que posso entender isso. Passava algo assim entre Robert e eu.
De todas as reações que ele esperava, a última teria sido a daquela compreensão tranqüila.
Ela o surpreendeu ainda mais quando adicionou:
—Estou contente que ela estivesse ali se você precisava de seu apoio e amizade.
Ela se esticou para agarrar a borda de uma manta da cama e a colocou sobre seus corpos.
—Com a caça, deve estar muito cansado. Tem uma viagem comprida amanhã. Durma, Ian. Eu o despertarei ao amanhecer.
—Você deve estar cansada também.
—Nem tanto. Em algumas horas devo despertar os criados para preparar nossa partida. Não acredito que durma.
—Então, eu tampouco. Aprendi faz muito tempo como descansar sobre a sela. Não quero desperdiçar estas horas com sonhos quando o melhor sonho está ao meu lado.
Ele empurrou abaixo a manta de volta, expondo seu corpo, e se apoiou sobre o cotovelo para olhá-la.
—Além do mais, quem sabe quando terei outra oportunidade de te dar outra lição?
Ian a beijou, memorizando a suavidade de seus lábios e as bordas afiadas de seus dentes e a profundidade aveludada de sua boca. Juntando suas mãos, ele as apertou acima de sua cabeça para que ela ficasse estirada e completamente vulnerável a ele. Ele não queria que ela o abraçasse ou fizesse algo para acelerar sua própria resposta. Ele a queria louca de desejo, desesperada e rogando, e talvez o som de seus gritos de paixão o sustentariam nos dias e semanas seguintes.
Lentamente a acariciou, observando o movimento de sua mão bronzeada sobre as curvas de seu corpo miúdo, não fazendo nada mais que causar um prazer lânguido. Seus seios se entumeceram e seus mamilos se endureceram. Ele sorriu diante de sua rápida resposta, mas não seria distraído por ela.
—É tão adorável, Reyna. Sempre há um rubor suave em sua pele, e é suave e sedosa, como se estivesse coberta por um orvalho invisível.
Sua respiração ficou suspensa quando ele baixou sua cabeça e primeiro beijou e depois lambeu o vale entre seus seios.
Ela se arqueou provocante, mas ele se afastou para poder acariciar e memorizar as linhas bem formadas de suas pernas. Suas coxas se tensionaram quando ele se moveu para a umidade que o estava esperando. Suavemente ele a tocou provando para ver se ela estava muito dolorida para receber mais, e sentiu prazer quando seu corpo tremeu em resposta ao contato íntimo.
Ela franziu o cenho quando ele afastou a mão.
—Não ainda, Reyna. Este é o castigo por me chamar de filho da puta e bastardo novamente. Te adverti que não o fizesse.
Realmente, aquela injúria apaixonada tinha sido mágica para seus ouvidos. Ele passou seu dedo sobre seu lábio inferior, secando a umidade de suas respirações ofegantes, estudando o desejo que nublava seus olhos. Sentiu um inexplicável orgulho por que aquela mulher o desejara tão rapidamente.
Ele riscou uma linha desde abaixo de seu queixo, até o seio e depois brincou com um mamilo. Ela se retorceu e gemeu.
—Isto é o que quer, Reyna?— Ela tentou liberar as próprias mãos. —É isto?
—Sim, maldição.
—Outro insulto? Isto poderia levar até amanhã.
Ela puxou seus braços novamente.
—Me solte, filho da puta, e veremos quem primeiro grita.
—Repete isso e não partiremos até o meio-dia.
Ele baixou seus lábios para o outro mamilo.
—É tão suave, como de veludo. A primeira vez que te beijei quase me esqueci de todo o senso de dever e cavalheirismo.
Ele lambeu e chupou lentamente, perdido no delicioso sabor dela, maravilhosamente atento aos gritos de prazer abandonado.
Seus quadris se arqueavam lentamente enquanto ele fazia amor com seus seios, e ele deixou que o desejo atormentasse a sua própria fome contida.
Ian soltou suas mãos e a deitou sobre seu estomago. Lentamente beijou a extensão de sua espinha dorsal, depois a girou para observar seu corpo enquanto ele acariciava a parte traseira de suas pernas e coxas. Reyna enterrou o rosto nos braços para sufocar seus ofegos. Quando seu olhar se moveu mais acima, viu as colinas suaves de suas nádegas apertadas contra seu contato e suas costas curvadas em reação. Ela parecia incrivelmente erótica naquela posição, e ele se inclinou para beijar suas costas enquanto seus dedos seguiam a linha de suas nádegas.
O grito dela quase foi sua perdição. Ela separou ainda mais as pernas, enquanto seu dedo seguia a linha entre suas nádegas e acariciou as profundidades mais quentes. Ela levantou sua cabeça e olhou para trás com olhos cautelosos.
—Vai...
Ian imaginou seus quadris subindo para ele. Mas duvidou que pudesse controlar-se por muito tempo se a tomasse daquele modo, ser menos suave daquela vez seria imperdoável.
Ele a virou.
—Outra vez, Reyna, te agradará, prometo. Mas esta noite quero seu rosto contra o meu e seus braços ao meu redor. Ela tentou abraçá-lo, mas ele se desvencilou dos seus braços e depositou beijos quentes em seu montículo sedoso. Outra lembrança que não negaria a si mesmo. Ele levantou suas pernas até seus ombros e beijou a parte interna das coxas. Uma nova febre tomou o corpo dela.
Ele a acariciou íntimamente, encontrando os lugares que a enlouqueciam, e ela se moveu em resposta, fora de controle. Ele a beijou ainda mais profundamente, procurando o centro de sua paixão. Ela gritou seu nome e o olhou com uma expressão selvagem e perplexa.
—Vou fazer isto, Reyna. Se você não gostar, pararei.
Ela se endureceu quando sua boca substituiu seus dedos, mas o prazer imediatamente demoliu sua resistência.
—Sim—, ela sussurrou, e logo a afirmação se converteu em um grito repetido várias vezes.
Quando se colocou em cima dela, Reyna se agarrou a ele, levantando suas pernas em um abraço à sua cintura, tentando acelerar a penetração.
—É isto o que quer, Reyna?—, ele queria ouvi-la dizer. Precisava ouvi-la dizer isso.
Seus dedos arranharam seus ombros.
—O que quer?—, ele repetiu.
—Você. Você todo. Bem profundamente dentro de mim.
Se seguisse os ditames de seu sangue, seria como antes. Girando, Ian a colocou em cima dele.
—Então toma o que quer. Tanto quanto necessite.
Ela se moveu para tomá-lo profundamente, curvando-se para acariciar e beijar seu peito. Ela fez amor graciosamente e vorazmente, e suas emoções turbulentas cresceram sob sua urgente agressividade. Seus gritos começaram novamente, e ela começou a exigir mais. Ele capturou seus quadris e respondeu com suas próprias investidas, impaciente agora pela conclusão que tinha demorado, ela gemeu ante seus movimentos e enterrou seu rosto em seu pescoço.
—Mais forte—, ela sussurrou estremecendo —Bem fundo.
—Vou te machucar.
—Não, meu amor. Se devemos nos separar quero te sentir por dias. Semanas. Para sempre.
Sua voz amortecida continha um tremor. Acariciando seu rosto, ele sentiu uma lagrima. Uma ternura surpreendente o invadiu, comovido porque ela sentisse semelhante dor pela partida e o perigo que ele correria.
De repente ele não queria nada dela, a não ser lhe dar qualquer coisa que ela procurasse. Abraçando-a com mais força sussurrou-lhe mentiras sobre sua segurança no futuro para tranqüilizá-la.

 


CONTINUA