Biblio "SEBO"
Emissários da Morte
Ao cair da noite, nuvens negras cobriram o céu sobre uma cabana velha e abandonada no interior de uma floresta sombria. Na cabana, um homem de face jovial e de longos cabelos grisalhos espiava pela janela na esperança de haver algum vestígio de seu aprendiz. Porém, não havia nada lá fora; apenas árvores secas que pareciam movimentar seus galhos pontudos como cabelos jogados ao vento. Não tardou muito e uma densa chuva despencou sobre a floresta, forçando Slater a voltar para perto da lareira onde, sobre uma mesa, repousavam uma varinha, uma pena de Fowls e um pergaminho. Ele sentou numa cadeira de cipó e por um instante deixou-se levar pelo crepitar da brasa em chamas.
Fechando os olhos, refletiu sobre o que deveria fazer. Não tardaria muito para que uma sombra repousasse sobre os sete reinos. Isso era inevitável. Mas algo poderia ser feito, não para impedi-la, mas para salvar vidas. Embora soubesse o perigo que se aproximava, o medo da morte em momento algum lhe amedrontava. Em tempos mais remotos lutara junto a tantos outros contra um inimigo em comum. Uma luta que custou-lhe a liberdade. E agora, após dezessete anos, via-se na mesma guerra, não como um herói, mas como um covarde.
Slater abriu os olhos e avaliou o pergaminho sobre a mesa. Ela deveria ser avisada. Com certeza seria a única pessoa no mundo que poderia fazer algo. Mas como?
Um raio iluminou a cabana e em seguida um trovão, que pareceu chacoalhar Aragorn, o fez retornar de seus pensamentos. Voltando-se para o pergaminho aberto, Slater pegou a pena e, sem qualquer tinta, começou a rabiscar uma mensagem. Letras luminosas surgiram e desapareceram sem deixar qualquer vestígio.
Houve um novo trovão e Slater parou de escrever. Tivera a impressão de que alguém batera à porta. Voltando-se para o pergaminho, escreveu mais duas palavras e novamente parou. Alguém realmente batia à porta.
— Slater, abra! Sou eu.
Ele se levantou, pegou a varinha e atravessou o recinto. Movendo-se para a porta, procurou um canto apropriado para se esconder. Susteve a respiração e movimentou a varinha. A maçaneta girou e um jovem rapaz adentrou com a roupa encharcada pela chuva. Ao deslizar para dentro, o jovem sentiu uma força empurra-lhe contra a parede e um objeto pontudo apertar-lhe a garganta. Em um estampido a porta se fechou e os archotes do corredor se acenderam.
— Quantas Fowls são necessárias para levar um homem à Fonte Phoenix? — perguntou Slater, apertando a varinha contra o pescoço do rapaz.
— Nenhuma, se você tiver um grifo ou dragão! Mas se preferir, pode ir em uma Earthworn e gastará o resto de sua vida para tal feito!
O jovem sorriu e Slater às gargalhadas, abaixou a varinha fazendo o rapaz se soltar da parede. Abraçaram-se e o jovem teve a oportunidade de observá-lo.
Slater parecia mais magro do que da última vez que se viram. Certamente a fuga dos últimos dias não lhe fizera bem. Também considerou que estava mais pálido e imaginou quando será que aquele pobre homem tomara um banho de sol decente.
— Já o vi melhor, meu amigo — disse.
Slater ergueu a sobrancelha.
— Certamente, em tempos em que a luz do dia era meu refúgio — e sorrindo, deu umas palmadinhas no ombro do rapaz enquanto puxava-o para a sala — Porque demorou?
— Enfrentamos uma corrente de ar sobre o mar Nyfford e a pequena Bubo teve dificuldades em continuar. Sem falar nesta chuva!
— Aquela coruja não está acostumada a fazer longas viagens, mas terá que se sacrificar — andou até a mesa à lareira e pegou o pergaminho, dobrou e estendeu ao jovem — Preciso que leve isto ao seu destino final. Ela precisa saber da verdade...
O jovem olhou-o com preocupação.
— Eles voltaram, Slater?
As rugas entre as sobrancelhas dele aprofundaram-se, e ele acenou suavemente com a cabeça.
— Eles estão em toda a parte, à espreita, em qualquer sombra que haja em Aragorn. Escute, haja o que houver, esta carta precisa ser entregue.
O jovem recebeu a carta e observou o velho Slater. Seu semblante há muito tempo não esboçava um sorriso. Houve uma gargalhada há pouco, mas ele sabia que não era igual as outras que já havia visto.
— O que será de você?
Slater girou a varinha entre os dedos e parou-a na mão.
— Um incansável guerreiro, como nos velhos tempos — os dois riram.
— Isto não é brincadeira, sabe disso — repreendeu o rapaz.
O olhar de Slater tornou-se distante.
— Tenho certeza de que ficarei bem — e girando nos calcanhares na direção da lareira— Passei dezessete anos de minha vida escondido por me tomarem da forma como me tomam...
— Mas eu sei a verdade — adiantou-se o rapaz.
Slater esboçou um sorriso torto.
— Mas não é suficiente — seus olhos semicerraram-se — Há muita coisa que você não sabe. Coisas que jamais gostaria de saber...
O rapaz abriu a boca para dizer-lhe algo quando a brasa crepitou intensamente e chamas romperam-se na lareira como se gritassem para ambos.
Slater virou-se aterrorizado. As chamas ondulavam violentamente sobre a brasa como se quisessem dizer algo. De súbito, uma labareda rompeu-se de sua fonte e em um estampido, uma estranha criatura com asas surgiu no ar voando com um ser montado em suas costas. A criatura que mais parecia um cavalo alado em chamas, voou entre os dois, rente aos seus olhos e desapareceu, jogando cinzas ao ar.
— O que foi isto? — perguntou o rapaz.
Slater permaneceu paralisado. O terror evidente em seus olhos.
— Eles nos encontraram!
Os olhos do rapaz se esbugalharam.
— Mas como?
O olhar de Slater relanceou por sobre os ombros dele em direção a janela.
— De alguma forma, eles estão lá fora, em algum lugar entre o bosque, vindo em nossa direção — e voltando-se para a lareira com o olhar trêmulo — Esta lareira está enfeitiçada para me mostrar o perigo que se aproxima... Não temos muito tempo. Você deve partir imediatamente.
O rapaz estremeceu.
— Não vou deixa-lo desta vez. Lutaremos juntos contra...
— Lutar? — Slater começou a andar pela sala — Não há mais tempo para lutar. A batalha um dia virá, mas até lá, precisa assegurar que esta carta chegue ao seu destino.
O jovem olhou para o pedaço de pergaminho dobrado em sua mão. O tempo estava se esgotando e ele sabia disso. Slater incumbia-lhe esta tarefa e independente do que houvesse, ele a cumpriria.
— Está certo. Eu a farei...
Um novo estampido invadiu a sala. A lareira tomou o recinto com gigantescas labaredas que pareciam gritar em seus ouvidos. Chamas ergueram-se para o teto. Incontáveis criaturas aladas surgiram riscando o ar de chamas e cinzas.
— O tempo está se esgotando — Slater estremeceu. E virando-se na direção da porta, pegou um casaco de couro pendurado na parede.
— Slater, a pequena Bubo saiu para caça e...
— Você irá chama-la quando estivermos bem longe da cabana — E abrindo a porta — Não queremos que eles a vejam saindo daqui.
Ao ver Slater empunhar a varinha, o rapaz retirou a sua de dentro do casaco e juntou-se a ele. Às suas costas, a lareira ainda cuspia labaredas assustadoras para todos os lados.
— Preste atenção, sairemos pelo bosque e nos afastaremos o máximo que pudermos. Se formos encontrados, eu os despistarei. No primeiro momento, corra para o lado oposto e esqueça-me, entendeu?
O rapaz meneou com a cabeça.
Slater esboçou um sorriso torto e deu umas palmadinhas no rosto do rapaz ao perceber uma pontada de preocupação em seu olhar. Jamais esperaria que aquele jovem fosse tão corajoso.
— Vamos!
A chuva tomou-lhes à medida que deixavam a cabana e avançavam para o bosque. Árvores de formatos medonhos surgiram logo à frente e incontáveis raízes submergiram da terra, dificultando o percurso.
Slater tomara a frente e o jovem seguia-o na retaguarda. Seus únicos guias eram os incessantes raios que iluminavam o percurso. Um caminho de incontáveis raízes, folhas e lama.
Por um instante, o jovem percebeu algo reluzir ao seu redor. Parecia ser uma pequena película transparente que, conforme vinham os raios, tornava-se aparente aos seus olhos. Era um escudo. Slater o estava protegendo, mas ao redor de si mesmo não havia nada.
— Ele não criou um escudo para si, porque? — perguntou-se o jovem.
Haviam chegado a uma ribanceira e Slater contornou-a. Vendo que se prolongaria por quilômetros à frente, postou-se barranco abaixo. Riozinhos de água e lama os guiaram pela barranceira até alcançarem a planície. Não havia tempo para retirarem as lamas das roupas e ambos postaram-se a correr por entre um novo conjunto de árvores que surgiam à frente. Eram árvores de troncos mais grossos. O terreno já não possuía raízes sobre a terra, o que já melhorava o percurso.
A chuva parecia se intensificar quando alcançaram uma clareira. Slater parou apreensivo, praguejando.
— Isto não é nada bom. Venha.
Tomaram o caminham oposto. A clareira ficou para trás e mais uma vez os galhos secos das árvores cobriram o céu tempestuoso sobre suas cabeças. O cansaço alcançou o jovem tão logo adentraram o bosque novamente.
— Slater! — deixou escapar entre o ar que faltava nos pulmões.
Slater parou e o puxou para trás de um tronco de árvore, a respiração sem nenhum resquício de cansaço.
— Não sei como faz isso, mas preciso aprender.
O velho sorriu e manteve-se atento ao bosque.
O jovem suspirou fundo à procura de aliviar o cansaço. Sentindo as pernas fraquejarem compreendeu que não deveria fazer longas viagens sobre a coruja Bubo. Pelo contrário, deveria aventurar-se mais sobre a terra afim de fortalecer-lhe os músculos.
— Vamos!
Slater mais uma vez puxou-o. Avançaram por vinte metros à frente quando o jovem sentiu uma força puxar-lhe para trás de uma árvore. Com um baque forte no tronco, sentiu sua coluna estralar. Slater estava ao seu lado, segurando sua boca para que não gritasse. O jovem esbugalhou os olhos ao ouvir um estranho estalido vindo das proximidades.
— Não faça barulho — sussurrou Slater.
O jovem meneou com a cabeça e prendeu a respiração quando percebeu do que se tratava. Em algum lugar, próximo a eles, um grupo de criaturas galopavam no bosque. O som dos cacos pisoteando a lama parecia estar próximo. Os dois permaneceram em silêncio assim que os galopes cessaram. Somente a chuva caindo era ouvido. Porém, um relinchado medonho quebrou-o.
Slater curvou-se ao longo do tronco e espiou para além do bosque. Conteve-se ao sentir o coração saltar até a garganta. À poucos passos deles um grupo de doze criaturas estavam paradas. Seis delas pareciam cavalos negros. Longas crinas pendiam de seus pescoços até os pés de seus cavaleiros. Grandes olhos opacos tomavam a noite com um tom avermelhado assustador. Nas costas, uma estranha asa curvava-se para o rabo. Não eram de penas, mas de uma estranha membrana que lembrava às de morcego. Listras de veias negras cortavam-nas espalhando-se por todo o membro esquelético.
—Dragóronas! — Slater as identificou.
As demais criaturas, os cavaleiros, estavam vestidas com longos e pesados mantos surrados que cobriam até a cabeça. Seguravam longas lanças e pareciam procurar algo na escuridão. Seus rostos não eram visíveis.
Duas delas se agruparam. Pareciam trocar informações enquanto as demais rodeavam as árvores. De alguma forma, elas sabiam que Slater e o jovem estavam por perto. Pareciam farejar no ar.
O jovem voltou-se trêmulo após espiá-las. Os olhos esbugalhados era um sinal de seu pavor. Sentindo o braço de Slater forçando seu peito como um sinal para que ficasse parado, tentou conter os batimentos do coração para que ele não descobrisse sua aflição. Uma tentativa inútil.
— Eles sabem que nós estamos por perto, — sussurrou Slater — mas não sabem onde.
O jovem assentiu suavemente com a cabeça.
— Não podemos correr o risco de sermos uma isca fácil — continuou Slater— Teremos que continuar. Acredito que esta seja a última vez que o vejo.
O jovem sentiu uma pontada de apreensão ao ouvi-lo.
— O que está dizendo?
— Chegou a hora de nos separarmos. Quando eu der o sinal, corra para o lado oposto e na primeira oportunidade fuja para a Fonte Phoenix...
— Mas...
— Eles não o verão.
Slater esboçou um sorriso travesso.
—Então é isso — pensou o jovem — o escudo me deixa invisível.
As Dragóronas relincharam e um arrepio correu pela espinha do jovem.
Slater dobrou-se no tronco e voltando-se fez um sinal com o dedo indicando a direção em que deveria seguir.
— Eu ficarei bem, não se preocupe! Vou distraí-los enquanto você foge.
O jovem fechou os olhos e respirou forte. Slater puxou-o para mais perto e envolveu-o em um caloroso abraço. Aquela poderia ser a última vez que se viam.
— Boa sorte! Agora vá, não podemos perder tempo.
O jovem meneou a cabeça e ao sinal, saiu correndo entre as árvores. A poucos metros de distância parou ao ouvir uma explosão. Uma nuvem de lama e folhas subia para o céu à cinquenta metros dele. Relinchados vieram aos seus ouvidos e relampejos de magia tomaram a escuridão naquela direção.
Ele permaneceu parado sem saber o que fazer. As ordens era para que fugisse, mas não conseguia cumpri-las. Suas pernas queriam ir para bem longe, mas sua mente instigava-o a voltar. Slater o odiaria se o pegassem.
—Mas eles não podem me ver, não é?
A luz do pensamento pareceu-lhe sagaz. E sem pensar duas vezes avançou na direção da explosão. Uma nova nuvem de lama e folhas foi erguida e então, um cavaleiro surgiu arremessado por uma bola de fogo que o carregou bosque afora.
Sentindo o coração pular, o jovem empunhou a varinha e na primeira oportunidade apontou-a na direção dos cavaleiros. Um relampejo reluzente invadiu a chuva e atingiu uma das Dragóronas. Com o poder, o cavaleiro foi lançado de sua montaria e caiu aos pés das demais criaturas.
De súbito, elas viraram-se. Os olhos escondidos por trás do capuz buscando o ordenador do ataque. Slater estava a alguns passos delas. Os olhos esbugalhados na direção do rapaz. Certamente a desaprovação, misturada com o terror o tomava.
Aproveitando a deixa, o jovem avançou e ordenou um outro feitiço. Um dos cavaleiros pulou de cima da Dragórona, o manto esvoaçou assustadoramente no ar, e fez um movimento com a mão. Um escudo surgiu e o feitiço espalhou-se, dissipando-se ao redor.
Slater girou a varinha e um tufo de lama surgiu entre o rapaz e o cavaleiro, como uma barreira. A lama ergueu-se para o alto e avançou sobre as criaturas como um braço de terra. As Dragóronas recuaram e assustaram-se ao verem raízes submergirem da terra e agarrarem suas pernas. Os cavaleiros saltaram no ar ao passo que as raízes forçavam os animais para o chão.
Aterrissando, os cavaleiros avançaram na direção de Slater. No entanto, um deles ficou parado. Eles sabiam que havia mais alguém nas proximidades. Em algum ponto do bosque, o jovem estava parado assistindo a luta. A varinha tremia nas mãos, apontando para o cavaleiro que o procurava.
Slater desvencilhou dos cavaleiros e criou um escudo ao ver as lanças serem arremessadas. Estas chocaram-se contra o escudo e ricochetearam para os lados.
Entrementes, o jovem avançou e assim que conjurou um feitiço, uma estranha força chocou-se contra seu peito e ele parou, sentindo os pés afundarem no chão lamacento. Á sua frente, um cavaleiro estava parado. A mão negra aberta, apontando para sua direção.
Uma rajada de uma magia transparente empurrava o jovem para trás. Mas não parecia ser esta a sua finalidade. Por onde passava, um túnel transparente parecia se formar. Então, o terror invadiu os olhos do rapaz. Ele e o cavaleiro se olhavam, olho a olho. Praguejando, este tentou se mover, mas algo o impedia.
— Ele me vê, mas como?
A poucos passos, Slater se desvencilhou de um cavaleiro, explodindo seu corpo com um feitiço, e parou aterrorizado com a cena que via. À sua frente um cavaleiro emitia uma rajada de magia transparente, formando um túnel mágico até o jovem. Seu escudo estava falhando e agora ele sabia, os cavaleiros já o haviam visto.
— Não! — gritou.
O rapaz ouviu o grito e sentiu a pontada de desaprovação em sua voz. Uma mistura de agonia e terror.
Rapidamente Slater ergueu a varinha e apontou para ele. O rapaz esbugalhou os olhos ao ver uma luz sendo emitida em sua direção. De chofre, algo envolveu-o e o arrancou do chão. Como se estivesse sendo sugado para além do bosque às suas costas, viu-se sendo arremessado para longe. Mas não era um simples arremesso. Slater o estava mandando para longe dali com um feitiço. Rapidamente, o mentor do feitiço e os cavaleiros ficaram para trás e um turbilhão de imagens passaram frente aos seus olhos como se caísse em um túnel de costas. Troncos, galhos e toda espécie de vegetação passou ao seu lado. Gravetos chocaram-se contra seu braço e a dor tomou-lhe.
O empurrão de Slater pareceu enfraquecer e de súbito o rapaz viu-se rolando no chão do bosque. O ombro chocou-se contra algo duro e as folhas secas misturadas com lama invadiram seus olhos. Sentindo-se arrastado sobre a lama, ele afundou pelo bosque até parar lentamente.
A dor percorreu todos os ossos. Ele tentou levantar-se mas se viu debruçado ao esguichar de dor. O ombro estava fraturado. O jovem respirou fundo, precisava de algum forma conter a dor. Tateou o chão em busca da varinha, seus olhos estavam cobertos por lama e abri-los seria algo ousado. Remexeu a folhas ao seu lado e sentiu um graveto corre-lhe entre os dedos. Pegou-o e num movimento somado à vontade de sua mente, a lama saiu de seu rosto. Em seguida, apontou a varinha para o ombro e empenhou-se no seu próximo feito. Um jorro de luz prateada envolveu-lhe o corpo. Ele gritou de dor ao sentir os ossos voltando ao lugar. Seu corpo esticou-se no chão e após uma sensação de alívio percorrer-lhe os membros, seus olhos focaram o céu tempestuoso. Não chovia naquele momento.
O jovem apoiou-se no chão e empurrou o corpo para frente. Ficou sentado observando o rastro que fizera ao chocar-se contra o chão do bosque.
— Slater, seu desgraçado! — sorriu ao pensar na engenhosidade do amigo.
Virando-se para o braço, viu-se completamente arranhado pelos galhos que encontrara no caminho. Não havia dor, mas suas feridas ainda queimavam.
Postando-se de pé, observou o local. Estava em uma clareira e havia um riacho logo abaixo de uma barranceira. Uma quantidade assustadora de pedregulhos tomavam o chão até o riacho e deu graças por aterrissar naquela parte do terreno.
Lembrando-se da carta, ele imediatamente tateou o casaco. Não foi preciso muito esforço para um pedaço de pergaminho meticulosamente dobrado e protegido por um feitiço deslizar entre seus dedos.
— A missão precisa ser cumprida— concluiu.
Naquele momento, compreendeu a burrice que a pouco comentara. Se Slater não o tivesse empurrado para longe, não teria feito isso por suas próprias pernas. A teimosia era seu ponto fraco e ele sabia disso.
— Bubo!
Lembrando-se de seu transporte para a Fonte Phoenix, o rapaz tentou considerar o quão longe estaria da cabana e de Slater.
— Espero que ele tenha fugido — desejou com todas as forças que o velho tenha conseguido escapar ou ao menos ferir os cavaleiros.
E virando-se para a clareira, ergueu a varinha na direção da boca como se esta fosse uma flauta transversal. Apoiando-a obliquamente aos lábios, soltou um sopro suave. A varinha brilhou e um pio ecoou pelo bosque. Não era um piado qualquer, era algo tão suave que nem mesmo a magia conseguia explica-lo.
Recolocando a varinha no bolso, o jovem avançou para a barranceira e postou-se a observar o riacho. Ele seguia para o mar em um correnteza forte, deixando ao seu lado um trecho de areal, misturada com pedregulhos.
Ao final da barranceira, o jovem caminhou pela areia e parou próximo ao riacho; pôs-se de coque e enxaguou o rosto quando um bater de asas tomou seus ouvidos. Ele virou-se e sorriu ao ver uma coruja gigante, maior do que um grifo pousar ao seu lado. Era majestosa. Branca como a mais bela seda. As penas brilhavam mesmo ao vago reluzir dos relâmpagos. Seu olhar predador parecia hipnotizar quem os observasse.
— Bubo.
A gigante coruja soltou um pio alegre e, travessa, abaixou a cabeça para que o jovem a coçasse.
— Não temos tempo para carinhos hoje, Bubo — disse o jovem ao observá-la lançar-lhe um olhar penetrante — Conseguiu se alimentar? Teremos uma longa viagem até o Reino da Fênix.
A coruja fez um movimento com a cabeça como se afirmasse estar alimentada e pronta para a viagem. Em seguida, afastou a asas e fez sinal para que o jovem a montasse.
Segurando em suas penas, o jovem viu as asas afastarem de suas pernas. A coruja deu uns passos para a frente e num bater de asas, ergueu-se para além do bosque. O jovem partia sabendo que em algum canto daquele lugar, ele deixava Slater para trás. Um sentimento de tristeza apertou-lhe o coração, seguido de pânico e terror quando percebeu ao longe uma intensa luz ser lançada para o céu.
Era Slater. Ele ainda estava vivo e lutava contra as criaturas. Por um instante, desejou saber como ele estava se saindo, mas Bubo impulsionou as asas e ambos avançaram para além das nuvens. Era um caminho sem volta.
Um muro de nuvens surgiu aos seus olhos. Eram negras e ameaçadoras. Raios pareciam criar vida dentro delas. Uma rajada de vento chocou-se contra a coruja, dificultando o voo. O rapaz acariciou-a e enviou seu pensamento a ela.
— Seja forte, minha amiga. Ficaremos bem!
As nuvens se abriram e um abismo negro surgiu a frente. Grandes paredões de nuvens carregadas se formaram e ambos vagaram por entre esses precipícios cobertos por rajadas de chuva. O vento estava diminuindo quando um clarão vermelho iluminou as paredes de nuvens. O jovem olhou apreensivo para os lados. O clarão não parecia ter se formado pela ação dos raios.
Então, um novo clarão surgiu. Assim como o primeiro, este era vermelho, intenso como a luz do fogo. Mas havia uma razão pela cor. Ao lado da coruja, uma imensa bola de fogo cruzou seu caminho. Bubo inclinou-se para o lado e a bola de fogo caiu entre as nuvens.
O rapaz virou-se para trás e sentiu o estômago congelar quando viu várias bolas de fogo virem em sua direção. Segurando forte nas penas, enviou mentalmente os comandos para a coruja e ela rodopiou no ar à medida que o fogo os alcançavam.
Bubo retomou o voo e soltou um pio agudo ao sentir as penas queimarem quando uma bola incendiada cruzou seu caminho.
Praguejando, o jovem retirou a varinha do casaco e virou-se. Sete Dragóronas, ele conseguiu contar, o seguiam. Seus cavaleiros mantinham uma tocha incendiada acesa na mão. Eles ergueram os braços e lançaram-na.
Bubo girou no ar e avançou para dentro de uma nuvem carregada. Uma mistura de vapor e água gelada tomou o rapaz à medida que a coruja fugia do campo de visão das criaturas.
Um novo farfalhar de fogo surgiu e o jovem viu-se obrigado a contê-lo com um escudo. As bolas de fogo chocaram-se contra ele e Bubo piou forte, assustando o rapaz. O fogo invadiu o escudo e espalhou-se, envolvendo nuvens e erguendo vapor para a tempestade.
— Voe para além das nuvens carregadas — enviou mentalmente para Bubo — Eu sei do risco, mas é nossa única saída.
Uma imensa nuvem negra surgia à frente e Bubo avançou para além dela. O jovem olhou de relance para trás e percebeu que os cavaleiros continuavam a segui-lo.
A nuvem se abriu e o rapaz criou um novo escudo ao redor deles. Ondas elétricas surgiram e a pressão dentro da nuvem fez o escudo estremecer. Virando-se novamente para as criaturas, o jovem viu um raio acertar uma delas. Desejou que outros o fizessem. Mas, mesmo diante do perigo, os cavaleiros não pareciam recuar.
Bubo girou no ar mais uma vez quando um nova bola de fogo passou rente seu corpo. Praguejando, o rapaz lançou um feitiço e a nuvem cobriu seus olhos. Uma mistura de vapor e ondas elétricas arrastaram os cavaleiros. Ele e Bubo pareciam estar protegidos agora. Enviando outra mensagem para a coruja, esta interceptou e girou no ar. Deixaram a nuvem e avançaram para sobre a tempestade numa tentativa de despistar as criaturas.
Voavam sobre a tempestade. O céu estrelado surgiu sobre suas cabeças e em algum ponto, uma bola de luz majestosa surgiu. Eles avançavam sob a luz do luar quando algo enrolou-se nas garras da coruja. O jovem agarrou-se ao seu pescoço ao sentir que Bubo caía. Uma onda de terror percorreu-lhe a mente.
Agarrado a ela, o jovem percebeu que as Dragóronas aproximavam-se e seus cavaleiros giravam grossas correntes nas mãos.
— Eles acorrentaram as garras da Bubo — e enviando a mensagem para a coruja —Eles prenderam suas garras, mas você ainda pode voar!
A coruja forçou as asas e em um voo arriscado submergiu numa outra nuvem negra. Flashes vieram aos olhos do rapaz. A nuvem parecia mais carregada e perigosa do que as outras.
De súbito, um zunido veio aos seus ouvidos. Ele virou-se, mas não teve tempo de afastar as correntes que envolveram a asa esquerda da coruja. Ela tombou para o lado e despencou entre as nuvens.
O jovem e a coruja esguicharam de terror. As nuvens abriram-se assustadoramente à medida que caíam para o continente.
Ainda agarrado ao pescoço da coruja, ele forçou a varinha na direção de sua asa, na esperança de soltar-lhe das correntes quando viu-se entre meio a um fogo cruzado. Queriam matá-lo. Incontáveis bolas de fogo surgiram entre as nuvens. Será que não batava que estivessem caindo? Tinham que ataca-los mesmo assim?
De chofre, o céu deixou de ter nuvens e o pânico envolveu-o. Estavam a poucos metros do chão e inúmeras bolas de fogo vinham em sua direção.
Ele agarrou firme no pescoço da coruja e enviou a ela todas as suas forças.
— Você ficará bem, não se preocupe!
E numa jogada arriscada, ele se soltou da coruja, apontando a varinha para a asa esquerda. Num farfalhar de luz, as correntes se romperam e uma bolha de luz envolveu a coruja. Rapidamente, ele girou a varinha impulsionando a bolha para fora do fogo cruzado. A bolha foi arremessada e avançou para o bosque que surgia abaixo.
Ele girou a varinha mais uma vez. Porém, não teve tempo de fazer muita coisa. O chão se aproximou assustadoramente e a magia que o amorteceu não foi suficiente. Tufos de terra, lama e folhas ergueram-se ao seu redor ao atingir o chão. As bolas de fogo cruzaram-se no céu e avançaram-se sobre seu corpo. Entre a dor que o arrematava, ele arregalou os olhos, mas não teve força para se proteger.
O ataque o atingiu e labaredas de fogo, misturadas a terra e ao restante da lama, ergueram-se para o ar numa cratera de quase vinte metros como se várias bombas a tivesse atingido.
Seis Dragóronas pousaram ao redor da cratera que expelia fumaça de seu interior. Os cavaleiros desceram dos animais e avaliaram o ataque.
— Ele está morto! — murmurou um dos cavaleiros.
— Precisamos ter certeza! — disse o que se aproximava.
Trocando olhares, eles deram um passo à frente quando uma sombra surgiu da fumaça e um homem de cabelos grisalhos perfurou um com uma espada e atingiu o outro com um feitiço, explodindo-o.
Os cavaleiros, estarrecidos, afastaram-se.
Slater pôs-se de pé, o suor escorrendo em seu rosto. Um sorriso desdenhoso contornava as bochechas.
Então, empunhando a varinha com uma mão e segurando a espada com a outra, Slater avançou sobre os cavaleiros restantes. O som da espada e das lanças chocando-se, misturou-se aos estampidos dos feitiços levando aos ouvidos do rapaz uma batalha que se travava a poucos passos de onde estava.
A cratera ainda fumegava. Era um buraco de quase dez metros de fundura e, no centro, o jovem jazia caído. A dor percorria-lhe cada ponto de seu corpo. Ele pestanejou e mais uma vez tentou encontrar uma explicação para estar vivo. Alguém o protegera. A resposta para sua pergunta veio em sua mente no exato momento em que o retinir da lança e da espada chegaram a seus ouvidos
— Slater!
Ele tentou se levantar, mas uma dor intensa na perna esquerda o forçou a voltar para o chão. Ele praguejou e olhou para a perna. Uma grande rodela vermelha se destacava entre a calça queimada. Tinha sido atingido pelo ataque de fogo.
Pegando a varinha que jazia a alguns passos, ele pensou em se curar. Porém, conteve-se ao perceber que poderia gastar muita energia. Todavia, precisava ter forças para andar e talvez, lutar.
Sem fazer muito esforço, ele ordenou com a mente que o ferimento se congelasse. A varinha tocou a ferida e um jorro de luz prateado cobriu-o. O alívio foi imediato.
Apoiando na parede da cratera, o jovem escalou-a lentamente. Apesar da ferida congelada, o corpo ainda precisava de melhores cuidados. Praguejando a cada pontada de dor, ele juntou forças para subir e, no alto, viu de relance Slater ser arremessado para longe. Três cavaleiros pularam sobre ele e um quarto se aproximou com uma lança na mão.
— Não!
Aprumando-se, o jovem rapidamente moveu a varinha e amaldiçoou toda e qualquer criatura que rodeava Slater. Uma rajada de luz foi arremessada e um cavaleiro reteve o feitiço com um poderoso escudo.
O jovem recompôs-se e uma nova rajada de feitiços foi lançada. Ele moveu a varinha e raízes surgiram da terra. Os cavaleiros desviaram-se dos feitiços, porém a raízes pareciam ter vida e buscaram-nos onde estavam.
Com um novo movimento da varinha, as raízes agarraram as criaturas e o jovem desejou que elas os esmagassem. Porém, algo forte chocou-se contra sua mão e varinha foi arremessada para longe.
Um cavaleiro estava livre das raízes e vinha em sua direção com uma lança ensanguentada.
O jovem arregalou os olhos ao fitar o corpo de Slater esticado a poucos passos de onde a criatura vinha. O ódio percorreu-lhe a mente.
— Varinha! — ordenou. E imediatamente a varinha girou no ar e voltou para suas mãos.
Ele pôs toda a força que tinha e as raízes quebraram os corpos dos cavaleiros que estavam presos. E voltando-se para o último que restara, ele abaixou a varinha e esta, brilhou incessantemente ao adquirir uma nova forma. Ela cresceu e transformou-se uma espada de luz, com uma varinha no centro.
O cavaleiro avançou para o jovem e atacou-o com a lança suja de sangue. O rapaz ergueu a espada e conteve o ataque. Desvencilhando do atacante o jovem moveu a espada no ar e um raio de poder foi lançado. A criatura ergueu um escudo e avançou sobre ele. Este ergueu a espada e as armas se chocaram. O retinir das armas surgiu no vácuo da clareira e de súbito, algo frio adentrou-o.
Ele parou, o ar falhando nos pulmões. Então, um gosto de sangue veio-lhe a boca. Cambaleando para o lado, ele moveu a espada e apontou para o cavaleiro. A espada desapareceu e a varinha surgiu, lançando uma bola de fogo que tomou o cavaleiro e o incendiou até desintegrar no ar.
Vacilando sobre as próprias pernas, o jovem cambaleou até cair de joelhos. Ele olhou para a bola de fogo que desaparecia à sua frente e observou uma carta negra cair lentamente no ar à medida que fumegava. Então, esboçando um sorriso, sentiu a lança que lhe perfurava o abdômen tomar-lhe o resto de vida que ainda tinha.
O sangue veio à sua boca. Ele o expeliu e caiu de costas. O céu veio aos seus olhos. Um grande grupo de nuvens negras ainda rodopiava sobre o bosque.
Aos poucos, uma lágrima surgiu em seu olhar e ele desejou ter cumprido a missão de Slater. Sentindo que as últimas forças já se esvaziavam, ele puxou a carta de dentro do casaco e antes que pudesse ver seu fracasso, suas forças se esgotaram e o mundo a sua volta escureceu.
A lua já reinava no céu quando uma criaturinha acinzentada deixou o bosque e avançou em direção à clareira. Ela andava apoiada sobre as mãos e usava uma única tanga como roupa.
Ela caminhou pelas bordas da cratera, observando o buraco que se formara, e parou de chofre ao deparar-se com um homem caído e uma coruja gigante deitada, com uma lança saindo por entre as asas. Ela rodeou a coruja adormecida e foi em direção ao homem. Ele estava caído de braços abertos. Um grande buraco no peito parecia ter sido a causa de sua morte.
Aproximando-se mais do corpo, conteve um grito ao perceber que abaixo do ferimento, havia um conjunto de outros ferimentos. Porém, estes, haviam sido provocados sobre o peito com o intuito de formarem um escrito.
A criaturinha parou sobre o homem e fitou o sangue escorrer pelas letras que formavam as palavras: Emissários da Morte.
Estremecendo, a criaturinha voltou-se para a coruja. Procurando entender o que aconteceu, ela deu a volta no local e encontrou uma carta negra chamuscada caída no chão. Ao tocá-la, sentiu a magia negra percorrer-lhe o corpo. Ela gritou e jogou a carta para longe. O coração saltitando pela boca.
Com o barulho, a coruja despertou e ergueu a cabeça. Vendo a criatura parada há alguns passos, ela ergueu-se ameaçadoramente e avançou sobre ela.
A criaturinha afastou-se para trás e caiu.
— Mim não fazer mal — disse para a coruja que a atacava com as garras.
A coruja entortou a cabeça e abaixou as asas como se tivesse entendido o que a criaturinha havia dito. Virando-se para o lado, deixou que a criatura visse o que protegia naquela clareira.
A criaturinha levantou-se e relanceou o olhar para além da coruja que piava tristonhamente. Atrás dela, um jovem estava caído com uma lança em seu abdômen e uma carta em umas das mãos.
Ela caminhou até ele e parou próximo à carta sob os olhares atentos da coruja. Contendo um arrepio, ela abaixou e retirou a carta dos dedos do jovem. Era um pergaminho dobrado e enfeitiçado. Era possível sentir o poder do encantamento emanar em seus dedos.
Ela analisou o pergaminho e então uma voz feminina veio a sua mente.
— Abra-o!
Percebendo de quem era a voz, a criaturinha obedeceu e relanceou o olhar esverdeado para o pergaminho. Meneando a cabeça para a mulher que surgia em sua mente, ela apontou o dedo sujo de terra para o mesmo, e ordenou:
— Revelio Literae.
Uma intensa luz saiu do pergaminho e letras tombadas surgiram lentamente como se estivessem sendo escritas naquele exato momento. A carta se revelou e o destinatário surgiu frente aos olhos arregalados da criatura que observava as letras lampejarem seu destino.
A Cúpula da Fênix
Lisa endireitou os cabelos por trás da orelha e esboçou um singelo sorriso ao observar Dan, Louise, Zig e Cliffe brincarem sobre um conjunto de rochas aos pés do penhasco. Acima do paredão de pedra, o Bosque das Ninfas surgia, minúsculo, frente ao emaranhado de castelos da Fonte Phoenix que se projetava logo à frente. Andaimes ainda eram visíveis em uma das torres do Castelo do Príncipe. A reconstrução estava em fase final e provavelmente quando retornassem do período de férias, encontrariam as torres reconstruídas. Seis meses haviam se passado desde o episódio com Malagat e muitas coisas mudaram desde então.
A brisa do mar estava tranquila aquela tarde. Dan, Louise e os Pés Grandes aproveitaram o final do último treinamento para banharem no mar. Algo realmente raro de se acontecer, ainda mais quando Zig e Cliffe estavam envolvidos. A falta de banho dos Pés Grandes era algo notável e repugnante. Ás vezes, Lisa se perguntava como aguentavam o odor deles mesmos. Ao tentar imaginar a cena de uma família Pé Grande reunida, sentiu um calafrio correr-lhe o corpo.
Lisa pestanejou e fitou o céu que adquiria uma tonalidade alaranjada à medida que o sol tocava o oceano. Por um instante, sentiu-se sozinha. Os acontecimentos que ocorreram no decorrer do ano que se passava, mudara totalmente sua visão de mundo e afastara dela a última lembrança que tinha de sua família.
— Anne — suspirou suavemente.
O coração estava mais apertado naquele momento. Um sentimento que ela tentara afastar nos últimos meses. Porém, a saudade era algo irremediável.
Por vezes, Louise e os meninos ajudaram-na a esquecer a morte de Anne. Foram momentos de alegria e atrapalhadas que Zig e Cliffe faziam questão somente para alegrá-la. E tinha Dan, que na maioria das vezes se mostrava um perfeito cavalheiro e um grande amigo.
Ela desviou o olhar para o rapaz. Ele pulava de cima de um rochedo e mergulhava no mar. Louise e os irmãos Pés Grandes o observavam. Risos vieram em seguida quando o rapaz surgiu com algas marinhas enroladas ao pescoço. Parecia um monstro marinho, porém, dotado de uma beleza que ela não observara antes.
Lisa suspirou e esforçou-se para conter múltiplos sentimentos que a arrematavam. Uma mistura de saudade e algo quente e forte que lhe tomava o peito, se esvaíram. Ela balançou a cabeça diante da ideia que surgia e novamente a imagem de Anne veio a sua mente.
Lembrou-se do mundo em que vivia; da casa, dos jardins e da biblioteca. Momentos de alegria que se foram e que jamais retornariam.
Lisa sentou-se no rochedo e observou as ondas chocarem-se contra ele. Por um instante desejou poder retornar ao seu mundo e rever o local onde habitara por dezesseis anos.
— No que está pensando, Lisa?
Athus estava ao lado. Os cabelos negros esvoaçavam com a brisa.
— Me desculpe — adiantou-se — Não percebi que não estava me vendo.
Lisa sorriu suavemente e deu palmadinhas no rochedo para que Athus sentasse ao seu lado.
— Estava pensando em Anne e na minha casa — disse ela.
Athus ergueu as sobrancelhas e fitou-a.
— Sabe que não há nada lá, Lisa.
Lisa meneou a cabeça e suspirou.
— Sim, eu sei.
— E então?
Ela juntou as pernas ao corpo e apoiou o queixo nos joelhos.
— Sinto falta daquele mundo. Gostaria de poder voltar.
Athus inclinou-se para trás como se pensasse em algo.
Os últimos raios do sol cortavam o horizonte e um esplendor de luzes alaranjadas e avermelhadas tomavam a Fonte Phoenix no alto do penhasco. A alguns metros deles, Dan e os demais saíam do mar e se secavam. A noite enfim, estava chegando.
— Talvez seja possível.
Lisa virou-se para Athus. O professor estava com o olhar sólido no horizonte. O tom alaranjado cobria-lhe a face sem qualquer expressão.
— Como? — perguntou ela, surpresa.
— No momento certo lhe direi — e levantando-se do rochedo — Posso conseguir uma autorização para isso. Aguarde alguns dias e terei uma resposta.
Lisa levantou-se, o sorriso contornando as bochechas.
— Mas isso é...
BUM.
Lisa virou-se assustada para o mar. Ao longe, uma cratera se abria. Ondas gigantescas se ergueram à medida que uma torre surgia dentre a água.
— Godric sempre pontual — murmurou Athus.
Ela ergueu os olhos para além do penhasco. Uma figura envolta por uma longa túnica branca esvoaçante estava postada erguendo um cetro com um sol radiante na ponta. Um brilho intenso vinha de seu cetro.
Lisa voltou-se para o mar sem entender o que estava acontecendo.
Uma gigantesca construção oval rodeada por quatro torres pontudas emergia aos poucos; a água escorrendo por suas paredes.
— Lisa, esta é a Cúpula da Fênix — disse Athus ao vê-la assustada com a construção — Ela surge apenas uma vez por ano.
A construção deixou o mar e este se fechou levando ondas para os rochedos. Athus ergueu um escudo e a onda não os atingiu. Sobre o penhasco várias camadas prateadas se formavam da Fonte Phoenix em direção a construção, como se pontes estivessem sendo criadas por Martius Godric.
Lisa relanceou o olhar para além do penhasco. Incontáveis rostos assistiam o surgimento da Cúpula.
Aos poucos, as pontes encontraram a construção e esta, parou no ar; uma grande porção de terra flutuante à alguns metros sobre o mar. Martius Godric girou nos calcanhares e desapareceu no bosque, a túnica farfalhando no chão.
— Este é o ponto final de todos na Fonte Phoenix, Lisa — observou Athus — Hoje, jovens deixam de ser aspirantes e tornam-se guerreiros para servirem seus reinos de origem. Venha, você não vai querer se atrasar...
Era tão grande, parecia que o mundo cabia na Cúpula.
Em cada ponta do edifício havia uma torre que escondia o verdadeiro formato da Cúpula da Fênix. Oval e coberta por toldos transparentes, a construção assemelhava-se a um grande estádio. Na entrada do edifício, dezenas de estátuas estavam dispostas uma sobre as outras, formando um verdadeiro corredor de arte antiga. Sobre as estátuas menores, haviam duas grandes estátuas de um homem e uma mulher em lados opostos, esticando os braços para poderem se tocar, formando um arco de entrada com as mãos.
— É lindo — sussurrou Lisa.
Louise riu baixinho.
— É, não é? Viu aquelas estátuas? Ninguém sabe quando foram feitas. Acredita-se que a Cúpula inteira já existia quando Griffus Allenah desmembrou o Reino da Fênix do Reino de Allenah. E olha que isto já faz mais de dez séculos!
— Como toda essa estrutura conseguiu ficar submersa por todos esses séculos sem ser danificado pelo mar e seus habitantes?
— Com magia, imagino — Dan se juntou a elas, parecendo mais embasbacado do que Lisa.
— Não entendo a finalidade de deixarem toda esta estrutura submersa — acrescentou Lisa quando entraram nos corredores da Cúpula.
— Logo você verá o porquê — Louise sorriu e guiou-os entre os aspirantes que caminhavam em direção ao centro do edifício.
Três filas de corredores desciam pela lateral. Cada corredor levava a um dos lados das arquibancadas que surgiram logo a frente. O centro da Cúpula se revelou no final e Lisa e Dan pararam, surpresos com o local.
Grandes arquibancadas surgiram no alto de suas cabeças, contornando toda a edificação. Estátuas e mais estátuas de grifos, dragões, serpentes e todo tipo de criaturas aragornianas estavam dispostas a pelo menos vinte metros um das outras nas arquibancadas. Abaixo de seus olhos havia um grande recinto. Metade dele estava apinhado de cadeiras douradas.
— É lá que os formandos sentarão — explicou Louise.
Lisa avançou o olhar para além das cadeiras. À frente, no centro, um jogo de escadas levava a um altar redondo onde uma grande fênix dourada jazia com as asas abertas. Nos pés da estátua da ave, um grande cálice transparente repousava sobre um pequeno suporte feito de mármore, encrustado
A Cúpula era uma construção gigantesca de forma oval, semelhante a um estádio, coberta por toldos brancos, capaz de abrigar mais de sessenta mil pessoas. Ela era cercada por milhares de estátuas de diversas formas e tamanhos, que se movimentavam quando alguém passava por elas. A entrada era em forma de um arco feito por duas estátuas de um homem e uma mulher que tentavam se tocar com os dedos indicadores.
O interior da Cúpula era redondo e tinha um altar no centro onde um cálice quadrado de vidro transparente levemente azulado continha uma água cristalina dentro. Do outro lado do altar, havia uma escada que dava acesso ao trono do príncipe Gaya, onde Martius Godric e os professores estavam sentados ao seu lado. Ao redor do cálice, havia cinquenta cadeiras douradas numa distância de dez metros cada uma, destinadas aos alunos formandos.
Os alunos ficavam nas arquibancadas, de onde se dava para ver todo o movimento no centro da Cúpula. Delas viam-se também as oito entradas por onde os alunos formandos entrariam no centro da Cúpula e o palco dos Elfo-Trons.
Dentro da Cúpula, a orquestra dos Elfo-Trons ou simplesmente Trons, encantavam a todos com a sua melodia mágica. Os Elfo-Trons eram elfos que adoravam músicas e eram considerados os maiores músicos de Aragorn, juntamente com os Pés Grandes. No entanto, os Elfo-Trons se diferenciavam dos Pés Grandes pela forma mágica e encantadora que suas músicas eram tocadas.
Os Elfos eram criaturas belas que tinham as orelhas pontudas e os cabelos dourados. Geralmente dominavam o arco e flecha, mas se destacavam também na arte musical.
A orquestra era regida por Hermes, o elfo mensageiro da Fonte Phoenix. Mesmo sendo um pouco cego, Hermes tinha uma audição espetacular.
O coral dos elfos continha quarenta pessoas onde todas vestiam um manto vermelho com detalhes em preto. As vozes do coral davam vida e emoção à trilha sonora de abertura. Enquanto a orquestra tocava, os alunos entravam no centro da Cúpula e sentavam-se em seus respectivos lugares. Os alunos usavam mantos dourados e estavam armados com espadas embainhadas.
Depois que a orquestra e o coral terminaram a apresentação, Martius Godric levantou de sua cadeira e desceu as escadas até parar no meio dela onde uma bancada em forma de uma Fênix com as asas abertas estava posta.
Martius usava um manto dourado, assim como os formandos, e um pequeno chapéu quadrado na cabeça. Ao chegar à bancada, ele ergueu uma das mãos e levantou a voz.
__Chegamos ao fim de mais um ano com a certeza de que vencemos os nossos desafios e que alcançamos as nossas perspectivas. Tenho certeza de que os medos foram vencidos e que a coragem foi alcançada por nossos destemidos alunos formandos. Ás vezes, a vida pode nos pregar grandes peças __Godric abriu a mão direita e uma bola de fogo surgiu nela__ Há momentos em que pensamos que o nosso espírito arde como um fogo eterno. No entanto, o escondemos para que o nosso verdadeiro Ser não seja revelado __Godric fechou a mão e o fogo desapareceu__ Assim é a vida, fazemos tudo para sermos o que os outros querem e esquecemos de nosso verdadeiro espírito guerreiro... Lutar não é tudo!... Vencer não é o essencial para vivermos... Tudo se determina quando encontramos a coragem de lutar para vencer com o nosso verdadeiro interior __Godric juntou as mãos e a bola de fogo ressurgiu__ O interior modela o espírito, e o espírito modela o nosso ser. Porque ele é a força que nos dá forças para continuar a expandir as nossas ações. Assim como o fogo se expande, a nossa vida cresce através dos tempos, adquirindo amigos, amores, sabedoria e por fim... vida! __Godric ergueu a bola de fogo com as mãos e deu um sopro. Um enorme dragão de fogo, semelhante a uma serpente, se formou e espalhou-se por toda a Cúpula__ Bem vindos a Cúpula da Fênix!
O dragão de fogo correu toda a platéia e voltou para Godric, que o pegou com a mão direita. Ao tocar a mão de Godric, o fogo transformou-se numa esfera transparente onde um dragão-serpente de fogo rodopiava em seu interior. Martius abaixou o braço e guardou a esfera entre o manto. Em seguida ele subiu as escadas e voltou a sentar-se ao lado direito do príncipe Gaya.
A cerimônia de formatura dos alunos do Quarto Ano era feita por representantes dos seis reinos. Após a abertura, feita por Martius Godric, quatro representantes de cada reino entraram na cúpula e deram início a cerimônia.
O início consistia na execução dos seis elementos de Aragorn pelos representantes. A execução significava a harmonia entre os reinos e a força que cada um possuía.
O Reino de Bladefire foi o primeiro a entrar. Seus representantes usavam armaduras vermelhas que assemelhavam-se a dragões. Ao entrarem, os quatro homens lançaram uma bola de fogo dentro da cúpula. A bola de fogo subiu sobre os alunos e dividiu-se em quatro bolas distintas. Cada bola de fogo transformou-se em criaturas do Reino de Bladefire. Dragões, grifos, cavalos alados e uma fênix tomou conta da Cúpula. Os alunos, maravilhados com o que viam exaltaram os representantes com palmas e gritos de entusiasmo.
Os representantes do Reino de Goldenwarth entraram logo em seguida. As quatro mulheres usavam um manto azul justo ao corpo. Elas eram loiras de olhos azuis e possuíam uma notável beleza.
Assim que entraram, uma delas tocou o chão da Cúpula e o transformou em água. Em seguida, um homem com barbatanas e rabo de peixe saiu dentro da água e pulou sobre os alunos. Logo em seguida, as mulheres fizeram um movimento com a mão e a água veio até elas. As mulheres giraram a água em torno do corpo e lançaram-na contra os alunos. Assim que água foi lançada, ela se transformou em um dragão e em uma gigantesca serpente marinha de água.
A serpente de água passou em frente aos olhos verdes esmeraldas de uma bela mulher de rosto fino e de traços delicados. Lisa, maravilhada com o que via, sorriu e ficou observando a serpente serpentear sobre os alunos.
Os quatro representantes do Reino de Mysth Crystalice eram dois homens e duas mulheres rigorosamente vestidos com grossos mantos de pele de animais, para protege-los do frio que provocariam dentro da Cúpula.
Assim que entraram, os homens deram um pulo e tocaram a água com o punho. Imediatamente após o toque, toda a água congelou-se.
As duas mulheres dirigiram-se até próximo ao centro da Cúpula e juntaram as mãos na direção da boca. Em seguida elas deram um sopro e um ar gélido saiu da boca delas. Logo após o sopro, o ar espalhou-se no ar até se transformar numa ave azul com uma coroa na cabeça. A ave começou a voar pela Cúpula e por onde passava, flocos de neve desprendiam-se de seu longo rabo azulado.
O Reino de Allenah entrou e provocou uma gigantesca ventania dentro da Cúpula. De repente, o gelo uniu-se ao vento e uma nevasca se formou, para o encanto de todos. Logo em seguida, o fogo dos representantes de Bladefire uniu-se ao vento, provocando um furacão de fogo, vento, neve e água.
O furacão permaneceu dentro da Cúpula por alguns instantes. Assim que os quatro elementos se uniram dentro do furacão, uma explosão de pontos luminosos invadiu a Cúpula. Os pontinhos luminosos tocaram nos alunos e iluminaram a parte do corpo onde tocavam. Em Lisa, vários pontinhos tocaram a sua mão e uma enorme luz se formou, encantando-a.
Os representantes do Reino de Bellyhan entraram na Cúpula e bateram com os pés no chão. Imediatamente, a água se abriu e montanhas de terra se formaram entre meio ao fogo, ao gelo, ao vento e a água.
Dois homens, apenas, representavam o Reino de Thunderay. Os homens estavam vestidos com mantos brancos e seguravam um cetro de metal que tinha três pontas, semelhantes a um pára-raio.
Um dos homens subiu na montanha de terra e ergueu o cetro para o alto. De repente, um gigantesco trovão chacoalhou a Cúpula e em seguida um raio desceu do céu. O raio envolveu o homem e foi dominado por ele. Em seguida, o homem pegou o raio e jogou-o para o outro homem abaixo da montanha.
Assim que o raio tocou a mão do outro homem, ele o girou em torno do corpo e lançou para a platéia em forma de um dragão de raio.
O dragão percorreu toda a Cúpula e parou na mão do homem sobre a montanha. O homem remodelou o raio e lançou-o novamente para a Cúpula. Assim que foi lançado, uma ave de raio voou sobre os alunos e sobre Gaya.
Finalmente todos os representantes haviam entrado e feito as suas apresentações. Para encerrar as apresentações, os representantes uniram os elementos e formaram o brasão da Fonte Phoenix.
O representante de Bellyhan ergueu um pedaço de terra para o céu. Em seguida, os homens de Crystalice formaram gigantescos cristais de gelo sobre a terra.
Os reinos de Thunderay, Allenah, Bladefire e Goldenwarth criaram dragões com seus respectivos elementos e os colocaram em círculo sobre o pedaço de terra e à frente dos cristais de gelo.
Para finalizar o brasão, os representantes de Bladefire, criaram uma gigantesca fênix de fogo e a jogaram no centro do círculo. Assim que se posicionou no circulo, a fênix abriu as asas e uma luz tomou conta de todos os símbolos. Os alunos levantaram de suas cadeiras e bateram palmas para o brasão formado pelos seis elementos.
Após a saída dos representantes, Gaya levantou de seu trono e desceu as escadas. O príncipe usava um longo manto dourado com detalhes prateados e uma fina coroa de ouro na cabeça.
Ao chegar ao centro da Cúpula, Gaya dirigiu-se até o cálice e parou em frente a ele. Os alunos formandos, que estavam em pé na sua chegada, sentaram-se assim que Gaya fez um movimento com a mão.
Gaya ergueu a voz e dirigiu a palavra aos formandos:
__O Cálice da Vida guarda em seu interior, os espíritos de cada guerreiro. Quando buscamos no fundo do Cálice a coragem para lutar, recebemos não apenas a coragem, mas sim um espírito guerreiro que nos guiará através dos momentos de medo.
Gaya virou-se para o cálice e pôs a mão fechada sobre ele. Assim que a mão abriu, uma luz pequena e negra saiu da mão dele e entrou na água cristalina do cálice. Enquanto a luz tocava a água, Gaya falava:
__Dentro de minha mão está o medo de cada um de vocês. Agora eu o entrego ao Cálice da Vida para que ele os transforme em coragem, em vitalidade e, principalmente, em virtude. Porque a virtude de um guerreiro o impulsiona nas batalhas e dá forças para continuar em frente.
A luz negra entrou no cálice e desapareceu dentro da água cristalina. Em seguida, Gaya saiu de perto do cálice e ficou aguardando algo. Os alunos formandos, curiosos, ficaram atento ao que iria acontecer.
Aos poucos, a água do cálice começou a brilhar numa tonalidade amarela celestial. Em seguida, um fogo transparente, de cor verde, saiu da água e começou a movimentar-se de um lado para o outro numa altura de quase um metro.
Da arquibancada, Lisa e Dan estavam maravilhados com o cálice. Para eles, era algo fantástico, pois um fogo queimava dentro da água como se ela fosse uma madeira.
Dentro do fogo esverdeado, um rosto surgiu aos poucos. Era um rosto de um homem que tinha três olhos fechados. Abaixo do rosto, umas letras surgiram entre o fogo e um nome foi formado. Christian Ravenclaw.
__Christian Ravenclaw! __gritou Gaya.
Ravenclaw era um rapaz alto e forte. Seus cabelos eram lisos e negros. Havia em seu rosto uma felicidade descomunal que demonstrava a alegria do rapaz por estar se formando. Christian pertencia ao Reino de Bellyhan e era o mais aplicado entre os alunos do Quarto Ano.
Christian Ravenclaw levantou aplaudido de sua cadeira e foi até o príncipe. Gaya pôs a mão em seu ombro e disse-lhe:
__Olhe para o fogo e deixe que o Cálice descubra o seu verdadeiro espírito guerreiro.
Ravenclaw pôs-se em frente ao fogo e fitou o olhar no rosto do homem. Aos poucos, o terceiro olho do rosto começou a abrir. O olho era verde esmeralda e tinha um brilho encantador.
O terceiro olho buscou algo dentro dos olhos de Christian e fechou-se aos poucos, assim que encontrou o que procurava. Em seguida, o rosto desapareceu entre o fogo e algo começou a surgir. De repente, uma bola de luz saiu do fogo e bateu contra o corpo de Ravenclaw.
Christian afastou-se para trás com o impacto e olhou para as suas vestes. Todo o manto que usava se transformara numa armadura com uma capa nas costas. A espada que ele usava, ficou maior e o nome Ravenclaw surgiu na lâmina dela.
Ravenclaw olhou para a mão e viu que segurava um diploma. Imediatamente, ele ergueu o diploma e deu um grito para toda a Cúpula. Os alunos levantaram de suas cadeiras e aplaudiram o novo Cavaleiro das Forças Armadas do Reino de Bellyhan.
O rosto voltou a surgir no fogo e novamente um nome se formou. Bryan Kepler.
__Bryan Kepler! __gritouGaya.
Assim seguiu todo o resto da cerimônia. O fogo do cálice chamava os formandos e os dava coragem, vitalidade e virtude.
Foi uma cerimônia inesquecível para Lisa. Ela jamais esqueceria da emoção que os formandos sentiam em ver seus nomes serem formados dentro do fogo e depois terem suas vestes transformadas em armaduras pelo Cálice da Vida.
A formatura foi finalizada por Godric que ficou no centro da Cúpula e ergueu o dedo para o alto. Uma luz formou-se no dedo e foi lançada para o céu. Assim que saiu da Cúpula da Fênix, a luz transformou-se em vários fogos de artifícios que iluminaram o céu com explosões encantadoras de luz colorida.
Neste momento, os alunos entenderam que finalmente o ano havia terminado depois de muitas dificuldades. Era hora de todos retornarem para seus reinos e aproveitarem ao máximo o período de descanso enquanto as aulas não retornavam para um novo ano.
A chuva havia dado uma trégua por algumas horas. No entanto, na hora em que os alunos saíam da Cúpula, a chuva retornou. Martius Godric passou por entre os alunos e parou em frente às pontes. Em seguida, ele ergueu o cetro e pronunciou algumas palavras que os alunos não entenderam. De repente, uma cápsula se formou sobre as pontes, deixando-as semelhantes a túneis. Os alunos agradeceram a Godric e continuaram a andar, agora, protegidos pela cápsula do druida.
__Nunca vi nada tão fantástico em minha vida! __murmurou Lisa passando sobre a ponte ao ver Louise, Dan, Zig e Cliffe se juntarem a ela.
__Você ainda não viu nada, Lisa! __exclamou Louise.
Lisa sorriu para Louise e olhou para trás, onde vislumbrou a Cúpula da Fênix se distanciando a cada passo que dava, entre meio raios e trovões que pareciam chacoalhar o Mundo de Aragorn.
__Nem acredito que as aulas acabaram! __comentou Louise vendo a Fonte Phoenix surgindo a sua frente.
__Não sei por que reclama! __exclamou Zig.
__É, mesmo! __disse Cliffe__ Já terminou seu treinamento e não precisa mais voltar no ano que vem!
__Mas vou voltar! __exclamou Louise sorrindo alegremente para Lisa__ Não sei o que seria de mim sem esse lugar!
Zig e Cliffe fizeram uma careta para Louise e tomaram a frente do grupo.
__Ai, Zig, porque parou? __perguntou Dan tropeçando em Zig.
__Desculpe, cara, é que tem um tumulto ali na frente.
__Tumulto?
Lisa passou entre meio Zig e Cliffe e saiu da ponte.
__É no jardim sul __disse Lisa esticando o pescoço para tentar enxergar alguma coisa sobre as cabeças dos outros alunos__ Tem alguma coisa pendurado na estátua...
Lisa e os outros se espremeram entre a multidão de alunos e se aproximaram da estátua do anjo no centro do jardim sul onde alguma coisa vermelha parecia escorrer por um dos braços da estátua.
__Com licença, deixem-me passar!
Lisa virou-se e afastou-se para que Athus e Falco pudessem passar. Seguindo-os com os olhos, Lisa os viu parar de chofre ao ficarem de frente para a estátua.
__O que está acontecendo, Lisa? __perguntou Dan.
__Não consigo ver. Tem muita gente na minha frente.
__Com licença!
Lisa e Dan viraram-se e abriram espaço, assim como os outros alunos, para que Gaya, Godric e os outros professores pudessem passar. Entre o estreito vão que se abriu, Lisa esticou o pescoço e viu Gaya parando em frente a uma poça avermelhada que formava aos seus pés. Lentamente, o príncipe ergueu a cabeça e, o que estava pendurado no braço da estátua, o deixou aterrorizado.
__Afastem-se, por favor! __ouviu-se a voz de Falco ecoar entre a chuva fina__ Dêem mais espaço!
Quando os alunos se afastaram e a estátua do anjo ficou nítida, Lisa arregalou os olhos e Louise levou a mão à boca ao verem um corpo pendurado na ponta da espada que o anjo erguia para o alto. Do corpo, gotas de sangue pingavam sobre a poça aos pés de Gaya.
O corpo era de Christian Ravenclaw. No peito dele havia uma espada cravada que vazou nas costas. O rapaz tinha sangue escorrendo pelo rosto e pelas narinas. No braço da estátua, riozinhos de sangue se confundiam com a água da chuva e escorriam pela estátua até se encontrarem com a poça de sangue.
Godric e Gaya aproximaram do corpo e olharam para a espada. Gaya virou para os alunos assustados e disse para os professores:
__Archer, ordene aos Trasgos que fechem os portões da Fonte Phoenix e que não permitam que ninguém saia daqui. E os outros professores levem os alunos imediatamente para seus castelos. Por segurança eu quero que ninguém saia de seus quartos!
__Vamos! Retornem para seus castelos! Rápido! __gritaram Archer e os outros professores.
Os alunos saíram de perto da estátua e voltaram para seus castelos às pressas. Todos estavam assustados.
Athus Lupus estava saindo com os alunos quando Gaya chamou-o:
__ E você Athus, comunique a Azgrah o que houve!
Após a saída dos alunos, Gaya levantou o olhar para o corpo de Ravenclaw e murmurou para Godric:
__ Seja quem for que fez isso, não sairá da Fonte Phoenix enquanto as Sentinelas de Azgrah não chegarem!
As Sentinelas de Azgrah
Os portões da Fonte Phoenix foram fechados e guardados pelos Trasgos. Por ordem de Archer, os guardiões ficaram de vigília nas muralhas, atentos a qualquer movimento estranho.
Os alunos estavam apavorados com o que houve. Alguns trancaram as portas de seus quartos e fecharam todas as janelas. Em alguns castelos, alguns alunos permaneceram na porta dos quartos armados com varinhas e espadas. Uma tensão envolvia todos.
O assassinato de Christian Ravenclaw chocou todos os alunos. A Fonte Phoenix era um modelo de segurança em toda Aragorn. Jamais algo desse tipo poderia acontecer. O assassinato em plena formatura do Quarto Ano provocou uma repercussão gigantesca não só dentro da própria Fonte Phoenix, mas também em todos os reinos que souberam do fato minutos depois.
A Folha do Centauro chegou à Fonte Phoenix num estralar de dedos. O jornal mais lido em Aragorn era coordenado por Alan Hart, um feiticeiro inescrupuloso e de conduta duvidosa. Alan possuía milhares de informantes em todos os reinos de Aragorn. Em cada sombra, em cada pedra e em cada tronco de árvore, havia escondido um elfo informante da Folha do Centauro. Era impossível algum fato passar despercebido pelos ouvidos de Hart.
Alan Hart chegou à Fonte Phoenix numa carruagem preta puxada por dois cavalos negros. Ele estava acompanhado de seu ajudante, Robbie Felton, que mais parecia um elfo em forma de rato do que um homem em forma de ajudante. Hart saiu da carruagem dando ordens ao ajudante:
__Eu quero fotografias do corpo, da estátua e da espada. Não se esqueça do sangue, Robbie! __Hart olhou para trás e viu seu ajudante aproximando lentamente enquanto preparava a sua máquina fotográfica do ano de 1900 traga do Mundo dos Humanos__ É para hoje seu imbecil!
Alan Hart era de estatura média e tinha um rosto jovial, porém traiçoeiro. Seus cabelos negros eram grandes e tocavam as costas. Hart usava um sobre-tudo preto e uma bengala que tinha um corvo com as asas abertas na ponta. Ele usava um anel em forma de cobra na mão e uma pulseira de ouro no braço. Os olhos azuis celestes de Hart provocavam arrepios a quem os olhasse profundamente.
Robbie Felton era uma criatura curiosa. Seu pai era um elfo e sua mão era uma feiticeira que se transformara em uma ratazana e nunca mais conseguira voltar ao normal. Robbie nasceu com as duas características que o fecundaram. Ele tinha orelhas pontudas e nariz grande como o pai, e tinha os dentes da frente, grandes, como o da mãe ratazana. Devido à união entre elfo e feiticeira ratazana, Robbie não conseguia fazer magia, mas conseguia se transformar em rato, sem problema algum.
__O que está fazendo aqui, Hart? __perguntou Godric ao vê-lo.
__Fico feliz em vê-lo também, Martius! __disse Hart com falsidade__ Eu soube desse fato um tanto... lastimável e não pude deixar um furo de reportagem como esse passar por despercebido. Sabe como as notícias correm, as coisas acontecem num segundo e a Folha do Centauro chega ao local no outro segundo! É inevitável, somos mais rápidos do que os outros, o que posso fazer? __Alan Hart tirou a atenção de Godric e olhou para as posições em que Robbie tirava as fotografias de Ravenclaw__ Não, não, não Robbie! Eu quero essas fotografias tiradas desse ângulo para destacar a espada e o sangue!
Martius tentou interferir no trabalho de Alan Hart, mas foi impedido por Gaya, que segurou seu braço e fez um aceno com a cabeça ao ver o inspetor de Azgrah, Neville Chamberlain, chegar à Fonte Phoenix numa carruagem, seguido por trinta criaturas negras.
Lisa e Dan observavam todo o movimento em torno do corpo de Ravenclaw da janela da sala comunal do Castelo dos Bruxos. Na sala estavam juntos com Lisa e Dan, Zig, Cliffe e Louise.
__Parece que a Folha do Centauro chegou primeiro do que o inspetor de Azgrah! __disse Dan voltando para a sala comunal.
__Mas também, não há nada em Aragorn que Alan Hart não descubra antes dos inspetores de Azgrah! __disse Louise para Dan__ Aquele rato do Felton não deixa nada passar por despercebido!
Lisa observava os inspetores de Azgrah retirarem o corpo do alto da estátua e as estranhas criaturas vasculharem os jardins e as muralhas em busca do assassino. Desde o momento em que vira o corpo de Christian, algo começou a perturbá-la por dentro. Era como se a vítima fosse alguém próximo a Lisa ou como se ela se visse no lugar de Ravenclaw. Lisa sentia-se estranha. Um mau pressentimento a atormentava e a deixava nervosa ao mesmo tempo.
__O que foi Lisa, parece estranha? __perguntou Zig.
Lisa saiu de perto da janela e ficou próxima a lareira. Dan a observava e tentava imaginar no que Lisa estava pensando.
__O que é essa Azgrah?
Dan sentou-se no sofá e respondeu:
__A masmorra de Azgrah é o local onde assassinos e criaturas desordeiras da Ilha das Sombras são presas. Os inspetores de Azgrah são quem investigam as mortes estranhas de criaturas em Aragorn. Eles investigam o caso e, na maioria das vezes, prendem o culpado e os condenam a viverem presos nas masmorras por um determinado tempo ou pelo resto da vida.
__As masmorras de Azgrah guardam milhares de criaturas perigosas. Jamais Aragorn seria o que é hoje se não fossem as prisões de Azgrah! __exclamou Zig.
Enquanto os outros falavam sobre as masmorras de Azgrah para Lisa, Dan a observava. Ele tinha certeza de que ela estava perturbada com alguma coisa. Talvez fosse o impacto ao ver o corpo de Ravenclaw, pensava ele. Por mais que tentasse, Dan não conseguia encontrar uma resposta para a expressão estranha de Lisa.
Neville Chamberlain era um homem alto e magro. Ele era moreno e tinha olhos escuros que pareciam enxergar profundezas desconhecidas que ninguém ousava enxergar. Neville era a autoridade em pessoa. Ele era intolerante, arrogante e implacável em suas investigações. Talvez fosse por isso que a Ordem dos Lordes confiou o cargo de inspetor de Azgrah a ele.
__Inspetor Chamberlain __cumprimentou Gaya.
Neville Chamberlain curvou-se ao aproximar de Gaya e fez um aceno com a cabeça para Martius. Em seguida, o inspetor aproximou-se do corpo de Ravenclaw, posto no chão, e examinou-o.
__Quem era ele? __perguntou Chamberlain a Martius.
__Era um formando do Quarto Ano. Christian Ravenclaw.
Chamberlain abriu o manto de Ravenclaw e viu uma queimadura na armadura que ele usava.
__Este rapaz recebeu um feitiço muito poderoso, olha como sua armadura foi perfurada! __Chamberlain levantou e chamou por um de seus ajudantes__ Lyon onde está a espada?
__Aqui, senhor!
O ajudante magricela de Chamberlain trouxe a espada para o inspetor, envolvida num pano branco. Neville pegou a espada e deu uma olhada nela, depois tornou envolvê-la com o pano e entregou a Lyon.
__Torna-se evidente príncipe Gaya que a Fonte Phoenix não está mais tão segura quanto era antigamente. Eu creio que a Ordem dos Lordes não vai gostar nada do que houve aqui!
__Eu garanto inspetor que ninguém sem permissão, entra na Fonte Phoenix. O que aconteceu hoje pode ter sido um descuido dos guardiões e dos Trasgos. Mas garanto que a Fonte Phoenix ainda é segura.
Neville colocou a mão no bolso do sobre-tudo preto que usava e tirou um par de luvas pretas de couro do bolso. Enquanto colocava-as na mão, Chamberlain virou-se para Gaya e disse com tonto desprezo que foi necessário Godric por a mão no ombro de Gaya para controlá-lo.
__Se fosse tão segura quanto diz, príncipe Gaya, a Besta não teria invadido a Fonte Phoenix e posto em risco os alunos que aqui permaneciam!
Alan Hart estava próximo de Gaya e anotava tudo o que os dois falavam num pergaminho. Hart com certeza utilizaria a antiga desavença de Neville com Gaya para conseguir vender o seu jornal. Isso era típico dele.
Gaya respirou fundo e tentou fingir que não ouvira Chamberlain falar. A atenção do príncipe e de todos que estavam ao seu redor, foi tirada por uma criatura que aproximou de Neville e lhe disse algo.
As Sentinelas eram criaturas sombrias e sem almas. Elas eram imortais e dificilmente um feitiço podia tirar a imortalidade delas e mata-las. O rosto das Sentinelas não era muito agradável. Elas tinham olhos arregalados como se o globo ocular fosse sair do crânio e narizes achatados. As Sentinelas não enxergavam e nem falavam, já que não possuíam boca. Elas comunicavam-se com os inspetores de Azgrah através de telepatia.
O poder psíquico das Sentinelas era extremamente forte. Elas conseguiam matar uma pessoa apenas usando a mente. As Sentinelas também podiam matar ou capturar as pessoas através de correntes que ficavam presas em seu corpo e podiam ser lançadas contra os fugitivos. Normalmente para que seu rosto sombrio e suas várias correntes envolvidas em seu corpo não fossem revelados, as Sentinelas usavam longos mantos encapuzados à cabeça. Os mantos flutuavam no ar e nunca tocavam o chão, pois as Sentinelas não possuíam pernas.
Neville Chamberlain concordou algo com a Sentinela e depois a dispensou. A Sentinela saiu voando em direção a um dos castelos numa incrível velocidade. Ao passar por Gaya, a rapidez da Sentinela moveu seu manto.
__A Fonte Phoenix, príncipe Gaya, será vasculhada detalhadamente. Se o assassino ainda estiver aqui, as Sentinelas o pegarão!
As trinta Sentinelas invadiram todos os castelos da Fonte Phoenix e vasculharam todos os quartos dos alunos e as masmorras. Enquanto as Sentinelas faziam a vasculha, os alunos ficaram intactos em seus quartos, a espera da saída delas.
Lisa estava à janela do seu quarto. Ela observava as Sentinelas voando de castelo em castelo à procura do assassino. Louise viu-a olhando para as Sentinelas e aproximou-se dela.
__Lisa, quando as Sentinelas vierem vasculhar este quarto, eu quero que você fique intacta sem fazer nenhum movimento brusco.
__Por que isso, Louise? __perguntou Lisa.
__As Sentinelas, Lisa, rastreiam através da telepatia os movimentos estranhos de uma pessoa. Se a pessoa for culpada, ela tentará fugir ou agir bruscamente. Quando isso ocorre, as Sentinelas não medem esforços em capturá-la ou até mesmo em matá-la, mesmo que não seja a culpada. Entendeu agora?
Lisa acenou com a cabeça e voltou a olhar para fora. Louise voltou para a sala e sentou-se ao lado de Cliffe.
Uma das Sentinelas saiu do Castelo dos Trons e veio em direção ao Castelo dos Bruxos. Ao aproximar do castelo, tudo ficou sem vida. As paredes escureceram e os móveis perderam as cores. Lisa assustou-se com o que estava acontecendo e virou para os outros.
__O que está acontecendo? __perguntou Lisa.
__É uma Sentinela. Fiquem todos em silêncio, assim ela não nos perceberá.
Lisa virou-se para a janela e ficou quieta a espera da Sentinela aproximar e fazer a vasculha.
A Sentinela percebeu a presença de Lisa na janela e veio voando numa grande velocidade em sua direção, como se fosse atacá-la. Lisa começou a tremer ao vê-la, mas manteve-se intacta em seu lugar.
A Sentinela aproximou rapidamente da janela e bateu a sua mão direita no vidro dela. Lisa olhou para a mão murcha e os longos dedos da Sentinela e lembrou-se da Besta. Lisa não conseguiu ficar quieta ao ter a visão da Besta em sua frente e afastou-se para trás.
A Sentinela percebeu o movimento brusco de Lisa e quebrou o vidro da janela. Lisa afastou rapidamente para trás e viu as unhas longas da criatura atacando-a. Porém, antes da Sentinela atacá-la, Louise entrou na frente de Lisa e abriu os seus braços levantando as barras do manto, para cobrir Lisa. A Sentinela parou a mão próxima ao rosto de Louise e ficou parada por alguns instantes naquela posição. Ela aproximou a cabeça do rosto de Louise e olhou para ela. Não pressentindo nada, a Sentinela recolheu a mão e afastou para trás. Antes de sair totalmente pela janela, a criatura sombria deu uma última olhada e depois desapareceu voando numa grande velocidade para além do Castelo dos Gaullers.
Louise abaixou os braços e suspirou de alívio.
__Ufa! Eu pensei que ela nos atacaria!
Dan saiu de seu lugar e aproximou de Lisa.
__O que houve Lisa, por que não ficou quieta?
Lisa não conseguia responder a pergunta de Dan. Seu coração batia aceleradamente e um medo incontrolável ainda tomava conta dela.
__Não sei, Dan... não sei!
O corpo de Christian Ravenclaw foi posto dentro de um caixão de metal e depois foi levado pelas Sentinelas. Antes de Neville Chamberlain ir embora depois da tentativa frustrada de encontrar o assassino ainda na Fonte Phoenix, Alan Hart tentou fazer-lhe perguntas, mas Lyon o deteve. Hart ficou furioso com Lyon e foi embora com Robbie Felton.
Os professores foram orientados por Godric, após a retirada do corpo, para que acalmassem os alunos. Athus estava no hall de entrada do Castelo dos Bruxos quando alguns alunos vieram ao seu encontro. Entre eles estavam Lisa, Louise, Dan e os Pés Grandes.
__Não se preocupem, o assassino não está mais na Fonte Phoenix __disse Athus para tranqüilizar os alunos__ Seja qual foi o motivo pelo qual ele matou Ravenclaw, agora tudo já terminou. Os inspetores de Azgrah investigarão o caso e para a maior segurança de todos, as Sentinelas permanecerão na Fonte Phoenix por alguns dias até que todos retornem para seus reinos.
Os alunos, já tranqüilizados, suspiraram de alívio e voltaram aos poucos aos seus quartos. Antes de Lisa voltar com os outros para o quarto, Athus chamou-a num canto afastado do hall.
__Lisa, eu quero que você tenha muito cuidado com as Sentinelas. Por algum motivo, elas provocam sensações estranhas nas Bruxas de Fogo e geralmente às atacam. Quando você estiver de frente com uma Sentinela você deve...
__Devo ficar intacta para que elas não sintam meus movimentos __interrompeu Lisa__ Louise já me disse pra ter cuidado com elas.
__Muito bem! Louise está se saindo uma ótima guardiã!
Athus e Lisa riram e voltaram para onde os outros estavam. Ao olhar para os Pés Grandes, Athus perguntou-lhes:
__E vocês dois, o que estão fazendo aqui? Por que não estão no Castelo dos Trons?
__Nós já íamos voltar para lá __respondeu Zig.
__É, já estamos indo!
Zig e Cliffe despediram-se dos outros e saíram correndo do hall. Athus virou para os três que restavam e pediu-lhes para que fossem dormir, aquela noite fora cansativa para todos e, portanto, merecia um descanso.
Athus estava voltando para o Castelo do Príncipe quando parou em frente à estátua do anjo e olhou para a asa manchada de sangue.
Uma chuva fina voltara a cair sobre a Fonte Phoenix. A chuva batia na asa da estátua e retirava aos poucos a mancha de sangue. Por um instante, um raio seguido de um trovão iluminou o rosto de Athus e a asa ensangüentada. Athus ficou parado olhando para o sangue por alguns segundos e depois voltou a andar com os pensamentos distantes.
Vinte e oito Sentinelas ficaram na Fonte Phoenix para assegurar a segurança dos alunos, mesmo contra a vontade de Gaya.
__Inspetor, a Fonte Phoenix é o lugar mais seguro de Aragorn e...
Neville Chamberlain estava entrando na carruagem quando virou-se para Gaya e lançou-lhe um olhar reprovador.
__É inadmissível, príncipe Gaya, que seus alunos passaram pelo que passaram hoje. Ravenclaw foi a vítima, mas um dos outros alunos também poderia estar no lugar dele. Eu acredito que seus guardiões e seus Trasgos estavam muito ocupados com a chuva e esqueceram de vigiar as entradas. Sendo assim, as Sentinelas ficam até segunda ordem.
Neville entrou na carruagem e fechou a porta. Gaya afastou-se para trás furioso com o inspetor. Após a sua saída, Martius Godric aproximou-se dele e disse:
__Estamos passando por um momento de provas, alteza. Primeiro foi a invasão dos Carrascos onde duas torres da Fonte Phoenix foram destruídas e agora esse assassinato abala novamente a nossa estrutura. Espero que meu príncipe saiba rever isso e concertar os erros.
Godric apoiou-se no seu cetro e saiu na direção do Castelo do Príncipe. Assim que ele desapareceu entre as árvores, Gaya murmurou:
__Não há erros Godric! Não há!
Gaya e Neville nunca se deram bem um com o outro. O inspetor de Azgrah sempre interferia nos assuntos de segurança da Fonte Phoenix, contrariando as ordens de Gaya.
A segurança de Aragorn, refletida pela presença constante dos inspetores de Azgrah, era submissa a Ordem dos Lordes, que por sua vez tinha grande poder sobre a Fonte Phoenix e sobre Gaya.
A Ordem dos Lordes era um grupo formado pelos cem homens mais poderosos de Aragorn. A Ordem controlava todos os aspectos políticos dos reinos e ainda tinha o poder de coroar um de seus Lordes, como rei supremo de Aragorn.
A monarquia em Aragorn era hereditária, ou seja, passava de pai para filho. No entanto, apenas assumia o trono a primeira geração de um rei. Por exemplo, quando um rei morresse, seu filho assumia o trono. Quando este morresse, o seu filho já não tinha mais poderes para ser coroado rei. Entrava em cena então, a Ordem dos Lordes que indicava um dos seus membros para ocupar o trono da Fonte Phoenix.
Assim que um Lorde assumia o trono, ele governava todos os seis reinos mais o Reino da Fênix. Cada reino possuía um rei que era submisso ao rei da Fonte Phoenix. Por sua vez, a Fonte Phoenix era submissa a Ordem dos Lordes que mantinha um pacto de segurança com os inspetores de Azgrah.
Muitas criaturas de Aragorn, não aceitavam essa forma de organização política e criaram as suas próprias formas de governo, tornando-se independentes da Fonte Phoenix, como por exemplo, a Ilha das Sombras.
Em todos os seus longos anos de reinado, Gaya não aceitava a idéia de sentir-se submisso as ordens de segurança dos inspetores de Azgrah, ainda mais vindo de Neville Chamberlain. O ódio que sentia pela arrogância de Chamberlain era tão grande que raramente Gaya dirigia-lhe a palavra. No entanto, para seu desagrado, havia momentos em que ambos deveriam trabalhar juntos para manter a paz em Aragorn. Para Gaya, era um castigo insuportável que ele não sabia quanto tempo mais poderia suportar.
Ataque noturno
A noite fria e chuvosa parecia interminável para Lisa. Havia no ar uma sensação sombria que perturbava ela. Depois que se deitou, Lisa dormiu algumas horas apenas e depois não conseguiu mais dormir.
Durante boa parte da noite, Lisa ficou olhando para a janela do seu quarto e toda hora que uma Sentinela passava perto do Castelo dos Bruxos, ela escondia-se debaixo do seu cobertor. Um medo incontrolável a tomava e algo inexplicável a fazia se esconder como um rato indefeso.
Lisa não conseguia entender por que sentia tanto medo ao ver uma Sentinela aproximando. Na verdade, Lisa não era a única Bruxa de Fogo que sentia medo ao estar próxima de uma Sentinela. As outras inexplicavelmente se escondiam e faziam de tudo para ficar longe delas. O medo de Lisa era algo hereditário, passado de geração em geração. Infelizmente ninguém nunca conseguiu descobrir o motivo de tanto medo. Talvez apenas o tempo poderia revelar a Lisa os segredos que cercam suas antepassadas.
Era por volta das duas da manhã quando Lisa resolveu levantar e ir a biblioteca do Castelo dos Bruxos buscar um livro para ver se conseguia dormir ao lê-lo.
O corredor que ligava o terceiro andar ao segundo era escuro e sem iluminação alguma. Lisa pegou a varinha Witchfire e fez um feitiço Lúmus.
Depois que a Besta foi destruída, Lisa guardou a varinha de Grifus Allenah e passou a usar a lendária Witchfire. A princípio, Lisa teve problemas em executar feitiços com a varinha de Melody, mas tudo foi superado por ela.
A biblioteca dos Bruxos localizava-se no segundo andar do castelo e para chegar nela, Lisa entrou por um dos corredores e parou no início das escadas que ligavam o terceiro andar ao segundo. As escadas estavam escuras e nada era visto a não ser a luz da varinha de Lisa.
As escadas do castelo eram em forma de espiral. Elas se iniciavam no primeiro andar e só terminavam no quarto andar do castelo. Eram oito escadas ao todo, cada uma passando ao lado da outra e formando espirais de várias formas, possibilitando assim, ver quem subia do primeiro andar ou quem descia do último. No centro da espiral, feita pelas escadas, havia um grande vácuo. Em algumas partes da espiral havia algumas armaduras que flutuavam dentro do vácuo e uma criaturinha simpática chamada Luft, o Gobelin, que mora sobre um carpete flutuante.
Lisa começou a descer as escadas e percebeu que uma luz na ponta de uma varinha vinha subindo as escadas em sua direção. Devido à escuridão, Lisa não conseguiu ver quem subia e continuou a descer.
A cada passo que Lisa dava, a pessoa aproximava cada vez mais. Lisa estava tão atenta a luz que se assustou quando passou por Luft e escutou-o roncando. Lisa olhou para baixo e não viu mais a luz. Ela achou estranho e continuou a descer.
Lisa não estava muito longe de encontrar a entrada para o segundo andar quando novamente a luz surgiu, desta vez do outro lado da espiral. Lisa parou e ficou olhando a pessoa andando. De onde Lisa estava, dava-se para escutar os passos dela. De repente, Lisa parou de ouvir os passos e a luz apagou. Lisa achou estranho e pensou em voltar. Ao olhar para o alto da espiral e ver a luz novamente, Lisa esqueceu a idéia de retornar ao terceiro andar e terminou de descer as escadas até entrar no corredor do segundo andar. Deve ser alguém que estava sem sono e está voltando para o seu quarto! pensou Lisa.
Athus estava sentado na sua cama, sem sono, pensando no assassinato de Ravenclaw.
Christian Ravenclaw fora um de seus melhores alunos e jamais o vira envolvendo-se com pessoas de má índole. Athus não entendia por que alguém o matou e tinha certeza que o motivo foi muito forte para o tê-lo eliminado.
Athus passou a mão no rosto e saiu do quarto para refrescar a cabeça. Ao entrar no corredor que dava acesso as escadas do primeiro andar, Athus parou ao ver uma luz no final do corredor virando para a direita. Athus apagou a luz que estava na ponta de sua varinha e continuou andando no escuro na mesma direção em que a luz entrou.
Athus seguiu a luz durante um grande período de tempo no corredor. Ele estranhava que alguém poderia estar de pé ainda àquela hora. Poderia ser alguém que não conseguira dormir e estava indo para o jardim, pensava ele. Mesmo pensando assim, Athus não deixou de segui-lo com a luz da sua varinha apagada.
A pessoa continuou andando até que parou e virou para o corredor. Athus ficou imóvel para que não fosse visto e pudesse, assim, ver quem era que estava no corredor. No entanto, foi tudo em vão, a luz apagou-se e os passos desapareceram. Athus achou tudo mais estranho ainda.
Athus permaneceu quieto, encostado a parede do corredor. Ele tentava escutar os passos, sem total sucesso. Athus começou a andar novamente quando parou subitamente ao sentir algo se aproximando dele. Nada era ouvido por Athus, apenas a sua respiração e mais nada.
Naquele momento onde um mistério envolvia Athus Lupus, o corredor pareceu mais escuro e mais sombrio. Os olhos que em momentos eram de um lobo, tentavam ver através da escuridão o que aproximava cada vez mais dele. De repente Athus sentiu que alguém estava de frente para ele. Lupus segurou forte a varinha e pensou em ascender uma luz para ver quem era, mas manteve-se quieto.
Aos poucos, uma mão de um homem surgiu no escuro segurando uma varinha. Athus continuou quieto tentando ver quem era. De repente, o homem levantou o braço e apontou a varinha para Athus. Uma luz saiu da varinha e empurrou Athus por uns cinqüenta metros corredor adentro. Athus bateu contra a parede do final do corredor e caiu no chão.
Rapidamente, Athus levantou e apontou a varinha para frente. Uma luz surgiu na ponta da varinha e iluminou uns cinco metros à frente dele. Athus começou a andar lentamente, tentando ao máximo possível ver quem o atacara.
À frente de Athus apenas dava-se para ver o corredor e mais nada. Seja quem fosse que o atacou, já devia ter ido embora, pensou ele. Athus recolheu a varinha lentamente e parou de movimentar ao sentir alguém atrás dele. Athus segurou forte a varinha e virou bruscamente. Antes de fazer o feitiço, Athus apenas escutou uma voz ecoando em seus ouvidos e uma luz branca muito forte ofuscando a sua visão.
Lisa caminhava no corredor que dava acesso à biblioteca olhando para fora através das grandes janelas do castelo. A chuva já havia parado de cair e uma escuridão gigantesca tomava conta da Fonte Phoenix. Lisa não se importava com a escuridão, mas sim com a possibilidade de uma das Sentinelas passar por ali.
Naquele momento, Lisa estava arrependida de ter saído de seu quarto e já pensava em voltar. O que é isso Lisa? __pensava ela__ Uma Sentinela não vai aparecer justamente agora! Afinal de contas já estou chegando a biblioteca.
Lisa continuou andando respirando forte para tentar aliviar o medo de ver uma Sentinela. A luz de sua varinha iluminava aproximadamente uns dez metros a sua frente e, portanto tornava-se suficiente para tranqüiliza-la.
À frente de Lisa, uma pessoa estava parada esperando-a se aproximar. Devido à escuridão, não dava para ver quem era, mas sabia-se que era um homem não muito alto. Ao ver Lisa aproximando-se, o homem segurou forte a varinha e pensou em por seu plano em prática. Ele tinha que ataca-la, era preciso. Lisa aproximou e a luz da varinha dela iluminou as pernas do homem. Lisa parou assustada assim que viu a ponta da varinha dele aparecendo na luz e apontando para ela. Uma luz branca saiu da varinha do estranho homem e foi lançada contra Lisa.
Lisa viu a luz saindo da varinha e começou a correr. Porém, a luz acertou as suas costas e ela caiu no chão. Lisa pegou a varinha caída ao seu lado e levantou com dificuldades. Ao levantar, Lisa apontou a varinha para o corredor com um feitiço na ponta.
__Não se aproxime! __gritou Lisa__ Quem é você? Por que me atacou?
Lisa respirava ofegante e tentava ver o rosto do homem, mas só via a sua perna e a sua varinha apontando para ela.
De repente o homem começou a andar em sua direção e voltou a ataca-la.
__Burgus! __gritou Lisa ao ver o feitiço do homem.
O feitiço do homem bateu contra o escudo de Lisa e o destruiu. Em seguida, um quarto do poder total do feitiço conseguiu acertar Lisa na barriga e a derrubou.
Lisa levantou com a mão na barriga e começou a sentir algo estranho. Um medo incontrolável começou a tomar conta dela e um mau pressentimento a envolveu. De repente, Lisa virou para as janelas e viu uma Sentinela quebrando-as e atacando-a com uma onda negra de energia que saiu das garras da Sentinela. A onda jogou Lisa contra a parede deixando-a fraca e sem defesa, pois a sua varinha voou da sua mão e caiu longe dela.
De súbito, a Sentinela tirou uma corrente que envolvia ao seu corpo e atirou-a contra a testa de Lisa. Ao ver a corrente vindo em sua direção, Lisa pensou que ia morrer e fechou os olhos, mas de repente, um homem entrou em sua frente e abriu os braços. A corrente bateu contra o escudo mágico feito pelo homem e começou a trinca-lo.
Lisa abriu os olhos e viu o homem protegendo-a com o escudo de energia azul. O homem vestia roupas do Mundo dos Humanos e tinhas cabelos grandes, que flutuavam no ar.
Lisa tentou pegar sua varinha caída no chão, mas parou ao ver o homem apontando a varinha para a Sentinela e gritar:
__Ex ducere!
Após ouvir a voz, Lisa apenas viu o homem desaparecendo entre uma grandiosa luz.
Um gigantesco clarão ofuscou os olhos de Lisa e tirou todos os seus sentidos.
O feitiço de remoção de poder
As pontes se desprenderam da Cúpula da Fênix e antes de caírem sobre as muralhas da Fonte Phoenix, transformaram-se em pós negros. Segundos depois, a Cúpula desceu aos poucos e entrou no mar. Uma gigantesca onda se formou e atingiu o penhasco com uma força arrasadora. A água recolheu-se e fechou o mar. A Cúpula da Fênix estava submersa e só retornaria no ano seguinte.
O barulho que a Cúpula provocou ao submergir despertou Lisa de um sonho estranho e sombrio. Ela sonhava que alguém a atacara e que uma Sentinela a tentara mata-la.
Lisa levantou com os cabelos armados para o alto e se espreguiçou. Ela penteou os cabelos e começou a trocar de roupa quando algo chamou a sua atenção. Sua blusa estava queimada, como se um feitiço a tivesse atingido na barriga. Lisa parou por um instante. Pensou. Lembrou do estranho sonho e caiu sentada sobre a cama. Não foi um sonho!
Todos os moradores do Castelo dos Bruxos já haviam levantado e já estavam tomando café. Lisa entrou no refeitório pensativa e sentou ao lado de Dan. Deu bom dia e não quis puxar conversa. Dan achou-a estranha. Afinal de contas, Lisa era sempre estranha!
Após não responder as três tentativas frustrantes de Dan de perguntar o que estava acontecendo, Lisa saiu da mesa e encaminhou-se para o hall de entrada do castelo onde Athus estava saindo apressado. Ao vê-lo, Lisa desejou contar-lhe o que houve, porém, sentiu-se insegura se realmente deveria faze-lo. Assim que começou a subir as escadas espirais, Lisa hesitou e correu até o professor.
__Athus __gritou Lisa.
Athus virou para Lisa e esperou ela se aproximar.
__Eu gostaria de conversar com o senhor, a sós.
__Aqui nós poderemos conversar sem sermos interrompidos __Athus indicou a cadeira de sua mesa de trabalho depois de puxar outra cadeira e sentar de frente para Lisa__ O que quer falar comigo? Parece preocupada!
Lisa engoliu um ar seco e fitou-o.
__Aconteceu algo estranho comigo na noite passada, Athus.
__O que houve? __disse com interesse.
__Eu não me lembro bem como aconteceu, mas eu fui atacada por um homem enquanto ia a biblioteca durante a noite.
Athus ergueu a sobrancelha e perguntou:
__O que ia fazer na biblioteca enquanto todos estavam dormindo?
__Estava sem sono e pensei em pegar um livro para ler...
__Você não foi à única a ser atacada na noite de ontem, Lisa! __interrompeu Athus seriamente__ Eu também fui atacado.
Lisa olhou assustada para Athus e levantou da cadeira.
__O que está acontecendo, professor? Por que nos atacariam?
Athus respirou forte e olhou para Lisa com a cabeça meio baixa.
__Não sei, Lisa. Eu apenas me lembro de um feitiço ofuscando os meus olhos e depois... eu acordei em meu quarto como se nada houvesse acontecido.
__Ocorreu o mesmo comigo __acrescentou Lisa__ Mas o mais estranho é que eu fui atacada por uma Sentinela que passava por perto e o homem que me atacava naquele momento, entrou na minha frente e me protegeu da Sentinela. Em seguida eu ouvi um feitiço e uma luz...
Os dois ficaram quietos. Dava-se para ouvir até mesmo um alfinete caindo no chão dentro da sala de Magia Espírita. Athus cruzou os dedos e passou as mãos no rosto.
__Erium Extrillium, foi o feitiço usado __disse.
__O que significa?
Athus levantou da cadeira e pôs-se a janela, pensativo.
__É um feitiço muito antigo de remoção de poder __ Athus virou para Lisa com uma expressão séria__ Ele não é usado há séculos. Seja quem for que ordenou o Extrillium, ele tinha a intenção de remover algum poder nosso, Lisa.
__Poder?
Athus cruzou os braços e voltou a olhar pelas janelas.
__Quem nos atacou não queria nos matar, mas sim roubar algo nosso que seria interessante para ele. Por isso que ele protegeu você da Sentinela. No certo ele não conseguiu remover o que queria e não podia deixar a Sentinela te pegar antes de obter o que procurava.
__E o que ele procurava? __perguntou Lisa indo até a janela.
__Não sei, Lisa. Apenas sei que seja lá o que for que ele queria em você, ele não conseguiu por causa da Sentinela. E provavelmente voltará a ataca-la. Agora a mim... bem, ele já conseguiu!
Athus parecia mais preocupado do que Lisa. Era como se ele guardasse algo dentro de si e o perdera por um homem estranho num ataque mais estranho ainda.
__ Athus, será que esse ataque tem alguma ligação com...
Athus interrompeu Lisa e pareceu meio nervoso ao virar para Lisa.
__Jamais! Não há ligação alguma com o assassinato de Ravenclaw e muito menos com a Besta. Ela está morta junta com os Carrascos, que eram seus seguidores, você mesma sabe bem disso.
Lisa abaixou a cabeça e sentiu-se estúpida ao remexer em algo que já era passado. A Besta e os Carrascos estavam todos mortos, era impossível de ter havido algum sobrevivente na explosão provocada por Lisa, pensava Athus.
__Não se preocupe com isso Lisa __disse Athus com um leve sorriso no rosto__ Pode ter sido algum fanático que queria ter um pouco do seu poder e que queria a técnica de transmutação minha. Em Aragorn, nós podemos esperar de tudo!
Lisa deixou escapar uma risadinha discreta ao acalmar-se e respirou.
__Está pronta para visitar o Mundo dos Humanos? __perguntou Athus tentando mudar de assunto.
__Podemos ir a qualquer hora!
__Certo. Partiremos hoje à noite!
Lisa calou-se e passou a pensar em como estaria o Mundo dos Humanos depois desse um ano fora dele. Ela sentia-se ansiosa e mal podia esperar a hora de voltar, mesmo que não encontrasse mais ninguém para recebe-la. Lisa ficou triste ao pensar em Anne e desejou sair da sala de Magia Espírita. Antes de sair, porém, Athus chamou-a e lhe disse com um ar estranho:
__Por favor, não conte ainda nada a ninguém sobre o que aconteceu, Lisa. Eu gostaria que isso ficasse só entre nós.
Lisa concordou com a cabeça, sem entender o motivo, e saiu da sala. Athus saiu de perto da janela assim que a porta se fechou e sentou na sua mesa. Ele abriu uma gaveta da mesa de mogno e tirou um livro de couro peludo. Athus abriu-o e procurou algo em uma de suas páginas amareladas. Ao encontrar o que queria, Athus ergueu a cabeça e pareceu mais preocupado do que já estava.
__Não pode ser!
Dan não entendera por que Lisa o ignorou e foi procura-la para pedir explicações. Ele procurou pelos longos corredores do castelo onde alguns alunos colocavam suas “fofocas” em dia, pelos jardins da Fonte Phoenix e ainda tentou encontra-la no campo de treinamento e de pouso, sem obter sucesso.
Desanimado, Dan voltou para o Castelo dos Bruxos e encontrou Lisa subindo as escadas em forma de espiral.
__Lisa! __chamou-a.
Lisa parou nas escadas e esperou Dan aproximar.
__O que está acontecendo? Por que não me deu atenção no refeitório?
__Me desculpa Dan, eu ainda estou meio perturbada com o assassinato de Ravenclaw e com aquele ataque da Sentinela...
__Eu sei, mas você deve esquecer isso tudo e lembrar que vai poder visitar o seu Mundo como queria __disse Dan abrindo um sorriso.
__Não sei se vai ser bom voltar para lá __disse Lisa triste__ Não há mais ninguém para me receber. Estou sozinha!
Lisa virou as costas para Dan e subiu as escadas às pressas. Dan pensou em ir atrás dela, mas preferiu ficar ali. Lisa estava triste e ele não podia fazer nada.
Lisa entrou na Sala Comunal e sentou a beira da janela com os braços juntando as pernas. Ela olhou para as torres dos outros castelos com os olhos cheios de água e permitiu que uma lágrima escorresse em seu rosto ao lembrar do triste fim de Anne.
O túmulo de Anne
Durante toda a tarde, Lisa ficou enfiada nas páginas amareladas do livro de Melody Bluesky a procura de algum feitiço interessante. Depois que Athus lhe deu o livro, Lisa descobriu alguns feitiços que deixaram Dan boquiaberto quando ela os utilizou nas aulas de Combate com o comandante William Gryffindor.
Gryffindor havia lançado um desafio para Lisa e Louise. Obviamente, Lisa venceu o desafio depois de lançar um Hametsius que deixou Louise abobada por uns três dias. A partir de então, todos quiseram aprender o poderoso feitiço. Porém, nem todos conseguiram utilizar a força máxima do Hametsius como Lisa utilizava. Foi um alvoroço na Fonte Phoenix, todos queriam usar o grande poder do feitiço em atos exibicionistas nos duelos, mas só conseguiram destruir paredes, deixar os adversários tontos e fazer com que os professores se irritassem. Lisa decidiu então não utiliza-lo mais, apenas em momentos propícios ela voltaria a usa-lo, mas mesmo assim tentaria evitar à tentação.
Enquanto folheava as páginas, Lisa encontrou um feitiço que chamou a sua atenção. Era um feitiço de reversão de encantamentos. Ela aprendeu-o e desejou testa-lo, mas era necessário que alguém a atacasse para que a maldição Reverso fosse utilizada.
A noite havia chegado e Athus preparou a carruagem com alguns minutos atrasados da hora marcada para a partida. Lisa queria que Louise e os Pés Grandes fossem com ela, mas eles queriam visitar suas famílias e também não podiam ir porque já haviam reservados alguns compromissos em alguma parte de Aragorn.
Lisa e Dan estavam ansiosos para partirem. Lisa estava mais nervosa do que Dan, afinal viria seu Mundo depois de um ano fora. Mesmo depois do que houve com Anne, Lisa queria voltar às suas origens e matar a saudade, apesar da idéia de que não encontraria ninguém para recebe-la com um abraço forte a atormentasse.
Os dois entraram na carruagem e Athus subiu nela para guiar os cavalos brancos. Caballus Levioça! Os cavalos ganharam impulso e voaram entre as nuvens. Enquanto saíam da Fonte Phoenix, Lisa sentiu um arrepio e um medo tomar conta dela. Ao olhar para fora da carruagem, Lisa entendeu o motivo de tanto medo, uma Sentinela acabara de passar por sobre a carruagem.
As nuvens estavam demasiadamente negras e havia alguns relâmpagos singelos que insistiam em iluminar o céu com seus flashes ameaçadores. Um portal redondo que parecia um túnel que emitia luzes azuis nas suas paredes, abriu-se entre as nuvens. A carruagem entrou na passagem e desapareceu repentinamente. Segundos depois, a carruagem saiu pelo mesmo portal no Mundo dos Humanos.
Enquanto a carruagem passava sobre o grande lago Grumbecker, Lisa avistou Winsville ao longe com suas luzes iluminando parcialmente o céu. Dan estava maravilhado ao lado de Lisa e não acreditava no que via.
Antes de chegar na cidade, a carruagem subiu novamente para o céu para que ninguém os visse. Minutos depois ela desceu em um gigantesco jardim de uma mansão sombria e esquisita.
Um homem aparentemente velho, careca de nariz achatado, olhar sombrio e usando óculos de meia lua; aproximou da carruagem, apoiado numa bengala simples e recebeu Athus com um abraço. Lisa e Dan saíram da carruagem e ouviram Athus chamar o homem de Crowley.
__Lisa, Dan... esse é Aleister Crowley __disse apresentando o homem.
Dan apertou a mão de Crowley e depois Lisa fez o mesmo. Ao tocar a mão dele, Lisa sentiu que ele era frio e que olhava de forma sombria para ela. Lisa sentiu um leve arrepio na sua marca no pescoço e soltou a mão de Crowley.
__Fico muito feliz em poder conhecer pessoalmente a senhorita, Lady Bladefire de quem tanto falam!
Lisa sentiu que Crowley mantinha um tom de voz que não a agradava, fazendo-a ignorar por despercebido a forma como o homem a chamou. Lady Bladefire.
Aleister Crowley levou-os para dentro da mansão e induziu-os até uma grande sala mal iluminada onde o fogo da lareira iluminava apenas algumas poltronas próximas a ela.
Enquanto se sentavam, Dan não parava de passar os olhos por todos os lados. Ele nunca tinha visto tantas coisas diferentes em um só lugar. Primeiro foi as luzes de Winsville, depois a forma da mansão e por fim, o seu interior.
Aragorn era um pouco semelhante com o Mundo dos Humanos. Apenas algumas coisas os diferenciavam e os tornavam independentes um dos outros. Em Aragorn, por exemplo, as roupas eram semelhantes a dos humanos, sendo diferente apenas o modo que se vestiam.
Crowley indicou um lugar para Dan sentar-se, mas ele preferiu ficar em pé olhando alguns estranhos objetos ao redor, como o telefone e uma caneta posta ao lado dele.
__Lisa, Crowley e eu treinamos juntos na Fonte Phoenix há uns... __Athus pensou por um instante e depois continuou__ cem anos atrás!
__Bons tempos aqueles, hein Athus! __disse Crowley lembrando da época e rindo.
Lisa não entendeu ao certo a diferença de idades entre os dois. Athus parecia ser bem mais jovem do que Crowley. Então como estudaram juntos? Lisa balançou a cabeça e esqueceu a pergunta.
O fogo da lareira pareceu diminuir ao longo da conversa de Athus e Crowley. Ambos contaram a Lisa e a Dan a vez em que explodiram a sala da Arte das Espadas e quando botaram fogo, sem querer, nas vestes do pai de Gaya. Sem que percebessem, o fogo diminuiu, diminuiu... até que apagou deixando apenas as brasas reluzindo entre a sala escura.
__Ah, eu esqueci minha varinha no meu quarto e os fósforos estão em algum lugar em meu bolso, deixem-me encontra-los __Crowley enfiou a mão nos bolsos e tirou vários pedaços de papéis, uma caixa de fósforos vazia e um celular.
Dan não sabia o que era esse tal de fósforo, mas com certeza sabia como fazer fogo. Ele apontou o dedo para a lareira e uma luz vermelha vagou no escuro e atingiu as brasas. Imediatamente, um fogo alto e vibrante surgiu e iluminou a sala.
__Oh! __disse Crowley olhando por cima dos óculos de meia lua__ Muito bom rapaz, muito bom mesmo!
Dan sentiu que seu rosto avermelhava e se afastou um pouco para dentro das sombras.
__Eu fiquei sabendo através da Folha do Centauro o que aconteceu na Fonte Phoenix, ontem após a formatura __disse Crowley retomando a conversa__ É lastimável!
__Felizmente, não houve mais de um assassinato __disse Athus recostando-se na poltrona__ Os inspetores de Azgrah estão investigando o caso e fizeram questão de manter as Sentinelas na Fonte Phoenix até que todos os alunos tenham voltado para seus reinos.
Crowley deu um risinho que chamou a atenção de Lisa.
__Chamberlain não deixará mais o príncipe Gaya em paz depois disso tudo. Hum... é típico dele!
Athus abriu a boca para dizer algo quando um homem forte de cabelos ruivos saiu das sombras e apareceu entre a porta. Dan e Lisa quase pularam assustados ao verem o homem entrar.
__Lá fora está ficando cada vez mais frio __o homem tirou o casaco peludo e jogou-o sobre uma poltrona__ Como está, Athus?
__Austin Osman!
Os dois homens apertaram fortemente as mãos e deram palmadas no ombro de cada um. Lisa e Dan ficaram intactos onde estavam, observando o rosto sinistro de Osman.
Austin Osman não era exatamente um homem agradável de ficar perto dele. Osman olhava com seus olhos azuis nebulosos de forma nefasta e tinha um bigode ruivo que o deixava totalmente sombrio. Lisa e Dan arrepiavam-se toda vez que olhavam para Austin.
__Essa deve ser Lisa Torner__ disse aproximando de Lisa e estendendo a mão.
Lisa pegou a mão de Osman e puxou-a de volta imediatamente. Uma estranha sensação a fez mover involuntariamente e afastar para trás. Austin fixou os olhos azuis nebulosos em Lisa e deu um sorriso entortando a boca para o lado esquerdo.
__E este deve ser...
Dan adiantou-se e estendeu a mão.
__Daniel Horcliffe, senhor __disse Dan olhando Austin Osman com um olhar apreensivo.
Aleister Crowley levantou da poltrona apoiado na bengala e parou de costas para a lareira.
__Bem, acredito que todos devem estar famintos!
Era por volta das onze da noite quando Lisa foi levada para um quarto escuro do segundo andar da mansão. Ela estava com muito sono e preferiu deitar-se logo depois de um “banquete digno de rei” cedido por Crowley.
Lisa acendeu dois abajures e viu que o quarto estava demasiadamente escuro para ela. Lúmus Lucídium!
Lisa caiu deitada sobre a gigantesca cama da mansão Crowley e cruzou os braços atrás do pescoço. A luz que brilhava no teto pela ação do feitiço iluminava seu rosto e enchia seus olhos verdes esmeralda de um brilho antes nunca visto. Lisa estava feliz, até o momento de sentir um aperto no coração e uma tristeza encher seu ser.
Lisa virou na cama e apertou forte o travesseiro enquanto suas lágrimas escorriam. A luz brilhante apagou-se duas horas depois deixando cair pontinhos amarelos sobre Lisa.
Um pontinho amarelo brilhante tocou o rosto de Lisa e escorreu em seu rosto. A jovem Bruxa de Fogo sonhava naquele momento.
Os primeiros raios do sol britânico atravessaram quase que despercebido às cortinas negras da mansão e tocaram a pele lisa e macia de Lisa.
Lisa abriu os olhos forçadamente e virou na cama para ver o sol entrando pela janela. O sol estava branco e parecia tímido ao ver o inverno aproximando-se. Do lado de fora da mansão, as árvores perdiam as suas últimas folhas e davam um ar sombrio sobre toda Winsville.
No jardim coberto de folhas da mansão, havia um homem agasalhado juntando as folhas com um rastelo e fazendo montes em diversos pontos do jardim. Porém, para o azar do homem magricelo e de feição carrancuda, um vento passou e arrastou todas as folhas na direção do carro negro com uma mulher-anjo de asas abertas na frente. Austin Osman saiu do carro e olhou para a feição aborrecida do jardineiro. Lisa observou Osman entrar na mansão com uma sacola de pães, pela janela. Antes de entrar, Osman parou na porta e ergueu a cabeça para ver Lisa observando-o. Lisa escondeu o rosto atrás da cortina e sentiu novamente aquele arrepio ao ver os olhos de Austin.
Athus e Dan já estavam de pé a mais de meia hora. Dan ainda não parava de olhar para o estranho objeto sobre uma mesinha num canto escuro da sala. Athus percebeu que ele fitava o telefone e deu uma risada meio que escondida entre os lábios. Dan abriu a boca para perguntar o que era aquele estranho objeto, mas hesitou ao ver Lisa descendo as escadas.
__Bom dia! __disse Lisa sorrindo.
__Dormiu bem, Lisa?
Lisa já ia dar uma resposta para Athus quando Osman surgiu nas sombras da sala.
__Bom dia a todos! __disse com o mesmo olhar estranho de sempre__ Venham, por favor, vamos tomar um café.
Aleister Crowley estava sentado na enorme mesa de mogno repleta de bolos, pães, pudins e geléias, com um sorriso mais estranho do que de Osman. Lisa não sabia quem era mais esquisito, Osman ou Crowley.
Osman e Crowley, explicou Athus enquanto tomavam café, eram secretários da Ordem dos Lordes e tinham permissão para morar no Mundo dos Humanos para evitar que algum Ser de Aragorn resolvesse ameaçar a paz desse mundo. Lisa não entendia muito bem o que Osman e Crowley podiam fazer contra alguém que viesse para o Mundo dos Humanos com más intenções, mas sabia claramente que o portal não era aberto a qualquer um, apenas quando a Ordem dos Lordes permitisse a abertura.
__Passamos a maior parte do tempo fazendo nada __admitiu Crowley com um sorriso no rosto__ A Ordem não permite que qualquer um abra o portal e sendo assim, não temos muito trabalho com forasteiros!
Enquanto Crowley falava sobre seu trabalho no Mundo dos Humanos, Lisa observava a sua careca reluzir entre uma pequena faísca de luz solar que passava entre as cortinas da sala. Crowley percebeu a luz tocando os seus olhos e fez um movimento com a mão. As cortinas se fecharam com estrépito, deixando a sala mais escura ainda. A partir daí, Lisa não mais imaginava por que Crowley e Osman eram tão brancos, chegando a serem pálidos.
Era por volta das nove da manhã quando Crowley levou Lisa e Dan até a mansão Torner, onde Lisa passara mais da metade da vida dela. Lisa estava ansiosa para rever o lugar onde passara tantos momentos agradáveis com sua tia, Anne.
Enquanto passavam pelas ruas movimentadas de Winsville, Lisa reparava como a cidade crescera nesse período de um ano. Havia prédios, restaurantes, casas de shows, shoppings e tantas outras construções novas que Lisa ficou contente com tanto progresso rápido. Já Dan, dera trabalho para Lisa no instante em que iriam sair da mansão Crowley.
Dan nunca tinha visto um carro na vida e ficara extremamente assustado ao ouvir o som do motor do carro ligado. Pior foi quando eles passavam por uma rua movimentada e um caminhão passou numa grande velocidade e o barulho da ultrapassagem deixou-o assustado de tal forma que Lisa precisou dar um tapa no rosto de Dan para acalma-lo. Apesar das atrapalhadas de Dan, Lisa estava se divertindo as custas do amigo.
Até o caminho para a antiga casa, Lisa estava tranqüila, mas ao chegar, uma sombra pairou sobre seu rosto e uma expressão assustada tomou conta dela.
__O que houve aqui? __perguntou Lisa não acreditando no que estava vendo.
__Os tempos mudam, Lisa, nada permanece como está! __murmurou Crowley aproximando de Lisa e apoiando-se em sua bengala.
Os olhos de Lisa vibraram de tristeza ao ver a mansão totalmente abandonada e as portas e janelas escancaradas. O jardim da mansão, que um dia fora o mais belo de todo quarteirão, tornara-se uma selva silvestre. As estátuas no jardim estavam quebradas e algumas, pinchadas. Nas poucas janelas que restavam, havia sinais de vidros quebrados e ripas que as protegiam. Lisa estava paralisada com o que via, tão paralisada que nem escutou Crowley dizer:
__Doze anos se passaram Lisa, desde a sua partida! __Crowley olhou para os olhos lacrimejantes de Lisa e suspirou calmamente__ Eu posso imaginar o que deve estar sentido. Passou doze meses em Aragorn e agora que retorna encontra tudo de pernas para o ar. Sabe, Lisa, o tempo é algo enigmático. Para quem vive aqui, o tempo passa muito mais rápido do que em Aragon. Um mês lá... um ano aqui!
Dan observou as lágrimas escorrendo nos olhos de Lisa e sentiu vontade de poder abraça-la e consola-la, porém, a única coisa que fez foi por a mão em seu ombro. Lisa, por sua vez, nem prestou atenção no ato do rapaz e saiu correndo em direção a mansão. Dan tentou acompanha-la, mas Crowley puxou Dan.
__Deixe-a rapaz. Lisa precisa compreender a ação que o tempo exerce sobre as coisas. A cada dia o tempo muda... muda... e muda, não deixando nenhum rastro por onde passa. Ele é oponente e não se importa com os sentimentos... __Crowley suspirou aos olhos atentos de Dan__ Nada é mais como era!
O interior da mansão estava totalmente destruído assim como o quarto de Anne. Ao ver o que restava da vaidade de Anne, apenas uma escova de cabelo azul-púrpura, Lisa encostou-se à parede e desceu deslizando até o chão, em prantos. Dan surgiu aos poucos na porta e viu Lisa sentada no canto do quarto praticamente vazio.
__Isso foi tudo que restou de minha família, Dan __disse Lisa mostrando a escova para Dan__ E só de pensar que foi tudo culpa minha...
__Não se culpe, Lisa __interveio Dan sentando ao seu lado__ Você não provocou nada disso, foi tudo culpa de Malagat.
__Ele não teve culpa __disse Lisa enquanto enxugava as lágrimas__ Se eu não fosse uma Bruxa de Fogo... talvez se eu não tivesse nascido, Anne...
Dan agarrou os braços de Lisa e sacudiu-a para faze-la encarar a realidade.
__Pare com isso, Lisa. Se você não tivesse nascido, outras pessoas inocentes morreriam. Se você não tivesse nascido, Anne não a teria conhecido... Se você não tivesse nascido, eu não teria... __Dan hesitou em continuar.
Lisa fitou Dan por alguns instantes e depois o abraçou com toda força.
__Me desculpe. Eu sou uma idiota!
__Não, você não é Lisa, se você não tivesse enfrentado a Besta e a derrotado, Aragorn inteira estaria correndo perigo. Entenda Lisa, você nasceu para dar uma nova oportunidade ao mundo de crescer em paz.
Lisa ficou quieta e abaixou a cabeça, depois murmurou baixo:
__Mas para isso eu paguei um preço muito alto!
Dan viu naquele momento que não adiantava insistir e calou-se também. Lisa recostou novamente à parede e fechou os olhos.
__Às vezes eu fico tentando imaginar como era os meus pais, mas eu não consigo __Lisa virou-se para Dan com a mão entre os cabelos amarelados__ Entende agora Dan? Para salvar Aragorn, eu tive que perder meus pais e agora, Anne!
Dan começou a dizer algo quando uma voz apareceu na porta.
__No entanto tudo é passado, Lisa __disse Crowley__ Você deve entender Lisa, que para certas coisas são necessários sacrifícios, por mais que eles nos ferem. Tudo faz parte de um destino misterioso que esconde as suas verdadeiras razões para nós. Não somos donos dele, mas podemos prevê-lo e evita-lo. Naquela época seus pais tentaram evitar que você morresse e agora, você tentou evitar que o mal destruísse o lugar onde seus pais, no passado, amaram-no e lutaram para garantir a paz. Certas coisas nós não entendemos quando estamos furiosos com algo, mas nós deixamos de notar que tudo que fazemos é para o nosso próprio bem, independente de quem seja sacrificado. Eles fizeram o que acharam certo e, bem, você também fez o que achou certo. Pense nisso, Lisa! __Crowley virou e saiu.
Dan levantou sem dizer nada a Lisa e seguiu Crowley. Lisa ficou quieta com seus pensamentos paralisados. Ela olhou ao seu redor e entendeu o que Crowley acabara de dizer. Lisa levantou escorando-se na parede e antes de sair da mansão, foi até o seu antigo quarto onde se surpreendeu ao vê-lo da mesma forma que o deixou. Lisa pensou em ficar ali por algum tempo, mas algo surgiu em sua cabeça e ela saiu da mansão sem olhar para trás. Acabou, tudo é passado!
Os três estavam voltando para a mansão Crowley quando Lisa passou por um shopping aonde um restaurante veio a sua mente. Era exatamente onde estava o shopping que existia o Coupe de Feu, onde Lisa não quisera jantar com Anne. Lisa se perguntou o que tinha acontecido com o restaurante, mas percebeu que o tempo mudara e com ele, tudo a sua volta havia se modificado.
Lisa permaneceu quieta durante todo o percurso, ela só abriu a boca quando passaram pelo cemitério de Winsville e pediu para o motorista de Crowley parar o carro. Lisa saiu do carro e pediu para que a esperassem uns minutinhos.
O cemitério de Winsville era bem grande e havia muitos mausoléus e estátuas de vários anjos próximos as lápides. No cemitério havia algumas árvores sem folhas que o deixava cada vez mais arrepiante. Um vento forte e frio vindo do leste bateu contra Lisa e ergueu seu sobre-tudo preto aveludado. Lisa cruzou os braços e procurou por um túmulo durante cinco minutos. Ao encontrar o que queria, Lisa parou perto do túmulo e ficou em frente à lápide onde havia escrito:
AQUI JAZ
ANNE LAUREN TORNER
? ~ 08 de JANEIRO de 2007
Lisa ficou olhando para o ponto de interrogação no lugar da data de nascimento de Anne e ficou imaginando quando ela teria nascido. Por um instante, todas as lembranças da tia querida tomaram conta de seus pensamentos. Lisa abaixou a cabeça e tentou esconder uma lágrima. Por um instante Lisa murmurou bem baixo, parecendo quase um sussurro:
__Eu não quero mais que alguém morra por minha culpa, eu juro!
Um novo vento soprou arrastando várias folhas em direção a Lisa. Com seu sobre-tudo flutuando para trás, Lisa tentou conte-lo quando pensou ter visto um homem de capa preta encapuzado a espiando por trás de uma estátua de um anjo. Lisa sentiu um arrepio na marca e voltou o olhar para a estátua, mas não havia ninguém atrás dela.
Antes de sair do cemitério, Lisa tirou sua varinha do bolso e certificou-se de que ninguém estava por perto. Lisa murmurou algum feitiço e um magnífico vaso de flores surgiu sobre a lápide.
Ao retornar ao carro, Dan perguntou se ela estava bem e Lisa acenou com a cabeça. O carro começou a andar e Lisa viu o cemitério sumir de sua vista ao dobrarem uma esquina.
A noite em Aragorn ainda estava tempestuosa quando o inspetor Neville Chamberlain recebeu Lorde Weaslow em uma sala escura cheia de ratos de uma das torres sombrias de Azgrah. A sala parecia um necrotério humano com vários corpos nus dentro de grandes e pesados caixões de ferro.
Neville adiantou-se para receber Weaslow e beijou a sua mão onde havia um anel com um emblema dentro__ um OL grudados em letras garranchadas.
Lorde Weaslow era um homem magro de rosto seco e feição fechada e carrancuda. Seus olhos eram fundos e fulminantes como os de uma águia. Weaslow parecia não estar nada satisfeito em ter sido chamado a altas horas da noite, em meio a uma tempestade para vir urgentemente a Azgrah. Esperava que fosse muito urgente mesmo, caso contrário Chamberlain sentiria ao que era ver Weaslow furioso.
__O que tem de tão importante para me mostrar Chamberlain __disse com extrema repugnância ao ver os ratos correrem de um canto para o outro__ Espero que seja realmente importante, caso contrário...
__Caso contrário o senhor se sentiria culpado de não ter visto o que encontrei...
Mal interrompeu Neville quando Lorde Weaslow interrompeu-o.
__O que está insinuando Chamberlain? __disse apontando o dedo torto e magro para o peito de Neville.
__Me siga, Milorde __disse Neville enquanto passava por entre vários cadáveres__ Essa manhã, minhas Sentinelas encontraram um corpo boiando sobre um riacho dentro do Bosque Espinhoso e veja o que há no corpo...
Chamberlain parou em frente a um caixão de ferro e abriu-o com dificuldade. Dentro do caixão estava um homem roxo com longos cabelos grisalhos e rosto inchado. Havia vários furos no corpo e uma escrita em seu peito. Ao ler o que estava escrito, Lorde Weaslow pulou para trás e deixou escapar um breve murmúrio:
__Pobre Slater, eles voltaram!
Os olhos de Weaslow encontraram-se novamente com o peito do homem e fecharam-se de repente. Entre o corpo roxo, apenas a escrita funda entre a carne no tórax destacava-se num tom vermelho quase violeta. Weaslow pôs a mão na boca e virou as costas para a escrita: Emissários da Morte
Os Emissários da Morte tentam matar Lisa
Os primeiros flocos de neve começaram a cair logo a tarde, onde um frio insuportável tomou conta de toda Winsville. Aos poucos se podia ver a fumaça das lareiras saindo pelas chaminés das casas ao redor da mansão Crowley.
Lisa estava sentada a beira da lareira quando uma melodia harmoniosa tocada por um piano invadiu toda a mansão. Lisa levantou da poltrona e seguiu o som harmonioso da música até parar na porta de uma sala escura onde Austin Osman estava sentado a frente de um piano. Na sala, apenas a luz que passava pelas janelas verticais iluminava as partituras de Osman.
Austin Osman viu Lisa encostada a porta e parou de tocar.
__Ah, você estava aí!
Osman lançou um olhar para Lisa, que desta vez não a incomodou.
__Desculpa, mas eu ouvi a música e não pude deixar de ver quem estava tocando. Como se chama?
__Angel of Joy de David Lanz __Austin sorriu para Lisa e disse__ Venha. Chegue mais perto. Eu não mordo!
Lisa foi até Osman e sentou numa poltrona à frente dele e do piano.
__Gosta de música?
__Gosto... acho que ela faz parte de minhas descendentes!
__Eu entendo __Osman suspirou e virou a folha da partitura__ Melody sabia encantar as pessoas com suas músicas. Acredito que nunca vi alguém em Aragorn que tocasse tão bem quanto ela. Sabe Lisa, seu pai também gostava muito de música. Eu me lembro que nos grandes bailes que Dragon dava, pelo menos uma música Draco fazia questão de tocar com os elfo-trons.
Lisa abaixou a cabeça e pensou em seu pai e em sua mãe.
__Athus me disse que meus pais eram sacerdotes, mas infelizmente isso é a única coisa que eu sei sobre eles __confessou Lisa.
Osman deu um suspiro como se estivesse com pena de Lisa e saiu de perto do piano, indo para a janela.
__Seus pais eram pessoas maravilhosas, Lisa. Hum... você é idêntica a sua mãe, os mesmo traços, a mesma forma de olhar... Mas seus olhos são de seu pai.
Lisa sentiu-se rosar as faces e abaixou a cabeça para disfarçar. Osman enfiou a mão nos bolsos e olhou para Lisa.
__Draco Bladefire era um exímio domador do fogo, eu não me admiro que você puxe o talento dele. Já sua mãe, Mysth, tinha uma graciosidade que poucos encontram em uma mulher. É uma pena que nós os tenhamos perdido!
Osman abaixou o olhar e Lisa ficou séria. Austin deu um suspiro e pareceu pensar em algo. Por fim, saiu para uma parte escura da grande sala e chamou Lisa.
__Venha cá, Lisa. Tem algo que eu quero que você veja.
Lisa acompanhou Osman e parou quando ele estralou os dedos e a sala se iluminou. Pregados a parede, à frente de Lisa, havia dois quadros grandes de um homem vestido de vermelho segurando um cetro com um dragão em forma de serpente enrolado até a ponta; e uma mulher de olhos azuis, usando um grande vestido transparente azulado segurando nas mãos um cristal de gelo de quinze centímetros de comprimento amarrado a uma corda com várias bolinhas pequenas, como um colar de pérolas.
__São seus pais, Lisa __disse Osman.
Lisa olhou para os quadros com os olhos brilhando e com uma emoção indescritível. Por alguns segundos, Lisa observou a feição robusta e corajosa do pai e a feição doce, amável e delicada da mãe.
__Você nunca os tinha visto antes, não é mesmo? __perguntou Osman observando a emoção de Lisa.
Lisa balançou a cabeça e tocou os dois quadros com as mãos. Ao tocar neles, uma faixa luminosa surgiu onde umas letras apareceram aos poucos entre a luz. No quadro do pai de Lisa, apareceu escrito Draco Bladefire, Príncipedo Fogo; e no quadro da mãe, surgiu: Mysth Crystalice, Dama do Gelo.
__Seus pais ficariam muito contentes em vê-la, Lisa... __disse uma voz que surgiu na sala.
Lisa virou-se mais Osman e viu Athus se aproximando dos dois.
__Eles devem estar orgulhosos de você, nesse momento __continuou Athus.
Lisa sorriu e voltou a olhar para os quadros.
__Osman, você se importaria em me dá-los...
__De forma alguma __interrompeu Osman__ Esses quadros são seus agora. Eu os tinha fazia algum tempo, mas acho que agora é hora de passa-los para você.
__Obrigada! __disse Lisa sorrindo para os quadros.
A noite caía lentamente sobre Winsville. A neve já havia parado de cair e haviam ainda poucas pessoas expostas ao tempo gélido. Distante da cidade, um portal abriu entre as nuvens e algo terrivelmente sombrio saiu de dentro dele.
Durante o anoitecer até a hora do jantar, Lisa permaneceu na sala, sentada a frente dos quadros de seus pais, observando-os. Lisa sentia que a presença dos quadros era como se seus pais realmente estivessem ali com ela. Naquele momento, Lisa já havia esquecido Anne e tudo que se passara com ela durante esse um ano.
As horas passaram e Dan veio chamá-la para o jantar. Ele aproximou de Lisa e sentou ao seu lado.
__Parece que eles estão olhando para mim, Dan __disse Lisa sorrindo.
__Eu imagino que estejam!
Os dois calaram-se. Um silêncio tomou conta da sala e deixou-a mais sombria ainda. Por fim, Dan falou:
__O que pretende fazer depois que voltarmos depois de amanhã para Aragorn?
__Não sei!
Novamente os dois calaram-se. Lisa observou pela milionésima vez os quadros de seus pais e levantou do chão.
__Devem estar nos esperando.
__Claro __Dan levantou e saiu na frente de Lisa.
Lisa ficou parada por alguns segundos olhando os quadros e ao virar-se teve a sensação de ter visto nos olhos de seus pais, um brilho piscar para ela. Lisa virou novamente para eles e ficou observando a faixa desaparecer junto com as letras, dos quadros.
Antes de sair, Lisa fechou as cortinas das janelas e apagou as velas tragas por Osman. Lisa abriu a porta da sala e saiu. Sem que Lisa percebesse antes de sair, algo negro passou voando por uma das gretas deixadas pelas cortinas em uma das janelas.
Como da outra noite, Lisa e os outros jantaram e foram para a lareira. No entanto, desta vez, o frio era mais intenso e foi necessário Dan aumentar o fogo para Crowley, pois novamente ele esquecera a varinha no quarto e deixara os fósforos em algum lugar.
As horas foram passando e Lisa começou a sentir sono. Ela deu boa noite a todos e foi para o quarto. Enquanto passava pelo corredor escuro da mansão, algo fez-la sentir um breve arrepio na marca, mas não deu atenção.
Lisa deitou na cama e fez um feitiço Lúmus Lucídium para iluminar melhor o quarto. Ela deitou com a cabeça sobre os braços cruzados e ficou olhando a luz do feitiço brilhar. Alguns minutos depois, Lisa foi até a janela e deu uma espiada no tempo. A neve novamente começara a cair. Lisa ficou de costas para a janela e antes de voltar para a cama, sentiu que algo passara voando atrás dela. Lisa virou-se e apenas viu alguns flocos de neve tocando o vidro da janela. Ela fechou as cortinas e foi para o banheiro.
Lisa voltou do banheiro e parou no centro do quarto em quanto jogava seus cabelos para trás do pescoço. Ela não percebeu, mas atrás de Lisa uma lança de metal prateada e bem pontuda escorregou atrás de uma cortina, sendo segurada por uma mão de dedos longos e finos.
Lisa terminou de arrumar os cabelos quando sentiu algo aproximando numa incrível velocidade atrás dela. Lisa virou para o lado e a lança passou rente ao tórax indo acertar a parede do quarto. Lisa olhou assustada para trás e soltou um gigantesco grito que foi ouvido no andar inferior.
Athus, Dan e Osman escutaram os gritos de Lisa e subiram as escadas correndo para ver o que estava acontecendo. Crowley estava preparando um drinque em uma outra sala quando escutou o grito e saiu correndo, deixando tudo para trás.
Athus corria na frente dos outros e parou antes de chegar no quarto de Lisa quando escutou a voz dela e em seguida uma gigantesca explosão destruiu a parede ao seu lado. Vários tijolos foram lançados contra o corredor junto com alguém de preto bastante machucado. Do outro lado da parede, estava Lisa de pé segurando a varinha Witchfire na mão, suspirando ofegante.
Athus abaixou para ver quem era que estava caído e arregalou os olhos ao ver uma criatura demoníaca. Antes de Athus dizer algo, a criatura agarrou o pescoço dele com as garras e começou a enforca-lo.
Osman empurrou Dan para o lado e apontou a varinha para a criatura.
__Desintegrate!
Uma luz negra muito intensa saiu da varinha e atingiu a cabeça da criatura. Imediatamente após o feitiço atingi-la, a criatura virou pó, deixando apenas os ossos entre os escombros da parede destruída.
__O q-quê que era i-isso? __perguntou Lisa ofegante do outro lado do buraco da parede.
__Um Emissário... __disse Athus depois de ter caído sentado para trás__... da Morte!
__Emissários? __disse Dan__ Mas eles não foram aprisionados?
Athus levantou do chão e tirou o pó da roupa, depois olhou para Dan e disse:
__Sim Dan, foram.
__Então, como...?
__Talvez essa criatura não seja exatamente um Emissário __disse Crowley chegando por trás dos outros__ Nós sabemos que em Aragorn existem várias criaturas que se parecem muito uma com as outras.
Lisa continuava do outro lado do buraco na parede, sem entender nada do que os quatro falavam. Ela ainda segurava forte a varinha como se um pressentimento a perturbasse lhe dizendo que ainda não havia acabado.
__Me desculpem, mas do quê estão falando? __perguntou Lisa.
Athus olhou para Osman e este olhou para Crowley. Sem entender o que se passava na cabeça dos três, Dan observava a troca de olhares.
__Conte a ela, Athus! __disse Osman.
__Eu não sei se deveria... __hesitou Athus.
__Contar o quê? __interveio Lisa__ O que estão escondendo de mim?
Athus suspirou e passou a mão na testa inicialmente suada.
__Lisa, quando você era recém-nascida, existiam umas criaturas chamadas Emissários da Morte que trabalhavam para o Mestre das Sombras. Essas criaturas executavam os serviços sujos da Ilha das Sombras. Geralmente, elas eram as autoras de várias mortes em Aragorn. Com a tentativa de Malagat, a Besta, de tentar dominar os reinos, os Emissários passaram a serem temidos pela forma brutal e sanguinária como eles atacavam. Muitos tentaram destruí-los, mas ninguém conseguiu.
__Apenas um homem, Lisa __continuou Crowley__ foi capaz de desafiar o poder dos Emissários e leva-los para uma armadilha. Uma vez atraídos para a armadilha, os Emissários foram trancafiados em grandes baús de ferro que foram enfeitiçados por sete maldições extremamente poderosas para evitar que alguém os libertasse.
__Depois que os Emissários foram trancafiados, os baús foram enterrados abaixo de um templo nas montanhas sombrias da Ilha das Serpentinas sobre a proteção de milhares de serpentes __disse Athus__ Após o que houve, ninguém nunca mais ouviu falar neles.
__Acredita-se ainda, que até hoje eles continuam trancafiados na Ilha das Serpentinas __disse Crowley abaixando e pegando nos ossos da criatura__ Mas é curioso, depois do que aconteceu, que algum Emissário ainda esteja livre!
Enquanto Athus e Crowley falavam sobre os Emissários da Morte, Lisa permaneceu intacta onde estava, era como se ela visse tudo acontecendo ao seu redor: os ataques sanguinários, o aprisionamento nos baús e o lançamento das sete maldições.
__E o que isso pode siguinificar? __perguntou Dan virando-se para Crowley abaixado perto das ossadas.
Crowley soltou o osso que segurava e depois levantou lentamente apoiado a bengala. Ele olhou para Lisa e suspirou tão baixo que quase não deu para ouvi-lo.
__Isso siguinifica que pode haver outros Emissários soltos por aí. Em outras palavras, isso siguinifica o início do caos. Pois uma vez solto, um Emissário da Morte pode trazer de volta todos aqueles dias tempestuosos que Aragorn viveu.
Todos ao redor de Crowley ficaram sérios e pensativos. Lisa olhou para a ossada no canto da parede e sentiu um grande vazio dentro de si.
Lisa pensou em sentar sobre a cama e refletir tudo o que foi dito quando um estranho arrepio na sua marca no pescoço a fez ficar intacta onde estava. Os outros repararam que Lisa ficara estranha de repente e fitaram-na.
__O que foi Lisa? __perguntou Dan.
Lisa não respondeu e começou a respirar de forma ofegante novamente. Era como se ela sentisse algo se aproximando... se aproximando... se aproximando e...
Um forte estampido invadiu o quarto e milhares de cacos de vidro foram lançados pelo ar. Lisa virou rapidamente para trás quando apenas viu a ponta de uma lança sendo jogada em sua direção.
__Lisaaaa!
Os Emissários da Morte tentam matar Lisa
Athus passou pelo buraco na parede numa incrível velocidade e conseguiu jogar Lisa contra o chão, bem a tempo. Dan virou o corpo e a lança passou raspando em seu ombro, acertando a parede. Vendo que Lisa estava bem, Athus levantou e foi até a janela. Ao olhar para fora, seus olhos arregalaram de espanto.
__Oh, não! __Athus virou rapidamente para os outros e gritou__ Tirem Lisa daqui, rápido!
Dan passou pelo buraco na parede e perguntou o que estava havendo. Ao chegar na janela, Dan virou rapidamente para trás e ajudou Lisa a se levantar. Do lado de fora da mansão, dezenas de Emissários voavam de um lado para o outro segurando enormes lanças nas mãos.
__Levem Lisa para um lugar mais seguro __continuou Athus a dizer__ Eu vou despista-los.
__Eu te ajudo! __disse Osman.
__Certo __concordou Athus__ Crowley e Dan, vão e não deixem nenhum Emissário se aproximar dela.
__Athus o que... __Lisa estava dizendo algo quando Athus interrompeu com um grito.
__Vão!
__Por aqui __saiu Crowley na frente.
Dan puxou Lisa pelo braço e seguiu Crowley pelo corredor escuro da mansão.
Athus aproximou da janela e ergueu a varinha para o alto. Os Emissários da Morte vieram numa grande velocidade em sua direção e atacaram-no.
__ Millória!
Uma gigantesca luz branca saiu da varinha e uma espécie de fantasma se formou. O fantasma atingiu alguns Emissários e provocou vários cortes neles. No entanto, para espanto de Athus, os Emissários não foram destruídos.
__É minha vez! __disse Austin Osman aproximando da janela e deixando que o vento provocado pelo vôo rasante dos Emissários da Morte sacudisse suas vestes. Naquele momento, Osman ergueu a varinha e um brilho negro surgiu em seu olhar, em seguida o feitiço foi dito e como num relâmpago, um flash de luz invadiu o quarto e envolveu todos os Emissários.
Os poucos Emissários que se recolheram do feitiço, voltaram em um só ataque. Eles invadiram o quarto e jogaram Athus e Osman contra as paredes e depois seguiram pelo corredor a procura de Lisa.
Aleister Crowley conduziu Dan e Lisa até o final do corredor, onde virou a esquerda até aproximar das escadas. Porém já era tarde, uma lança foi lançada contra Lisa e passou raspando em uma de suas costelas. Lisa e Dan pararam e olharam para trás. Um Emissário vinha voando pelo enorme corredor e estava preste a ataca-los, quando de súbito, Crowley entrou na frente dos dois e ergueu a bengala.
__Lucídium!
Após o feitiço de Crowley, Lisa e Dan não viram mais nada, pois uma luz ofuscou os seus olhos. Quando a visão voltou ao normal, os dois repararam que eles estavam dentro de uma sala escura em alguma parte da mansão.
__Onde estamos? __perguntou Lisa, meio tonta ainda pelo feitiço.
__Oh, me desculpem pela escuridão __Crowley estralou os dedos e as luzes se acenderam__ Nós estamos numa sala de jogos. Acredito que estaremos seguros aqui.
A sala de jogos era bem grande e havia várias mesas de pôquer espalhadas por ela. À frente de Lisa havia uma lareira e no alto dela, havia um escudo pendurado com duas espadas enfiadas nele.
A sala estava consideravelmente gelada e Crowley cuidou de por fogo na lareira. Depois foi até um porta-casacos e tirou dois sobre-tudo pretos e deu a Lisa e a Dan.
__Vistam isso, vai ajudar contra o frio. Mesmo que estejamos perto de uma lareira, talvez seja necessário fugirmos novamente e aí não haverá fogo para nos esquentar.
Lisa vestiu o sobre-tudo e virou para Crowley.
__Por que os Emissários estão nesse mundo? O portal não é lacrado e só é aberto quando a Ordem dos Lordes autoriza a abertura?
__Uma coisa de cada vez __disse Crowley apoiando-se na bengala e sentando numa poltrona vermelha__ Primeiro, os Emissários da Morte são demônios que trabalhavam para o Mestre das Sombras e agora de alguma forma, não sei como, eles foram libertados de suas prisões. Isso indica Lisa, que o mal está de volta e provavelmente está querendo se vingar de você. E nada melhor do que a morte, como vingança!
Lisa e Dan olharam atordoados para Crowley. Lisa não acreditava no que estava acontecendo. O mal de volta?
__E segundo, __continuou Crowley__ eu não sei como o portal foi aberto sem permissão. Mas isso é algo com que devemos nos preocupar, pois estando no Mundo dos Humanos, os Emissários da Morte podem trazer muita destruição a esse mundo e nós temos que evitar a qualquer custo que isso aconteça. Eu temo que após a sua saída, Lisa, Aragorn esteja voltando a reviver a Idade das Trevas.
Lisa caiu sentada numa poltrona atrás dela. Dan escorou-se a parede e bateu a punho fechado nela.
__Não pode ser! __murmurou Dan__ Lisa destruiu a Besta e todos os Carrascos, como pode Ele ter retornado?
__Na verdade não é exatamente Ele que pode ter retornado. Malagat, a Besta, possuía vários seguidores e é até compreensível que eles queiram vingar a morte de seu mestre.
Aleister Crowley, ao pensar de Lisa, dizia aquilo tudo com a maior tranqüilidade como se não estivesse preocupado. No entanto, ela tirou essa idéia da cabeça, pois reparou que o velho careca não parava de mexer as mãos sobre a bengala. No fundo ele estava mais preocupado com Lisa do que com a idéia de ter centenas de Emissários cercando a sua casa.
__Lisa, agora você entende o tamanho da gravidade? __perguntou Crowley fixando os olhos estranhos em Lisa__ Eles estão aqui para mata-la a qualquer custo! __Crowley disse as últimas palavras pronunciando cada sílaba, o que provocou um arrepio em Lisa.
Dan ouviu o que Crowley disse e voltou até onde estava Lisa.
__Então você não pode mais ficar nesse mundo Lisa! Você tem que voltar para Aragorn imediatamente __Dan estava sério e extremamente preocupado. Ele virou-se para Crowley e perguntou: __ Onde podemos abrir o portal?
Aleister Crowley levantou da poltrona com dificuldade e encarou Dan.
__O portal só pode ser aberto sobre o lago Grumbecker, na entrada de Winsville. Se Goblin não tivesse se rebaixado para o lado das trevas, ele poderia abri-lo dentro de um espelho mais próximo...
__Mas o lago fica longe daqui! __disse Lisa.
__Então teremos de leva-la para lá enquanto Athus e Osman despistam os Emissários da Morte __disse Crowley.
Repentinamente, Lisa ficou séria. A sala silenciou e Lisa teve novamente aquele arrepio na marca no pescoço. De súbito, Lisa levantou da poltrona e disse agitada:
__Eles estão por perto!...
Antes mesmo de Dan dizer algo, a porta do salão de jogos começou a rachar. Do outro lado da porta, os Emissários batiam com as lanças na porta tentando arromba-la.
__Se afastem! __disse Dan erguendo o dedo e apontando para a porta.
Uma luz no dedo de Dan surgiu e aumentou a medida em que a porta ficava mais escancarada. De repente, o barulho de arrombo parou e um silêncio reinou no salão. Lisa e Crowley ficaram no fundo do salão olhando para a porta. Parecia que os Emissários haviam desistido e ido embora. Dan pensou o mesmo e começou a baixar o dedo quando de repente a porta foi arrancada e jogada contra o rapaz. A porta bateu contra Dan e o arrastou até a parede, imprensando-o nela.
Um Emissário passou voando pela porta e jogou Crowley contra parede ao passar por ele quando entrava na frente de Lisa para protege-la. O Emissário bateu as suas garras negras contra Lisa e empurrou-a até a parede onde ele a imprensou.
De cara a cara com o Emissário, Lisa viu no fundo do capuz que ele usava para cobrir a cabeça, dois brilhos intensos, um de aspecto azul-negro e um outro de aspecto violeta sombrio. Lisa pensou em tirar sua varinha do bolso quando viu o Emissário erguer a lança e lança-la contra o seu corpo. Lisa fechou os olhos e gritou.
Athus havia se transformado num lobo e corria pelo corredor a procura de Lisa e dos outros. O lobo era cinzento e maior do que um lobo normal. Os olhos do lobo brilhavam numa tonalidade sombria e pareciam ver além do escuro, pois ao passar por um corredor, o lobo viu alguém de preto no escuro e atacou-o, derrubando um homem contra o chão. O lobo abriu a boca, com seus dentes afiados e já ia morder o homem, quando viu que ele era Austin Osman.
__Me desculpe Osman, eu pensei que fosse um Emissário__ disse o lobo saindo de cima de Osman.
__Eu entendo __Austin levantou do chão e olhou para o lobo que agora virava um homem entre meio a uma sombra.
Athus surgiu e lhe dirigiu a palavra.
__Temos que encontrar Lisa, antes que seja tarde demais __disse enquanto andava apressado pelo corredor.
__Acredito que seja necessário leva-la para Aragorn imediatamente __disse Osman tentando acompanha-lo.
__Mas aonde vamos encontra-la?
__Crowley deve ter levado ela e o rapaz para alguma sala fechada onde ninguém os encontrasse.
__Isso é idiotice! __murmurou Athus__ Crowley sabe muito bem, que não há lugar seguro quando um Emissário da Morte está por perto. Eles enxergam através das sombras! Se ao menos algum deles fizesse algum feitiço, eu poderia sentir a presença...
__Temo que já possa ser tarde demais para isso!
Dan segurava a espada que arrancara do escudo pendurado a parede e tentava segurar a ponta da lança com a lâmina dela. Lisa estava posta a parede, encolhida o máximo que podia, pois a lâmina da espada de Dan estava a meio fio de seu pescoço.
O Emissário virou o rosto para Dan e passou a atacá-lo com a lança. Naquele momento, não fazia diferença se ele deixasse Lisa, pois vários Emissários entravam enfileirados pela porta escancarada.
Crowley pegou a sua bengala que estava caída aos pés e levantou com dificuldade, depois entrou na frente de Lisa para protege-la contra um novo ataque quando um Emissário atacou-o. Crowley lançou um feitiço com sua bengala e explodiu o Emissário. No entanto, aquilo tudo foi apenas para despista-lo, enquanto um outro Emissário da Morte passava por cima de Crowley e aproximava de Lisa numa incrível velocidade.
Vendo o perigo que corria, Lisa puxou a varinha Witchfire e ergueu-a.
__Hametsius!
Um jarro de luz branca muito brilhante perfurou o corpo do Emissário e explodiu-o em vários pedaços. Naquele momento, ao ver o que restou do Emissário, apenas um pedaço de pano queimado pelo feitiço, Lisa lembrou da primeira vez que usou o Hametsius em Louise. Foi muita sorte de Louise que Lisa tinha usado apenas um décimo do poder total do feitiço, pois ao invés de ficar abobada por uns três dias ela teria virado migalhas como o Emissário.
__Eu pensei que o senhor sempre deixava sua varinha no quarto! __disse Lisa sorrindo para Crowley que acabara de dividir um Emissário em dois pedaços.
__Acontece que eu tenho duas __disse Crowley__ Mas essa bengala não serve para fazer fogo! Apenas para isso... __Crowley virou rapidamente para trás e disse: __ Desintegrate!
O Emissário recebeu o feitiço e virou pó imediatamente, deixando apenas os ossos que caíam no chão do salão.
Dan enfrentava algumas dificuldades com o Emissário. O demônio atacava-o com a lança e Dan se esquivava dos ataques. Em alguns momentos, Dan erguia a espada e se protegia com ela. Finalmente, o Emissário da Morte jogou Dan contra a lareira e tentou ataca-lo. Naquele mesmo instante, Dan virou a mão para a lareira e usando a atração do ar, ele atraiu o fogo e lançou-o contra o Emissário. O jato de fogo envolveu o Emissário da Morte e queimou as suas vestes. Enquanto o demônio se debatia no fogo, Dan atacou-o com um único feitiço que o explodiu em milhares de pedacinhos.
Um Emissário da Morte passou por Crowley e tentou atacar Lisa. Porém, de súbito, um jato de luz invadiu o salão de jogos e acertou as costas do Emissário. Lisa saiu da frente e o Emissário bateu contra a parede, ferido nas costas.
Lisa olhou para o Emissário caído a sua frente e depois olhou para a porta, onde Athus surgia com a varinha na mão. Logo depois apareceu Austin Osman que respirava ofegante.
__Vocês estão bem? __perguntou Osman.
__Estamos __ respondeu Dan perto da lareira.
__Vamos Lisa, nós temos que tira-la desse mundo. Você tem que voltar imediatamente para Aragorn __disse Athus enquanto voltava para a porta.
Lisa deu uma última olhada para o Emissário caído e saiu atrás de Athus. Dan e os outros os seguiram depois.
__Como nos acharam? __perguntou Crowley enquanto passavam pela sala de estar.
__Nós sentimos a presença de vocês quando Lisa fez um feitiço. Eu devo lhe dizer que foi um feitiço espantoso! Como se chama?
Lisa ficou corada e disse o nome do feitiço. No entanto, não era hora para falar de feitiços poderosos, pois Athus abrira a porta e para o novo espanto, ainda havia centenas e centenas de Emissários a espera do lado de fora da mansão.
__Vamos! __gritou Athus segurando forte a varinha e saindo.
Lisa e os outros saíram e pararam ao ver a mansão cercada pelos Emissários da Morte. Os demônios viram-nos saindo e atacaram de uma vez só. Lisa sentiu o sangue pulsando e apertou forte a varinha. Dan ergueu os olhos para o ataque em massa dos Emissários quando viu Athus erguer a varinha e depois ouvir um grito envolver o seu ouvido.
__Gládio!
Os Emissários da Morte tentam matar Lisa
Uma onda de luz verde, parecendo fantasmagórica, se formou e atingiu boa parte dos Emissários da Morte. Ao toca-los, a luz jogou suas vestes para trás, revelando seus verdadeiros rostos. Eles eram extremamente feios, seus olhos eram fundos e tinham duas cores, o olho direito era azul-negro e o esquerdo, violeta sombrio. As bocas eram roxas e os narizes eram achatados e arrebitados para cima. Os rostos eram cinzentos e tinham várias marcas de cortes por toda a parte. Eles possuíam poucos cabelos e não tinham totalmente as orelhas, eram cortadas ao meio e tinham uma espécie de argolas com cristais negros pendurados, como brincos.
Os Emissários da Morte tentaram aproximar, mas a onda de luz verde que saía da varinha de Athus, impediu-os. Aos poucos, a luz começou a entrar no corpo deles e provocar vários cortes, como se ela fosse uma espada. Entre os cortes, um sangue roxo quase negro saía por eles. Athus aumentou o feitiço e a luz destraçalhou os Emissários mais próximos dele. Alguns Emissários subiram para as nuvens para escapar do feitiço e desapareceram.
__Vamos, entrem no carro! __disse Austin Osman abrindo a porta do carro preto.
Os outros entraram e Osman deu a partida. Enquanto o carro saía as pressas, Lisa olhou para a mansão que se distanciava aos poucos e lembrou dos quadros de seus pais que ficariam para trás. Naquele instante ela sentiu um aperto no coração como se deixasse para trás a coisa mais importante no mundo para ela.
O carro já distanciava da mansão quando os Emissários ressurgiram entre a fina neve, que recomeçava a cair, e se lançaram numa perseguição atrás do carro onde Lisa estava. Um deles jogou a lança contra o carro e ela varou pelo teto dele. Lisa encolheu para cima de Dan, onde naquele momento seus olhos se encontraram. Lisa afastou dele e olhou para trás.
Athus, vendo que os Emissários os perseguiam, pôs o corpo para fora da janela do carro e lançou um feitiço contra os demônios. O feitiço azulado passou rente a janela de uma casa e acertou um Emissário.
Em um dos prédios, uma família assistia televisão tranqüilamente quando algo negro passou violentamente à frente da janela deles. O homem levantou mais a mulher e os filhos e foi até a janela ver o que era. Quando ele ficou de frente para a janela, o homem abriu a boca e deu um gigantesco grito ao ver vários Emissários passando voando em frente ao seu apartamento. Vendo aquilo, a mulher dele desmaiou e as crianças ficaram sem fala.
A rua por onde o carro de Osman passava havia poucos carros ainda em circulação por Winsville. Quando os Emissários da Morte passavam voando ao lado de um carro o motorista desmaiava e batia em outro carro ou ele simplesmente arregalava os olhos tentando não acreditar no que via. O caos estava apenas começando.
Um dos Emissários pairou lado a lado com o carro e enfiou a sua lança pela janela do veículo. Osman rodou o volante e dobrou a esquina, para esquivar-se do Emissário. Porém não foi suficiente, cinco Emissários pousaram sobre o carro e tentaram arrancar o teto dele com as garras afiadas. Crowley levantou a bengala na altura do teto e pronunciou um feitiço. Imediatamente um dos Emissários foi acertado e lançado para fora do veículo.
O Emissário da Morte bateu contra o pára-brisa de um carro e provocou susto e desespero ao motorista, que virou o volante e bateu num poste. O motorista levantou a cabeça ensangüentada de cima do volante e olhou para frente. O Emissário levantou meio distorcido e saiu voando. O motorista rapidamente abriu a porta do carro e saiu correndo para o meio da rua onde foi atropelado por um motorista que não tirava os olhos do enxame de Emissários da Morte que corriam atrás do carro onde Lisa estava.
Por mais que Athus e Crowley atacavam com feitiços poderosos, os Emissários não desistiam de persegui-los. Afinal, eles queriam a cabeça de Lisa a qualquer custo. Era um ódio incontrolável que existia dentro deles, fazendo-os sentirem sede de vingança.
Em um dos ataques, um Emissário enfiou as garras dentro do carro e tentou pegar Lisa. Osman tirou a atenção do volante ao olhar o ataque do Emissário e bateu num carro a sua frente. Naquele momento, os Emissários aproveitaram e atacaram de uma vez só. Uma nuvem negra rodeou o carro como um enxame de abelhas. De súbito uma luz brilhou entre a nuvem negra de demônios e Lisa saiu do carro rodeado por Dan, Athus e Crowley que protegia todos com um escudo luminoso. Os Emissários tentavam se aproximar, mas eles batiam contra o escudo e voltavam para trás.
Assim que os Emissários se afastaram o suficiente dos quatro, Lisa começou a correr pela rua. Athus e Crowley tentaram segui-la, mas vários Emissários retornaram e jogaram os dois contra as vidraças das lojas. Osman estava meio tonto ainda do acidente quando saiu do carro e tentou conjurar um feitiço, porém um Emissário bateu contra ele e o arrastou por uns cinqüenta metros dentro da rua.
Dan e Lisa corriam pelas ruas passando entre carros e pessoas que ainda permaneciam expostas ao tempo. Os Emissários voavam rapidamente em direção aos dois e tentavam várias vezes pegar Lisa. Porém Dan entrava na frente e lançava algum feitiço para proteger Lisa. No entanto, em uma das tentativas, um dos Emissários da Morte arrastou Dan e o empurrou contra um beco sem saída.
Tentando correr o máximo que podia, Lisa tropeçou e caiu. Rapidamente ela levantou e viu que ia ser atacada. Ela segurou forte a varinha e ergueu-a.
__Lorium Simirillium!
Uma gigantesca bola de luz atingiu cinco Emissários e os lançou para longe. Do outro lado da rua, uma senhora viu Lisa fazendo o feitiço e caiu enfartada no chão, na mesma hora.
Lisa recomeçou a correr, mas de súbito uma lança veio em sua direção e passou raspando em seu ombro arrastando-a por entre um beco escuro. A lança bateu num muro e Lisa ficou pendurada pela roupa. O Emissário da Morte que jogou a lança voou em direção a Lisa e ergueu as garras. Elas afinaram e se transformaram em um cume negro que veio em direção ao coração de Lisa. Porém, Lisa ergueu a varinha a tempo e conseguiu acertar o rosto do Emissário com um feitiço, jogando-o a uns trinta metros de distância do muro.
Lisa libertou-se da lança e pôs os pés no chão. Ao olhar para frente e ver o rosto do Emissário, Lisa sentiu algo estranho dentro dela, como um remorso ao ver uma criatura tão feia.
O Emissário levantou meio distorcido do chão e passou a língua roxa nos lábios. Naquele mesmo instante, ele esticou o braço e sua garra se transformou numa ponta negra de dois cumes. O braço esticou e veio em direção a Lisa. No entanto, um lobo saiu da escuridão e empurrou o Emissário contra parede do beco.
__Foge Lisa! __gritou o lobo enquanto segurava o Emissário com as patas.
Lisa saiu correndo e antes mesmo de sair do beco, o Emissário se livrou do lobo jogando-o para longe. Depois a criatura se transformou numa sombra e correu atrás de Lisa.
Lisa estava quase saindo do beco escuro quando algo segurou seu pé e a arrastou para trás. Lisa caiu no chão e olhou para seus pés. O Emissário a segurava e rastejava ao seu encontro.
O Emissário levantou uma das garras para o alto e antes de atacar Lisa, Dan apareceu e puxou-o pelas vestes até joga-lo contra a parede e lançar um feitiço que o explodiu em vários pedaços.
Lisa sorriu para Dan e levantou do chão. Ela recomeçou a correr mais Dan, mas algo negro surgiu entre as sombras e jogou Dan contra o muro. Lisa escutou o grito de Dan e virou para trás. Quando ela virou, Lisa apenas sentiu algo entrando em seu corpo e cortando-o por dentro. Lisa olhou para o peito e viu uma espada cravada nela. Depois ela olhou para frente e viu um vulto negro desaparecendo entre as sombras do beco escuro. Lisa sentiu suas forças se esgotando e caiu no chão de joelhos, segurando a espada com a mão ensangüentada.
Dan levantou meio zonzo e viu Lisa ajoelhada no chão. Ele correu até ela e parou de súbito ao ver que Lisa sangrava e que uma espada havia atravessado o seu corpo.
__Lisa! __Dan ajoelhou perto de Lisa e pôs a mão na espada__ Eles a feriram.
__Eu vou morrer Dan __disse Lisa quase sem fôlego.
Dan começou a dizer algo quando vários Emissários da Morte entraram no beco. Dan pensou em defender Lisa, mas viu que não era necessário, pois um lobo surgiu entre as sombras e se transformou num homem. Athus levantou a varinha e pronunciou um feitiço, afastando os Emissários.
__Lisa está ferida, Athus! __gritou Dan.
__O quê? __Athus correu até Lisa e pareceu não acreditar no que estava vendo.
Uma grande poça de sangue estava se formando abaixo de Lisa e Dan já estava todo ensangüentado. Lisa respirava fracamente e não conseguia falar direito, pois a dor era muito grande. Aos poucos ela sentiu um sono envolvendo-a e fazendo com que sua visão ficasse turva. Dan ficou desesperado e pegou no rosto dela.
__Não dorme, Lisa! __gritava ele.
Athus via Lisa adormecendo e não conseguia pensar em nada. Ele também estava desesperado e não sabia o que fazer. Para aumentar o desespero, mais Emissários surgiram e tentaram atacá-los.
__Eu não vou permitir que você morra, Lisa __murmurou Dan enquanto pegava-a no colo com cuidado para não tocar na espada que ainda permanecia cravada.
__Leve-a para longe, Dan __disse Athus batendo a mão no ombro de Dan com os olhos cheios de água.
Dan balançou a cabeça e tirou um grande vôo com Lisa nos braços. Dan passou voando por entre os Emissários e seguiu em direção a saída de Winsville. Athus impediu que os Emissários os seguisse junto com Osman e Crowley que reapareceram para ajudar.
As vestes de Dan balançavam por todos os lados. Por onde ele passava, as pessoas dentro dos carros paravam para olha-lo com espanto. Carros batiam, mulheres gritavam e desmaiavam e crianças soltavam das mãos de suas mães e se escondiam atrás das cestas de lixos.
Quando Dan estava quase saindo do centro urbano de Winsville, vários Emissários começaram a segui-lo e tentaram acerta-lo com lanças. Dan desviava dos ataques o máximo que podia, porém os Emissários os estavam encurralando. Dan via-se cercado por vários Emissários e tentava desviar deles entrando em outras esquinas ou subindo para as nuvens para despista-lo. Quando Dan viu que não podia mais tentar fugir e nem fazer feitiços para se livrar deles, pois Lisa estava em seus braços, ele pousou no meio de uma rua vazia cheia de arranha-céus dos lados e olhou para o enxame de Emissários que voavam sobre sua cabeça.
__Nada vai acontecer a Lisa __murmurou Dan pronunciando sílaba por sílaba.
Dan ficou de pé e ergueu os braços. Um vento começou a rodar em voltar dele e mover as suas vestes. Lisa, abriu os olhos e viu Dan meio embaçado provocando um gigantesco furacão.
O vento começou a rodar em torno deles e espalhou-se para todos os cantos. Os Emissários tentavam se aproximar, mas a ventania era tão forte que os demônios eram arrastados e jogados contra os arranha-céus.
De repente a esfera dourada que Dan levava para todos os lados dentro do bolso, começou a brilhar intensamente e uma onda amarela de luz tomou conta de Dan. Seus cabelos ergueram mais ainda e a chamas de luz amarela começaram a sair de seu corpo e se espalharam pelo furacão.
Athus e os outros se aproximavam do local quando olharam para o céu e viram um grande facho de luz tomando conta da cidade. Dan recolheu os braços e voltou a estica-los com o peito estufado. De repente uma gigantesca onda de luz amarela invadiu as ruas e destruiu os Emissários no momento em que ela os tocou. A onda de luz continuou a se espalhar e repentinamente, todas as vidraças dos prédios explodiram com tamanho poder.
Os olhos de Dan brilhavam intensamente e as ondas de poder não paravam de sair de seu corpo. Naquele momento, Winsville inteira estava perplexa com o que acontecia. Algumas pessoas pensavam que era o fim do mundo e outras nem se quer pensavam, o medo era maior. De súbito, os olhos de Dan pararam de brilhar e a última onda de luz que saiu do corpo dele arrastou carros e terminou de destruir todas as vidraças que existiam a um raio de duzentos metros ao redor dele.
Athus ficou abismado com tamanho poder e jamais imaginara que alguém pudesse fazer o que Dan tinha feito. Aos poucos tudo se acalmou e Dan caiu de joelhos no chão, respirando ofegante. Ele virou para Lisa e viu Athus correndo em sua direção com Osman e Crowley o seguindo.
__Ela está muito ruim! __disse Dan meio sem fôlego para os outros que se aproximavam.
Crowley olhou para a espada cravada em Lisa e se ajoelhou perto dela.
__Nós temos que tirar a espada __disse pondo a mão na espada.
__Mas... __Dan começou a dizer algo quando Crowley puxou a espada lentamente. Lisa gritava de dor.
Após a espada ser retirada, uma grande quantidade de sangue recomeçou a sair.
__Eu posso fechar a ferida. Acho que a espada não acertou o coração dela, por sorte!
Crowley era metade Gauller, metade Bruxo e sabia como nunca fechar feridas profundas. Ele pôs a mão aberta sobre o buraco da ferida e pronunciou algumas palavras estranhas que Dan e Athus não entenderam.
Uma grande luz saiu das mãos de Crowley e entrou na ferida. Lisa subiu o corpo como se levasse um soque elétrico dado por médicos que tentavam salvar a sua vida. Por fim, uma luz saiu por todas as partes do corpo de Lisa e cessou rapidamente.
__Pronto __disse Crowley tirando a mão da ferida e mostrando que ela estava totalmente fechada__ Não se preocupem, ela está dormindo e só vai acordar daqui algumas horas.
Dan deixou escapar um “UFA!” de alívio e passou a mão na testa soada, apesar do frio intenso.
__Parabéns, rapaz! __disse Athus batendo a mão no ombro de Dan.
Dan sorriu meio sem jeito para Athus e olhou para Lisa dormindo profundamente, salva. Eu disse que não ia deixa-la morrer!
O Cruzeiro Fantasma
Estava amanhecendo quando o portal foi aberto novamente sobre o lago Grumbecker. Lisa ainda estava meio zonza, mas conseguiu se despedir de Osman e Crowley, ajudada por Dan que a segurava pela cintura. Antes de partirem, Osman prometeu a Lisa que mandaria o quadro de seus pais para ela em Aragorn. Lisa sorriu e entrou no portal com Dan.
O portal foi fechado e novamente se abriu numa cidade movimentada e cheia de barcos no porto. Logo que pisaram em Whycliffe, Athus levou Lisa a uma velha casa torta de longos telhados negros que parecia desaparecer entre as nuvens de tão alta.
__Vamos entrar? __perguntou Athus.
Lisa e Dan acompanharam Athus pelo corredor estreito e melancolicamente torto até chegarem num grande recinto onde havia várias mesas com cadeiras dispostas pelos quatro cantos, um barzinho com um barman caolho servindo bebidas para um trio de senhoras carrancudas que fofocavam sobre uma tal de Marylin à direita e uma escadaria em espiral à esquerda que parecia ranger quando as pessoas a usavam.
__Senhor Lupus, seja bem vindo a humilde pensão dos Trevors __disse um anãozinho se aproximando e conduzindo os três recém chegados até um sofá empoeirado ao lado de uma velha lareira crepitante__ Por favor, sentem-se.
__Não, obrigado, Harold __disse Athus fitando as baratas correrem de um lado para o outro e a poeira levantar enquanto Harold batia um pano no sofá__ Estamos apenas de passagem. Será que vocês ainda possuem um daqueles tônicos para essa senhorita?
O anãozinho fitou Lisa com os seus olhos encovados e depois sorriu, mostrando seus dentes tortos e sujos.
__ Certamente.
Athus e o anão saíram na direção do barzinho e deixaram Lisa e Dan espiando pelos vidros embaçados das janelas o movimento do lado de fora da pensão.
Diferente do Mundo dos Humanos, em Aragorn reinava o sol com um calor insuportável. Nas ruas de Whycliffe, comerciantes tentavam vender seus produtos e pessoas usando longas capas se movimentavam de um lado para o outro como um formigueiro ambulante. Entre as pessoas, uma criaturinha pequena de óculos redondos, orelhas grandes e de asas nas botas, voava ligeiramente sobre Whycliffe a procura de alguém.
__Aqui, Lisa. Beba, vai se sentir melhor. É um Super Tônico Revitalizador dos Trevors, é o melhor que existe __acrescentou Athus quando Lisa fez menção de perguntar o que era.
Lisa levou o pequeno frasco de cor rosa berrante a boca e bebeu um gole. Assim que o líquido desceu por sua garganta, um calor emanou por suas veias e se espalhou pelo corpo afastando o cansaço e a fraqueza que ela sentia depois do que houve.
__Beba mais um gole, se sentirá bem melhor.
Lisa levou o frasco novamente a boca. Nesse mesmo instante, Hermes apareceu entre as pessoas que passavam em frente à janela da pensão e deu de cara com o vidro embaçado. A janela estremeceu e no susto, Lisa cuspiu o tônico na cara de Dan.
__Desculpe, Dan.
__Hermes! __exclamou Athus vendo o elfo mensageiro da Fonte Phoenix escorregar pelo vidro afora.
__Aqui, senhor. Enxugue seu rosto! __disse Harold entregando a Dan um pano sujo onde uma gosma verde escorria pela ponta.
Dan fez uma careta para Harold e seguiu Athus e Lisa que acabavam de sair da pensão para ajudar Hermes.
__Hermes, o que está fazendo aqui? __perguntou Athus.
Hermes levantou cambaleando, arrumou o elmo na cabeça e tirou uma carta de uma mochila de couro.
__Carta para o senhor Lupus! __disse entregando a carta para Dan.
Hermes não enxergava nem dois palmos além do nariz. Ele sempre se confundia ao entregar as cartas e acabava entregando-as as pessoas erradas. Dan tirou a carta da mão dele e entregou a Athus.
__Bom, até amanhã!
Hermes endireitou os óculos redondos sobre o nariz e levantou vôo. Enquanto Athus abria a carta, Lisa e Dan observaram Hermes voar cambaleando de um lado para o outro sem ter muita direção para onde ir, até que ele bateu na saída de Whycliffe num poste de iluminação e escorregou até o chão.
Athus dobrou a carta e guardou-a no envelope com uma expressão esquisita.
__O que foi Athus, há algo de errado? __perguntou Dan.
__Se há eu não sei, __disse Athus__ mas vou saber quando eu estiver em Poltergrat, hoje as sete da noite.
__Poltergrat? __perguntou Lisa.
__Poltergrat é onde fica a central da Ordem dos Lordes, Lisa __respondeu Dan__ Mas o que eles querem?
__Parece que Weaslow já sabe do que aconteceu e quer conversar comigo, a sós __Athus olhou para Dan e Lisa__ Isso significa que ele não quer ver vocês.
Athus, mais do que Lisa e Dan, achava estranho que a Ordem dos Lordes quisessem vê-lo sem a presença dos dois. Por algum motivo, a conversa que seria tratada lá, não poderia ser ouvida, principalmente por Lisa.
__A Ordem é muito enigmática e nunca diz o motivo da convocação, mas creio que o assunto é os Emissários da Morte!
__É bom que a Ordem dos Lordes já esteja a par de que Lisa quase morreu. Se não fosse Crowley que tivesse fechado a ferida, Lisa estaria... __Dan preferiu não continuar ao olhar a expressão de Lisa.
__Não se preocupe, Lisa __disse Athus pondo a mão no ombro dela__ Weaslow saberá de tudo e inclusive de que você corre perigo. Eu estarei levando a espada e mostrarei a Ordem o tamanho da gravidade que foi os ataques.
A espada ensangüentada estava na mão de Athus, enrolada num pedaço do seu manto. Por um instante, os três calaram-se. Athus tentava imaginar o que o esperava em Poltergrat e Lisa ficava cada vez mais aturdida ao pensar que novamente teria que conviver com a idéia de que alguém queria mata-la. Já Dan, pensava no que Hermes disse antes de sair voando.
__O que Hermes quis dizer com até amanhã? __perguntou Dan.
Athus também parou para pensar. Ele passou os olhos por uma loja do outro lado da rua e viu num espelho mágico surgir 14 de Lunate de 12550.
__Quem poderia imaginar que fora de Aragorn o tempo aqui passasse tão rápido? __disse sorrindo para Lisa e Dan, que não entenderam o que ele disse__ Amanhã começam as aulas na Fonte Phoenix!
Dan e Lisa ficaram perplexos, afinal, eles não aproveitaram as férias. Ao contrário, voltavam mais cansados do que quando terminaram o ano.
__Como é possível? __perguntou Lisa__ Crowley disse que um mês aqui é um ano no Mundo dos Humanos, então, se ficamos algumas semanas lá, era para ter-se passado algumas horas aqui, não?
__Ninguém entende muito bem essa diferença de tempo entre os dois mundos, Lisa. Na verdade não há muita lógica. Acredito que quando alguém que pertence ao outro mundo vem para cá, o tempo lá correrá mais rápido no período de sua ausência. E quando alguém daqui vai para lá, deve ocorrer o contrário.
__Não faz sentido! __exclamaram Lisa e Dan.
__Sei que não __Athus espiou por sobre as cabeças de Lisa e Dan e depois voltou-se para eles__ Bem, agora eu fico mais tranqüilo em saber que posso deixar vocês retornarem para a Fonte Phoenix bem seguros no Cruzeiro Fantasma. Se eu não estiver enganado ele deverá partir para a Fonte Phoenix ao anoitecer.
__Cruzeiro, o quê? __perguntou Lisa sem entender.
__Fantasma __ disse Dan__ É a embarcação que nós perdemos no ano passado por culpa de Zig e Cliffe
Athus pôs a espada enrolada no pano dentro do manto e rasgou a carta. Depois ficou sério.
__Bem, eu não posso levar vocês para Poltergrat comigo, eu creio que terão de ir no Cruzeiro Fantasma __disse Athus__ Lá vocês ficarão seguros até chegar na Fonte Phoenix. Acredito que nada vai acontecer. Conversei com o barman dos Trevors e ele garantiu que Aragorn está normal como sempre foi nos últimos meses e que nada de estranho andou acontecendo. Bem, eu tenho que ir, senão não vou conseguir chegar a tempo. Weaslow detesta falta de pontualidade. Espero que fiquem bem __disse olhando para Lisa__ Bom, nos veremos na Fonte Phoenix.
Athus saiu pela rua movimentada e suja e desapareceu ao virar uma esquina. Lisa e Dan o observaram desaparecer entre as pessoas com uma estranha sensação de que Athus estava preocupado e que de alguma forma evitou expressar sua preocupação.
__Dan, Lisa.
Os dois se viraram para a rua oposta e viram dois rapazes de pés anormalmente grandes e de cabelos identicamente ruivos e cacheados se aproximando deles.
O reencontro com os dois Pés Grandes foi cheio de novidades. Zig e Cliffe passaram três semanas nas Ruínas Antigas e depois foram para a Ilha Earthworn explorar os túneis subterrâneos feitos pelas minhocas gigantes que existiam lá. Por sua vez, Lisa e Dan contaram o que aconteceu no Mundo dos Humanos.
__Sinistro! __exclamou Zig enquanto Harold lhes servia uma bebida azulada no recinto da pensão dos Trevors.
__Bem que eu queria estar lá também __disse Cliffe__ Eu iria mostrar aos Emissários da Morte o que é se envolver com um de nossos amigos...
__Isso mesmo, Cliffe __continuou Zig__ Nós daríamos uma porrada na cara deles, depois nós chutaríamos...
Naquele momento, Lisa sorria como uma criança. A presença dos Pés Grandes a fizera esquecer do que houve e a deixara mais relaxada, apesar de que no fundo ainda existia a idéia de que estaria sendo cassada e que não poderia fugir. Lisa evitava pensar nisso.
A noite foi chegando e os quatro estavam sentados a beira do porto esperando a embarcação chegar. Lisa estava ansiosa para conhecer o famoso Cruzeiro Fantasma de quem Zig e Cliffe tanto botaram minhocas na cabeça dela. Os Pés Grandes disseram a Lisa que à noite, quando todos dormiam, fantasmas apareciam e puxavam os pés dos alunos. Porém, Dan desmentiu tudo e disse para Lisa que não era para acreditar nos dois.
A noite enfim chegou e junto com ela, uma névoa espessa tomou conta do porto. Naquele momento não era possível ver nem um palmo a mais além do nariz. Lisa ficou junto com outros alunos, que também estavam a espera da embarcação. Aos poucos, luzes foram surgindo entre a névoa e vozes horripilantes foram ouvidas. Lisa estremeceu e sentiu um arrepio na espinha.
As vozes foram aumentando e as luzes foram ficando cada vez maiores. Lisa olhou bem fundo na névoa e viu algo entrando no cais com várias janelas iluminadas, parecendo um prédio de trinta andares. Lisa ficava imaginando o que era aquele monte de janelas e ficou surpresa ao ver um gigantesco navio de trinta andares, movido a velas, ancorar no porto.
Assim que o navio ancorou uma rampa foi estendida e os alunos subiram. Antes de chegarem ao topo, um homem alto, magrelo com um lenço azul amarrado a cabeça e um dos olhos tampados por um tampa-olho, parou-os e disse em tom sombrio:
__Bem vindos ao Cruzeiro Fantasma, onde os mortos reinam entre os vivos!
Alguns alunos novos pularam para trás imediatamente ao ouvi-lo, nem mesmo Lisa, Dan e os Pés Grandes foram poupados do susto.
__Brincadeirinha! __o homem sorriu ao ver os alunos fazerem um UFA__ Mas eu aviso que aqui verão muito mais do que se pode ver entre o céu e a terra...
__Pare de enrolar Splinter! __gritou alguém do meio do grupo.
O homem olhou para os alunos com uma cara de desdém e se curvou para eles.
__Eu sou J.J.R. Splinter, o seu comissário de bordo e vou guia-los através de uma experiência fantasmagórica!
Splinter ficou olhando para todos e percebeu que boa parte estava paralisada. O comissário de bordo ergueu uma das sobrancelhas e ficou ereto.
__Sigam-me, marujos!
Os alunos terminaram de subir a rampa e entraram no navio. Passaram apressados sobre o convés, pois algo rosnava dentro de um baú perto de um mastro, e pararam numa porta que ligava o convés aos compartimentos do navio. Splinter abriu a porta e entrou ereto, de nariz empinado. Enquanto andava pelo gigantesco corredor torto e distorcido, Splinter apontava o dedo para as diversas portas que existiam de um lado ao outro do corredor.
__Aqui estão os aposentos de cada um. Mas ouçam, somente os ocupem depois de serem recebidos por nosso fantasmagórico capitão, Sparrow. Então, Senhor Cromfey à direita, senhorita Blang à esquerda...
Splinter foi indicando os quartos até o final do corredor, onde nem a metade dos alunos havia sido indicado a um quarto. Por uma estranha razão, Lisa teve a sensação de que o navio parecia ser bem maior do que realmente era. Isso, Lisa tirou a certeza quando viu Splinter abrir uma porta do corredor em que todos juravam ser um quarto, e entrar em outro corredor gigantesco, torto e distorcido.
__Senhor McBrow à direita __continuou Splinter__ senhorita Torner, à esquerda... senhor Horcliffe à direita e senhores Pés Grandes à esquerda.
Lisa e os outros foram os últimos a receberem os quartos. Vendo que todos já haviam conhecidos seus devidos quartos, Splinter parou em frente a duas portas de carvalho que pareciam ser as portas da Fonte Phoenix.
__Muito bem, eu quero que todos fiquem juntos, pois eu não me responsabilizo se um de vocês morrerem ao entrar nessa sala __Splinter parou de falar propositadamente para ouvir os gritinhos de medo e excitação de alguns alunos__ Estão preparados? Então vamos!
Splinter empurrou a porta e os olhos dos alunos encheram-se de brilhos. Do outro lado daquela porta havia um gigantesco salão coberto por um número incontável de alunos. Eram ao todo vinte mesas gigantes cobertas por todos os cantos de comida. No teto, gigantes lustres de cristais davam um toque fino ao ambiente. Enquanto os alunos entravam, trombetas eram tocadas por fantasmas numa bancada no alto do salão.
Lisa nunca tinha visto nada tão igual. Seus olhos não sabiam para onde deviam observar primeiro. Ela não sabia se olhava para os alunos mergulhados até o pescoço em pratos e mais pratos de comidas ou se olhava para as centenas de piratas que bebiam rum em mesas mais afastadas.
No final longínquo do salão havia uma grande mesa com mais de cem piratas vestidos elegantemente e adornados com chapéus de plumas, ganchos de ouro e perna de pau de variadas formas de desenho. No centro da mesa havia uma grande cadeira onde uma pirata comia e bebia rum sem parar.
Enquanto passavam pelas mesas, Splinter apresentava os moradores do Cruzeiro Fantasma.
__À direita nós temos Sir Copffrey __os alunos olharam para a mesa e viram um fantasma de um pirata velho__ Acreditem, ele não houve nem um tiro de canhão __todos olharam novamente para ele e viram que nada do que lhe diziam o fantasma entendia.__ À esquerda nós temos Lady Lepercier __os olhares voltaram-se para um fantasma de uma mulher sensual e de seios fartos que assediava um domador de fogo. Ela usava as saias, que Lisa julgava ser das meninas de Can-Can, e tinha lindos cabelos loiros encaracolados__ Na ponta da mesa a sua direita, nós temos Fedido. Acreditem, ele tem um bafo de matar!
Os alunos viraram a cabeça para o outro lado e viram um fantasma gorducho sentado sozinho a mesa. Em seguida, viram um aluno baixo e magrelo, que parecia ser bem tonto, lhe dirigir a palavra. Todos ficaram atentos ao que ele iria perguntar.
__O senhor pode me dizer onde fica o banheiro? __ perguntou o aluno com as pernas cruzadas.
Fedido levantou da mesa e abriu a boca para responder. Uma nuvem verde musgo saiu da sua boca junto com um fedor insuportável. O aluno cheirou o bafo de Fedido e caiu duro para trás, como uma pedra.
__É lamentável __suspirou Splinter__ esse é o terceiro só essa semana...
Lisa não conseguiu tirar os olhos de Fedido, com certeza ela não queria nem chegar perto dele. Lisa não sabia mais quem era mais perigoso. Se era Fedido ou os Emissários da Morte...
Por fim, Splinter indicou uma mesa vazia para todos se sentarem e depois saiu em direção à mesa dos piratas. Lisa ficou observando-o quando ele disse algo no ouvido de um fantasma e virou-se para os alunos.
__Senhoras e senhores, um minuto de sua atenção, por favor! __era estranho, mas a voz de Splinter pôde ser ouvida em todo o salão, sem problema algum__ Obrigado! Eu gostaria de apresenta-los o nosso Capitão fantasmagórico. Senhoras e senhores... Capitão Jack Sparrow!
O Capitão levantou de sua mesa e parou próxima a mesa dos alunos. Ele pôs a mão na cintura e olhou para todos. Naquele momento, todos ficaram boquiabertos. Capitão Jack Sparrow era uma mulher!
__Uma mulher?
__Eu pensei que Jack Sparrow fosse um homem!
Os alunos cochichavam um para o outro, incrédulos com o que viam.
__O nome verdadeiro dela é Helena Jack Sparrow, mas ela gosta mesmo é de ser chamada de Capitão Jack Sparrow! __comentou uma menina loira no final da quarta mesa à esquerda.
Helena Jack Sparrow era uma mulher robusta, rude, mas bela. Tinha lindos olhos azuis, porém, um era coberto por um tampa-olho. Ela tinha cabelos escuros oleosos encaracolados até os ombros, que eram cobertos por um chapéu de pirata. Helena usava um espartilho preto que apertava seus seios fartos que pareciam pular do decote. Sobre o espartilho ela usava um sobre-tudo de couro preto, velho e rasgado. Na cintura ela tinha uma cinta com uma espada recurva pendurada que se destacava junto à calça de couro apertada. Diferente dos outros piratas, Helena Jack Sparrow não tinha perna de pau, mas possuía um gancho no lugar da mão direita.
Fazendo pose de pirata má, Capitão Sparrow parou com as pernas abertas e com a mão na cintura. Ela ergueu o queixo e deu uma breve olhada em todos. Já era de se esperar que todos estivessem espantados com ela.
__Bem vindos mais uma vez ao Cruzeiro Fantasma, marujos! __disse__ Espero que as suas estadias aqui sejam agradavelmente fantasmagóricas. Aos corajosos, eu digo que nosso navio é uma aventura em alto mar. Mas para os medrosos, eu receio que a morte pode ser a melhor escapatória se não quiserem andar na prancha!
__Prancha?
__Sabia que não devia ter vindo?
Obviamente, os mais medrosos não conseguiram ficar sem tremer ao ouvir Capitão Sparrow, mas tinham esperança de que fosse tudo brincadeira.
__Eu sei o que devem estar pensando __continuou Capitão Sparrow__ acham que tudo é apenas um truque para botar-lhes medo. Mas eu garanto que não passa de pura verdade. Eu peço, respeitem as regras piratas, caso contrário à prancha os espera bondosamente no convés superior.
Helena calou-se e olhou para as expressões boquiabertas dos alunos. Era aquilo que ela realmente queria, pôr medo em todos. Vendo que seu objetivo fora alcançado, Capitão Sparrow soltou uma gargalhada terrivelmente assustadora. Tão assustadora que até mesmo os pratos e as mesas chacoalharam.
Durante todo tempo, Zig não havia tirado os olhos de Capitão Sparrow e mantinha um pensamento um pouco estranho quanto a ela. Zig virou-se para Dan e sussurrou baixinho:
__Será que ela é realmente uma mulher?
Naquele mesmo instante, Capitão Sparrow parou de rir e ergueu a sobrancelha em direção a Zig.
__Será que ela escutou? __perguntou Dan baixinho ao ver Capitão Sparrow se dirigindo a mesa onde estavam, com uma cara amarrada.
__Acredite, ela escuta tudo! __disse um domador do gelo sentado ao seu lado.
Capitão Sparrow aproximou feroz de Zig, pegou na gola de sua camisa, ergueu-o e o jogou sobre a mesa, espalhando pratos e talheres por todos os lados. Em seguida ela subiu em cima dele e pôs o joelho direito entre meio as pernas do Pé Grande.
__O que foi que você disse, marujo?
__Eu não ti-tinha inten-tenção de ofen-fendê-la! __disse Zig tremendo.
__Agora ele está frito! __murmurou um aluno do outro lado da mesa.
Para surpresa de todos, Capitão Sparrow deitou o corpo sobre Zig e enfiou seus seios fartos entre o nariz dele.
__Agora, marujo, você desconfia de minha feminilidade?
Zig olhou para os seios de Sparrow, grudados em seu nariz e depois levantou os olhos para ela.
__N-não, se-senhorita Sp-Sparrow!
Sparrow forçou seu joelho entre as pernas de Zig e apertou. O Pé Grande deixou escapar um gritinho de dor e encolheu sobre a mesa.
__Acho bom! __disse Capitão Sparrow saindo de cima dele.
Lisa, que estava do outro lado da mesa, assistindo a tudo, ergueu a sobrancelha e fez uma expressão de pena. Antes de sair de perto dos alunos e voltar para a sua mesa, Capitão Sparrow olhou para Dan e deu uma piscadela com o olho. Lisa percebeu e olhou para Dan. Ele estava corado e não sabia aonde enfiar a cara.
O assédio de Capitão Sparrow
O quarto de Lisa era espaçoso e bem arrumado, bem diferente do quarto cheio de ratos e baratas que Barba Negra arrumara para ela no ano anterior. Lisa estava exausta do dia agitado que tivera. Primeiro lutar contra Emissários da Morte e depois descobrir que já estava na hora de voltar para a Fonte Phoenix sem nem ao menos ter aproveitado as férias.
Lisa tirou as malas que trazia encolhidas no bolso e as fez voltar ao normal com um movimento da varinha. Antes de terem entrado no portal, Osman se tele-transportou até a mansão e buscou as coisas dela, de Athus e de Dan, enquanto Lisa dormia pelo efeito da cura de Crowley.
Naquele momento, Lisa pensava em Athus. Qual seria o verdadeiro motivo para terem chamado ele, tão urgentemente? Por alguma razão, Lisa tinha certeza de que havia mais coisas naquela carta que Athus preferira esconder deles.
Além de pensar em Athus, Lisa pensou também nos Emissários da Morte e no estranho homem que a atacou antes de sair da Fonte Phoenix. Será que ele tem algo a ver com os Emissários? Por mais que Lisa tentasse buscar respostas, ela se deparava com pensamentos que ela preferia rejeitar. Será que Ele voltou e quer se vingar de mim?
As horas foram passando e Lisa adormeceu. Ela teve terríveis pesadelos com os Emissários da Morte e com o homem que a atacou com o feitiço de remoção de poder. No meio da noite, Lisa despertou assustada e ficou sentada na cama.
O balanço enjoativo de vai e vem do navio a perturbava. Lisa foi até a mala e tirou um manto preto e resolveu sair para fora para tomar ar fresco. O corredor estava deserto e parecia estranhamente sombrio.
Enquanto tentava encontrar a porta que dava acesso ao outro corredor, Lisa escutou passos no final do corredor e curvou-se para ver quem era. Aos poucos, Sir Copffrey surgiu usando um pijama branco e andando com os braços esticados para frente, sonâmbulo.
Quando Lisa vira os fantasmas pela primeira vez, ela havia se decepcionado ao descobrir que eles não eram transparentes como imaginava, ao contrário, eram de carne e osso. Porém, a sua decepção foi recompensada, ao ver o fantasma de Sir Copffrey ficar transparente ao atravessar uma parede e invadir um quarto. Lisa sorriu e entendeu como os fantasmas eram. Segundos depois de Sir Copffrey ter entrado no quarto, uns gritos ensurdecedores ecoaram pelo corredor vazio. Lisa virou para trás e viu Sir Copffrey sair pela parede correndo do grito agudo de uma domadora de água.
Lisa riu e continuou andando, até que ela encontrou a porta e entrou no outro corredor. Lisa saiu do outro corredor e entrou no convés superior, onde um vento fresco soprava lentamente em direção ao seu corpo.
Lisa foi até a ponta do navio e ficou olhando para o mar. Não era possível ver muita coisa, pois a névoa fantasmagórica que protegia o navio, a impedia de ver muito longe. Nem mesmo a lua que brilhava intensamente aquela noite, pôde ser visto por Lisa.
A brisa da noite continuava a bater contra o rosto de Lisa, embalando seu manto e seus cabelos. Entre o leve vento, Lisa escutou um som, como se um outro navio estivesse se aproximando deles. Lisa fitou o olhar na névoa espessa e ficou esperando para ver o que se aproximava. Aos poucos, Lisa ficou pareada com uma caravela que passava lentamente perto dela.
Inicialmente, não parecia haver ninguém no convés da caravela. Mas aos poucos, um vulto escuro de um homem foi surgindo na outra ponta da caravela. Lisa ficou olhando para ver quem era. Mas foi um esforço em vão, o homem estava oculto até a cabeça por um manto de capuz preto. Assim que ele passou pelo Cruzeiro Fantasma, os dois ficaram se olhando e de súbito, um estranho arrepio tomou conta da marca de Lisa. Lentamente, a caravela desapareceu entre a névoa e Lisa ficou parada com a mão no pescoço, sem entender o motivo do arrepio e da estranha sensação ruim.
Algumas pessoas já saíam de seus quartos e partiam para o salão do Cruzeiro Fantasma para tomar o café. Enquanto Lisa acordava, ela escutava as vozes que jurava ser de Zig e Cliffe. Parou, então para escutar e percebeu que realmente eram as vozes deles.
__Eu estou te dizendo, os seios dela são fofos e cheirosos...
A voz de Zig foi desaparecendo com a de Cliffe e de tantas outras pessoas que, com certeza rodeavam o Pé Grande.
Lisa levantou e arrumou-se para ir tomar o café com os outros. Ao chegar no salão, Dan acenou para ela no inicio da décima sétima mesa da direita para a esquerda.
__Dormiu bem, Lisa? __perguntou enquanto pegava um pão.
Lisa acenou com a cabeça e sentou. Seus olhos, por um instante, correram todo o salão em procura de alguém.
__Está procurando alguém? __murmurou Dan enquanto cortava o pão.
__Louise, eu não a vi.
__Não se preocupe, ela não está no Cruzeiro __disse Cliffe com a boca estufada de pão__ Louise está viajando ao Reino de Goldenwarth, nós só a veremos quando chegarmos na Fonte Phoenix.
__Como sabe disso? __perguntou Dan.
__Ela nos contou... __disse Zig entupindo-se de pães.
__É, nós a encontramos na Ilha Earthworn __continuou Cliffe ainda com a boca entupida.
Lisa estendeu a mão sobre um pão e pegou-o. No entanto, ela se assustou ao ver uma mão subindo entre o pão e um fantasma transparente surgir sobre a mesa.
__Não precisa se assustar __disse um rapaz ao lado de Lisa__ esse aí é o fantasma de Robin Hood. Ah prazer, meu nome é Peter Flying.
__Lisa __disse Lisa estendendo a mão para o rapaz.
__Oh, não! Você é Lisa Torner, a Bruxa de Fogo?
Lisa ergueu a sobrancelha e balançou a cabeça, diante a um entusiasmo assustador do rapaz magricelo de olhos arregalados.
__Uau! __exclamou Peter__ Eu gostaria de ter pelo menos a metade do poder que você tem!
Nessa certa altura do tempo, Lisa já nem escutava as perguntas de Peter. Ao contrário, Lisa observava o fantasma se transformar num homem de carne e osso.
Robin Hood era um homem de orelhas pontudas e usava estranhas roupas verdes. Na cabeça ele usava um chapéu com uma pena e nas costas ele tinha pendurado uma aljava de flechas e um arco. O esquisito fantasma sapateava sobre a mesa, sem derrubar nenhuma comida, com seus sapatos verdes que fazia uma volta para cima, como um caracol.
Hood sapateava e cantava uma música alegre. Do outro lado do salão, a mesa dos piratas brindavam as astúcias de Robin Hood. Naquele momento, Lisa se perguntou se aquele homenzinho verde de orelhas pontudas poderia ter alguma semelhança com o Robin Hood dos contos infantis de seu mundo, mas reparou que poderia ser impossível. Afinal, como poderia...
Os pensamentos de Lisa foram interrompidos, quando Hood roubou o pão que ela estava prestes a por na boca.
__Tire dos ricos e dê aos pobres! __cantava ele erguendo o pãozinho.
Lisa não ligou para o fantasma e sorriu, apesar de que ele ainda sim, parecia muito com o Robin Hood do Mundo dos Humanos.
Hood continuou sapateando de mesa em mesa até que desapareceu entre as paredes do salão com os bolsos cheios de pães.
__Ele fala que vai dar aos pobres, __disse Peter para Lisa__ mas na verdade ele come tudo sozinho!
Lisa pensou em morder um pão novamente, quando Peter Flying chamou sua atenção.
__Sabia, senhorita Bladefire que essa caravela é enfeitiçada para caber mais de dez mil alunos? Na verdade, quando estamos do lado de fora, pensamos que a caravela é bem menor, mas ao entrarmos, descobrimos que ela é gigante. É fantástico isso, não é?
Lisa tentava dar atenção ao empolgado Peter, mas percebia que se lhe desse toda a atenção que ele queria, ela jamais tomaria café, especialmente se lhe perguntasse porque lhe chamara de senhorita Bladefire.
Lisa desviou a atenção de Peter e passou os olhos sobre a mesa dos piratas. Ao olhar para o Capitão Sparrow, Lisa percebeu que ele estava com os olhos fixos em Dan.
Dan percebeu que Lisa estava olhando para Helena e virou-se para a mesa dos piratas. Rapidamente ele virou de volta ao ver que Capitão Sparrow lhe dera uma acenada com a mão de gancho. Lisa ficou observando a atitude de Sparrow e ficou sem graça ao vê-la fazendo um aceno cordial com a cabeça para ela.
O dia estava passando mais rápido do que Lisa imaginava. Afinal, dentro de poucas horas chegariam a Fonte Phoenix e seriam recebidos por Godric e pelo príncipe Gaya.
O dia dentro do Cruzeiro Fantasma era chato e não havia muita coisa para se fazer, exceto ficar olhando para o mar ou para o teto dos quartos. Naturalmente, alguns rapazes buscavam algo divertido para fazerem e acabavam encontrando Lady Lepercier, a quem os divertia. Obviamente, as meninas ficavam com ciúmes de Lady Lepercier, afinal, ela dava um tipo de diversão um pouco fora do comum para os rapazes.
Organizadas em grupos, algumas meninas grudaram os ouvidos na porta de um quarto e ficaram ouvindo o que eles faziam. Algumas pensaram em olhar pelo buraco da fechadura, mas infelizmente não havia fechaduras nas portas.
O barulho que vinha de dentro do quarto parecia ser de alguém pulando entusiasmado sobre uma cama de molas. Em alguns momentos, dava-se para ouvir alguns gemidos de Lady Lepercier e algumas expressões um pouco estranhas dos rapazes.
Vamos, está quase entrando!
Eu acho que ele não vai conseguir. Vocês sabem que ele é um frouxo e Lady Lepercier não gosta de homem frouxo.
As meninas ficaram desinquietas ao ouvirem isso e arrombaram a porta com um feitiço.
A porta escancarou até o canto e as meninas ficaram surpresas ao verem vários rapazes sentados ao redor de um tabuleiro de Ramesis, um domador de ar pulando sozinho sobre a cama e um bruxo tentando enfiar o corpo num sapato vermelho. Ele já havia conseguido enfiar até a cintura.
O tabuleiro de Ramesis era um jogo que testava os poderes dos jogadores. Lady Lepercier jogava os dados e indicava as tarefas para os rapazes como, por exemplo, tentar entrar inteiramente dentro do sapato de Lepercier sem ficar nenhum fio de cabelo para fora.
__O que pensam que estão fazendo, meninas? __perguntou Lepercier com a mão na cintura.
__Nós pensamos que... que... __a domadora do fogo não tinha palavras para dizer. Afinal, todas elas haviam se enganado a respeito do que os rapazes estavam fazendo dentro do quarto.
Lisa passava pela porta escancarada naquele momento, e esticou o pescoço para ver o que estavam fazendo lá dentro e só viu as meninas sem graça e vermelhas de tão constrangidas que estavam.
Lisa desviou o olhar do quarto e continuou a andar pelo corredor. No final do corredor havia uma porta que escondia uma pequena sala onde os alunos podiam ficar lá, como na Fonte Phoenix. Lisa dirigia-se para lá, quando parou ao ouvir a voz de Dan e do Capitão Sparrow.
Dan estava afastando para trás e tentando esquivar-se do Capitão Sparrow, que acabara de entrar e olhava para ele de forma muito estranha.
__Você tem belos braços, hein, marujo! __elogiou Sparrow.
__Muito obrigado, senhorita Sparrow! __disse Dan corado.
__Não são só seus braços. Como é mesmo o seu nome, marujo?
__Dan.
__Dan __repetiu Capitão Sparrow tirando o chapéu da cabeça e deixando seus cabelos livres__ Sabe Dan, eu gostei muito dos seus olhos.
Sparrow se aproximou tanto de Dan que o rapaz encostou-se à parede e pareceu encurralado como um rato.
__Bondade sua! __disse Dan timidamente, tentando imaginar uma forma de sair dali.
Capitão Sparrow aproximou mais um pouquinho de Dan e encostou seu corpo ao dele. Depois ela passou a mão no rosto de Dan e disse:
__Você é muito bonito. Por acaso você já sentiu um fantasma tão perto de você como eu estou agora?
Dan arregalou os olhos e saiu de perto dela, meio apertado a parede pelo corpo.
__Me desculpe, mas eu tenho que ir ao quarto de meus amigos...
Dan tentou sair, mas Capitão Sparrow pegou-o pelo braço e o puxou de volta contra seu corpo. Em seguida ela lascou um beijo na boca dele no momento em que Lisa entrava na sala.
Lisa viu os dois se beijando e deu meia volta, meio sem graça. Dan se soltou meio zonzo do beijo de Sparrow e saiu da sala. O Capitão encostou-se à parede e suspirou profundamente.
__É isso aí, Helena Jack Sparrow!
Big Bertha
A noite descia calmamente sobre o Cruzeiro Fantasma, revelando a proximidade com a Fonte Phoenix. Muitos alunos já haviam arrumado suas coisas e aguardavam ansiosos a chegada. Eles não iriam jantar no Cruzeiro, pois um banquete esperava todos no Castelo do Príncipe.
A noite, enfim chegou e aos poucos o Cruzeiro Fantasma se aproximou do Reino da Fênix. No topo do grande penhasco de pedra, se destacou entre um bosque, milhares de luzes que iluminavam todos os sete Castelos da Fonte Phoenix.
Lisa estava em seu quarto encolhendo as malas quando um grande tranco no navio a jogou contra a parede. Vários objetos caíram no chão e vários alunos ficaram assustados com o que estava acontecendo. Era como se eles estivessem sendo atacados.
De repente, o navio começou a subir e os pés de Lisa não conseguiram mais tocar o chão. Ela rolou e bateu contra a cabeceira de sua cama.
Nenhum dos alunos estava vendo, mas a caravela saíra da água e subia verticalmente o penhasco, como se ele fosse um mero morro. No topo do penhasco, a caravela tomou posição horizontal e novamente um tranco no navio fez alunos rolarem de um lado para o outro.
O navio passou flutuando sobre o Bosque das Ninfas e atravessou as muralhas da Fonte Phoenix como se elas não existissem.
De repente, uma grande névoa invadiu a Fonte Phoenix. Os alunos que entravam no Castelo do Príncipe saíram correndo da frente e abriram espaço para o gigantesco navio passar.
O Cruzeiro Fantasma ancorou e Splinter jogou a rampa para os alunos descerem. Do topo do navio, Lisa olhou para os castelos bem iluminados e ficou perplexa. Como o navio chegou até aqui?
Os alunos desceram e entraram no Castelo do Príncipe. Antes de entrar, Lisa foi acompanhada por Peter Flying que estava com as vestes desarrumadas e com o cabelo despenteado pelos movimentos bruscos do navio. Assim que Lisa estava na porta do castelo, ela olhou para trás e viu o Cruzeiro Fantasma desaparecer repentinamente entre a névoa esverdeada.
Enquanto os alunos passavam pelos corredores de pedra do castelo, vários boatos eram ouvidos.
__Eu fiquei sabendo que uma Pé Grande vai dar aula de Domínio do Elemento Terra este ano...
__Meu pai me disse que os inspetores de Azgrah não descobriram quem matou Ravenclaw e que possivelmente o assassino está entre nós...
Lisa ouviu a conversa e estremeceu. Por um instante ela lembrou das Sentinelas e ficou com medo só de pensar que elas pudessem voltar a Fonte Phoenix.
Dan, Zig e Cliffe aproximaram de Lisa e entraram junto com ela no Salão Principal do Castelo do Príncipe, apesar de que Lisa estava sem graça com Dan.. Enquanto entravam, Zig e Cliffe falavam para Peter:
__Nossa mãe disse que nós vamos ter uma grande surpresa quando chegarmos aqui! __disse Zig.
__E qual foi a grande surpresa? __perguntou Peter.
__Nenhuma ainda... __respondeu Cliffe.
O Salão Principal estava fantasticamente iluminado por vários feitiços Lúmus Lucídium. As paredes do salão eram douradas e havia centenas de estátuas de homens, mulheres e animais por toda a parte, presas a estrutura do castelo.
Os alunos estavam se sentando ao redor das vinte e cinco gigantescas mesas. No final do salão havia uma grande mesa onde os duzentos professores da Fonte Phoenix estavam sentados juntos com Martius Godric e com o Príncipe Gaya. Atrás das mesas havia dez grandes janelas verticais que iam do chão ao teto, que nunca parecia ter fim.
O Salão Principal era um orgulho para Gaya, pois ali se podia abrigar sessenta mil alunos nas vinte e cinco grandiosas mesas. Além, de poder servir como local ideal para grandes bailes dado por ele.
No início das mesas, Louise levantou o braço e acenou para Lisa, Dan e os Pés Grandes. Assim que se sentaram perto de Louise, Martius Godric levantou da sua mesa e começou a andar, apoiado em seu cetro em forma de lua, até a beirada das mesas, onde uns degraus separavam os professores dos alunos.
Enquanto Godric se aproximava das escadas, uma estátua se desprendeu da parede e saiu voando por cima dos alunos. Era uma estátua de uma grande ave. A estátua pousou sobre a escada e esticou o corpo, formando uma bancada com suas asas, onde Godric pôde apoiar suas mãos.
Godric chegou perto da bancada de pedra viva e entregou seu cetro para um anão que se aproximava dele. Depois, Martius apoiou as mãos nas asas da estátua e ergueu a voz para todos escutaram.
__Mais um verão se inicia este ano. E mais uma vez nos encontramos para pôr em prática nossas habilidades e desenvolver nossos talentos. Sabemos que o mal ainda existe e que é imprevisível sabermos quando que ele vai atacar. Neste verão, suas habilidades serão treinadas para aprenderem a lidar com possíveis ataques.
“A escuridão das trevas é algo imprevisível. Nós nunca sabemos quando ela vai se manifestar sobre nós. No entanto, devemos aprender que quando ela toma conta do nosso Ser, devemos nos lembrar de que uma luz apenas fará uma grande diferença quando só tivermos escuridão a nossa volta... Sejam bem vindos a Fonte Phoenix!”.
Uma onda de aplausos invadiu o salão e cessou assim que milhares de anões entraram no salão com enormes bandejas de comida nas mãos. Enquanto os anões serviam os alunos, Lisa passava o olhar sobre a mesa dos professores. Ao lado do professor Oliver Archer estava Athus conversando com o professor Falco Evil Black. Ao ver Lisa, Athus fez um movimento cordial com a cabeça e voltou a conversar com Falco.
Quase no final do banquete, o príncipe Gaya levantou da mesa e pediu um minuto de atenção. Assim que levantou, os professores ficaram de pé e fizeram uma reverência ao príncipe. Gaya acenou com a cabeça e todos se sentaram novamente.
__Este verão inicia-se com grandes novidades. Professores novos e matérias inéditas farão parte dos currículos de cada um. Eu gostaria que todos saudassem o novo professor de Espectrograma e também professor da nova matéria de Defesa Contra Criaturas, Alfr Ljosalfr.
Um elfo enrugado e aparentemente muito velho levantou da mesa e acenou para os alunos com seus longos dedos de unhas grandes e pretas. Assim que Alfr levantou, uma nuvem de vaga-lumes saiu dentre as bolas de luz que iluminavam o salão e se uniram no alto, atrás das mesas dos professores. Em seguida, o rosto de Alfr Ljosalfr surgiu como se os vaga-lumes fossem telões.
Após os aplausos silenciarem, Gaya retomou a apresentação dos novos professores.
__O novo professor de Domínio das Sombras, Magnum Darkness __novamente os vaga-lumes refletiram o rosto do professor; um homem imponente de aparência mal-humorada e rancorosa__ Ius Flycken, professor da nova matéria, Duelos __um homem de sorriso contagiante e de aspecto contrário aos outros dois professores surgiu acenando no telão de vaga-lumes__ Justina Rowena, professora da nova matéria, Encantamentos__ uma jovem mulher muito bonita de cabelos loiros encaracolados até o ombro, surgiu no telão usando um espartilho caramelo que apertava os seios fartos__ E por fim, a nova professora de Domínio do Elemento Terra, Big Bertha!
Zig e Cliffe quase caíram para trás quando viram a mãe levantar da mesa e acenar alegremente para os dois. No telão de vaga-lumes, uma mulher de dois metros e cinqüenta de altura e pesando quase duas toneladas, surgiu.
Big Bertha parecia uma vinking. Ela usava uma grande armadura como roupa e um chapéu de ferro na cabeça com dois chifres pequenos. Bertha tinha um rosto redondo e tinha pequenas sarnas nas bochechas. Seus cabelos eram castanhos dourados e estavam amarrados em forma de trança. Assim que Lisa a viu, ela pensara que fosse a Rapunzel em pessoa, de tão grande que eram as suas tranças.
Zig e Cliffe afundavam cada vez mais para debaixo da mesa. Eles não sabiam que sua mãe iria dar aulas, na verdade eles sabiam que ela iria fazer uma surpresa para os Pés Grandes, mas jamais esperavam uma coisa dessas.
Big Bertha não parava de acenar e jogar beijos para os filhos. Os dois Pés Grandes estavam mais vermelhos que um tomate. O salão inteiro caiu em risadas quando Big Bertha gritou:
__Olá meus fofuxos, mamãe está aqui!
Naquele momento, Lisa segurou a boca para não rir. Ela não queria estar na pele dos Pés Grandes.
Gaya fez um movimento para Big Bertha sentar-se. A gigantesca mulher sentou de uma vez só na cadeira, de modo que todo o salão estremeceu. Lisa e Dan sentiram que até seus pés saíram do chão quando ela sentara.
__Apresentados os novos professores, que se iniciem os treinamentos!
O interior dos seis castelos onde os alunos moravam, foi mudado pelo príncipe Gaya através de um Feitiço de Mudança. Os castelos receberam salas novas e quartos totalmente mais confortáveis do que no ano anterior. O Castelo dos Bruxos ganhou uma sala comunal nova. A sala ficara maior e as paredes de pedra deram um aspecto sombrio ao ambiente. Para conter a escuridão, foram fixadas as paredes tochas de fogo encantadas que ficavam acesas vinte e quatro horas por dia.
A sala comunal ganhou uma lareira maior do que a outra sala e poltronas vermelhas, bem mais confortáveis do que as outras. Havia também no centro da sala comunal uma escada que se partia em duas; uma ia para a esquerda (quarto das mulheres) e a outra para a direita (quarto dos homens). Os degraus eram cobertos por um tapete vermelho e o corrimão da escada era um grande dragão em forma de serpente. No início da escada havia ainda, uma estátua, de cada lado, de um grifo deitado com as asas abertas.
Na entrada da sala, os alunos encontraram duas armaduras segurando duas lanças afiadas. Quando algum intruso tentava entrar na sala, as armaduras abaixavam as lanças e impediam a entrada. Assim que Lisa passou pelas armaduras, ela teve a mera sensação de que elas a observavam, ao lembrar de quando centenas de armaduras a atacaram junto com Dan e os outros, no Castelo do Príncipe.
Louise, por nenhuma estranha razão, estava ansiosa para o início das aulas no dia seguinte. Desde o episódio da invasão dos Carrascos e da Besta, Louise não precisou continuar disfarçada de aluna para proteger Lisa. No entanto, ela preferiu continuar estudando sem que todos soubessem de sua verdadeira identidade. È claro que muitos alunos estranhavam como ela sabia de quase tudo que a perguntassem, mas isso não era nada que pudesse ameaçar a sua identidade secreta.
Assim que entraram na sala comunal e se encantaram com a nova decoração, Lisa e Dan contaram a Louise o que houve no Mundo dos Humanos.
__Isso é algo que devemos nos preocupar, Lisa __disse Louise preocupada.
__Eu disse isso a Athus, mas segundo ele, a Ordem dos Lordes vai ficar sabendo do fato e aí não vai ser preciso me preocupar à toa __disse Lisa.
__Não se preocupar? __disse Louise abaixando a voz ao ver um grupo de alunos descerem as escadas da sala comunal__ Athus por acaso está ignorando o fato de que um Emissário da Morte cravou uma espada em seu coração, para mata-la?
__Na verdade ele me pareceu muito estranho quando leu a carta da Ordem dos Lordes __disse Dan quase cochichando.
__Eu percebi isso também, Dan __disse Lisa__ Acredito que Athus não nos contou tudo sobre o que havia naquela carta. Por uma estranha razão, ele está escondendo algo.
Os três ficaram quietos e esperaram um aluno sair de perto deles, para continuarem.
__Mas há algo que está me incomodando no início dessas aulas __admitiu Lisa.
__O que é Lisa? __perguntou Louise.
Lisa olhou para os lados e depois falou baixo.
__Vocês repararam como Godric deu as boas vindas? Ele disse que o mal ainda existe e pode haver um ataque...
__Um outro ataque? __perguntou Dan.
__Realmente, eu não havia percebido isso! __admitiu Louise séria__ Godric pareceu que estava nos alertando para algo que fosse acontecer...
__Mas o mais estranho ainda é as novas aulas. Por que ter aula de Duelos se já temos aulas de Combate? Não é a mesma coisa?
Louise e Dan olharam para Lisa e não falaram mais nada. Peter Flying passou por eles e saldou Lisa.
__Oi Lisa!
__Olá Peter!
Assim que Peter subiu as escadas olhando para os lados, meio abobado com o castelo, Louise perguntou:
__Quem é esse, Lisa?
__Peter Flying. Eu o conheci no Cruzeiro Fantasma. Parece um carrapato! Desde que saí do Cruzeiro, ele não para de me seguir.
Louise viu uma turma de rapazes sentando perto deles e desejou continuar a conversa, mas era impossível. Por fim, mudou de assunto com um sorriso no rosto.
__E os Pés Grandes? Como será que eles vão conviver com a mamãezinha perto deles o tempo todo?
__Eu não queria estar na pele deles!
Lisa, Dan e Louise começaram a rir e esqueceram o assunto das aulas. As horas passaram e todos foram se deitar.
O dia amanheceu muito rápido para Lisa, ela desejava ficar mais tempo na cama, mas Louise insistia em acorda-la de qualquer forma.
__Acorda, Lisa! Lá embaixo tem uma surpresa pra você!
__Que surpresa? __perguntou Lisa, meio tonta e esfregando as mãos nos olhos.
__Vem, você vai ver!
Louise puxou Lisa até as escadas e colocou-a de frente para a lareira. Lisa olhou para os dois objetos pendurados sobre a lareira e deixou uma risada abobada escapar pela boca.
__Hermes trouxe hoje bem cedinho e Athus fez questão de pendurar aí.
Lisa aproximou da lareira e olhou feliz para o quadro de seus pais. Enfim, Osman cumprira sua promessa.
A aula de Duelos
Lisa havia tomado café e estava sentada num banco do jardim sul da Fonte Phoenix, olhando para a estátua do anjo a uns vinte metros dela. Louise estava ao seu lado lendo um exemplar da Folha do Centauro.
__Essas investigações sobre o assassinato de Ravenclaw, ainda não deram em nada __disse Louise enquanto virava a folha do jornal__ Os inspetores estão achando que algum aluno daqui possa ter tido algum mal entendido com Christian e depois por vingança, resolveu mata-lo.
__Isso seria possível? __perguntou Lisa
__Seria já que Ravenclaw era filho único e só tinha o pai como parente. Segundo a investigação, a família Ravenclaw não possui inimigos declarados. Sendo assim, só resta a idéia absurda de que algum de nós possa ter sido o assassino.
__Mas quem?
__Sinceramente, eu discordo dessa idéia. Na verdade, Lisa, os inspetores de Azgrah são um bando de incompetentes e não são capazes de descobrir nem quem esmagou uma barata! Eles gostam mesmo é de culpar pessoas inocentes para poupar o trabalho que eles iriam ter em ficar correndo atrás de um assassino.
Louise virou a página do jornal novamente e achou uma matéria sobre os cristais de gelo do Reino Crystalice e se afundou no jornal para ler as curiosidades. Lisa cruzou as pernas sobre o banco e ficou olhando os alunos passarem. Alguns passavam conversando sobre as férias inesquecíveis e outros falavam sobre monstros que tiveram que lutar na viagem para casa. No entanto, uma conversa chamou a atenção de Lisa.
__Estão dizendo por aí que a Ilha das Sombras está preparando uma rebelião...
__Você sabe que isso não é verdade, Thomas. As forças do mal eram comandadas pela Besta e agora que ela está morta, não há mais ninguém que possa fazer algum mal para os reinos de Aragorn, não enquanto a Bruxa de Fogo existir.
__Pode ser...
Os rapazes se distanciaram e Lisa não pôde escutar o resto da conversa. Ela virou-se para Louise para contar o que ouviu, mas reparou que a leitura sobre os cristais de gelo parecia fascina-la. Lisa voltou a recostar-se ao banco quando viu uma mulher de cabelos cheios e armados para os lados, de feição bela passar por ela e olhar para Louise com um certo desprezo. Lisa ficou observando o seu nariz arrebito e a pose ereta como ela andava, por alguns instantes. Depois, ela interrompeu a leitura de Louise e perguntou quem ela era. Louise deixou o jornal cair e ficou de queixo caído.
__Eu não acredito! O que aquela estúpida está fazendo aqui?
__Você a conhece?
__Aquele, Lisa, é Maya Hart, filha do dono desse jornal. Quando eu treinava para ser guardiã, eu e Maya chegamos a estudar juntos. Ela fazia tudo errado nas aulas e acabou suspensa por ter transformado o professor de Magia Mítica em uma mosca com um feitiço sem reversão. Coitado, até hoje ele vive perambulando por aí, como uma mosca.
__Então porque ela voltou?
__Na época, Maya foi suspensa por um semestre e depois nunca mais voltou. Talvez agora ela queira continuar a me infernizar!
No passado, Louise e Maya eram arquiinimigas número um e não conseguiam ficar perto uma da outra sem brigar. Depois que Maya levou suspensão e nunca mais voltou, Louise pôde terminar seu treinamento em paz. Agora ao vê-la, irritante como sempre, Louise se arrependeu em continuar com a farsa de que não era uma guardiã formada.
__Talvez ela não seja tão chata como era antigamente, Louise! __disse Lisa.
__Você não a conhece, Lisa __Louise falava entre os dentes para segurar a raiva__ Maya é a mesma coisa que tentar fazer água passar para vinho...
__Oi, garotas!
Louise olhou para trás e viu Zig, Cliffe e Dan se aproximando.
__O que aconteceu Louise? __perguntou Dan vendo-a amassando o jornal.
__Ainda não aconteceu nada, Dan, mas vai acontecer!
__Não liga não, Dan. Louise só está assim por causa de uma antiga amiga __disse Lisa rindo.
__Antiga amiga é a...
Louise se conteve e não terminou a frase. Ela respirou forte e olhou desanimada para o jornal que ela estraçalhara na mão.
Dan sentou perto de Lisa e abriu a boca para dizer algo quando uma voz do outro lado do jardim gritou:
__ZIGUINHO! CLIFFINHO! OLHA A MAMÃE AQUI!
Zig e Cliffe olharam para trás e quase tiveram um enfartaram ao verem Big Bertha correndo para eles com os braços abertos. À medida que a mãe dos Pés Grandes corria, o chão tremia e os alunos sentiam seus pés saírem do chão a cada passo pesado de Big Bertha.
__Vem cá, dá um beijinho na mamãe!
Big Bertha agarrou os filhos e os apertou contra a barriga enorme. Os dois Pés Grandes pareceram dois amendoins entre os braços troncudos de Big Bertha.
Zig e Cliffe olharam de soslaio para os lados e viram que todos olhavam para eles, rindo e cochichando.
__Me larga mãe! __disse Zig tentando escapar dos braços fortes de Big Bertha.
__A mamãe amar seus filhuscas!
Lisa e Dan seguraram a boca para não rir e tentaram esconder uma gargalhada ao ouvir Big Bertha chamando os dois de “meus filhas”.
Big Bertha era algo diferente para a maioria dos alunos. Ela tinha um sotaque que para Lisa, parecia ser alemão ou escocês. Esse sotaque deixava os Pés Grandes extremamente envergonhados, pois Big Bertha costumava chamá-los de meus filhas e outras coisas semelhantes, na frente de todo mundo.
__Obrigado, mamãe, por me partir ao meio __disse Cliffe irônico assim que Big Bertha soltou os irmãos.
__Mamãe Bertha, esperar filhuscas nas muralhas, para as aulas, yah!
Big Bertha virou e saiu abrindo caminho entre a multidão de alunos que se juntaram para ver os Pés Grandes. Ao passar por Peter, um lado da bunda de Bertha bateu contra a cara dele e o empurrou para dentro do chafariz. Os alunos olhavam com os olhos arregalados para a montanha de mulher que desaparecia na entrada do Castelo dos Trons.
Zig e Cliffe mal podiam esconder o vermelhão que cobriam seus rostos. Eles pensaram em sair correndo para dentro de um dos castelos, mas quando viraram, deram de cara com Grump, Gregor e Steven.
__Mamãe Bertha, esperar filhuscas nas muralhas, para as aulas, yah! __remendou Grump, que logo em seguida caiu na gargalhada, junto com Gregor e Steven.
__Cala a boca Grump! __gritou Dan levantando do banco e entrando na frente de Zig e Cliffe.
__Ah, Horcliffe, eu não sabia que você estava aí __disse Grump com ironia__ Ah é, eu me esqueço que não enxergo baratas!
Dan avançou para cima de Grump, mas foi segurado por um rapaz que saiu do meio da multidão.
__Não dê atenção a esse babaca!
__Tom Secoyan, eu não sabia que você defendia as baratas! __caçoou Grump novamente.
Tom Secoyan virou para Grump com os punhos ardendo de vontade de rachar o nariz dele. No entanto, Secoyan esticou o braço na direção do chafariz e fez um movimento com a mão. De repente, um jato d’água saiu do chafariz e arrastou Grump por uns cinco metros.
__O que foi, Mcanfly, você não gosta de banho? __disse Secoyan aproximando de Grump caído no chão e encharcado até as pontas dos pés__ Ah é, eu me esqueço que insetos como você não gostam de banho!
Dan ergueu a sobrancelha e deixou escapar um riso entre os dentes. Grump levantou e apontou a varinha para o pescoço de Tom.
__A minha varinha pode fazer um estrago muito maior do que sua água idiota...
__Mas o meu dedo e a água dele podem fazer um estrago muito maior em você do que esse graveto que você chama de vara! __disse Dan apontando o dedo para Grump.
Grump rosnou com o canto da boca e abaixou a varinha.
__Vocês dois, se preparem para um...
__Vamos, todos. Se preparem para a aula de Duelos __disse uma voz que surgiu atrás de Grump__ Vamos, rápido!
Grump virou-se para Ius Flycken e murmurou para Dan e Tom.
__Hora mais que perfeita, não acham? __Grump deixou escapar um sorriso torto na boca e saiu em direção ao Castelo dos Bruxos para se trocar.
__Vamos rapazes, o tempo é precioso! __gritava Flycken.
Dan deu as costas para Tom e parou ao ouvi-lo.
__Tome cuidado com Mcanfly!
Dan balançou a cabeça e ia sair quando escutou outra voz atrás de Tom.
__Não foi só você que já disse isso a ele!
Dan virou-se e viu Melissa Horcliffe parada atrás de Tom. Ao vê-la, Dan saiu andando e correu para se juntar a Lisa.
Ius Flycken era um homem de estatura média, vestido elegantemente com um manto vermelho com detalhes em amarelo. Ele segurava uma varinha que tinha a madeira trançada até a ponta na mão direita e uma bola de cristal de tamanho médio na mão esquerda.
Enquanto Flycken fazia seu discurso sobre a emoção de estar dando aulas de treinamento para duelos, Lisa observava-o. Flycken tinha um nariz fino e elegantemente alongado. Seus olhos eram azuis claros e seus cabelos eram loiros arrepiados.
__Bem, nós começaremos essa primeira aula de Duelos, com demonstrações de como duelar. Estão vendo essa bola de cristal em minha mão? __perguntou Flycken, sorrindo__ Essa é uma bola de cristal conhecida como Duelante. As Duelantes possuem a função de monitorar os duelos e garantir que os participantes do desafio estejam duelando de acordo com as regras. Essa será a missão desse Duelante e de mais nove que estão sobre minha mesa...
Flycken explicou as regras dos duelos e como a Duelante interferia no duelo se algum participante violasse as regras. Entre os alunos que pareciam entusiasmados com a nova matéria e com até onde Flycken queria chegar com aquilo, Louise era a única que não se concentrava no que era dito.
Assim que ela entrou na sala, Maya esbarrara nela e fizera um sorriso provocante para Louise. Desde esse momento, as duas não paravam de se olhar, como se uma fosse comer a outra só com os olhos.
__Muito bem, agora vamos ao que importa. Hoje nós faremos um pequeno duelo entre vocês. E para escolher quem duelará com quem, eu escrevi os nomes de cada um dentro de um livro mágico.
Flycken pegou um livro dourado, normal, sobre a mesa e mostrou as páginas com os nomes dos alunos escritos em cada uma delas. Em seguida, Flycken disse algumas palavras mágicas, que ninguém pôde entender e as os nomes desapareceram.
Todos se curvaram para o livro na mão de Flycken para ver o que iria acontecer em seguida. O livro ergueu no ar e as páginas começaram a passar rapidamente, de um lado para o outro. Aos poucos as páginas pararam e dois nomes surgiram em cada folha. Estava escrito: Norman Finger e Alice Boston.
Após os dois primeiros duelantes serem escolhidos, o livro continuou a virar as folhas e revelar os nomes, sempre de dois em dois.
Dan estava ansioso para saber com quem duelaria. Ele olhou para o lado e viu Melissa sorrindo para ele, como se ela o estivesse convidando para o duelo. O mesmo acontecia com Louise, que aguardava ansiosa seu nome surgir no livro. Por algum motivo, ela torcia para que Maya fosse a escolhida para duelar com ela.
O livro revelou mais dois pares de papéis, surgiram os nomes: Daniel Horcliffe e Grump Mcanfly.
Dan ficou satisfeito com a escolha, ainda mais, quando viu Grump entrando na sala com vestes novas. Porém, Melissa pareceu inconformada com o duelo de Dan. O que se tornou numa fúria quando ela viu seu nome surgindo junto com o nome de Peter Flying. Ela olhou para Peter e pôs a mão no rosto, balançando a cabeça.
Novamente duas páginas foram abertas e dois nomes surgiram. Por fim, Louise conseguira o que queria. Louise Longbottom e Maya Hart.
Lisa e alguns alunos eram os únicos que tinham seus nomes dentro do livro ainda. As páginas foram abertas e aos poucos surgiu o nome de Lisa Torner. Porém na segunda página, não apareceu nenhum nome. Todos olharam curiosos para ele e aos poucos um nome foi surgindo em letras que queimavam numa tonalidade negra sobre o papel. John Hariph.
Todos olharam para os lados como se desconhecessem o nome.
__John Hariph?
__Quem é esse?
Lisa olhou para os lados e não via ninguém que poderia ser o seu duelante. Para surpresa de todos, um rapaz vestido de preto e de olhar sombrio apareceu do nada, encostado a um dos pilares do castelo. Ele descruzou os braços e levantou o dedo.
__Sou eu!
Lisa virou-se para Hariph e teve uma estranha sensação. Ela pôs a mão no pescoço e tentou conter um rápido arrepio na marca.
__Muito bem, todos os nomes já foram tirados? __continuou Flycken__ Sim? Então vamos dar início aos duelos. Lembrem-se, é permitido usar magia e todos os domínios dos elementos. Não é permitido que um dos duelantes machuque o outro. Está entendido?
Os alunos acenaram com a cabeça e foram para cima de longas mesas, postas na sala, que mais pareciam passarelas. Flycken fez um movimento com a varinha e as dez Duelantes flutuaram e ficaram de frente para cada um dos alunos duelantes. Grump olhou para a bola de cristal do seu lado e pensou em explodi-la, mas conteve-se ao ver Flycken olhando para ele.
Louise e Maya estavam a postos. Maya mantinha um irritante sorriso torto na boca. Louise estava tentando imaginar como seria fácil acabar com o duelo logo no primeiro ataque.
Lisa subiu na mesa e tirou a varinha Witchfire do bolso. Ela olhou para Hariph e sentiu novamente o arrepio na marca. Porque eu sinto esse arrepio?
Flycken desceu de cima de uma mesa e fez um movimento com a varinha. As Duelantes brilharam e uma fumaça surgiu dentro delas. Em seguida, a fumaça se transformou em números. Dez... nove...
__Assim que terminar a contagem final inicia-se os duelos __gritou Flycken.
Cinco... quatro. Lisa segurou forte a varinha e olhou para Hariph. Dan ergueu o dedo à medida que Grump apontava a varinha para ele. Louise manteve seus braços próximos ao corpo, apertando a varinha o máximo que podia. Já Maya, cruzou os braços e ficou como uma estátua, olhando para Louise. E Melissa ainda não podia acreditar que Peter não conseguia tirar a varinha do bolso. Três... dois... um.
Vários feitiços foram lançados de um lado para o outro. Flycken acompanhava cada feitiço com os olhos brilhando. Aquilo era o seu orgulho.
__Millória!
Uma fantasma branco saiu da varinha de Grump e foi em direção a Dan, que fez um movimento com o dedo e explodiu o feitiço de Grump.
__Bom, Horcliffe __disse Grump__ Vamos ver se você agüenta essa!
Um estouro saiu da varinha de Grump e em seguida um facho de luz azul seguiu numa grande velocidade contra Dan.
__Burgus! __Dan se protegeu com um escudo mágico e depois apontou o dedo para Grump.
Uma luz flamejante atingiu Grump no ombro esquerdo e o fez dar três giros no ar. Grump caiu no chão e levantou furioso.
Melissa e Peter ainda não haviam se atacado. O rapaz ainda não conseguira tirar a varinha do bolso. Quando finalmente Peter tirou a varinha, ele a ergueu e ao invés de dizer Lotrupus Fortifólia, ele pronunciou Lobrutus Floriflória.
Melissa foi atingida na testa e caiu para trás. Ao levantar, seus cabelos, que antes estavam amarrados, agora estavam soltos e armados para o alto. Ela olhou para os lados e viu que todos haviam parado de duelar, com exceção de Dan e Grump, e a estavam encarando.
Melissa passou a mão no chão, tentando recuperar a sua varinha que caíra e observara que sua mão estava verde e que seus dedos haviam se transformados em raízes. Ela passou a mão no rosto e sentiu que vários ramos estavam entrelaçados no lugar de sua pele. Melissa virou para o lado e viu sua varinha, que havia se transformado numa rosa vermelha com o botão ainda fechado. Melissa olhou irritada para Peter e o ouviu pedindo desculpas.
Melissa rangeu os dentes, pegou no talo da rosa e apontou para Peter.
__Seu idiota, é Lotrupus Fortifólia!
O botão da rosa se abriu e uma faísca de luz saiu e atingiu Peter no peito, lançando-o a mais de dez metros, até o fm da sala.
Assim que Peter levantou e caiu para trás novamente, a Duelante brilhou e entre a fumaça a frase “FIM DE DUELO”, surgiu.
Flycken correu até Melissa quando ela estava saindo de cima da mesa e tentou dirigir-lhe a palavra, mas ela o interrompeu.
__Francamente, professor Flycken! Esse imbecil não sabe nem pronunciar um feitiço direito e já quer duelar!
__Ele não teve a intenção de...
Ius Flycken não teve nem a oportunidade de terminar sua frase quando Melissa saiu de perto dele e foi se sentar numa cadeira no canto da sala.
Maya Hart estava com uma cara de desdém para Louise, que a incomodava.
__Francamente, Longbottom, não sei como você ainda está estudando na Fonte Phoenix __disse Maya com uma voz fina e extremamente irritante__ Ah, já sei, talvez porque você tenha reprovado. Não era de se esperar que...
Louise segurou-se para não dizer a Maya que ao contrário dela, ela terminara o treinamento. Louise não podia pôr sua missão de proteger Lisa em risco.
__Mas não fui eu quem foi suspensa das aulas por um semestre! Afinal, como seu pai subordinou Gaya para que você voltasse a treinar depois de todos esses anos, na mesma turma em que você parou? __provocou Louise.
__Isso não vem ao caso, queridinha __Maya deu um curto riso agudo e insuportável__ Mas agora eu estou de volta e veja só, eu tenho novamente a oportunidade de provar a você que eu sou a melhor!
__E como você pretende fazer isso, queridinha? __perguntou Louise com ironia__ Por acaso você vai me transformar num inseto, como fez com o professor Ripper?
__Até que não é uma má idéia __disse Maya tocando os lábios com a ponta do dedo__ Mas não! Eu prefiro fazer de outra forma. Que tal assim: Bombarda!
Louise tentou se defender, mas o feitiço a acertou e uma explosão a lançou para trás.
Louise levantou meio tonta e ficou de pé.
__Bom. Até que você melhorou __Louise sorriu e ergueu a varinha rapidamente__ Mas não é o suficiente!
Maya girou no ar e caiu para trás. Ela levantou distorcida e jogou os cabelos desarrumados pelo feitiço, para trás.
__Millória! __gritou Maya.
Um fantasma branco saiu da varinha e atacou Louise. Ela ergueu a varinha e defendeu-se.
__Burgus!
O fantasma bateu contra o escudo de Louise e desapareceu. Em seguida, ambas ergueram as varinhas ao mesmo tempo e pronunciaram dois feitiços distintos.
__Engorgio!
__Inflacorpus!
Os dois feitiços se cruzaram e atingiram as duas.
Louise caiu para trás e tentou levantar, mas algo muito pesado a impediu. Ela levantou a cabeça com dificuldade e sentiu que o seu pescoço estava pendendo para o lado.
Maya olhou para Louise e começou a dar gargalhadas finas.
Louise, por sua vez, conseguiu se pôr em pé sem entender o motivo da graça. Ela só entendeu quando sua cabeça entortou para o lado e ela caiu. A cabeça de Louise estava do tamanho de uma melancia gigante. Maya estava rolando no chão de tanto rir.
Louise ergueu a cabeça pesada com dificuldade e a tocou com as mãos. Sentindo que ela estava enorme, Louise murmurou:
__Ela está enorme!
Maya escutou aquilo e voltou a rolar de tanto rir, até que ela rolou de cima da mesa e caiu de cara no chão. Louise começou a rir também e Maya levantou furiosa.
Maya tentou dizer algo para Louise, mas alguma coisa dentro da sua boca a impediu. De repente, Maya começou a fazer vômitos e uma coisa enrolada saiu de sua boca. Era a língua dela.
A cabeça de Louise tombou para trás e ela caiu na gargalhada. Seus olhos encheram-se d’água ao ver a língua de quase dois metros de comprimento ser desenrolada sobre a mesa de duelos.
__O que foi que você fez com minha língua? __perguntou Maya quase não conseguindo falar de tão grande e gorda que sua língua estava.
Louise conseguiu se recompor em pé e enxugou as lágrimas que desciam de seu rosto. Ainda morrendo de rir, ele disse:
__Ninguém mandou... você... falar de mais... Maya!
Maya Hart ficou vermelha e trêmula de raiva. Em seguida ela segurou forte a varinha e apontou-a para Louise.
Louise foi atingida pelo feitiço e começou a distorcer. Seus braços passaram por baixo das pernas e suas pernas enrolaram no pescoço e ficaram caídas sobre a barriga de Louise.
Maya mal havia começado a rir de Louise quando recebeu um outro feitiço. De repente, Maya distorceu também. Seu braço esquerdo ficou no lugar do nariz e sua perna direita no lugar do braço esquerdo. Sobre a cabeça dela, a perna esquerda saiu e atrás das costas, o braço direito surgiu.
Louise caiu na risada e depois ficou séria ao ver Maya a encarando. Naquele momento, as duas ficaram vermelhas e cada uma apontou como pôde, a varinha para seus corpos.
__Finite Encantatem!
As duas se retorceram e voltaram ao normal.
__Já chega! __gritou Maya__ Eu vou te mostrar quem é Maya Hart!
As duas começaram a correr, uma contra a outra, com as varinhas erguidas. Assim que as varinhas já estavam a menos de um metro de distância uma da outra, as duas gritaram:
__Expelliarmus!
De repente, as duas varinhas explodiram e se lançaram, para fora da mesa do duelo deixando apenas as donas, de cara a cara com a outra.
Maya rangeu os dentes e deu um tapa no rosto de Louise.
__Sua idiota!
__Estúpida! __respondeu Louise com outro tapa.
As duas se entreolharam e caíram, umas sobre a outra, rolando e puxando os cabelos.
Flycken viu a confusão e tentou separar as duas com a ajuda da Duelante. No entanto, o professor recebeu uma pesada na cara e a Duelante foi lançado contra a parede, onde se quebrou.
Enquanto Flycken separava as duas, Dan e Grump já estavam cansados de tanto se contra-atacarem. Primeiro Grump fora lançado longe, depois Dan foi atingido na barriga por um feitiço e caiu deitado no chão. A Duelante tentou impedir que Grump continuasse a agredir Dan e acabou sendo jogado longe. Grump tentou lançar um outro feitiço contra Dan caído e foi impedido pela Duelante, que agora possuía uma fumaça vermelha dentro da bola de cristal, e foi lançado contra a parede, ficando inconsciente.
Em geral, muitos duelos já haviam terminado. Alguns haviam sido transformados em sapos, outros em borboletas, e um outro ainda, foi transformado numa cobra de dez metros que saiu rastejando pela sala. No entanto, Lisa e Hariph, por mais estranho que fosse, ainda não haviam se atacado.
Lisa ainda permanecia em pé, segurando forte a varinha, esperando que Hariph a atacasse. Do outro lado da mesa, Hariph estava de pé, olhando de forma sombria para Lisa.
Os dois permaneceram assim por alguns minutos, até que Hariph ergueu a varinha subitamente e atacou Lisa.
Lisa não viu nenhum feitiço vindo em sua direção, ela apenas sentiu algo forte bater contra seu corpo e faze-la ser lançada até o final da mesa de duelo.
Lisa caiu de costas e levantou meio zonza. Assim que ela virou-se para Hariph, seus olhos arregalaram e Lisa gritou.
__Ah!
O estranho Hariph
Lisa, sem pensar, ergueu a varinha contra o feitiço de Hariph e lançou um contra feitiço.
__Reverso!
O feitiço de Hariph bateu contra a ponta da varinha Witchfire e foi relançado contra seu dono, numa velocidade duas vezes maior. Hariph não conseguiu se esquivar e foi atingido. O rapaz deu uma volta completa no ar e caiu em pé, apoiado sobre os joelhos.
__Bravo, senhorita Torner! __gritou Flycken batendo palmas assim que conseguiu separar Louise e Maya com um Petrificus Totalis.
Lisa sorriu para o professor e depois voltou-se para Hariph. O estranho rapaz de olhar sombrio se colocava de pé e tombava o pescoço para o lado. Ambos continuaram se olhando por alguns minutos, até que Lisa ergueu a varinha... Porém, quando pronunciou o feitiço, Hariph ergueu a sua varinha e fez um movimento. Uma pequena luz branca bateu contra a mão de Lisa e a desarmou. A varinha voou e caiu fora da mesa de duelo. Naquele momento, a atenção de todos voltou-se para os dois únicos duelantes sobre a mesa.
__E agora? __murmurou Norman Finger.
__Lisa está frita! __cochichou Alice Boston.
Lisa ficou olhando para Hariph, tentando imaginar como faria para recuperar a sua varinha. Hariph, no entanto, deu um largo sorriso e apontou a varinha para Lisa.
__Lupus!
Um estrondo saiu da varinha de Hariph e em seguida um lobo negro de olhos vermelhos, surgiu.
Lisa afastou para trás, olhando para o lobo que aproximava cada vez mais. Ela estava tensa e não sabia o que fazer para se proteger desse feitiço que Lisa nunca vira antes. Por fim, instintivamente, quando o lobo pulou contra ela, Lisa ergueu as mãos e bateu-as contra a cara do lobo, que agora abria uma enorme boca para ataca-la.
De repente, assim que Lisa bateu as mãos contra o feitiço de Hariph, uma luz envolveu o lobo e toda a sala. Quando todos olharam para o lobo, ele havia desaparecido. No lugar dele havia várias borboletas douradas luminosas que saíam das palmas da mão de Lisa.
__Incrível! __exclamou alguns alunos.
__Você viu como ela fez aquilo?
Lisa estava meio abobada. Ela não sabia como fizera aquilo. Do outro lado da mesa, Hariph mantinha o seu olhar sombrio, mas agora com um estranho sorriso torto na boca, como se aquilo que Lisa fizera também o tivesse impressionado.
__Tome Lisa! __disse Norman devolvendo a varinha de Lisa.
__Obrigado, Norman.
Norman voltou para junto dos outros alunos e do professor Flycken, que agora tinha os olhos brilhando pela forma como Lisa se defendera.
Lisa segurou forte a varinha e ficou olhando para Hariph, pensando num modo de ataca-lo e fazer com que aquele duelo terminasse logo. Por fim, ela ergueu a varinha e disse:
__Millória!
Um fantasma branco se formou e atacou Hariph. No entanto, ele fez um movimento com a varinha e fez o feitiço de Lisa explodir e virar vários pontinhos luminosos, que se dissiparam pelo ar.
Pensando rapidamente, Hariph, logo após ter se defendido do ataque de Lisa, contra-atacou-a.
Uma bola de névoa negra saiu da varinha de Hariph e vagou sobre a mesa, como uma cobra rastejante. De repente, a névoa ergueu-se para o ar e um Carrasco surgiu. Lisa arregalou os olhos e tentou afastar para trás, porém, ela estava no fim da mesa.
As vestes do Carrasco flutuaram no ar e seu corpo ergueu-se de cara com Lisa. As garras do Carrasco surgiram entre o pano, aos poucos.
Lisa permanecia intacta. As lembranças dos Carrascos e da Besta vieram à tona. Tudo voltou aos seus olhos. O ataque a Fonte Phoenix, a luta contra a Besta e a sua destruição. De súbito, Lisa teve uma visão que há muito tempo não tinha. Um homem surgiu entre as nuvens e depois um olho com uma pupila vermelha dispersou em seus olhos.
O Carrasco ergueu o braço e atacou. Sem pensar, Lisa ergueu a varinha e destroçou o Carrasco com um Gládio.
O feitiço explodiu o Carrasco e foi em linha reta na direção de Hariph. O estranho rapaz não teve tempo de se defender e foi atingido. A luz do feitiço envolveu o seu corpo e provocou vários cortes nele. Hariph deixou a varinha cair no chão e despencou sobre a mesa.
A bola de cristal voadora, a Duelante, anunciou entre as nuvens que se formavam dentro dela, “FIM DE DUELO”. Flycken e os outros alunos levantaram aplausos pelo duelo que superou os desastrosos duelos dos outros alunos.
Lisa caiu de joelhos, com a marca doendo. Por algum motivo, ela não estava feliz por ter vencido, ao contrário, algo a preocupava. O feitiço em forma de Carrasco trouxera de volta todas as lembranças do ano anterior, que Lisa tanto queria esquecer. Quando Lisa ergueu a cabeça, Hariph estava a sua frente, estendendo a mão para ela.
__Parabéns! Duelou muito bem, Lisa! __disse Hariph ainda com aquele olhar sombrio.
Lisa pegou em sua mão e foi ajudada a levantar. Quando estava de pé, disse um “Obrigado” meio sufocado. Não por que não quisesse dizer com mais vontade, mas sim porque sua marca estava doendo bastante.
O sinal mágico da Fonte Phoenix soou e os alunos começaram a desocupar a sala de Duelos, ainda transformados em animais ou em uma quase-árvore, como Melissa. Peter tentou se desculpar e quis reverter o feitiço, mas piorou ainda mais a situação. Os cabelos de Melissa se transformaram em folhas e ela, furiosa, deu um soco na cara de Peter, que ficou com o olho roxo por uns três dias.
Grump, por sua vez, saiu injuriado da sala. Quem aquela bola de cristal era para interferir no meu ataque? Dan escutou-o resmungando e ficou feliz. Afinal, se não fosse a Duelante, ele teria perdido o duelo.
Assim que Dan saiu do Castelo dos Trons, onde a aula era administrada, Melissa jogou-o contra a parede de pedra e apontou o dedo em forma de raízes para ele.
__Da próxima vez vai ser eu e você, Horcliffe! __disse Melissa enquanto olhava para seus dedos em forma de raízes__ Mas isso só vai acontecer depois que eu encontrar uma forma de voltar ao normal.
Melissa lançou um olhar raivoso para Peter, que correu para entrar no meio dos alunos, e saiu de perto de Dan resmungando.
Louise e Maya foram as últimas a sair. Ius Flycken teve que despetrificar Louise primeiro, para depois despetrificar Maya. Afinal, ele temia levar uma outra pesada na cara.
Louise saiu do Castelo dos Trons bufando. Seus cabelos estavam desarrumados e seu manto preto, levemente rasgado. Apesar da fúria, Louise estava feliz. Afinal, ela carregava entre os dedos, um facho de cabelos de Maya, que para dizer a verdade, nunca foram tão bem arrancados.
Maya saiu do castelo, seguida por Flycken. Ela estava desarrumada e seus cabelos armados... mais armados do que antes! Assim que ela fez uma curva para o Castelo dos Bruxos, Flycken não deixou de reparar que faltava uma grande quantidade de cabelos no alto da cabeça dela. Ius balançou a cabeça e saiu rindo para si mesmo.
A aula seguinte era de Domínio do Elemento Ar, com a professora Ventania. Os alunos entraram no Castelo dos Celtas e seguiram para a sala quatro do castelo. Todos os alunos já haviam trocado as roupas e, no caso de Louise e Maya, arrumado os cabelos. Apesar de que as duas quase voltaram carecas para a aula depois de entrarem em tapas novamente. Se não fosse Norman e Peter que tivessem separado as duas, a Sala Comunal teria virado pó quando ambas preparavam um feitiço.
A sala quatro do Castelo dos Celtas era bem grande e tinha várias mesas grandes de quase dez metros cada uma. Sobre as mesas havia alguns anemômetros aragornianos e uns papa-ventos pendurados ao teto.
A professora Ventania não era muito velha. Ela tinha cabelos grisalhos e levemente encaracolados que viviam amarrados num coque na cabeça. Ela usava vestes claras que destacavam a expressão doce e suave que tinha.
Ventaniaentrou na sala abrindo a porta com um sopro. Ela dirigiu a sua mesa e ficou de pé, de frente para os alunos. Quando Ventania passou por Lisa, ela teve a leve sensação de que um vento suave empurrara seus cabelos para trás.
__Muito bem, hoje vamos começar a nossa aula com um... __Ventania abriu a boca e deu um arroto que toda a sala sentiu uma ventania carregar objetos e mover as vestes dos alunos__ Me desculpem, foi um pastel de vento que acabei de comer!
Alguns alunos começaram a rir e contiveram-se ao ver a professora Ventania lançar um olhar severo para todos.
__Como eu estava dizendo, __continuou__ hoje nós vamos começar com uma revisão do que aprendemos no ano passado. Agora, eu quero que todos ponham suas mãos sobre a mesa e produzam um pequeno tornado sobre ela.
Os alunos obedeceram e fizeram o que a professora Ventania mandou. Aos poucos, vários tornados, do tamanho de uma caneta, surgiram rodopiando sobre as mesas, entre as mãos dos alunos.
Professora Ventania passou pelas mesas e ficou encantada com os pequenos tornados perfeitos que os alunos produziam. Exceto o de Peter, que ganhava dimensões assustadoras.
__Peter Flying, pare agora com esse tornado! __gritou Ventania.
__Eu não consigo, professora!
Peter tentava comprimir as mãos para que o tornado diminuísse, mas ao invés de comprimi-lo, o tornado aumentava... aumentava... e aumentava.
Aos poucos o tornado de Peter perdeu o controlo e aumentou de tamanho, provocando um redemoinho cônico dentro da sala.
__Pare com esse tornado, Peter Flying! __gritava professora Ventania enquanto tentava se segurar numa mesa.
Lisa, Dan e Louise se agarraram a primeira coisa presa ao chão que encontraram, uma das colunas da sala. Já os outros alunos, estavam sendo sugados pelo tornado que aumentava de tamanho e arrastava para dentro dele tudo que encontrava pela frente, inclusive o próprio Peter.
__Ah! __gritava Peter dando voltas sem parar ao redor do tornado.
O tornado ficou gigante e de repente todas as mesas saíram do chão e começaram a serem arrastadas. Maya e Grump estavam agarrados a uma das colunas quando uma cadeira bateu na testa de Maya e um barômetro tentou entrar pela goela de Grump. Maya se soltou da coluna e foi arrastada. Já Grump, teve sérios problemas com o barômetro, que insistia em entrar pela sua boca.
__Peter, pare já com esse tornado!
A professora Ventania não parava de gritar para Peter, mas ele não podia fazer nada.
De repente, um vidro de uma das janelas foi quebrado por uma mesa arremessada pelo vendaval e o tornado começou a sair por ela. Os alunos que rodavam dentro dele se prendaram as colunas, menos Peter, que não conseguiu se agarrar.
Professora Ventania tentava se agarrar à coluna quando o tornado passou por ela e a arrastou. O tornado saiu pela janela e a professora agarrou-se ao parapeito com Peter agarrado às suas pernas.
__Peter! __gritava professora Ventania sentindo Peter arrancando seus sapatos.
__Não me deixe professora!
Os alunos correram até a janela e começaram a puxar Ventania para dentro da sala. Assim que eles conseguiram puxar ela, o sapato arrancou de seus pés e Peter foi arrastado pelo tornado, Fonte Phoenix afora.
__Peter! __gritou professora Ventania a janela enquanto Peter sumia rodando pelo Castelo dos Gaullers.
Lisa colocou a cabeça para fora da janela e viu o tornado se desfazendo e Peter caindo dentro do chafariz do jardim norte.
__Ah, só me faltava mais essa! __disse Ventania batendo a mão no rosto__ Vamos, já, todos para dentro... olha só essa bagunça!
A aula foi impedida de continuar. No entanto, a alegria dos alunos não demorou muito. Desmond Fhyfer, o novo zelador, arrumou a sala com apenas um estralar de dedos. Os alunos retornaram e aula continuou, apesar das reclamações.
__Silêncio! __gritou Ventania ao ver tantos resmungos__ Agora, depois desse... desastre chamado Peter Flying, nós vamos continuar a revisar o que já estudamos no ano passado. Pois bem, eu quero que todos tentem produzir nuvens. Quanto mais tempestuosa for, maior será a minha avaliação semestral. Então, o que estão esperando, comecem!
Prontamente, Lisa pôs sua mão sobre a mesa e tentou fazer nuvens. No entanto, ela não se lembrava como fazer. De tanto tentar, uma pequena nuvem negra se formou entre as palmas de sua mão. Elas soltaram um raio e desapareceram. Lisa suspirou e voltou a tentar novamente.
Louise tentava fazer sua nuvem de olho em Maya, que também estava de olho em Louise. As duas pareciam que estavam apostando quem fazia a nuvem maior.
Louise sabia que ela tinha grandes chances, afinal, Maya não conseguia fazer nenhum feitiço direito. Apesar de que foi provado para Louise, que sua arquiinimiga evoluíra muito desde quando tomou suspensão e nunca mais voltou.
As duas começaram a produzir suas nuvens. Entre a mão de Louise, uma espessa nuvem, parecendo de algodão negro, se formou lançado relâmpagos e trovões por todos os lados. Louise, por curiosidade e também por querer se mostrar, virou-se para Maya e se assustou. Uma nuvem duas vezes maior do que a dela se formara e grandes raios escapuliam pelas margens volumosas da nuvem.
__Eu não posso ser vencida por aquela... aquela...! __resmungou Louise aumentando a sua nuvem.
Maya viu Louise aumentando a nuvem e também começou a fazer o mesmo. De repente, a nuvem de Maya lançou um raio contra os cabelos dela, fazendo ascender um pequeno fogo na cabeça, e desapareceu. Maya apagou o fogo e olhou para Louise, que ria sem parar.
De repente, um estrondo foi ouvido dentro da sala e a atenção de todos foi chamada. Lisa olhou assustada para Louise e viu que ela estava molhada de cima em baixo e que a sua nuvem chovia sobre sua cabeça, lançando raios e trovões por todos os lados. Louise olhou irritada para Lisa e a viu rindo.
__Isso não tem graça, Lisa!
Grump e Dan também estavam disputando quem fazia a melhor nuvem. No entanto, ao verem o que aconteceu com Louise e Maya, os dois pararam de disputar. Porém, a professora Ventania já havia visto suas nuvens e os parabenizou energicamente.
A aula seguiu seu curso. Alguns alunos conseguiram e outros acabaram sendo queimados por raios. No entanto, ninguém nunca foi tão perfeito quanto Hariph ao criar a sua nuvem.
Uma grande massa se formou sobre a cabeça de todos e a nuvem se espalhou por toda a sala como se uma tempestade houvesse entrado pela janela. Raios e trovões chacoalharam a sala.
__Incrível senhor Hariph! __disse Ventania segurando as mãos na altura do pescoço e com os olhos cheios de água__ É a primeira vez que eu vejo um aluno conseguir produzir algo tão...tão...tão espetacular como o senhor com apenas dois anos de treinamento!
Hariph sentiu corar-se ao ver a sala inteira o encarando. Porém, mesmo sentindo-se encabulado pelo seu feito, o rapaz não deixou seu olhar sombrio para trás. Ao contrário, agora ele estava mais intenso.
Ao final do dia, Peter Flying estava de volta a Sala Comunal do Castelo dos Bruxos, um pouco fraturado e ainda distorcido por ter caído de uma altura de quase cinqüenta metros. Assim que ele passou por Melissa, agora ao normal, Peter sorriu. Porém, Melissa virou a cara e desejou transforma-lo numa folha de pergaminho amassado.
Lisa estava sentada sozinha numa poltrona no centro da sala quando Hariph passou por ela e sentiu que sua marca latejou. Hariph olhou sombrio para Lisa e subiu as escadas.
Louise desceu as escadas e sentou suspirando próxima a Lisa.
__Oh, dia detestável! __disse lamentando-se__ Primeiro, Maya na Aula de Duelos e depois... Novamente Maya, na aula de Domínio do Elemento Ar... O quê que eu fiz para merecer isso?
Louise passou uns dez minutos lamentando-se do dia terrível que tivera e fazendo previsões para os dias terríveis que ainda iria ter dali pra frente com Maya em sua lista negra.
Lisa, no entanto, não ouvira nada do que Louise lhe dissera. Ela massageava sua marca e tentava encontrar um motivo para que ela estivesse doendo. Talvez seja a presença estranha de Hariph. O seu jeito de olhar sombrio... não, não pode ser! Ela também esteve doendo no Mundo dos Humanos. Mas porquê?
Lisa afundou-se em pensamentos vagos, mas resolveu esquecer todos, inclusive o fato de ter visto novamente o estranho rosto e o olho vermelho entre nuvens. Seus pensamentos, por mais que tentasse não pensar nas coisas estranhas que aconteceram com ela, sempre voltavam.
O estranho homem que a atacara, entrara em sua cabeça e permanecera até a hora do jantar no refeitório do Castelo dos Bruxos. Não somente o homem passou a atormenta-la, mas também o feitiço de remoção de poder. Afinal, que poder ele queria roubar de mim?
__Posso me sentar perto de você, Lisa? __perguntou Alice Boston gentilmente.
Lisa olhou para Alice e sorriu. A menina, de cabelos loiros e bem penteados, sentou perto de Lisa e sorriu para ela.
__Sabe, eu estava ansiosa para retornar as aulas depois desses dois anos...
__Dois anos? __perguntou Lisa.
__É, eu parei de treinar quando havia começado o meu primeiro ano de treinamento. Agora eu resolvi voltar e continuá-los, assim como Hariph, Peter e muitos outros alunos...
__Você conhece Hariph? __perguntou Lisa com um interesse particular pelo estranho rapaz.
__Não, não conheço, pessoalmente __disse Alice, desapontando Lisa__ Mas ouvir dizer que ele sempre foi estranho. Na verdade ele não tem amigos e sempre gosta de ficar atrás das sombras. Talvez seja por isso que ninguém se aproxima dele, com medo de que ele seja cúmplice de um dos Generais. Mas isso é besteira, Hariph é muito tímido e...
Alice nem terminou de dizer quando Lisa a interrompeu.
__Generais?
__É. Generais das Trevas! Você nunca ouviu falar neles?
Lisa balançou a cabeça e olhou para o fim da mesa em que sentava. Lá, isolado de todo mundo, estava Hariph jantando com os alunos a pelo menos cinco metros de distância dele. Naquele momento, algo passou pela cabeça de Lisa e ela saiu do refeitório deixando Alice falando sozinha.
Os Generais das Trevas
A porta da sala de Athus foi aberta e Lisa entrou. A sala grande e espaçosa tinha uma mesa de mogno no centro e várias prateleiras de livros sobre Magia Espírita. Athus estava sentado lendo um livro sobre a mesa. Ao ver Lisa entrar, ele olhou de soslaio para ela, fechou o livro, puxou uma gaveta da mesa e guardou-o.
__Por que não está jantando, Lisa?
__Eu já jantei __disse Lisa aproximando da mesa e fitando uma bengala encostada na mesa.
__E então, por que não está na Sala Comunal?
__Bem, eu queria perguntar algo ao senhor...
Athus Lupus analisou Lisa por um instante e reparou que ela estava séria e parecia atordoada. Lupus indicou uma cadeira para Lisa sentar-se e recostou em sua cadeira.
__E então...?
__Como foi em Poltergrat?
Athus suspirou forte e pôs as mãos, com os dedos cruzados sobre a mesa.
__Weaslow já sabe do que houve. Até sabia demais, eu digo. Osman e Crowley o colocaram a par do que houve. Como eu já devia esperar, Weaslow estava furioso por que muitos humanos viram os Emissários e, por sua vez, nós usando os nossos poderes. No entanto, tudo ficou bem. A Ordem mandou um secretário para o Mundo dos Humanos para apagar a memória da cidade inteira e reconstruir com magia, as vidraças que foram destruídas.
Lisa apertou a mão com a outra a mão e fitou Athus.
__E o que a Ordem dos Lordes disse sobre os Emissários da Morte?
Athus fitou Lisa com um olhar, que para Lisa, pareceu estranho.
__A Ordem não acha muito provável que os Emissários da Morte estejam a solta por aí. Na verdade, eles crêem mais nos feitiços que os aprisionaram naquele baú do que em você, a Bruxa de Fogo que foi atacada por eles __disse Athus lentamente.
__E como eles explicam o ataque?
__Eles estão achando que pode ter sido outras criaturas da Ilha das Sombras que tenham se transformado de Emissários, apenas para se vingarem de você. Segundo eles, não há nada para se preocupar...
Não há nada para se preocupar? A cabeça de Lisa rodou. Ela fora atacada e quase fora assassinada por estranhas criaturas que ela nunca viu na vida, e agora, um lorde idiota a diz para não se preocupar por que vamos cuidar do caso... Lisa balançou a cabeça para tentar não acreditar no que ouvira. Athus percebeu que ela não gostara da decisão da Ordem dos Lordes e descruzou os dedos.
__Mas não foi por isso que você veio até a minha sala, foi?
Lisa mexeu-se sobre a cadeira e balançou a cabeça.
__Não, não foi.
__Então por que veio me procurar, Lisa?
Lisa suspirou e aproximou da mesa de Athus.
__Existe alguma chance, por mais mínima que ela fosse, desses Emissários terem me atacado por que alguém os libertou?
Athus mudou de expressão e ficou sério. Seus dedos voltaram-se a se cruzar e ele aproximou da mesa.
__Bem... você sabe... você sabe que Goblin morreu e que todos os Carrascos foram destruídos... Lisa, não existe mais nenhum cúmplice da Besta! __disse Athus estranhamente engasgado com suas próprias palavras__ E se houvesse, nós saberíamos...
__E os Generais das Trevas?
__G-Generais?
Athus pareceu pular da cadeira. Seu rosto ficou pálido e seus olhos distanciaram-se dos de Lisa.
__Sim, Generais das Trevas __repetiu Lisa observando o estranho nervosismo de Athus__ Por que será, Athus, que eu tenho a sensação de que o senhor não me contou tudo sobre o meu passado?
Athus tossiu e passou a mão nos cabelos meramente caídos sobre seus olhos.
__Como soube sobre os Generais?
__Isso não importa __disse Lisa tentando manter a firmeza de sua voz__ O que o senhor esconde de mim, professor?
Athus calou-se. Ambos olhavam um para o outro. Lisa estava disposta a saber de tudo. Desde que Alice citara o nome dos Generais das Trevas, uma idéia, por mais estranha que fosse, passou por sua cabeça.
__Está bem, eu vou contar tudo para você, Lisa __Athus inclinou-se para frente e começou a falar__ Há dezessete anos atrás, a Besta não contava apenas com a ajuda dos Carrascos e de Goblin, que nos traía secretamente. Malagat contava também com a cumplicidade de sete pessoas extremamente poderosas que receberam o nome de Generais das Trevas.
“Seis desses generais pertenciam aos seis reinos e dominavam todos os elementos de Aragorn. O sétimo, no entanto, não dominava nenhum elemento, propriamente dito”.
“Os Generais foram classificados em ordem crescente, segundo seus poderes. O primeiro era o mais poderoso e o sétimo, o mais fraco. No entanto, isso não siguinifica muito, pois todos eram muito poderosos e provocavam a mesma destruição que o outro provocava”.
“Sabe, Lisa, foram tempos tempestuosos aqueles. Ninguém podia sair de suas casas, pois corria o risco de esbarrar com um dos Generais e morrer da pior forma possível. Da mesma forma, ninguém se atrevia a desafia-los”.
“Eu me lembro como se fosse hoje, o dia em que a Besta atacou a Fonte Phoenix junto com os Generais das Trevas. Alunos e guardiões morreram tentando salvar um bebê das garras do mau... Esse bebê era você, Lisa!”.
Lisa sentiu uma pontada no coração e abaixou a cabeça ao pensar que por causa dela muitos morreram tentando salva-la. Athus suspirou e continuou a contar, com os olhos distantes, como se ele estivesse vivendo o passado, naquele exato momento.
“Seus pais, Lisa, pegaram você e saíram da Fonte Phoenix junto com vinte guardiões e mais alguns alunos que se prontificaram a ajudar”.
“Os Generais das Trevas perseguiram Mysth e Draco até o fim. Entre essa perseguição, guardiões entraram na sua frente e tentaram te proteger, mas a fúria dos Generais foi maior e muito sangue foi derramado”.
“Martius Godric e Aton, pai de Gaya, ajudaram na fuga e conseguiram matar três Generais. No entanto, Aton também perdeu sua vida nesse derramamento de sangue. Quando ele acabara de matar o quinto General das Trevas, um outro General surgiu por trás dele e o matou. Godric não pôde impedir a morte do rei e pôs-se a proteger você, a pedido de Aton antes de sua morte”.
“Desde esse dia, Godric jurou que jamais permitiria que você caísse nas mãos da Besta e dos Generais das Trevas. Foi por isso, Lisa, que Malagat nunca entrou no Mundo dos Humanos antes de você completar dezesseis anos. Ela só a encontrou porque a proteção de Godric se desfez e seus poderes começaram a surgir”.
Lisa ficou em silêncio, pensando no que houve. Então, Athus continuou:
__Aos poucos, a guerra estava tomando proporções muitos grandes. A Besta trouxe os demônios da Ilha das Sombras para cá e tentou ao máximo que pôde, matar você!
“Malagat só não esperava que eu, Godric e outros, guardiões a levássemos para o Mundo dos Humanos. Quando isso aconteceu, seus pais já estavam mortos e os Generais já haviam enfraquecido com a batalha, restando apenas Malagat, com disposição suficiente para matar você a qualquer custo”.
“Ele nos perseguiu até a abertura do portal, mas foi impedido de entrar por alguns guardiões que o conseguiram prender. Mas isso, não foi suficiente. A Besta se libertou e nos seguiu até o Mundo dos Humanos. Bem daí para frente, você já sabe o que aconteceu”.
__E os Generais das Trevas? O que aconteceu com eles?
Athus recostou-se a cadeira e respirou.
__Bem, isso ninguém sabe, Lisa. Muitos acreditam que a Besta pode ter matado todos eles por terem falhado. Sinceramente, eu acredito que eles possam estar vivos. Talvez vagando por aí, com medo de encontrar você. Ainda mais agora que a Besta foi destruída. Sabe Lisa, os Generais das Trevas são imprevisíveis e podem ter passado esse tempo todo escondidos, tentando encontrar um modo de subir ao poder. Eles eram gananciosos, muito mais do que a Besta. Isso pode fazer com que eles retornem e tentem ocupar o lugar que eles tanto sonharam...o poder total do Mundo de Aragorn!
__E se isso acontecer...
__Uma nova guerra será iniciada e novamente pessoas inocentes morrerão...
__O senhor acha que o ataque daquele homem estranho que tentou roubar algum poder nosso possa ser um dos Generais das Trevas?
Athus balançou a cabeça e aproximou de Lisa.
__Jamais, Lisa! Tire essa idéia da sua cabeça! Os Generais desapareceram e a Besta está morta. Enfim, não há nada ameaçando a paz de Aragorn!
__Mas o senhor disse...
__Não insista, Lisa __disse Athus firme__ O mal não pode retornar por que a sua fonte de sustentação foi destruída por você. Não se esqueça disso!
Lisa ficou quieta e saiu da sala de Athus em silenciou. Ao sair, Athus esfregou o rosto com as mãos e abriu a gaveta da sua mesa. Ele tirou um livro de couro peludo e abriu-o na página que marcara, antes de Lisa entrar na sala.
__Me perdoe Lisa, __disse Athus olhando para um nome escrito em uma das folhas amarelas do livro__ você ainda não pode saber inteiramente da verdade...!
Lisa retornou ao quarto pensando em tudo que Athus contara e em tudo que acontecera com ela nesses últimos meses. Será que Athus está certo, os Generais das Trevas não voltam por que a Besta está morta? E se ele estiver errado? Por eu estou com essa estranha sensação de que algo está para acontecer?
Lisa sentou em sua cama e pegou o livro de Melody Bluesky. Ela folheou-o e suspirou. Depois, Lisa colocou-o de volta sobre um criado-mudo do lado da sua cama e deitou-se.
As horas foram passando e Lisa adormeceu, até cair num sono profundo. A luz clara da lua atravessava a janela de seu quarto e tocava seu belo rosto. Entre a luz da lua, uma sombra surgiu e aproximou-se de Lisa.
A sombra era uma criaturinha estranha que se confundia com a luz cinza-lunar da lua. A criaturinha aproximou de Lisa e tocou a testa dela. Em seguida, ela se afastou e desapareceu, deixando um pequeno brilho na testa de Lisa.
O pequeno pontinho luminoso entrou na testa de Lisa. De repente, Lisa começou a sonhar.
Uma nuvem escura e espessa envolveu Lisa. Em seguida, um rosto de um homem surgiu e Lisa caiu dentro da boca dele. A boca abriu-se e dispersou em nuvens. Aos poucos, um olho abriu e uma pupila envolvida por um fogo surgiu. Lisa caiu dentro da pupila do olho que parecia ser de um gato e caiu em algo sólido.
Lisa levantou com dificuldades e ficou olhando ao redor. Em seguida ela virou o corpo e viu uma espécie de uma garra saindo do chão e segurando uma bola de cristal. Lisa começou a andar na direção da bola de cristal. Porém, ela nunca conseguia se aproximar, pois a cada passo que ela dava, a bola de cristal se afastava.
Lisa tentou correr, mas parou ao ouvir uma estranha voz sussurrando ao seu ouvido:
__Cuidado, filha do Herdeiro! O mal está de volta...
Lisa olhou para os lados na tentativa de ver de onde a voz estava vindo. No entanto, Lisa viu-se cercada por uma escuridão infinita.
Lisa virou-se novamente para a bola de cristal e surpreendeu-se ao ver que ela não estava mais ali. Lisa deu um passo a frente e sentiu que seus pés não estavam firmes. De repente, ela sentiu o chão desabar e seu corpo cair entre meio a sombras.
Enquanto Lisa caía, sentindo o mundo rodar em torno de si, vozes envolveram os seus ouvidos.
__ Ela é inocente!
__Não adianta fugir, porque eu... vou te matar, Lisa!
__Isso é inadmissível! Ele não voltou!
__Você é culpada!
__Lisa, foge!
__Lisaaaaaa!!!
Lisa rodava e viu que vultos estranhos rodavam junto com ela. Era como se várias Sentinelas a estivessem rodeando, provocando um medo incontrolável em Lisa.
Por fim, Lisa parou de rodar e começou a cair, sem parar. De repente, uma única voz veio aos seus ouvidos.
__Procure madame Geoffrin... a verdade... se quiser saber...
Um mundo de nuvens negras envolveu Lisa e subitamente, ela acordou.
Lisa sentou na cama. Seu rosto estava suado e sua respiração estava alterada. Lisa pôs o rosto entre as mãos e tentou afastar o estranho medo que sentia. Era como se ela fosse perder algo e que nesse momento, ela temia que isso fosse acontecer, mesmo sem saber o que perderia.
Lisa foi até a janela e abriu-a. Um ar fresco invadiu o quarto e refrescou o rosto de Lisa. Ela subiu no para-peito da janela e sentou segurando as pernas. Seu olhar estava voltado para fora da Fonte Phoenix e se fixava no céu quase estrelado, onde algumas nuvens negras cobriam lentamente a luz da lua cheia.
Naquele momento, Lisa sentiu um aperto no coração e comprimiu seu corpo à beira da janela sem perceber que uma carta amarela estava posta sobre seu criado-mudo.
A Carta de Mayer Slater
Os primeiros raios do sol tocavam suavemente o rosto de Lisa. Sobre o criado-mudo, uma pequena fração de luz iluminava uma carta amarela e aparentemente sem destinatário. Lisa levantou meio sonolenta e trocou de roupa. Ao voltar para o quarto, ela foi até a janela e ficou alguns minutos parada, observando o sol surgir lentamente entre as torres da Fonte Phoenix.
Lisa ainda não esquecera o estranho sonho que tivera e nem a sensação ruim de que algo estivesse para acontecer. Ela não sabia o que era. Talvez fosse apenas um pressentimento bobo, algo sem importância alguma.
O refeitório estava apinhado de alunos. Lisa resolveu descer para tomar café e antes de sair do quarto, esbarrou no criado-mudo ao lado de sua cama e viu uma carta sobre ele.
Lisa pegou a carta e virou-a. Não havia remetente e nem destinatário. Porém, ao passar a mão sobre a carta, letras de fogo surgiram aos poucos no papel amarelado. No destinatário havia escrito em letras tombadas e garranchadas: Lisa Torner, Fonte Phoenix, Castelo dos Bruxos
Lisa virou o remetente e novamente letras de fogo surgiram e um nome apareceu escrito: Mayer Slater
Lisa abriu a carta com curiosidade e tentando imaginar por que alguém escreveria para ela. Ela não tinha parentes, a não ser seus avós que ela ainda não conhecia. Ao abrir a carta, as letras surgiram lentamente.
Nunca pensei que viria algo tão espantoso na minha vida. Talvez jamais imaginasse que voltaria a me deparar com uma criatura tão perversa a ponto de provocar dor, sofrimento e morte nas pessoas com apenas um mover de dedo.
Oh, Filha do Herdeiro, se soubesse quanto perigo a aguarda jamais ficaria nesse mundo, sem proteção e sem lugar para se refugiar! Ele está de volta e está presente em qualquer lugar, mesmo que esse lugar seja um buraco escuro sob a terra.
Tome cuidado, Filha do Herdeiro! O tempo está mudando e uma onda de escuridão está pra tomar o nosso mundo. Lutar vai ser desnecessário, por que onde há sombra, há o mal.
Nunca pensei que temeria algo assim, porque jamais acreditei que as sombras pudessem retornar. Mas agora, vejo que minha vida está por um fio, assim como a sua. Cuidado, Filha do Herdeiro, os seguidores da Besta estão a sua procura e querem vingança!
Talvez, quando esta carta chegar até as suas mãos, receio que eu já não esteja vivo. Mas de qualquer forma, cuidado, Filha do Herdeiro. Ele voltou!
Mayer Slater
Lisa caiu para trás e ficou olhando para a carta. Incrédula no que acabara de ler. Ela não sabia se ficava nervosa ou gritava. Um pânico incontrolável tomou conta dela, como se aquilo tudo, no fundo, estivesse para acontecer. Lisa sabia que algo estava errado, ela sentia e não podia evitar. De súbito, as letras da carta desapareceram e ela pegou fogo.
Lisa recostou-se a cama e juntou as pernas ao corpo. Aos poucos, tudo que acontecera com ela veio em sua mente. A Besta, os Carrascos, os Emissários e o estranho ataque do homem misterioso deram voltas em sua cabeça. Até mesmo o estranho sonho que tivera a perturbou.
Por um momento, as vozes que a perturbaram no sonho, vieram aos seus ouvidos e uma em particular chamou a atenção de Lisa.
__Procure madame Geoffrin... a verdade... se quiser saber...
Lisa passou a mão na cabeça e saiu do quarto, decidida a procurar Athus e contá-lo sobre a carta e sobre o sonho.
Lisa saiu da Sala Comunal e desceu as escadas em espirais do Castelo dos Bruxos. Passou por Luft, o Gobelin, e nem respondeu ao “Bom dia, Lisa!” do simpático duende. Ao virar um corredor para o hall do castelo, Lisa esbarrou num rapaz alto, belo, de cabelos grandes e tão negros quanto a noite e continuou a andar apressada, sem olhar para o rapaz que pedia desculpas.
Lisa passou pelo hall com as vozes zunindo em seus ouvidos. Ao invés de sair do castelo, ela entrou a direita, saindo do hall para as salas da diretoria do castelo.
Então, enquanto passava pelo corredor que dava acesso a sala de Athus, Lisa passou por Hariph, que andava entre as sombras. Ao passar por ele, seus olhos juntaram-se aos do rapaz. Naquele momento, uma estranha voz veio ao ouvido de Lisa.
__Morrer... alguém vai... noite... esta...
Lisa parou repentinamente com a mão no pescoço e apoiou-se na parede do corredor. Sua marca doía intensamente tirando a sua visão de foco. Lisa olhou para o corredor e viu o vulto de Hariph desaparecendo entre as sombras. Em seguida, Lisa sentiu a dor aumentar e de repente tudo ficou escuro.
Lisa despertou num lugar aparentemente estranho. Era uma sala bem grande onde havia camas cobertas por lençóis brancos e algumas macas em um canto dela. A visão estava meio embaçada, mas aos poucos ela voltou ao normal e Lisa pôde ver que ela estava na enfermaria do Castelo dos Bruxos.
Do outro lado da sala, Gaya conversava com srta. Prym, a enfermeira. O príncipe notou que Lisa havia acordado e veio até ela.
__Como está? __perguntou Gaya sentando-se numa cadeira ao lado de Lisa.
__Bem... mas como eu vim parar aqui?
__Desmond encontrou você desmaiada no corredor do castelo __o rosto belo do príncipe contraiu-se e Lisa percebeu que ele parecia preocupado__ O que houve, Lisa?
__Nada, meu príncipe! __Lisa desviou o olhar e abaixou a cabeça__ Eu acho que foi alguma tontura ou coisa assim. Não houve nada, não se preocupe!
Os cabelos de Gaya estavam caídos sobre a testa e um fio, em especial, caiu sobre seus olhos, revelando um olhar de desapontamento com a resposta de Lisa.
__Se não houve nada __disse levantando de sua cadeira__ acredito que não precise de mim.
Gaya aproximou de Lisa e beijou a testa dela. Por um instante, os dois olhares verdes se encontraram. Lisa afastou o rosto e Gaya se reergueu e saiu.
__Gaya! __disse Lisa enquanto Gaya saía do quarto__ Se houver algo... eu te conto...
Gaya acenou com a cabeça e saiu da enfermaria.
Lisa recostou na cabeceira da cama e suspirou. Por um instante ela pensou ter sentido o príncipe beija-la novamente na testa.
Quando Lisa voltou para o quarto, ela preferiu não dizer nada a Louise e nem a Dan sobre seu desmaio. No entanto, ambos repararam a sua ausência nas aulas.
__Por que você não foi à aula de Arte das Espadas, Lisa? __perguntou Dan__ Você perdeu a melhor coisa do mundo que já houve. Melissa venceu Grump nas espadas em menos de dez minutos...
__Eu não passei bem e não quis ir para as aulas __disse Lisa calmamente.
__Por que você está assim, Lisa? __perguntou Louise observando a sua expressão de preocupação__ Parece que tem algo te aborrecendo...
Lisa abaixou a cabeça e falou lentamente.
__Ultimamente, eu tenho tido alguns pressentimentos estranhos de que algo está para acontecer. E não é só isso, não. Hoje quando levantei, eu encontrei uma carta de um tal de Mayer Slater, que me alertava sobre o retorno das forças do mal. E, na noite anterior, eu sonhei com vozes estranhas onde uma dizia pra eu procurar uma tal de Madame Geoffrin, se eu quisesse saber a verdade...
__Mas que verdade, Lisa? __perguntou Dan, sério.
__Não sei. Mas isso não é tudo. Quando eu estava indo procurar Athus para contar a ele sobre a carta, eu escutei uma voz me dizendo que alguém iria morrer esta noite. E o mais estranho, foi que eu a ouvi quando Hariph passava por mim.
__Você acha que Hariph tem algo a ver com isso? __perguntou Dan.
__Acho que não!
Louise e Dan ficaram quietos. Eles estavam um pouco chocados com a voz que dizia que mais alguém morreria na Fonte Phoenix. Afinal, quem?
__Lisa, Athus precisa saber disso... __aconselhou Louise__ Se alguém vai morrer esta noite, ele precisa saber...
__Não, Athus não pode saber! __interrompeu Lisa__ Eu estive conversando com ele ontem a noite sobre o meu passado e saí da sala com a impressão de que ele não me contara toda a verdade. É por isso que eu quero escutar o sonho e procurar essa tal de madame Geoffrin... Mas antes, se alguém realmente vai morrer esta noite, eu tenho que impedir...!
__Mas como, Lisa? __perguntou Louise.
Lisa balançou a cabeça e pôs o rosto entre as mãos.
__Eu não sei!
__Você acha que a carta queria alertar você sobre algum perigo, Lisa? __perguntou Dan remexendo sobre a poltrona__ Veja bem, primeiro você é atacada pelos Emissários da Morte e agora recebe essa estranha carta desse tal Slater, te alertando... será que essa morte tem algo a ver com tudo isso?
Lisa e Louise olharam para Dan. Porque não? Afinal, se a estranha carta alertara Lisa sobre o retorno do mal, e de repente essa voz a diz que mais alguém vai morrer, isso significava que provavelmente havia alguma trama diabólica envolvendo Lisa. Mas porque alguém deveria morrer? Seria Lisa essa pessoa?
__E Mayer Slater? __perguntou Dan__ Quem é esse cara?
Todos ficaram em silêncio. Lisa levantou da poltrona e ficou andando em círculos na Sala Comunal.
__Já sei! __gritou Louise num salto__ Vamos procurar na biblioteca algo sobre Mayer Slater. Enquanto fazemos isso, nós temos que descobrir quem é Madame Geoffrin e no quê ela pode nos servir. Lisa, se algo de estranho está acontecendo... nós vamos descobrir!
__Mas e a morte... alguém vai morrer! __disse Dan.
__Eu não havia pensado nisso! __suspirou Louise desanimada.
__Nesta noite teremos que ficar atentos a qualquer coisa estranha... __disse Dan__ Se a voz que Lisa ouviu estiver dizendo a verdade, alguém realmente vai morrer e se conseguirmos evitar que isso aconteça, descobriremos o assassino de Ravenclaw... se for o mesmo!
Lisa entrou no refeitório pensando no que conversaram. Louise havia combinado com eles que iriam procurar algo na biblioteca sobre Slater e Madame Geoffrin. Por nenhuma estranha razão, Lisa não conseguiu jantar e voltou para a Sala Comunal com apenas um cálice de suco no estômago.
A Sala Comunal estava vazia __os outros alunos estavam nos jardins da Fonte Phoenix__ deixando Lisa a sós para mergulhar em seus pensamentos somente com a presença dos quadros de seus pais, pendurados sobre a lareira.
Lisa sentou na poltrona e permaneceu ali por quase meia hora. Os quadros de seus pais pareciam que aliviavam a sensação ruim que Lisa tinha e a deixava mais calma. Era como se eles estivessem ali, de frente para Lisa, sorrindo para ela, dizendo que tudo ia ficar bem. No entanto, era apenas uma ilusão. As coisas piorariam e Lisa sabia que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde...
Luft, o Gobelin, usava um chapéu cônico na cabeça e vestia-se com roupas verdes engraçadas. O simpático duende foi trago para a Fonte Phoenix pelo príncipe Gaya que o encontrou numa visita que fazia ao Reino de Bellyhan. Luft encantava a todos com seu sorriso contagioso e não deixava nenhum aluno passar despercebido sem antes dar um bom dia, uma boa tarde ou uma boa noite.
Lisa, Dan e Louise passaram por Luft e foram saudades pelo duende.
__Boa noite, Luft! __respondeu Louise simpaticamente.
__Aonde os jovens vão, Luft pode saber?
A voz de Luft era encantadora. Ela era um pouco aguda e assemelhava-se a voz de uma criança.
__Nós vamos a biblioteca, Luft __respondeu Dan voltando a descer os degraus.
__Bom estudo pra vocês, então!
__Obrigado, Luft! __disse Lisa descendo os degraus logo atrás de Louise e Dan.
__Como estudam esses jovens... Luft não gosta de estudar... Luft gosta é de dormir! __disse Luft enquanto se esparramava na pequena poltrona sobre o carpete flutuador.
A biblioteca do Castelo dos Bruxos era gigantesca. Possuía mais de dez milhões de livros enfileirados em prateleiras que desapareciam de vista __na verdade elas eram enfeitiçadas para desaparecerem de vista!
Louise subiu numa escada rolante e desapareceu de vista, a procura de livros. Lisa e Dan pararam perto de uma prateleira onde tinham livros sobre biografias de alguns bruxos mais famosos de Aragorn. Lisa pegou vários livros e pôs-se a mesa para estuda-los. Já Dan, encontrou um livro peludo e pegou-o por curiosidade. Ele virou o livro e encontrou escrito na capa em alto relevo, Furacões e Tufões: como faze-los. Dan pôs o pesado livro sobre a mesa e abriu-o. De repente uma grande ventania saiu de dentro das páginas do livro e arrastaram cadeiras, mesas e outros livros que estavam sobre as mesas. Dan segurou-se ao livro __pois seus pés já não estavam mais no chão__ e tentou fecha-lo.
__Este livro não deveria estar neste castelo... __murmurou Dan ofegante depois de fechar o livro.
Lisa não escutou o barulho da ventania porque estava concentrada nos livros. No entanto, não deixou de notar que Dan voltara com uma pilha de livros nos braços e com os cabelos totalmente despenteados. Lisa moveu os lábios para perguntar algo, quando escutou a escada rolante se aproximando, com Louise em cima.
__Encontrei esse livro aqui, Lisa! Ele é fantástico! __Louise desceu das escadas e pôs o livro sobre a mesa com um grau de excitação que incomodou Dan__ Ele é um Localizol...
__Um o quê? __perguntaram Lisa e Dan, simultaneamente.
__Um Localizol. Francamente! Vocês nunca ouviram falar num livro que localiza as coisas?
Lisa e Dan desviaram os olhares e deixaram Louise olhar para eles com um tom de reprovação em seu olhar.
__Bem, deixemos isso pra lá. Agora, só o que temos a fazer é escrever o nome da pessoa ou do livro que estamos procurando nesse quadradinho em branco aqui... __disse Louise enquanto abria o livro e mostrava um quadradinho no meio da folha amarela sem palavras alguma__ Qual é mesmo o nome do livro?
Lisa e Dan franziram a testa e ficaram olhando para Louise, enquanto ela pegava uma pena e a mergulhava num tinteiro.
__Esquece, não temos nenhum livro... Então, vamos escrever o nome de Slater...
Louise pôs a ponta da pena sobre página amarela e escreveu Mayer Slater dentro do quadradinho.
__E o que acontece agora? __perguntou Dan esticando o pescoço.
__Vocês já vão saber!
Aos poucos, o quadradinho ganhou vida e as letras dentro dele começaram a se movimentar. O quadradinho saiu do livro e repentinamente, as folhas do livro começaram a ser folheadas. Lisa via o quadradinho correr por entre as folhas, encantada com o que via.
Por fim, as folhas pararam de ser folheadas e o quadradinho parou no centro da página. Devagarzinho, uns riscos começaram a surgir e formar uma espécie de mapa. Aos poucos, o Reino de Bellyhan surgiu com os outros reinos vizinhos.
__Mayer Slater mora no Reino de Bellyhan. Mas...
__Mas o que, Louise?
__Lisa, geralmente o Localizol indica exatamente o lugar onde a pessoa está, mas neste caso, ele apenas nos mostrou o reino onde se encontra Slater...
__E não é a mesma coisa?
__Claro que não, Dan! __ disse Louise com cara de desdém__ Olha só o que surgiu dentro do quadrado...
Lisa abaixou os olhos para o quadradinho e viu escrito: Não foi possível localizar o Ser.
__E o que isso siguinifica? __perguntou Lisa.
__Significa que Mayer Slater morava no Reino de Bellyhan e que... bem... não tenho certeza... mas acho que ele está desaparecido... ou morto!
__Morto?
Lisa e Dan encararam Louise em busca de maiores explicações. No entanto, nem ela mesmo estava entendo porque o Localizol não conseguiu localizar perfeitamente o lugar onde Slater residia.
__Quando o Localizol somente encontra o reino onde determinada pessoa mora __continuou Louise__ isso siguinifica que ela está morta ou que possa ter saído dos limites dos poderes mágicos do Localizol, ou seja, está perdida. Mayer Slater pode estar viajando para algum lugar fora desses limites ou então...
__Morto! __repetiu Lisa com um tom de desânimo.
Os três ficaram quietos, pensando em várias possibilidades de onde Slater havia se metido. Porém, Lisa era a única que acreditava que seria inútil tentar encontra-lo depois que Louise tentou mais duas vezes, sem obter algum sucesso.
__Não adianta __disse Louise jogando a pena para o lado e recostando-se a cadeira__ Mayer Slater desapareceu definitivamente do mapa!
Lisa passou a mão na cabeça, aturdida com a falta de sorte, e lembrou-se da voz no sonho.
__Madame Geoffrin! __disse com algum ânimo na voz.
__Quem? __perguntaram Louise e Dan.
__O nome da mulher que eu ouvi no sonho...
Lisa tirou o livro de Louise e pegou a pena apressada. Em seguida, ela escreveu: Madame Geoffrin.
Novamente, as letras no quadradinho começaram a se mover junto com ela nas folhas amareladas do livro que eram folheadas incessantemente. Por fim, as folhas pararam e aos poucos, um mapa foi surgindo na folha. O quadradinho se moveu e parou sobre o Reino de Bellyhan. Em seguida, uma luz surgiu e uma bola negra começou a surgir sobre o reino. Quando finalmente descobririam onde morava Madame Geoffrin, uma gigantesca explosão sacudiu o castelo e os três levantaram assustados.
__O que está acontecendo? __gritou Louise.
Os três ficaram parados e de repente, uma nova explosão sacudiu a construção.
__Lisa __gritou Louise saindo da biblioteca__ é um ataque. A voz que você ouviu... alguém está querendo matar...
Louise não conseguiu terminar de falar, pois uma nova explosão sacudiu os três.
Lisa desceu as escadas em espirais e entrou no corredor que dava acesso ao hall de entrada logo atrás de Louise, Dan e vários alunos que corriam na mesma direção deles. Ao passarem por uma das janelas do corredor, Lisa, Louise e algumas meninas deixaram escapar um grito ao ouvirem uma explosão.
Ataque ao Castelo dos Gaullers
As explosões vinham do Castelo dos Gaullers e muitos alunos corriam para ele. Lisa e os outros passaram pelo Castelo dos Celtas e pararam ao verem uma janela do Castelo dos Gaullers ser explodida por uma luz verde fantasmagórica que jogou milhares de cacos de vidros contra o jardim norte.
As explosões não cessavam e sempre vinham mais fortes do que antes. Entre o barulho ensurdecedor, os alunos gritavam horrorizados com o que estavam acontecendo. Repentinamente, todos os castelos se esvaziaram e os alunos se aglomeraram no pátio do Castelo dos Gaullers.
__O que será que está acontecendo lá? __perguntou uma domadora de água atrás de Lisa.
__Isso parece um ataque! __respondeu um rapaz ao lado de Lisa.
Louise passou entre os alunos aglomerados e juntou-se a Lisa.
__Você estava certa Lisa... alguém vai morrer esta noite e pelo tipo, o assassino está tendo trabalho...
__Dêem espaço para o príncipe passar!
Lisa e Louise viraram para trás e viram o príncipe Gaya passando com vários Trasgos e guardiões atrás dele. Antes de entrar no castelo, William Gryffindor deu umas palavrinhas com o príncipe e depois se dirigiu para os alunos.
__Por favor, se afastem! __gritava o comandante das Forças Armadas do Príncipe__ Estamos sendo atacados! Por medida de segurança, todos precisam voltar aos seus respectivos castelos e ficar lá, até segunda ordem...
Ao ouvirem Gryffindor, Lisa, Louise e Dan perceberam que algo muito grave estava acontecendo. A intensidade assustadora das explosões e a expressão de preocupação do comandante evidenciaram o que eles já imaginavam.
Os professores entraram entre os alunos e levaram-nos de voltas aos castelos. Os alunos que moravam no Castelo dos Gaullers foram levados para o Castelo do Príncipe onde permaneceram até tudo se acalmar.
__Isso é injusto, nós deveríamos saber o que está acontecendo...? __dizia Lisa preocupada andando em círculos na Sala Comunal.
A Sala Comunal do Castelo dos Bruxos, estava exageradamente cheia. Alunos cochichavam de um lado e espiavam pela janela do outro. Os ataques ainda não haviam cessado e as explosões estavam ficando cada vez mais assustadoras.
__Lisa, para de andar em círculos, eu já estou ficando tonta! __gritou Louise irritada.
__Me desculpe Louise, mas eu não consigo ficar parada aqui enquanto alguém pode estar sendo assassinado neste exato momento...
BUM!!!
Uma gigantesca explosão de luz invadiu a Fonte Phoenix e entrou pelas janelas do Castelo dos Bruxos.
Lisa, Louise e Dan atropelaram alunos e puseram-se nas janelas para ver o que havia acontecido.
Bem longe, depois do Castelo dos Celtas, havia uma grande fumaça verde fantasmagórica subindo para o céu. Na entrada do Castelo dos Gaullers, alguns Trasgos estavam indo à direção de uns guardiões que traziam um rapaz gravemente ferido, nos braços.
__Alguém está ferido... __lamentou Alice Boston que se espremera na janela com Louise para ver o que estava acontecendo.
Ao ver o rapaz sendo removido, Lisa sentiu um aperto no coração. Na sua cabeça, passava a idéia de que tudo aquilo era culpa sua já que não contara a Gaya ou pelo menos a Athus, o que iria acontecer àquela noite.
Os olhares dos alunos voltaram-se novamente para o castelo e viram uma outra explosão, seguida de um jorro de luz, que a julgar, era de uma varinha.
__Está havendo uma batalha lá dentro! __comentou Peter.
Pela janela via-se alguns professores entrarem no castelo, armados com varinhas e espadas. Atrás dos professores, não paravam de entrar guardiões que de dez em dez minutos traziam alguém ferido de dentro do castelo.
__É tudo minha culpa! __disse Lisa sentando-se a poltrona__ Se eu tivesse contado a Athus o que estava acontecendo, talvez...
__Lisa acorda! __gritou Louise irritada__ Você não tinha a mínima idéia de que a voz que ouvira falava a verdade. Já pensou se fosse uma impressão sua? Você alertaria a Fonte Phoenix inteiro e faria todo mundo de bobo...
__Mas acontece que a voz não foi uma impressão, mas sim, uma realidade que está ficando assustadora. Louise, alguém vai morrer esta noite!
__O que está dizendo, Lisa?
Uma voz fina e irritante invadiu os ouvidos de Lisa e Louise. As duas olharam para trás e deparam-se com Maya de braços cruzados e com um sorriso malicioso no rosto.
__Então você sabia que isso ia acontecer __continuou Maya__ Como ficou sabendo, Lisa? Por acaso você ouviu uma voz enigmática que dizia que alguém iria morrer?
__Cala a boca, Maya! __gritou Louise.
__Por que eu deveria? __disse Maya provocando Louise__ Você acha que eu ficaria quieta quando descobrisse que alguém sabia de um ataque e não quis contar nada a ninguém!
__Eu estou te avisando, Maya. Cale essa boca! __rugiu Louise.
Maya deixou escapar um risinho horrível pelo canto da boca e olhou desdenhosamente para as duas.
__Meu pai ficaria muito grato se soubesse disso __Maya descruzou os braços e abriu os, como se estivesse escrevendo um letreiro no ar__ “Bruxa de Fogo esconde ataque da Fonte Phoenix!”.
__Eu avisei __Louise tirou a varinha do bolso e ergueu-a. No entanto, antes de pronunciar um feitiço, uma nova explosão sacudiu todos.
Os alunos se espremeram novamente nas janelas e olharam para fora. Um grupo de guardiões, liderados por Gaya, saíam do Castelo dos Gaullers com as varinhas apontadas para frente. No meio da escuridão que cercava o castelo, havia algo negro que se afastava para trás à medida que Gaya e os guardiões se aproximavam.
__O que é aquilo?
__Parece que é quem que está provocando os ataques!
Lisa e Louise se espremeram na janela junto com Dan e fitaram os olhos num monte preto na entrada do castelo, recuando das varinhas.
O montinho preto recuava e em momentos, atacava os guardiões. Porém, Gaya e os outros conjuravam feitiços que o jogavam para trás. Devido ao escuro não dava para ver quem era que Gaya atacava, mas quando as varinhas lançaram relampejo de luzes, todos perceberam que tratava-se de uma criatura parecendo uma cachorro de língua grande e cabelos arrepiados, que atacava o castelo.
__Mas o que é aquilo? __murmurou Norman Finger__ Parece um...
__Canidópulus! __disse Louise em voz alta e em bom tom.
__Cani... o quê? __gritaram os outros alunos; com exceção de Maya.
__Canidópulus __respondeu Louise__ São criaturas que se alimentam da áurea fantasmagórica que nós possuímos. São muito raros e a julgar pela raridade, muito perigosos também.
Os olhares voltaram-se novamente para os guardiões e para o príncipe Gaya, que agora lançava um feitiço contra o Canidópulus. O feitiço bateu contra a criatura, que tentou resistir, e a empurrou quase cinco metros de distância. O Canidópulus tentou levantar, mas caiu novamente no chão. Rapidamente, os guardiões cercaram a criatura e a imobilizaram. Em seguida, os Trasgos chegaram e a puseram dentro de uma grande gaiola de ferro.
__Parece que eles o trancaram __murmurou Gregor em tom de alívio.
__Viu, Lisa! __disse Dan dando um tapinha nas costas de Lisa__ Era apenas um Canidópulus...
__Ainda bem __suspirou Louise.
__Isso quer dizer que a voz estava errada...
__Quer dizer que você se preocupou à toa __disse Louise enquanto sentava-se na poltrona__ Quero dizer, um Canidópulus solto por aí é algo para se preocupar, mas em geral eles só produzem muito estrago e...
__Algumas mortes de vez em quando, né, Louise! __disse Dan sorrindo para ela.
__Também não precisa exagerar, Dan!
Louise amarrou a cara para Dan e recostou-se na poltrona. Apesar do alívio, Lisa ainda não estava inteiramente convencida sobre o assunto. Mas afinal, a voz havia errado no palpite! E Lisa, no final da noite, sentiu-se como uma idiota em acreditar que alguém iria morrer por um assassino vingativo. Ainda bem que foi um Canidópulus!
O dia que sucedeu o ataque pareceu mais calmo do que o anterior. Por todas as partes da Fonte Phoenix, havia comentários sobre os ataques. Para desespero de Lisa, Maya saiu pelos castelos espalhando que Lisa adivinhara que alguém iria atacar o Castelo dos Gaullers e preferiu não contar nada a ninguém.
__Francamente, quando eu encontrar a Maya por aí, eu vou mostrar para ela com quem ela está se metendo! __disse Louise rasgando um pão na boca de tanta raiva.
Lisa, por sua vez, não ligara para o que Maya estava espalhando por aí, ela passara a noite inteira acordada, refletindo o que havia acontecido.
__Sabe, dizem por aí, que os Gaullers estavam usando o Canidópulus na aula de Defesa Contra Criaturas com o professor Alfr Ljosalfr, __comentava Peter para um outro bruxo do terceiro ano__ Parece que a criatura fugiu a noite da jaula e começou a vagar pelo castelo. As explosões que nós ouvimos foram os Gaullers tentando capturar o Canidópulus com feitiços poderosos enquanto os guardiões e os Trasgos não vinham com o príncipe Gaya...
Lisa ouviu a conversa do outro lado da mesa e suspirou, um pouco mais aliviada. Afinal, o ataque fora acidental e isso já aliviava um grande peso em sua cabeça.
Ao retornar a Sala Comunal para pegar os materiais para a primeira aula do dia, Lisa encontrou com Dan nas escadas espirais com uma cara estranhamente amarrada.
__Tem gente esperando por você na Sala Comunal...
Lisa não teve nem tempo de perguntar a Dan quem era, ele simplesmente esbarrou nela e terminou de descer apressado as escadas. Lisa resolveu não dar atenção a Dan e continuou a subir as escadas.
__Bom dia, Lisa! __acenou Luft sobre o carpete com um sorriso encantador no rosto.
__Bom dia, Luft! __Lisa subiu três degraus e voltou-se para Luft__ Luft, você sabe por que Dan está daquele jeito?
O duende simpático ergueu os ombros e balançou a cabeça.
__Estranho!
Lisa terminou de subir as escadas e entrou no corredor que levava a Sala Comunal. Ao abrir a porta da sala, Lisa deu de cara com um rapaz belo de cabelos negros como a noite e de dentes branquíssimos.
__Ah, me desculpe! __disse o rapaz sem jeito.
Lisa não escutou o rapaz se desculpar. Seus olhos estavam grudados no rosto do rapaz que Lisa jamais vira tão belo quanto aquele. Ela passou o olhar pelos cabelos longos, lisos e pretos até o ombro e depois não deixou de perceber a magnífica barba, ainda rala sobre o queixo, que dava ao rapaz um tom de robustez ao rosto.
__Senhorita? __disse o rapaz olhando curioso para a expressão de Lisa.
__Lisa Torner __disse ela esticando a mão apressadamente.
__Prazer. Maximillium Mayhem, mas pode me chamar de Max!
As duas mãos se apertaram e por alguns instantes, o olhar de Lisa encontrou-se com o olhar negro de Max.
__Me desculpe. Ontem pela manhã nós nos esbarramos no corredor e você pareceu sair irritada comigo. Aí eu pensei em... porque não?... pedir desculpas novamente!
__Então foi você? __murmurou Lisa sorrindo timidamente__ Eu é quem devo pedir desculpas. Esbarrei em você e nem se quer olhei para trás. Desculpe-me, eu estava um pouco apressada e... bem...
__Ah, entendo... não se preocupe...
Por um instante, os dois pareceram dois bobalhões pedindo desculpas de dez em dez segundos.
__Eu tentei entrar na Sala Comunal de vocês... bem... fui barrado pelas armaduras... aí um rapaz... Dan é o nome dele... me deixou entrar... mas depois ele saiu da sala com a cara amarrada para mim e... bem... pensei que não estava sendo bem vindo aqui...
__Que é isso. Dan é um pouco exagerado com as coisas __Exagerado? Lisa não acreditava no que acabara de falar.
__Bem... é melhor... sabe... eu ir embora...
__É... tá...
__É... com licença...
Lisa ficara tão encantada com Max que esquecera que ela estava tapando a saída da Sala Comunal.
__Bem... a gente se vê por aí...
__Tchau...
Lisa acenou para Max com um sorriso bobo no rosto. O que é isso, Lisa, não consegue nem dar um tchau direito? Lisa voltou para o quarto se amargurando de ter sido uma idiota com Max. Ela não conseguia entender o que a fizera agir daquele modo, tão idiota... tão imbecil e.... Naquele instante, ela também chegou a pensar se ele também pensara assim.
Lisa pegou os livros e saiu da sala, ainda pensando em Max. Ao descer as escadas espirais, Lisa encontrou-se com Louise que saía do corredor que levava a biblioteca.
Louise veio rapidamente na direção de Lisa com um ar duas vezes de preocupação.
__Lisa, temos problemas...
__O que aconteceu? __perguntou Lisa sem deixar Louise terminar de falar.
__O Localizol desapareceu e... não sei como te dizer isso, mas...
__Fala logo, Louise!
Louise mordeu os lábios e abriu a boca. Tudo o que tinha a dizer saiu de uma vez só.
__Alguém foi assassinado na noite passada!
Os Cards Mortais
Louise levou Lisa para uma sala abandonada do primeiro andar e fechou a porta imediatamente ao entrarem. Durante todo o percurso até a sala, Lisa tentou pedir esclarecimentos sobre o que ela dissera, mas Louise permaneceu calada e, para impaciência de Lisa, misteriosa.
__Lisa você estava certa! Alguém realmente morreu ontem à noite! __disse Louise com uma expressão horrorizada__ O pai de Ravenclaw... o pai dele foi assassinado!
Lisa arregalou os olhos e deixou-se cair sentada sobre uma cadeira.
__Eu descobri hoje pela manhã quando peguei na Folha do Centauro e olhei para a primeira página... __Louise segurava um exemplar do jornal na mão, que foi tirado das mãos dela por Lisa.
Na primeira página da Folha do Centauro havia uma grande fotografia onde Neville Chamberlain, rodeado por várias Sentinelas, estava abaixado ao lado do corpo de um homem magro de cabelos ondulados e grandes. No peito do homem havia uma espada cravada, exatamente como no corpo de Christian.
Lisa abaixou os olhos e leu um pedaço do artigo escrito por Alan Hart.
“Lauro Ravenclaw, pai do então falecido Christian Ravenclaw, foi assassinado na noite de ontem enquanto jantava em sua cabana no pequeno povoado de Maystone no Reino de Bellyhan.
Nossos repórteres descobriram rumores de que Lauro estava sendo perseguido desde a morte de seu filho, por uma estranha mulher encapuzada. Um dos aldeões entrevistados nos disse que Lauro e seu filho, Christian; mantinham relações com Mayer Slater, quarto General das Trevas revelado.
Depois do misterioso assassinato de Christian Ravenclaw, os inspetores de Azgrah terão a dura missão de descobrir a verdadeira identidade dessa mulher misteriosa, que segundo testemunhas, usava um distintivo da Fonte Phoenix...”.
__Distintivo da Fonte Phoenix?
Lisa olhou para Louise e esta, apontou para um distintivo preso a todos as vestes da Fonte Phoenix __um brasão com vários dragões rodeando uma fênix de fogo sobre um pedaço de terra e no fundo vários cristais de gelo.
__Lisa, o que aconteceu é algo sério! __disse Louise apanhando o jornal da mão de Lisa__ O assassino mora na Fonte Phoenix ou pelo menos, usa as vestes daqui para fazer suas vítimas. E o pior, você leu no segundo parágrafo o que diz sobre Mayer Slater...?
__Ele é o quarto General das Trevas!
Lisa parecia paralisada. Seus pensamentos já não tinham mais nenhuma direção para aonde apontar. O mesmo acontecia com Louise.
__Estamos ferrados, Lisa! __continuou Louise__ Pelo que tudo indica, o assassino dos Ravenclaws está na Fonte Phoenix, mas... porque um General das Trevas iria querer avisar você do que estava para acontecer?
Lisa sacudiu os ombros e passou as mãos no rosto.
__Eu não sei Louise, minha cabeça parece que vai estourar.... primeiro Christian Ravenclaw é assassinado na formatura, depois eu sou atacada por um estranho homem que...
__Atacada? __disse Louise num tom de reprovação por não tê-la contado antes __Lisa, quem te atacou? Por que não me contou? Dan já sabe disso?...
__Na noite do assassinato de Ravenclaw, eu e Athus fomos atacados por um homem estranho que usou um feitiço de remoção de poder em nós. Athus pediu pra não contar para ninguém... era um segredo nosso e...
__Segredo? Eu não me admiro que você pense que Athus ainda esconde algo sobre você...
__Depois do ataque desse homem __interrompeu Lisa__ houve o ataque dos Emissários da Morte e agora... o pai de Ravenclaw morre...
__Não, não, não pode ser! Lisa, você percebeu a semelhança entre todos esses ataques?
Lisa levantou a cabeça e olhou para Louise que indicava com os olhos para que Lisa a respondesse.
__Lisa, todos eles são peças de um quebra-cabeça que se unem facilmente. Christian e Lauro Ravenclaw mantinham alguma amizade com Slater. Provavelmente eles fizeram algo de errado e o General das Trevas os matou. Depois, Slater libertou os Emissários da Morte para te matar no Mundo dos Humanos. Como o plano não deu certo, obviamente ele deve ter posto algum cúmplice dele para estudar aqui e assim, terminar o trabalho que os Emissários da Morte não terminaram...
__Não faz sentido, Louise! __gritou Lisa perturbada em seus pensamentos__ A carta de Slater... porque ele me alertaria sobre o retorno do mal... o estranho homem que atacou, porque ele não me matou ao invés de querer roubar algum poder que eu tenho... porque eu sonhei com uma voz que me pedia para procurar Madame Geoffrin e porque eu ouvi uma voz que ninguém ouviu me dizendo que alguém morreria? Não se esqueça do Localizol. Slater pode estar morto, Louise!
Louise calou-se e encostou-se à parede.
__É verdade, Lisa! Não faz sentido, nada do que eu disse faz sentido...
__Louise, nós temos que descobrir que tipo de relações Lauro e Christian mantinham com Mayer Slater e para isso nós temos que encontrar onde ele mora e o que faz da vida...
__Agora, nós descobrimos que ele é um General das Trevas...
__Mas isso não basta, eu tenho a mera impressão que existe muita coisa errada por aí. Eu preciso, de qualquer jeito, descobrir a verdade!
__Madame Geoffrin... se o seu sonho estiver certo, ela nos ajudará. Mas para isso, nós temos que encontrar o Localizol... e... agora não dá mais tempo, nós temos aula...
__Nos intervalos, nós voltaremos a biblioteca e vamos tentar encontrar o Localizol.
__Certo!
As duas saíram da sala abandonada e foram correndo apressadas para o Castelo dos Magos onde a aula de Defesa Contra Criaturas ia ser administrada.
__Estão dizendo por aí que os magos irão estudar conosco... eu mal posso esperar... e você? __perguntou Louise enquanto entravam no Castelo dos Magos, ofegante.
Lisa não respondeu, ela apenas olhou num tom reprovador para Louise.
__Está certo, não é hora de ficar pensando em como vai ser a aula com os magos. Me desculpe!
Durante o percurso dentro do castelo até a sala onde seria dada a aula, Lisa não ouviu nada do que Louise lhe dissera. A morte do pai de Ravenclaw estava remexendo em sua mente junto com o fato de Mayer Slater também ser um General das Trevas. A coisa piorou quando entraram na sala e quase sessenta alunos começaram a falar ao mesmo tempo sobre a morte de Lauro Ravenclaw. Lisa ficou atormentada lá dentro e só continuou lá, porque viu Max acenando para ela do outro lado da sala.
__Que bom, agora nós vamos passar a estudar juntos... __disse Max ao aproximar de Lisa.
__É... vai ser legal.... mas eu não sabia que você era um mago? __disse Lisa timidamente, sem entender o porque.
__É, meus pais são magos legítimos e... sabe... puxei a eles...
Os dois ficaram quietos por alguns instantes. Perto de Lisa, Louise ficava observando os dois conversando abobadamente. E do outro lado da sala, estava Dan com a cara amarrada para Lisa, observando-a com Max.
__Ah, então... a gente se fala mais... depois.
Lisa balançou a cabeça e olhou para trás, Alfr Ljosalfr estava entrando na sala.
__Porque você não me apresentou ele, Lisa? __perguntou Louise cutucando-a__ Ele é um gato!
__Você estava aí, Louise? __disse Lisa franzindo a testa para a amiga__ Eu não a vi!
__Ora, francamente, Lisa!
Alfr Ljosalfr entrou na sala usando um impecável manto vermelho que se contrastava com um babado branco que saía da gola de seu manto e das beiradas dos braços, e com um chapéu preto que tinha uma grande pluma branca no topo. O elfo extremamente enrugado e esquisito usava óculos e tinha um nariz enorme, fino e curvado para baixo. Sua expressão não era das mais amigáveis.
__Esse vai ser mais um ano terrível! __pensou Lisa ao ver que Alfr Ljosalfr parecia extremamente irritado.
Alfr passou por entre os alunos, que abriram caminho para ele passar, e parou no centro da sala onde havia um baú negro de quase vinte fechaduras.
__Senhoras e senhores... __a voz de Ljosalfr era terrível, ela saía entre os dentes numa forma de sussurro, baixo e tenebroso__ devido ao acontecimento de ontem, nós não usaremos criaturas vivas para praticarmos nossas defesas... Eu tomei a péssima liberdade de trazer esse baú para a sala, para que assim, nossas aulas tenham algum efeito sobre essas suas cabeças vazias e desmioladas.
‘Aqui, ao meu lado, eu tenho uma das coleções mais raras e perigosas da Aragorn, guardadas dentro desse baú... __Alfr abaixou e pôs a mão sobre o baú, depois se virou zangado para os alunos__ Vamos, o que estão esperando? Se afastem, se não quiserem ter uma morte lenta e dolorosa...”.
Os alunos recuaram assustados para trás e se juntaram em uma mesma área da sala.
Alfr Ljosalfr abriu a mão cheia de dedos longos, finos, enrugados e de unhas grandes, pretas e extremamente pontudas e passou-a sobre as vinte fechaduras. Assim que a mão passou sobre o baú, as fechaduras rodaram para o lado e se destrancaram lentamente. Alfr tirou uma varinha negra do bolso e apontou para a tampa do baú. Após fazer um movimento com ela, a tampa se abriu e uma névoa negra começou a sair de dentro do baú.
Os alunos esticaram, receosos, os pescoços para verem o que havia dentro do baú, que segundo o professor era fatal à vida. No entanto, todos se decepcionaram ao verem uma pilha de cartas amontoadas uma sobre as outras.
__Ah, são cartas. Eu pensei que fosse algum monstro...
__Essas cartas, senhor Brown __gritou Alfr Ljosalfr zangado__ são conhecidas como Cards Mortais. Um único Card, mal manuseado pode causar a morte de uma pessoa num estralar de dedos!
Alfr estralou o dedo e para desespero de todos, as luzes se apagaram, restando apenas a luz da varinha dele que iluminava seu rosto sombrio.
__Agora... vamos testar os poderes desses Cards em um de vocês. Que tal um voluntário...?
Os alunos se afastaram para trás. Obviamente, ninguém queria testar os Cards Mortais.
__Você!
Alfr apontou a varinha para Julius Brown. Repentinamente, o mago sentiu-se puxado pela gola de suas vestes e arrastado até o centro da sala.
__Não trema, senhor Brown! __reprimiu Alfr com um sorriso maléfico no rosto enrugado__ É ridículo para um homem!
Julius Brown não parava de tremer. Não que os Cards lhe davam medo, mas porque a presença de Alfr Ljosalfr no escuro, era medonha.
Alfr fez um novo movimento com a varinha e o baú foi arrastado até o fim da sala, fora da vista dos alunos. Em seguida, o elfo apagou a luz da sua varinha e desapareceu no escuro. Depois disso, não somente Julius Brown tremia, mas sim toda a classe.
__Muito bem...
Ouviu-se a voz de Ljosalfr vindo do nada entre a escuridão e depois um estralar de dedos que ecoou dentro da sala silenciosa e trêmula. Após o estralar de dedos, várias velas surgiram do nada e iluminaram vagamente a sala.
Os alunos apertaram os seus olhos e viram Ljosalfr sentado num trono metálico, aparentemente rústico e cheio de detalhes pitorescos. Abaixo, ao lado dos pés dele, estava o baú aberto. Alfr fez um movimento com a mão e Lisa viu algo subindo enfileirado para o alto, parecia que as cartas estavam sendo postas em ordem à frente de Ljosalfr.
__Muito bem... __resmungou Ljosalfr novamente, sua voz ecoando sombriamente pela sala escura e mal iluminada pelas velas__ Agora, senhor Brown, vamos testar uma de nossas belezinhas aqui!
Lisa apertou os olhos mais uma vez e viu Ljosalfr encostar a unha negra do dedo indicador numa carta. Em seguida, ela e os outros viram a carta brilhar e desaparecer.
Todos ficaram atentos. O que iria acontecer agora? Julius Brown evitava pensar no que aconteceria.
Aos poucos, a carta que desaparecera caiu lentamente do alto da sala, nas mãos de Brown. O rapaz a pegou e viu uma mulher desenhada nele. Aos poucos, Brown sentiu algo se mover entre os dedos e o Card e jogou-o no chão, num pulo para trás.
O Card tocou o chão e uma névoa negra começou a sair dele, como se ele estivesse se desintegrando no ar. Aos poucos, a névoa negra ficou grossa e começou a subir para o alto, se modelando e tornando-se sólida. De repente, uma linda mulher loira de olhos azuis surgiu, praticamente nua.
Os rapazes olharam maravilhados com a beleza da mulher. Seus olhares voltaram-se para ela num estralar de dedos. As meninas, por sua vez, pareceram ficar aborrecidas com eles.
A mulher loira aproximou de Brown e passou sua perna sobre a cintura do rapaz. Em seguida, ela colou seu corpo nu ao corpo dele e o puxou pela cabeça. Os dois se beijaram. Julius Brown pareceu que estava voando entre nuvens. Do outro lado da sala, os rapazes pareciam indignados com a idéia de que somente Julius poderia ter aquela gostosa só para ele.
Os lábios de Brown e da loira se desgrudaram num puxão excitante da mulher. Julius abriu os olhos, ainda meio encantado pelo beijo e olhou para a mulher. A loira sorriu para ele e o puxou em um outro beijo demasiadamente longo. O rapaz passou a mão por trás da cabeça da mulher e alisou os cabelos lisos dela. Por um instante, Brown pensou ter sentido algo mole correr entre seus dedos e morder sua mão. Enfim, era uma dor gostosa. Ele sentia presas entraram em seu braço e ejetarem veneno em suas veias.
Brown distanciou seus lábios dos lábios da mulher e olhou para ela. Para seu espanto, a mulher pôs a língua para fora da boca e lambeu seus lábios. Julius arregalou os olhos ao ver que a língua dela era semelhante à de uma cobra. O rapaz ergueu o olhar para o rosto da mulher e viu uma expressão acinzentada meio esverdeada envolvendo-a. Ele olhou para os cabelos dela e viu que eles eram serpentes que agora, mordiam seu braço. Julius tentou afastar para trás, mas a mulher segurou sua cabeça e grudou seus olhos nos olhos dele. De repente, uma fenda vermelha surgiu nos olhos dela e uma luz invadiu o corpo de Brown e de todos que estavam olhando para a mulher.
O brilho da luz cessou e Lisa abriu os olhos. Ela olhou para frente e viu que Brown estava duro, intacto __virara pedra. Lisa assustou-se e deu um pulo para trás, onde se encostou a algo sólido e frio. Ela virou pra trás e viu que Peter também virara pedra. Em geral, não só Peter e Brown, mas todos os homens estavam petrificados. As meninas viram aquilo e soltaram um grito.
__Silêncio! __rosnou Alfr Ljosalfr do fim da sala__ Esta, garotas, é a famosa Medusa... linda, não?
Lisa e Louise olharam para a mulher que saía da frente de Brown e viram que ela se transformara num monstro que tinha cobras no lugar de cabelos, uma língua de serpente e olhos vermelhos de fendas.
__Sabe __continuou Ljosalfr__ muitos homens se deixaram levar pela beleza descomunal desse demônio e... tolos... viraram pedras, exatamente como seus amiguinhos!
Lisa passou o olhar novamente pelas estátuas e viu Max petrificado e Dan, uma bela estátua de cara amarrada para ela.
__Eu os poderia deixar assim pelo resto da vida, mas, infelizmente, tenho que continuar minha aula __murmurou Ljosalfr apontando a varinha para a Medusa__ Desintegrate!
A Medusa virou furiosa para Alfr e deixou escapar um terrível grito ao ser atingida por uma bola de luz. Rapidamente, o demônio se transformou numa névoa negra e desapareceu no ar, se transformando novamente num Card.
O Card brilhou no chão e desapareceu indo reaparecer no meio da fileira de incontáveis Cards Mortais.
Assim que o Card voltou para a fileira, os rapazes voltaram ao normal como se tivessem levado um banho de areia. Eles sacudiram as cabeças e bateram as mãos nos cabelos para tirar a areia.
__Que isso sirva de exemplo para todos __continuou Ljosalfr do fundo da sala__ Uma Medusa é um demônio que usa sua beleza para encantar rapazes... desprevenidos, devo dizer... para tirar-lhes a sua vitalidade. Essa que vocês acabaram de ver, era apenas um Card, uma criação não real da verdadeira realidade. Se fosse uma verdadeira Medusa, nenhum de vocês voltariam ao normal. Prestem atenção, uma vez atacados por uma Medusa... não há volta... não há antídoto... não há contra-feitiço a não ser que a cabeça dela seja cortada. Somente assim teriam voltado ao normal... Agora, jovens tolos, nunca dêem atenção demasiada a uma mulher qualquer, por mais sensual que seja, que queira leva-los para uma noite de prazer.... porque elas podem ser verdadeiros demônios!
As garotas deixaram escapar um risinho dos rapazes que agora se sentiam envergonhados, porém, Ljosalfr rosnou novamente do fundo da sala.
__Silêncio, impertinentes!... Agora, quem será a próxima cobaia...
__Cobaia? __murmuraram quase todos ao mesmo tempo.
Os olhos negros do elfo correram sobre todos os alunos no escuro. Enfim, ele apontou a varinha e Max foi arrastado até o centro da sala.
__Senhor Maximillium Mayhem... __murmurou Alfr__ Tenho algo interessante para o senhor...
Lisa estremeceu ao ver que Ljosalfr apontava a unha para uma carta. Do outro lado da sala, Dan a via se preocupando com o rapaz.
O Card brilhou e desapareceu. Em seguida, ele caiu do alto sobre a mão de Max. O rapaz olhou para a carta e viu uma espécie de um cão envolvido por um fogo verde desenhado na carta. Max rapidamente jogou a carta no chão e afastou temeroso para trás. Da mesma forma que o outro Card, uma névoa começou a sair dele e um murundu negro de quase dois metros foi surgindo no centro da sala.
Max viu o que estava surgindo e afastou para trás. De repente, um fogo verde fantasmagórico rodou ao redor de Max e o impediu de sair para mais longe. Naquele instante, todos dentro da sala deixaram escapar um grito de susto.
As chamas verdes movimentavam-se de um lado para o outro. Max pensou em pula-las, mas não se atreveu; elas eram grandes demais. Aos poucos, as chamas foram aumentando e dentro de uma, em especial, um olho vermelho surgiu junto com um rosnado, semelhante ao de um cão.
O brilho dos olhos ficaram intensos e uma sombra surgiu atrás das chamas. Lentamente, algo foi se aproximando e por fim, uma pata enorme surgiu entre as chamas. Max olhou assustado para a pata e viu as enormes garras que ela tinha. Em seguida, uma outra pata surgiu. O fogo começou a se abrir e o vulto negro surgiu, terrível e medonho.
Os alunos afastaram para trás ao verem uma espécie de cão com cabelos arrepiados na cabeça, orelhas furadas e com três caudas. Max passou o olhar sobre a cara da criatura e estremeceu. Ela tinha grandes caninos para fora da boca e uma notável língua de quase um metro que balançava de um lado para o outro entre os lábios. O focinho da criatura era meio achatado e os olhos eram tenebrosos. Um era tão grande quanto uma bola de golfe e o outro, tão pequeno quanto uma bolinha de gude.
Entre as chamas esverdeadas, o pêlo malhado em marrom e preto se contrastou a luz das poucas velas. Ao verem a criatura por inteiro, alguns alunos deixaram escapar algumas expressões.
__Ah, não! É um Canidópulus!
__Canidópulus?
Lisa estremeceu ao ver a terrível criatura. Então foi aquilo que fugiu da gaiola no Castelo dos Gaullers!
__Senhoras e senhores __murmurou Alfr sentado ao trono metálico iluminava por uma tonalidade verde fantasmagórica__ esse é o temido Canidópulus, uma criatura que habita o Bosque Espinhoso... Eles são criaturas fantasmagóricas que, bem, não vou contar-lhes, vejam por si só... Ataque-o!
O Canidópulus rosnou feroz e atacou Max. O rapaz caiu no chão embaixo das patas enormes da criatura. O Canidópulus ergueu uma das patas e expôs as suas garras de quase dez centímetros. Lisa fechou os olhos para não ver o que ia acontecer em seguida.
A criatura bateu as garras contra o corpo de Max. No entanto, elas tocaram apenas o chão __Max havia desaparecido.
__Para onde ele foi? __murmuravam alguns alunos.
__Lisa, você já pode abrir os olhos __disse Louise.
Lisa abriu os olhos e olhou para o círculo de fogo.
__Onde está Max? __perguntou.
Os alunos passaram os olhos ao redor do círculo e não o encontraram. De repente, alguém viu uma sombra surgindo atrás do Canidópulus __que agora parecia pasmo e abobado com o que acontecia. A sombra era Max. Rapidamente, ele agarrou uma das três caudas e rodou a criatura em círculos. Ele soltou-a e o Canidópulus caiu arrastando no chão até o trono metálico de Ljosalfr.
__Como ele fez aquilo? __perguntou Lisa enquanto batia palmas junto com os outros alunos.
__Lisa, ele é um mago e, bem, eles são ótimos ilusionistas...
Louise disse mais alguma coisa, mas as palmas abafaram a sua voz.
Max virou para todos, sorrindo, e ergueu um dos braços. Do fundo da sala, Ljosalfr sorriu de forma medonha.
__Agora!... __o elfo murmurou tão baixo que ninguém escutou, exceto o Canidópulus.
Max ainda erguia o braço, quando algo o empurrou contra o chão e o arrastou sobre o piso da sala. Os alunos saltaram uma exclamação, surpresos com o que acontecia.
Max tentou virar para cima quando sentiu o Canidópulus passar a sua enorme língua contra suas costas. À medida que a língua passava sobre as costas de Max, o rapaz sentia suas forças desaparecerem aos poucos.
Lisa levou a mão à boca ao ver algo fantasmagórico sair do corpo de Max, era como se fosse uma alma que o Canidópulus estivesse sugando.
__Essa __murmurou Ljosalfr__ é a finalidade dos Canidópulus, eles se alimentam da áurea das vítimas num processo doloroso e terrível...
Os olhos de todos voltaram-se para a criatura sobre Max.
O Canidópulus passava a língua lentamente sobre Max e aos poucos, algo transparente meio prateado saía do corpo dele e entrava pelas narinas da criatura. Por fim, o Canidópulus deu uma última lambida, longa e lenta. Em seguida, uma bolinha de luz saiu do corpo de Max e vagou lentamente pelo ar. De repente, o Canidópulus abocanhou a luz e como num relampejo rápido, seu corpo começou a brilhar e aumentar de tamanho. A perversa criatura ficou duas vezes maior e desta vez, com mais uma cauda, a quarta.
__Cada vez que uma áurea é sugada __continuou Ljosalfr__ o Canidópulus adquire um tamanho duas vezes maior e uma cauda nova... Este possui, agora, quatro caudas. Isso siguinifica que quatro pessoas sofreram a terrível morte através das lambidas fatais do Canidópulus.
Houve um silêncio angustiante dentro da sala. Todos fitavam a criatura que saía de cima de Max. O rapaz estava de bruços, com os olhos meramente fechados numa expressão de dor indicada pela lágrima que escorria no rosto.
__Muito bem... __disse Ljosalfr apontando a varinha para o Canidópulus__ Você já fez seu trabalho meu amiguinho!Desintegrate!
Uma bola de luz atingiu o Canidópulus e esse virou uma névoa negra que se envolveu entre as chamas esverdeadas e desapareceu, deixando apenas um Card no chão, que em seguida, brilhou e desapareceu.
Max abriu os olhos lentamente e levantou meio zonzo. Ele olhou para o seu corpo e sentiu que uma baba pegajosa impregnava suas vestes.
__Preste atenção, senhor Mayhem... __rosnou o professor mau-humorado__ Esse Canidópulus era apenas uma névoa viva. O verdadeiro é duas vezes mais perigoso e muito mais terrível do que esse. Que fique bem claro a todos... nunca, em hipótese alguma, dêem a costas a um Canidópulus. Porque para uma morte sofrida, basta apenas uma lambida!
Max se juntou aos outros e olhou para Lisa, com um sorriso meio tímido no rosto. Esta sorriu para o rapaz, mas ao mesmo tempo que sorria, um pressentimento vagou em sua mente.
__Agora, a próxima cobaia!...
Todos os alunos recuaram para trás. Obviamente ninguém queria fazer parte de um cardápio suculento para um dos monstros de Alfr Ljosalfr.
Lisa também se afastou junto com os colegas. Dentro da mente dela, o medo de ser escolhida a atordoava. Mas para o seu azar, a gola de suas vestes foi puxada e Lisa foi arrastada até o centro da sala.
__Lisa Torne, a Bruxa de Fogo __murmurou Ljosalfr num tom mais medonho do que antes. Seus olhos brilharam atrás da lente dos óculos ao verem Lisa tremendo__ Chegou a sua vez, Lisa! Eu tenho algo realmente bom, aqui!
Ljosalfr tocou em um Card com a unha e esse, brilhou e desapareceu. Lisa permaneceu trêmula no centro da sala. Ela, com um movimento involuntário do pescoço, reparou que Louise parecia preocupada e que Dan estava sério em outro canto da sala.
Lisa olhou para o alto e o Card caiu na palma de sua mão. Ela olhou para o desenho e se assustou de imediato. O Card caiu no chão e aos poucos uma névoa negra começou a se formar. Lisa afastou para trás e empunhou a varinha.
Lentamente, a névoa foi ganhando forma e uma criatura, coberta por um manto preto encapuzada, surgiu segurando uma longa lança na mão. Lisa olhou para os dedos longos da criatura e estremeceu.
Louise, entre os alunos, ainda não entendia muito bem o que era aquela criatura, mas Dan, com certeza já sabia e temia por Lisa o que iria acontecer.
__Um Emissário da Morte... __murmurou Ljosalfr com um tom de voz estranhamente funesta__ São terríveis de perto, não são?
Os alunos balançaram a cabeça e concordaram com o professor. Porém, Lisa não se atreveu a concordar já que ela enfrentara vários de uma vez só.
__Os Emissários desapareceram há quase dezessete anos atrás __continuou Ljosalfr__ Hoje, eles estão presos dentro de um baú protegido por sete maldições, sem contar, é claro, as milhares de serpentinas que os guardam... Enquanto tanta segurança os cerca, um está aí, livre, na frente da senhorita!
Lisa percebeu que Alfr dirigia as suas palavras a ela. No entanto, ela o mal ouviu. Lisa preferiu ficar de olhos grudados no Emissário da Morte que agora, flutuava com suas vestes movendo-se de um lado para o outro.
__Agora, senhoras e senhores __disse Ljosalfr__ veremos como os Emissários matam...
Lisa arregalou os olhos e não pôde acreditar que Ljosalfr dissera aquilo, mas ao lembrar-se de que o Emissário não era verdadeiro, ela se acalmou.
O Emissário da Morte, de repente ergueu lentamente a lança em direção a Lisa. Ela apertou a varinha e se reparou para ataca-lo. Quando Lisa pensou que poderia fazer um feitiço, o Emissário da Morte voou rapidamente em sua direção e a jogou no chão com as suas garras afiadas. Em seguida, ele ergueu a lança, mas Lisa foi mais rápida e lançou um feitiço, jogando a criatura para além de um canto escuro da sala.
__Muito bem, senhorita Torner! __murmurou Ljosalfr__ Foi rápida, sensata... Mas isso não é o bastante...
O professor parou de falar e Lisa sentiu um estranho arrepio nas suas costas e teve a impressão de que alguém estava atrás dela. Lisa virou rapidamente e caiu de joelhos no chão.
Louise e algumas alunas soltaram um grito agudo de terror.
Lisa não caíra de joelhos apenas. Uma lança negra, formada pelo braço do Emissário da Morte, havia atravessado o seu corpo e varado nas suas costas. Aos poucos, o Emissário puxou o braço de volta e Lisa começou a gritar de dor.
__Pare! __gritou Louise aterrorizada ao ver o sofrimento da amiga__ Não permita que isso continue...
__Isso, senhorita Longbottom __rosnou Ljosalfr__ é apenas uma demonstração. A dor que Lisa está sentindo é superficial e, se notar com mais atenção, o ferimento fechará sozinho assim que o braço do Emissário da Morte sair do corpo dela.
Louise e o restante dos alunos apertaram os olhos para verem entre a sala má iluminada, o ferimento de Lisa. Lentamente, o Emissário da Morte retirou o braço em forma de lança e afastou-se para trás. Lisa caiu no chão e um jorro de sangue saiu de seu ferimento.
__Por que não parou? __gritou ela novamente__ Você disse que ia parar... porque mentiu?
__Se concentre, senhorita Longbottom __gritou Ljosalfr impaciente.
Louise olhou novamente para Lisa caída no chão e depois viu o Emissário da Morte ser atingido pelo feitiço de Alfr Ljosalfr e desaparecer no ar.
Os olhares de todos voltaram-se novamente para Lisa, que agora se levantava e apalpava seu seio esquerdo, onde a lança entrou. Aos poucos, o sangue que escorria entrou novamente na ferida e esta, se fechou completamente. Inclusive o furo nas veste de Lisa desapareceram.
__Entendeu agora, senhorita Longbottom? __reprimiu Ljosalfr__ Esse, era apenas um Card. Não provoca risco algum, muito menos morte permanente. Sabe o que quero dizer com isso?
Todos se entreolharam e Lisa voltou-se para o professor, estranhamente escondido no escuro com apenas o reflexo de uma lente dos seus óculos aparecendo.
__Qualquer criatura recriada pelo Card pode matar, no entanto, a morte não é permanente, ou seja, após algum tempo a pessoa volta a viver como aconteceu com o senhor Brown e com o senhor Mayhem __Alfr Ljosalfr levantou de seu trono metálico e surgiu parcialmente entre as luzes das velas. Os Cards Mortais agora caíam lentamente empilhadas dentro do baú atrás do elfo__ Aprendam uma coisa, quando uma pessoa morre assassinada por um Card Mortal, ela só voltará a vida quando a criatura for desintegrada por um feitiço, caso contrário, a morte torna-se permanente. Mas algo importante precisa ser levado em conta. Os Cards Mortais podem ser confundidos com criaturas verdadeiras, de carne e osso, e as mortes provocadas por essas criaturas são permanentes pela eternidade. Tomem o exemplo dos Emissários da Morte. Eles são implacáveis, cruéis e imortais! Nada os mata, nenhum feitiço, exceto a conjuração de um em especial que pode matar a pessoa que os conjura logo após executa-lo. Se vocês não quiserem morrer, não o usem, prefiram morrer lutando contra os Emissários da Morte a morrer esgotados de vitalidade mágica.
__Quer dizer então que os Emissários da Morte são imortais? __perguntou Dan.
Alfr Ljosalfr lançou um olhar carrancudo para Dan e respondeu lentamente.
__Apenas os Emissários criados pelos Cards podem ser destruídos. Mas vocês não precisam se preocupar com isso, os verdadeiros Emissários da Morte estão guardados por sete maldições poderosas e jamais verão a luz novamente...
Na cabeça de Lisa, Dan e Louise, um mesmo pensamento perpassou. Em ambos, uma luz iluminou seus pensamentos.
__Os verdadeiros Emissários da Morte não morrem, eles são imortais! __disse Lisa enquanto entravam na Sala Comunal do Castelo dos Bruxos.
__E isso siguinifica __disse Dan, agora voltando a falar com Lisa, apesar de ainda estar meio sem graça com ela__ que os Emissários que enfrentamos no Mundo dos Humanos são...
__ CARDSMORTAIS!
O retorno das Sentinelas
Lisa pegou seu material para a aula de Magia Espírita e desceu correndo as escadas da Sala Comunal para encontrar-se com Dan e Louise, que a esperavam ansiosos. Ambos ainda estavam com uma cara de espanto estampada no rosto por terem descoberto que os Emissários da Morte que atacaram Lisa eram meros Cards Mortais.
__Porque alguém mandaria centenas de Cards matar você, Lisa?
Louise, Dan e Lisa passavam agora pelo hall de entrada do castelo e encaminhavam para um corredor que os levaria até a sala de Magia Espírita.
__Talvez quisessem assustar Lisa __disse Dan.
__Não, duvido muito! Se aquilo foi um susto, eu quase morri de dor quando aquela espada foi cravada em meu peito. Por sorte ela não acertou meu coração...
__Sorte sua foi Crowley estar por perto e fechar o ferimento...
__Que ferimento, Dan? __disse Louise com uma cara de reprovação__ Você não prestou atenção no que o Ljosalfr disse? Os ferimentos se fecham logo depois que a criatura criada pelo Cards se desintegra, você devia lembrar-se disso, afinal foi você quem destruiu praticamente todos...
Dan sentiu suas faces avermelharem, mas o constrangimento de não ter prestado muita atenção em Ljosalfr fora maior.
__Mas há um detalhe que eu havia me esquecido! __disse Lisa parando a porta da sala.
Dan e Louise fitaram-na imediatamente.
__Não foi exatamente um Emissário da Morte que cravou a espada em mim. Eu não sei bem, mas eu acho que vi um homem desaparecer entre as sombras enquanto eu caía no chão...
__Isso explica então porque o ferimento não se fechou sozinho depois que Dan destruiu os Emissários da Morte sem a intervenção desse Crowbey...
__Crowley! __corrigiu Dan enquanto sentava-se a mesa no centro da sala.
__Que seja! Mas a questão é, porque alguém mandaria centenas de Cards te matar sabendo que qualquer ferimento que eles provocassem fecharia instantaneamente após você mata-los? Será que o mandante não sabia que ele estava lidando com uma das mulheres mais poderosas de Aragorn?
Lisa lançou um sorriso meio torto na boca numa tentativa desesperada de conter um pequeno vermelhão que surgia em suas bochechas.
__Talvez seja por isso que o cara resolveu fazer o serviço sozinho, cravando a espada no coração de Lisa quando viu que os Emissários da Morte seriam inúteis!
Louise abriu a boca para Dan e Lisa quando Athus entrou de supetão, apoiado a uma bengala, na sala e pediu para que todos fizessem silêncio. Ao entrar, os olhos de Lisa bateram na perna direita dele, que mancava.
__Athus está mancando, Louise __murmurou Lisa__ Feriu a perna.
__O quê?
__Por favor, façam silêncio enquanto eu faço a chamada.
Athus parecia meio aborrecido com alguma coisa. Seu olhar estava distante e havia um tom estranho em sua voz. Talvez a perna ferida explicasse o seu comportamento. Ao final da chamada, Athus apresentou um tabuleiro espírita para a sala e começou a dar sua aula, mancando de lá para cá, chamando cada vez mais a atenção de Lisa.
A aula teve seu curso normal, exceto por Peter que foi possuído por um espírito agourento ao tentar usar um feitiço para transformar em sólido o seu terrível corpo. Fora o que houve com Peter, a aula foi interessante. Lisa conseguira transformar em sólido uma perna e a língua de uma mulher que morrera há mais de quatrocentos anos. Já Hariph, foi o mais bem sucedido da sala, conseguira solidificar inteiramente o espírito de um velho barbudo e extremamente mau-humorado. Louise desejou ter obtido o mesmo sucesso que Hariph, mas Maya tirou a sua concentração com um espírito de uma múmia dançante que pisoteou o tabuleiro espírita dela.
As aulas antes do almoço foram cansativas e sem qualquer intervalo. Após saírem da sala de Athus, Lisa e os outros rumaram para a aula de Arte das Espadas com o professor Falco Evil Black. A aula não fora tão ruim. O que estragou ela foi o mau-humor exagerado de Falco pelo fato de que Gregor atiçara fogo no rabo de seu Falcão tentando por a culpa em Dan. Mas depois de alguns gritos e castigos para Gregor (Grump e Steven também estavam envolvidos, mas se fingiram de santos) a aula teve seu curso normal.
Louise enfrentou Maya com as espadas e desejou maliciosamente cortar o pescoço dela por causa da conversa que ela espalhou sobre o fato de Lisa saber que haveria um ataque na noite passada. Dan enfrentou Hariph e perdeu vergonhosamente em menos de cinco minutos (Hariph tirou a espada da mão dele e depois o derrubou no chão). Dan tinha que admitir, Hariph também era muito bom com as espadas porque ninguém jamais o vencera no ano passado.
Enquanto Lisa, Louise e Dan, dirigiam-se ao refeitório, Max passou por eles e deu um longo sorriso para Lisa. Desde essa hora, Dan ficou mau-humorado e depois de terminar de almoçar, rumou para algum lugar do castelo.
__O que ouve com Dan, porque ele não veio com a gente? __perguntou Louise enquanto entrava na biblioteca com Lisa.
__Eu não sei. Ele está com a cara amarrada comigo desde hoje de manhã...
__Eu tive a impressão de que ele ficou assim quando viu Max sorrindo pra você!
Lisa parou e olhou para Louise.
__O que você quer dizer com isso?
__Ora, Dan está com ciúmes! Quem não vê isso?
__Ora, francamente, Louise!
Lisa quase passou por cima de Louise e desapareceu entre as prateleiras de livros da biblioteca para tentar esconder o vermelhão-tomate que surgiu em suas bochechas.
Louise riu da própria amiga e se enfiou entre as prateleiras de livros a procura do Localizol. Meia hora havia se passado e as duas já haviam voltado a Sala Comunal, desanimadas.
__Não adianta, já procuramos por tudo que é canto, de prateleira em prateleira. E nem a madame Magie soube nos dizer onde o Localizol foi parar.
Lisa afundou no sofá e tentou esconder um breve cansaço. E agora, como fariam para descobrir onde morava essa tal de Madame Geoffrin?
__Agora, sem saber para onde o Localizol se meteu, __disse Louise__ nós ficamos aqui... paradas... olhando para o teto tentando imaginar aonde um livro de quase quarenta centímetros e com mais de dez mil páginas foi parar!
Lisa não escutou nada do que Louise falara. Seus pensamentos vagavam em torno dos Cards Mortais. Ela mentalizava na cabeça que alguém os colocara para mata-la e que esse alguém, provavelmente se chamava Mayer Slater, um homem que lhe mandara uma carta lhe avisando que corria perigo e que logo depois de lê-la, pegou fogo e virou cinzas. Mas porque ele faria isso? Afinal, ele era um General das trevas! Isso tudo parecia uma brincadeira infantil, que alguém fizera para se divertir as custas de Lisa.
Louise ainda se lamentava pelo desaparecimento do Localizol quando uma risada fina e desdenhosa surgiu no meio das escadas.
__Por acaso estão procurando por isso aqui?
Era Maya quem estava no meio da escada segurando um livro grosso de quase quarenta centímetros nos braços e olhando de forma irritante para Lisa e Louise.
__Me devolve Maya! __pulou Louise da poltrona imediatamente__ Eu preciso dele!
__Por que você precisaria de um Localizol?__perguntou Maya balançando a cabeça desdenhosamente__ Por acaso você tem medo de se perder em Aragorn? Eu não me admiraria se você não se perdesse nesse próprio castelo depois de tantos anos...
__Me dê esse livro, Maya! __gritou Louise entre os dentes__ Ou então...
__Ou então o quê?
Maya desceu as escadas e parou de frente para Louise, numa distância de quase dois metros.
__Por acaso você vai tirar o livro da minha mão?
__Se é o que você quer...
Louise puxou a varinha e apontou para Maya. No entanto, um relampejo de luz bateu contra a mão de Louise e a varinha voou de sua mão.
__E agora, Louise? __perguntou Maya apontando a varinha para Louise de forma ameaçadora__ O que você vai fazer?
__Vamos, Maya __disse Lisa__ Isso não tem graça! Devolve o livro.
__Não devolvo __retrucou Maya com um risinho irritante__ Ele vai ficar comigo até eu mudar de idéia. Até lá, seja uma boa menina, está bem, Louise?
Maya deu um tapinha de leve no rosto de Louise e subiu as escadas as pressas.
__Ah, eu vou pegar aquela des...
__Não, Louise!
Lisa segurou Louise pelas vestes e passou o resto do dia tentando acalma-la e faze-la passar longe de Maya, o que deu um certo trabalho. Enquanto elas estavam na segunda aula que Falco tinha com eles no dia, Louise tentou realmente cortar o pescoço de Maya com uma espada afiada. Ela só hesitou em fazer isso por que Maya insinuou que se ela não fosse boazinha, jamais viria o Localizol outra vez.
__Isso é ridículo! __gritou Louise para todos ouvirem no jardim sul__ Eu não vou ceder as chantagens daquela... daquela...
Louise não quis terminar de falar e num rosnado furioso, ela levantou do banco e saiu andando em direção ao Castelo dos Bruxos.
__O que houve com ela?
Lisa virou para trás e inesperadamente deu de cara com Max as suas costas.
__Max! __exclamou meio abobada. Porque eu tinha que dizer isso?__ Ahn... Louise está meio irritada com... bem.. não tem importância.
Claro que tem importância! Porque você diz isso, sua idiota?
__Lisa, hoje pela tarde... bem... __Max pareceu sem graça e nervoso__ você gostaria de dar... ahn... uma volta comigo... bem... pela propriedade?
__Ah... cl-claro!
__Ah... então... até mais!
Max saiu andando entre os alunos e desapareceu ao entrar no Castelo dos Magos. Já Lisa, voltou para o Castelo dos Bruxos com um inconfundível sorriso no rosto que foi percebido por todos que desciam as escadas espirais do castelo, inclusive por Dan.
A tarde estava caindo calmamente sobre as gigantescas torres dos sete castelos trazendo consigo um pôr-do-sol indiscutivelmente belo. Lisa e Max estavam sentados sobre uma pedra admirando o pôr-do-sol. Atrás deles, ao longe, via-se a imponente entrada norte da Fonte Phoenix.
A luz avermelhada tocava calmamente a pele de Lisa e os cabelos negros de Max. Já havia algum tempo que os dois estavam ali, sentados, olhando pra o horizonte sem abrirem a boca para dizer nem pelo menos um A.
Max e Lisa pareciam meio envergonhados e mantinham as faces levemente avermelhadas. Por fim, Max olhou para Lisa, com uma mexa de seus cabelos longos e lisos escorrendo sobre sua sobrancelha, e sorriu timidamente.
__Você deve está se perguntando porque eu a trouxe até aqui?
__Acredito que já descobri! __murmurou Lisa contendo um vermelhão-tomate que surgia em suas bochechas.
__É lindo, não é? __Lisa olhou para Max e percebeu que os olhos do rapaz brilhavam ao olharem para o sol se pondo__ Desde que cheguei a Fonte Phoenix, eu não deixei nenhum dia de vir aqui apreciar esse espetáculo...
__Certa vez eu também o apreciei __disse Lisa lembrando-se da vez em que fizera um túmulo fictício para Düblin__ É realmente lindo!
__Sabe Lisa, nós, magos e bruxos, devemos sempre estar em sintonia com a natureza. São espetáculos como esse que nos faz esquecer das turbulações que nos cercam e nos dão tranqüilidade e talvez, até uma paz interior que ninguém pode descrever.
Lisa voltou a olhar para Max e reparou novamente que seus olhos brilhavam. Ela deixou escapar um suspiro que provocou um estranho friozinho incômodo na barriga.
Os dois permaneceram calados até o sol desaparecer totalmente. Uma escuridão sem fim tomou conta dos dois, deixando que só apenas as luzes distantes da Fonte Phoenix iluminassem vagamente os dois. Max, então, levantou e estendeu a mão para Lisa.
__Vamos? Devem já ter sentido nossa ausência!
Lisa estendeu a mão para Max e deixou-se ser levantada pela mão grossa e máscula do rapaz. Num puxão rápido, Lisa levantou bruscamente e quase caiu sobre Max. Por um breve instante, os dois ficaram olho a olho com um estranho frio que remoia seus estômagos. Lisa, por um momento, sentiu a leve barba de Max roçar seu queixo, mas algo malévolo, chamou sua atenção na direção do interior do Reino da Fênix.
Max olhou para Lisa e viu que ela ficara assustada de repente e que passara a olhar para frente. Ele virou seu olhar e percebeu o que Lisa via. Bem ao longe, uma carruagem estava sendo puxada por dois cavalos e aproximava-se rapidamente na direção da Fonte Phoenix. Mas não foi somente a carruagem que chamara a atenção de Lisa, Max percebera que quase quarenta Sentinelas __pelo menos supunha o rapaz__ seguia a carruagem voando sobre ela.
De repente, a carruagem passou velozmente sobre os dois, balançando suas vestes e desarrumando os cabelos de Lisa e Max. O rapaz olhou para Lisa e viu que ela tremia sem parar e que seus olhos estavam vibrados nas Sentinelas que vinham na direção dos dois.
__Lisa, o que foi? __perguntou Max.
Lisa estava respirando ofegante e suas mãos não paravam de tremer.
__As Sentinelas...
Lisa não conseguiu terminar a frase, pois um bando de Sentinelas passou voando sobre eles e pelo menos, umas dez vieram na direção dos dois. Lisa viu as Sentinelas atacando e deixou soltar um grito agudo de medo. Max viu que as Sentinelas iriam realmente atacar e então agarrou Lisa por trás e deu uma volta da sua capa na frente de Lisa. A capa passou sobre os dois e num rodopio, ambos desapareceram. As Sentinelas vieram velozmente contra a pedra e passaram direto, um pouco abismadas já que juravam que havia alguma onda psíquica estranha sobre ela.
A capa de Max girou e os dois reapareceram no hall de entrada do Castelo dos Bruxos.
__Por que você ficou daquele jeito, Lisa? __perguntou Max saindo de trás dela e ficando na sua frente.
__Sentinelas... eu... Ah, como viemos parar aqui? __perguntou Lisa olhando meio abobada para os lados.
__Bem... eu sou um mago... sou ilusionista...
__Me desculpe, Max. Mas... eu tenho que ir. A gente se vê por aí qualquer dia desses.
__Mas...?
Lisa saiu correndo pelo hall e subiu as escadas espirais apressadamente deixando Max sem entender o que estava havendo.
Max franziu a testa e saiu do castelo. Ao sair, ele se deparou com Neville Chamberlain saindo da carruagem no jardim sul e com as Sentinelas chegando e vagando ao redor do inspetor.
Lisa entrou branca na Sala Comunal e subiu as escadas apressadamente. Louise estava sentada numa poltrona a beira da lareira, tentando imaginar uma forma de pegar o Localizol de volta e como estrangular Maya, quando viu Lisa subindo.
__Lisa, o que houve? Você está pálida! __disse Louise entrando no quarto, minutos depois.
Lisa não respondeu. Ela estava sentada encolhida num canto da cama, as pernas juntas e as mãos as friccionando contra o corpo.
__Lisa! __insistiu Louise se aproximando__ O que houve?
__As Sentinelas... __disse Lisa erguendo os olhos para Louise__ elas voltaram...
Louise correu até a janela e olhou para fora. No jardim sul dezenas de Sentinelas rodopiavam sombriamente sobre o inspetor de Azgrah, Neville Chamberlain.
__Neville, o que está fazendo aqui com essas Sentinelas? __perguntou Gaya encontrando-se com Neville no jardim, olhando para as Sentinelas que não paravam de voar ao redor dos dois.
Neville aproximou de Gaya com um sorriso imponente no rosto como se aquela visita o estivesse satisfazendo inteiramente. Enquanto o inspetor fazia uma reverência exagerada ao príncipe, Gaya notou que seus olhos negros brilhavam imperiosamente para ele. O príncipe percebeu então, que havia uma certa excitação escondida no olhar do inspetor.
__Estou fazendo o que já deveria ter feito antes, príncipe Gaya! __Chamberlain pareceu irritantemente desdenhoso__ Como você meu príncipe, já deve ter ficado sabendo, Lauro Ravenclaw foi assassinado e temos provas suficientes para lhe dizer que o assassino da família Ravenclaw reside na Fonte Phoenix. Em especial no Castelo dos Bruxos! A partir de hoje as Sentinelas passarão a residir aqui, enquanto o culpado não aparecer.
Gaya pareceu abalado. Na verdade, era exatamente isso que Chamberlain queria.
__Eu não fui comunicado sobre essa... visita inesperada...
__Isso está longe de ser uma visita, príncipe Gaya!
Uma voz arrogante e fulminante veio de dentro da carruagem. Para surpresa de Gaya e de Godric, que agora se juntava a eles, uma mão magra e fina surgiu na porta da carruagem, seguida de um rosto de feição fechada e carrancuda.
__Weaslow! __ murmurou Martius tão baixo que só Gaya ouviu.
__Como você acabou de ouvir, príncipe Gaya, a Fonte Phoenix irá abrigar as Sentinelas e o inspetor Chamberlain durante o tempo necessário que for preciso para tomar o depoimento dos alunos e assim descobrir o verdadeiro assassino...
Lorde Weaslow saiu da carruagem e se pôs de frente para o príncipe. Ele não fez nenhuma reverência, muito menos Gaya, que não quis se dar ao trabalho para tanto.
__Como vai, Godric? __perguntou Weaslow lançando um olhar fechado para Martius.
__Bem, Milorde!
__Weaslow, com que poder você pode admitir que as Sentinelas venham para cá sem antes me consultar? __interveio Gaya.
__Ora, príncipe... Gaya __Lorde Weaslow deixou soltar um pequeno riso desdenhoso e depois acrescentou fulminante__ Eu os autorizei por que, se não se lembra, fui eu quem colocou seu pai no trono de Aragorn, ou seja, tenho mais poderes do que você sobre a Fonte Phoenix...
Gaya suspirou forte e fingiu que não o ouviu. Entrementes, Neville Chamberlain observava a expressão de desagrado do príncipe com um sorriso sarcástico no rosto e Godric, observava atentamente uma segunda carruagem pousar na Fonte Phoenix.
__O que ele está fazendo aqui, Weaslow? __murmurou Gaya aos ouvidos do Lorde ao ver Alan Hart descer da carruagem.
__Alan Hart fará uma entrevista exclusiva sobre o caso, afinal, Aragorn precisa saber que tipo de gente você aceita para treinar na Fonte Phoenix, príncipe Gaya!
Mais uma vez, Gaya teve que mastigar as próprias palavras para não faltar com respeito ao Lorde Weaslow, que neste meio tempo, cumprimentava Hart sobre os flashes da máquina fotográfica de Felton.
__Como vai, meu príncipe! __disse Alan Hart fazendo uma reverência, apoiado sobre sua bengala com um corvo na ponta__ E você Martius?
Alan Hart estava vestido como de costume com suas inconfundíveis vestes pretas deixando seus longos cabelos negros, que tocavam a cintura, em combinada sintonia obscura. Robbie Felton, por sua vez, vestia trapos e não parava de disparar flashes contra Gaya e Martius.
__Se não parar com esses flashes imediatamente, considere-se um elfo-ratazana morto!
Felton rapidamente parou de disparar os flashes e baixou as orelhas pontudas ao ver o olhar fatal de Godric.
__Ficamos sabendo, príncipe Gaya __dizia Chamberlain enquanto se sentavam numa sala escura do Castelo dos Bruxos onde os interrogatórios seriam realizados__ através de um aldeão de Maystone, que alegou em depoimento ter visto uma mulher loira usando vestes da Fonte Phoenix entrar na casa de Lauro Ravenclaw e segundos depois sair apressadamente da cabana, indo desaparecer entre o bosque que cerca o povoado. A estranha mulher saiu logo depois que várias luzes saíram pelas janelas. Segundo o informante, ela segurava uma varinha e, portanto, era uma bruxa!
__Tornou-se evidente que, tanto o pai quanto o filho, foram tonteados por um feitiço e depois mortos com uma espada cravada ao peito __disse Weaslow lentamente enquanto cruzava as pernas e juntava as vestes negras.
Enquanto o inspetor e o lorde explicavam os motivos pelo qual vieram interrogar os alunos, Alan Hart permaneceu no fundo da sala segurando um rolo de pergaminho, que se desenrolou por quase dois metros no chão, e uma pena emplumada. O dono da Folha do Centauro preferiu vir pessoalmente assistir aos depoimentos e fazer a sua própria matéria, independentemente dos outros elfos que trabalhavam para ele. Enquanto Hart não parava de escrever no pergaminho a conversa dos quatro homens presentes na sala, Robbie Felton manteve quieto olhando apreensivo para Martius que não parava de fitar a máquina fotográfica dele.
__Sendo assim, príncipe Gaya, __disse Weaslow levantando-se__ espero que você dê a atenção necessária para Chamberlain e as Sentinelas. Eu quero que todos os bruxos da Fonte Phoenix, em especial bruxas, sejam interrogados e que o culpado seja encontrado!
Gaya concordou com a cabeça apesar de que se sentia contrariado por não ter sido comunicado antes do retorno das Sentinelas.
Antes de Weaslow entrar na carruagem, o lorde parou por um momento e olhou de forma fulminante para Gaya.
__Espero sinceramente que depois que isso tudo for esclarecido e o culpado for condenado a viver a eternidade nas masmorras de Azgrah, você aprenda a administrar melhor a Fonte Phoenix e o Mundo de Aragorn, porque eu não vou admitir, príncipe Gaya, que você cometa mais erros. Isso poderá custar a sua coroa de rei, não se esqueça disso!
Lorde Weaslow entrou na carruagem e segundos depois, desapareceu entre a noite escura. Gaya ficou parado por alguns instantes olhando para as Sentinelas, que pareciam se divertir correndo de janela em janela dos castelos; com os sentimentos atrapalhados. Naquele momento, ele não sabia se sentia raiva ou ódio por Weaslow. Era eminente que depois da morte de Aton, pai de Gaya, Weaslow quisesse se apoderar do controle total de Aragorn e que agora encontrara um meio fácil para conseguir o que queria. Bastava apenas que Gaya permitisse que coisas erradas continuassem a acontecer na Fonte Phoenix, para ele ser destronado pela Ordem dos Lordes a qualquer momento.
As investigações de Neville
Na mesma noite da chegada de Neville Chamberlain na Fonte Phoenix, os alunos do Castelo dos Bruxos foram reunidos no refeitório e avisados sobre os depoimentos que deveriam ser tomados. Gaya pediu a todos para que colaborassem com as investigações, pois assim, tudo voltaria ao normal quando menos esperassem.
Enquanto Gaya dava os avisos sobre o início dos depoimentos no dia seguinte (Neville queria fazer naquela mesma noite, mas Gaya não o permitiu; os alunos deveriam descansar primeiro), os alunos permaneceram em silêncio, ouvindo o príncipe. Porém, quando saíram do refeitório, os comentários não pararam de correr pelos corredores do castelo.
__Meu pai bem que disse, o assassino realmente está na Fonte Phoenix! __murmurou um aluno do primeiro ano.
__Agora, eu não tenho mais certeza se esse lugar é tão seguro quanto falam, sabe, se um assassino consegue morar entre nós, imagina então se uma criatura da Ilha das Sombras resolver transformar esse lugar na sua casa de campo? __comentou uma aluna do quarto ano com alguns rapazes do terceiro ano.
__Não sei, não. A partir de hoje eu não saio mais do meu quarto a noite, nunca se sabe, né!
Louise passou pela menina que falara por último e subiu as escadas às pressas para contar tudo a Lisa __ela preferira ficar no quarto, escondida das Sentinelas.
__Depoimentos? __perguntou Lisa, deixando o queixo cair.
__Parece que as pistas indicam que o assassino está na Fonte Phoenix, sabe o que isso siguinifica, Lisa?
__Siguinifica que eu terei que ficar escondida o tempo todo para as Senti...
__Não, esquece isso __retrucou Louise__ Lisa, pensa comigo. Se a família Ravenclaw tinha ligação com Mayer Slater que segundo a Folha do Centauro, era o quarto General das Trevas revelado, isso siguinifica que você pode estar correndo perigo, Lisa!
__Louise, não faz sentido Slater ser um General das Trevas e me mandar uma carta dizendo coisas sem sentido e me alertando que alguém malíguino retornou e que quer vingança...
__É, realmente __suspirou Louise desanimada com seus próprios pensamentos__ Nós precisamos urgentemente pegar o Localizol de volta e encontrar essa tal de Madame Geoffrin, se é que o seu sonho vai servir para alguma coisa!
__Isso vai ser difícil, Maya não vai devolver o Localizol __disse Lisa recostando-se a parede fria do castelo enquanto dobrava os joelhos sobre a cama__ Louise, o que custa você ser gentil com ela pelo menos uma vez na vida?
__Seria fácil se ela não fosse tão cheia de si mesma. Mas há algo em Maya que me preocupa __disse Louise apoiando o queixo sobre a mão__ Sabe, Lisa, Maya nunca conseguiu fazer feitiços direito e agora voltou com força de gás, se é que você me entende!
__Pelo que você me disse sobre ela, eu também reparei isso __admitiu Lisa__ Mas veja por um lado, Maya voltou mais poderosa e Peter, bem __Lisa deixou escapar uma risada junto com Louise__ ele não consegue fazer nenhum feitiço direito. Melissa que se cuide!
A conversa das duas pareceu agradável, já que agora relembravam o duelo de Melissa com Peter. Porém, ao ver uma Sentinela passar pela janela, Lisa se encolheu de medo, trazendo a tona o que Louise sempre quis descobrir.
__Porque, Lisa, você sente tanto medo ao ver uma Sentinela?
__Sinceramente eu não sei __disse Lisa desanimada__ Quando eu vejo uma Sentinela, eu apenas sinto algo remoer por dentro de mim e quando eu vejo, já estou acuada como um rato indefeso tremendo de medo.
__Isso é estranho!
Uma chuva fina e sombria caiu no dia seguinte sobre a Fonte Phoenix praticamente o dia inteiro. Lisa sentiu-se aconchegante na sua cama enquanto o friozinho da chuva tomava conta das paredes gélidas do castelo. Louise tentou faze-la levantar, mas Lisa insistiu em ficar deitada por mais algum tempo. Então, sem opção alguma, Louise ergueu a varinha e...
__Louise! __gritava Lisa de cabeça para baixo enquanto Louise arrumava a cama dela__ Me ponha no chão, isso não tem graça!
__Eu a deixo descer se me prometer que vai trocar de roupa e vai descer para tomar café como todo mundo...
__Nem pensar!
__Lisa, as Sentinelas não vão estar no refeitório...
__Quem me garante?
__Eu fui até lá e elas não estavam lá, ao contrário, eu nem as vi, tanto dentro quanto fora do castelo.
Lisa não pareceu se manifestar protestando. Ela permaneceu calada, pensando, apesar de que sua cabeça já estava da cor de um tomate devido ao sangue que se agrupava nela.
__Está bem!
Louise sorriu e fez um movimento com a varinha. Lisa virou de ponta cabeça novamente e tocou o chão com seus pés.
__Você viu Dan, por aí? __perguntou Lisa, minutos depois, já trocada e aparentemente apreensiva quanto à presença das Sentinelas.
__Não, porque?
__Não sei, ontem à tarde ele voltou a amarrar a cara para o meu lado...
__Mas também, né Lisa, o que é que você queria? Veja bem, Dan é apenas um rapaz da Tribo do Ar, belo e um pouco musculoso e... bem, ele se sentiria magoado ao ver que Max, um mago, belíssimo, não tão musculoso, mas indiscutivelmente um gato; estava se enrabichando por sua...
__Amiga... __completou Lisa antes que Louise pudesse dizer algo__ Somos apenas, amigos!
__Amigos. Era isso que eu ia dizer... eu juro! __disse Louise contendo um risinho com a mão.
As grandiosas portas do salão do refeitório se abriram e centenas de alunos entravam e se sentavam nas gigantescas mesas. Diferente dos outros dias onde a balbúrdia era uma marca registrada no refeitório, hoje o silêncio era quase total, se não fosse os meros cochichos.
Lisa sentou-se na mesa ao lado de Dan. Ela lhe deu um agradável bom-dia e Dan respondeu com um bom-dia seco que fez Louise soltar um risinho abafado.
Lisa abriu um pão e colocou-o na boca no mesmo instante em que ouviu Peter cochichando com Allan Mhorus.
__Estão dizendo por aí que Chamberlain vai nos interrogar com as Sentinelas presentes na sala. Se caso o assassino fizer algum movimento brusco, as Sentinelas vão sentir as ondas psíquicas e aí não hesitarão em atacar...
A voz de Peter desapareceu assim que ele levantou da mesa com Allan. Lisa viu os dois desaparecendo pelas portas de carvalho e sentiu um leve arrepio ao pensar que teria de ficar de cara a cara com uma Sentinela. No entanto, ela não conseguiu distinguir o arrepio de um medo súbito e incontrolável.
__Escuta, Dan, você andou vendo os Pés Grandes por aí? __perguntou Louise.
__Não, ultimamente __respondeu Dan ainda secamente.
__Que pena, eu queria saber como eles estão se comportando com a mamãezinha do lado...
Lisa não estava escutando o que Louise dizia, sua atenção estava voltada para a expressão de Dan __ela nunca o vira se comportar daquele jeito antes. Por um breve instante de segundo, um pensamento chegou a passar pela mente de Lisa. Ela sentiu suas faces corar e depois balançou a cabeça para afasta-los.
Louise continuou a puxar conversa com Dan, mas ele não lhe deu assunto. Lisa não quis tentar também e preferiu permanecer calada. Enquanto ela cortava outro pão e passava geléia, Lisa deixou o pão cair repentinamente.
__O que foi, Lisa? __perguntou Louise. Dan também ia perguntar o mesmo.
Lisa parecia muda, ela olhou para um cálice sobre a mesa e viu as cores dele desaparecendo, dando lugar a um cinza sombrio. Quando Lisa e todos os alunos perceberam, todo o salão estava perdendo a sua cor original. Lisa virou para as enormes janelas do castelo junto com os alunos e viu quatro Sentinelas passando rapidamente por elas. Depois que desapareceram, a cor voltou ao normal e tudo ganhou vida.
__Bem, acho que os depoimentos já vão começar! __suspirou Louise__ Até onde sei, Neville está no segundo andar e essas Sentinelas estão se dirigindo para lá...
Lisa não escutou mais nada. Seus pensamentos ficaram vagos e seu corpo, trêmulo. Era inevitável, mais cedo ou mais tarde os depoimentos teriam de começar e aí, Lisa não teria como fugir das Sentinelas.
Os alunos saíram do refeitório ainda com aquele ar de preocupação com os depoimentos. A situação piorou quando, na aula de Magia Espírita, Athus informou a todos como deveriam ser os depoimentos.
__Dentro de alguns minutos, os inspetores passarão nas salas chamando os alunos __disse Athus atravessando a sala apoiado numa bengala, o que não deixou de chamar a atenção de Lisa__ Eu peço que não fiquem nervosos e que tentem manter a máxima calma possível. Todos sabemos que as Sentinelas são imprevisíveis e quando alguma onda psíquica estranha é captada, elas não hesitam em atacar. Portanto, tomem muito cuidado com suas emoções e principalmente com o que dizem. Não falem mais do que é pedido e o mais importante, contem tudo o que sabem...
O aviso de Athus foi basicamente um reforço para o que Gaya disse na noite anterior quando jantou no Castelo dos Bruxos. A tensão que os alunos tinham ao levantar, aumentou depois que um inspetor entrou na sala, seguido por Lyon, o ajudante de Chamberlain, e chamou Alice Boston para depor. Todos prenderam o fôlego e mantiveram-se calados enquanto ela saía da sala e desaparecia pelo corredor com Lyon e o inspetor.
O nervosismo foi aumentando cada vez mais à medida que mais alunos eram chamados para depor. As aulas foram dadas lentamente, parecia que o tempo não passava. Quando finalmente foram liberados para o intervalo, a maioria dos alunos não quiseram almoçar e preferiram ficar nos jardins.
__Maya Hart! __gritou Lyon entre os alunos.
Lisa, Louise e Dan acompanharam com os olhos, Maya desaparecer com o inspetor pela entrada do castelo. Naquele instante, Louise desejou que Maya fosse atacada pela Sentinela e nunca mais voltasse para infernizar a sua vida.
__Olá, pessoal!
Lisa virou para trás e viu Zig e Cliffe chegando com Tom Secoyan.
__Momento difícil o de vocês, hein! __disse Cliffe.
__Nós ficamos sabendo do que estava acontecendo através do Athus... __comentou Zig.
__É, ninguém queria nos contar porque as Sentinelas estavam aqui... __interrompeu Cliffe.
__Espero que tudo se saia bem e que o culpado seja pego.
Louise fitou seu olhar em Secoyan e ficou observando seus traços. Tom era um rapaz troncudo, robusto e de braços curtos e fortes. Ele era moreno de olhos castanhos e tinha as sobrancelhas espessas que deixou Louise encantada desde o dia em que o vira dar um banho de água em Grump.
__Grump voltou a mexer com você, Horcliffe? __perguntou Tom.
__Não, __respondeu Dan secamente __mas acredito que eu não precise da sua ajuda para me livrar dele!
__Entendo!
Lisa e Louise olharam a expressão dos dois. Já era de costume Dan rejeitar qualquer ajuda vinda de alguém estranho, principalmente de Melissa. Dan era um pouco duro com as coisas e não permitia que ninguém se envolvesse em seus assuntos pessoais. Pela expressão de Tom Secoyan, ele entendera o que Dan quisera dizer.
__Vocês ficaram sabendo do Campeonato de Duelos que o professor Flycken vai dar depois do retorno das férias? __perguntou Zig.
__Campeonato de Duelos? __disse Louise empolgada__ Nós não estamos sabendo. Como vai ser?
__Como vai ser nós ainda não sabemos __disse Cliffe__ Mas estão dizendo por aí que os duelos vão ser realizados sobre a presença de todos os elementos de Aragorn e parece que um deles vai ser sobre o mar...
__Mas o melhor de tudo vai ser os palcos __disse Zig abaixando a voz__ Fontes confiáveis nos informaram que Flycken vai transformar os arredores da Fonte Phoenix em verdadeiros cenários de duelo com direito a bosques de espinhos e lagos de lavas.
__Que maravilha! __exclamou Louise batendo palmas__ A última vez que Aragorn teve um Campeonato de Duelos foi a mais de cinqüenta anos atrás...
__Como você sabe disso? __perguntou Dan incrédulo.
__Bem, meu pai participou da última vez e ficou em segundo lugar e só perdeu por um homem esquisito... eu não me recordo o nome dele direito... eu acho que é Osman... Austin Osman!
__Osman? __disseram Lisa e Dan ao mesmo tempo.
__É, porquê?
__Quem diria... __disse Dan.
__Eu não sabia... __disse Lisa.
Louise olhou para os dois com um ar de que não estava entendendo nada, mas por um lado, ela percebeu que Dan e Lisa pelo menos aproximaram os olhares novamente, mesmo que fosse por uma fração de segundos.
__Bem, a gente se encontra na aula de Domínio do Elemento Terra... __disse Zig saindo com Cliffe e Tom.
__Até logo! Espere aí __disse Dan__ eles não estudam com a gente!
__Você não ficou sabendo, Dan? __disse Louise com um ar de reprovação__ As aulas de Domínio do Elemento Terra vão ser administradas junto com os moradores do Castelo dos Trons...
__Secoyan mora lá? __perguntou Dan cortando Louise.
__Imagino que não __disse Louise balançando os ombros__ Pelo que sei, os domadores de água residem no Castelo dos Gaullers...
Lisa recostou-se no banco do jardim e voltou seus olhos para o segundo andar do Castelo dos Bruxos, onde uma mancha cinzenta cobria parcialmente aquele andar, e tentou imaginar o que estava se passando lá dentro.
Meia hora após Maya ter sido chamada para depor, Neville saiu do Castelo dos Bruxos acompanhado do príncipe Gaya, de quatro sub-inspetores, por Lyon e por Alan Hart seguido de Robbie Felton. Maya foi à última a sair do castelo.
Louise, Lisa e Dan ainda estavam sentados nos bancos do jardim quando viram Maya passar ao lado de seu pai, Alan Hart, com uma expressão de triunfo. Na frente de Hart, Neville Chamberlain parecia impaciente e irritado, o mesmo valia para o príncipe Gaya.
__Pelo visto Maya encontrou uma forma de se exibir ao lado de seu pai! __disse Dan em um suspiro.
__Grande coisa! __disse Louise fechando a cara__ Todo mundo sabe que Hart possui uma conduta muito duvidosa e...
Neste momento, Neville passava a frente de Lisa. O inspetor geral de Azgrah lançou um olhar sombrio para Lisa como se ele a estivesse culpando por tudo que estava acontecendo. Lisa, por sua vez, estremeceu e desviou o olhar do inspetor.
Durante quase o dia todo, Maya ficou desfilando ao lado de seu pai como se quisesse ser o centro das atenções. O dia nublado e estranhamente lento passou e a última aula do dia reuniu os Pés Grandes da Fonte Phoenix e os bruxos e domadores de água num terreno pedregoso atrás das muralhas na parte norte.
Big Bertha, gigante como sempre, pôs-se a frente dos alunos e apoiou a grande perna direita sobre uma pedra.
__Como todos sabem, os domadoras do elemento terra possuem uma afinidade muito grandecom a áurea da natureza, yah! Para vocês, bruxos e domadoras de água, a afinidade com a áurea terrestre poderá ser de certa dificuldade considerável, yah!
Enquanto Big Bertha dava seu discurso sobre a futura dificuldade que os alunos não-Pés Grandes teriam em dominar o elemento terra, Grump, Gregor e Steven remendavam a gigantesca professora.
__...poderá ser de certa dificuldade considerável, yah! __disse Grump por último, imitando cada traço do tom de voz da professora.
Dan, Zig, Cliffe e Tom estavam na frente do círculo dos alunos quando escutaram Grump, Gregor e Steven imitando Big Bertha.
__Eu vou mostrar para eles...
__Não, Dan!
Dan olhou para o lado e viu Melissa segurando seu braço. Atrás dela, Tom Secoyan parecia sério.
__Me solta, Melissa! __disse Dan secamente__ Aqueles três precisam aprender uma lição...
__Não vale a pena se envolver com gente daquela laia, Dan...
__Quem é você pra me dizer o que devo ou não devo fazer?
O tom de voz de Dan pôde ser ouvido por Lisa e por Louise que estavam do outro lado do círculo. Por alguns segundos, Melissa e Dan ficaram olhando um para o outro. Naquele momento, Dan sentia uma raiva incontrolável dentro dele. Quem ela pensa que é?
__Por favor, meninos __disse Big Bertha lançando um olhar reprovador para Dan e Melissa__ Queiram prestar atenção aqui, yah!
__Me desculpe, professora!
Melissa deu de costas para Dan e desapareceu entre os alunos. Dan, por sua vez, voltou o olhar para Big Bertha e tentou se controlar.
__Agora, __disse Big Bertha minutos depois__ eu querer que cada um de vocês se ponham a frente de cada pedra e tentem ergue-las apenas com o domínio da terra
Big Bertha fez um movimento com as gigantescas mãos e, de súbito, várias pedras grandes saíram de dentro da terra. Os alunos ficaram em frente as suas pedras e tentaram fazer o que Big Bertha pedira.
__Não, não, não, senhor Mcanfly! __disse ela voltando-se para Grump__ Eu disse que era para usar apenas o domínio da terra e não do ar!
Dan olhou para Grump e o viu tentando erguer a pedra com um pequeno tornado abaixo dela.
Enquanto os alunos tentavam, sem sucesso algum erguer as pedras, Big Bertha passava de um a um dando dicas de como faze-las erguerem.
Lisa e Louise tentavam de forma desesperadora erguer as pedras, mas não conseguiram. Maya por sua vez, irritou-se com sua pedra e sacou a varinha.
__ Leviosa!
Maya guardou a varinha despistadamente e pôs as mãos sobre a pedra, fingindo que a fazia levitar.
__Muito bem, senhorita Hart! __disse Big Bertha ao ver a pedra na altura da cintura de Maya.
Louise imediatamente olhou para a pedra de Maya e ficou boquiaberta com o sucesso da rival. Ao ver Louise olhando para ela, Maya mostrou a língua e virou-se para a pedra que agora estava da altura dela. Louise voltou desanimada para sua pedra e suspirou.
__Eu não acredito que aquela coisa conseguiu!
Lisa olhou para a pedra flutuando e depois para Louise. Por um instante, ela deixou escapar um mero risinho. Pela primeira vez, Lisa via alguém superar Louise em alguma coisa, com exceção de Hariph que era bom em tudo.
__Talvez ela leve mais jeito para isso do que você, Louise! __disse Lisa vagamente.
__Não, não pode ser! __disse Louise, agora sentando sobre a pedra e lançando olhares para a pedra que agora estava a mais de um metro acima da cabeça de Maya.
__Hei! Quer uma ajuda? __sussurrou uma voz estranha por trás de Louise.
Lisa e Louise viraram para trás e viram Hariph olhando estranhamente para Lisa.
__Olhe para a pedra dela! __disse Hariph quase num sussurro__ O quê a faria subir tanto assim?
Louise voltou a olhar para a pedra de Maya e teve uma súbita idéia.
__É claro, o Feitiço de Levitação! Valeu, Hariph! __Louise virou para trás e não viu mais ninguém, Hariph havia desaparecido!
__Pra onde ele foi? __perguntou Lisa, incrédula.
__Isso não importa agora!
Louise olhou para os lados e certificando-se de que ninguém a observava, sacou a varinha e apontou para pedra de Maya.
__Finite Encantatem!
A pedra de Maya despencou de quase dois metros de altura acima da cabeça dela e caiu em cima dos seus pés. Maya abriu a boca até no canto e soltou um gigantesco berro.
__Aaaaaaaaaaaaaaai!!!
Big Bertha correu até Maya e fez um movimento com a mão. A pedra virou areia e desapareceu entre os pés amassados de Maya.
__Isso me cheirar um Feitiço de Levitação, senhorita! __disse Big Bertha lançando um olhar reprovador para Maya.
__Eu... eu não... usei... nenhum... feitiço! __disse Maya chorando.
Big Bertha voltou a lançar um olhar reprovador para ela e balançou a cabeça.
__Venha, eu levar você para a ala hospitalar!
Big Bertha pegou Maya nos braços e virou para os outros alunos.
__Vocês estar dispensadas por hoje! E, __disse voltando-se para Zig e Cliffe__ Cliffinho e Ziguinho, meus amores, não sumam para longe. Mamãe ainda quer dá bainho nos dois antes do jantar, yah!
Zig e Cliffe abaixaram as orelhas e se encolheram o máximo que puderam entre os alunos, mais vermelhos que uma pimenta malagueta, enquanto todos riam dos dois.
Antes de Big Bertha sair com Maya no colo, Louise fez um aceno desdenhoso para Maya. Ela, por sua vez, lançou um olhar fatal para Louise que se dissipou rapidamente quando seus pés achatados bateram em alguma coisa dura, enquanto Big Bertha virava-se, e uma dor incontrolável tomou conta dela.
__Bem que ela mereceu! __disse Louise triunfante enquanto passava pelo jardim norte.
__Coitada, Louise! __disse Alice ao lado dela e de Lisa__ Já pensou se fosse com você?
Louise não fez menção de responder a crítica de Alice e continuou a andar com um grande sorriso no rosto. Lisa, por sua vez, voltou a ficar preocupada com as investigações ao ver o segundo andar do Castelo dos Bruxos aparecendo entre as torres do Castelo dos Celtas. A aula com Big Bertha, a fizera esquecer dos problemas por algumas horas, mas agora, tudo voltava novamente a perturbar os seus pensamentos.
Zig e Cliffe entraram na Fonte Phoenix “escoltados” por Dan, Tom e Melissa. Desde que os dois saíram do terreno pedregoso atrás das muralhas norte, os alunos não pararam de fazer piadinhas sem graça sobre os Pés Grandes. Dan chegou a irritar-se com Grump, mas Melissa o impediu novamente de ataca-lo.
__O que foi Horcliffe, vai deixar uma mulher mandar em você, agora? __gritou Grump do outro lado do chafariz do jardim norte.
__Seu desgraçado...
__Não, Dan __Melissa segurou o braço dele e olhou seriamente para Dan__ Ele já provocou você demais por hoje!
__É mesmo Dan, não liga para o que ele fala... __disse Tom aproximando de Dan.
__Isso não vai ficar assim!
__O que foi Dan, por acaso você virou lacaio dessazinha aí? __gritou Grump lançando um olhar desdenhoso para Melissa.
__Agora ele passou do limite!
Melissa atravessou o jardim, passou pelo chafariz a passos largos e parou de frente para Grump.
__Seu imbecil!
Melissa fechou o punho e deu um soco tão grande no meio do nariz de Grump, que o rapaz caiu de cara no chão.
__Isso não vai ficar assim, eu juro! __gritou Grump enquanto estava sendo levantado por Gregor e Steven. Grump passou a mão no nariz e limpou o sangue que escorria__ Você me paga, Melissa!
Melissa e os outros já estavam longe quando Grump gritou e não puderam ouvir o que ele disse. Melissa, Tom, Zig e Cliffe estavam com um largo sorriso no rosto e debochavam do nariz quebrado de Grump enquanto voltavam para seus castelos. Dan, por sua vez, estava mais furioso do que nunca. Ele jamais admitia que uma mulher intrometesse em seus assuntos pessoais, principalmente se ela se chamasse Melissa.
A noite despencou implacável sobre a Fonte Phoenix trazendo com sigo o fim de mais um dia cansativo. Lisa descia as escadas da Sala Comunal quando viu Louise a esperando a frente da lareira.
__Até que enfim, Lisa! __disse Louise vindo ao encontro de Lisa.
As duas se juntaram e atravessaram a Sala Comunal. Antes de chegaram à porta, Lisa e Louise deparam-se com Maya que entrava na sala.
__Escuta aqui, queridinha! __disse Maya encarando Louise, aproximando e apontando o dedo para ela__ Eu sei que foi você quem fez aquela pedra cair sobre meus pés. Se não fosse a enfermeira que concertou meus pés __Lisa e Louise olharam para os pés de Maya e viram que eles estavam perfeitos__ agora eu estaria sentada numa cadeira de rodas sem poder andar! Agora, fique sabendo que eu não vou devolver o Localizol para você! Eu estava pensando seriamente em devolvê-lo, mas agora.... ESQUECE!
Maya de um risinho agudo e passou entre Lisa e Louise, esbarrando nas duas.
__EU VOU MATAR AQUELA DESGRAÇADA! __gritou Louise enquanto ela e Lisa iam para o refeitório.
__Louise, a culpa foi sua! __disse Lisa olhando para as pessoas que encaravam Louise enquanto ela se descabelava__ Ninguém mandou você desfazer o Feitiço de Levitação de Maya...
__EU NÃO ACREDITO NUMA COISA DESSAS! __continuou ela a gritar.
__Seja como for __suspirou Lisa__ agora vamos ter que encontrar outro modo de encontrar Madame Geoffrin...
__Não vai ser preciso! __disse Louise subitamente calma.
__Porque?
__Quando chegar a hora certa você vai saber!
Louise adiantou os passos e entrou no salão, que nesta noite, estava lotado de conversas sobre os depoimentos.
Após jantar, Lisa voltou para a Sala Comunal e sentou-se de frente para o quadro de seus pais com uma ligeira pulga atrás da orelha. Enquanto jantava, Lisa notou que algumas pessoas olhavam para ela e cochichavam alguma coisa. No momento, Lisa não deu importância ao fato, mas, quando a situação piorou, ela ficou preocupada. Quando ela subia as escadas espirais, Lisa passou por algumas que pessoas que encolheram na parede com medo dela. A mesma coisa aconteceu com Luft, o Gobelin, que toda vez saudava-a com um sorriso e um boa-noite e, desta vez pareceu amedrontado com alguma coisa. O que está acontecendo com eles?
Lisa se afundou nos pensamentos ao mesmo tempo em que ela tinha a impressão de que seus pais a estavam observando. A Sala Comunal estava estranhamente vazia, apenas Lisa permanecia lá. Nem Louise, nem ninguém entraram na sala num período de duas horas. Quando finalmente alguém passou pela porta, Lisa teve um choque. Era Neville Chamberlain seguido por duas Sentinelas.
O suspeito
Lisa levantou da poltrona e afastou para trás. Chamberlain fez um movimento, para as duas Sentinelas, com a mão e encaminhou-se até Lisa. As Sentinelas permaneceram na porta, captando as ondas psíquicas de Lisa.
__Então, você é a famosa Bruxa de Fogo! __disse Neville fixando os olhos em Lisa__ Pensei que seria mais corajosa que as suas antepassadas...
Neville olhou para as Sentinelas na porta e deixou escapar um risinho torto na boca.
__O que quer? __perguntou Lisa tremendo e de olho nas Sentinelas.
Chamberlain puxou uma poltrona e sentou-se de frente para Lisa. Em seguida, ele tirou as luvas pretas de couro das mãos e apoiou-as no braço da poltrona.
__Acredito que você já esteja a par da situação em que a Fonte Phoenix encontra-se neste momento __disse Neville cruzando as pernas__ Sabe, Lisa, nenhum de seus amigos gostariam de ver este lugar fechado e abandonado por causa de um mero capricho...
__Me desculpe, mas eu não estou entendendo o que quer dizer... __interrompeu Lisa ainda de olho nas Sentinelas.
__Eu vou ser mais claro __Neville levantou da poltrona e começou a dar uma volta em torno de Lisa__ Hoje ao amanhecer, um passarinho me contou que você sabia que alguém morreria na noite do assassinato de Lauro Ravenclaw! __Chamberlain parou de frente pra Lisa e fixou seus olhos negros nos dos dela__ Como ficou sabendo que alguém morreria antes mesmo de ocorrer o assassinato? Por acaso você sabe quem é o assassino?
__Eu... eu não sei de nada!
__Eu sei que você sabe, não minta! __disse Chamberlain empurrando Lisa contra a parede da Sala Comunal__ Você sabia que alguém morreria... pessoas escutaram você falando isso...
__Eu não sabia ao certo se alguém iria morrer ou não __disse Lisa acuando-se a parede__ Eu ouvi uma voz enquanto passava pelo corredor...
__Uma voz! __exclamou Neville entre os dentes.
__U-uma voz, senhor! Ela disse que alguém morreria à noite.
Neville voltou a fixar o olhar nos olhos de Lisa e pareceu pensar em algo por alguns segundos. Por fim, ele saiu de perto de Lisa e deu dois passos à frente.
__Você não espera que eu acredite numa besteira dessas, espera? __disse Neville subitamente.
__Mas é a verdade! __disse Lisa ainda encostada a parede com os olhos fixados nas Sentinelas.
__Não! Isso não é a verdade!
Neville voltou a jogar Lisa contra a parede. Ele lançou um olhar penetrante nos olhos de Lisa. O inspetor lançou um olhar de fúria para ela. No fundo dos olhos dele, Lisa via a sombra de um homem implacável.
__Acredite ou não, essa é a verdade! __disse Lisa lentamente__ Eu ouvi uma voz me dizendo... não sei de quem era a voz e nem de onde ela vinha...
__Isso é mentira! __gritou Neville entre dentes__ Vozes não surgem do nada para nos dizer que alguém irá morrer... Você, certamente, deve ter visto o assassino contar isso a alguém. Não omita a verdade a um inspetor de Azgrah.
__Eu não estou omitindo a verdade, senhor, ao contrário, estou contando tudo o que sei...
__Não, não está __disse Neville quase num sussurro.
Neville aproximou sua cabeça do rosto de Lisa e fixou seus olhos no olhar dela. Por um instante, os olhos do inspetor ficaram mais escuros e uma fumaça espessa surgiu lentamente dentro deles. Neste instante, Lisa teve a estranha sensação de que Chamberlain estava vendo algo dentro de seus olhos.
__Eu sei que você esconde muitas coisas....
__Não sei do que está falando....
__Não adianta mentir! __grunhiu Neville__ Eu vejo uma carta em seus olhos... letras de fogo... um aviso... morte... e __o inspetor espremeu os olhos e Lisa sentiu que ele extraía algo dela__ um homem... Mayer Slater...
__JÁ CHEGA CHAMBERLAIN! __gritou uma voz surgindo à porta.
Neville virou para trás ao mesmo tempo em que Lisa viu Gaya entrando na sala com uma expressão de aborrecimento.
__Eu já lhe avisei Chamberlain para não incomodar os alunos à noite! __disse Gaya num tom de voz grosseiro__ Se quiser tomar os depoimentos, pois bem, faça isso ao dia ou se quiser.... faça em Azgrah!
__Por acaso está me expulsando da Fonte Phoenix, príncipe Gaya!
Naquele instante, Gaya e Neville se encararam. O inspetor tinha um sorrisinho desdenhoso no rosto e Gaya, uma ruga de aborrecimento que aumentava cada vez mais na sua testa.
__Você sabe que sua presença aqui não me agrada nem um pouco, Chamberlain! __grunhiu Gaya__ Eu concordei com sua presença aqui com a condição de que meus alunos não fossem incomodados fora de hora...
__E sua condição está sendo respeitada __ disse Neville ainda com um sorriso desdenhoso no rosto__ Eu estava apenas trocando umas idéias com a tão lendária Bruxa de Fogo, não é mesmo?
Neville virou-se para Lisa, mas ela não concordou e nem desmentiu __seus olhos vibravam na direção das Sentinelas.
__Bem, creio que amanhã teremos um longo dia para terminarmos o nosso assunto, Lady Bladefire!
Lisa olhou para Neville tentando entender por que ele a chamara de Lady Bladefire. Essa não era a primeira vez que isso acontecera. Quando Lisa estava no Mundo dos Humanos, Crowley também a havia chamado desse jeito.
__Boa noite!
Neville se retirou da Sala Comunal junto com as Sentinelas. Após Chamberlain sair pela porta, Gaya virou-se para Lisa e disse:
__Lisa, o que Neville Chamberlain queria com você?
Lisa ficou séria e depois de alguns segundos ela contou tudo.
__Eu já imaginava que isso aconteceria __disse Gaya pensativo.
__Você também já sabia? __perguntou Lisa lentamente.
__Sim. Eu estava na sala quando Maya Hart contou que você sabia que alguém morreria naquela noite para os inspetores...
Então foi assim que Neville ficou sabendo! Maya contou a ele.
__Lisa, agora eu gostaria que você se abrisse e me contasse tudo que sabe.
Gaya apontou uma poltrona à frente dele e Lisa sentou-se. Depois de alguns segundos pensando, Lisa falou:
__Depois que eu ouvi a voz no corredor que dava acesso à sala de Athus, bem... eu desmaiei...
__Então foi por isso que você foi parar na enfermaria __interrompeu o príncipe__ Por que não me contou?
__Eu não queria deixa-lo preocupado com uma coisa boba...
__Não era uma coisa boba! __Gaya ficou sério e olhou para Lisa__ Lisa, quando alguém ouve vozes que não possuem origem em lugar algum, significa que alguém em alguma parte do universo quer lhe alertar sobre algo que poderá acontecer futuramente. Esse é um fenômeno raro que poucas pessoas conseguem presenciar. Há relatos de que algumas pessoas, depois de terem ouvido as estranhas vozes várias vezes, se tornaram verdadeiros Oráculos.
__Oráculos? Quer dizer, pessoas que prevêem o futuro?
__Exatamente! Lisa, para você, o que aconteceu é extremamente natural. Mysth, sua mãe, também ouvia vozes. Eu posso dizer que ela era um dos maiores Oráculos que Aragorn já viu. Tudo que aconteceu com você, também aconteceu com sua mãe no passado. Está no seu sangue. Hereditariamente, você é uma sucessora dos Oráculos. O dom da predestinação a segue por onde quer que você vá.
__Isso explica algumas coisas __disse Lisa pensativa__ Antes de Dan, Zig, Cliffe e eu fugirmos da aldeia das Ruínas Antigas, eu tive uma grande sensação de que alguém traía a sua confiança.
__Goblin! __murmurou Gaya.
Os dois calaram-se. Gaya sentiu uma grande raiva em pensar na traição de Goblin e uma raiva ainda maior em pensar que Neville desobedecera as suas ordens.
__Entrementes, a voz estava certa __murmurou Lisa.
__Como?
__A voz. Alguém morreu aquele dia. Lauro Ravenclaw. Se ao menos eu tivesse seguido o conselho de Louise e ter contado a você o que eu ouvi talvez ele ainda estivesse vivo!
__Não, não estaria __disse Gaya, sério__ Você não sabia quem iria morrer...
__Eu pensei que seria alguém da Fonte Phoenix, mas me enganei!
Gaya calou-se. O príncipe pareceu distanciar seus pensamentos para fora da Sala Comunal. Ele agora olhava para as janelas. Uma escuridão sem fim tomava conta do lado de fora do castelo, apenas as luzes dos outros castelos eram visíveis.
__Lisa, __disse voltando-se para ela__ Neville tentará arrancar mais alguma coisa de você amanhã. Eu gostaria que você evitasse olhar nos olhos de Chamberlain.
__Porque?
Príncipe Gaya levantou da poltrona e foi até a janela. Depois de um suspiro ele respondeu:
__Os inspetores de Azgrah não são humanos, Lisa! Eles foram criados pela Ordem dos Lordes para serem criaturas perfeitas e implacáveis em suas investigações. Às vezes eu chego a pensar que eles são irritantes até demais...
“Bem, de qualquer forma, evite olhar profundamente nos olhos de Neville Chamberlain. Os olhos dele podem buscar lembranças perdidas em sua mente. É assim que eles descobrem quem é o assassino de algum crime. Eles são implacáveis!”.
__Mas eu não tenho nada a esconder dele. Não sei quem é o assassino e...
__Eu sei, Lisa, eu acredito em você __interrompeu Gaya saindo de frente das janelas e voltando para o centro da sala__ Acontece que eu não quero que Neville saiba nada sobre... a carta!
Príncipe Gaya pronunciou a palavra “carta” num murmúrio tão baixo que se Lisa não estivesse prestando atenção no que ele dizia, não teria escutado.
__Como você sabe sobre a carta de Slater? __perguntou Lisa perplexa.
__Não gaste seu tempo em tentar descobrir como eu soube da carta de Mayer Slater, preocupe-se com Chamberlain e com o que está preocupando você!
Gaya piscou o olho para Lisa e saiu na direção da porta.
__Príncipe Gaya, espere! Como...
__Boa noite, Lisa! __Gaya abriu a porta e quando estava saindo, virou-se para dentro da Sala Comunal e sussurrou para Lisa__ Ah, a propósito, utilize as férias do meio do ano para descobrir mais coisas, mas por enquanto preste muita atenção nas aulas. Elas podem ser de muita serventia para você. Está bem? Então, boa noite, Lisa!
Lisa voltou para o quarto pensando no que Gaya lhe dissera. Será que ele sabia de tudo que havia acontecido com ela? Será que Athus havia contado para ele? E a carta de Slater, Athus não sabia dela, como Gaya soube?
__Lisa, o que aconteceu? __perguntou Louise entrando energicamente junto com Dan no quarto.
__Chamberlain impediu a gente de entrar no castelo e depois Gaya apareceu e expulsou as Sentinelas que vigiavam as entradas... __disse Dan.
Lisa contou todos os detalhes da conversa com Neville Chamberlain e com Gaya. No fim, quando Lisa já estava com a garganta seca, Louise a interrompeu.
__Quer dizer então que Neville sabe sobre a voz que você ouviu e o príncipe Gaya sabe sobre a carta de Mayer Slater, é isso?
__Mas como os dois ficaram sabendo disso tudo? __perguntou Dan depois que Lisa confirmou a pergunta de Louise.
__Eu não sei como Gaya soube da carta, mas, quem contou a Neville sobre a voz foi... ahn... Maya! __Lisa demorou a pronunciar o nome de Maya com medo da reação de Louise, mas foi inevitável, Louise faltou pouco soltar fogo pela boca.
__O QUÊ? AQUELA FILHA DA...
__Louise! __gritou Lisa__ Não adianta cuspir fogo pela boca. Maya só contou a Neville por que achou certo. Eu teria feito o mesmo!
__Não Lisa, você não teria feito o mesmo! __disse Louise__ Maya colocou você sobre suspeita dos assassinatos. Você não entende o tamanho da gravidade? Chamberlain andará atrás de você, te vigiando noite e dia, fazendo insinuações... Lisa, Chamberlain não é humano, ele pode muito bem buscar respostas na sua cabeça e distorce-las para usar em próprio benefício...
__Eu sei disso, Louise __disse Lisa começando a aumentar o tom de voz__ Gaya me contou sobre Neville e sobre todos os inspetores de Azgrah. Eu sei que ele não é humano como nós e que pode ler pensamentos através dos olhos... Ele começou a ler os meus pensamentos e buscar respostas para o que ele queria, mas Gaya apareceu e tirou ele da Sala Comunal...
__Chamberlain leu sua mente, Lisa? __perguntou Dan parecendo mais preocupado do que Louise.
__Bem, a essa certa altura ele já sabe sobre o sonho que tive, sobre a carta e sobre... Slater!
__Bem, isso não é tão ruim! __exclamou Dan enquanto levava a mão ao queixo.
__Como não é? __disse Louise__ Se Chamberlain descobriu algo sobre Mayer Slater ele pode dizer que Lisa está envolvida com ele!
__Ele não seria capaz de distorcer o que realmente aconteceu, seria? __perguntou Lisa__ Bem, se ele viu algo sobre Slater em meus olhos eu acredito que ele deve ter visto também o que estava escrito na carta, ele pronunciou o nome da carta...
__Lisa, você não conhece os inspetores de Azgrah! A missão deles é ser implacável nas investigações. Qualquer coisa, por mais mínima que seja, que eles vêem nos olhos de uma pessoa, eles interpretam mal e levam-na a julgamento __Louise parou de falar, olhou para os rostos de Dan e Lisa e depois continuou__ Se Neville achar que você tem alguma ligação com Slater, ele vai leva-la a julgamento somente pelo simples detalhe de seu nome estar envolvido com um General das Trevas...
__Então a coisa é mais pior do que parece! __exclamou Dan após um suspiro.
__Lisa, você precisa tomar cuidado com Neville Chamberlain. Como você disse, ele vai querer tirar seu depoimento amanhã. Haja o que houver, não olhe nos olhos dele, ouviu, Lisa?
Dan e Louise fitaram Lisa e essa acenou com a cabeça.
__Bem, e Gaya __disse Louise por fim, agora, parecendo mais aliviada__ como será que ele soube da carta?
__Eu não sei __disse Lisa abaixando a cabeça__ Mas, é estranho, antes de Gaya sair da sala ele disse algo que me fez entender que ele sabe tudo o que está acontecendo, desde o sonho, a carta até Madame Geoffrin!
__Porque você acha isso, Lisa? __perguntou Dan.
__Gaya me disse para me preocupar com Neville Chamberlain e com o que estava me preocupando e não em descobrir como ele soube da carta. Ele me disse ainda que se eu quisesse descobrir mais coisas, era para utilizar as férias do meio do ano, e ainda disse para eu prestar atenção nas aulas porque elas seriam úteis para mim...
Dan e Louise escutaram em silêncio. Dan não fez menção alguma de falar algo. Louise, por sua vez, pensou por um instante e suspirou.
__Eu não acredito que depois de todos esses anos, Gaya continue tão misterioso quanto o pai! __Louise pôs-se de pé e se esticou__ Bem, como Gaya mesmo disse, é melhor nos preocuparmos com o Neville e com o que nos está preocupando. Isso siguinifica que eu ainda tenho um acerto de contas com Maya Hart, ah se tenho!
O último dia de aula da semana amanheceu da pior forma possível. As tempestuosas nuvens cobriram totalmente o sol e sobre os sete castelos pontiagudos da Fonte Phoenix, uma chuva forte caía embalada pelos furiosos raios e trovões aragornianos.
Lisa entrou no salão do refeitório com um ligeiro friozinho na barriga. Como na noite anterior, por onde Lisa passava, as pessoas se afastavam como se temessem algo. Era óbvio que todos já sabiam que Maya contara sobre a estranha voz que Lisa ouviu para o inspetor de Azgrah e agora se comportavam como se ela fosse uma cúmplice do assassino. Lisa achava incrível como as pessoas mudavam tão repentinamente. Quando o Canidópulus atacou o Castelo dos Gaullers, Maya espalhou para todo mundo o que tinha ouvido Lisa falar com Louise e, no entanto, poucos deram atenção ao assunto. Mas agora era diferente, um inspetor de Azgrah estava pessoalmente engajado no assunto e disposto a tirar de Lisa tudo o que sabia. È claro que ela não sabia de nada, mas para Neville, havia muitas coisas escondidas nos olhos verdes esmeraldas da garota. Cada vez que Lisa pensava no inspetor, seu estômago afundava e parecia que um iceberg estava se formando dentro dele.
Após o café da manhã __com Louise tramando aos ouvidos de Lisa, uma forma de como pegar o Localizol de volta e se vingar de Maya; e com Dan ainda esquisito com ela__ as coisas pioraram quando Lisa chegou ao hall de entrada e uma multidão de alunos, todos vestidos com mantos pretos, correram até ela seguindo Alan Hart e Robbie Felton, que incansavelmente não parava de tirar fotografias.
__Por favor, senhorita Bladefire, uma palavrinha para a Folha do Centauro...
Alan Hart estava vestido de preto como de costume. Hoje, ao invés de segurar uma bengala, ele segurava um rolo de pergaminhos com mais de dois metros de comprimento e uma gigantesca pena branca de uma Fowl.
Hart se aproximou tanto de Lisa que ela chegou a pensar que seria jogada contra a parede. O mesmo aconteceu com os alunos curiosos que cercaram Lisa, Hart e Felton num círculo apertadíssimo.
__Como a senhorita ouviu a voz? Onde a senhorita estava quando a ouviu? Como soube que Lauro iria ser assassinato àquela noite? De quem era a voz?...
__Espera aí, eu não sabia que Lauro ia ser assassinado...
Antes mesmo de Lisa terminar o que estava dizendo, Hart a interrompeu com mais meia dúzia de perguntas.
__Conte-nos sobre sua amizade com a voz. Por acaso ela é algum aluno da Fonte Phoenix ou algum fugitivo de Azgrah com quem mantém intimidades...
__Eu não sei de quem é a voz... e também não mantenho intimidades com ninguém! __um nervosismo arrebatador estava subindo a cabeça de Lisa, obrigando-a a gritar entre meio os flashes ofuscantes da máquina de Felton__ Quer parar de tirar fotos!
Mas Felton não parou de tirar fotografias. Hart, por sua vez, escrevia rapidamente no pergaminho como se sua mão fosse uma máquina de datilografar, ia e voltava em questão de segundos.
__Por favor, senhorita Bladefire, conte-nos o que sabe sobre o assassino...
__Eu não sei quem é o assassino! __gritou Lisa__ E por que está me chamando de senhorita Bladefire?... Quer parar de tirar fotografias!
Lisa sacou a varinha e apontou para o elfo-ratazana. Imediatamente a reação de quem estava cercando Lisa foi uma só. Todos recuaram para trás, com exceção de Alan Hart que parecia descrever todos os movimentos de Lisa, e prenderam a respiração. Lisa olhou para a reação inesperada de todos e franziu a testa.
__Vocês não estão achando que eu ia atacar ele, estão?
Os alunos murmuraram algo que Lisa não entendeu. Felton abaixou a máquina, que erguera a altura do rosto para se proteger, e correu para trás de Hart. Lisa moveu os lábios para dizer algo quando uma voz a chamou do fundo do hall.
__Lisa Torner! __gritou Lyon__ O inspetor a está esperando no segundo andar. Queira me acompanhar, por favor!
Os alunos olharam um para o outro e voltaram a cochichar algo. Lisa olhou para o homenzinho magricelo e acompanhou-o pelas escadas.
Lyon conduziu Lisa por um corredor, mais escuro do que os outros, do segundo andar. Enquanto caminhavam pelo corredor escuro, Lisa observou o ajudante de Neville. Lyon parecia ser um homenzinho bem mais magro do que da outra vez em que ela o vira pela janela do quarto quando Neville examinava o corpo de Christian Ravenclaw. O ajudante do inspetor tinha braços longos e cabelos ruivos. Ele usava uma roupa simples alaranjada que consistia em um suéter de lã e uma calça amarela. Lisa percebeu que Lyon parecia aborrecido com as roupas, pois a todo o momento, olhava para elas e resmungava algo como “... trabalho feito louco e ele só me dá esses trapos como pagamento, quem ele pensa que é...?”
Depois de alguns minutos andando, Lisa viu que as paredes do corredor estavam ficando cinzas e percebeu que estava chegando a sala de Neville. Aos poucos, a cada passo, um medo aumentava no interior de Lisa. Ela sabia que as Sentinelas estavam na sala. E agora, como controlar o medo? Mas não deu tempo para pensar, Lyon e ela já estavam de frente a uma grande porta de carvalho. Lisa olhou para Lyon e o viu tirar uma varinha velha e descascada do bolso e apontar para a fechadura da porta. Uma luz entrou pelo buraco da fechadura e em seguida a porta se abriu sozinha.
Lisa sentiu um medo imenso subir sua espinha ao entrar na sala escura. No fundo, um homem entre as sombras estava sentado numa poltrona com as pernas e as mãos cruzadas. Lisa parou de súbito, ela sentiu algo se movendo no tempo, mas Lyon a empurrou e puxou uma poltrona para ela sentar. Após deixar Lisa acomodada a frente do homem, Lyon desapareceu entre a escuridão da sala.
__Essa, senhorita Bladefire __disse a voz__ é o aspecto das masmorras de Azgrah. Lá, tudo é escuro, sem vida, não há luz...
__Me desculpe, mas porque me chama de senhorita Bladefire? __perguntou Lisa tentando focar o rosto do homem, ela conhecia a voz, mas não sabia de quem era.
__Deixemos essas cordialidades de lado, Lisa __disse lentamente o homem__ e vamos ao que interessa!
O homem estralou os dedos e as cortinas abriram rapidamente. Meio ofuscada pela fraca luz que vinha do tempo chuvoso lá fora, Lisa viu duas criaturas negras envoltas em panos esconderem-se atrás das poucas sombras que restaram na sala. Lisa olhou para um lado e viu Lyon ainda olhando para as vestes e resmungando algo. Ao olhar para frente, finalmente Lisa viu quem era o homem: Neville Chamberlain.
__Minhas criancinhas não gostam muito da luz, Lisa __disse Neville olhando para as quatro Sentinelas escondidas atrás das sombras dos móveis.
Lisa olhou meio receosa para os bolos de panos pretos que se encolhiam atrás dos móveis. Foi nesse momento que Lisa pôde observar o tamanho da sala. Ela era bem grande e tinha pelo menos umas cinco janelas. Os móveis eram todos de mogno. Havia várias poltronas espalhadas no centro da sala e uma mesa de escritório no fundo dela.
__Não se preocupe, Lisa __disse Neville vendo que Lisa tremia e olhava para as Sentinelas__ enquanto as janelas estiverem abertas, meus anjinhos não farão mal a você, a menos que eu ordene... __Neville lançou um olhar sombrio para Lisa seguido de um sorrisinho torto na boca__ É estranho sabia?
__Me desculpe, mas o que é estranho? __perguntou Lisa tentando não olhar nos olhos de Neville.
__É estranho esse medo furtivo que você sente pelas Sentinelas! __Chamberlain descruzou os dedos e abaixou a mão__ Sabe, ninguém percebe que você as teme, só sabem quando você treme... mas eu sou diferente, nada fica oculto para mim. Eu sei muito bem que você já estava sentindo medo muito antes de entrar nessa sala. Admita, Lisa, as Sentinelas são o seu ponto fraco! Nem mesmo o maior dos assassinos frios e sanguinários não deixa de sentir medo de uma Sentinela, mas então, porque uma Bruxa de Fogo sente?
__E-eu não sei, se-senhor __disse Lisa atropelando as palavras.
Como ele soube disso sem ao menos olhar em meus olhos?
__Ah, você não sabe... bem, isso é interessante, quero dizer, sempre que alguém sente algum medo ele sabe o motivo pelo qual o sente __Neville apoiou-se sobre seus joelhos, de forma a olhar mais de perto nos olhos de Lisa__ Sabe, Lisa, é essa atitude que eu mais aprecio numa pessoa. Eu gosto de adivinhar o motivo de tanto medo, porque sempre atrás de um medo, há um razão. Pelo incrível que pareça, minhas amiguinhas ali, __Neville apontou para as quatro Sentinelas__ gostam de pessoas assim. O trabalho delas torna-se mais interessante. As ondas psíquicas ficam mais gostosas e aí, bem, e aí a caça fica mais emocionante!
Lisa sentiu um arrepio ao ouvir a última palavra. Ela não olhava para Neville em momento algum, o que aparentemente estava deixando o inspetor frustrado.
Neville suspirou e continuou.
__Bem, vamos fazer um teste, Lisa? __perguntou Neville levantando-se.
__Teste?
__É, um teste. Ontem você me disse que não escondia nada, mas eu descobri, Lisa, que você esconde muitas coisas. Um medo súbito por Sentinelas.... uma carta... um sonho estranho... vozes... visões e... algo que me chamou muita atenção, mas muita atenção mesmo!
__E o que foi?
Neville não respondeu de imediato. Ele deu a volta por trás de Lisa e sussurrou em seu ouvido:
__Mayer Slater!
Lisa arregalou os olhos e ficou espantada. Como ele soube?
__E então, __o tom de voz de Neville mudou, agora parecia arrogante e implacável__ que relações tem com um General das Trevas, Lisa?
__Ne-nenhuma, senhor.
__Isso não é verdade! __Chamberlain entrou na frente de Lisa deixando o rosto dele a menos de meio palmo do dela, no entanto, Lisa não olhou para seus olhos__ Eu sei que você e Slater estão trocando informações através de cartas. Por acaso é ele quem matou os Ravenclaws ou é você a assassina?
__Não fui eu? __gritou Lisa. Por uma fração de segundos seus olhos encontraram-se com os do inspetor, mas ela desviou o olhar__ Eu não sei de nada e também nunca vi Mayer Slater!
__Isso não é verdade! __atacou Neville com um olhar furioso__ Qualquer pessoa sensata sabe que quem mantém relações com Mayer Slater está vadiando para o lado das trevas...
__Eu já disse, eu nunca conheci Slater! __gritou Lisa.
__Então como explica a carta? __rosnou Chamberlain.
Lisa calou-se. Seu coração batia aceleradamente. Ela não sabia como contar ao inspetor sobre o que realmente estava escrito na carta. E se contasse, ele não acreditaria.
__Vejo que vai ser mais difícil do que imagino, Lisa! __Neville afastou-se de Lisa e deu duas voltas em torno de si mesmo, pensando__ Mas eu tenho a solução para tudo!
Lisa tentou olhar para o inspetor sem olhar diretamente nos olhos dele. Neville se aproximou da poltrona e moveu os lábios. Lisa ouviu-o dizer algo estranho. As palavras que saíram da boca do inspetor pareciam um simples vento batendo contra os galhos secos de uma árvore, não tinham sentido algum e pareciam zunir em seus ouvidos.
De repente, depois que Neville fechou a boca, Lisa estremeceu e seus olhos se arregalaram. Um medo incontrolável envolveu o seu corpo. Sua marca começou a doer repentinamente. Lisa sentiu a cor das pernas e de suas vestes desaparecerem aos poucos, dando lugar a um cinza lunar sombrio. Quando ela ergueu a cabeça, uma Sentinela estava de frente para ela com as garras abertas, envolvidas por correntes, pronta para ataca-la.
Lisa levantou da poltrona, mas caiu para trás. A Sentinela planou sobre o corpo de Lisa e ergueu as garras. Naquele momento, Lisa viu os olhos enevoados da Sentinela e o rosto sem boca e nariz da criatura. Antes de a criatura abaixar as garras, Lisa viu Neville atrás da Sentinela. Os olhos do inspetor brilhavam e uma nuvem se movia dentro deles. Lisa percebeu, então, que ele fitava seu olhar nela.
A Sentinela terminou de erguer a garra e desceu contra Lisa. Porém, antes das garras acertarem Lisa, uma voz ecoou pela sala seguida de uma luz ofuscante.
__Ex Ducere!
A expulsão de Neville Chamberlain e o retorno dos grifos de Allenah
Lisa dormia profundamente. Ela sonhava com seus pais e com sua tia. Eles estavam todos reunidos em volta dela, dando-a parabéns pelo seu décimo sexto aniversário. Décimo sexto aniversário? Lisa despertou aos poucos, consciente de que fora tudo um sonho, ela tinha dezessete anos e jamais poderia fazer dezesseis anos novamente. Enquanto, ainda meio sonolenta, seu sonho dava voltas em sua cabeça, uma voz penetrou seus ouvidos.
__Bem feito para ele! __disse uma voz de mulher. Era Louise, Lisa conseguiu distinguir. Mas o que ela está fazendo em meu sonho?
__Neville Chamberlain passou dos limites! Gaya teve toda razão em fazer o que fez... __É a voz de Dan, mas o que ele também está fazendo em meu sonho?
O sonho de Lisa parou de dar voltas em sua cabeça e ela finalmente abriu os olhos. Ainda com a visão embaçada, Lisa viu um homem e uma mulher no fundo do quarto. Realmente eram Dan e Louise que conversavam.
Lisa levantou da cama e esfregou os olhos. Ao abri-los, viu Louise vindo em sua direção.
__Ah, Lisa como está? Dormiu bem?
__Ora Louise, isso é coisa que se pergunte? Ela dormiu o resto do dia, sem falar da noite inteira...
__Francamente, Dan! É só um modo de falar...
__O que está acontecendo? __perguntou Lisa cortando a discussão dos dois__ Por que disseram que eu dormir o dia inteiro?
Dan e Louise olharam um para o outro e depois responderam:
__Você não se lembra? __perguntou Louise.
__Se ela não se lembrasse não estaria perguntando...
Louise lançou um olhar furioso para Dan. O rapaz franziu a testa e apressou-se a dar uma resposta para a pergunta de Lisa.
__Bem, ontem de manhã, Neville mandou uma Sentinela atacar você dentro da sala dos depoimentos...
__Mas tudo terminou bem. Gaya chegou bem na hora e expulsou a Sentinela e... Chamberlain também.
__Neville Chamberlain foi expulso da Fonte Phoenix? __perguntou Lisa organizando as informações na cabeça e relembrando do que aconteceu.
__O príncipe Gaya ficou furioso ao ver a Sentinela atacando você __disse Louise arrastando uma poltrona para perto da cama de Lisa e se sentando nela__ Imediatamente ele tirou Neville de dentro da sala e mandou-o embora daqui...
__Não foi fácil, sabe, Chamberlain não queria ir embora...
__Ele dizia que Gaya não tinha autoridade alguma para expulsa-lo da Fonte Phoenix, pois estava aqui a mandado da Ordem dos Lordes...
__Mas Gaya não ouviu Chamberlain e ordenou que os Trasgos o tirassem a força, foi a maior confusão. Sentinelas voavam de um lado para o outro... Chamberlain discutindo com Gaya... Pensei que ambos iriam sacar as varinhas e duelar no meio de todo mundo! __disse Dan.
__Quem gostou da confusão foi aquele idiota do Alan Hart. Ele não parava de fazer anotações no pergaminho e aquele elfo-ratazana repugnante, não parava de tirar fotografias. Mas bem que a alegria dos dois acabou logo, Godric apareceu e ameaçou Hart e Felton. Foi engraçado vê-los entrando na carruagem e partindo apressados. Você precisava ver a cara da Maya ao ver o pai fugindo como um covarde! __disse Louise rindo.
Um breve silêncio ecoou pelo quarto. Lisa cruzou as pernas sobre a cama e, por um momento, viu a Sentinela atacando-a, os olhos de Neville brilhando atrás da criatura e a luz, que certamente era do feitiço de Gaya.
__Neville fala com as Sentinelas __disse Lisa quebrando o silêncio.
__Como? __perguntou Dan.
__Lisa, Sentinelas não possuem ouvidos! __disse Louise ficando séria.
__Não, eu tenho certeza __afirmou Lisa__ Eu ouvi Neville dizer algo sem sentido para uma das Sentinelas. Quando eu dei por mim, estava sendo atacada por ela.
__Mas por que ele faria isso? __perguntou Dan.
__Foi justamente o que Gaya perguntou a Chamberlain __disse Louise levantando da poltrona__ Lisa, Chamberlain passou dos limites! Foi por isso que Gaya o expulsou da Fonte Phoenix. É inadmissível que um inspetor mande uma Sentinela atacar um dos alunos. Gaya jamais poderia permitir tal ato...
__Mas por causa disso, Gaya vai ser indiciado... __comentou Dan lentamente.
__Como assim? __perguntou Lisa.
__Lisa, antes de Neville Chamberlain sair da Fonte Phoenix, ele prometeu ao príncipe Gaya que isso não iria ficar assim. Certamente ele vai contar a Ordem dos Lordes o que ouve, quero dizer, o que houve na versão dele, o que não é muito válido já que ele não tinha nenhum motivo para mandar a Sentinela ataca-la.
__Resumindo, Gaya ficará bem diante da Ordem dos Lordes...
__O que pode acontecer se Gaya for indiciado?
Dan e Louise olharam novamente um para o outro e desviaram os olhares.
__Gaya... bem, ele poderá ser... destronado!
__Você não pode ser destronado!
Lisa ainda não acreditava no que estava acontecendo. O mesmo valia para Gaya, que parecia atordoado com a situação.
__Sim, eu posso, Lisa! __Gaya saiu de perto da janela da sala real e sentou-se no trono dourado__ A Ordem dos Lordes, em termos, manda em mim. Mesmo eu sendo príncipe de Aragorn, sou obrigado a aceitar as decisões que a Ordem tomar. Sou submisso a ela!
__Mas...
__Não há mas, Lisa! __interrompeu Gaya__ Há algum tempo que a Ordem tenta me destronar... Sabe, eu fui coroado muito novo, tinha apenas cinco anos quando entrei no comando dos seis reinos. Muitos foram contra, mas uma boa metade da população de Aragorn me apoiou e ainda me apóia. Sabe, Lisa, eles são fiéis a mim e... enquanto forem fiéis, continuarei no trono de Aragorn.
__As coisas não deveriam ser assim! __suspirou Lisa.
Gaya encostou a cabeça no trono e fechou os olhos; pareceu pensar em algo. Depois, levantou-se do trono e foi até Lisa, ficando de frente para ela.
__Não se preocupe __Gaya pegou nas mãos de Lisa e olhou para ela__ Enquanto Godric estiver por perto e eu ainda estiver no meu juízo perfeito, a Ordem não poderá fazer nada. Nem mesmo Neville poderá fazer algo contra você, porque eu e Martius vamos protege-la, custe o que custar, nem que para isso tenhamos que dar nossa vida...!
Lisa ergueu os olhos e fitou o olhar encantador do príncipe. Por alguns segundos, ambos ficaram olhando um para o outro.
__Você acha que Chamberlain vai voltar pra terminar o que estava fazendo? __perguntou Lisa, tirando as mãos debaixo das mãos de Gaya.
__Acredito que sim __disse Gaya lentamente__ Neville saiu muito confiante da Fonte Phoenix. Havia, por trás do rosto irritado, um brilho inconfundível nos olhos dele. Certamente Chamberlain conseguiu ver mais alguma coisa nos seus olhos...
__Eu evitei olhar para ele! __disse Lisa rapidamente.
__ Eu não sei como ele fez, mas acredito que ele conseguiu olhar em seus olhos, mesmo que você evitou olha-lo. Neville possui muitas formas de conseguir o quer...
__Você acha que ele mandou a Sentinela me atacar para...
__Não sei, Lisa. Pode ser __Gaya se calou e depois de um tempo em silêncio, disse por fim__ Teremos de esperar para vermos o que Neville irá fazer. Só espero que as coisas não piorem tanto como imagino!
Lisa abaixou a cabeça pensativa, o mesmo aconteceu com Gaya. Ambos se distanciaram um do outro. Gaya voltou ao trono e Lisa, saiu da sala real mais atordoada do que nunca.
O dia ainda mantinha traços de chuva. O tempo estava nublado e havia um ventinho frio de arrepiar a espinha. Lisa saiu do Castelo do Príncipe e passou pelos alunos que estavam sentados no jardim sul. Enquanto passava, as pessoas cochichavam baixinho, e davam risinhos. Diferente dos outros dias, ninguém se quer pareceu amedrontado ao passar por Lisa, ao contrário, comportavam-se normalmente como se ela fosse igual a eles. Lisa estranhou este súbito comportamento.
Lisa passou pelo chafariz, que tinha a estátua de um grande anjo no centro, e caminhou-se para o Castelo dos Bruxos. Enquanto andava pensativa, alguém a chamou:
__Lisa! Hei, Lisa!
Lisa parou e virou para trás. Era Peter quem a chamava. Ele corria até ela segurando um jornal na mão.
__O que foi, Peter? __perguntou Lisa lentamente.
__Como você está, Lisa?
__Bem, Peter, obrigado! __disse Lisa voltando a andar.
__Fiquei sabendo das Sentinelas. Elas machucaram você?
__Não, Peter!
Lisa começou a apressar os passos e Peter, para acompanha-la, apressou-os também.
__Todo mundo parou de ter medo de você, agora! O príncipe Gaya disse que você não sabe nada sobre a morte dos Ravenclaws e que nem conhece o General das Trevas...
__Que bom, Peter!
__Sabe, eu acredito nele! A minha família é fiel ao príncipe Gaya, assim como a maioria das famílias dos outros alunos, nós acreditamos no que ele diz.
Lisa não disse nada. Ela agora estava aliviada em saber que Gaya esclareceu a todos o que houve.
__O que é isso, Peter?
Lisa parou e apontou para o jornal que Peter segurava.
__Ah, é a Folha do Centauro! Quer ler? Pode ficar com ela, já li todas as notícias! A propósito, você saiu na primeira capa com o príncipe Gaya...
Peter deu o jornal para Lisa e saiu na direção oposta, indo se juntar a Allan e Norman. Lisa pegou o jornal e olhou para a primeira capa, deixando escapar em seguida uma exclamação nada agradável.
__Veja o que Hart escreveu na primeira capa da Folha do Centauro!
Lisa jogou o jornal sobre a mesa do salão do refeitório e sentou-se ao lado de Louise, parecendo muito aborrecida com a matéria do jornal.
Louise e Dan esticaram os pescoços por sobre o jornal e leram a matéria. No auto do jornal havia duas fotografias, uma era de Lisa __tirada quando Hart fez quase meia dúzia de perguntas para ela__ e a outra era do príncipe Gaya apontando a varinha para o inspetor de Azgrah, Neville Chamberlain.
Há mais de dois dias, sob a intervenção da Ordem dos Lordes, os inspetores de Azgrah entraram na Fonte Phoenix com o objetivo de descobrir quem é o assassino do caso Ravenclaw, mas só causaram tumulto e desordem no tão grandioso centro militar de Aragorn.
A situação piorou quando o inspetor-chefe de Azgrah, Neville Chamberlain, descobriu vários segredos envolvendo a então sucessora de Melody Bluesky, a Bruxa de Fogo, Lisa Bladefire. Um dos segredos põe a reputação da Bruxa de Fogo em risco.
Segundo Neville Chamberlain, Lisa mantém relações amigáveis com o quarto General das Trevas revelado, Mayer Slater, que até o momento vive foragido em alguma parte de Aragorn.
Sob constante pressão do inspetor-chefe, Lisa revelou que ouve vozes de lugar algum. A Folha do Centauro perguntou a senhorita Bladefire sob as vozes, mas ela se manteve calada.
Não sabemos ao certo se o silêncio da Bruxa de Fogo é apenas para afastar as suspeitas de que ela possa estar envolvida nas mortes de Christian e Lauro Ravenclaw ou se isso é apenas uma estratégia para ganhar tempo enquanto bola algum audacioso plano para tomar a Fonte Phoenix novamente, __já que a Besta não conseguiu na vez passada__ junto com os Generais das Trevas.
A situação se tornou favorável para Lisa Bladefire quando o próprio príncipe Gaya interrompeu o depoimento da acusada e expulsou os inspetores da Fonte Phoenix. Não sabemos ao certo o motivo pelo qual Gaya fez isso, mas com certeza há algum romance envolvendo a família real e a acusada.
Numa tentativa amigável de sabermos a verdade, a Folha do Centauro foi humilhada e expulsa da Fonte Phoenix sob ameaça do então Conselheiro de Gaya, Martius Godric.
Em uma entrevista exclusiva com Neville Chamberlain, ele nos disse: “A Fonte Phoenix está perdendo toda a sua unidade com a má administração do príncipe Gaya. A Ordem dos Lordes ficará a par de tudo que aconteceu e com certeza, a Suprema Corte não permitirá que Gaya, protetor de traidores da ordem mundial, continue no comando de Aragorn”.
Resta agora esperarmos medidas contra a má administração do príncipe Gaya e esclarecimentos sobre o provável envolvimento de Lisa Bladefire com os Generais das Trevas.
__Isso é ridículo! __disse Louise jogando o jornal sobre a mesa depois de lê-lo duas vezes.
__Desta vez não foi só Chamberlain que passou dos limites, Hart também extrapolou! __disse Dan passando os olhos sobre as linhas que falavam do envolvimento amoroso de Lisa e Gaya__ Eu não sabia que você e Gaya tinham um relacio....
__Me dá esse jornal, Dan __Lisa arrancou o jornal das mãos de Dan e amassou-o__ Para sua informação, Gaya e eu não temos nada um com o outro. Você era a última pessoa no mundo que poderia duvidar de mim...
__Eu não tive a...
Mas antes de Dan se desculpar, Lisa jogou o bolo de jornal na mesa e sacou a varinha.
__Incêndio!
A bola de papel se transformou numa bola de fogo, assustando Dan e Louise.
__Isso passou do limite! Eu não posso mais permitir que essa história continue por aí __disse Lisa andando apressada enquanto passava pelo corredor que dava acesso a Sala Comunal.
__O que você vai fazer? __perguntou Louise.
__Não sei ainda, mas a qualquer custo eu vou descobrir quem matou os Ravenclaws e porque os mataram. Mas primeiro eu preciso descobrir quem é Mayer Slater e se for um General das Trevas como todos dizem, vou pega-lo e esfrega-lo na cara de Chamberlain!
Louise e Dan olhavam impressionados com a reação de Lisa. Ambos nunca a viram tão nervosa e decidida com algo. A partir de agora eles sabiam que Lisa não deixaria tudo aquilo passar por despercebido, afinal, era a honra de uma Bruxa de Fogo que estava em risco.
__Você vai fazer o quê, Lisa?
Lisa, Louise e Dan viraram para trás e viram Peter saindo de trás de uma coluna com um largo sorriso no rosto.
__Peter, você ouviu o que falávamos? __perguntou Louise.
__Não se preocupem, não vou contar a ninguém. Fique sabendo, Lisa, que eu acredito em você e vou ajudá-la a descobrir onde está Mayer Slater...
__Você vai fazer o quê? __perguntaram Lisa, Louise e Dan, todos com as sobrancelhas erguidas.
__Lisa, isso não vai dar certo __disse Louise quando já estavam na Sala Comunal, já bem longe de Peter__ Quero dizer, Peter é todo atrapalhado nas coisas que faz... Francamente, você acredita que ele vai ajudar em alguma coisa?
__Nunca se sabe, Louise __disse Dan.
__Peter pode ser bastante útil. Veja bem, porque você não o manda pegar o Localizol que Maya pegou?
As palavras de Lisa soaram como sininhos de Natal nos ouvidos de Louise. Pela primeira vez na vida, a idéia de ter Peter como ajudante lhe satisfez.
__Então está bem, nós procuramos Peter ao entardecer e o mandamos entrar no quarto de Maya enquanto ela está jantando junto com os outros. Ok?
__Ok! __concordaram Lisa e Dan.
Os três se dispersaram pela Fonte Phoenix. Quando Lisa saiu do Castelo dos Bruxos, um gigantesco sol estava saindo entre as nuvens, quebrando a perspectiva de que o dia seria chuvoso. Por algum motivo, o dia parecia muito mais agradável do que os últimos dias, mesmo depois da matéria que Hart escreveu sobre ela e Gaya. Por onde Lisa passava, as pessoas continuaram os seus cochichos e risinhos. Lisa só descobriu o motivo da graça ao passar por duas meninas do Castelo dos Trons e ouvi-las falando algo do romance Gaya-Lisa. Então é isso, que idiotice!
A partir desse momento, Lisa pensou em Dan. Estranhamente, Dan voltara a conversar com ela, sem estar emburrado, depois que Neville entrou na Sala Comunal e tentou tirar algo de Lisa. Mesmo que conseqüências desagradáveis tenham ocorrido depois daquele dia, o fato de Dan estar conversando normalmente com ela já era uma conseqüência favorável.
Dan não era a única pessoa que ficou na cabeça de Lisa por algumas horas seguidas, Max também entrou em seus pensamentos de forma arrebatadora. Enquanto pensava em Max, um sorriso largo surgiu no rosto de Lisa, o que se tornou maior quando ela andava pelo jardim norte e acabou encontrando Max por lá.
__Olá, Lisa!
__Oi, Max!
__Eu fiquei sabendo do que aconteceu. Fique sabendo que eu não acredito no que Hart disse na Folha do Centauro de hoje. Gaya nos disse que você não tem nada a ver com as acusações de Chamberlain, e eu acredito nele, assim como acredito em você também.
Um sorriso largo, que Lisa nem conseguiu abrir mais de tão grande que estava, surgiu em seu rosto. Ela sentiu a face corar ao ouvir as palavras de Max e por alguns segundos abaixou a cabeça para esconde as faces do belo rapaz.
__Obrigado, Max, por acreditar em Gaya e... em mim!
Max sorriu e também sentiu as faces corarem.
__Aquele dia que eu deixei você no hall do castelo sem entender nada, eu...
__Não precisa explicar, Zig e Cliffe já me contaram que você sente um medo hereditário pelas Sentinelas __interrompeu Max__ Por falar neles, você tem bons amigos!
__Obrigado!
Max e Lisa calaram-se. Os dois desviaram os olhares e ficaram observando coisas vagas como flores, folhas e as pessoas que passavam por eles.
__Lisa!
__Sim?
__Orchideous!
Max se aproximou de Lisa e fez um movimento com a mão. Em seguida, um lindo buquê de flores surgiu em sua mão.
__Tome, é para perfumar seu dia... espero que goste!
__Ah, são lindas! __Lisa pegou o buquê e cheirou__ São muito cheirosas, muito obrigado Max!
Lisa aproximou de Max e o abraçou. Após se afastarem um do outro, Lisa percebeu que Max estava vermelho e este, percebeu que ela tinha uma grande mancha rosada nas bochechas.
__Então... até logo, Max!
__Até!
Lisa voltou para a Sala Comunal e pôs o buquê dentro de uma jarra com água. Em seguida, ela subiu para o quarto e colocou a jarra sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Lisa exalou novamente o perfume delicado das flores e foi até a janela.
Os raios tímidos do sol iluminaram delicadamente o rosto de Lisa. Naquele momento, os cabelos loiros dela ficaram dourados e seu sorriso pareceu mais brilhante do que nunca. Apesar de todo o transtorno que ela estava vivendo, Lisa estava feliz, não por que Dan e Louise estavam empenhados em ajudá-la, mas sim, pelo buquê de flores que Max lhe dera. Por um instante, ela pensou que fosse uma boba por estar feliz só por que ganhou algumas flores perfumadas de um rapaz. No entanto ela não era uma boba e sim, uma mulher como qualquer outra, que tinha o direito de sentir um calor especial no coração quando estava próxima de um rapaz.
A alegria de Lisa tornou-se algo mais significante quando ela olhou para as torres do Castelo dos Druidas e avistou duas gigantescas aves se aproximando da Fonte Phoenix.
__Não pode ser!
Lisa abriu a janela e pôs a cabeça para fora. Ela não conseguia acreditar no que via, dois grifos pousavam no campo de pouso.
__São eles!
Lisa saiu do Castelo dos Bruxos e foi correndo para o campo de pouso. Ela mal podia acreditar que eles estavam de volta. Depois, do fim das aulas, Zig e Cliffe levaram os grifos para a aldeia das Ruínas Antigas e os deixaram lá enquanto os dois Pés Grandes visitavam sua mãe no Reino de Bellyhan.
__Garrinha! Peninha!
Lisa correu até os dois grifos e alisou ambos. Peninha era o mais carinhoso, ele abaixou a cabeça para Lisa e chega arrepiou as penas do pescoço para ela coçar.
__Como foi à viagem Letah? __perguntou Zig para um homem forte que estava ao lado de Garrinha.
__Foi muito bem, só tivemos um probleminha com uma massa de ar, mas nada que atrapalhasse esses dois gigantes __o homem acariciou Garrinha e o grifo agradeceu ao carinho com uma beliscada leve no pescoço dele.
__Lisa, esse é Letah, primo de Samah __disse Cliffe aproximando de Lisa.
__Prazer __disse Lisa estendendo a mão.
__Samah lhe mandou lembranças. Ela quer que você a visite qualquer dia desses.
__Pode deixar!
__PENINHA!
Dan apareceu por trás de Lisa com Louise seguindo-o. Peninha, ao ver Dan, correu até ele e o derrubou no chão.
__Eu também estou contente em ver você, Peninha! __disse Dan, caído no chão, enquanto acariciava a criatura de corpo metade águia, metade leão e orelhas de cavalo.
__Olá, Peninha! Olá, Garrinha!
Os dois grifos foram até Louise e estenderam a cabeça para ela acariciar.
__E então Letah, quando volta para as Ruínas Antigas? __perguntou Zig.
__Hoje mesmo __respondeu Letah.
__Mas hoje? __disseram Zig e Cliffe juntos.
__É, eu não posso ficar muito tempo aqui. Manah precisa de mim na aldeia agora que sou aprendiz dele...
__Aprendiz? __disse Louise se aproximando.
__Ah, Letah __disse Zig prontamente__ essa é Louise e aquele é Dan.
__Prazer. Bem, Manah está me ensinando a arte de colher ervas e produzir antídotos com elas, sabe, um dia serei o ancião-mestre da aldeia e preciso estar qualificado para o cargo.
__ Mas, titio não vai se importar se você ficar mais um dia aqui... __disse Zig.
__É, mamãe ainda quer ver você, saber como está a aldeia e...
__Big Bertha está aqui? __perguntou Letah.
Zig e Cliffe confirmaram com a cabeça.
__E vocês ainda não caçaram um lugar para se esconder dela?
Ao ouvirem Letah falando, Lisa, Dan e Louise viraram de costas para rirem sem que os amigos percebessem. Pelo visto, até Letah já sabia de como os Pés Grandes eram mimados pela mamãezinha.
__Não! __responderam Zig e Cliffe ficando vermelhos.
__Bem, se é do gosto de vocês, eu vou ficar só até o entardecer. Vou rever Big Bertha e depois vou partir sem mais demora...
__Isso! __exclamou Zig.
Zig e Cliffe puxaram Letah para além do Castelo do Príncipe e desapareceram entre os arbustos com ele.
__Vamos dar uma volta? __perguntou Dan montando em Peninha.
Lisa e Louise olharam uma para a outra e decidiram subir em Garrinha, que havia abaixado para as duas montarem.
__Então vamos!
Dan gritou para Peninha e o grifo começou a correr pelo campo de pouso, tomou impulso, abriu as asas e decolou. Garrinha começou a correr pelo campo de pouso com Lisa segurando em suas penas e Louise, agarrada na cintura da amiga. Q grifo ganhou velocidade e não decolou como Peninha fizera. Ao contrário, ele continuou a correr em direção das muralhas, fazendo os alunos abrirem caminho para ele passar. Quando Lisa e Louise pensaram que Garrinha bateria na muralha, o grifo abriu as asas e decolou.
Garrinha subiu para as nuvens e deu um banho de chuva em Lisa e Louise. O grifo parecia se divertir ao ficar entrando e saindo das nuvens. Lisa e Louise não gostaram muito da idéia do grifo por que as gotículas de água das nuvens estavam geladas. Depois de alguns minutos, Garrinha desceu em direção a terra, fez um vôo rasante sobre o bosque das ninfas e desceu as enormes paredes do penhasco como se houvesse pulado lá de cima. Antes de tocar as paredes de pedra, para alívio de Lisa e Louise, o grifo abriu as asas novamente e voltou a voar sobre as ondas do mar. Logo a frente deles, Peninha planava sobre o mar. Garrinha bateu as asas e numa grande velocidade, passou rente a Dan e Peninha, fazendo-o se segurar no grifo para não cair.
__Tchau Dan! __gritou Louise vendo que o rapaz estava para trás.
__Ah, mas nós não vamos deixar isso ficar assim, vamos Peninha?
Peninha soltou um pio para Dan e bateu as asas. Em seguida, ambos estavam ganhando velocidade e se aproximando de Garrinha. Numa ultrapassagem veloz, Peninha deixou Garrinha para trás.
__Tchau, Lisa! Tchau, Louise!
A alegria de Dan não durou muito tempo. Peninha avistou um peixe no mar e mergulhou com Dan montado nele. Lisa e Louise levaram um susto, mas em seguida, deixaram escapar gargalhadas ao verem Dan e o grifo emergirem do mar, totalmente encharcados de água. Peninha estava com um grande peixe no bico, que o engoliu rapidamente, e Dan tinha uma lula presa a sua cabeça.
Lisa e Louise riram até a barriga doer. No entanto, a felicidade também durou pouco. Garrinha também viu um peixe dentro d’água e mergulhou com Lisa e Louise montadas nele.
Garrinha passou por um cardume de peixinhos amarelos e pegou um peixe grande. Depois, emergiu novamente com o peixe no bico e com Lisa e Louise molhadas até o dedão do pé. Lisa torceu a beirada do manto enquanto Dan caía na risada e Louise se ocupava em tirar um peixinho amarelo de dentro das suas vestes.
Aquela tarde foi a melhor de todas. Os problemas foram esquecidos por um longo intervalo de tempo dando lugar a uma diversão que Lisa nunca tivera na vida.
O sol estava quase se pondo quando os grifos pousaram novamente na Fonte Phoenix. Lisa, Louise e Dan desceram molhados de cima do grifo.
__Ah, não! __ disse Louise batendo a mão na testa.
__O que foi, Louise? __perguntou Dan enquanto saía de cima de Garrinha.
__Peter, nós esquecemos de Peter...
Louise saiu correndo e desapareceu por entre os castelos.
Lisa estava com uma certa dificuldade para descer do grifo. Dan aproximou dela e esticou os braços.
__Deixa que eu a ajude!
Lisa pôs a mão nos ombros de Dan e pulou. Quando seus pés tocaram o chão, Lisa e Dan ficaram de corpo a corpo, olho a olho, boca a boca. Os dois se olharam por alguns segundos, ambos ofegantes. Dan aproximou seus lábios da boca de Lisa e o que seria um beijo perfeito, foi atrapalhado por Big Bertha que vinha conversando com Letah, Zig e Cliffe. Lisa afastou-se de Dan e desviou o olhar.
__Mande notícias, Letah! __disse Big Bertha aproximando de Lisa e Dan. Novamente os dois tiveram a sensação de que a terra tremia a cada passo que a mãe dos Pés Grandes dava.
__Pode deixar, nós mandaremos notícias __disse Letah.
__Olá, Dan! Olá, Lisa!
Big Bertha abriu um largo sorriso para os dois e acenou com a enorme mão.
No final do campo de pouso havia uma carruagem esperando Letah. O aldeão voltaria a aldeia com dois viajantes que se hospedaram na Fonte Phoenix durante o dia. Era normal nos finais de semana algum viajante passar pela Fonte Phoenix e fazer uma parada para descansar. Quando Letah saiu da aldeia, ele já veio com essa mentalidade na cabeça. Certamente algum viajante estaria hospedado na Fonte Phoenix e assim ele poderia voltar a aldeia de carona.
Letah subiu na carruagem e desapareceu com os viajantes pelo portão norte. Zig e Cliffe vieram correndo até os grifos e começaram a subir no Garrinha, Peninha não gostava muito deles.
__Agora é a nossa vez de voar! __disseram os dois.
__Nem pensar! __gritou Big Bertha pondo a mão na cintura__ Meus filhuscas agora vão tomar bainho...
__Mãe, nós já somos bem grandinhos para que a senhora fique dando banho na gente! __protestou Cliffe.
__Chega de conversa __disse Big Bertha pegando Zig e Cliffe pelas orelhas__ Mamãe vai dar bainho nos dois agora, vamos!
__Mas mamãe! __protestaram Zig e Cliffe.
__Nem mais um mas! Agora vamos, andem!
Zig e Cliffe desapareceram com Big Bertha na direção do Castelo dos Trons, deixando Lisa e Dan sozinhos com os grifos.
Dan pensou em dizer algo para Lisa, mas ela não ficou por perto para ouvir, voltou ao Castelo dos Bruxos. Dan observou-a desaparecer entre os castelos e depois de um suspiro, foi guardar Garrinha e Peninha num estábulo do lado de fora da Fonte Phoenix.
Sapo Dan e Sapo Peter
A noite caiu sobre a Fonte Phoenix num piscar de olhos. Sobre as torres dos sete castelos, a lua cheia surgiu imponente e majestosa no céu. Sobre o luar, os alunos voltavam aos seus castelos e iam para o salão do refeitório para jantaram.
Maya desceu as escadas da Sala Comunal e empinou o nariz ao passar por Louise, que estava sentada ao lado de Peter. Assim que Maya desapareceu pela porta, Louise lançou um sorriso para Peter e o puxou para os quartos das meninas.
__Entendeu o que deve fazer, Peter? __perguntou Louise ainda não convencida de que Peter entendera meia dúzia do que ela explicara a ele.
Louise esticou o pescoço para o corredor e se certificou de que ninguém andava por ele. Puxando Peter pelas mãos, Louise levou-o até o quarto de Maya.
__É aqui, agora entre antes dela voltar, rápido!
Peter abriu a porta e entrou. Louise não pôde deixar de escapar um risinho de excitação ao pensar na cara de Maya quando ela descobrisse que o Localizol não estava mais com ela. Certificando-se novamente de que ninguém passaria pelo corredor, Louise encostou-se na parede de pedra do castelo para guardar a entrada do quarto enquanto Peter estava lá dentro.
O salão do refeitório estava excepcionalmente cheio. Hoje, alguns alunos do Castelo dos Magos e dos Trons estavam jantando com os bruxos. Era normal que às vezes algum habitante de outro castelo viesse confraternizar com os bruxos __o que se tornava mais freqüente nos finais de semana.
Lisa sentou-se ao lado de Zig e Cliffe. Os Pés Grandes estavam enjoativamente perfumados e bem limpinhos. Lisa sentiu-se contente ao vê-los assim, pois geralmente viviam cheirando azedo, o que era incomodante. Naquele momento, Lisa percebeu que a presença de Big Bertha na Fonte Phoenix não era uma cruz que os irmãos Pés Grandes deveriam carregar até ao final do ano, ao contrário, era a salvação de todos, afinal finalmente alguém os fizera tomar um banho decente.
Os anões saíram através de uma parede sólida no fundo da sala com uma facilidade enorme, era como se a parede simplesmente não existisse para eles. Os pratos foram servidos e uma espécie de purê de batata chamou a atenção de Lisa. O purê parecia delicioso, exceto por uma baba gosmenta de coloração turquesa que o cobria. Lisa pensou em comer um pouco do prato esquisito, mas hesitou imediatamente ao ver a baba turquesa escorrer pela boca de Zig e depois pingar sobre a mesa. Ela teve ânsia de vômito.
Entre os alunos do Castelo dos Magos que entravam no refeitório, Lisa viu Max conversando com Julius Brown. Ao vê-lo, Lisa sentiu o coração bater mais acelerado e um cubo de gelo cair em seu estômago. No entanto, essa sensação passou rapidamente assim que ela viu Maya levantar da sua mesa e sair do salão. Imediatamente, Lisa levantou e seguiu Maya. Ela não podia voltar para o quarto, Louise e Peter estavam lá. Lisa seguiu Maya até as escadas espirais e, vendo que provavelmente ela voltaria para o quarto, sacou a varinha e apontou para Maya.
__Petrificus!
Num piscar de olhos Maya ficou intacta como uma pedra. Lisa deu um suspiro de alívio, mas para o seu desespero, um grupo de alunos vinham conversando pelo hall. Lisa pensou rápido e apontou a varinha novamente. Uma bola de luz branca atingiu Maya e segundos depois ela estava do tamanho de um alfinete.
Lisa correu até a escada, pegou Maya, a pôs no bolso e subiu as escadas lentamente. Enquanto subia uma voz chamou por ela.
__Lisa!
Lisa virou-se e viu Max correndo até o patamar das escadas espirais.
__Max!
__Você saiu do refeitório às pressas... eu tentei acompanhar... e não consegui __disse Max ofegante.
__É... eu tinha uma coisa urgente para fazer __Lisa tentou inventar uma desculpa.
__Escuta...
De repente algo se mexeu dentro do bolso de Lisa. Ela rapidamente bateu a ponta da varinha no bolso e sussurrou Petrificus! tão baixo que foi impossível de Max ouvir o que ela disse.
__O que foi? __perguntou Max vendo-a apontando a varinha para o bolso.
__Nada! __Lisa sorriu trêmula e guardou a varinha__ O que estava dizendo?
__Eu gostaria de saber se você quer fazer um passeio comigo pelos campos ao amanhecer?
__Eu adoraria!
__Vai ser legal! __Max abriu um sorriso largo no rosto__ Bom, a gente se vê de manhã!
__Tchau, Max!
Assim que Max desapareceu pelo hall, Lisa suspirou e depois deu uma expiada no bolso. Maya continuava dura como uma pedra e tão pequena quanto um alfinete.
Lisa passou por Luft, o Gobelin, e respondeu um boa-noite contagiante do simpático duende. Ela já estava no corredor que dava acesso a Sala Comunal quando Dan acompanhou-a.
__Max procurou você? __perguntou Dan com um ligeiro aborrecimento no tom de voz.
__Sim, por que? __disse Lisa imediatamente.
__Por nada __Dan suspirou e depois continuou__ Só acho que ele não é uma boa pessoa... Sabe, magos não são confiáveis...
Aquilo foi o bastante para Lisa parar no meio do corredor e virar furiosa para Dan com uma ligeira veia saltitando em sua testa.
__Escuta aqui, Dan, quem é você para...
Lisa parou subitamente ao sentir Maya se mexer novamente em seu bolso.
__Petrificus! __disse depois de tirar a varinha do bolso e apontar para o bolso onde Maya estava.
__O que tem aí? __perguntou Dan com a testa franzida e ainda com o mesmo aborrecimento no tom de voz.
Lisa pôs a mão no bolso, ainda com a veia saltitando em sua testa, e tirou a miniatura de Maya. Dan ficou boquiaberto.
__O que você fez com ela?
__A petrifiquei e depois a encolhi para evitar que voltasse ao quarto antes de Peter e Louise pegarem o Localizol de volta. No entanto, o Feitiço de Petrificação é muito simples e dura pouco tempo...
__E quando vai faze-la voltar ao normal?
__Quando encontrar Louise.
__E porque você já não a encontrou?
Lisa ergueu as sobrancelhas e Dan viu que a veia na testa dela parecia estourar de raiva.
__Era o que eu ia fazer, Dan! __disse secamente.
__Espero que Peter já tenha pegado o Localizol __comentou Dan meio constrangido enquanto passavam pelo corredor do quarto das mulheres.
Lisa não respondeu. Sua veia na testa estava se acalmando, mas ainda era visível o seu contorno na pele.
Lisa virou um corredor, com Dan nos seus calcanhares, e avistou Louise na beira da porta do quarto de Maya, protegendo a entrada.
__Que susto que vocês me deram! __disse Louise__ Pensei que fosse a Maya que estava voltando...
__Ela estava, mas eu impedi, veja.
Lisa tirou a miniatura de Maya do bolso e mostrou para Louise, com ela sobre a palma da mão.
__Genial! __exclamou Louise.
__É, de vez em quando eu preciso refazer a petrificação, não dura muito tempo e...
__Aaaaaaaaaaaahh!!
BUM!!
Um grito e um estrondo vieram do quarto de Maya. Louise abriu a porta e entrou para ver o que havia acontecido.
O quarto de Maya estava cheio de objetos rosados sobre os móveis __Louise os achou ridículos, Maya nem se quer os usava__ e num canto havia o sinal de que alguém provavelmente tinha sido remessado contra a parede.
__Onde está Peter? __perguntou Dan.
Dan olhou para os lados e não viu nada, exceto um livro aberto com um mapa de Aragorn desenhado em suas folhas.
__O Localizol!
Louise estava abaixando sobre um monte de roupas masculinas no canto da parede. Ela ergueu as roupas e para seu espanto, um sapo de braços e pernas finas de quase dois quilos estava embaixo delas.
__Dan, não chega perto do Localizol! __gritou Louise imediatamente.
Mas já era tarde. Dan aproximou do Localizol e pegou-o. Ao tocar no livro, uma luz iluminou o seu rosto e o arremessou contra a parede do quarto. Lisa e Louise viraram-se para ele e o viram desaparecer entre as roupas.
__Dan!
Lisa correu até um monte de roupas que estavam no canto da parede e ergueu-as. Um enorme sapo de braços fortes e pesando quase cinco quilos estava embaixo das roupas.
__Eu já devia imaginar! __disse Louise abaixando e pegando o sapo que era Peter__ Pelo visto Maya não é mais tão burra quanto antigamente para conseguir lançar um feitiço de proteção no Localizol!
__E agora? __perguntou Lisa enquanto pegava o sapo Dan.
Louise levantou e suspirou.
__Bem, nosso plano foi por água abaixo. Os feitiços de proteção só podem ser anulados por quem os conjurou e...
__Quer dizer que Dan e Peter vão ficar assim até Maya fazer eles voltarem ao normal?
__Não, de forma alguma! __disse Louise pondo Peter sobre um criado-mudo e abaixando para pegar suas roupas__ Se ao menos eu soubesse o contra-feitiço... mas de qualquer forma, basta procurarmos a professora Rowena para ela fazê-los voltar ao normal.
Lisa recolheu as roupas de Dan e depois olhou para o Localizol.
__E agora?
__Bem, não podemos tocar nele enquanto Maya não anular a proteção __Louise suspirou profundamente__ Infelizmente teremos de encontrar outro meio para pega-lo... Bem, vamos, Lisa! Temos, que fazer os dois voltarem ao normal.
Lisa saiu do quarto e parou no corredor. Antes de sair, Louise apontou a varinha para o quarto e disse:
__Reparo!
Os objetos que haviam caído no chão voltaram aos seus respectivos lugares e o Localizol fechou-se num estampido abafado.
__Ah, já estava me esquecendo!
Lisa tirou Maya do bolso e a pôs em frente à porta do quarto. As duas saíram do corredor e, depois de virarem para o outro corredor, Lisa espiou para os lados e apontou a varinha na direção de Maya que estava a mais de dez metros delas.
__Finite Encantatem!
Num brilho reluzente, Maya aumentou de tamanho e começou a andar até dar de cara com a porta. Ali, ela parou incrédula, afinal, estava subindo as escadas segundos antes e agora estava de cara com a porta de seu quarto. Como cheguei até aqui?
Lisa e Louise desceram correndo as escadas espirais e saíram do castelo em direção ao Castelo dos Druidas, onde Justina Rowena morava.
O céu estava estrelado e a luz acinzentada da lua iluminava parcialmente as duas. Enquanto corriam para o outro lado da Fonte Phoenix, uma nuvem de vaga-lumes passou entre as duas, atrapalhando-as um pouco. Louise, por sua vez, entrou no Castelo dos Druidas com uma inconfundível alergia.
__Me desculpe __disse Louise depois de dar um espirro que quase estremeceu o castelo__ Eu não suporto o pozinho que esses vaga-lumes mágicos soltam...
As duas entraram num corredor escuro do primeiro andar e pararam em frente a uma porta de carvalho.
__É aqui, se não me engano __disse Louise depois de soltar outro espirro.
__Então, vamos bater...
Lisa bateu três vezes na porta e depois de um silêncio quase incômodo, uma voz de mulher gritou de dentro da sala.
__Podem entrar, está aberta!
Louise abriu a porta e entrou espirrando.
Apesar da sala estar mau iluminada, Lisa pôde notar que ela era bem grande e tinha pelo menos umas cinco janelas gigantescas. As duas caminharam pela sala sem ver sinal nenhum da professora, até que...
__Olá garotas!
Lisa e Louise viraram para trás num pulo. Louise espirrou e Lisa espremeu os olhos para ver a professora entre as sombras da sala.
__Oh, me desculpe! Lúmus Lucídium!
Num estralar de dedos, a sala se iluminou e Lisa não precisou mais apertar os olhos para enxergar a professora.
Justina Rowena não era muito alta. Era magra, tinha seios fartos bem apertados pelo espartilho caramelo e uma linda cabeleira encaracolada dourada que tocava os ombros. Rowena tinha ainda um rosto fino, delicado e jovial, além de um sorriso que brilhava mais do que toda sala.
ATCHIM!
__O que foi querida, tem alergia? __perguntou Rowena com uma voz meiga.
__Pó de vaga-lumes... ATCHIM!... não suporto... ATCHIM!
__Não se preocupe, eu tenho um encantamento ótimo para isso...
Rowena tirou uma varinha de carvalho do bolso, requintadamente ornamentada e atravessou a sala na direção de Lisa e Louise. Ela ergueu a varinha e apontou delicadamente na direção do nariz dela.
Uma fumaça amarelada saiu da ponta da varinha de Rowena e foi lentamente em direção ao nariz de Louise. A fumaça entrou nas narinas dela e provocaram uma ligeira coceira. De repente, Louise inspirou forte e... ATCHIM!!!
Lisa franziu a testa ao ver uma nuvem de pozinhos dourados saírem do nariz de Louise e se espalharem pelo ar.
__Não se preocupe __disse Rowena com a sobrancelha ligeiramente erguida__ esse foi o último espirro, eu garanto!
Louise esfregou a mão no nariz aos sentir a coceira desaparecer aos poucos.
__Bem, mas o que as trouxe até aqui a essa hora da noite? Não deviam estar nos seus castelos? __perguntou a professora meigamente.
__Bem, nós precisamos de sua ajuda... __disse Lisa.
__Minha ajuda?
__Sim __Louise olhou para Lisa e depois continuou__ Houve um probleminha enquanto praticávamos uns feitiços com nossos amigos e...
__E?
__Veja...
Louise e Lisa tiraram os enormes sapos escondidos dentro dos seus mantos e mostraram a professora. Rowena arregalou os olhos de espanto ao ver sapos tão grandes como aqueles.
__Deixe-me adivinhar __disse Rowena__ Vocês estavam praticando feitiços e por acaso um deles acertou seus companheiros... não foi isso?
Lisa e Louise trocaram olhares e confirmaram com a cabeça.
__E agora querem que eu faça a reversão, não é mesmo?
__É __disseram ambas.
__Deixe-me ver os sapos.
Lisa e Louise colocaram os sapos sobre uma mesa no centro da sala e deixaram que a professora Rowena os analisasse por alguns segundos.
__Hum... parece que foi lançado um feitiço muito forte sobre eles... Afinal, meninas, que feitiço conjuraram? __perguntou Rowena depois de se curvar sobre os sapos.
Lisa e Louise trocaram olhares novamente e ambas se atrapalharam ao responder.
__Não... não sabemos!
__Como? __a professora ergueu os olhos sobre os sapos para fitar Lisa e Louise.
As duas trocaram olhares novamente.
__Nós... eu acho... bem, acho que lançamos vários feitiços seguidos um dos outros e não sabemos ao certo qual provocou isso.
Rowena endireitou-se e suspirou:
__Pelo que estão me falando, foi uma união exagerada de feitiços. Quando isso acontece só há uma solução...
__Qual? __perguntou Lisa, olhando para Louise.
__A poção da Ultra-Reversão __Rowena caminhou até um armário no fundo da sala cheia de frascos rotulados__ Por sorte eu tenho uma poção preparada... agora, onde será que eu a coloquei... ah, sim... aqui está!
Rowena voltou ao centro da sala com um frasco de vidro pequeno onde havia uma substância que borbulhava incessantemente e emitia uma coloração diferente a cada borbulhação.
__Eu costumo ter poções guardadas em meu armário, nunca se sabe quando um aluno vai fazer um encantamento sem reversão com magia... __disse enquanto tirava a rolha do pote com a boca. Vendo que não conseguia, Rowena pegou a varinha e a apontou para a rolha. Num relampejo, a rolha pulou do pote e saiu saltitando do chão para o teto até acertar um vaso num canto da sala__ Não se preocupem, eu limpo num segundo. Reparo!
Rapidamente, os cacos do vaso flutuaram no ar e se uniram novamente. Num piscar de olhos o vaso estava novinho em folha.
__Bem, voltando ao que estávamos fazendo... __Rowena pôs a varinha sobre a mesa e virou-se para as duas__ Por favor, me ajudem aqui! Quando eu contar até três, vocês abram a boca dos sapos e eu pingo umas gotas da poção Ultra-Reversão nela. Ok? Então... um... dois... três!
Lisa abriu a boca do sapo Dan e Rowena pingou duas gotas da poção na boca dele. Em seguida, ela pingou o mesmo número de gotas na boca do sapo Peter, que Louise abria.
Após os sapos terem engolido as gotas, uma fumaça azulada começou a sair das narinas deles. Em seguida, bolhas coloridas saltaram da boca dos dois e invadiram toda a sala.
__Essa poção é segura? __perguntou Louise, receosa.
Justina Rowena não fez menção em responder. Ela ergueu as sobrancelhas e fitou Louise por algum tempo.
__Não se preocupem! Olhem, as bolhas já estão parando de sair da boca deles__ disse Rowena depois de virar-se para os sapos__ Agora, eu quero que cuidem bem deles. A poção só fará efeito amanhã, depois do meio-dia. Até lá, não deixem que eles saíam saltitando por aí, ok?
__Será que eles não vão parar de saltar bolhas pela boca? __perguntou Louise ao ver que o sapo Peter voltara a soluçar bolhas enquanto voltavam ao Castelo dos Bruxos.
Lisa olhou para o sapo Dan em seus braços e depois deixou escapar um risinho no canto da boca.
Já era bem tarde da noite quando as duas voltaram aos seus quartos e colocaram os sapos dentro de uma caixa que Louise tinha. Enquanto ela tampava a caixa, Lisa contou sobre o passeio que ela e Max fariam ao amanhecer.
__Que romântico, Lisa! __suspirou Louise após enfiar a caixa embaixo da cama e sentar-se sobre ela__ E aí, o que você acha dele?
__Para com isso, Louise! __repreendeu Lisa__ Eu não acho que um passeio inocente por campinas seja romântico e, além do mais, Max é igual a todos os garotos e...
__Ah, para com isso, Lisa! Todas as garotas da Fonte Phoenix caiem aos pés de Max. Ele é simplesmente um...
__Eu sei que ele é bonito e tudo mais, mas não acho que esse passeio vai me fazer apaixonar por ele assim tão de repente...
Louise apoiou o queixo na mão e suspirou.
__Eu queria está no seu lugar, sabia!
__Em meu lugar?
__É, Lisa. Você é muito sortuda, quero dizer, você tem dois caras que estão atrás de você e, bem, nenhum dos dois é de se jogar fora... Quem dera que dois caras estivessem caidinhos por mim.
Lisa soltou um suspiro meio confundido com um breve risinho.
__Eu não sei do que está falando, Louise...
__Ah, francamente, Lisa! Você sabe muito bem que Dan está caidinho por você desde o dia em que se conheceram naquele Bosque das Traias e que Max também está muito interessado em você. Por que você acha que Dan vive emburrado quando vê vocês dois juntos? E porque será que Max lhe deu um lindo buquê de flores e te convidou para passear sozinha com ele?
__Como soube das flores? __perguntou Lisa de queixo caído.
__Ora, todas as garotas da Fonte Phoenix comentaram sobre as flores! Alice viu quando ele as deu para você... e além do mais, eu também as vi sobre o criado-mudo. Você não estava achando que um buquê de flores, magníficas, ficaria sobre seu criado-mudo sem eu notar, estava?
Lisa não respondeu. Na verdade, ela não ouvira quase metade do que ela disse. Seus pensamentos, naquele momento, estavam voltados para Max e Dan. Será que o que ela disse é verdade? Dan e Max estão...
Num suspiro quase profundo, Lisa deitou na sua cama e virou de costas para Louise. Ela estava com sono e amanhã, um grande passeio a esperava. Suas pálpebras foram ficando pesadas e tudo ficou turvo.
Lisa corria por um campo coberto de flores laranjas. Max e Dan corriam ao seu encontro, ambos com os braços abertos e com uma expressão de pura felicidade. Assim como os dois rapazes, Lisa sentia uma felicidade descomunal. Ela acelerou seus passos e correu mais veloz em direção aos dois. Queria chegar perto deles, abraça-los e...
__Aproveite seus últimos momentos!
Uma voz esganiçada sussurrou no ouvido de Lisa. Ela parou de correr e olhou para trás. Não havia nenhum sinal de que alguém houvesse dito aquilo. Lisa virou-se novamente para voltar a correr até o encontro dos dois rapazes, porém ela se assustou. Dan e Max haviam desaparecido.
Atordoada, Lisa olhou para os lados e viu que o campo florido havia se transformado numa cela escura e sombria. Ela estremeceu e sentiu sua marca no pescoço latejar.
Lisa aproximou da grade e viu um corredor iluminado vagamente por archotes bem distantes um dos outros. Ela olhou para frente e viu uma sombria visão de um homem encapuzado sentado no chão frio atrás de uma cela. O homem tinha a cabeça abaixada e um dos braços apoiados sobre o joelho. O aspecto da mão que surgia vagamente entre a escuridão era horrenda. A pele era seca e murcha. Os dedos eram longos e as unhas, grandes, pontudas e negras.
Lisa abriu a boca para falar com o homem, mas nenhum som saiu entre seus lábios. Por alguns segundos ela fitou o homem. Mentalmente algo estava sendo processado. Informações e imagens passavam pela cabeça de Lisa numa incrível velocidade. Antes dela chegar a uma conclusão, o homem ergueu a cabeça lentamente e virou-se para Lisa. Uma terrível dor na marca fez-la levar a mão ao pescoço. De súbito, uma luz vermelha brilhou atrás do pano preto que cobria o rosto do homem e Lisa afastou-se para trás.
Como num vendaval, as celas giraram e Lisa caiu num abismo profundo. Enquanto caía, sombras a cercavam e arranhavam seus braços com suas garras pontiagudas. De repente um rosto de um homem surgiu entre nuvens escuras e engoliu-a. Em seguida uma mulher gritando ecoou em seus ouvidos e, por último, uma pupila em fenda cercada por fogo envolveu Lisa. Ela gritou ao mesmo tempo em que uma voz sussurrou em seus ouvidos:
__ Não adianta fugir, porque eu... vou te matar, Lisa!
__Lisa! Lisa! LISA!
Lisa se debatia em cima da cama enquanto Louise gritava para ela acordar. Por fim, num grito assustador de Lisa, meio abafado pelos gritos de Louise, ela acordou com o suor escorrendo no rosto e com a respiração ofegante.
__Lisa, se acalma, foi só um pesadelo! __disse Louise tentando acalma-la.
Lisa juntou as pernas ao corpo ao mesmo tempo em que as lágrimas escorriam pelo rosto.
__Não foi um pesadelo, Louise... não foi... foi real... alguém... alguém quer me fazer sofrer para depois... para depois me matar... __disse Lisa ofegante.
__Ninguém quer matar você, Lisa! __disse Louise calmamente__ Foi só um pesadelo! Agora volta a dormir que você vai voltar a se sentir melhor...
__Não... eu vi... eu vi, Louise!
__O que foi que você viu, Lisa? __perguntou Louise.
__Um Carrasco... existe um Carrasco vivo!... Ele está aprisionado em algum lugar... ele quer sair... se vingar... ele..
Lisa parou de falar e começou a chorar incessantemente.
Louise ficou intacta onde estava. Seus olhos vibravam de um lado para o outro. Por alguma estranha razão, ela sentira um arrepio e um aperto no coração como se algo ruim fosse acontecer.
Lisa continuou paralisada sobre a cama, os olhos vibrando e o coração dando repuxadas no peito. Em sua mente um pensamento percorreu num instante de segundos: algo terrível está para acontecer a qualquer momento!
A Cachoeira Encantada e o livro de Athus
O dia amanheceu com um sol radiante e majestoso. Ás poucas horas da manhã, um calor quase insuportável tomou conta do Reino da Fênix. Lisa teria percebido o calor se não estivesse debruçada em pensamentos vagos e pessimistas.
Louise desceu as escadas da Sala Comunal e sentou numa poltrona ao lado de Lisa.
__Ainda pensando no pesadelo?
Lisa estava olhando para os quadros de seus pais sem piscar os olhos. Ela virou a cabeça lentamente para Louise e olhou para ela. Seus olhos estavam fundos e havia olheiras neles.
__Depois do sonho com as vozes eu nunca tive um sonho que me deixasse mais perturbada como agora! __murmurou Lisa.
__Você acha que esse pesadelo quis dizer algo para você, como aconteceu com o outro sonho?
__Não sei... talvez!
As duas ficaram em silêncio.
Um tumulto de pessoas desceu as escadas e passaram pelas duas. A última a descer as escadas foi Maya, que parou no meio da sala e voltou-se para Louise.
__A propósito, queridinha, eu sei que ontem você tentou pegar o Localizol __disse Maya com uma voz esganiçada__ Eu só lamento que o meu feitiço de proteção não a tenha transformado num sapo feio e fedorento! Agora, mais do que nunca... ESQUEÇA AQUELA PORCARIA POR QUE EU NÃO VOU DEVOLVER!!!!
Maya arrebitou o nariz e saiu da sala a passos pesados.
Louise soltou um suspiro e virou-se desanimada para Lisa.
__O que vamos fazer? __disse sem comentar os gritos de Maya.
__Não sei. Estou desorientada!
__Se quisermos descobrir quem é Madame Geoffrin, o que ela faz e no quê ela pode nos ajudar, teremos de ter o Localizol em mão...
__Não sei, __interrompeu Lisa__ eu tenho a mera impressão de que já ouvi esse nome em algum lugar. Madame Geoffrin!
Novamente as duas ficaram em silêncio. Mentalmente, Louise tentava pensar em uma outra forma de pegar o Localizol e Lisa, pensava no Carrasco.
__Vivo. Um Carrasco está vivo, Louise!
__Como? __perguntou Louise distraída.
__Um Carrasco. Vivo! __disse Lisa novamente__ Espero que seja apenas um pesadelo, mas, eu sinto que sonhei com a verdade. Gaya me disse que a voz que ouvi, da outra vez, era um alerta para mim. Minha mãe era um Oráculo e eu, provavelmente, também seria um. Talvez esse pesadelo seja uma visão da realidade onde um Carrasco sobreviveu ao ataque à Fonte Phoenix no ano anterior.
__Um Carrasco... __repetiu Louise vagamente__ As coisas começam a fazer algum sentido, apesar de que as informações ainda são confusas.
__O que quer dizer?
__Bem, se um Carrasco realmente sobreviveu ao seu ataque, isso siguinifica que é dele de quem Slater falava na carta. Ele não disse para você ter cuidado porque alguém iria se vingar?
__Disse __confirmou Lisa__ Isso pode ser verdade. Eu vi o ódio que ele sentia, eu vi a sede de vingança... E agora, Louise?
__Não sei, Lisa! Acredito que nós teremos que fazer o máximo possível para conseguir recuperar o Localizol. O problema é: como vamos conseguir?
O salão do refeitório estava mais vazio do que nos outros dias. Talvez o calor estivesse levado os alunos a ficarem tomando uma brisa refrescante nos jardins da Fonte Phoenix, mas Lisa não acreditou muito nessa explicação.
No Campo de Treinamento dos Elfos, uma enorme roda havia sido feito pelos alunos que rodeavam um tabuleiro. Ao passar por eles, Lisa percebeu que se tratava de um Tabuleiro de Ramesis e que, obviamente estavam jogando.
Mas o tabuleiro não foi à única coisa que chamou a atenção de Lisa. Bem longe dos alunos, um homem magro de barba mal feita e de cabelos longos e oleosos caídos sobre os olhos a observava com um estranho olhar. Perto do homem, Hariph estava encostado à parede do Castelo dos Gaullers, também lançando um olhar sombrio para ela.
Lisa deu mais uns passos para frente e notou que pelo menos treze corvos passaram por cima dela e voaram em direção ao homem. Pelo menos quatro corvos pousaram no ombro e na cabeça do homem, já o restante, pousaram ao seu redor.
__Ele é sinistro, não é?
Lisa estava tão distraída olhando para os corvos pousarem ao lado do homem que nem percebeu quando Max chegou perto dela.
__Quem é? __perguntou Lisa vendo Max.
__É o novo zelador, Desmond Fhyfer. Dizem que ele adora corvos. Ninguém sabe o motivo de tanta adoração...
Lisa voltou a olhar para Desmond, mas ele estava entrando no castelo com os corvos o seguindo. Por sua vez, Lisa notou que Hariph havia desaparecido misteriosamente.
__E então, está animada para o passeio?
Lisa virou-se para Max não acreditando que havia esquecido do passeio. Muitas coisas estavam passando na cabeça de Lisa àquela manhã, fazendo o passeio passar despercebido.
__Ah, claro! __disse Lisa tentando forçar um sorriso__ Quando você quiser ir, eu estou pronta!
__Então, vamos?
Max havia preparado uma carruagem e a deixado no campo de pouso. Eles passaram conversando pelo jardim norte e foram até o campo. Ao chegarem na carruagem, Max abriu a porta para Lisa e a ajudou entrar. Max entrou e, fazendo um movimento com a mão, os cavalos brancos galoparam e a carruagem começou a voar sobre os castelos da Fonte Phoenix.
Enquanto a carruagem saía da Fonte Phoenix, Lisa olhou para fora e viu Garrinha dando um vôo rasante sobre eles com Zig e Cliffe sobre o grifo. Naquele momento, Lisa ficou feliz ao pensar que finalmente os irmãos Pés Grandes conseguiram voar com o Garrinha depois de muito tempo separados. Mas enquanto ela ficava feliz pelos Pés Grandes, Lisa pensou na situação de Dan que ainda seria um sapo até o meio-dia.
A carruagem deu um vôo rasante sobre um campo florido com flores laranjas e pousou próximo a uma bela cachoeira. Lisa desceu da carruagem, assustada por que o campo era o mesmo do seu sonho e encantada ao mesmo tempo, por que a cachoeira era linda.
__Está vendo aquela queda d’água? __disse Max apontando para a cachoeira__ Eles chamam ela de Véu de Noiva. É linda, não é? Venha, eu vou te mostrar uma coisa.
Max pegou na mão de Lisa e a puxou até a beirada da cascata de água que caía sobre várias pedras.
__Onde está me levando, Max? __perguntou Lisa enquanto tentava se equilibrar sobre uma pedra.
__Você vai ver.
A cada pulo que davam sobre as pedras, Lisa sentia as gotas de água respingarem seu rosto e molhar parcialmente seus cabelos. Quando finalmente estavam quase debaixo do Véu de Noiva, Max virou para Lisa e gritou para que ela o ouvisse entre o barulho da água caindo sobre as pedras.
__Pule quando eu contar até três!
__O quê? __gritou Lisa.
__Eu disse para você pular quando eu contar até três!
__OK!
__Um... dois... três!
Lisa, ainda segurando a mão de Max, pulou contra a cascata. Ela sentiu a água bater contra seu corpo e molhar sua roupa. Quando ela deu por conta, estava seca novamente. Ao olhar para frente, seu queixo caiu.
__Uau, Max!
__É lindo não é?
Lisa e Max pareciam que haviam atravessado um portal mágico e caído em um outro reino. A frente dos dois havia uma grande planície de gramíneas onde várias Fowls pastavam juntamente com algumas criaturas peludas e curiosas. Lisa virou-se para trás e viu que uma cascata de água caía mesmo sem haver cachoeira alguma.
__Está vendo aquelas criaturinhas peludas sobre as Fowls? __perguntou Max__ São Coalus. Não são bonitinhos?
Lisa deu alguns passos à frente e viu um Coalus entrar atrás de uma moita. O Coalus era uma criaturinha um pouco maior do que um coelho. Ele possuía grandes orelhas caídas que eram muito peludas. Seus olhos eram grandes, do tamanho duma bola de pingue-pongue e possuíam uma coloração azul esverdeada.
Lisa tirou a sua atenção do Coalus amoitado e voltou a olhar para as grandes aves, maiores do que uma avestruz. As Fowls, ao perceberem a presença de Lisa e Max, levantaram as cabeças peladas e, num pio estranho, saíram correndo em várias direções.
__Será que estão fugindo da gente? __perguntou Lisa.
__Acho que não. As Fowls são muito dóceis... ah olha! __Max apontou o dedo para quatro Coalus que corriam atrás das Fowls e as espantavam.
__Eles parecem bem levadinhos!
__E são! Vem __Max pegou novamente na mão de Lisa e a puxou pelo campo em direção a um grande carvalho no centro do campo aberto.
Enquanto Lisa e Max corriam na direção do carvalho, vários Coalus surgiam entre a grama alta e arregalavam os grandes olhos para os dois.
__Aqui!
Max parou embaixo da sombra do grande carvalho e tirou um lenço do bolso. Ele jogou o lenço no chão e depois o apanhou novamente. Num movimento do lenço, uma cesta de piquenique surgiu cheia de doces e frutas.
__Magos também são ótimos cozinheiros! __disse Max sorrindo para Lisa ao ver que ela estava com a boca ligeiramente aberta.
Lisa e Max se sentaram e comeram o que estava dentro da cesta. As horas passaram como num relâmpago. Lisa aproveitou cada segundo do piquenique a risos e gargalhadas __Max contava piadas ótimas. Aquele momento fez com que Lisa esquecesse os problemas e se sentisse menos estressada e preocupada com o pesadelo da noite anterior.
Durante a manhã inteira, a companhia de Max foi agradável, muito mais do que Lisa esperava. O jovem mago era doce e não podia se negar que ele sabia agradar alguém. Lisa percebeu, o que antes não havia percebido, que Max era muito mais bonito de perto do que longe. Em vários momentos, os dois trocaram olhares e ficaram tímidos inesperadamente. As horas em que ambos estavam sozinhos debaixo da grande sombra do carvalho fez com que Lisa sentisse uma sensação gostosa no peito sempre que olhava para os olhos de Max. No entanto, em todos esses momentos, ela ficava sem graça e desviava o olhar para disfarçar a bochecha rosada.
O sol do meio-dia aproximou e Max e Lisa recolheram as coisas. Enquanto Max fazia a cesta desaparecer com um movimento do lenço, Lisa dava uma maçã para um Coalus acinzentado que se escondia atrás do carvalho.
Max aproximou da cascata de água que caía de lugar algum e atravessou. Lisa, por sua vez, suspirou forte antes de atravessar a barreira mágica de água. No entanto, antes de atravessa-la, algo chamou a sua atenção.
Num vulto negro e sombrio, Lisa pensou ter visto uma sombra atravessar o campo e se esconder na grande sombra do carvalho. Ela parou um instante, olhando para a sombra do carvalho para ver se via alguma coisa debaixo dela __não havia nada, exceto três Coalus que lutavam pela posse de um pedaço de maçã.
Virando-se novamente para a cascata de água, Lisa deu um passo para trás e, num impulso, correu e atravessou a barreira.
Após Lisa ter atravessado a barreira, um vulto negro e sombrio se formou entre a sombra do carvalho. Aos poucos, o vulto se transformou numa sombra e esta, num homem coberto por um manto negro ligeiramente rasgado com um capuz cobrindo o rosto. O estranho homem espantou os Coalus e encostou-se ao carvalho. Por alguns segundos ele ficou olhando para a cascata de água que caía de lugar algum. Por fim, o homem virou uma sombra negra e desapareceu entre a sombra do grande carvalho.
A água do Véu de Noiva bateu contra o corpo de Lisa e a deixou inteiramente molhada. Max estava logo a sua frente, sobre uma pedra e embaixo da cascata, tomando um banho.
Max saiu debaixo da cascata e balançou a cabeça para tirar o excesso de água dos cabelos negros que batiam no ombro. Lisa, por sua vez, tentou pular para uma pedra e escorregou, puxando Max para dentro do riacho.
Lisa e Max levantaram de dentro da água rindo um para o outro. No entanto, a aproximação de quase um palmo entre os dois os silenciaram. Ambos trocaram olhares. Naquele momento um desejo ardente tomou conta deles. Max aproximou mais de Lisa e pegou em sua cintura. Lisa, por sua vez, sentiu a respiração ficar mais forte e o coração bater aceleradamente. Em seguida, os rostos se aproximaram e os lábios molhados tocaram-se, desencadeando um beijo sobre a cascata de água que caía sobre os dois.
Lisa sentiu uma grande leveza e uma sensação estranhamente maravilhosa. Porém, algo passou por sua cabeça. Ela não podia continuar, tinha que parar por ali... estava confusa...
__O que foi, Lisa? __perguntou Max ao ver Lisa se afastando.
__Me desculpe, Max. Eu não devia... não devia mesmo!
Lisa saiu de dentro da água e tirou a varinha do bolso. Num toque da varinha na cabeça, as vestes e o cabelo de Lisa secaram-se.
Max saiu lentamente da água enquanto Lisa entrava na carruagem. Assim que saiu totalmente do riacho, Max fez um movimento com a mão e secou-se.
Dentro da carruagem, Lisa tentava não olhar para fora. Sua mente estava confusa, ela não sabia se era aquilo que ela realmente queria. Porém, ao mesmo tempo em que se sentia confusa, Lisa não podia deixar de negar que gostara do beijo.
Num impulso e balançar da carruagem, Lisa viu que Max não entrara e que preferira guiar os cavalos sobre a carruagem. Talvez ele estivesse muito magoado para não preferir ir com ela e evitar as trocas de olhares.
Os cavalos galoparam sobre a Fonte Phoenix e a carruagem pousou no campo de pouso. Lisa abriu a porta da carruagem e saiu. Ao sair, Lisa tentou olhar para Max, mas, para sua surpresa o rapaz já havia descido da carruagem e estava a caminho do Castelo dos Magos. Naquele instante, Lisa sentiu um aperto no coração e tentou imaginar como Max estava. Ela voltou para o Castelo dos Bruxos pensando no que acontecera entre os dois, nem mesmo a sombra que ela pensou ter visto no campo passou pelos seus pensamentos.
Enquanto Lisa subia as escadas espirais, o gentil duende perguntou-a o que havia acontecido para ela estar tão triste. Em resposta, Lisa apenas lançou um olhar distante para Luft e disse um “Nada de mais”. Nada de mais? Durante todo o percurso da subida das escadas espirais, Lisa ficou pensando se aquilo era um nada de mais. Não podia ser um nada de mais, era algo muito significativo para ela e, com certeza, para Max também.
O corredor que dava acesso a Sala Comunal estava apinhado de gente. Lisa, envolta em pensamentos, não percebeu que havia uma correria no corredor e gritos agudos de mulheres. Somente quando uma garota do quarto ano esbarrou em Lisa, foi que ela percebeu o que estava acontecendo.
No fundo do corredor, um grande sapo magricela vinha correndo na direção dela. Por onde o sapo passava, as pessoas abriam caminho sobre protestos e gritos ensurdecedores. Naquele exato momento, Lisa voltou a realidade e a menos que estivesse enganada, o sapo Peter havia fugido, pois Zig e Cliffe corriam freneticamente atrás dele.
__Peguem o sapo! __gritou Zig.
O sapo Peter passou pulando entre as pernas de duas garotas aos berros do primeiro ano e desviou das garras de alguns rapazes que propuseram a capturar o sapo.
Vendo que o sapo Peter estava vindo em sua direção, Lisa sacou a varinha e apontou para ele.
__Petrificus!
O sapo Peter pulou e o feitiço bateu no chão.
__Olá, Lisa __disse Cliffe sem fôlego__ Foi uma boa tentativa, mas não deu certo! PEGUEM ESSE SAPO!
Cliffe saiu correndo, seguida por uma multidão de rapazes que tentavam lançar Feitiços Imobilizadores contra o sapo fujão.
Sob uma chuva de feitiços dispersados por vários pontos do corredor, o sapo Peter saiu pulando deixando todo mundo frustrado. Os feitiços novamente ricochetearam o corredor e pelo menos metade deles foram refletidos pelas armaduras. Naquele momento, Lisa viu que pelo menos uns três rapazes caíram duros para trás após serem acertados por feitiços que nem eles sabiam de onde vinham.
Lisa pensou em ajudar, mas para a sorte de todos, Norman apontou a varinha para Peter e gritou Imobila! O feitiço acertou o sapo e num pulo, ele voou pela janela do corredor até cair duro dentro do chafariz.
Lisa virou as costas para os rapazes, que corriam para descer as escadas para pegar o sapo, e continuou a andar pelo corredor.
Ao virar um corredor, Lisa deparou-se com um grupo de garotas que pareciam olhar algo no chão com estrema repugnância.
__Como ele é feio e nojento! __disse uma garota do terceiro ano.
__Olha como os bracinhos dele são fortes, credo! __disse outra garota do quarto ano.
__Credo gente, é só um sapo inofensivo!
Lisa reconheceu a voz de Alice Boston e percebeu que elas falavam de um sapo. Ao olhar de esguelha, Lisa viu o sapo Dan parado em frente a elas, saltando bolhas coloridas pela boca.
__Ele parece estranho... __murmurou a garota do terceiro ano.
Lisa olhou novamente para o sapo e viu que realmente ele estava estranho. Além das bolhas que saíam da boca do sapo, uma luz fraca de cor amarelada saía da pele verde dele. Lisa pensou em se aproximar para ver melhor, mas preferiu ficar onde estava para ver o que ia acontecer.
Aos poucos, a luz começou a sair com maior intensidade da pele do sapo e tomar conta do corredor. As garotas se afastaram receosas do sapo e Lisa pode ver que ele crescia e tomava uma forma humana.
Assim que a luz cessou, Lisa viu Dan abaixado como um sapo, totalmente nu. As garotas, vendo o resultado da transformação soltaram uma exclamação estranha. Dan percebeu o que estava acontecendo e ergueu-se lentamente.
__O que foi? __perguntou Dan, já em pé e olhando para as garotas__ O que estão olhando?
As garotas pareciam congeladas em seus lugares, todas com a boca aberta e com os olhos fixos em algum ponto entre as pernas de Dan.
Depois de perceber que as garotas estavam olhando para algo entre suas pernas, Dan curvou-se para ver o que elas tanto olhavam. Foi aí que ele viu que estava completamente nu. Rapidamente, Dan cobriu suas genitais com as mãos e pareceu uma barata tonta a procura de um lugar para se esconder. No entanto, naquele corredor não havia armaduras e muito menos, cortinas nas janelas.
Vendo a situação de Dan, Lisa pensou em fazer algo, mas Alice fez primeiro.
__Acho que isso vai ajudá-lo, Dan __Alice ergueu a varinha e apontou para o rapaz desconcertado que tentava cobrir seus genitais com as mãos__ Vestimenta!
Uma luz flamejante atingiu Dan e o fez afastar para trás. Quando ele menos esperou, um longo vestido rodado rosado surgiu juntamente com um chapéu rosa-claro e luvas da mesma cor do chapéu.
__Me desculpe, Dan __disse Alice entre as gargalhadas das garotas__ Eu não tive intenção... na verdade eu não sou muito boa nesses feitiços...
__Lisa, você viu... ah, já achei!
Louise apareceu atrás de Lisa segurando a varinha na mão e parecendo ligeiramente cansada.
__Dan, eu estava procurando você... quero dizer, o sapo... ah, o que aconteceu?
__Não diga mais nada!
Dan puxou as bordas do vestido rodado e passou esbarrando em Louise e em Lisa.
__Dan, o dormitório dos rapazes é na Sala Comunal e ela... fica por ali.
Dan parou meio desconcertado no meio do corredor e virou de volta para Louise.
__Obrigado __disse Dan entre os dentes.
Ao passar de volta por Lisa e Louise, Dan esbarrou nas duas, que seguravam a boca para não rir junto com as outras garotas.
__Aconteceu o quê, Lisa? Você e Max se beijaram?
Lisa e Louise estavam sentadas nas poltronas da Sala Comunal à frente da lareira apagada. Ao lado de Louise havia uma mesinha pequena onde um jornal estava em cima.
__Como foi isso? Me conte todos os detalhes, Lisa!
Louise estava bastante empolgada em saber dos detalhes do passeio dos dois. No entanto, Lisa não parecia que tinha muita vontade de continuar aquele assunto com ela.
__Louise, eu prefiro não falar sobre isso no momento, há muitas coisas na minha cabeça que estão me deixando confusa...
_Ah, claro, eu entendo! Entendo mesmo!
Lisa sorriu pelo canto da boca, satisfeita de que Louise não quisera mais tocar no assunto.
__Dan e Peter, como eles fugiram?
__Ah, eu abri a caixa para ver se os sapos estavam bem e acabei deixando ela aberta __Louise e Lisa riram e depois ficaram em silêncio.
Os olhos de Lisa perpassaram a Sala Comunal distraidamente até focarem o jornal sobre a mesinha. Lisa pegou o jornal e olhou para a capa.
Na capa da Folha do Centauro, havia uma fotografia de uma grande corte de aproximadamente cem homens sentados em escadarias que subiam até metade das grandes paredes de pedra do castelo. No centro da escadaria havia uma grande bancada onde Lorde Weaslow estava e à sua frente e a dos outros, que Lisa julgou também ser lordes, estava um homem de costas. Numa legenda abaixo da fotografia estava escrito:
Fotografia da Suprema Corte da Ordem dos Lordes ouvindo, em primeiro plano, o então inspetor-chefe das masmorras de Azgrah, Neville Chamberlain.
__Lisa, Neville recorreu a Ordem dos Lordes sobre a atitude que Gaya teve...
__Já era de se esperar, Chamberlain prometeu a Gaya que recorreria a Ordem...
__Ele não recorreu apenas a Ordem dos Lordes, ele conseguiu através da Suprema Corte um inquérito que vai investigar o príncipe Gaya.
Lisa abaixou os olhos para a matéria escrita abaixo da fotografia e leu-a:
Na tarde de ontem, o então inspetor-chefe das masmorras de Azgrah, Neville Chamberlain, recorreu a Suprema Corte da Ordem dos Lordes para criar um inquérito que investigaria a conduta do então Príncipe Regente de Aragorn, Gaya Dominic Willians Aton II.
“Gaya não está mais administrando a Fonte Phoenix como um sucessor de Aragorn deveria administrar”, disse Neville Chamberlain a um de nossos repórteres, “Seus atos estão infligindo as leis das boas condutas reais e morais. É inadmissível que a Ordem permita que seus atos atrapalhem o bom funcionamento das masmorras de Azgrah para beneficiar terceiros...”.
__Tenho a impressão de que esse terceiros esteja relacionado a mim... __comentou Lisa abaixando o jornal.
__Tenho certeza de que é, Lisa! __disse Louise pegando o jornal das mãos de Lisa.
Louise jogou o jornal sobre a mesinha e, depois de um suspiro, falou:
__Eu estou louca para encontrar uma maneira de pegar o Localizol de volta. Sabe, Lisa, às vezes eu até desanimo... Maya voltou muito diferente. Ela não é mais aquela garota sonsa que só fazia feitiços errados e... Ah!
Louise soltou um grito agudo que ecoou pela Sala Comunal fazendo Lisa pular da sua poltrona. Lisa virou para trás e viu Peter, totalmente nu subindo as escadas apressadamente tampando suas genitais com as mãos.
__Vocês não viram nada!... Não viram nada!
A voz de Peter desapareceu no fim da escada assim que ele entrou no corredor que dava acesso aos quartos dos rapazes. Minutos depois de Peter ter desaparecido, Dan apareceu vestido e ainda com um certo tom envergonhado na sua feição.
__Do que estão rindo? __perguntou Dan irritado para Lisa e Louise.
A noite chegou envolvida por densas nuvens de chuva que prometiam uma noite tempestuosa. Os bruxos saíram do Salão do Refeitório e ficaram vagando pelos jardins iluminados por vaga-lumes mágicos que estavam presos dentro de bolas de cristais que flutuavam pela Fonte Phoenix inteira, enquanto não começava a chover.
Durante o resto da noite, Lisa ficou pensando no beijo dela e de Max. Houve momentos em que ela desejou procurar Max e tentar conversar com ele, mas desistiu ao pensar como ele estaria magoado naquele momento.
A noite não foi como Lisa esperava ser. Ela foi chuvosa, cheia de raios e trovões que chacoalhavam os castelos da Fonte Phoenix. Para ajudar, Lisa perdeu o sono e passou a maior parte da noite à beira da janela espiando a chuva cair.
Lisa mantinha a varinha na mão com uma luz acesa na ponta. Durante um longo tempo ela tentou ver o Castelo dos Magos, mas a chuva grossa impediu a sua visão. No entanto, algo vindo do Castelo dos Trons chamou a sua atenção.
Durante períodos regulares, uma luz muito forte brilhava em diferentes janelas do castelo. Em uma das vezes, Lisa pensou ter visto a sombra de um homem apontando a varinha para alguém, porém, a chuva deixou o vidro da janela turvo, impossibilitando a sua visão.
Por alguns minutos, Lisa ficou observando a luz brilhar em diferentes andares e janelas do Castelo dos Trons. Tendo um mau-pressentimento a respeito do que seria essas estranhas luzes, Lisa voltou a sua cama e tentou dormir, mas foi inútil.
Quando chegou o amanhecer, uma onda de conversas invadia o hall do Castelo dos Bruxos onde Lisa passava. Pareciam que todos estavam falando do mesmo assunto.
__Atacados? Mas quem? __Lisa ouviu um rapaz perguntando para Alice Boston.
__Não sei. Só sei que vinte alunos do Castelo dos Trons foram atacados enquanto dormiam. Dizem que eles perderam seus poderes...
__É verdade, eu estou te dizendo __Lisa ouviu uma outra voz por trás dela__ Brock Flinter também foi atacado e agora ele não consegue nem lançar uma faísca de fogo...
__Dizem que os inspetores de Azgrah vão voltar novamente...
__Ouvi dizer que Gaya não vai traze-los de novo para cá... Eu acho que ele vai dar conta disso sozinho...
__Eu acho que Chamberlain está certo, Gaya não está sabendo administrar a Fonte Phoenix. Se ele soubesse, já teria trago os inspetores de volta pra cá. Nunca se sabe se os ataques vão voltar novamente...
__É, mas devemos lembrar que a Guarda Real também está aqui. Eles vão nos proteger!
Lisa entrou no corredor que ligava ao refeitório e novamente escutou as pessoas cochicharem.
__E se quem atacou for o tal assassino dos Ravenclaws?
__Não diga uma coisa dessas! Sabemos que ele é uma mulher e que provavelmente mora nesse castelo. Todo cuidado é pouco e...
Assim que Lisa passou pelos rapazes que cochichavam, eles pararam de falar e olharam para Lisa como se ela fosse algum bicho-de-sete-cabeças. Estranhando a reação dos dois, Lisa entrou no Salão do Refeitório e novamente se deparou com cochichos de todos os cantos das grandes mesas.
__De que ataque eles estão falando? __perguntou Lisa enquanto sentava-se à mesa ao lado de Dan.
__Parece que enquanto todos dormíamos, alguém entrou no Castelo dos Trons e roubou os poderes de vinte pessoas...
Lisa já ouvira aquilo. Por um instante ela chegou a julgar sua pergunta como um tanto idiota depois de já ter ouvido a resposta enquanto passava pelo corredor.
__Onde está Louise?
Lisa olhou para os lados a procura da amiga, mas só encontrou pessoas cochichando por todos os cantos.
__Não sei __respondeu Dan enquanto mordia um pão__ Não a vejo desde o amanhecer... Acredito que ela deva estar andando por aí...
Um pequeno detalhe passou pela mente de Lisa e a fez levantar da mesa no mesmo instante.
__Aonde você vai, Lisa? Você nem terminou de tomar seu café!
Mas Lisa não ouviu Dan. Ela já estava na metade do Salão do Refeitório e parecia disposta a ir a algum lugar com urgência. Enquanto ela passava pelas mesas, os alunos abandonavam os seus pães para olha-la passando.
Por que estão olhando para mim?, pensou Lisa. Mas isso não importava agora. Ela tinha que procurar Athus e contar-lhe o que vira à noite. Talvez fosse apenas uma impressão... mas no fundo, Lisa sabia que realmente vira alguém no Castelo dos Trons...
À porta da sala de Athus, Lisa parou e hesitou ao bater para entrar. Ela não sabia se deveria contar-lhe. Depois que eles voltaram do Mundo dos Humanos, Athus pareceu estranho com Lisa. Era como se ele escondesse algo.
Isso é besteira! Athus me disse que contaria tudo o que sabia naquele dia... não posso deixar contar ele o que vi...
Quando Lisa deu por conta, ela já estava dentro de uma sala vazia e sombria. Athus não estava lá dentro e também não havia nenhum sinal de que ele estivera ali pela manhã. No entanto, havia uma gaveta aberta na mesa de Athus. Dentro da gaveta, um livro de couro peludo estava à mostra.
Lisa olhou para o livro e lembrou de ter visto Athus folheá-lo uma vez. Por um instante, Lisa se aproximou da mesa e pensou em pegar o livro... saber o que tinha dentro dele... Próxima a gaveta, a mão de Lisa esticou até o livro. Ela tocou-o. Uma estranha sensação a fez desejar pega-lo... ia pega-lo...
__O que está fazendo aqui, garota? __perguntou uma voz fria e funesta.
Lisa virou rapidamente para a porta e viu um homem magro de barba mal feita e de cabelos longos e oleosos caídos sobre os olhos, surgindo entre um clarão do corredor. À vaga luz da sala de Athus, Lisa viu que era Desmond Fhyfer, o novo zelador.
__Eu perguntei, o que está fazendo aqui garota?
__Athus, estava procurando por ele...
__Como viu, ele não está aqui! Como zelador, eu não gosto de gente intrometida bisbilhotando as salas dos professores! __disse Desmond entre os dentes.
__Eu não estava bisbilhotando...
__Queira se retirar, imediatamente!
Lisa olhou para o livro que há alguns segundos atrás estava preste a pega-lo e depois saiu da sala. Quando ela estava na saída do corredor, Lisa escutou Desmond bater a porta da sala de Athus e resmungar algo para um corvo que estava pousado à janela do corredor.
__Esses alunos bisbilhoteiros não passam de...
A voz de Desmond desapareceu entre o som do sinal mágico da Fonte Phoenix para o início das aulas.
Lisa passou pelo hall de entrada e subiu as escadas espirais as pressas. Depois de pegar seu material para as duas primeiras aulas, Lisa voltou às escadas espirais onde encontrou Louise subindo.
__Lisa, eu procurei você por todos os cantos... precisamos conversar!
Defesa Contra as Sombras
Louise levou Lisa até uma sala escura, empoeirada e abandonada do segundo andar do castelo. Durante todo o percurso, Louise permaneceu calada e estranhamente nervosa. Lisa ficou se perguntando por que a amiga estava daquele jeito. Porém, Lisa sabia que só havia um motivo para aquele comportamento...
__Gaya me deu ordens para não permitir que você saia à noite sozinha __disse Louise após indicar uma cadeira para Lisa sentar__ Ele teme que esse ataque aos vinte alunos seja o mesmo ataque que você e Athus sofreram no fim do ano passado.
__Athus contou a ele o que houve? __perguntou Lisa.
__Sim. Quando ele soube do ataque ao Castelo dos Trons, correu até o príncipe Gaya e contou a ele o que aconteceu. Pelo que sei, as pessoas atacadas perderam totalmente seus poderes. Athus acredita que era isso que a pessoa que atacou queria fazer com você e com ele.
__Tirar nossos poderes, mas porque? __perguntou Lisa.
__Não sabemos. A meu ver, Athus está escondendo algo. Durante todo o momento em que nós estivemos conversando na sala com Gaya e Martius, Athus sempre permanecia calado e distante.
__Talvez ele apenas estivesse preocupado...
__Não sei, Lisa, mas a qualquer custo você precisa tomar cuidado ao sair a noite pelo castelo. Sempre quando precisar sair, me chame...
__Isso é ridículo, você não acha?
__Como?
Louise franziu a testa e fitou Lisa com um olhar surpreso.
__Bem, acredito que eu já sou bem grandinha para ser vigiada ao sair sozinha à noite pelo castelo...
__Lisa, entenda, isso é uma coisa necessária para a sua proteção...
__Que proteção? Por acaso a Besta ressuscitou e está andando a noite a minha procura? Acho que não, Louise!
__Não foi isso que eu quis dizer, Lisa...
__Não importa. Acho que Gaya e, principalmente Athus, ainda escondem muita coisa sobre mim e sobre Malagat. Se eu consegui derrota-lo, por que não vou conseguir derrotar um louco que vive roubando os poderes dos outros?
__Lisa, não é bem assim!
__Me desculpe, Louise, mas eu não posso aceitar essa situação... Temos que voltar para a aula, estamos atrasadas.
Lisa abriu a porta da sala e saiu, deixando Louise às escuras.
Enquanto Lisa acelerava os passos para chegar a sala de aula, seus pensamentos estavam mergulhando em lembranças que a deixavam atordoada. Por breves instantes, ela reviveu o ataque do homem, dos Emissários da Morte, a carta de Slater, o sonho estranho das vozes, o ataque da Sentinela ordenado por Chamberlain e, por último, o pesadelo com as sombras e com o Carrasco. Quando Lisa deu por conta, ela já estava à porta da sala de aula.
__Está atrasada, senhorita...
Lisa escutou uma voz fria e sombria vindo de dentro da sala. Ela piscou o olho e viu uma grande sala com quase quarenta cadeiras e nove janelas verticais encortinadas ao fundo por onde a luz do sol atravessava e iluminava as paredes. À frente da turma, um homem imponente de aparência mal-humorada e rancorosa, segurava um pergaminho e uma pena branca onde fazia a chamada. O homem abaixou os olhos negros para sobre o pergaminho e disse friamente entre os dentes:
__Senhorita Torner, entre!
Lisa entrou e sentou-se ao lado de Dan, na segunda cadeira da terceira fileira de alunos.
Magnum Darkness largou o seu pergaminho sobre a mesa e encaminhou-se para Lisa com o seu enorme manto preto esvoaçando no ar. Ao chegar na mesa dela, ele jogou seu manto para trás e apoiou os braços sobre a mesa, fitando os olhos negros em Lisa.
__Eu não permito, senhorita Torner que nenhum aluno chegue atrasado em minhas aulas, não importando o motivo do atraso. Espero que o seu motivo seja...
Darkness parou de repente. Uma luz que atravessava a sala tocava o seu rosto, iluminando-o. Erguendo-se novamente, Darkness fez um movimento brusco com a mão. Depois de um estralar de dedos, as janelas se fecharam uma a uma e as cortinas cobriram a claridade do sol num estampido forte que assustou os alunos.
__Como eu estava dizendo... __disse ao retomar a posição inicial. No entanto, antes mesmo dele continuar, a porta da sala se abriu e Louise surgiu respirando ofegante.
__Me desculpe professora Darkness, espero não ter chegado muito atrasada!
Lisa olhou para Darkness e o viu mexer os lábios como se estivesse mastigando algo. Ele ergueu-se e fez um sinal para que Louise entrasse.
__Sente-se aqui, senhorita... __disse Darkness apontando uma mesa ao lado de Lisa.
__Longbottom, senhor __disse Louise.
__Longbottom, que seja. Como eu estava dizendo, eu não permito que alunos cheguem atrasados em minhas aulas. Está claro? __Lisa e Louise balançaram a cabeça assim que Darkness lançou-lhes um olhar furioso__ Que isso não se repita novamente, caso contrário, terei de aplicar uma detenção para as duas ou para qualquer um que se atreva a chegar atrasado em minhas aulas.
Magnum Darkness ergueu-se lentamente e voltou a sua mesa em passos longos.
__Agora, devido aos últimos acontecimentos __Darkness fitou Lisa como se a acusasse de alguma coisa__ Nós estamos atrasados em nossa matéria. Para que vocês não ficassem prejudicados, Gaya me concedeu mais dois tempos extras durante esta semana. Um será hoje e os outros três tempos serão dados amanhã.
Como se esperasse a reação de espanto dos alunos, Darkness fez uma pausa e depois continuou.
__Muito bem, vamos ao que interessa __Darkness virou-se para a mesa, pegou uma varinha negra que estava dentro de uma gaveta e apontou-a para o quadro__ Alguém pode nos dizer o que é isso?
Ao verem que Darkness apontava a varinha para o quadro, vários alunos soltaram risadinhas abafadas. Afinal, era uma pergunta idiota.
__Eu não estou achando nada engraçado, suas cabeças ocas! Senhorita Longbottom?
Lisa virou-se para Louise e a viu erguendo a mão o mais alto que podia. No fundo da sala, Maya imitava exageradamente a forma como Louise erguia a mão.
__É um Quadro-Negro, senhor. Ele é muito utilizado nos estudos das Sombras.
__Ele é muito utilizado nos estudos das Sombras... __repetiu Maya do fundo da sala.
__Correto. Para muitos cabeças ocas, esse é apenas um quadro-negro normal. Na verdade, esse quadro possui habilidades mágicas especiais que nos auxiliam a compreender melhor o estudo das Sombras.
‘Nós sabemos que as Sombras estão em qualquer lugar, sempre a espera de um momento propício para atacarem. É impossível sabermos se a sombra de uma árvore é uma sombra comum ou uma Sombra demoníaca. Esse é o nosso ponto fraco. Ninguém em Aragorn consegue distinguir uma sombra projetada pela luz, de uma criatura do Reino das Sombras.’
‘Para que vocês aprendam a lidar com situações desse tipo, eu fiz questão de trazer esse quadro para as minhas aulas. Agora, quero que todos se armem e prestem atenção no que vai acontecer quando eu acionar as propriedades mágicas deste Quadro-Negro. Estão prontos? Quando eu contar três...Um... Dois... Três...’
Darkness tocou a superfície do Quadro-Negro com a ponta da varinha. De repente, um redemoinho negro começou a girar dentro do quadro e uma ventania tomou conta da sala. Os alunos levantaram de suas carteiras e seguraram forte as suas varinhas.
Aos poucos, a ventania se espalhou pela sala à medida que uma fumaça negra saía de dentro do Quadro-Negro. Magnum Darkness afastou de sua mesa e juntou-se aos alunos com a varinha na mão.
A fumaça negra começou a sair do quadro com maior intensidade à medida que o redemoinho aumentava de tamanho. Aos poucos, a fumaça envolveu os móveis da sala e os engoliu numa escuridão infinita. Quando todos deram por conta, toda a sala havia desaparecido, restando apenas um chão de pedra e um horizonte negro ao redor dos alunos e do quadro.
__Não se preocupem, isso é apenas o início __disse Darkness para tranqüilizar os alunos__ O final disso tudo é bem pior!
__O quê?! __exclamaram todos.
Lisa permanecia ao lado de Louise e agora de Dan, que acabara de se juntar as duas. A atenção dos três estava voltada para o redemoinho do Quadro-Negro que não parava de rodar.
__Isso é emocionante, não acham? __perguntou Louise para Lisa e Dan.
__O que é emocionante? __perguntaram Dan e Lisa.
__O suspense... é emocionante.
Lisa e Dan não podiam acreditar no que acabaram de ouvir. Emocionante? Aquilo tudo era arrepiante!
Depois que as atenções de Lisa e Dan deixaram Louise de lado, o redemoinho parou de girar. Lentamente, nuvens negras surgiram na superfície do quadro. De repente, naquele silêncio assustador, um som de cavalos galopando ecoou pela sala tomada pela fumaça negra.
Entre a escuridão que se projetava e o som de cavalos galopando dentro do quadro-negro, a respiração ofegante dos alunos começou a ser ouvida por todos. Não só a respiração, mas também as batidas do coração e os gritinhos de excitação.
__Se afastem!
Darkness abriu os braços e empurrou os alunos para o centro da sala. Naquele momento, todos olharam para as nuvens que se movimentavam dentro do quadro-negro. O som de cavalos galopando foi aumentando e as nuvens dentro do quadro foram se abrindo como se algo fosse sair de dentro dele.
O silêncio novamente pairou dentro da sala sem móveis. Os olhares dos alunos nem sequer se atreviam a desviar do quadro. O medo foi aumentando à medida do som dos galopes.
De repente, um som de um cavalo relinchando foi ouvido. Todos prenderam a respiração e seguraram as varinhas. Os relinchos aumentaram... aumentaram... aumentaram e...
__Se afastem! __gritou Darkness.
Entre as nuvens do quadro-negro, um cavalo negro com asas de dragões e com um cavaleiro negro montado em cima saiu envolvido pelas nuvens e pela fumaça negra.
Os alunos se afastaram o mais que puderam dentro da sala. Seus olhos não saíam de cima do cavaleiro e do cavalo negro.
O cavaleiro era um homem encapuzado que usava vestes medievais e segurava uma grande espada. As mãos podres e murchas do cavaleiro seguravam as rédias do cavalo e o guiavam pela sala. Entre a escuridão do lugar, os olhos vermelhos do cavalo brilhavam como uma chama refulgente na escuridão da noite.
__Este é um Cavaleiro Negro __disse Darkness apontando a varinha para o cavaleiro__ Ele faz parte de uma família das trevas muito respeitada no Reino das Sombras.
‘Há alguns séculos, os membros dessa família se uniram ao exército da Besta e lutaram contra as Forças Reais de Aragorn. Depois do fim da guerra, onde Malagat perdeu, os Cavaleiros Negros foram aprisionados no Reino das Sombras pela eternidade.’
‘Quando Malagat formou novamente o seu exército juntamente com os Generais das Trevas, ele tentou libertar os Cavaleiros Negros, mas não obteve sucesso algum. Hoje, nós usamos o quadro-negro para recriá-los temporariamente a fim de podermos estuda-los assim como também, as outras criaturas das sombras.’
‘Não sei se já perceberam, mas existem vários Cavaleiros Negros dentro desta sala. Eles estão escondidos entre as sombras a espera do momento certo para atacarem. A tarefa de vocês é encontra-los e manda-los de volta para dentro do quadro-negro. Mas prestem atenção, vocês apenas terão uma hora para faze-lo, caso contrário, o portal se fechará e todos os Cavaleiros voltarão ao seu local de origem.’
__Me desculpe, mas como vamos fazer isso? __perguntou Lisa.
Darkness olhou furtivamente para Lisa e tremeu os lábios antes de rosnar:
__Não seja impertinente, garota! Basta usarem a cabeça e feitiços certos para isso. Vou dar-lhes um exemplo...
Darkness virou bruscamente para o Cavaleiro e apontou a varinha. Num relampejo forte, o Cavaleiro Negro foi lançado de cima do cavalo para dentro do quadro-negro. Após o Cavaleiro ter sido devolvido ao seu lugar de origem, o cavalo de olhos vermelhos se transformou numa fumaça negra e entrou no quadro.
__Muito bem, agora é a vez de vocês __disse Darkness voltando-se para os alunos__ Dividam-se em grupos de três e encontrem os outros Cavaleiros.
Lisa, Dan e Louise formaram um trio. Os outros trios foram se formando de acordo com a afinidade de cada um, o que, como conseqüência, fez Peter sobrar. A solução foi incorpora-lo a Hariph e Melissa, que detestou a idéia. Depois de formados os trios, cada grupo se separou dentro da imensa sala escura e repleta de fumaça negra para localizar os Cavaleiros.
A tarefa dada por Darkness não foi algo tão fácil quanto todos pensavam que seria. Aparentemente, parecia que dentro da sala só havia a fumaça negra, que não parava de aumentar, e os alunos isolados em pontos escuros atrás dos Cavaleiros.
__Como vamos encontra-los? __perguntou Dan.
__Não vai ser fácil __disse Louise olhando apreensiva para cantos mais escuros__ Os Cavaleiros Negros habitam as sombras e, vejam, há sombra em cada centímetro desta sala...
Enquanto Dan e Louise tentavam encontrar um meio para enxergar os Cavaleiros, Lisa andava olhando para o fundo da sala. Parecia ser apenas uma impressão, mas Lisa tinha certeza de que a cada passo que davam, a sala ficava maior e mais escura. A sua certeza aumentou quando ela olhou para trás e não viu mais ninguém dentro da sala, exceto o quadro-negro que não parava de exalar uma fumaça negra e espessa.
__Vocês já notaram que...
BUM!
Lisa, Dan e Louise viraram para um dos cantos da sala e viram uma enorme bola de fogo ser lançada para o teto e explodir como um fogo de artifício. No impacto da explosão, a sala inteira se iluminou e Lisa viu que Gregor era o responsável pela bola de fogo. No entanto, isso não foi a única coisa que chamou a atenção de todos. Com a explosão de luz, todos puderam ver as centenas de Cavaleiros Negros que rodeavam os alunos. Havia Cavaleiros do chão ao teto do castelo. Os que estavam no ar, se destacavam entre as asas de dragão dos cavalos que batiam lentamente de um lado para o outro.
O clarão da bola de fogo se desfez lentamente. Quando tudo estava escuro novamente, Lisa escutou alguém pronunciando um feitiço. Em seguida, uma bola de luz irrompeu a escuridão e se projetou na direção do teto. Numa fração de segundos tudo se iluminou revelando, mais uma vez, onde os Cavaleiros Negros estavam e depois uma nova escuridão tomou conta da sala.
Lisa, Dan e Louise ficaram em silêncio tentando enxergar entre a escuridão o que havia acontecido. Durante uns quinze segundos, a sala permaneceu num silêncio absoluto. Porém, no segundo seguinte, um grande grito ecoou dentro da sala seguido por mais outros gritos agudos.
__Aconteceu alguma coisa! __murmurou Louise atrás de Lisa.
Antes mesmo que Lisa pudesse abrir a boca para dizer algo, vários pontos vermelhos foram surgindo lentamente dentro da sala. Naquele momento, os três prenderam a respiração e se prepararam para se defenderem.
De repente mais gritos ecoaram entre a escuridão, seguido por centenas de relinchados e faíscas luminosas de vários cantos, que Lisa julgou ser produtos de feitiços.
__Se preparem! __disse Louise erguendo a varinha.
__Porquê? __perguntou Dan.
Louise não teve tempo de responder. Um som de cavalo galopando estava se aproximando dos três. Lisa ascendeu uma luz na ponta da varinha e conseguiu distinguir entre a fumaça escura que passava a beira de seus olhos, um Cavaleiro montado no cavalo alado correndo na direção deles com a espada erguida.
Sem pensar, Louise ergueu a varinha e começou a pronunciar um feitiço. Antes mesmo dela terminar o feitiço, o Cavaleiro Negro desapareceu entre a escuridão e reapareceu na frente de Louise. O cavalo alado passou entre os três, jogando-os no chão.
O Cavaleiro Negro foi até o fim da sala e deu meia volta. Lisa levantou rapidamente e apontou a varinha para o cavalo, que agora dava para vê-lo no escuro devido aos olhos vermelhos que brilhavam intensamente.
Num estrondo, uma bola de luz saiu da varinha de Lisa e foi na direção do Cavaleiro Negro. No entanto, o Cavaleiro virou uma fumaça negra juntamente com o cavalo e se dispersou entre as sombras.
__Ele desapareceu de novo! __exclamou Lisa perplexa.
__Teremos de trabalhar juntos se quisermos manda-los de volta para dentro daquele quadro __disse Louise enquanto era ajudada por Dan a levantar-se.
__Mas como vamos... Lisa abaixa! __gritou Dan.
Lisa virou para trás e viu uma bola de luz vindo em sua direção. Rapidamente, ela abaixou e a luz passou rente a sua cabeça.
__Foi por pouco, obrigada! __exclamou Lisa.
__Então, como vamos fazer para pegá-los? __disse Dan retomando a conversa.
Louise cruzou os braços por alguns instantes e olhou para os lados. A sala estava silenciosa agora, parecia que os Cavaleiros Negros haviam recuado.
__Como eu já disse, nós temos de trabalhar em conjunto __disse Louise voltando-se para Lisa e Dan__ Vamos fazer o seguinte: um de nós vai atrair os Cavaleiros enquanto os outros dois vão estar armados e prontos para atacarem e manda-los de volta para o quadro... E então, quem vai ser a isca?
Dan olhou desconfiado para os lados e notou que Lisa e Louise olhavam para ele com um certo sorriso no rosto.
__Porque tem que ser eu?
__Você é homem. Caso o plano não der certo, você os ataca, espanca ou faz qualquer outra coisa para se defender... __disse Louise enquanto empurrava Dan para um ponto estratégico na sala.
__Já nós mulheres, somos frágeis e não temos a mesma rapidez e destreza que vocês... __completou Lisa.
__Isso é tão tranqüilizador, não imaginam como!
__Agora, fica aí!
Lisa e Louise se afastaram para a escuridão e deixaram Dan num ponto mais claro da sala. Em intervalos de tempos regulares, ouvia-se o relinchar de cavalos, gritos e a luz de feitiços ecoarem por todos os cantos. Dan interpretava isso como um bom sinal, pois outras pessoas estavam fazendo o trabalho que ele, Lisa e Louise deveriam estar fazendo. No entanto, sua alegria durou muito pouco.
Numa questão de segundos, vários pontos vermelhos surgiram na frente de Dan seguidos por pequenos relinchados e galopes. Vendo que os Cavaleiros provavelmente estavam a sua frente, em algum lugar entre as sombras, Dan afastou-se para trás lentamente como se estivesse prevendo um ataque. Por sua vez, Lisa e Louise já estavam prontas, com as varinhas erguidas, para atacarem.
Dan afastou mais um pouco para trás. Lentamente, uma fumaça negra passou rente aos seus olhos cobrindo parcialmente a sua visão. Quando a fumaça se dispersou, Dan e as meninas puderam ver um casco de um cavalo surgindo entre a fumaça rala. Em seguida, um pequeno brilho prateado emergiu da escuridão seguido por um tinir de uma espada sendo retirada de uma bainha. De repente, vários tinidos de espadas surgiram seguidos por pequenos reflexos prateados das lâminas das espadas à frente de Dan.
Nessa certa altura de tempo, Lisa e Louise respiravam ofegantes e esperavam o momento certo para agirem.
__Quando eu der o sinal, Lisa! __murmurou Louise vendo que outros cascos apareciam entre as sombras.
__Certo.
Louise esperou um pouco antes de dar o sinal. Dan, ainda continuava a afastar para trás. Seu coração batia acelerado e uma estranha adrenalina tomava conta do seu corpo. Ele não sabia se estava com medo ou ansioso.
__Um... __começou Louise__ Dois... __uma perna de cavalo já estava surgindo entre a sombra. Em seguida, o capuz do Cavaleiro surgiu juntamente com a lâmina da espada__ Três... __O busto do Cavaleiro já havia surgido. Dan fechou o punho esquerdo e esticou o dedo direito. Lisa segurou forte a varinha. Louise suspirou e...__ AGORA!
Cinco Cavaleiros surgiram na escuridão e avançaram bravamente sobre Dan. Rapidamente, Lisa e Louise surgiram atrás de Dan e apontaram as varinhas ao mesmo tempo.
Dois estrondos se seguiram e duas bolas de luz avançaram sobre os Cavaleiros. No entanto, um deles bateu a lâmina da espada contra a bola de luz e a refletiu de volta, acertando Lisa e a jogando contra a parede de pedra do castelo. A outra bola de luz não pode ser desviada e acertou em cheio um Cavaleiro. No impacto, o Cavaleiro foi arremessado de cima do cavalo e foi jogado para dentro do Quadro-Negro.
Os outros três Cavaleiros continuaram a avançar para cima de Dan. Rapidamente ele ergueu os braços e uma grande bola de luz esverdeada surgiu entre as palmas de suas mãos. Ele mirou a bola de luz e lançou-a contra os Cavaleiros. A bola de luz se projetou como um raio espesso e esverdeado. O raio acertou os três Cavaleiros e os derrubou de cima dos cavalos.
Nesse meio tempo, Louise havia corrido até Lisa. Ela estava meio zonza e tinha uma queimadura na barriga, onde o feitiço a havia acertado. Lisa levantava com a ajuda de Louise quando o quarto Cavaleiro veio na direção das duas.
__Millória!
Um fantasma branco bateu contra o cavalo e o empurrou junto com o Cavaleiro Negro para o outro lado da sala.
__Vocês estão bem?
Lisa e Louise viraram-se para a escuridão e viram Melissa surgindo entre a fumaça negra segurando a varinha na mão, sendo seguida por Hariph e Peter.
__Estamos bem __respondeu Louise.
__Acho que podemos formar uma boa equipe! __disse Peter__ O que acham?
__Será ótimo! __disse a voz de Dan aproximando do grupo.
__Então vamos mostrar a esses demônios das Sombras o que é se meter com a gente...
Enquanto Melissa desaparecia na escuridão com os outros à procura de outros Cavaleiros, Lisa observava Hariph. Podia ser impressão dela, mas ele não parecia muito satisfeito com a situação. Mas isso não era só, Lisa também percebeu que no escuro, o estranho rapaz ficava mais sombrio do que antes. Ao olhar nos olhos dele, Lisa teve um arrepio e uma ligeira coceira na marca, assim como aconteceu na primeira vez em que ela o vira na Aula de Duelos. Ela não sabia explicar por que sentia esses arrepios, mas tinha certeza de que sua presença não agradava muito.
__Abaixa, Lisa!
Lisa estava tão distraída que ela não viu uma bola de fogo, que havia sido refletida por um Cavaleiro, vindo em sua direção. Sua sorte foi Dan ter gritado a tempo.
Lisa ergueu-se novamente depois de a bola ter passado rente aos seus cabelos e ficou aborrecida, pois alguns fios haviam sido chamuscados.
Lisa virou-se rapidamente para trás e viu uma bola de luz ser lançada para o teto. Em seguida, após a colisão com vários Cavaleiros que ali planavam, uma gigantesca explosão chacoalhou toda a sala. Lisa e os outros abaixaram rapidamente e protegeram a cabeça contra os destroços que caíam. Depois que tudo se acalmou, ela levantou e correu até Louise, que neste exato momento estava tentando lançar um feitiço contra um Cavaleiro.
A captura dos Cavaleiros foi demorada e até um certo ponto foi divertida e frustrante ao mesmo tempo. Em vários momentos, Lisa teve que se desviar de ataques dos outros e principalmente das grandes bolas de fogo que Gregor lançava na tentativa de mandar um dos Cavaleiros de volta para dentro do Quadro-Negro. Em outros momentos, ela tinha que se desviar dos ataques dos Cavaleiros que pareciam cada vez mais fortes e terríveis.
Em um dos momentos, Peter tentou ajudar Melissa a capturar um dos Cavaleiros e acabou errando a pontaria e acertando ela. O feitiço a jogou até o fim da sala e a deixou inconsciente.
No entanto, isso não aconteceu apenas com Melissa e Peter. Louise também passou sérios apuros com Maya. Naquele momento havia poucos Cavaleiros Negros para serem capturados e a maioria dos trios haviam se unido uns aos outros e formados novos grupos.
O grupo de Lisa havia cercado um Cavaleiro Negro e Louise estava pronta para manda-lo de volta para o Quadro-Negro quando Maya lançou um feitiço sem mira contra um outro Cavaleiro e acabou acertando-a. O Cavaleiro fugiu e Louise ficou uma fera. Foi preciso que Dan e alguns rapazes a segurassem para que ela não enfiasse a varinha de Maya no nariz dela.
Mesmo com algumas confusões, ainda sobrou tempo para que todos ficassem de queixo caído com a astúcia de Hariph.
O estranho rapaz atraiu quinze Cavaleiros Negros para uma emboscada e os lançou para dentro do quadro com apenas um feitiço. O espanto dos alunos foi tanto, que nem mesmo Lisa deixou de ficar surpresa com tamanho poder utilizado na execução do feitiço. Nem mesmo Magnum Darkness, que permaneceu nas sombras da sala, deixou de ficar impressionado. Apesar de que seu espanto quase não surgiu no rosto carrancudo e mau-humorado.
Uma hora depois do portal ter sido aberto, os últimos Cavaleiros que ainda restavam foram sugados de volta para dentro do Quadro-Negro. Por um triz, quase que Peter também foi sugado pelo Quadro. Um Cavaleiro Negro agarrou em suas pernas e o puxou para dentro do Quadro. No entanto, Peter agarrou-se as bordas do Quadro e, com a ajuda de outras pessoas, ele conseguiu sair.
Numa grande explosão de luz e fumaça negra, tudo voltou ao normal. Os móveis e as janelas reapareceram e novamente a sala voltou a ficar iluminada.
__Sinistro aquele Quadro, vocês não acham? __perguntou Peter dez minutos depois de ter escapado do quadro.
__Bem que você podia ter ficado lá pelo resto da vida!
Melissa esbarrou em Peter e saiu apressada pelo corredor enquanto bufava e tentava por a cabeça no lugar __ela ainda estava meio zonza pelo feitiço!
__O que foi que eu fiz? __perguntou Peter.
Nenhum aluno fez menção em responder. Obviamente, não era necessário.
Ao contrário das outras pessoas que riam de Peter, Lisa não parecia achar muita graça nos risos. Desde o momento em que ela e Hariph estiveram frente a frente na sala de Darkness, um pressentimento estranho passou a perturba-la. Não pelo fato de Hariph ser tão estranho e sombrio, mas sim, pela mesma impressão que ela tivera ao sonhar com o Carrasco. Era tudo muito confuso. Ao mesmo tempo em que Lisa lutava junto com os outros para prender os Cavaleiros, ela parecia que também estava revivendo o que havia sonhado. O corredor escuro iluminado vagamente por archotes, as grades, e o estranho homem sentado do outro lado do corredor...
Durante quase o resto do dia, Lisa permaneceu quieta e pensativa. No fim da tarde, algo havia passado em sua cabeça. Era uma decisão...
Encaminhando-se rapidamente pelos corredores do Castelo dos Bruxos, Lisa dirigiu-se a sala de Athus na esperança de encontra-lo. Ao chegar na sala, Lisa bateu na porta e esperou. Depois de alguns segundos, a porta se abriu lentamente.
Lisa entrou e deparou-se com Athus no fundo da sala arrumando alguns livros na prateleira.
__Lisa, como está? __perguntou Athus enquanto colocava um livro na prateleira.
__Bem, obrigada! E sua perna, melhorou?
Athus olhou para a perna direita e desviou os olhos de Lisa.
__Está melhor, obrigado por perguntar.
Athus colocou o último livro na prateleira e voltou mancando para a sua mesa.
__Como machucou-a?
Athus esticou a perna lentamente e recostou-se a cadeira.
__Fui descer da carruagem e caí. Acho que fraturei o osso... Mas, você não me procurou para perguntar como minha perna estava, estou certo?
__Está.
__Então sente-se __Athus indicou uma cadeira para Lisa sentar-se e aproximou-se mais da mesa__ O que a preocupa, Lisa?
Lisa não respondeu de imediato. Seus olhos percorreram a mesa de Athus e a gaveta onde ela vira o estranho livro. Será que ele está ali dentro?
__E então, o que a preocupa? __perguntou Athus.
__Louise me disse que Gaya deu ordens a ela para me seguir...
__Não foi para segui-la, Lisa. Gaya deu ordens para que ela não permitisse que você saísse a noite sozinha...
__Porquê?
Athus parou de repente. Ele analisou Lisa por uns instantes e depois disse:
__Lisa, as circunstâncias forçaram Gaya a tomar essa atitude. Nós não podemos permitir que você ande sozinha à noite com um indivíduo tentando roubar os poderes dos outros...
__Bem, ele já tentou roubar nossos poderes da última vez e nós o vencemos, não se lembra?__disse Lisa fitando Athus nos olhos.
Athus deixou escapar um pequeno riso entre os lábios e recostou-se à cadeira.
__Nós não o vencemos, Lisa __Athus ficou sério e fitou Lisa__ Como se lembra, ele conseguiu me atacar e você só não foi atacada por que aquela Sentinela apareceu e atacou você primeiro. Acredito que você está distorcendo os fatos.
Lisa afundou na cadeira como se sentisse culpada por alguma acusação tola. Athus a observou abaixar a cabeça e ficar pensativa. Por fim, ele disse:
__Receio que não foi sobre isso que você veio conversar, não é mesmo, Lisa?
Lisa levantou a cabeça e sentiu seu estômago afundar. Ela tinha que contar a ele. Athus precisava saber.
__Um Carrasco está vivo!
A reação de Athus não foi como Lisa esperava. Ele apenas aproximou da mesa com um largo sorriso no rosto.
__Lisa, eu sei o quanto você está perturbada com tantas coisas que estão acontecendo na Fonte Phoenix, mas veja, isso é ridículo! Lisa, não há nenhum Carrasco que tenha sobrevivido ao feitiço Lúmus Maximum que você lançou contra a Besta...
__Não, você não está me entendendo, um Carrasco realmente sobreviveu. Ele está preso em algum lugar, foi por isso que ele sobreviveu, ele não estava com os outros Carrascos no ataque da Besta...
__Lisa, o único lugar em Aragorn onde alguém pode ficar prisioneiro é nas masmorras de Azgrah! __Athus agora estava de pé e ainda mantinha um sorriso no rosto. Porém, Lisa percebeu uma pontada de preocupação em seus olhos__ E se um Carrasco realmente estivesse vivo, nós saberíamos. Tudo que acontece em Azgrah é passado para Gaya. Ele sabe com antecedência quem entra e quem sai das masmorras...
__Mas eu tenho certeza, eu vi!
De repente, como se num choque, Athus pareceu paralisado e imóvel onde estava. Lisa olhou para ele e percebeu que seus olhos corriam os olhos dela.
__Como sabe disso? O que foi que você viu? Como foi que você foi parar em Azgrah?
__Eu não fui para Azgrah, ao contrário, eu tive um pesadelo onde eu estava presa numa cela escura e do outro lado da minha cela havia um Carrasco preso..
__Então é isso __interrompeu Athus ao sentar-se__ Lisa, foi só um sonho! Nada disso aconteceu. Tudo é fruto da sua imaginação!
__Não, não é minha imaginação! Athus, eu vi, era real...
__Não, Lisa! __gritou Athus ao pôr-se de pé novamente__ Não foi real! Foi tudo um sonho... um pesadelo... Lisa, assim como sua mãe também teve que fazer, você precisa aprender a diferenciar um pesadelo de uma visão real...
__EU JÁ DISSE, NÃO FOI UM SONHO!
Lisa pôs-se de pé com as pernas tremendo e com o sangue pulsando em suas veias. Athus tinha que acreditar nela. Foi real, ela sabia.
__Esse é o problema de quem possui o Olho do Millen...
Athus parou de falar de repente como se ele não devesse dizer o que estava dizendo. Lisa estranhou a reação dele e perguntou:
__Do que está falando? Que olho é esse?
Athus empalideceu e contornou a mesa em direção a porta. Lisa seguiu-o com os olhos e desapontou-se ao vê-lo abrindo a porta.
__Creio que isso é tudo por hoje, Lisa!
Lisa abriu a boca para falar algo, mas percebeu que não ia adiantar, Athus não iria contar a ela o que ele estava preste a dizer.
Ao passar por Athus, escorado a porta, Lisa parou para ouvi-lo dizer:
__Espero que você tenha me ouvido, Lisa... Tudo foi um sonho, nada mais!
Lisa sentiu novamente a raiva pulsar em suas veias e saiu da sala sem olhar para trás.
Athus fechou a porta da sala e voltou puxando a perna com dificuldade para a sua mesa. Ao sentar-se na cadeira, Athus puxou a gaveta e tirou um livro de couro peludo. Por alguns instantes, ele ficou olhando para a primeira folha do livro onde um desenho de um homem barbudo segurando algo nas mãos repousava entre letras que pareciam ter sido escritas com fogo.
Fechando o livro, Athus esfregou o rosto nas mãos e murmurou:
__Eu não devia ter dito...
Os mimos de Rowena
Lisa atravessou os corredores do Castelo dos Bruxos com a raiva fluindo em suas veias. Ela não podia acreditar que Athus não havia acreditado nela. Claro que o fato dela ter sonhado com um Carrasco vivo era uma coisa e dizer que um Carrasco realmente estava vivo era outra. Mas Lisa tinha certeza. O pesadelo fora muito mais real do que qualquer outro. Devia haver alguma explicação para aquilo tudo, mas qual?
__Lisa!
Lisa estava tão distraída em seus pensamentos que ela nem notou que atravessava o hall de entrada do castelo e que tinha acabado de passar por Max.
__Ah, Max __disse Lisa ao virar-se.
Lisa sorriu timidamente para Max e pareceu sem graça ao dirigir-lhe a palavra.
__Lisa, me desculpe por ontem, eu não devia ter...
__Não, é eu que tenho de pedir desculpas. Eu te magoei ao...
Os dois calaram-se e abaixaram a cabeça. Lisa focou o olhar em alguma parte do chão do castelo na tentativa de evitar olhar para Max.
__Acho que nós dois tivemos culpa... __murmurou Max.
__Hum...
__Mas, isso já passou, não é? Lisa, quero que você saiba que eu fui um pouco precipitado e... bem... eu vou esperar...
Quando Lisa deu por conta, suas mãos estavam envoltas nas mãos grossas e quentes de Max. Nesse momento, ela sentiu seu coração bater acelerado, fazendo com que toda a sua raiva desaparecesse.
__Esperar? __perguntou Lisa meio sufocada pelas batidas fortes do seu coração.
__É. Você sabe... esperar a hora certa... ahn... eu não sou muito bom nisso!
Lisa e Max riram abobadamente e depois desviaram os olhares. As mãos de Max agora haviam deslizado para dentro dos bolsos e as de Lisa se apertavam sem necessidade.
__È, bom... vou voltar para o Castelo dos Magos... você sabe, estão me esperando para o banquete... ahn... até mais, Lisa!
__Até, Max!
Lisa ficou parada no meio do hall vendo Max desaparecer pela porta. Numa faísca luminosa sobre sua cabeça, Lisa voltou a real. Ela tinha que voltar ao dormitório.
Antes de voltar, ela olhou para o teto para ver o que tinha produzido a faísca e viu que umas quinze bolas de cristais flutuantes cheias de vaga-lumes estavam se ascendendo para iluminar o hall que escurecia a medida que a noite chegava.
O Salão do Refeitório estava apinhado de alunos que ainda não haviam parado de comentar os ataques ao Castelo dos Trons. Lisa entrou no salão e se dirigiu a mesa onde Louise, Dan e os Pés Grandes __que essa noite visitavam o castelo__ a esperavam.
__Porque demorou, Lisa? __perguntou Louise enquanto colocava algo gosmento e comprido, semelhante a um macarrão, no prato.
__É, você não sabe o que está perdendo! __disse Zig depois de chupar a coisa gosmenta.
Lisa olhou para o prato de Zig e Cliffe e sentiu o estômago repugnar.
__Ahn, o quê é isso?
__Isso? __perguntou Cliffe pegando a coisa com o garfo e levantando para o ar. Lisa olhou para a espécie de macarrão que se movia como um verme e sentiu mais enjoada do que nunca.
__São Anelídeos Gosmentos da Ilha Earthworn __disse Zig interrompendo o irmão__ Eles são divinamente deliciosos...
Zig levou o garfo a boca e chupou os verminhos em com um só chupão.
__O único problema é que nós temos que come-los antes deles entrarem em nosso nariz __disse Cliffe enrolando os Anelídeos Gosmentos como espaguetes com a ponta do garfo.
__Dizem que eles entram pelas narinas e vão para o cérebro...
__Isso não é verdade __disse Louise num tom reprovador__ Lisa, não acredite em meia palavra do que esses dois falam.
__Não é uma questão de acreditar ou não, é apenas uma...
Lisa abaixou a cabeça e olhou para o seu prato. Os Anelídeos Gosmentos se moviam de um lado para o outro deixando um rastro de gosma verde no prato.
__... questão de cautela, minha cara! __disse Cliffe.
__Exatamente, é uma questão de cautela! __confirmou Zig com o garfo estendido no ar e com os vermes lutando para escapar do dentes metálicos do talher.
__Francamente, eu nunca ouvi tanta asneira na minha vida __reprovou Louise veemente__ Os Anelídeos...
__Lá vem ela novamente... __disse Zig ainda com o garfo parado no ar.
__... Gosmentos são criaturas indefesas e, como você mesmo disse, maravilhosamente suculentos e...
__Parece que a senhorita Sabe-Tudo ainda não ouviu a história do Orlando Bloom! __comentou Cliffe.
__... não oferecem risco algum a... __continuou Louise em sua palestra.
__Bloom, o lunático do Terceiro Ano? __perguntou Dan desistindo de comer o resto de Anelídeos Gosmentos que insistiam em fugir de seu prato__ O que tem ele?
__Segundo Orlando, __disse Zig tão distraído com a conversa que se esqueceu de levar o garfo parado no ar cheio de Anelídeos Gosmentos a boca__ um Anelídeo entrou em seu nariz e varou no cérebro...
__Isso não é verdade __interrompeu Louise__ O Anelídeo vazou nos pulmões.
Zig, Cliffe, Lisa e Dan viraram-se para Louise e franziram a testa.
__Então você admite que os Anelídeos são perigosos? __perguntou Cliffe como se estivesse num interrogatório.
__Claro que NÃO! Todo mundo sabe que aquele idiota do Orlando aspirou o Anelídeo...
Enquanto Louise se explicava para Dan e os Pés Grandes, Lisa passou os olhos pela mesa dos professores. No canto esquerdo dela, Magnum conversava com Flycken e no centro, Rowena conversava com Falco e com Athus. Naquele mesmo instante, ao ver Athus, Lisa sentiu novamente a raiva pulsar em suas veias. Porém, ela rapidamente se acalmou ao ver Rowena olhando para ela e acenando.
Desde o dia em que Lisa e Louise pediram ajuda a Rowena para fazer Dan e Peter voltarem ao normal, Lisa passou a sentir um calor materno ao ver a professora. O sorriso de Rowena e a doçura que ela tinha era algo encantador. Lisa sabia que ela seria uma das poucas professoras na Fonte Phoenix de quem ela mais iria gostar.
Nesse meio tempo em que Lisa olhava para os professores, os Anelídeos que estavam no garfo de Zig se desenrolaram dos dentes metálicos do talher e começaram a tentar pular para o rosto de Zig. Enquanto eles tentavam, Zig e Cliffe teimavam com Louise.
__Ele não aspirou o Anelídeo! __gritou Zig.
__Orlando não é idiota para tanto! __disse Cliffe.
__Orlando é um lunático estúpido e...
__Ah!
BUM!
Zig deu um grande grito e caiu para trás. Lisa, Louise, Cliffe e Dan levantaram da mesa para ver o que tinha acontecido.
Zig estava caído no chão com a mão no nariz gritando e rolando de um lado para o outro. Do outro lado do Salão do Refeitório, os professores viram o que estava acontecendo e correram até Zig.
__O que está acontecendo? __perguntou Flycken.
__Não sabemos, __disse Cliffe__ ele estava conversando com a gente e de repente caiu para trás.
__Me deixe ver.
Rowena saiu entre meio o tumulto de alunos que formava em volta e abaixou perto de Zig. Por alguns instantes, ela tentou ver o que Zig tentava tirar do nariz e tirou uma conclusão assim que ela viu um Anelídeo Gosmento rastejar no chão.
__Um Anelídeo entrou na narina dele!
__O quê?! __exclamou Louise.
__Não disse? __ murmurou Cliffe atrás de Louise.
__Vamos, abram espaço, deixem-no respirar __ordenou Rowena__ Precisamos leva-lo à enfermaria. Flycken, me ajude aqui.
Ius Flycken pegou Zig no colo e saiu atrás de Rowena, que abria caminho entre os alunos.
Durante todo o percurso de volta para a Sala Comunal, Louise permaneceu calada. Lisa e Dan sabiam que aquilo tudo fora um choque para ela. Louise gostava de ser um pouco certinha e suficientemente inteligente para responder tudo o que lhe perguntassem. Porém dessa vez, Louise falhou.
__Louise, você não precisa ficar assim __disse Dan meia hora depois tentando consolar Louise__ Todo mundo pode se enganar um dia...
Louise estava sentada a frente de Lisa e de Dan. Ela mantinha o olhar distante e em momento algum, Louise piscou os olhos.
__Não é por isso que eu estou assim! __murmurou Louise olhando a esmo.
__Então, porque você está assim? __perguntaram Lisa e Dan em uníssono.
Louise piscou os olhos e virou a cabeça, quase que mecanicamente para Lisa e Dan.
__Até agora eu não consigo acreditar que comi aquela coisa!
Lisa e Dan ergueram as sobrancelhas e trocaram olhares.
__Louise, você mesmo disse que os Anelídeos eram maravilhosamente suculentos e...
__Pára Lisa! __Louise levantou de chofre com as mãos tampando a boca e saiu correndo pelas escadas fazendo vômito__ Acho que vou vomitar!
Assim que Louise desapareceu nas escadas, a porta da Sala Comunal se abriu e os irmãos Pés Grandes entraram depois de se esquivar das armaduras que tentaram impedi-los com as lanças.
__Gaya precisa dar um jeito nessas armaduras __disse Cliffe__ elas estão ficando cada vez mais insuportáveis...
__Apoiado! __disse Zig cobrindo o nariz com uma espécie de esponja que mudava de cor em intervalos regulares.
Zig e Cliffe puxaram duas poltronas e esparramaram-se sobre ela. Lisa olhou para a esponja que Zig friccionava no nariz e perguntou o que era.
__É um sugador nasal __respondeu Zig__ A senhorita Prym disse que ele vai sugar o Anelídeo em vinte e quatro horas...
__Por falar em Anelídeo, __interrompeu Cliffe__ onde está Louise?
__Ela está passando...
TUM! TUM!
Lisa olhou para os pés da poltrona e sentiu-a pular junto com o castelo, que estremecia violentamente com os passos fortes que se aproximavam.
Ao ouvirem os passos e sentirem o castelo chacoalhar, Zig e Cliffe ficaram assustados e apreensivos.
De repente uma voz grossa ecoou pelo castelo e assustou ainda mais os irmãos Pés Grandes:
__Cliffinho! Ziguinho! Onde estar esses pestinhas?
Zig e Cliffe pularam de suas poltronas e correram imediatamente para trás das poltronas de Lisa e de Dan. Nesse meio tempo, a porta da Sala Comunal se escancarou e uma mulher enorme surgiu com as mãos gigantes na cintura e com um olhar furioso.
Big Bertha passou pela porta com dificuldade __ela era grande demais para passar por lá__ e jogou as armaduras, que tentaram impedi-la, para longe com apenas uma braçada.
Já no centro da sala, Big Bertha jogou a trança de cabelos ruivos para trás e deu uma bufada com as narinas.
__O QUE PENSAM QUE ESTAR FAZENDO? __gritou Bertha.
Lisa e Dan olharam um para o outro e viraram para trás. Zig e Cliffe saíram lentamente de trás das poltronas e tentaram ao máximo possível não olhar para a mãe furiosa.
__ZIG E CLIFFE! JÁ TEM MAIS DE UMA HORA QUE ESTAR PROCURANDO VOCÊS. POR ACASO VOCÊS ESTAR ACHANDO QUE VÃO ESCAPAR DE UM BOM BANHO? ACHO QUE NÃO!
__Mas mãe, __disse Cliffe__ nós já tomamos banho semana passada!
__MAIS NADA! ANDA LOGO, OS DOIS. JÁ PARA OS SEUS CASTELOS! __Big Bertha gritou tão alto que até os quadros dos pais de Lisa saíram do lugar__ A propósito, olá Lisa! Olá Dan! E, Ziguinho querido, Rowena já me contar sobre o acidente com o Anelídeo Gosmento... Para proteger todos os alunos contra ataques alimentícios desse tipo, eu estar pedindo ao príncipe Gaya que retirar os Anelídeos Gosmentos do cardápio da Fonte Phoenix. E, voltando ao que interessa: O QUE ESTAR ESPERANDO? JÁ PARA O BANHO!
__Bem que eu queria, mamãe! __disse Zig com a voz saindo pelo nariz enquanto apertava a esponja no nariz com a mão direita e olhava as unhas sujas da outra mão.
__Bem que você queria?! __ perguntaram Cliffe e Big Bertha ao estranharem a exclamação de Zig.
__É, bem que eu queria __repetiu Zig sorrindo triunfante para o irmão__ Mas, infelizmente a senhorita Prym me proibiu de tomar banho por uma semana!
Zig sentou numa poltrona e apoiou os pés em outra. Nesse momento, Lisa, Dan e Cliffe estavam de boca aberta. Big Bertha, por sua vez, parecia desconfiada.
__E por que você não poder tomar banho? __perguntou Big Bertha.
__Porque segundo a própria senhorita Prym, o contato com a água faz o Anelídeo recuar para o cérebro tirando assim, o efeito do sugador __explicou Zig apontando para a esponja que friccionava no nariz.
Enquanto Big Bertha pensava no que Zig disse, Lisa e Dan fitavam o Pé Grande com extremo assombro. Já Cliffe, se roia por que obviamente aquilo tudo era uma desculpa esfarrapada para não tomar banho.
__Estar certo __disse Big Bertha por fim__ Zig não precisar tomar banho. Agora, vamos Cliffe!
Big Bertha virou e saiu pela sala esbarrando e derrubando os móveis. Cliffe, ao invés de segui-la, ficou parado olhando para Zig com uma cara amarrada.
__VOCÊ NÃO ESPERAR QUE EU VÁ ATÉ AÍ PEGA-LO? ESPERAR CLIFFE? __gritou Big Bertha depois de se desencalhar da porta.
__Não, mamãe!
Cliffe seguiu Big Bertha com a cabeça baixa e com os punhos fechados de raiva. Zig, por sua vez, deu tchau para o irmão no momento em que Cliffe fechou a porta. Por um instante, Lisa teve a impressão de que Cliffe fizera um sinal para Zig de que ele ia pagar pela traição ao irmão, mas ela não deu muita atenção a isso.
Lisa levantou de sua poltrona e foi até a lareira endireitar os quadros de seus pais. Entrementes, Dan estava perguntando a Zig se aquilo tudo era verdade.
__Receio que seja uma verdade distorcida, meu caro! __respondeu Zig pelo nariz__ Mas, afinal, quem é que precisa de banho?
Lisa se juntou novamente a Dan e fitou Zig com a testa ligeiramente enrugada. Em seguida, ambos trocaram olhares e disseram ao mesmo tempo:
__VOCÊ!
As luzes da Fonte Phoenix foram se apagando lentamente deixando apenas as estrelas iluminarem os sete castelos. Lisa estava encostada no espaldar da janela de seu quarto observando as torres quando Louise saiu amarela do banheiro e sentou na cabeceira de sua cama.
__Nunca mais eu como aquela coisa! __murmurou Louise.
Lisa continuou olhando para fora sem dar atenção a amiga. Seus pensamentos estavam distantes...
__Lisa, aconteceu alguma coisa?
__Hum... O quê você disse Louise?
__Lisa, você estava me ouvindo?
__Me desculpe, eu estava com a cabeça em outro lugar.
Louise levantou da cama e sentou no espaldar da janela. Por uns instantes ela olhou para as torres dos outros castelos e depois voltou-se para Lisa.
__O que a preocupa, Lisa?
__Tudo, Louise __Lisa suspirou e depois continuou__ Hoje eu procurei Athus e conversei com ele sobre o ataque ao Castelo dos Trons e contei sobre o sonho que tive com o Carrasco. Disse a ele que eu tinha certeza de que um Carrasco estava vivo e estava preso em alguma parte de Aragorn...
__E ele, acreditou? __interrompeu Louise.
__Não. Athus acha que foi apenas um sonho e não uma visão.
__Lisa, é um pouco improvável que um Carrasco esteja vivo, você não acha?
__Por acaso você está querendo dizer que tudo foi apenas um sonho, um fruto da minha imaginação? __gritou Lisa.
__Não, Lisa. De maneira alguma... Eu acredito em você! É só que...
Louise ficou em silêncio e não terminou a frase. Lisa, por sua vez, olhou para o céu estrelado e suspirou forte.
___Louise... __murmurou Lisa.
__Hum...
__O que você sabe sobre alguma coisa relacionada com um Olho?
__Olho?
__É. Athus começou a me dizer algo sobre um Olho de alguma coisa e não terminou a frase. Pareceu até que ele não devia nem ter aberto a boca pela expressão que ele fez...
__Não sei se você percebeu, Lisa, mas desde o início das aulas Athus parece que ficou diferente. É como se ele escondesse alguma coisa e evita conversar com as pessoas para não deixar escapar sem querer o que sabe...
__Eu também percebi isso. Até hoje eu ainda não engoli a história que ele contou sobre como machucou a perna...
Uma leve brisa vindo do leste passou pela janela e jogou os cabelos de Lisa para trás. Ela suspirou e tirou uma mexa de cabelo que insistia em cair sobre seus olhos.
__Amanhã é o dia em que Gaya terá de dar esclarecimentos a Suprema Corte da Ordem dos Lordes, Lisa __disse Louise rompendo o silêncio__ Creio que Gaya entrará em apuros...
__Eu espero que Gaya saiba o que está fazendo!
Os raios do sol surgiram lentamente no horizonte como um grande tapete vermelho que cobriu todos os sete castelos da Fonte Phoenix. As poucas horas da manhã, Lisa andava com Louise pelo campo de pouso quando viu a carruagem de Gaya levantar vôo e desaparecer no horizonte avermelhado. Naquele momento, Lisa desejou sorte a Gaya e sentiu um pouco de culpa pelo que estava acontecendo. No entanto, agora já era tarde e ela não podia fazer nada.
As primeiras horas da manhã passaram num piscar de olhos. Lisa, Louise e Dan tiveram que correr para o Castelo dos Druidas para não chegarem atrasados na aula de Encantamentos.
Justina Rowena entrou na sala com o seu espartilho caramelo habitual apertando os fartos seios. Na aula anterior, Rowena havia ensinado aos alunos a prepararem uma poção que seria utilizada num encantamento para fazer as pessoas rejuvenescerem. Como sempre, o trapalhão do Peter errou os ingredientes e a poção explodiu na cara dele. Já Maya e Louise ficaram na disputa habitual de qual das duas faria a melhor poção. Ambas tiraram um A-. No entanto, o que deixou Louise e Maya furiosas foi o A+++ que Hariph tirou.
Rowena passou nas mesas dos alunos para conferir as poções e deu um largo sorriso para Lisa. Por algum motivo desconhecido, Lisa tinha certeza de que Rowena gostava mais dela do que de qualquer outro aluno. Lisa comentou isso com Louise, mas ela chamou Lisa de convencida e acabou ficando de cara amarrada por alguns segundos. No entanto, Louise não podia deixar de admitir que Rowena realmente era mais simpática e mais doce com Lisa do que com qualquer outra pessoa.
__Muito bem __disse Rowena docemente voltando a sua mesa__ hoje nós vamos aprender a fazer o Encantamento do Rejuvenescimento. Por favor, peguem as suas varinhas e preparem os seus dedos, eu vou ensinar-lhes como devem proceder com o Encantamento.
Lisa pegou a sua varinha e olhou para o cálice a sua frente onde a poção de cor amarelada refletia seu rosto.
__Agora, prestem muita atenção __continuou Rowena docemente__ O Encantamento do Rejuvenescimento apenas funciona com essa poção que todos prepararam na aula anterior. Mas há um pequeno detalhe que todos precisam ter cuidado: a poção não pode possuir excesso de ingredientes, caso contrário, ela poderá provocar danos colaterais reversíveis e em alguns casos, irreversíveis a quem toma-la.
‘Antes de prosseguirmos, eu quero que todos se concentrem e repitam comigo o encantamento: Rejuvenescere!’
__Rejuvenescere! __repetiram os alunos.
__Muito bom. Agora, eu quero que todos mirem seus encantamentos para suas poções e, depois de pronunciá-lo, bebam-na. Assim.
Rowena pegou o seu cálice com a poção e apontou a sua varinha para ela.
__Rejuvenescere!
Lentamente, uma fumaça branca saiu da ponta da varinha e entrou na poção. Rowena olhou para o conteúdo do cálice e depois o bebeu. Por alguns segundos a sala ficou em silêncio esperando o que iria acontecer em seguida. No entanto, para surpresa de todos, Rowena abriu a boca e soltou um grande arroto.
__Oh, me desculpem! Acontece que a poção demora um pouco para fazer efeito...
Os alunos riram e olharam para as suas poções. Lisa ficou olhando para ela por alguns segundos, indecisa se sabia ou não fazer aquilo.
__Não precisa ter medo, Lisa __disse Rowena aproximando-se dela__ Basta se concentrar e apontar. Vamos, tente!
Lisa segurou forte a varinha e apontou-a para o cálice.
__Rejuvenescere!
Novamente, uma fumaça saiu lentamente da ponta da varinha e...
BUM!
Lisa e Rowena viraram para trás e viram o cálice de Peter explodir e lançar a poção pelos ares numa grande chuva amarelada. Os respingos da poção caíram sobre os alunos e dentro dos outros cálices. Sem que todos percebessem, no momento em que os pingos caíram nos cálices, as poções passaram de um amarelo dourado para um violeta escuro que borbulhava incessantemente.
__Senhor Flying, o que foi que eu disse sobre se concentrar e mirar o feitiço? __gritou Rowena ainda mantendo o tom doce da voz.
__Me desculpe, professora Rowena __disse Peter imóvel ainda apontando a varinha para o que sobrou do seu cálice.
__Ah, está bem, Peter __suspirou Rowena__ Vá até aquele armário e pegue uma poção reserva que eu tenho, mas vê o que você pega, ok?
Peter levantou molhado sobre os risos dos alunos e encaminhou-se até o armário indicado por Rowena. Enquanto isso, a professora, depois de pedir silêncio, voltou a sua atenção a Lisa.
__Muito bem, Lisa, vamos tentar novamente. Vamos, mire e aponte.
__Ok!
Lisa preparou a varinha, mirou e apontou.
__Rejuvenescere!
A fumaça branca saiu da ponta da varinha de Lisa e entrou dentro do cálice. Em seguida, a poção fervilhou e uma fumaça violeta subiu no ar.
__Pronto, Lisa __disse Rowena__ Agora, beba.
Lisa olhou para o seu cálice e depois olhou para Dan, que neste momento estava com uma fumaça branca saindo da ponta de seu dedo e entrando na poção dele.
Lentamente, Lisa levou o cálice à boca e bebeu num gole só. O gosto da poção não era tão ruim assim. Tinha um gosto de fígado de bacalhau com espinafre.
Após beber a poção, Lisa pôs o cálice de volta a mesa e ficou esperando até que ela fizesse efeito. Nesse meio tempo, a maior parte dos alunos já haviam tomado as suas poções e estavam esperando o efeito. O único que ainda não havia tomado era Peter, que sobre olhares atentos de Rowena, concentrava-se e apontava a sua varinha para a poção reserva que Rowena havia lhe dado.
Depois de uns quinze minutos em que Rowena havia tomado a sua poção, algo começou a fazer efeito nela. Primeiro, uma fumaça amarela começou a sair de suas orelhas. Depois, pequenas luzes douradas saíram de sua pele e começaram a girar em torno dela.
De repente, as luzes começaram a brilhar incessantemente e ofuscar a visão dos alunos. De súbito, um grande relampejo de luzes douradas envolveu o corpo de Rowena numa grande e espessa fumaça.
Os alunos apertaram os olhos com as mãos e tentaram enxergar o que surgia entre a fumaça dourada. Lentamente, uma menina de aproximadamente nove anos de idade com cabelos cacheados e usando um espartilho caramelo surgiu entre a fumaça que se dissipava pela sala.
__Impressionante, não é? __perguntou a menininha Rowena__ Esse é o resultado final da união entre a poção e o Encantamento Rejuvenescedor. Mas, não pensem que esse encantamento é permanente, não senhor, ele dura apenas uma hora e se quisermos, podemos anula-lo com um feitiço simples de cancelamento. Ok. Acho que isso já é o suficiente! Finite Encantatem!
A menininha Rowena apontou a varinha para a sua cabeça e numa grande onda de luz brilhante que rodeou o seu corpo, ela cresceu e voltou ao normal. Assim que a menina virou mulher novamente, os alunos saudaram Rowena com uma grande salda de palmas. Rowena se endireitou e curvou-se para a turma. Mas antes mesmo dela dizer algo, uma nova luz invadiu a sala. Era Lisa quem estava se transformando.
Pequenas luzes violetas começaram a sair da pele de Lisa e girar em torno dela. De repente, num relampejar de luzes violetas, uma menininha de quase três anos de idade com cabelos loiros e olhos verde-esmeralda surgiu entre a fumaça violeta que se dispersava pela sala.
Nesse meio tempo, outras luzes violetas surgiram. Em questão de minutos a sala de Rowena estava cheia de crianças que engatinhavam, batiam palminhas e conversavam coisas que ninguém entendia.
Rowena, assim que viu as crianças, encheu os olhos d’água e correu para pegar um garotinho magrinho de quase dois anos que parecia ser muito sonso.
__Ah, que coisinha mais fofinha! __mimou Rowena.
Mas a alegria dela durou pouco. De repente, ela sentiu algo quente escorrer pelo seu espartilho e descer até o umbigo. Rowena olhou para os seus seios e viu que o garotinho bonitinho que ela tanto estava mimando, neste exato momento estava urinando nela.
O garotinho olhou sonsamente para Rowena e riu.
__Oh, Peter! __disse Rowena pondo Peter de volta no chão.
Enquanto Rowena se enxugava com um Feitiço Secador, duas meninas __uma de quase sete anos e outra de quase seis anos__ discutiam sobre a perfeição de seus encantamentos.
__É isso, queridinha, que você chama de encantamento perfeito? __disse Maya soltando uma risadinha irritante.
__Fique sabendo que o meu é muito melhor, tá! __bufou Louise.
__Que é isso meninas, não briguem __interveio Rowena que se aproximava__ Atenção turma...!
Mas ninguém deu atenção a Rowena. A algazarra na sala se explicava pelo fato de Dan e Grump estarem brigando e Melissa, Gregor e Steven estarem entrando no meio. Nesse meio tempo, Louise e Maya pararam de discutir e passaram a puxar o cabelo uma da outra. Lisa estava quieta no meio da sala olhando para Hariph, um estranho garotinho encostado na parede.
Alguns alunos subiam nas carteiras e derrubavam o que restavam das poções e outros alunos usavam suas varinhas desordenadamente, lançando feitiços por todos os lados. Vendo a confusão em que a sala estava se transformando, ela abriu a boca novamente e berrou furiosa.
__SILÊNNNNNCIO!
De repente, como num furacão que envolveu a sala, todos se calaram e voltaram seus olhares para Rowena.
Dan e Grump pararam de brigar com seus punhos a meio palmo dos narizes de cada um. Lisa parou de olhar para Hariph. Louise e Maya ficaram intactas onde estavam, com as mãos agarradas no cabelo uma da outra. E por fim, os outros alunos pararam de subir nas carteiras e lançar feitiços desordenados, exceto por Gregor que lançou uma bolinha de fogo contra Melissa. Ela abaixou e a bolinha de fogo passou rente aos cabelos encaracolados de Rowena.
Nesse meio tempo, Peter também estava parado com a varinha a meio centímetro de ser enfiada nariz adentro.
__Certo __suspirou Rowena em meio ao silêncio__ Acho que já é o suficiente por hoje. Agora, eu quero que todos... Peter, tire essa varinha do nariz! Bem, quero que todos revertam o encantamento com um Feitiço de Reversão. AGORA!
Rapidamente, as crianças preparam as suas varinhas e os seus dedos e apontaram para as suas cabeças, exceto Peter que ainda mantinha a varinha enfiada no nariz.
__Finite Encantatem! __ouviu-se as centenas de feitiços a serem executados.
Num grande relampejar de luzes, a sala iluminou-se e de repente tudo voltou ao normal. Porém, nem tudo voltou ao normal.
__Por que não voltaram ao normal? __perguntou Rowena incrédula.
Lisa e os outros perceberam que Rowena estava assustada com algo, mas não sabiam com o quê. Assim que eles olharam para os seus corpos, viram que ninguém havia voltado ao normal, ao contrário, todos ainda continuavam crianças.
__Não, não, não! __exclamou Rowena enquanto passava pelas crianças__ Isso não está certo! Todos deviam ter voltado ao normal...
As crianças, ainda incrédulas com o que viam, ficaram imóveis olhando para as suas mãozinhas e os seus dedinhos. De repente, como numa onda desenfreada, todos encheram seus olhos d’água e começaram a chorar.
Rowena parou no meio da sala entre o choro estridente e gritou:
__SILÊNNNNNCIO!
O grito de Rowena ecoou pela sala e calou a boca de todas as crianças. No entanto, o silêncio durou pouco. Antes mesmo de Rowena pensar no que causara aquilo, as crianças abriram a boca e choraram mais alto do que antes.
__Ah, assim não dá! __suspirou Rowena.
Justina Rowena desistiu de fazer as crianças pararem de chorar e voltou a sua mesa. Enquanto passava pela mesa de Louise, algo chamou a atenção de Rowena.
__Mas, o que é isso?
Rowena pegou o cálice sobre a mesa e olhou para o restinho da poção no fundo dele. Naquele momento, Rowena arregalou os olhos e lembrou-se da explosão do cálice de Peter.
__ Então foi isso! __murmurou Rowena entre o choro estridente das crianças__ Assim que Peter explodiu a sua poção, os respingos caíram dentro dos outros cálices, aumentando assim os ingredientes das poções... PETER!
Rowena passou pelas crianças sentadas no chão e com a boca aberta até no canto; e encaminhou-se até o garotinho Peter, que chorava com a varinha ainda enfiada no nariz.
__Peter, você tomou a poção certa, então... por que não voltou ao normal?
O garotinho Peter olhou com os olhos lacrimejando para Rowena e abriu a boca a chorar.
__Está certo, Peter! __disse Rowena ao tentar tranqüiliza-lo__ Você não precisa ficar assim só porque não executou o feitiço... Vamos, pare de chorar... Muito bem, agora, faça o Feitiço de Reversão.
O garotinho Peter levou a mãozinha até a varinha enfiada no nariz e pronunciou o feitiço com a voz meio abafada pelo choro.
Assim que o feitiço foi pronunciado, luzes saíram das narinas e dos olhos de Peter. Depois, num grande espirro, Peter foi jogado para trás ao mesmo tempo em que seu corpo aumentava de tamanho. Quando Rowena menos esperou, a varinha de Peter foi jogada em suas mãos com meleca envolvida nela. Rowena olhou para a varinha suja e fez uma expressão de repugnância.
__Ah... certo Peter! __disse Rowena jogando a varinha para o rapaz__ Agora que você voltou ao normal, eu quero que me ajude com essas crianças enquanto descubro como reverter o encantamento, está certo?
Peter concordou com a cabeça e levantou meio desajeitado pela reversão do encantamento.
__Crianças... __disse Rowena. Vendo que não tinha jeito, ela gritou: __CALEM A BOCA! Certo, agora ouçam a tia Rowena. Eu quero que vocês sejam bons anjinhos e respeitem o tio Peter enquanto a tia Rowena descobre uma forma de reverter o encantamento, está certo? Então...ah... é melhor eu andar logo com isso...
Rowena saiu em direção ao seu armário e deixou Peter com as crianças.
As crianças olharam para Peter por alguns instantes e depois caíram na risada. Peter ergueu as sobrancelhas e perguntou:
__ Do quê estão rindo?
__De você, pateta! __disse o garotinho Grump levantando do chão__ Até parece que nós vamos respeitar um paspalhão como você!
__Cale a boca, Grump! __gritou Dan__ Você ouviu a professora Rowena. Peter vai tomar conta de nós enquanto ela descobre uma forma de reverter o encantamento.
__Ah é, Horcliffe! __disse Steven do outro canto da sala__ Você sabe por causa de quem que nós ficamos dessa forma? ... Eu vou refrescar a sua mente... foi ele!
Steven apontou o dedo para Peter como se o condenasse por algo. Naquele momento, a sala inteira também olhou para o rapaz.
__Já era de se esperar! __murmurou Maya.
__Já era de se esperar o quê? __perguntou Louise furiosa chegando por trás de Maya.
__O que foi? Por acaso você vai negar o fato de que Peter é um idiota completo, queridinha?
Louise encheu os pulmões de raiva e olhou nos olhos de Maya. Ela queria dizer algo para defender Peter, mas nada veio a sua mente.
__Não disse, Horcliffe! __disse Grump aproximando-se de Dan com Gregor e Steven na cola__ Peter é imprestável...
__Cale a boca, Grump! __gritou Dan.
__...um trapalhão que não serve pra nada, um..
__Eu avisei!
Dan fechou os punhos e sem pensar duas vezes pulou sobre Grump. Nesse mesmo instante, Gregor e Steven pularam sobre Dan. Rapidamente, Melissa levantou de onde estava e correu para cima de dos três.
Entrementes, aproveitando a deixa, Louise pulou para cima de Maya na intenção de deixa-la careca por ter insultado Peter e por ter pego o Localizol. Já Peter, tentou separar a briga de Dan e Grump e acabou piorando a situação. Todos os alunos, exceto Lisa e Hariph, pularam sobre Peter enquanto xingavam e batiam nele.
No fundo da sala, Rowena descobriu como reverter o encantamento através de um livro que ela encontrou. Quando ela virou-se para a sala, um feitiço passou rente a sua orelha e destruiu a vidraçaria do armário.
__Parem com isso, crianças!
Mas ninguém ouviu Rowena. Todos se empoleiraram uns sobre os outros lançando murros e feitiços por todos os lados. Rowena tentou ir até o centro da sala e separar a briga, mas dois feitiços passaram rente ao seu corpo e destruíram a sua mesa e uma janela da sala. Quando o terceiro feitiço veio contra ela, Rowena não conseguiu desviar a tempo e ficou petrificada.
Peter, que estava coberto por quase quinze crianças, tentava se desvencilhar, mas volte e meia alguém subia sobre seus ombros e puxava seus cabelos. Em vários momentos, Peter tentou pegar a sua varinha, mas não conseguiu. Quando ele finalmente se livrou de todos que subiam e batiam nele, uma roda de crianças o cercou com as varinhas apontadas para ele.
__Ataquem! __gritou um menininho.
Correndo em direção a Peter, as crianças ergueram as suas varinhas e lançaram um único feitiço sobre ele. Numa grande explosão de luz, Peter foi arremessado até bater contra a parede.
Naquele momento, as crianças correram para cima de Peter, mas pararam de repente ao verem algo estranho acontecendo com ele.
Peter levantou meio contorcido e deu um passo a frente. Em seguida, algo estranho parecia que queria sair de seu corpo. Ele olhou para os pés e viu que garras furavam seus sapatos. Ao olhar para as mãos, percebeu que escamas surgiam juntamente com garras enormes. De repente, Peter sentiu seu corpo pesar e caiu de quatro no chão. Lentamente, chifres nasceram em seu nariz e uma fumaça quente começou a fumegar por sua boca. Seu corpo ficou coberto por escamas e um grande rabo de lagarto cresceu em seu traseiro.
Temendo o que viam, as crianças se afastaram para trás à medida que asas enormes surgiam nas costas de Peter. Quando todos menos esperaram, o rapaz aumentou de tamanho e se transformou num grande dragão.
Nesse meio tempo, Dan rolava a punhos no chão com Grump e Louise e Maya se descabelavam de um lado para o outro. Quando o enorme dragão rugiu na sala, o seu bafo arrastou as carteiras e jogou as crianças contra as paredes.
As crianças levantaram e olharam para o gigantesco dragão que rugia sem parar. Quando todos menos esperaram, o dragão abriu a boca e soltou uma grande bola de fogo pela sala. As crianças soltaram grandes gritos e saíram correndo para o corredor.
Lisa correu embolada entre a multidão de crianças que tentavam fugir do dragão e acabou tropeçando e caindo. Dan surgiu por trás dela e a ajudou a levantar-se.
Voltando a correr pelos corredores desertos do Castelo dos Druidas, Lisa, Dan e Louise __que acabara de se juntar a eles com facho de cabelos na mão__ viraram um corredor para se desviarem do dragão. No entanto, quando eles viraram outro corredor, deram de cara com o dragão novamente. Ele abriu a boca cheia de presas e soltou uma enorme bola de fogo contra os três.
Lisa, Dan e Louise voltaram correndo pelo corredor com a bola de fogo os seguindo. No fim do corredor, eles viraram uma esquina e Lisa bateu de cara com alguma coisa. Quando ela ergueu a cabeça, viu que havia batido em Magnum Darkness e que vários alunos olhavam para os três.
__O que significa...? __Darkness calou-se de repente e arregalou os olhos ao olhar para o fim do corredor.
Um grande rugido envolveu o corredor, seguido pelos passos pesados do dragão. Os alunos dos outros anos viram o dragão entrando no corredor e desesperaram a correr.
__Por aqui! __gritou a menina Louise.
Louise puxou Lisa e Dan para dentro de uma sala vazia e fechou a porta. Encostando os ouvidos na porta, os três ouviram os gritos dos alunos e o rugido do dragão.
Depois que tudo se acalmou, os três saíram da sala e voltaram para o corredor. Assim que apontaram as cabeças em outro corredor para ver se estava livre, Lisa, Dan e Louise viram Darkness correndo na direção deles com uma grande bola de fogo seguindo-o.
Os três, então, voltaram correndo para trás e aumentaram os passos ao olharem para trás e verem Darkness, correndo da bola de fogo, entrando no corredor.
No fim do corredor, havia uma grande escada que ligava ao hall de entrada. Lisa e os outros desceram os degraus às pressas. Quando eles já estavam no hall, Darkness e outros alunos surgiram nas escadas com o dragão seguindo-os.
Nesse momento, Lisa virou para trás e viu um velho barbudo erguendo o cetro entre os raios do sol. Lisa afastou para trás e só ouviu um grito ecoar pelo enorme hall de entrada.
__Imobila!
O rato acuado
Os rugidos do dragão Peter ecoavam pelos castelos da Fonte Phoenix num tom triste e interminável. Lisa estava à beira da janela da Sala Comunal observando os Trasgos segurarem o dragão com grossas correntes enquanto Godric e Gaya tentavam fazer Peter voltar ao normal.
Enquanto Lisa espiava pela janela, a Sala Comunal se enchia de pessoas que não paravam de criticar Peter.
__Acho bom que isso tenha acontecido com ele! __disse Norman Finger.
__Eu concordo com você __disse Alice Boston__ Se não fosse Martius que tivesse revertido o encantamento, nós ainda estaríamos como crianças...
__Pessoal, vocês não acham que estão sendo muito injustos com Peter? __interrompeu Louise.
__Injustos? __disseram quase todos que estavam presentes na sala.
__Não, nós não estamos sendo injustos, Louise!
Louise virou-se e viu Grump descendo as escadas com Gregor e Steven na cola. Nesse momento, Dan levantou de sua poltrona e ficou do lado de Louise.
__Achamos que Peter passou dos limites __continuou Grump__ Em apenas duas semanas de aula, Peter já aprontou o suficiente para destruir a Fonte Phoenix!
__Também não exagera, Grump! __exclamou Louise__ Peter ainda não consegue dominar bem os...
__Peter ainda não sabe nem dominar a própria varinha __disse Melissa entrando na conversa__ Lembra da vez em que ele quase me transformou numa árvore ambulante?
__Melissa, acidentes acontecem!
__Me desculpe, Louise, mas nada justifica as atrapalhadas de Peter!
Melissa lançou um olhar desapontador para Louise e depois subiu as escadas lentamente. Nesse meio tempo, Lisa voltava ao centro da Sala Comunal.
__Peter é atrapalhado demais! __murmurou um rapaz no canto da sala.
__Por mim, ele nem estudava na mesma sala que eu! __murmurou outro rapaz.
__Afinal de contas, Louise, me diga, porque você agora está protegendo Peter? __perguntou Grump num tom de sarcasmo__ Você nunca foi a protetora dos fracos e dos... ahn... como posso dizer... ahn... idiotas!
__Calma, Dan __ murmurou Louise ao ver que Dan ia para cima de Grump__ Fique sabendo, Grump, que Peter, apesar de ser atrapalhado em tudo que faz, é uma pessoa que tem sentimentos. Acho que vocês não pensaram nisso quando passaram a ataca-lo daquela forma. Não se esqueça, Grump, que se Peter está á fora amarrado como um dragão por correntes é por culpa de todos que estão dentro desta sala...
__Não me inclua no meio disso, Longbottom! __murmurou Grump lançando um olhar de esguelha para Dan.
__Você sabe muito bem que também teve culpa no que aconteceu. Não se esqueça que foi você quem começou, Grump!
Louise apontou o dedo para a cara de Grump e depois subiu as salas apressadamente. Grump virou-se para Dan e moveu a boca como se mastigasse algo. Entrementes, todos observavam Grump como se o culpassem tanto quanto Louise.
O céu estrelado reinava imperiosamente sobre as gigantes torres da Fonte Phoenix fazendo com que o rosto de Louise brilhasse com uma sombra de preocupação em suas faces.
Durante horas e mais horas, Louise andou pelos corredores__ que antes estava cheio de pessoas que riam e conversavam e agora estavam vazios__ a procura de Peter. Por onde ela passava, nenhum sinal do rapaz foi visto por ela ou por quem ainda vagava pelo Castelo dos Bruxos.
Andando, então, pelos jardins da Fonte Phoenix, Louise viu uma pequena sombra agachada próxima a uma árvore no escuro e aproximou-se dela. Chegando a árvore, um som de um lamento triste de um rapaz ecoou pelos ouvidos de Louise fazendo com que ela sentisse um aperto no coração.
__Peter! __ murmurou Louise.
Louise chegou por trás da árvore e virou para ver quem estava agachado. Virando-se para o rapaz, Louise agachou-se e olhou para o rosto cheio de manchas roxas e para os olhos que lacrimejavam incessantemente.
__O que está fazendo aqui? __perguntou Peter__ Vá embora!
__Peter, todos estão procurando por você...
__Mentira! Ninguém está procurando por mim. Ao contrário, todos devem estar em seus quartos... dormindo.
__ Peter, eles podem estar dormindo, mas eu não estou. Ao contrário, estava procurando você... você desapareceu e...
__Eu devia estar morto e não desaparecido! __lamentou-se Peter.
__Não fale assim, Peter!
Peter enxugou os olhos na manga do suéter e levantou.
__Ninguém me quer por perto. Todos me odeiam __disse Peter recostando-se a uma árvore__ Martius e Gaya podiam ter deixado eu ser um dragão por resto da vida. Seria melhor, assim.
__Não, não seria, Peter. Bem, olha, se fosse um dragão, aí mesmo que ninguém iria gostar de você. Dragões causam muita destruição, não é mesmo?
__Viu como eu estou certo? __Peter virou-se para Louise e tentou olhar para seus pés a ponto de esconder as lágrimas que escorriam pelo rosto__ Nem como um dragão eu prestaria!
Louise ficou em silêncio por um instante pensando na besteira que ela acabara de falar. Ao invés de ajudar, Louise estava piorando a situação.
__Eu não estou ajudando em nada, não é mesmo? __murmurou Louise.
__Não.
Louise suspirou e depois disse:
__Bem, Peter, todos prestam para alguma coisa. Quero dizer, você deve ter algo em que seja realmente bom. Todos têm, porque você não vai ter?
__Não, não tenho nada em que eu seja bom. A não ser, é claro, em errar feitiços, explodir poções...
__Isso não é verdade, Peter. Você deve ter algo em que seja realmente bom e que se orgulhe de ser realmente bom. É só pensar um pouco. Pense, Peter!
Peter desviou o olhar de Louise e fitou uma sombra de uma árvore a sua frente.
__Me desculpe, Louise, __murmurou Peter__ mas eu não tenho nada em que seja realmente bom.
Louise suspirou e passou a mão no rosto. Convencer Peter não era tão fácil quanto ela pensava ser.
__Peter, não é verdade. Lembra quando a Folha do Centauro fez uma matéria sobre Lisa e Gaya? Bem, você foi o único que fez a gentileza de nos dar um exemplar do jornal...
__Isso não é nada de mais. Qualquer um poderia ter feito aquilo.
__Está bem... ahn, vejamos... lembra de quando eu pedi para você entrar no quarto de Maya e pegar o Localizol de volta para mim?
__Grandes coisas! Eu acabei virando um sapo imprestável...
__Bem, apesar de que você se transformou num sapo, a meu ver, você foi a pessoa mais esperta que eu já vi...
__Você está dizendo isso só pra me consolar!
__Não, não estou. Peter, eu nunca vi uma pessoa com tanta destreza na minha vida. Você foi... você foi... excelente!
__Sério?
__Sério, Peter!
Peter virou-se para Louise e, pela primeira vez, ele olhou para ela.
__Talvez eu realmente não seja tão ruim assim!
__E você não é. Basta... treinar melhor as coisas que você faz...
__Eu nunca tinha pensado nisso antes __disse Peter abrindo um sorriso__ Você tem razão, Louise. O que eu tenho de fazer é treinar as minhas habilidades, assim, vou deixar de ser tão trapalhão...
__É assim que se fala, Peter! __apoiou Louise__ A partir de agora, não deixe que os outros riam da sua cara só porque você errou um feitiço ou destruiu alguma parede. Seja autoconfiante e não dê ouvidos a alguns palhaços espalhados por aí que pensam que são melhores do que a gente... Não se esqueça, sempre que alguém rir de você pelos corredores, finja que não aconteceu nada e continue caminhando. Auto-estima, Peter, auto-estima!
__Está certo, Louise, a partir de agora não darei ouvidos aos outros. A partir desse momento serei autoconfiante e principalmente terei auto-estima!
Peter enxugou as últimas lágrimas e abraçou Louise com um grande sorriso no rosto. Enquanto os dois se abraçavam, Lisa chegou entre as árvores e parou ao ver Louise piscando o olho para ela.
__Missão cumprida! __disse Louise no dia seguinte enquanto sentava-se a mesa do Castelo dos Bruxos para tomar café.
__O que você fez para Peter reaparecer de novo? __perguntou Dan enquanto rasgava um pão na boca.
__Nada de mais __disse Louise orgulhosa__ Apenas disse para ele ser autoconfiante e ter auto-estima...
__Parece que ele levou o que você disse a sério __disse Lisa.
Lisa, Louise e Dan viraram-se para a mesa vizinha e viram Peter animado tentando puxar conversa com alguns alunos.
__Fico feliz que ele tenha entendido tudo! __disse Louise virando-se para o seu pão__ Não foi fácil, se querem saber. Aqui entre nós, foi extremamente difícil descobrir em quê Peter era bom. Venhamos e convenhamos, ele não é bom em nada!
__Espera aí __disse Lisa abaixando a voz__ Quer dizer que você mentiu para ele quando disse que ele foi excelente ao tentar pegar o Localizol?
__Menti.
__Louise! __repreenderam Dan e Lisa.
__Que foi? Eu não disse nada de mais. Apenas fiz com que a auto-estima dele aumentasse. Vocês vão ver, vai ser bom para ele...
__Assim esperamos!
Louise pegou um pote de geléia e passou geléia no seu pão. Nesse meio tempo, Lisa observava Peter conversar todo empolgado com pessoas que nem se quer davam atenção a ele.
__Ah, Lisa __disse Louise com a boca cheia de pão__ Gaya não foi tão bem em Poltergrat como nós esperávamos. Parece que agora os lordes querem que Gaya não tome nenhuma decisão sem consultar a Ordem. Ainda bem que eles não descobriram nada sobre os vinte alunos que perderam seus poderes naquele estranho ataque ou senão a Ordem iria querer destronar Gaya. Bem, motivos não faltam...
Após o café, Lisa entrou na enfermaria do Castelo dos Trons e viu, apenas de relance, pois a senhorita Prym não permitiu que ela ficasse lá, os alunos que foram atacados. Eles estavam deitados sobre as camas e mantinham uma expressão vazia e pálida.
__Não se preocupe, eles voltarão ao normal__ disse Srta. Prym ao responder uma pergunta de Lisa do lado de fora da enfermaria__ Acho que mais uns dois meses e eles estarão novinhos em folha com seus poderes restaurados.
Durante o restante do dia, Lisa ficou revendo mentalmente a imagem da enfermaria cheia de pessoas pálidas e de olhares vazios. Lisa sabia que algo estranho estava acontecendo na Fonte Phoenix e que alguém, por uma estranha razão, estava sugando os poderes das pessoas. Mas porque? Lisa não conseguia imaginar um motivo óbvio para a pergunta que a atormentou durante meses.
Quartanno, o quarto mês aragorniano, chegou mais rápido do que Lisa esperava. E com ele, chegaram também as incontáveis provas e trabalhos que ocupavam a mente dela durante basicamente o mês inteiro.
Além das provas e dos trabalhos, os alunos da Fonte Phoenix tiveram que se habituar à forma rígida como as aulas estavam sendo dadas. As aulas de Darkness, por exemplo, tornaram-se insuportáveis até o ponto de até mesmo Louise se estressar e mandar o Quadro-Negro para o ar ao tentar pela milésima vez trancafiar os Cavaleiros Negros. Magnum ficou furioso e aplicou duas semanas de detenção para ela, o que deixou Maya contentíssima.
Para piorar a situação, as notas de Louise ficaram inferiores as de Maya, o que ocasionou em mais um motivo para que a arqui-rival se alegrasse e se enchesse de orgulho.
__Isso não pode estar acontecendo comigo!__ lamentou-se Louise desconsolada ao ver o seu A negativo destampado no auto da prova de Darkness.
__Louise, você não precisa ficar assim só porque você tirou um A negativo e Maya tirou um A++ __disse Dan enquanto andavam apressados para a aula de Ljosalfr.
__NÃO É PARA EU FICAR PREOCUPADA? __gritou Louise a ponto de se descabelar__ Eu passei duas semanas esfregando o chão da sala de Darkness e mais três noites em claro só para devorar as Mil Maneiras de Derrotar Uma Criatura das Sombras só para tirar um mísero A Negativo? ACHO QUE NÃO!
As aulas de Alfr Ljosalfr também não estavam as mil maravilhas. O carrancudo elfo não parava de provocar arrepios nos alunos com suas aulas a luz de vela. Até Lisa, não estava gostando nenhum um pouco dos olhares sombrios que Ljosalfr dava para ela quando a escolhia para lutar contra alguma criatura criada pelos Cards Mortais.
Já Athus, manteve as suas aulas no curso normal de sempre. Exceto pelos exercícios exagerados que ele estava passando. Nesse meio tempo, Rowena tentou aplicar encantamentos mais simples e mais fáceis de serem executados, já que a imagem de uma estátua de pedra com a sua cara ainda a atormentasse cada vez que via Peter sorrindo para ela.
Mesmo com tanto estresse e deveres, Lisa, Louise e Dan também se divertiram ao longo dos dois meses que se passaram.
Big Bertha descobriu, através da Srta. Prym, que Zig estava mentindo ao dizer que não podia tomar banho por causa do Anelídeo. Como punição, Big Bertha fez Zig tomar banho três vezes ao dia durante o mês inteiro.
Depois da ajuda psicológica de Louise, Peter passou a ser mais autoconfiante e deixou de ouvir as risadas e as críticas das pessoas sempre que fazia algo de errado. Essa atitude deixou Dan furioso.
__Auto-estima... olha só o que a sua auto-estima fez com a minha testa! __gritou Dan furioso para Louise depois de sair da aula de Flycken com cinco chifres nascendo em sua testa por causa de um feitiço errado de Peter.
Apesar de Peter ter levado o conselho de Louise a sério, nada melhorou no rapaz. Durante duas aulas seguidas, Peter destruiu a sala da professora Ventania com dois tornados gigantescos, sem falar, das oito vezes em que ele errou os encantamentos de Rowena e transformou-a numa largatixa de cinco metros que soltava fogo pela boca.
__Rowena tem muita paciência __disse Dan enquanto via num espelho se seus chifres estavam desaparecendo__ Se fosse eu, Peter seria um sapo morto!
__Rowena gosta muito de mimar as pessoas, mas acredito que ela já viu que mimar Peter é a mesma coisa que tentar dar comida a um dragão faminto __disse Louise.
__Não sei, não __disse Lisa enquanto folheava quatro livros ao mesmo tempo sobre Cards Mortais__ Acho que Rowena está chegando no limite dela. Vocês viram como ela gritou com Peter depois que ele conseguiu desfazer parcialmente o Encantamento de Camuflação?
__E quem iria esquecer aquilo? __ disse Dan tirando o espelho da frente do rosto__ Rowena era uma árvore que cuspia fogo e soltava borboletas pela boca!
Apesar das confusões que Peter fazia a cada aula, ainda sobrava espaço para os alunos se espantarem com Hariph. O estranho rapaz não errava nenhum feitiço e era perfeito em tudo que fazia. Até mesmo Louise, que já era uma guardiã, não deixava de sentir inveja do rapaz.
__Ele é... perfeito! __exclamou Louise depois que Hariph venceu dez alunos na Aula de Duelos sem sofrer nenhum arranhão.
__Realmente... ele é... perfeito! __murmurou Lisa.
Depois de tantos meses estudando com Hariph, Lisa ainda não se acostumara com a forma sombria como o rapaz olhava para ela. Ao contrário, cada vez que Hariph lhe lançava um olhar, Lisa arrepiava-se e sentia a sua marca formigar. Ela não entendia por que aquilo sempre acontecia, mas provavelmente eram os olhos dele que provocavam o formigamento.
Sobre uma pilha de livros, Lisa, Louise e Dan estavam mergulhados, juntamente com outras dezenas de alunos, num complicado trabalho que Alfr Ljosalfr passara sobre as criaturas reproduzidas pelos Cards Mortais.
Como Lisa e Dan já haviam enfrentado vários Emissários da Morte de uma vez só, a descrição das criaturas se tornou fácil. Porém, para Louise, que só viu um Emissário quando Ljosalfr usou um Card para demonstração, a descrição da criatura se tornou mais difícil.
__Os Emissários da Morte possuem correntes enroladas no corpo? __perguntou Louise enquanto procurava algo num livro.
__Não__ disse Lisa__ São as Sentinelas que possuem correntes envoltas no corpo.
__Ah, ok.
Enquanto Louise terminava de escrever a sua descrição de quase dois metros de pergaminho, um rato cinzento passou por ela e seguiu na direção de Peter.
Peter estava debruçado sobre dois livros tentando encontrar pelo menos algo em que escrever no seu pergaminho em branco quando teve a impressão de ter visto um rato passar por ele com um pergaminho na boca. Imediatamente, Peter largou o livro de lado e olhou para o fim das escadas onde o rato estava desaparecendo.
Ainda meio abobado com o que tinha visto, Peter foi até Louise e a cutucou no ombro.
__Louise.
__O que foi Peter? __perguntou Louise com um pouco de impaciência depois de ter feito um risco enorme no pergaminho.
__Por acaso ratos podem carregar pergaminhos na boca?
__Não, Peter...ahn... rato? Você viu um rato?
__Vi, porque?
__AH!
Numa grande onda ensurdecedora, as mulheres abriram a boca até no canto e subiram nas poltronas sobre gritos agudos. Quando Dan e os outros rapazes perceberam, haviam mulheres até agarradas nos pescoços deles.
__Espere, __disse Louise voltando-se para Peter depois de parar de gritar sobre a poltrona__ não há ratos na Fonte Phoenix!
__Mas eu vi um.
Peter olhou para Louise e depois olhou para todos na Sala Comunal. As pessoas fitaram Peter como se ele estivesse contando alguma mentira. O rapaz, percebendo o que todos estavam pensando, teve que se explicar.
__Espere, vocês não estão achando que eu estou mentindo, estão?
As mulheres, sobre as poltronas e agarradas nos pescoços dos rapazes, olharam uma para a outra e disseram em alto e bom som:
__ESTAMOS!
__Espere, eu não estou mentindo __defendeu-se Peter__ Eu vi um rato subindo as escadas com um pergaminho na boca. Eu juro, Louise!
Louise desceu de cima da poltrona e jogou uma mexa de cabelos que caíam sobre seus olhos para trás das orelhas.
__Peter... ratos não conseguem carregar pergaminhos na boca. Sabe, os ratos são pequenos e os pergaminhos são muito grandes e pesados para eles, entendeu?
__E se ele estiver dizendo a verdade? __murmurou Norman Finger__ Uma vez eu vi um rato enorme cortando as minhas roupas e...
__Norman... dá o fora! __exclamou Louise impaciente__ Peter, foi tudo imaginação sua. Ratos não carregam pergaminhos, entendeu? Agora, lembre-se: auto-estima, Peter, auto-estima!
Louise piscou um olho para Peter e depois se voltou para o seu pergaminho riscado. Peter, por sua vez, sentou-se novamente no chão ainda certo de que vira um rato carregar um pergaminho na boca.
Entrementes, Alice ainda continuava agarrada no pescoço de Dan. O rapaz olhou para ela e disse:
__Alice.
__Hum....
__Será que dá para largar o meu pescoço, agora?
__Ah, Dan me desculpe... Ah!
Alice caiu no chão como uma jaca mole. O barulho do tombo, depois que Dan soltou-a, assustou quase todos dentro da sala.
Lisa ergueu a cabeça para ver o que tinha acontecido e acabou esbarrando no pote de tinta e derramou-o sobre o pergaminho. Ela pegou o pergaminho e chacoalhou-o no ar ao mesmo tempo em que ria discretamente da cara fechada de Alice.
A noite caiu sobre a Fonte Phoenix como um grande lençol negro colorido por pontos luminosos numa imensidão infinita. O refeitório do Castelo dos Trons encheu-se de centenas de convidados que comemoravam alegremente o retorno dos vinte alunos que haviam perdido seus poderes a dois meses atrás.
O grande salão dos Trons era repleto de estátuas de elfos pendurados nas paredes e de milhares de vaga-lumes presos dentro de bolas de cristais que iluminavam o refeitório do alto do salão. Na frente do salão havia uma grande mesa onde Gaya, Martius e os outros professores estavam sentados. Atrás deles havia quatro grandes janelas verticais que iam até o teto, onde gárgulas espiavam a alegria dos alunos.
Lisa, Dan e Louise haviam se sentado ao lado de Cliffe e de um limpinho e perfumado Zig. Durante todo o jantar, a atenção dos três amigos se voltou para o Pé Grande que estava exageradamente vestido com uma blusa azul celeste com um babado no pescoço e com um grande chapéu emplumado na cabeça.
__O que foi? Do quê estão rindo? Mamãe disse que eu estou lindo!
À noite de retorno dos alunos foi comemorada com grandes taças de uma bebida típica dos Elfos chamada de Alfrtrum, que era servida juntamente com frutas cristalizadas e ameixas roxas. O cardápio também havia sido bem preparado pelos anões. Foram servidas grandes porções de Fowls assados e de porcos selvagens.
Com tanta comida servida, os Pés Grandes, famosos pela má educação, atacaram as carnes como animais selvagens e rasgaram-na nos dentes com extrema ganância.
__Não sei como alguém consegue comer com isso! __disse Louise enjeitando o seu prato e apontando o olhar para Zig e Cliffe que rasgavam um porco selvagem assado com os dentes.
__Mamãe disse que não é para eu sujar meu babado, mas e daí? Não vai ser eu quem vai lavá-lo mesmo! __comentou Zig para Julius Brown enquanto rasgava um pedaço de carne nos dentes.
__Na verdade, acho que eles jamais irão ter seus poderes totalmente de volta __disse Cliffe para Norman__ Ouvi dizer que quando alguém tem seus poderes sugados, ele nunca mais é o mesmo...
Assim como Louise, Lisa havia desistido de terminar seu prato. Ela, então, o pôs de lado e observou o salão entupido de gente. Por alguns instantes ela observou a mesa dos professores, Peter conversar sonsamente com duas meninas do primeiro ano e por fim, Max e Tom Secoyan aproximarem-se da sua mesa.
__Olá, Lisa! __disse Max__ Olá pessoal!
__Oi, Max! Oi... Tom! __disse Louise engasgando com o Alfrtrum.
__Como vai, Dan? __perguntou Tom depois de fazer um sinal com a cabeça para Louise.
Dan olhou para Max, que nesse momento se sentava ao lado de Lisa, e abaixou a cabeça murmurando:
__Bem, obrigado!
Durante o restante da noite o grupo conversou sobre variados assuntos, desde os exaustivos trabalhos até o retorno do vinte alunos atacados à ativa. No entanto, entre a conversa empolgante, Dan foi o único que não abriu a boca nem para bocejar ao menos. Ao contrário, ele permaneceu quieto tentando ao máximo possível não olhar para Lisa e Max que conversavam alegremente um com o outro.
Depois de algum tempo fora da conversa, Dan abriu a boca apenas para dar boa noite e se retirar do salão com uma expressão fechada e mau-humorada.
__O que deu nele? __perguntou Tom vendo Dan saindo apressado do salão.
__Ciúmes! __respondeu Louise lançando um olhar para Lisa__ Mas isso não vem ao caso... Conte-me Tom, como foi que você derrotou o iction de mais de cento e cinqüenta metros...?
Dan saiu do Castelo dos Trons e sentou-se num banco debaixo de uma árvore do campo de pousos. Após sentar-se, Dan enfiou a mão no bolso e tirou uma esfera dourada com várias escrituras gravadas nela. Durante alguns segundos, Dan ficou admirando a esfera rodopiar ao redor de sua cabeça até que ela o deixou tonto e ele pegou-a de volta com a mão.
Dan segurou forte a esfera e olhou para ela. Por alguns segundos, o rapaz fixou seu olhar na esfera e ficou analisando as escrituras ao redor dela. Naquele momento, pensamentos vagavam por sua cabeça trazendo lembranças felizes do rapaz. Em uma das lembranças, Dan reviveu o momento em que conheceu Lisa e o dia em que ele e ela estiveram a meio centímetro de um beijo...
__Dan.
Dan guardou a esfera e virou-se para trás. Entre a luz clara e singela da lua, o rapaz contemplou o rosto de Lisa brilhando as suas costas.
__Posso me sentar perto de você?
Lisa aproximou-se Dan e sentou-se ao lado dele.
__O que está fazendo aqui? Você não devia estar no castelo fazendo companhia para Max?
__Max já voltou para o seu castelo. Então resolvi dar uma volta pelos jardins e acabei encontrando você aqui. Espero não estar incomodando...
__ E não está...
Dan e Lisa calaram-se por alguns instantes para contemplarem as milhares de estrelas que brilhavam no céu.
__Minha tia dizia que toda vez que eu olhasse para o céu e visse duas estrelas brilhando mais do que as outras, era porque meus pais estavam olhando para mim de alguma parte do universo.
__E eles estão olhando para você neste momento? __perguntou Dan olhando para Lisa.
__Estão. Você está vendo aquelas duas estrelas sobre a torre principal? Então, elas são meus pais.
Dan olhou para o céu e viu as estrelas que Lisa indicara, mas ao invés de duas, havia três estrelas brilhantes.
__E a terceira estrela?
__É minha tia Anne...
Lisa abaixou a cabeça e tentou fixar os olhos em algum ponto dos seus pés.
Naquele momento, Dan pensou em dizer algo, mas se conteve ao lembrar-se de como era difícil viver sem ter ninguém ao seu lado.
__Sua tia deve estar orgulhosa de você, sabia? __murmurou Dan.
Um leve vento soprou contra os cabelos de Lisa, jogando-os contra seus olhos. Ela passou a mão sobre uma mexa e a escondeu atrás da orelha.
__Minha tia não devia estar morta, Dan __disse Lisa com a voz fraca e os olhos enchendo-se de água.
Dan olhou para Lisa e viu uma lágrima escorrer em seu rosto.
__A Besta destruiu a minha família...
__Lisa!
Dan aproximou de Lisa e tomou-a em seus ombros.
Sobre a luz da lua, os dois permaneceram juntos até as luzes da Fonte Phoenix apagarem-se e todos os alunos voltarem para seus castelos. Dan não sabia, mas seus sentimentos agora estavam à flor da pele...
Já passava da meia noite quando Dan e Lisa voltaram para a sala e encontraram Louise cochilando numa poltrona ao lado da lareira. Assim que os dois entraram, Louise despertou e ficou furiosa porque Lisa estava andando a noite sem companhia.
__Mas ela não estava sozinha, Louise! __disse Dan__ Lisa estava comigo!
__Estava? __disse Louise espantada__ Mas, eu a vi entrando no Castelo dos Magos com Max!
Lisa estava a meio caminho de enxugar uma lágrima no rosto quando ela olhou espantada para Louise.
__Eu não entrei com Max no Castelo dos Magos, ao contrário, Max e eu nos despedimos aqui na Sala Comunal. Depois disso, eu resolvi sair para tomar um ar fresco e acabei encontrando Dan no campo de pouso!
__Espere, eu tenho certeza de que vi você andando com Max!
Dan e Lisa trocaram olhares e viraram-se para Louise.
__Louise, eu acho que aquele lance de você não se conformar com suas notas deixou você meio pirada! __disse Dan__ Até agora, eu e Lisa estávamos no campo de pouso...
__É mesmo, Louise __continuou Lisa__ Acho que você está pirando!
Louise passou a mão na cabeça e caiu sentada na poltrona. Depois de um suspiro prolongado, ela murmurou:
__Será?
O fato de Louise ter caducado naquela noite não foi tão preocupante para ela quanto as notas “baixas” que vieram na semana seguinte depois de três provas e dois trabalhos. A situação não foi tão relevante quanto da outra vez porque Louise devorou mais de seis livros para se preparar para as provas e para os trabalhos. E mesmo depois de responder corretamente todas as perguntas aplicadas nas avaliações, Louise não se contentou com o A destampado no alto de sua prova seguido por um grande Negativo escrito em vermelho.
A situação de Louise piorou quando ela viu as notas de Maya que não passavam de um grande A seguido de mais dois Positivos.
__Eu ainda não estou acreditando que isto está acontecendo comigo! __lamentou-se Louise ao sentar-se numa poltrona da Sala Comunal e jogar todas as suas avaliações para o lado e atear fogo nelas com a sua varinha.
__Louise, você precisa se acalmar! __aconselhou Lisa.
__EU JÁ ESTOU CALMA... o suficiente para estrangular Flycken, Ljosalfr, Darkness, Falco e... __Louise soltou um grande suspiro e deslizou o corpo pela poltrona__ O que eu estou dizendo? Lisa, eu respondi todas as perguntas corretamente e até adicionei detalhes para enriquecer as respostas e ainda assim fiquei com um A negativo!
__Louise, isso não é algo para se preocupar! __disse Dan__ Veja, eu tirei um B Negativo e Lisa tirou um B Positivo; e nem por isso estamos nos descabelando por causa de um ponto positivo a mais ou a menos...
__Esse não é o problema, Dan. Até agora eu não consigo acreditar que Maya está tirando notas maiores do que as minhas. Logo ela que nunca fez nada certo!... Se bem me lembro, as notas de Maya não passavam de um C Negativo. Como ela pode evoluir tanto assim?
Dan e Lisa trocaram olhares e sorriram um para o outro.
__Bem, muito tempo já se passou desde que você se formou e Maya foi suspensa das aulas... __disse Lisa.
__Mas mesmo assim eu...
Louise parou de chofre e tombou a cabeça para ver algo debaixo de uma poltrona.
__O que foi, Louise? __perguntou Dan.
__Pensei ter visto um rato... ah, deve ser minha imaginação!
Louise ergueu-se novamente e se recostou na poltrona. Enquanto ela recostava-se, um rato cinzento com um pergaminho na boca saiu de trás de uma perna de poltrona e subiu as escadas rapidamente.
Depois de alguns minutos na Sala Comunal, Lisa, Louise e Dan foram para o refeitório jantar e acabaram encontrando o grande salão repleto de pessoas que estavam com os olhos vibrados numa página da Folha do Centauro.
Vendo a enorme quantidade de jornal que havia dentro do salão, Louise sentou ao lado de Peter e tomou o jornal do rapaz para ler.
__Hei, é meu! __protestou Peter.
__Isso mesmo, Peter! __disse Louise sem dar atenção ao rapaz__ Auto-estima, não se esqueça!
Peter franziu a testa e saiu da mesa de cara feia. Lisa e Dan trocaram olhares e se assustaram quando Louise jogou o jornal sobre o prato de sopa de Lisa.
__Veja, Lisa! Isso é absurdo!
__O que tem de absurdo?
Lisa pegou o jornal molhado pela sopa e leu o cabeçalho da reportagem.
GAYA ESCONDE ATAQUE AOS ALUNOS
DA FONTE PHOENIX
DA COMUNIDADE ARAGORNIANA
__Como eles souberam do ataque ao Castelo dos Trons? __perguntou Dan depois de ler a matéria.
__Não sei como, mas leiam a matéria seguinte! __disse Louise.
Lisa abaixou os olhos pela página e leu o título de uma outra matéria.
SUPREMA CORTE DOS LORDES QUER
NOVOS ESCLARECIMENTOS DE GAYA
SOBRE A CONDUTA DE NOVOS PROFESSORES CONTRATADOS
__Pelo visto, não foi somente sobre os ataques que Alan Hart descobriu __disse Louise enquanto voltava para a Sala Comunal__ Até mesmo o fato de Peter ter sido transformado num dragão caiu nas mãos da Folha do Centauro!
__Mas como Alan Hart descobriu?
__Não sei, Lisa __disse Louise depois de entrar na Sala Comunal__ Mas isso não vem ao caso agora. Gaya está entrando em sérios apuros, pois a Ordem dos Lordes vai investigar os ataques e a conduta de Rowena. Parece que ninguém vai querer ser treinado por uma professora que transforma os alunos num dragão desordeiro...
__Mas não foi culpa de Rowena __disse Dan__ Peter se transformou num dragão porque vários feitiços o atingiram ao mesmo tempo, provocando uma reação mágica sem controle!
__Mas a Ordem não sabe disso e... eu sabia!
__Você sabe do quê, Louise? __perguntaram Dan e Lisa ao mesmo tempo.
__Eu sabia que não era imaginação minha e nem de Peter!
Louise saiu correndo pelas escadas sendo seguida por Dan e Lisa que não estavam entendendo nada. Somente no alto da escada, os dois entenderam.
Um rato cinzento corria apressado pelo corredor feminino enquanto segurava na boca um pergaminho. Louise, Lisa e Dan seguiram o rato para ver onde ele estava indo com o pergaminho e se assustaram ao ver que ele entrou no quarto de Maya.
__O que um rato carregando um pergaminho faz no quarto de Maya? __perguntou Dan.
__Isso é o que vamos saber!
Louise olhou para os lados para certificar-se de que ninguém estaria se aproximando e correu para o quarto de Maya. Ela abriu a porta do quarto e entrou com Lisa e Dan na sua cola.
Dentro do quarto de Maya, Lisa, Louise e Dan encontraram o rato soltando o pergaminho sobre a escrivaninha dela. Quando o rato os viu, ele pulou da escrivaninha e se escondeu atrás de um criado-mudo.
__O que será isso?
Lisa pegou o pergaminho e abriu-o. Ao lê-lo, os três caíram para trás de espanto.
__Então é assim que ela consegue! __exclamou Louise indignada enquanto enrolava o pergaminho e jogava-o sobre a escrivaninha__ Agora, onde está aquele rato imundo!
Louise passou os olhos pelo quarto a procura do rato até que viu um rabo saindo de trás do criado-mudo. Sem pensar duas vezes, Louise sacou a varinha a apontou para o criado-mudo.
__Bombarda!
Numa grande explosão, o criado-mudo explodiu no ar lançando pedaços de madeira por todo o quarto, deixando o rato descoberto encostado na parede com o coração batendo aceleradamente.
__Então só podia ser você, não é seu elfo-ratazana?! __rosnou Louise.
__Do que está falando, Louise? __perguntou Lisa.
Mas antes de Louise responder, os passos pesados de uma pessoa se aproximando foram ouvidos do lado de fora do quarto. Numa fração de segundos, a maçaneta girou e a porta se abriu.
O acerto de contas de Louise
Louise virou-se para a porta e rapidamente voltou-se para Lisa e Dan com a varinha apontando para os dois. Em alguns milésimos de segundos, ela pronunciou um feitiço tão rápido que nem Lisa e Dan puderam entende-lo. De repente, como se seus corpos estivessem sendo sugados para o alto, Lisa, Dan e Louise bateram contra o teto e ficaram flutuando no ar.
Nesse meio tempo, Maya entrou no quarto e parou ao ver os milhares de pedaços de madeira do criado-mudo espalhados pelos quatro cantos.
__O que houve aqui? __murmurou Maya na sua vozinha irritante.
Maya correu os olhos pelo quarto com uma expressão assustada que logo se desfez em fúria quando viu o rato acuado no canto da parede.
__Felton, seu verme! __gritou ela.
O rato, que antes parecia assustado com Louise, agora estava a ponto de ter um enfarto.
__Como você explica isso?
Do alto do quarto, Lisa, Dan e Louise ouviram o rato meramente fazer um ruído indistinguível. Como se Maya estivesse entendendo o que o rato lhe dizia, ela abriu o rosto num sorriso e correu até a escrivaninha onde pegou e abriu o pergaminho.
__As respostas dos enxames daquela brutamontes da Bertha!
__Hein... brutamontes? Quem ela pensa que é? __murmurou Lisa do alto do quarto.
__Lisa... Psiu! __sussurrou Louise.
Maya, ao ouvir o sussurro, fechou o pergaminho e olhou para o rato.
__O que foi Felton? Disse alguma coisa?... Bem, não importa! Agora eu quero ver a queridinha da Louise tirar nota maior do que a minha nesse enxame. E, se caso ela conseguir, colocarei este pergaminho no material dela e oh, correrei desesperada para contar a professora Bertha que Louise roubou as questões na noite anterior e colou todas as respostas certas... __Maya virou-se para o rato e soltou uma risadinha tão irritante que fez Louise estremecer.
__Como é? __murmurou Louise.
__Psiu! __disseram Lisa e Dan em uníssono.
Escutando novamente os sussurros, Maya parou de rir e olhou desconfiada para o rato.
__Felton, você faz uns barulhos estranhos!
O rato arregalou os olhos para Maya e olhou para o teto, onde Lisa, Louise e Dan flutuavam. Em seguida, ele voltou-se para Maya e fez um barulho estranho com a boquinha.
__Felton, eu já disse mil vezes que eu não entendo a língua dos ratos. Agora, se quer me dar licença, eu tenho que por meu plano em prática.
Assim que Maya virou-se para sair do quarto, o rato correu até ela e agarrou as patinhas na barra da calça dela.
__O que foi Felton?
Maya olhou furiosa para o rato, que não parava de fazer um barulhinho com a boca, e sacou a varinha. O rato, achando que ia ser castigado, correu para debaixo de uma cadeira próxima da escrivaninha e se escondeu. Mas não adiantou se esconder. Maya girou a varinha e apontou para o rato. De repente, uma luz envolveu o rato e ele aumentou de tamanho. Depois que a luz cessou, um elfo com dentes da frente grande e com dedinhos pequenos, assemelhando-se a um rato surgiu entalado nos pés da cadeira.
__Francamente, Felton, seu verme! Às vezes eu chego a pensar que você tem titicas de Fowls no lugar do cérebro!
__Minha senhora...
Mas antes do elfo-ratazana dizer mais alguma coisa, Maya interrompeu-o.
__Acho que você já pode ir, Felton! Papai já está muito contente com as informações que eu passei para ele e acho que ele vai ficar mais feliz ainda depois de publicar um artigo sobre alunos da Fonte Phoenix que possuem acesso aos exames antes mesmo deles serem aplicados...
__COMO É?
Louise não agüentou ficar calada e abriu a boca. Logo depois dela falar, o feitiço que fazia os três flutuarem se desfez e Lisa, Louise e Dan despencaram sobre a cama de Maya __exceto Dan que caiu de cara no chão.
__Louise! __exclamou Maya assustada.
Louise levantou furiosa de cima da cama e soprou uma mexa de cabelos que caía sobre seus olhos. Em seguida, ela disse quase aos berros:
__Então foi assim que seu pai soube sobre os ataque ao Castelo dos Trons e sobre o dia em que Peter foi transformado num dragão na aula de Rowena!
Louise se aproximou de Maya apontando o dedo para ela à medida que as palavras saíam de sua boca. Maya, por sua vez, se afastava de Louise à medida que ela se aproximava. No entanto, não houve mais espaço para Maya se afastar. Ela já havia sido encurralada na parede.
__E foi assim também que você vem tirando A Positivo em todos os exames! __Louise ficou de cara a cara com a rival com uma veia pulando na testa de tanta raiva__ Como você é podre, Maya Hart!
‘Durante esse tempo todo esse projeto de rato vem roubando os exames para você colar e em troca ele recebe informações valiosas para o seu querido papai, não é mesmo?’
__Não, isso não é verdade! __gritou Robbie Felton ainda preso na cadeira__ Minha senhora apenas...
__Cala a boca! __gritou Louise apontando a varinha para ele.
Vendo que Louise poderia ataca-lo, Robbie Felton tampou o rosto e se encolheu nos pés da cadeira. Nesse meio tempo, Maya estava tentando sair despercebida do quarto.
__Onde você pensa que vai?
Louise apontou a varinha para Maya e quase a enfiou nariz adentro ao aproxima-la da cara da rival __apesar de que vontade não lhe faltou.
__Não aponte este graveto para mim! __gritou Maya encorajando-se e erguendo a própria varinha.
Durante alguns segundos as duas arqui-rivais ficaram de cara a cara como se ambas estivessem batalhando apenas pelo olhar.
__Está certo, Maya __disse Louise por fim, abaixando a varinha__ Não acredito que vou dizer isso, mas... faremos um trato. Devolva-me o Localizol e em troca não contarei a Gaya sobre as suas... maneiras de conseguir passar nos exames e como Hart soube sobre os últimos acontecimentos. E então, o que acha?
Maya ficou parada no centro do quarto mal acreditando no que estava ouvindo. Há pelo menos dois meses atrás, ele havia feito quase que a mesma chantagem para Louise e agora estava sendo chantageada da pior forma possível.
__Jamais entregarei o Localizol!
Maya virou-se rapidamente e saiu na direção da porta.
__Dan! __disse Louise.
No mesmo instante Dan estralou os dedos e a porta se fechou na cara de Maya. Sem ter para onde ir, ela virou-se para uma Louise de braços cruzados e de um sorriso triunfante até as bordas da orelha.
__E então, o que foi mesmo que você disse, Maya?
Lisa, Louise e Dan saíram do quarto de Maya com o Localizol na mão e correram para a biblioteca do segundo andar quase não se agüentando de tanto rirem.
__Genial, Louise! __não parava Dan de dizer enquanto recolocava seu nariz no lugar__ Você foi genial!
__Obrigada!
__Vocês viram a cara da Maya quando nós caímos? __perguntou Lisa abafando os risos.
__E tinha como ver aquela cara de sapo morto! __riu Louise.
__Bem, eu não vi __disse Dan esfregando o nariz__ Bem, a única coisa que eu vi foi o chão. O meu nariz está doendo até agora...
Louise abriu a porta da biblioteca e entrou. Assim que os três entraram na biblioteca vazia, os archotes pendurados nas paredes se acenderam com um fogo azul celeste que tremia lentamente no ar. Em uma das mesas vazias, Louise jogou o grande livro e puxou uma cadeira para sentar-se.
__Bem, depois de todo esse tempo, vamos ao que interessa!
Louise abriu o Localizol e pegou uma pena perto de um tinteiro no centro da mesa. Ela molhou a ponta da pena e levou-a sobre o quadradinho na página amarela do livro.
__Bem, acho que o mistério finalmente vai acabar! __disse Louise parando a pena sobre a folha do Localizol__ Lisa, você tem certeza de que quer continuar?
__Tenho __disse Lisa__ Depois de todo esse tempo tentando recuperar o Localizol, a minha vontade de entender aquele sonho sobre Madame Geoffrin aumentou mais ainda.
__Lisa, e se o sonho... bem, e se ele foi apenas um sonho? __perguntou Dan__ E se Madame Geoffrin não existir? E se o Carrasco também não existir? E se eles forem apenas um fruto da sua imaginação?
Lisa não havia pensado nisso. Naquele momento, tudo que ela mais quis saber a dois meses atrás poderia finalmente se concretizar ali, na sua frente, bastava apenas que Louise escrevesse no quadradinho e então ela saberia a localização de Madame Geoffrin e também se havia um Carrasco preso em Azgrah. No entanto, ela já não sabia se valeria a pena tentar.
Depois da conversa com Athus sobre o Carrasco, Lisa pensou muito sobre o assunto e decidiu esquece-lo durante um tempo. Mas agora, se ela descobrisse que Madame Geoffrin realmente existia, as coisas mudariam, pois, Lisa iria tentar descobrir toda a verdade assim como a voz lhe aconselhou no sonho.
Procure Madame Geoffrin... a verdade... se quiser saber!
A voz rouca sussurrou no ouvido de Lisa da mesma forma que no sonho. Durante alguns segundos, Lisa ficou parada olhando para o quadradinho preto no canto da folha do Localizol pensando no que deveria fazer.
__E então, Lisa? O que devo escrever? __perguntou Louise.
Lisa mordeu os lábios e pensando na conversa que tivera com Athus, disse finalmente:
__O Carrasco, quero saber se ele é real ou se ele é apenas um pesadelo!
__Então, vamos lá!
Louise encostou a ponta da pena sobre o quadradinho preto e escreveu a palavra Carrasco.
__Agora, é só esperar!
Lentamente o quadradinho preto começou a brilhar e as folhas do Localizol começaram a passar de um lado para o outro à medida que um vento as impulsionava. Depois de alguns segundos, as folhas pararam de se mover e o quadradinho se arrastou até o centro da página, onde, em seguida um mapa foi sendo desenhado com letras de fogo. No entanto, após o mapa aparecer, o quadradinho não saiu do lugar e uma inscrição surgiu. Não é possível localizar o Ser.
__Bem, isso acaba com a dúvida __suspirou Louise__ Lamento Lisa, mas o Carrasco não existe, quero dizer, o é impossível um Carrasco ter sobrevivido depois do que houve, você sabe muito bem disso!
__Está certo __disse Lisa baixando o olhar para o mapa que desaparecia junto com as letras no Localizol__ Talvez, foi apenas um sonho... uma imaginação!
__Bem, você também não precisa ficar assim __disse Dan__ Ainda tem Madame Geoffrin. Quem sabe ela não é real?
Lisa ergueu os olhos e fitou Dan e Louise por alguns instantes, depois, ela desviou o olhar e levantou-se da cadeira. Nesse meio tempo, Louise já estava escrevendo no quadradinho preto.
__Athus está certo __disse Lisa parando a porta__ Tudo não passou de minha imaginação, nada mais!
Lisa virou para a porta e pegou na maçaneta. Antes dela abrir a porta, o Localizol lançou uma grande luz as costas de Lisa. Ela virou-se e numa súbita ventania, as paginas folhearam-se até pararem num estampido abafado.
Assim que o Localizol ficou aberto, o quadradinho se moveu ao mesmo tempo em que riscos de fogo desenhavam um mapa. Em seguida, o quadradinho parou num ponto do mapa onde o nome de Madame Geoffrin estremeceu à medida que um desenho de uma casa de pedra com duas torres surgia lentamente entre árvores secas e sem folhas.
__Madame Geoffrin, Lisa! __disse Louise empolgada.
Lisa correu até a mesa e debruçou-se sobre o Localizol.
__Bosque Espinhoso! __murmurou Lisa__ É lá onde ela mora
__É, Lisa! Veja, Bosque Espinhoso! __disse Louise com o mesmo tom de empolgação__ Isso siguinifica que seu sonho estava certo. Madame Geoffrin existe e por algum motivo nós devemos procura-la. Sabe o que isso siguinifica? Nós vamos para o Reino de Christian Bellyhan.
A empolgação de Louise, para Dan e para Lisa, havia passado de um certo limite que para eles devia ser respeitado.
__Espera aí, Louise! __interveio Dan__ Caso você se esqueceu, o Reino de Bellyhan fica muito longe da Fonte Phoenix e é impossível chegarmos lá em menos de uma semana. Como vamos ir para lá se estamos nos meses de exames?
__Use a cabeça, Dan __disse Louise com um sorrisinho entre os lábios__ O que foi mesmo que Gaya disse para Lisa há dois meses atrás?
Lisa e Dan se entreolharam e sorriram para Louise.
__Agora, o que devemos fazer é esperar passar mais dois meses, e aí vamos fazer uma pequena excursão ao Bosque Espinhoso! __finalizou Louise.
__Mas, Louise __disse Lisa pensativa__ não é prudente esperarmos tanto. E se algo tiver de acontecer antes de vermos Madame Geoffrin?
__Não devemos pensar nisso, Lisa! __Louise repousou a pena sobre o Localizol e fitou Lisa__ Se algo tivesse que acontecer já teria acontecido. Dois meses se passaram e acredito que não fará mal esperarmos mais dois meses se passarem, não é mesmo?
__Está certo __concluiu Lisa__ Vamos esperar as férias.
__Então, é melhor nós irmos embora antes que alguém entre e nos encontrem aqui a essa hora da noite__ disse Louise enquanto levantava da cadeira e guardava o tinteiro. Nesse meio tempo, Dan escrevia algo no quadradinho preto do Localizol__ Onde está a pena? Ah, Dan me dê isso logo!
Louise guardava a pena enquanto Dan pegava no Localizol para fecha-lo quando um som de passos no corredor ecoou pela biblioteca.
__Está vindo alguém __disse Louise__ Se escondam.
Lisa, Louise e Dan correram para o fundo da biblioteca e se esconderam. Nesse meio tempo, a porta se abriu e um homem entrou com dois corvos pousados sobre seus ombros.
__Ah, não! __ sussurrou Lisa__ Desmond vai encontrar o Localizol!
Desmond entrou na biblioteca com uma expressão zangada e carrancuda. Ao ver os archotes acesos e o Localizol sobre a mesa, o zelador torceu a boca e murmurou:
__Esses desordeiros vivem deixando seus pertences espalhados por todos os cantos da Fonte Phoenix, mas isso vai acabar!__ Desmond virou-se e saiu resmungando da biblioteca__ Gaya precisa ver isso. Esses desordeiros precisam aprender a...
Lisa, Louise e Dan saíram de trás da prateleira e correram para a porta assim que Desmond desapareceu. Chegando a porta, Louise espiou o corredor e virou-se para os outros.
__Vocês ouviram o zelador, ele vai chamar Gaya. É melhor nós irmos. Vamos, o corredor está limpo!
__Mas e o Localizol? __perguntou Dan ao lembrar do livro no corredor.
__Esquece o Localizol, Dan! __disse Louise espiando o outro corredor__ Nós já conseguimos o que queríamos e não precisamos mais dele. Vamos, rápido!
Os três amigos viraram o corredor e chegaram nas escadas espirais. Eles passaram por Luft, o Gobelin, que roncava como um porco e seguiram na direção do corredor que dava acesso a Sala Comunal.
Enquanto isso na biblioteca, o Localizol aberto destacava o nome incompleto escrito por Dan dentro do quadradinho. De repente, como se o Localizol soubesse a quem Dan se referia, letras de fogo completaram o nome numa luz trêmula e faiscante. Após o nome Mayer Slater se completar, o Localizol começou a brilhar e se folhear rapidamente.
De súbito, as páginas pararam de ser folheadas e o livro se abriu num estampido abafado. Em seguida, o quadradinho se movimentou entre riscos de fogo que desenhavam um mapa no centro da folha amarela do Localizol.
Repentinamente, o quadradinho parou sobre um desenho esfumaçado que surgia imperiosamente no papel. Sobre o desenho de um castelo sobre um penhasco, outras letras de fogo surgiram queimando a folha num reluzir tremulante.
Após o nome surgir, o nome Mayer Slater estremeceu ao mesmo tempo em que o desenho desaparecia no mapa deixando apenas a sua localização.
Poltergrat
No dia seguinte, o céu amanheceu coberto por nuvens que prometiam uma longa e fina chuva durante a manhã. Além do tempo chuvoso, um vento gélido soprava pelos terrenos da Fonte Phoenix provocando arrepios a quem se atrevesse a perambular pelos jardins.
Lisa levantou um pouco tarde__ pois, o tempo chuvoso deu-lhe preguiça de levantar cedo__ e correu para o Salão do Refeitório. Enquanto passava pelo corredor, Lisa encontrou Athus todo enrolado no seu grosso manto negro puxando sua perna direita enquanto encaminhava-se para o hall.
__Bom dia, Lisa! __cumprimentou Athus.
__Bom dia, professor! Como vai a sua perna?
Athus olhou para a perna e depois desviou o olhar de Lisa.
__Está... melhorando... de pouco a pouco. Obrigado por perguntar__ Athus olhou para a janela do corredor e viu que uma chuva fininha começava a cair__ Parece que vai invernar, não é mesmo?
__É, parece.
__Bom, deixa eu ir __disse Athus voltando a puxar a perna__ Tenho uma aula para preparar. Até mais tarde, Lisa!
__Até!
Lisa observou Athus desaparecer pelo hall com uma grande vontade de saber como o professor realmente machucara a perna, já que a resposta que ele lhe dera há dois meses atrás não fora muito convincente.
Entrando no refeitório, Lisa encontrou Louise lendo a Folha do Centauro de cabeça para baixo e Dan passando geléia no seu pão enquanto Peter contava-lhe como fizera para tirar uma borracha que ele enfiara em seu nariz quando tinha cinco anos.
__Bom dia! __disse Lisa sentando-se.
__Bom dia, dorminhoca! __respondeu Louise abaixando o jornal para ver Lisa__ Se eu soubesse que a visita à biblioteca faria você dormir tanto, não tinha te levado comigo!
__Mas me levou __disse Lisa a esmo__ Tivemos sorte de Desmond não ter nos visto. Ouvir dizer que ele não perdoa alunos que vagam pelos corredores as certas horas da noite...
__Vocês foram à biblioteca tarde da noite? __perguntou Peter parando de falar sobre a borracha e voltando-se para as duas__ Fazer o quê?
Louise virou o jornal de ponta cabeça e depois tornou a virá-lo. Em seguida, ela ergueu os olhos sobre a Folha do Centauro e disse:
__Peter, se preocupe com a sua borracha por que eu acho que ela ainda está entalada no seu nariz!
Peter e Dan ergueram as sobrancelhas e depois voltaram a conversar sobre a tal borracha entalada. Entrementes, Lisa percebeu que Louise lia o jornal de cabeça para baixo.
__Louise, porque você está lendo esse jornal de ponta-cabeça?
__Ahn?... Ah é, nada, não! É só uma imagem idiota que virada de cabeça para baixo vira um centauro manco... O problema é, que até agora eu não consegui ver nenhum centauro manco... Ah, quer saber? Vou ler as notícias. Eu não tenho mais paciência para ficar virando e revirando isso de ponta-cabeça...
Louise virou a página do jornal e passou os olhos sobre os destaques do dia. De súbito, ela arregalou os olhos e jogou o jornal sobre a mesa.
__Isso é um absurdo! A Ordem dos Lordes não pode impor decisões sobre a Fonte Phoenix!
__Deixe-me ver.
Lisa puxou o jornal para perto de si e leu o jornal em voz alta.
ORDEM DOS LORDES QUER
RESTABELECER OS ANTIGOS
PADRÕES DA FONTE PHOENIX
Numa entrevista dada com exclusividade a Folha do Centauro, Lorde Weaslow revela o descontentamento da Ordem com as decisões de Gaya.
“Primeiro foi o ataque no ano anterior onde uma torre foi destruída. Depois, Gaya interrompe as investigações do caso Ravenclaw e agora, os alunos são submetidos a profissionais irresponsáveis e sem escrúpulos. Nós não podemos mais permitir que Gaya danifique os padrões tão respeitáveis da Fonte Phoenix__ alegou Lorde Weaslow__ Estamos estudando uma forma de restabelecer os antigos padrões da Fonte Phoenix sem que os aprendizes sejam prejudicados...”.
__O que foi que ele quis dizer com restabelecer os antigos padrões da Fonte Phoenix? __perguntou Dan.
__Não sei __disse Louise pensativa__ Só sei que Weaslow referiu-se a Rowena como um profissional irresponsável e sem escrúpulos...
Peter lançou um olhar baixo para Louise como se sentisse culpa pelo que houve. Em seguida ele voltou-se para o jornal e disse:
__Gaya não administra a Fonte Phoenix tão mau assim para que os antigos padrões sejam restabelecidos! __comentou Peter__ Meus pais me disseram que Gaya reina como seu pai reinava. Bem, e isso é bom, não é? Quero dizer, Aton foi o melhor rei que Aragorn já teve, porque Gaya também não seria?
__A questão não é essa, Peter __Louise puxou o jornal para si e leu novamente o título da reportagem__ Não sei porque, mas tenho a impressão de que algo muito estranho está acontecendo entre Gaya e a Ordem dos Lordes...
__Talvez Gaya esteja sendo pressionado pela Ordem ou alguma coisa do tipo __disse Dan meia hora depois enquanto andavam apressados para o portão norte da Fonte Phoenix.
__Acho que não é isso __Louise parou na saída do portão e enrolou o manto no corpo para conter o frio insuportável provocado pelo vento__ Gaya está sendo perseguido pela Ordem desde o dia em que sentou no trono para governar Aragorn. Porém, a situação piorou depois da morte de Christian Ravenclaw... Não sei, não, mas é melhor nós nos prepararmos, pois tempos tempestuosos aguardam a Fonte Phoenix. E isso vai acontecer quando a Ordem conseguir destronar Gaya e trazer Azgrah para a Fonte Phoenix. Nem mesmo você, Lisa, terá paz...
Ao ouvir Louise, Lisa parou de chofre e arrepiou-se ao pensar no retorno das Sentinelas. No entanto, nem mesmo as Sentinelas fizeram-na arrepiar-se tanto quanto a idéia de rever Neville Chamberlain.
Durante semanas inteiras, Lisa dormiu perturbada com a idéia de que Neville um dia retomaria as investigações e voltaria a Fonte Phoenix. Para seu desgosto, pesadelos envolvendo ataques de Sentinelas e os estranhos olhos de Chamberlain quase não a deixaram dormir.
Haviam se passado um mês e meio e Lisa não parava de ter pesadelos perturbadores. Em um deles, ela estava andando acorrentada por um corredor escuro iluminado vagamente por archotes distantes um do outro. Na frente de Lisa, um homem andava com passos longos guiando um grupo de vultos negros ao lado de Lisa.
Durante várias vezes, Lisa tentou enxergar quem estava andando ao seu lado, mas só conseguiu ver vultos negros que pareciam ser homens cobertos por panos. Naquele momento ela lembrou-se dos Carrascos, mas descartou a hipótese, pois os vultos flutuavam e pareciam que não possuíam pernas.
Alguns minutos depois, Lisa foi conduzida por uma escadaria que descia para uma masmorra escura e úmida. Dentro da masmorra, Lisa viu várias celas escuras e ouviu vários ruídos semelhantes a gemidos.
A cada passo que Lisa dava a frente, a masmorra parecia mais escura e mais úmida ainda. No final das contas, havia-se apenas alguns archotes de cinqüenta em cinqüenta metros e um som insuportável de goteiras por toda a parte.
Enquanto Lisa caminhava empurrada pelos vultos, ela sentiu as correntes em volta do seu corpo ficarem apertadas e mais pesadas do que o de costume.
Chegando no final do corredor das celas, Lisa começou a sentir um estranho sentimento vazio no ar como se ela fosse ficar naquele corredor pelo resto da vida.
Depois de passar por duas celas, o homem parou e tirou um molho de chaves do bolso. Em seguida, ele dirigiu até uma cela escura e abriu-a. De súbito, Lisa sentiu-se ser empurrada e jogada para dentro da cela.
Lisa caiu e tentou levantar, mas as correntes estavam ficando mais pesadas e ela não conseguia mais sustentar o peso do seu corpo. Ela, então, caiu de joelhos no chão de pedra molhado. Ao erguer a cabeça, Lisa viu Chamberlain fechando a cela e em seguida os vultos se transformando em Sentinelas.
Como num soprar de um vento, Chamberlain e as Sentinelas desapareceram deixando Lisa acorrentada. Encostando-se à parede de pedra que parecia minar água, Lisa olhou para frente e tentou ver além da escuridão.
Foi então que ela viu uma cela do outro lado do corredor. Ela estava escura e aparentemente vazia. No entanto, quando Lisa fechou os olhos para tentar descansar um pouco, um sussurro ecoou pelo seu ouvido.
Lisa ergueu novamente o corpo de chofre e olhou para a outra cela. O sussurro continuou a ecoar e Lisa começou a sentir medo. Parecia um sussurro da morte. Era algo funesto... medonho... aterrorizante....
De repente, quando Lisa menos esperou, um vulto surgiu na escuridão. Ele virou para Lisa e sussurrou algo a ver com “morte”. Lisa estremeceu e sentiu vontade de sair dali. Algo a dizia para levantar e correr, mas como? Ela estava acorrentada e o peso das correntes não a deixavam levantar.
Então, quando ela menos esperou, os archotes se incendiaram e o corredor se iluminou subitamente. De repente, entre a escuridão que se transformava em luz, Lisa viu, encostado na parede da outra cela, um homem encapuzado com mãos murchas e unhas grandes virando o rosto coberto pelo pano negro para ela.
Naquele momento, Lisa começou a sentir-se desesperada. Ela teve vontade de gritar, mas nenhum som foi emitido por suas cordas vocais. O desespero tomou conta dela. Lisa tentou levantar, mas o peso das correntes a fez cair num buraco escuro onde um grito de uma mulher ecoava pelo seu ouvido. De repente, Lisa sentiu seu corpo bater forte no chão e uma mão agarrar o seu braço.
__Não!
O Duelo de Titãs
Louise agarrou Lisa pelos braços e ergueu-a do chão. Lisa gritava desesperada. Seus cabelos estavam molhados de suor e seu corpo tremia sem parar.
__Lisa, foi só um pesadelo __disse Louise abraçando-a__ Já passou!
__Eu vi, Louise! __disse Lisa com o suor escorrendo em seu rosto__ Ele queria me matar! Eu vi!
__Você viu o quê, Lisa?
__Eu vi um Carrasco. Ele estava preso numa cela à frente da minha. Ele queria me matar. Eu tentei fugir, mas eu estava enrolada em várias correntes pesadas e.... foi horrível!
__Calma, Lisa __Louise encostou a cabeça de Lisa em seu ombro e deixou que a mesma se controlasse__ Foi só um pesadelo. Carrascos não existem mais. O Localizol provou isso, para nós! Não se lembra?
__É... verdade.... Carrascos... não existem... mais!
Depois de se convencer que tudo não passou de um pesadelo, Lisa voltou a deitar-se sobre os olhares atentos de Louise, que permaneceu acordada até Lisa adormecer.
O sol raiou majestoso no último dia de Quintanno, o quinto mês Aragorniano. Neste dia ensolarado, os alunos do segundo ano foram levados para o campo de treinamento dos Elfos pelo professor Falco Evil Black, onde a aula de Arte das Espadas seria dada.
Apesar do sol quente que raiava sobre a Fonte Phoenix, Lisa não estava muito animada para participar das aulas de Falco, eram dois tempos seguidos.
Louise havia percebido que Lisa estava um pouco estranha e aproximou-se dela.
__Ainda pensando no pesadelo?
__Depois do pesadelo eu quase não dormi __disse Lisa enquanto terminava de colocar as luvas de couro nas mãos e pegava uma espada sobre uma mesinha no canto do campo__ Eu fechava os olhos e via o Carrasco na minha frente, me atacando! Foi tão real, que até agora o pesadelo não saiu da minha cabeça!
__Não fique pensando no pesadelo, Lisa! __disse Louise enquanto encaminhavam na direção de Dan__ Como você mesmo viu no Localizol naquela noite na biblioteca, não existe mais nenhum Carrasco vivo. Então, não há com o que se preocupar, ok?
Lisa balançou a cabeça e permaneceu calada até as duas chegaram perto de Dan, que neste momento vestia suas luvas de couro.
__Preparadas, meninas? __perguntou Dan animado.
__Eu estou, mas Lisa...
__Aconteceu alguma coisa? __murmurou Dan aproximando de Lisa.
__Não, é que...
__Ela voltou a ter um pesadelo com o Carrasco __interrompeu Louise.
__Ah, então é isso! __exclamou Dan__ Lisa, você precisa esquecer esses pesadelos. Não se esqueça que há coisas mais importantes para nós nos preocuparmos, como por exemplo, a nossa ida ao Bosque Espinhoso...
__Está certo __disse Lisa inspirando o ar trazido por uma leve brisa que tocava do norte__ Tentarei esquecer os pesadelos, por vocês!
Lisa forçou um sorriso no rosto e virou-se para Falco, que entrava no campo com a mesma cara fechada de sempre e com o seu falcão pendurado no braço.
__O que estão esperando? Reúnam-se aqui! __gritou Falco.
__Parece que a Fonte Phoenix só possui professores carrancudos, não é mesmo? __comentou Peter atrás de Dan.
__Quando você chegou aqui? __perguntou Louise.
__Agora, por quê?
__Espero que Peter não tenha ouvido Dan falar sobre o Bosque Espinhoso __disse Louise duas horas depois enquanto caminhavam para a sala de Flycken__ Não gosto nem de pensar se Peter descobrir...
__Seria engraçado __riu Dan__ Já pensou, Peter descobrir que vamos para o Bosque Espinhoso e ele querer ir com a gente? Você o esganava, Louise.
__ Na verdade eu o mataria!
Lisa, Louise e Dan entraram na sala de Flycken sobre olhares atentos de Maya que estava parada atrás de uma coluna escutando a conversa dos três. Assim que eles entraram na sala, Maya seguiu-os lentamente, como se os estivesse espionando.
__Vamos, se aproximem __gritou Flycken subindo em uma das grandes mesas de duelo da sala enquanto os alunos entravam__ Tenho uma novidade para todos... Vamos, rápido, se aproximem... Depois de quase meio século, a Fonte Phoenix terá a honra de sediar novamente um dos eventos mais importantes de Aragorn: o Duelo de Titãs! E, para festejarmos o pré-início do torneio, o príncipe Gaya oferecerá um grande baile no Salão Principal para todos os alunos da Fonte Phoenix na noite de retorno das férias. Então, arranjem seus pares, pois o Baile dos Titãs será, mais do que nunca... para dançar!
__Dançar?! __murmurou Peter__ Eu não sei dançar!
__Seu que dará um jeito para aprender até lá, senhor Flying __disse Flycken sorrindo para Peter__ Muito bem, vamos ao que interessa. Como todos já devem ter ouvido falar, o Duelo de Titãs é um torneio onde apenas os mais fortes e os mais hábeis em magia conseguem chegar ao fim. Para que todos compreendam o que estou dizendo, eu tomei a liberdade de convidar dois professores para duelarem entre si. Senhoras e senhores, apresento-lhes Magnum Darkness e Falco Evil Black.
Das duas extremidades da mesa, Falco e Magnum surgiram imponentes, ambos usando luvas nas mãos e um manto negro revestido com couro de dragão.
__Essa eu quero ver! __comentou Dan para Lisa e Louise.
__Certo, senhores __disse Flycken retirando-se da mesa e entrando no meio dos alunos__ saquem suas varinhas e façam uma reverência ao adversário. No sinal das Duelantes, duelem!
Falco e Magnum aproximaram-se do centro da mesa, sacaram suas varinhas e fizeram uma reverência cordial. Em seguida, cada um voltou para as pontas das mesas e se prepararam para duelar.
Nesse meio tempo, duas Duelantes, uma de cada lado do duelante, começaram a fazer a contagem regressiva.
__Três... dois... __disseram os alunos__ um!
__Ex ducere! __gritou Falco.
Um grande raio de luz bateu no peito de Magnum como num estrondo e o jogou para longe. Magnum rodopiou no ar e caiu apoiado nos joelhos. Rapidamente, ele ergueu a varinha e apontou para Falco.
__Expelliarmus!
Um grande facho de luz vermelha atravessou a sala e, antes mesmo que Falco pudesse se defender, ela o atingiu e ele caiu de costas no fim da mesa.
Darkness ergueu-se e jogou seus longos cabelos negros para trás do ombro. Falco, por sua vez, soprou uma mexa de cabelos que caía sobre seus olhos.
De repente, ambos ergueram novamente as suas varinhas e apontaram um para o outro. Num grande e luminoso raio de luz, dois feitiços saíram da ponta das varinhas e chocaram-se no centro da mesa. No choque de feitiços, a sala inteira se iluminou como se o sol houvesse nascido dentro dela.
__Ah, não teve graça! __comentou Peter dez minutos depois enquanto voltava para a Sala Comunal__ Eles podiam ter se matado ao invés de acabar com o duelo depois de estourar as Duelantes com aqueles feitiços malucos!
__Aqueles feitiços... __ disse Louise.
__Aquilo não foi um feitiço maluco, seu idiota! __disse uma vozinha fina e irritante atrás de Peter interrompendo Louise__ Foi um dos feitiços mais poderosos que eu já vi. Eles podiam muito bem ter estourado os seus miolos se os feitiços tivessem se desviado um do outro no choque...
__Mas não desviaram, Maya! __disse Louise entrando na frente de Peter
__Ah, Louise! Você estava aí? Eu não te vi. Ah, eu me esqueço que eu não enxergo moscas!
Ao ouvir Maya, Louise sentiu seu sangue ferver nas veias e não pensou duas vezes antes de sacar a varinha e apontar para ela.
__Cale a boca, Maya! Não se esqueça que o seu segredo está bem guardado comigo!
Louise estremeceu a varinha na vontade de estourar a cara de Maya, mas se conteve. Ela abaixou a varinha e entrou na Sala Comunal, seguida por Lisa, Dan e Peter.
__De que segredo você estava falando, Louise? __perguntou Peter assim que Louise sentou-se numa poltrona.
__Não é da sua conta, Peter!
A noite caiu sobre a Fonte Phoenix como um grande véu negro que cobriu os sete castelos de uma escuridão infinita. Lisa e Louise andavam por um corredor escuro do Castelo dos Bruxos enquanto conversavam sobre o baile.
__Quem será que vai nos convidar para o baile? __perguntou Lisa.
__Não sei, Lisa __respondeu Louise parando no meio do corredor e puxando um grande suspiro__ Mas tomara que Tom me convide...
Lisa fitou Louise por alguns instantes e concluiu que jamais a vira suspirar tão alto assim. Para isso, só havia uma explicação.
__Você está apaixonada Louise, e não quer me contar! __riu Lisa no dia seguinte enquanto estavam sentadas nos bancos do jardim sul.
__Claro, que não! __respondeu Louise corando as faces__ Eu e Tom somos apenas amigos....
__E...
__Senhorita Longbottom!
Louise e Lisa viraram-se para trás e viram Hermes, o elfo mensageiro, voando na direção das duas. Porém antes mesmo de Hermes chegar onde as duas estavam, o elfo bateu de cara numa árvore e caiu para trás.
__Hermes! Você está bem? __perguntou Louise ao ajudá-lo a levantar-se.
__Estou bem, obrigado! __disse Hermes enquanto endireitava os óculos__ Afinal, o que essa árvore estava aí?
Lisa e Louise trocaram olhares e depois voltaram-se para o elfo mensageiro que ainda estava todo torto pela batida.
__Hermes, ela sempre esteve aí! __disse Louise escondendo um riso.
__Ah, é? Então ele devia escolher um outro lugar para ficar. Será que essa árvore não vê que mais alguém pode dar de cara com ela?
Lisa e Louise trocaram olhares novamente e ergueram a sobrancelha. Nesse meio tempo, Hermes retirava uma carta vermelha de dentro de uma pequena bolsinha de couro de dragão que ele carregava.
__A propósito, senhorita Longbottom... tenho uma carta para a senhorita!
__Ah, obrigada Hermes!
__Bom dia meninas!
__Bom dia, Hermes! __disse Lisa__ Ah, Hermes, cuidado com a... estátua!
Louise tirou a sua atenção da carta e virou-se para ver o elfo mensageiro sair todo desengonçado depois de bater de cara com a estátua do anjo.
__Ele precisa de óculos novos! __murmurou Lisa.
Louise voltou-se para a carta e abriu-a. Depois de lê-la, Louise abriu um largo sorriso e faltou pouco soltar rojões pela ponta da sua varinha.
__O que foi Louise? Porque ficou assim? __perguntou Lisa.
__Ele quer se encontrar comigo, amanhã, ao anoitecer na torre principal....
__Ele quem, Louise?
Louise juntou a carta ao peito e deixou que as palavras saíssem de sua boca num leve suspiro harmonioso.
__Tom Secoyan!
Depois que Louise recebeu a carta de Secoyan, ela esqueceu da vida, dos amigos, de Maya e até mesmo dos deveres!
__Porque Louise está suspirando de segundo em segundo? __perguntou Alice Boston.
__Ela vai ter um encontro amanhã à noite... __disse Lisa apoiando seu queixo sobre as mãos enquanto faziam um trabalho de vinte e oito pergaminhos sobre criaturas das sombras para Darkness.
__Ai, que romântico! __suspiraram as outras garotas que estavam ao redor de Lisa.
Do outro lado da Sala Comunal, Dan, Peter, Norman e os outros rapazes observavam a suspiração sem fim das garotas enquanto debruçavam-se sobre o trabalho de Darkness.
__Garotas... elas são ridículas! __exclamou Norman.
__Afinal, quem vocês vão chamar para o Baile de Titãs? __perguntou Peter.
__Eu convidei a Magie Haver do primeiro ano __disse Norman.
__Eu convidei a Alice __disse Peter olhando de esguelha para Alice Boston.
__E ela aceitou? __perguntaram os rapazes.
__É claro, __Peter olhou para os olhares ansiosos dos rapazes e depois voltou deprimido para o seu trabalho__ que não!
__E você Dan? Quem vai chamar? __perguntou Norman.
__Eu?
Dan deixou a sua pena de lado e virou-se para o grupo de meninas, que agora se empenhavam em fazer seus trabalhos. Por alguns instantes ele observou uma em especial e temeu que não conseguisse ir ao baile com ela.
O último dia da primeira semana de Sextanno passou como num grande vendaval, rápido e imprevisível. Nesse dia, quase metade dos alunos da Fonte Phoenix já possuíam seus pares para o Baile de Titãs, que estava a menos de duas semanas para se realizar.
Por todos os corredores dos sete castelos, garotos e garotas comentavam sobre o tão esperado baile. Alguns, por exemplo, já adiantavam para os amigos a cor da roupa que usariam no baile e quem levariam como companhia.
Entre um corredor lotado de pessoas que cochichavam ansiosos sobre o baile, Dan caminhava na direção da Sala Comunal, decidido a conseguir o seu tão sonhado par.
A cada passo que dava, Dan sentia seu estômago afundar. Ele havia esperado por aquele momento há quase um dia e meio e já não poderia adiar o que iria fazer. Afinal, alguém poderia convida-la antes dele e Dan não queria ter o desgosto de ir sozinho ao baile.
Dan aproximou-se da porta da Sala Comunal, suspirou por alguns instantes e abriu-a. A Sala Comunal estava lotada de alunos.
Dan caminhou pela sala a procura de alguém. Será que ela não está aqui? Ao pensar isso, seu estômago afundou num grande abismo sem fundo. De repente, seus olhos bateram numa poltrona num canto esquerdo da sala.
Dan suspirou novamente e caminhou com passos pesados __suas pernas pareciam que haviam endurecido__ até a menina. Ao chegar perto dela, um balde de água fria escorreu pelo seu estômago. Dan finalmente estava perto dela. Ele tinha que falar. Ser rápido e objetivo. No entanto, quando ele abriu a boca, as palavras saíram trêmulas e confusas.
__O que foi, Dan? Eu... não entendi o que você disse!
__Ah... Lisa, eu.... ah....
__Sim?
Dan sentiu novamente um balde de água, agora congelada, escorrer pelo seu estômago e suas pernas tremerem loucamente. Ele enfim, engoliu sua saliva a seco e abriu a boca novamente. No entanto, as palavras que saíram não eram exatamente aquilo que ele queria dizer.
__Ah... Lisa, eu queria saber se... se... ah... você... sabe onde está Louise?
__Ah... Louise?! __respondeu Lisa estranhando a pergunta de Dan__ Não. Acho que ela foi se encontrar com Tom. Porque?
__Ah... nada!
Dan desviou o olhar de Lisa e saiu da Sala Comunal de fininho, deixando Lisa sem entender ao certo o que Dan queria.
A noite havia caído sobre a Fonte Phoenix mais rápido do que Lisa esperava. Quando ela deu conta da escuridão completa que jazia fora do Castelo dos Bruxos, ela estava descendo as escadas espirais e estava entrando no hall de entrada.
Lisa atravessou o hall e caminhou na direção da saída do castelo. Ao chegar na saída, Lisa deu de cara com Max.
__Lisa!
__Ah, Max!
Lisa e Max riram abobadamente um para o alto e respiraram fundo.
__Eu estava indo a seu encontro nesse exato momento __disse Max avermelhando o rosto.
__Ah, sério? __disse Lisa sorrindo sem graça__ Para quê?
__Bem, ahn... você já tem um par para o baile?
__Ainda não. Porque?
__Bem... eu gostaria de saber se... se você, ahn... se você gostaria de ir ao baile comigo?
__Ir ao baile? __repetiu Lisa respirando sem fôlego__ Ah... eu... adoraria!
__Legal!... Ahn, a gente... a gente se vê. Boa noite, Lisa!
__Boa noite, Max!
Lisa suspirou forte e deu uma volta em torno de si ainda não acreditando que Max a convidara. A sua alegria foi tanto que ela nem escutou Godric se aproximando e chamando-a.
__Lisa!
__Ah, Martius!
__Boa noite. Espero não estar atrapalhando o seu momento de êxtase, mas o príncipe Gaya deseja dar umas palavrinhas com a senhorita.
__Ah, claro!
A porta da sala real de Gaya se abriu e Lisa entrou com Martius Godric seguindo-a. No fundo da sala, Gaya virou-se para Lisa com um grande sorriso no rosto.
__Lisa! Faz algum tempo que nós não nos vemos, não é mesmo? Vamos, sente-se!
Martius Godric aproximou-se de uma poltrona e fez um leve movimento com a mão. A poltrona imediatamente se afastou e Lisa sentou-se.
Ao sentar-se, Lisa observou a sala real. Ela era bem diferente das outras. Na sala havia pendurado nas paredes seis grandes escudos que Lisa reconheceu ser os escudos dos seis reinos. No fundo da sala, havia também uma mesa de mogno com cadeiras que possuíam braços em forma de dragão. Sobre a mesa havia uma grande fênix de ouro com as asas abertas. Em um outro canto da sala, havia algo coberto por um pano vermelho que flutuava no ar, que chamou a atenção de Lisa.
__Ah, como foi a audiência em Poltergrat? __perguntou Lisa.
__Receio que não foram muito amigáveis, se é que me entende, mas não a chamei para falar de mim, mas sim de você!
__De mim?
__Sim. Ah... coma uns petiscos, Lisa! __disse Gaya apontando para uma bandeja cheia de fatias torradas, assemelhando-se a uma batatinha frita.
Martius aproximou a bandeja de Lisa e esta encheu a mão de petiscos. No entanto, quando ela levou um a boca, o petisco se mexeu e mordeu o seu dedo.
__Ah, me desculpe, Lisa! __disse Gaya virando-se para ela do fundo da sala__ Eu deveria ter-lhe dito que os petiscos são um pouco traiçoeiros...
Lisa abriu a mão cheia de petiscos e resolveu devolve-los a bandeja. Ela não queria correr o risco de ser comida por uma comida.
__Bom, acredito que você já tenha um par para o baile, estou certo? __disse Gaya.
__Ah, sim, já tenho.
__Ahn... bom... e... você já pensou com que roupa vai ao baile?
Ao ouvir a pergunta de Gaya, Lisa silenciou por um instante. Ela não sabia ao certo o fundamento da pergunta de Gaya, mas nem mesmo ela havia feito esta mesma pergunta para si mesma.
__Eu não... havia pensado nisso! __murmurou Lisa abaixando a cabeça.
Gaya percebeu que Lisa parecia estar envergonhada e aproximou-se dela.
__Isso não é motivo para sentir vergonha, Lisa! Sabe, sua tia deixou uma fortuna considerável para você nos cofres humanos. No entanto, essa fortuna não e válida para o Mundo de Aragorn... A propósito, essas vestes suas foram Dan quem lhe deu, estou certo disso?
__Eh... foi!
Gaya observou Lisa por entre as mechas de cabelos que caíam sobre seus olhos e voltou-se para a janela da sala.
__Bem, não sei se você sabe, mas seus pais não a deixaram no mundo a ver navios, Lisa. Aqui em Aragorn existem dois cofres repletos de ouro que foram deixados por seus pais. Um cofre está em Crystalice e o outro em Bladefire. Em outras palavras, todos os dois cofres pertencem a você.
__A mim? __perguntou Lisa não acreditando no que estava ouvindo.
__Exatamente. Ahn... não sei como eles souberam do baile, mas seus avós tentaram entrar em contato com você através de cartas, para que esses cofres fossem abertos e posteriormente, a fortuna ser aproveitada por você, Lisa. Bem, eu fico meio sem jeito de dizer isso, mas... eu interceptei as cartas, ahn... que chegaram para você... desde o dia em que você pisou na Fonte Phoenix.
__Você, o quê?
Por alguns instantes, um pequeno fluxo de raiva subiu pelas veias de Lisa. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Durante um ano e meio, Lisa viveu completamente sozinha acreditando que seus avós estavam nem ligando para a sua existência e agora, do nada, Gaya lhe diz que seus avós sempre entraram em contato com ela através de cartas e as correspondências nunca chegaram em suas mãos.
__Me desculpe, Lisa. Você tem toda razão de sentir raiva, mas, foi necessário! Entenda, eu não podia permitir que seus avós entrassem em contato com você por que algum deles tentariam leva-la para os seus reinos. E, bem, seria perigoso na situação em que nós vivíamos no ano anterior. Seria muito arriscado. Mas agora, as coisas são diferentes. Eles estão dispostos a leva-la para seus reinos e eu acredito que você também esteja disposta a conhece-los. Bom, eu tenho uma boa notícia.
__Boa notícia? __perguntou Lisa alegrando-se.
__ Seu avô, rei Articuno me escreveu convidando-a para passar as férias de final de ano no reino de sua mãe, o Reino de Crystalice. É claro que, seu outro avô, Dragon, também a quer leva-la para o reino de seu pai, o Reino de Bladefire... Bem, eu fiquei numa situação um pouco delicada. Ambos querem leva-la. Mas acredito que você deve tomar a decisão. Afinal, eles são seus avós. Não é mesmo?
Lisa concordou com a cabeça e não conseguiu segurar um sorriso largo no rosto.
__Bem, as cartas estão aqui, Lisa. Bom, pelo menos estão em algum lugar __Gaya enfiou a mão por dentro do manto, nos bolso e em tudo que é lugar para encontrar as cartas. Por fim, ele passou a mão novamente por dentro do manto e tirou um maço de cartas e entregou a Lisa__ Estão aqui, são suas agora!
Lisa pegou o maço de cartas amarradas com uma cordinha e tirou uma para ler. Ao tocar na carta, letras de fogo se incendiaram e o nome Dragon surgiu.
__É de Dragon! __murmurou Lisa.
__Abra-a. O pai de seu pai, não gosta de rejeitar cartas...
Lisa abriu a carta e, para sua surpresa, ela virou uma grande bola de fogo que logo em seguida se transformou num grande dragão que voou ao redor dela dizendo a frase: FELIZ ANIVERSÁRIO, LISA!
De repente o dragão se transformou numa bola de fogo e esta, voltou a ser uma simples carta na mão de Lisa.
__Ele é bem criativo! __riu Lisa.
__Isso quando elas são para você! __exclamou Martius aproximando-se de Gaya__ Veja a carta que ele mandou para Gaya.
Martius tirou uma carta do bolso e entregou para Lisa. Antes mesmo dela abrir a carta, Gaya tomou-lhe da mão.
__Ahn, Lisa... é melhor eu abri-la para você. Por questão de segurança.
Gaya se afastou de Lisa com a carta na mão e abriu-a. Ao abri-la, a carta se incendiou e um dragão de fogo voou pela sala soltando rugidos e incendiando as cortinas das janelas. Em seguida, o dragão voltou para Gaya como se o estivesse atacando. De repente, o dragão soltou um enorme rugido e desapareceu jogando cinzas e chamuscando as mexas de cabelo sobre os olhos do belo príncipe.
__Viu porque eu não quis que você abrisse? __disse Gaya tirando as cinzas do rosto__ Dragon estava furioso quando me mandou essa carta...
Lisa e Godric riram da cara do príncipe e voltaram para as cortinas que a essa altura estavam a meio caminho de virarem cinzas. Imediatamente, então, Martius Godric tirou a varinha de dentro do manto que usava e apontou para as cortinas. Num grande reluzir, o fogo se apagou e as cortinas se reconstituíram novamente como se nada tivesse acontecido a elas.
__Essa é a décima vez que eu restauro essas cortinas __disse Martius__ Sabe, aqui entre nós, seu avô tem pavio curto!
Lisa riu e voltou-se novamente para o seu maço de cartas. Nesse meio tempo, Gaya atravessava a sala em direção ao objeto coberto pelo pano vermelho que flutuava.
__Ahn.. Lisa. Hoje pela manhã, eu recebi uma encomenda para você. Creio que Articuno se informou sobre o baile e mandou isto...
Gaya pegou no pano vermelho e puxou-o. Lisa deixou as suas cartas de lado e levantou para chegar mais perto para acreditar no que estava vendo.
__Ele pertenceu a sua mãe, Lisa. E agora, pertence a você!
Os olhos de Lisa refletiram um lindo vestido rodado prateado coberto de detalhes em brilhantes que brilhavam mais do que a luz do sol. Lisa aproximou-se dele e tocou-o. Naquele instante, seus olhos encheram-se d’água e seu coração bateu tão acelerado que Lisa pensou que não caberia tantas batidas em seu peito.
Durante o restante da noite, Lisa permaneceu sentada em sua cama abrindo os restantes das cartas e ao mesmo tempo sonhando acordada como seria entrar no salão usando o vestido de sua mãe.
Quando Louise voltou do seu encontro, uma grande ave de gelo voava pelo quarto gritando Muitos anos de vida, Lisa!. No entanto, Louise estava tão contente que nem notou a ave se dissipar em milhares de flocos de neve dentro do quarto.
Lisa viu-a entrando e perguntou:
__Como foi seu encontro!
__Fantástico!
__Você gostou, foi meu avô Articuno quem me mandou __disse Lisa olhando encantada para os flocos de neve que caíam.
__Eu não estava falando disso! __disse Louise olhando para os flocos__ Estava falando de Tom!
__Ah, claro!
Louise encheu os pulmões de ar e deu um salto de costas para cima de sua cama.
__Ele me convidou para ser seu par no baile. E eu... aceitei! E você, Lisa... já tem seu par? __perguntou Louise olhando a esmo como uma tonta apaixonada.
__Max me convidou!
__Já era de se esperar, Lisa, que ele te convidasse. Ai!
Louise inspirou tão fundo que meio quilo de neve entrou em seus pulmões. Ela levantou tossindo e virou-se para Lisa.
__Você disse que seu avô mandou essa neve... ahn... como isso se chama?
__Isso não é nada de mais. É apenas uma carta enfeitiçada para se transformar em neve... Sabe, ao contrário do que eu pensava, meus avôs sempre ligaram para mim. Durante esse tempo todo, eles me escreviam, mas Gaya não permitia que as cartas chegassem em minhas mãos.
__Gaya interceptava as suas cartas?
__Era por motivos de segurança, pelo menos foi o que ele me disse. Bem, eu não importei muito. Mas agora, acho que me sinto completada. Sabe, Louise, agora eu não sinto mais aquele vazio que eu sentia. Agora é diferente, eu sei que tenho família. Em outras palavras... eu não estou mais sozinha!
__Mas Lisa, você nunca esteve sozinha! Durante esse tempo todo você tinha a mim. Tinha Dan, Zig e Cliffe também. Lisa, você nunca esteve e nunca vai estar sozinha. Porque eu sempre vou estar ao seu lado!
Lisa levantou da cama e correu para abraçar Louise. O abraço das duas foi o mais apertado que Lisa já tivera.
__Obrigado, Louise!
Os primeiros raios do sol do penúltimo dia de treinamento na Fonte Phoenix tocavam os rostos de Lisa e Louise, deixando-os numa coloração alaranjada. As duas e mais uns quarenta e oito alunos, haviam levantado bem cedo para assistirem a última aula de Rowena do primeiro semestre.
Justina Rowena estava usando um manto preto sobre seu habitual espartilho caramelo. Ela esperava os alunos no portão de saída com um baú enorme levitando no ar. Enquanto os alunos caminhavam em sua direção, Rowena gritava para que todos adiantassem os passos.
__Porque fazer a gente levantar tão cedo, professora? __perguntou Norman.
__Simplesmente por que o encantamento de hoje necessita dos primeiros raios do sol__ respondeu Rowena, docemente__ Agora, vamos pessoal. Rápido! Não podemos perder mais tempo! O sol já está nascendo. Rápido!
Lisa e Louise cruzaram o jardim e passaram pelo portão sem ver Dan em lugar algum.
__Onde está, Dan? __perguntou Lisa.
__Não sei. Ele deve estar atrasado. Com certeza Dan dormiu mais do que a cama.
Lisa e Louise seguiram atrás de uma fila de alunos que desciam uma escadaria de pedra por trás do estábulo de animais. No final da escadaria havia um altar rodeado por várias pedras quadradas, onde Louise supôs ser o lugar para os alunos sentarem-se.
__Muito bem, pessoal, sente-se nas pedras e abram seus rolos de pergaminhos. Vamos, o que estão esperando!
Lisa sentou-se sobre uma das pedras e passou os olhos ao seu redor para ver se encontrava Dan, mas o rapaz não havia chegado.
__Vamos Lisa, rápido! __disse Rowena aproximando-se__ A propósito, bom dia para as duas!
__Bom dia! __responderam Lisa e Louise.
__Muito bem, vamos começar! Onde está o senhor Horcliffe? Bem, não importa. Alguém trate de passar para ele o que vamos ver hoje.
__Com certeza a princesinha dormiu mais do que a cama! __riu Grump.
__Quem eles pensam que são? __murmurou Melissa sentando-se ao lado de Lisa.
__Não dê atenção, Melissa! É isso que eles querem __disse Louise.
__Muito bem, hoje nós vamos ver um tipo de encantamento muito simples de se fazer, mas que requer a presença dos primeiros raios do sol: o Encantamento da Boa Visão. Um encantamento eficaz que nos ajuda a enxergar nos lugares mais escuros. Muito bem, vamos começar...
Rowena virou-se para o baú e fez um toque com a ponta da varinha. Num estralar de vários mecanismos internos, o baú se abriu lentamente revelando aos alunos um conteúdo bem esquisito. Dentro dele havia vários potes de vidro com milhares de coisas esquisitas dentro. Em um canto do baú, Lisa pensou ter visto até mesmo um coro de cobra enrolado.
__Dentro desse baú __continuou Rowena__ eu trouxe os ingredientes necessários para o encantamento. Muito bem, agora anotem o nome dos ingredientes à medida que eu vou tirando-os do baú e falando seus nomes. Prontos, vamos lá.
Rowena enfiou a mão no baú e tirou um pote com vários olhos vermelhos. Em seguida, ela tirou uns pêlos brancos e uma ponta de um chifre.
__Olhos vermelhos de Dragóronas.... pêlos de unicórnio... e o ingrediente mais importante, um pedaço de chifre de um dragão da ilha de Stonefire. Ok? Muito bom, agora prestem atenção. Para que o encantamento seja realizado é necessário unirmos todos os ingredientes sobre uma mesa ou, no nosso caso, um altar de pedra. Após estarem unidos, basta apontar a varinha e dizer Lúmus Solem. Prestaram atenção? Agora vamos ver como o encantamento funciona na prática...
__Achei fascinante a aula! __exclamou Louise duas horas depois enquanto passavam pelo portão norte.
__Fascinante para você que conseguiu fazer o feitiço! Olha só como eu fiquei!
Louise olhou para Peter e deu um pulo para trás. O rapaz estava horrível. Seus globos oculares haviam se estufado para fora devido ao seu crescimento exagerado. Eles estavam do tamanho de uma bola de golfe!
Se a onda de azar de Peter ainda estava num estágio inicial, a situação iria piorar completamente. O rapaz atrapalhado ainda era o único que não havia conseguido um par para o baile e as garotas que haviam sobrado, não eram nada legais. Umas eram desdentadas, outras pareciam uma múmia e outras ainda, não chegavam nem perto de ser um projeto de beleza.
No entanto, não era só Peter que estava sozinho. Dan também não havia conseguido um par, ou melhor, não tivera coragem de conseguir um par. Mas o fato de Dan ter faltado à aula de Rowena poderia dar um empurrãozinho no rapaz.
Após voltar para o Castelo dos Bruxos, Lisa e Louise correram para procurar Dan pelos corredores, mas não tiveram sucesso. As duas, então correram para a Sala Comunal, era o único lugar onde elas não haviam procurado.
Chegando na Sala Comunal, Lisa e Louise encontraram Dan sentado num canto da sala rodeado por Zig e Cliffe. Ao ver Lisa entrando, Dan pareceu empalidecer e ficar extremamente nervoso. Porém, antes de Lisa e Louise se aproximarem, Zig e Cliffe correram até o encontro delas.
__O que aconteceu com Dan? Porque ele não foi na aula de Encantamentos? __perguntou Louise.
__Daqui a pouco vocês vão descobrir... __disse Cliffe.
__Exatamente. Mas agora, você vem com a gente, Louise! __disse Zig.
Os irmãos Pés Grandes agarraram Louise pelos braços e saíram arrastando-a pela sala.
__Para onde estão me levando? __perguntou Louise tentando se desvencilhar dos Pés Grandes.
__Para bem longe daqui! __disse Cliffe__ Não está vendo que os dois precisam conversar...
__Conversar?
Cliffe saiu com Louise pela porta e Zig fez um sinal para que Lisa fosse até onde Dan estava.
__Ele quer conversar com você, Lisa! Vai!
Lisa, sem entender o que se passava, atravessou a sala e se aproximou de Dan.
__Dan! Você... queria conversar comigo? Sobre o quê?
A Viagem
Ao ver Lisa se aproximar, Dan empalideceu e mordeu os lábios de tanto nervosismo. O rapaz levantou da poltrona e ficou como uma estátua de pé, mordendo os lábios e mexendo freneticamente as mãos. Assim que Dan abriu a boca para responder a pergunta de Lisa, sua língua travou e nenhum som saiu de sua boca.
__O que foi, Dan? Está bem? __perguntou Lisa reparando no suor frio que escorria pelo rosto de Dan.
__Estou... ahn... ótimo... ah... nunca estivesse melhor!
__Não parece! __exclamou Lisa__ Bom, se você diz. Mas afinal, sobre o quê você quer falar comigo?
Dan não respondeu de imediato. Seus olhos pararam de focar Lisa e ficaram observando uma mancha preta numa poltrona a mais de cinco metros de distância. Por fim, Dan engoliu a saliva e abriu a boca. Mas, apenas um gaguejo saiu.
__E-eu q-queria falar so-sobre o... o b-baile!
__Sobre o baile? __perguntou Lisa sem entender__ Mas, Dan, sobre o que você quer falar sobre o baile?
__Eu... ahn... eu estava pensando se... pensando se...
__Pensando no quê?
Dan respirou forte e pareceu tomar coragem. Ele mordeu seus lábios pela última vez e olhou Lisa nos olhos. Depois, ele abriu a boca lentamente e disse tudo que tinha a dizer de uma vez só, sem se importar se Lisa entenderia ou não.
__Quer Lisa comigo baile ir?
__Ahn?
__Quero dizer... quer ao baile comigo, Lisa?
__Oh... ahn... Desculpe-me Dan, mas... outra pessoa já me convidou! Se ao menos você tivesse me convidado antes... Me desculpe!
Ao ouvir a resposta de Lisa, as pálpebras de Dan caíram lentamente. A sua palidez desapareceu repentinamente e, até mesmo o suor frio, parou de escorrer pelo seu rosto.
__Oh... não tem problema!
__Dan, deve haver outras garotas sem par... ahn... é só convida-las...
__É... é o que... vou fazer!
Dan abaixou o rosto e saiu na direção das escadas. No alto delas, ele voltou-se cabisbaixo para Lisa e chamou-a.
__Ahn, Lisa! Posso pelo menos saber quem é o seu par?
Lisa, que já estava a meio passo de sair da Sala Comunal, voltou até os pés das escadas lentamente enquanto pensava numa forma de dizer o nome de seu par.
__Ahn... bom... ahn... eu vou com... o Max!
__Ah, Max?
Dan e Lisa ficaram em silêncio por alguns segundos olhando um para o outro. Enquanto esses se olhavam, o interior de Dan fervia de raiva e de um sentimento que ele não conhecia, mas que o fazia explodir de ira. Por fim, Dan mordeu forte os lábios e quebrou o silêncio.
__Vocês se merecem!
__Como? __perguntou Lisa não acreditando no que tinha acabado de ouvir.
__Foi isso mesmo que você ouviu: os dois se merecem!
__Escuta aqui, Dan, eu não lhe dei permissão para falar assim comigo?
__Claro, eu não sou nada para você, mesmo! Mas ele... aquele idiota é,NÃO É?
__Max é meu amigo e... quem você pensa que é, Dan, para falar assim?
__Como você mesmo disse, eu não sou ninguém...
__Eu não disse isso!
__MAS QUIS DIZER! Escuta, Lisa, por que você não vai correndo para os braços do seu queridinho? Sabe, é o melhor que você pode fazer...
__Se é o que você quer, eu vou então! Mas fique sabendo Dan que eu nunca esperava isso de você...
Os olhos de Lisa encheram-se de água e antes mesmo que as lágrimas escorressem em seu rosto, ela deu as costas para Dan e saiu da Sala Comunal. Na saída da sala, Lisa deu uma trombada em Alice, que entrava, e a derrubou para cima de uma poltrona.
__VAI, LISA, É O MELHOR QUE VOCÊ FAZ! __gritou Dan.
Alice levantou meio desconcertada de cima da poltrona e saiu na direção de Dan sem entender o que estava havendo.
__Nossa, ela parecia muito magoada! __disse Alice__ O que foi que você disse para ela?
__Não é da sua conta?
Dan prendeu a respiração e terminou de subir as escadas deixando Alice xingando aos quatro ventos. No entanto, antes de entrar no corredor, Dan voltou para trás e encontrou Alice entrando no corredor das meninas.
__Alice! __gritou Dan.
__O que foi, mal educado?
__Você já tem um par para o baile?
__Acho que também não é da sua conta!
Alice virou-se e saiu furiosa pelo corredor. Dan, por sua vez, inspirou forte e mordeu os lábios de raiva. Por fim, gritou para Alice:
__Esteja pronta às sete horas na noite do baile!
Ao ouvir Dan, Alice parou no meio do corredor e virou-se para ele. A garota fitou-o com um olhar furioso por alguns segundos e depois murmurou:
__Estarei!
Lisa desceu as escadas espirais correndo enquanto enxugava as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Ela não conseguia acreditar que Dan falara aquilo. Afinal, quem ele pensa que é?
Num momento de raiva, Lisa parou no meio das escadarias e recostou-se na parede fria do castelo. Lentamente, Lisa deixou que seu corpo se escorregasse pela parede à medida que as lágrimas desciam pelo seu rosto. Sentada no chão, ela pôs o rosto entre as pernas e chorou até onde sua raiva permitia chorar.
Depois do que houve com Dan, Lisa não o viu em canto algum, mas também não era de sua vontade vê-lo. Ao contrário, Lisa desejava que Dan estivesse o mais longe possível.
Louise soube do que houve, horas mais tarde quando encontrou Lisa chorando deitada na cama e não gostou nada da discussão.
Quando chegou o final da tarde, Lisa e Dan se encontraram pela primeira vez, mas apesar da insistência de Louise, os dois não disseram nem um “oi” e nem se quer olharam um para o outro. Fizeram de conta que nenhum dos dois existiam.
Para piorar a situação, Louise precisava planejar a viagem para o Bosque Espinhoso, mas na situação em que Lisa e Dan estavam, era impossível pensar em alguma coisa. A solução encontrada foi marcar uma pequena reunião na manhã do dia seguinte na Sala Comunal. Como já era de se esperar, Lisa ficou num canto e Dan no outro, com uma cara terrivelmente fechada.
__Será que dá para os dois pararem com isso! __gritou Louise furiosa__ Se vocês não se tocaram ainda, nós temos uma viagem muito longa para fazer. E caso não tenham percebido, temos que planejar exatamente o que vamos fazer no Bosque Espinhoso!
Dan virou o canto do olho para Louise, para evitar olhar para Lisa, e disse:
__Por mim, podem ir vocês! Eu não vou com ela!
__Escuta aqui, Dan __Louise segurou no braço de Dan e puxou-o para si__ É melhor você e Lisa pararem com essa infantilidade e encararem o que vamos ter que passar dentro daquele maldito bosque. Não se esqueça que coisas estranhas aconteceram há quatro meses atrás e como você mesmo constatou há algo de errado em Aragorn. Não se esqueça!
Dan encarou Louise por alguns segundos e depois, num suspiro enfurecido, tirou-lhe o braço de sua mão e caminhou até uma das janelas.
__Está certo! __murmurou Dan.
__Acho melhor assim! __exclamou Louise olhando para Lisa.
__Afinal, do quê vocês estão falando? __perguntou Cliffe que até agora se mantinha quieto sobre uma poltrona enquanto enroscava os seus cachos de cabelos.
__É, Louise, por que você nos chamou? __perguntou Zig__ E, o quê vocês vão fazer no Bosque Espinhoso?
__É uma longa história Zig, mas, acredito que eu não posso contar ela aqui __disse Louise vendo que Peter descia as escadas__ Acho melhor nós subirmos para o quarto meu e de Lisa.
__Olá, pessoal! __disse Peter parando no meio das escadas e atrapalhando Louise passar__ Ahn... de que bosque vocês estavam falando?
Louise ergueu as sobrancelhas e virou-se por uns segundos para Lisa, Dan e os Pés Grandes. Em seguida, ela voltou-se para Peter e disse num tom de voz mais doce do que o normal:
__ Peter, meu caro, você estava ouvindo a nossa conversa, não estava?
__Ouvindo a conversa? Eu... ahn... apenas ouvi você dizer algo sobre fazer uma viagem a um bosque e... ahn... fiquei curioso. De que bosque vocês estavam falando?
__Peter, você estava ouvindo a nossa conversa do alto das escadas e, isso não é legal. E, a propósito... NÃO É DA SUA CONTA PARA ONDE NÓS VAMOS OU DEIXAMOS DE IR!
__Eu só...
__Agora, Peter... QUER DAR O FORA!
Louise empurrou Peter de lado e continuou a subir. Logo atrás dela, Lisa, Dan e os Pés Grandes passaram deixando um Peter assustado com a ferocidade de Louise.
__Não liga, não! __sussurrou Zig ao passar por Peter__ Hoje ela levantou meio estressada!
Após Lisa, Dan, Louise, Zig e Cliffe desaparecerem no alto da escada, Peter atravessou a Sala Comunal e parou de chofre ao ouvir uma voz saindo de trás de uma cortina.
__Peter!
__Sim?
Chegando no quarto das garotas, Louise abriu a porta e entrou sendo seguida por Lisa. Neste instante, Zig cochichava para Cliffe.
__Quem imaginaria que um dia nós iríamos entrar no corredor das garotas! __disse Zig.
__Corredor? Isso é quase um paraíso! __exclamou Cliffe.
__Será que dá para vocês andarem logo? __gritou Louise pondo a cabeça para fora da porta.
__Ok, já estamos indo, senhora estressadinha! __exclamou Cliffe.
Os rapazes adiantaram os passos e se aproximaram da porta. No entanto, assim que eles tentaram atravessa-las, a porta se fechou de chofre e os jogou para o outro lado do corredor.
__Ah, me desculpem! __disse Louise depois de abrir a porta novamente__ Me esqueci de que os garotos são proibidos de entrar nos quartos das garotas!
__Ai, lá se vai o paraíso... __murmurou Zig recolocando o nariz no lugar.
__Lá se vai o quê?
__Nada, Louise, nada.... E, afinal, como vamos entrar?
__Ah, não se preocupem... é só eu dar permissão para vocês entrarem. Assim: Eu, Louise Longbottom, dou permissão para Daniel Horcliffe, Zig e Cliffe Pés Grandes a entrarem já que prometeram respeitar a boa moral desse quarto.
__ E tem disso ainda? __perguntou Cliffe.
__Claro! Agora, entrem!
Os três entraram lentamente, atentos a qualquer movimento suspeito da porta. Quando os três já estavam a meio centímetro de atravessarem a porta, eles deram um pulo repentino para dentro do quarto.
__Nunca se sabe, não é mesmo? __disse Cliffe vendo que Lisa e Louise estavam com as sobrancelhas erguidas__ Mas, Louise, porque nós não podemos entrar nos quartos das garotas e vocês podem entrar no nosso?
__Simplesmente porque os garotos não são confiáveis....
__Ouviu isso, Zig? __perguntou Cliffe.
__Ouvi, Cliffe!
__E isso siguinifica o quê, Zig?
__Siguinifica, Cliffe, que nós não vamos mais poder pôr Traias no guarda-roupa da Angie Cooper.
__Vocês estão pondo Traias nas roupas da pobre coitada da Angie? __perguntou Louise com as mãos na cintura.
__É...
__...estávamos!
__Será que dá para a gente terminar logo com isso?
Diferente de Zig e Cliffe, Dan parecia estar impaciente e de péssimo humor. Mas também não era para tanto!
__Ok, sentem-se! __disse Louise mandando-os sentarem-se sobre a cama. No entanto, Zig e Cliffe não a obedeceram. Zig puxou um baú no canto do quarto e sentou-se. Cliffe, por sua vez, sentou-se sobre o criado-mudo de Louise__ Ah... bom, eu andei pensando em alguns detalhes que nós não podemos deixar para trás...
__Que detalhes? __interrompeu Cliffe__ Até agora vocês não nos explicou de que viagem vocês estão falando e nem porque vocês querem ir ao Bosque Espinhoso!... Dizem que aquele lugar é mal assombrado...
__Eu ouvi dizer que de dez pessoas que entram lá, apenas um consegue sair... __comentou Zig.
Louise ficou assombrada com a facilidade incrível que os irmãos Pés Grandes tinham de mudar de assunto. Como ela não podia mais perder tempo, Louise simplesmente ignorou os comentários e contou a eles o que aconteceu há dois meses atrás, desde a tomada do Localizol das mãos de Maya até a descoberta do paradeiro de Madame Geoffrin.
Minutos depois, Louise soltou um breve suspiro e disse:
__Bom, foi assim que nós descobrimos que os sonhos de Lisa, pelo menos uma parte deles, estavam certos. Madame Geoffrin existe e mora dentro do Bosque Espinhoso!
Zig e Cliffe abriram a boca lentamente e olharam um para o outro. Para o azar de Louise, os dois encontraram um novo motivo para sair do objetivo principal da reunião entre os cinco.
__Sinistro! __exclamaram os dois.
__Essa Madame Geoffrin é uma louca para morar num lugar tão perigoso como aquele bosque, não é Cliffe?
__Com certeza, Zig!
__Será que dá para vocês dois fazerem seus comentários em outro momento? Se vocês não perceberam ainda, hoje é o último dia de aula na Fonte Phoenix e nós precisamos partir o mais rápido possível...
Louise virou para trás e pegou um pergaminho e uma pena sobre o criado-mudo de Lisa. Virando-se para os outros, ela abriu o enorme rolo de pergaminho e pôs a ponta da pena na boca.
__Pelos meus cálculos, nós vamos gastar umas três horas de viagem até o Reino de Bellyhan e mais uns dois ou três dias até encontrarmos Madame Geoffrin dentro do Bosque Espinhoso. Se bem que, não vai ser fácil! Mas eu tenho a solução...
Louise enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno objeto de madeira que tinha uma esfera de cristal no centro em forma de meia lua.
__Com isso nós vamos encontra-la facilmente!
__E, o quê exatamente é isso? __perguntou Dan.
__Isso é uma bússola humana. Eu peguei emprestado com o Tom, ele ganhou do pai dele depois que ele voltou de uma viagem ao Mundo dos Humanos.
__Mas, Louise, como você espera que uma bússola vá encontrar Madame Geoffrin? Sabe, no Mundo dos Humanos ela é utilizada para determinar a localização dos pontos cardeais e não de uma pessoa!
__Eu já pensei nesse detalhe, vejam!
Louise tirou a varinha do bolso e apontou para a bússola. Em seguida, ela disse:
__Mostre-nos o caminho certo para Zig Pé Grande.
Após Louise retirar a varinha, o ponteiro da bússola começou a girar loucamente. Depois de alguns segundos, o ponteiro parou e uma luz na forma de uma seta saiu de dentro da bússola e atravessou o quarto, parando no meio da testa de Zig.
__Às vezes a sua genialidade, Louise, me espanta! __exclamou Zig vendo a seta luminosa se desintegrar no ar.
__É, eu sei!
__Bom, agora ficou fácil encontrar Geoffrin, mas, nós vamos de quê para o Bosque Espinhoso? __perguntou Dan.
__Eu também já pensei nisso! __disse Louise guardando a bússola e pegando o pergaminho novamente__ Se nós formos de carruagem por via terrestre, gastaríamos uma semana para chegar lá, e isso é desfavorável para nós. Bem a solução é ir com os grifos!
__Com os grifos? __disse Dan__ Louise, é impossível! Nós estamos em cinco pessoas e o máximo que Garrinha e Peninha podem transportar numa viagem longa é duas pessoas cada um!
__É, eu também já pensei nisso!
__Como ela consegue pensar em tudo? __sussurrou Cliffe para Zig.
__Como a viagem vai ser longa e nós vamos precisar levar mantimentos para podermos ficar no Bosque Espinhoso pelo menos por uns quatro dias, eu tomei a liberdade de chamar o Tom para ir com a gente. Ele tem uma carruagem puxada por cavalos alados e o espaçamento dentro dela é esplendido, ou seja, é suficiente para levarmos comida e algumas coisas necessárias para...
__Espera aí, como você sabe que a carruagem de Tom Secoyan é espaçosa? __perguntou Lisa.
Louise arregalou os olhos e ficou pasma ao ver que todos a fitavam com um pingo de desconfiança.
__O que foi?... Eu só... __murmurou Louise ficando com as bochechas vermelhas.
__Rápido o rapaz, não? __comentou Cliffe.
__Isso... ahn... não vem ao caso agora __interrompeu Louise antes mesmo que Zig ou outra pessoa pudesse dizer algo__ Como eu havia dito, eu chamei Tom para ir com a gente e ele aceitou de bom grado...
__Então se nós vamos com Secoyan na carruagem dele, não vai ser necessário levarmos os grifos...
__Claro que é necessário! __interrompeu Louise__ Dan, os grifos podem entrar com a gente dentro do bosque. Você sabe como aquele lugar é perigoso. A lealdade e a proteção de Garrinha e Peninha vão ser essenciais...
__É por isso que eu sempre digo: nunca troque um grifo valente por um cavalo alado covarde! __sussurrou Zig para Cliffe.
__Bom, e quando nós vamos para o Bosque Espinhoso? __perguntou Lisa.
__Se todos estiverem dispostos, amanhã de manhãzinha nós partiremos! __disse Louise__ Eu só tenho que acertar alguns detalhes com o Tom e aí vai estar tudo pronto...
__Louise, porque você não chamou Tom para a reunião? __perguntou Lisa.
__Eu o chamei, mas infelizmente o coitado está numa aula com o Darkness! Mas de qualquer modo, nós já acertamos os detalhes sem ele. Agora, é só esperarmos o dia amanhecer.
Pela aparência geral dos cinco amigos, Louise era a que mais estava empolgada com a idéia de ir para o Bosque Espinhoso. Lisa, por sua vez, não parecia estar tão empolgada assim. Na verdade, a idéia de procurar Madame Geoffrin, de alguma forma, não parecia que lhe ia trazer algo essencialmente bom. Era como se Lisa estivesse esperando alguma noticia ruim. A possibilidade de ficar o mais longe possível de Geoffrin lhe trazia uma grande paz interior.
__Lisa, você não parece estar tão empolgada com a viagem! __disse Louise duas horas depois enquanto cruzavam o jardim__ O que aconteceu?
__Não aconteceu nada, Louise, é só que...
__É Dan, não é? Eu entendo perfeitamente o que você deve estar sentindo. É estranho ter dois caras brigando pela gente e...
__Não, não é isso, Louise! __interrompeu Lisa corando as faces__ Eu não sei bem explicar, mas, há alguma coisa me dizendo que essa viagem não vai ser algo realmente bom. É como se eu estivesse em perigo e algo me dissesse para ficar na Fonte Phoenix.
__Lisa, escuta, durante esses quatro meses, você vem sonhando com coisas estranhas. E pior, coisas estranhas vem acontecendo desde o inicio do ano. Primeiro os Emissários tentam te matar no Mundo dos Humanos, depois você recebe uma estranha carta de um antigo General das Trevas revelado. Em seguida um inspetor sem caráter acusa você de matar duas pessoas que você nunca viu na vida. E agora, um Carrasco perturba você em pesadelos horríveis... Lisa, você não acha que é muita conhecidência essas coisas acontecerem assim, de uma vez só?
__O que quer dizer?
__Lisa, você não percebe? Uma trama está sendo feita contra você, em outras palavras, alguém quer se vingar, provavelmente da morte de Malagat!
As palavras de Louise permaneceram horas e mais horas na cabeça de Lisa, deixando-a atordoada e confusa.
Será que Louise tem razão? Alguém quer se vingar? Mas quem?
Lisa estava tão mergulhada em seus pensamentos que ela não ouviu Louise entrando no quarto.
__Lisa! Lisa!
__Ahn...
__Max está na Sala Comunal. Ele quer vê-la!
A Sala Comunal estava completamente vazia. A maioria dos moradores do castelo estavam terminando de jantar ou perambulando pelos terrenos da Fonte Phoenix.
Max estava à beira da janela olhando para as magníficas torres do Castelo Principal, que se destacavam numa imensidão de luzes, quando Lisa desceu as escadas lentamente.
__Max!
__Ah, Lisa!
__Louise me disse que você queria me ver...
__Oh, sim! Ahn... sabe, hoje é o último dia em que nós vamos nos ver, propriamente dito, antes do baile... Bom, eu queria lhe dar uma coisa...
__Me dar algo?
__É. Bem, não é grandes coisas, mas... aqui está.... para você!
Max tirou uma caixinha preta de dentro do manto e entregou a Lisa. Esta pegou a caixa e abriu-a. No seu interior havia um colar de brilhantes que brilhavam mais do que as luzes da Fonte Phoenix juntas.
__Eu quero que você o use no baile! __disse Max__ Sabe, essa jóia foi feita por uma sereia do Reino de Goldenwarth. Por isso ela brilha tanto. Ela pertenceu a minha mãe e agora, é seu!
__Max, ele é lindo, mas, eu não posso aceitar! __disse Lisa devolvendo a jóia__ Ela pertenceu a sua mãe... é uma jóia de família. Deve siguinificar muito para você!
__Mas esse colar vai siguinificar muito mais quando você usa-lo no baile. Aceite, é de coração!
__Está certo, eu vou usa-lo no baile. Ah, obrigado, Max!
Lisa abraçou Max e deu um beijo no seu rosto. Nesse instante, Dan entrou na Sala Comunal e parou de chofre ao ver os dois. O rapaz avermelhou-se de cima em baixo e subiu as escadas faltando soltar fogo pelas narinas.
__O que deu nele? __perguntou Max.
Mas Lisa não respondeu. Ela sabia exatamente o que era, ou pelo menos imaginava o que poderia ser.
Voltando para o quarto com o presente de Max, Lisa encontrou Dan encostado á porta de seu quarto, esperando-a.
__Deixe-me entrar, Dan! __disse Lisa__ O que está fazendo aqui? Esse não é o corredor dos rapazes, ou estou enganada?
__Não, não está! __Dan descruzou os braços e desencostou-se da porta do quarto de Lisa__ Ele está comprando você com presentes, não está?
__Me comprando? Eu não pedi para Max me dar esse presente e também eu não lhe devo satisfação do que ganho ou deixo de ganhar!
__Claro! Quem sou eu, né?
Lisa pôs a mão na fechadura da porta e hesitou ao abri-la. Virando-se para Dan, ela disse:
__Escuta, Dan, eu não pedi para você se comportar assim comigo. Eu sou sua amiga e respeito você e agora, eu espero que você me respeite também.
__Claro... princesa!
__Dan, eu...
__Acredito que Max já sabe, não é? Afinal, você é da realeza. Seria muito conveniente da parte dele ser algo seu...
__Eu não sei até onde você quer chegar, Dan, mas eu não admito que você fale assim de Max! E... Dan, se você está assim por que não tem par para o baile, por que não procura a sua amada? Garanto que Sparrow vai ficar encantada em entrar no salão real de braços dados com você!
__Do quê está falando? __perguntou Dan enrugando a testa.
__Eu vi, Dan, quando você e Capitão Sparrow estavam se beijando naquele dia no Cruzeiro Fantasma...
__Eu não a beijei!...
__Então quer dizer que eu vi um fantasma com a sua cara beijando Helena Jack Sparrow?
__Eu já disse, eu não a beijei! __gritou Dan__ Sparrow me agarrou... me pegou de surpresa... eu não...
__A intensidade do beijo não parecia que Sparrow havia agarrado você a força!
__Eu não... Sabe de uma coisa, Lisa, eu não ligo para o que você pensa ou deixa de pensar. A vida é minha!
__Da mesma forma que a sua, a vida também é minha e você não tem o direito de interferir nos meus sentimentos!
Com os olhos lacrimejando, Lisa abriu a porta do quarto e ficou parada a meio centímetro de entrar nele. Lisa tremia e mordia os lábios com a mesma intensidade que Dan explodia de raiva.
__Quer dizer então que você sente alguma coisa por aquele... aquele pateta?
Lisa segurou forte a caixinha preta do colar e se controlou para não atiça-lo no meio da testa de Dan.
Não agüentando mais olhar para a cara de Dan, ela pegou na porta e fechou-a na cara do rapaz.
__Boa noite, Dan!
O dia seguinte amanheceu da pior forma possível para Lisa. As primeiras horas da manhã foram chuvosas e extremamente frias. Para piorar, Lisa não conseguira dormir devido à discussão com Dan e por que cada vez que ela fechava os olhos para dormir, um Carrasco gritando por morte invadia a sua mente de meia em meia hora. O resultado disso tudo foi uma Lisa sonolenta e mal humorada.
__Credo, Lisa, eu só queria dizer para você que a carruagem de Tom e os grifos já estão preparados, __disse Louise depois de receber uma má resposta de Lisa__ mas como o tempo não está ajudando, nós partiremos assim que a chuva cessar!
__Me desculpe, Louise, eu não tive a intenção de ofende-la!
__O que está acontecendo, Lisa? Porque você está assim?
__Eu não consegui dormi direito e... ah... muitas coisas estão acontecendo ao meu redor. Isso está me deixando louca!
__É, eu sei... É difícil não enlouquecer com dois caras correndo atrás da gente, mas... não esquenta, Lisa. Encha os pulmões de ar e conte até dez. Garanto que você vai se sentir bem melhor! Ah olha, a chuva já está quase passando...
O quase passando de Louise, na verdade, durou mais de uma hora. A chuva caiu grossa e imponente sobre os terrenos da Fonte Phoenix enchendo o campo de pouso de várias poças de água.
Assim que a chuva cessou, o campo de pouso encheu-se de carruagens de vários formatos e tamanhos. Numa grande decolagem de carruagens puxadas por cavalos alados ou por simples cavalos, o céu sobre a Fonte Phoenix ficou coberto por tantos alunos que partiam para seus reinos que já não era mais possível distinguir uma nuvem de uma carruagem voadora. O mesmo valia para outras carruagens que por via terrestre congestionavam os portões da Fonte Phoenix.
No entanto, apenas um gigantesco navio cercado por névoas se destacou entre tantas carruagens. Como no início do ano, o Cruzeiro Fantasma buscava os alunos e os deixavam novamente em cidades portuárias, onde lá, eles seguiam para suas casas de carruagens terrestres. Quando o período de férias terminava, o gigantesco navio fantasmagórico retornava e pegava os alunos novamente e os entregavam sãos e salvos na Fonte Phoenix.
__Vamos pessoal, rápido! __gritava J.R.R. Splinter para os alunos que subiam despreocupados a rampa.
__Quem se atrasar, nem que seja por um milésimo de segundo, servirá de jantar para os ictions!
Quando os alunos viram a figura fantasmagórica de Capitão Sparrow surgindo no topo do navio com as mãos na cintura, os alunos pararam de chofre e olharam um para o outro.
__Ela não está falando sério! __comentavam alguns alunos__ Ela nunca fala sério!
__Podem apostar __sussurrou Splinter ao entrar no meio dos alunos__ ela nunca falou tão sério na vida!
Ouvindo o comentário de Splinter, os alunos faltaram pouco se atropelarem na rampa para entrarem logo no navio. Enquanto a euforia tomava conta de todos, Splinter virou-se para Sparrow e piscou os olhos.
Nesse meio tempo, Dan, Zig e Cliffe carregavam os baús cheios de mantimentos enquanto passavam em frente ao Cruzeiro Fantasma. Atrás deles, Lisa e Louise os seguiam enrolando os mantos negros no corpo para se protegerem do vento congelante que começara a soprar.
__E por que nós temos que carregar esses baús pesados enquanto vocês ficam aí se protegendo desse vento arrepiante? __perguntou Cliffe recolocando o baú no chão.
__Como você mesmo disse, eles são pesados e nós somos muito delicadas para tanto! __respondeu Louise.
__Ouviu isso Zig? __perguntou Cliffe.
__Ouvi, Cliffe!__ disse Zig colocando também o seu baú no chão__ Como o mundo é cruel!
__Se vocês fossem um pouco mais inteligentes, __disse Lisa__ teriam enfeitiçado os baús para levitarem...
__Ouviu, Dan? __disse Zig__ Lisa nos chamou de burro!
Dan colocou o seu baú no chão e não deu atenção aos Pés Grandes. Seus olhos percorreram todo o movimento de alunos entrando no Cruzeiro Fantasma, que estava estacionado no meio do jardim sul, até que seus olhos encontraram os olhos de Helena Jack Sparrow.
Vendo que Dan a havia visto, Capitão Sparrow jogou um beijo para o rapaz e acenou alegremente para Lisa, que também a estava observando. Naquele momento, Dan abaixou a cabeça, fez um movimento com o dedo indicador e saiu andando, com o baú levitando as suas costas, sem olhar para Lisa. Esta, por sua vez, não retribuiu o aceno de Sparrow e saiu atrás de Louise.
Enquanto os quatro desapareciam na direção do campo de pouso, Zig e Cliffe fizeram um pequeno monte de terra surgir embaixo dos baús. Nesse meio tempo, os olhos de Zig e Sparrow já haviam se encontrado. O Pé Grande ao ver Sparrow fazendo um sinal obsceno com o braço fez um movimento com a mão e saiu apressado atrás de seu irmão, sendo seguido por um monte de terra que rastejava as suas costas carregando o pesado baú.
No campo de pouso, Tom estava acabando de arrumar as rédias dos cavalos alados __grandes animais brancos com uma bela crina prateada e com enormes asas. Ao ver Dan chegar com o baú que levitava, Tom saiu entre os cavalos e se aproximou do rapaz.
__Olá, Dan! Deixe-me ajudá-lo!
Enquanto Tom e Dan jogavam o baú sobre a carruagem, Louise se aproximava com uma estranha sensação de que alguém a seguia. Ela olhava para os lados e só via pessoas andando de um lado para o outro com suas malas. Estranhando a sensação, Louise admitiu ser besteira e continuou a andar.
__Está pronta, Louise, para a viagem? __perguntou Tom Secoyan ao ver Louise se aproximando.
__Nunca estivesse mais pronta na minha vida! __disse Louise ignorando uma expressão facial dos irmãos Pés Grandes.
__Enquanto vocês amarram os baús, eu e Zig vamos pegar os grifos nos estábulos__ disse Cliffe depois de jogar os baús para Dan e Tom amarra-los no alto da carruagem.
__Ok __disse Louise tendo a impressão, desta vez, de que alguém a observava.
Louise girou em torno do corpo, olhando para os arbustos e para todos os cantos, mas ela não conseguiu ver ninguém a observando. Era apenas uma impressão!
__O que foi, Louise! __perguntou Lisa.
__Ahn... nada!
Tom terminou de amarrar os baús e pulou de cima da carruagem. Ao tocar o chão, Secoyan deparou-se com dois baús atrás da carruagem. Achando que eles também haviam sido tragos por Dan e os Pés Grandes, Tom pegou-os e os jogou para cima da carruagem. Assim que eles bateram no topo da carruagem, Tom ouviu dois gemidos e ficou procurando de onde eles vieram. Mas no final, ele concluiu que fora apenas sua impressão.
__Dan você precisa ensinar Peninha a ter boas maneiras __disse Zig enquanto tentava arrastar o grifo pelo campo de pouso.
O grifo de Dan era um pouco temperamental com os Pés Grandes e detestava que algum deles o tocasse. Para que Peninha viesse para perto da carruagem Dan teve que ir até Zig e tomar as cordas de sua mão para que o grifo se acalmasse.
__Zig, você precisa ser mais gentil com ele! __disse Dan alisando o Peninha.
__Acredite, Dan, é ele quem precisa ser mais gentil comigo!
__Bom, acho que já podemos ir! __disse Louise__ Zig e Cliffe, vocês vão no Garrinha, Dan no Peninha e eu, Lisa e Tom vamos na carruagem. Ah, Zig e Cliffe, se caso um de vocês quiser vir na carruagem...
__E ficar sem sentir o vento batendo contra o nosso peito? __disse Zig.
__Jamais! __disse Cliffe.
__Está certo... ahn, a propósito, Big Bertha sabe que vocês vão para o Bosque Espinhoso?
__Não. E ela não precisa saber! __disseram os dois em uníssono.
__Se querem assim... Então vamos!
Lisa e Louise entraram na carruagem e Tom subiu para pegar as rédias dos cavalos alados. Depois de um bater de rédias, os cavalos alados começaram a correr pelo campo de pouso, abriram as asas e decolaram sobre as muralhas da Fonte Phoenix.
Já no alto das nuvens escuras, Lisa colocou a cabeça para fora e viu a Fonte Phoenix se distanciar lentamente enquanto um mundo de águas abaixo da carruagem parecia se transformar numa infinita piscina de água salgada. Nesse momento, Lisa também viu Dan e os Pés Grandes planarem ao lado da carruagem enquanto gotículas de água molhavam os seus rostos. Mesmo com a as gotículas geladas, Zig e Cliffe pareciam estar se divertindo.
A viagem até o reino de Bellyhan durou duas horas e meia e foi marcada por intensas chuvas nos meados do mar Kirffe e nas proximidades da Ilha Earthworn.
Depois de horas sentadas dentro da carruagem, Lisa e Louise olharam para ver se estavam chegando e ficaram encantadas com os gigantescos penhascos que surgiam entre a chuva fina e gélida.
__Chegamos, Lisa! __disse Louise__ Aquele é o Bosque Espinhoso.
Lisa pendurou-se na janela da carruagem e ficou pensando, por um instante, o que a aguardava dentro do bosque, que a primeira vista, parecia ter árvores secas e sombrias. Mal imaginava ela que coisas terríveis a estavam esperando no interior da escuridão do bosque. Coisas inimagináveis, horrendas e funestas!
Entre a vida e a morte
A carruagem e os grifos pousaram na primeira clareira que Tom Secoyan encontrou. O Bosque Espinhoso tomava conta praticamente de todo o penhasco, havendo assim, poucos lugares para se pousar. Para piorar, a clareira encontrada por Tom era cheia de pedras e valetas, o que fez a carruagem chacoalhar um pouco quando os cavalos alados pousaram.
__Ai! __disse Louise depois de apalpar o enorme galo que surgia na sua cabeça depois de bate-la contra o teto da carruagem__ Começamos nada mau, não acham?
__Eu acho que o tempo não está muito a nosso favor! __disse Zig ignorando Louise__ Isso sim é começar mau.
E realmente o tempo não estava a favor deles. Dan, Zig e Cliffe estavam totalmente molhados e não paravam de tremer. Cliffe, por sua vez, não sentia o seu rosto, pois toda a friagem da chuva havia se concentrado em quem estava na frente, guiando o grifo.
__Zig, Cliffe e Dan, venham cá! __disse Louise tirando a varinha do bolso__ Eu tenho algo que vai ajudar!
Louise girou a varinha e apontou para os três.
__Impervius!
Lentamente, após o feitiço, toda a umidade que envolvia os três rapazes se dispersaram pelo corpo até escorrerem pelas pernas e assim, penetrarem na terra.
__Incrível! Estamos secos novamente! __exclamou Cliffe__ Mas... eu ainda estou com frio!
__Esse feitiço deixou vocês impermeáveis por algum tempo, mas isso não siguinifica que vão deixar de sentir frio! __comentou Louise.
__Bom, agora que chegamos __disse Lisa__ por onde vamos começar?
__Já vamos saber...
Louise enfiou a mão no bolso e tirou a bússola enfeitiçada. Em seguida ela ergueu a bússola na direção do busto e apontou a varinha para ela.
__Mostre-nos o caminho certo para Madame Geoffrin!
Rapidamente após uma pequena faísca de luz sair da ponta da varinha de Louise, o ponteiro da bússola começou a girar sem parar. De repente, ele diminuiu a velocidade e apontou para onde Zig estava.
__Eu? __disse Zig.
Mas antes mesmo de Louise repreende-lo, um raio de luz saiu da bússola e riscou na direção de Zig. O Pé Grande abaixou rapidamente e o raio de luz desapareceu pelo interior do bosque.
__Bom, pela bússola, Madame Geoffrin deve estar naquela direção __Louise ergueu os olhos para o céu chuvoso e voltou-se para os outros__ Acho melhor nós acamparmos. Não vamos conseguir entrar no bosque com esse tempo ameaçando chover o resto da tarde... Dan será que você pode dar uma volta com o Peninha para ver se encontra alguma clareira na direção em que a bússola apontou?
__Claro!
__E... Zig e Cliffe, vocês podem... ahn... conseguir alguns galhos de árvores__ disse Louise__ para montarmos uma espécie de cabana...?
__Podemos, mas... não vai ser necessário, não é, Zig?
__É, Cliffe!
__Deixe a cabana com a gente... __continuou Cliffe.
__Vamos fazer da nossa maneira... __completou Zig.
__Está bem!
Enquanto os irmãos Pés Grandes saíam para montarem a cabana, Louise os observava da carruagem. Ela sabia que algo construído pelos dois não poderia sair lá grandes coisas. Mas, a cabana não era a única coisa que a estava preocupando. Se caso o tempo não melhorasse no dia seguinte, não iria ser fácil para eles entrarem no bosque. Restava a ela, apenas torcer para que o tempo contribuísse com eles.
__Hei, tem alguém ai?
Louise estava caminhando na direção de Zig e Cliffe quando escutou de chofre uma voz gritando de cima da carruagem. Louise parou, olhou para os lados. Viu Lisa alisando o Garrinha, Tom arrumando as rédias dos cavalos e Dan desaparecendo no alto do bosque sobre Peninha. Não podiam ser eles. Mas, de onde veio a voz? Louise acreditou ter sido sua imaginação e continuou a andar. Após ter dado um passo à frente uma outra voz, agora fina e irritante, gritou de cima da carruagem.
__SERÁ QUE DÁ PARA ME TIRAR DAQUI?
Louise parou novamente e desta vez, Lisa e Tom também ouviram o grito abafado saindo de dentro de um dos baús.
__Vocês ouviram alguém gritando? __perguntou Lisa se aproximando de Tom e Louise.
__Ouvimos!
Louise fitou os olhos no alto da carruagem e ficou quieta por alguns segundos. Quando ela e os outros menos esperavam, duas vozes distintas gritaram novamente.
__EU QUERO SAIR!
__EU ESTOU SUFOCANDO!
__Eu conheço essas vozes! __exclamou Lisa.
__Não, não pode ser! __disse Louise.
Louise balançou a cabeça e andou na direção da carruagem. Chegando a uma certa distância, Louise tirou a varinha do bolso e apontou para os baús amarrados sobre a carruagem.
__Diffindo!
Rapidamente as cordas que amarravam os baús se romperam e as tampas deles se abriram lançando para fora o seu conteúdo. Quando Lisa, Louise e Tom menos esperavam, duas pessoas caíram de cara aos pés dos cavalos alados.
__Peter! __assombrou-se Lisa.
__Maya! __assombrou-se Louise.
__Louise! __exclamou Maya descaradamente.
__Lisa! Tom! __disse Peter sonsamente.
__O que estão fazendo aqui? __perguntou Louise.
Peter rapidamente levantou-se do chão e apontou o dedo para Maya.
__Foi idéia dela!
__Espere... vocês não... vocês não nos seguiram, seguiram? __perguntou Louise ficando nervosa.
__A idéia foi dela! __insistiu Peter.
Maya virou-se furiosa para Peter e deu um tapa na cabeça dele.
__Ai!
__É claro que sim. Eu sabia que alguém estava nos seguindo e pior, ouvindo a nossa conversa...
Louise apertou forte a varinha e apontou para Maya, encurralando-a na carruagem.
__Foi você, Maya, não foi? Eu pensei ter visto você escutando a nossa conversa na última aula de Flycken e não liguei, pensei ter sido apenas uma impressão... COMO DESCOBRIU QUE VIRIAMOS PARA CÁ?
Louise apertou a varinha contra o pescoço de Maya e esta respondeu:
__Aquele dia em que eu estava atrás de uma coluna do castelo, eu estava vigiando você. Eu escutei vocês comentarem algo sobre o Bosque Espinhoso e fiquei curiosa. Ontem eu estava escondida atrás de uma das cortinas da Sala Comunal e ouvi mais um pedaço da conversa. Achei interessante e quis saber mais. Foi então que aquele pateta ali desceu as escadas e eu tive uma idéia...
__Nem precisa terminar, eu já sei o resto... __disse Louise entre os dentes__ Você fez Peter ir até o meu quarto escutar a nossa conversa. Ele ouviu e contou para você e aí, surgiu a idéia patética de se esconder dentro de um baú e nos seguir até aqui sem serem notados...
Louise afastou-se de Maya e passou a mão na cabeça. Nesse meio tempo, Maya alisava o pescoço.
__Como o mundo dá voltas, não é mesmo, queridinha? __debochou Maya com sua voz irritante__ Agora, você está na minha mão. Como seria desagradável se os inspetores de Azgrah soubessem que Lisa e você... e é claro, esse bando de estúpidos... vieram para um dos lugares mais suspeitos de Aragorn? Um lugar onde assassinos, ladrões e criaturas das trevas escolheram como esconderijo! Não seria bom para você, Lisa, já que Chamberlain acredita que você tem alguma coisa a ver com a morte dos Ravenclaws! Afinal, você sabia que eles iriam ser assassinados e...
__Cala a boca! Cala a boca! __gritou Louise__ Maya eu devia transforma-la em cinzas...
Louise ergueu a varinha e apontou para Maya. No entanto, Tom entrou na frente e forçou a varinha para baixo. De repente, um raio de luz vermelha saiu da varinha e abriu um enorme buraco aos pés de Maya.
__Me dê essa varinha, Louise! __disse Tom.
__Maya passou dos limites, Tom!
__Você é quem passou dos limites, Louise __disse Tom__ Olhe o que você fez!
__Viu Louise, você acabou de criar mais um problema! __disse Maya provocando__ Eu poderia muito bem entrega-la para Chamberlain por ter me atacado, mas, como sou muito gentil... terei compaixão...
Maya pulou o buraco no chão e andou na direção de Louise. Tom tentou impedi-la e Maya parou.
__Estamos quites novamente, queridinha! Querendo ou não, você está na palma da minha mão e a partir de agora terá de fazer tudo que eu mandar!
__Sua...!
Louise tentou apontar a varinha novamente, porém Tom tirou-lhe de sua mão e entregou para Lisa.
__Guarde-a. Não deixe que Louise toque nela __Tom virou-se para Louise e puxou-a para longe de Maya__ Venha comigo. Você não pode contestar Maya. Louise, você quase a matou!
Nesse meio tempo em que Tom arrastava Louise para longe, Dan pousava com Peninha próximo a carruagem. Após descer do grifo, Dan se aproximou de Lisa e assustou-se ao ver Peter, Maya e um grande buraco no chão.
__Não há nenhuma clareira por perto e... o que estão fazendo aqui?
__Ahn... Dan, é uma longa história... __disse Lisa tentando não olhar para o rapaz.
__Bom, terminamos! __disseram Zig e Cliffe aproximando-se__ Como chegaram aqui?
Lisa não quis repetir o que disse para Dan e deixou que Peter se explicasse. Assim que ela passou os olhos por um dos cantos da clareira, Lisa avistou uma grande cabana com paredes de terra de quase seis metros de altura em forma de cume se destacar entre as árvores secas do bosque. Parecia mais uma cordilheira com uma caverna no centro do que uma cabana!
__Incrível!
O tempo chuvoso permaneceu até o anoitecer onde as nuvens começaram a se dispersar pelo céu, deixando-o limpo e estrelado. Apesar da mudança do tempo, Louise ainda não se conformava com a idéia de que Maya estava com eles e durante longas horas, ela preferiu ficar bem distante e tentar pensar num modo de reverter a situação. Obviamente, Tom ficou ao lado dela.
Enquanto Louise e Tom conversavam sobre uma pedra a mais de vinte metros da “caverna” que Zig e Cliffe construíram erguendo picos de terra para o ar, Maya reclamava da comida feita por Dan.
__Esta comida estava horrível! __resmungou Maya depois de comer uma carne estranha que Lisa não reconheceu de que animal era.
__Se estava horrível, __disse Dan calmamente colocando mais gravetos secos que Lisa deixou impermeáveis para serem queimados na fogueira__ então por que comeu?
Maya fez uma careta e ficou de costas para os outros.
__Eu fiz errado, não foi? __perguntou Peter depois de dar um leve suspiro__ Não devia ter ajudado Maya... olha só como Louise ficou?
Lisa olhou para fora da “caverna” e viu Louise e Tom conversando sobre a luz da lua cheia que neste momento surgia imponente sobre o penhasco dando a sensação de que os dois estavam de cara para ela.
__Realmente você não devia ter feito isso, Peter __disse Lisa voltando-se para Peter__ Mas, não se preocupe. Amanhã vamos decidir o que vamos fazer com vocês...
__Como assim? __perguntou Maya virando-se para Lisa.
__Você não está achando que nós vamos leva-la conosco para a nossa... ahn... missão? __disse Cliffe rasgando um pedaço de carne nos dentes.
__Eu pensei que... __murmurou Peter.
__Amanhã nós daremos um jeito de vocês voltarem para a Fonte Phoenix ou pelo menos de ficarem em algum lugar bem longe da gente __disse Dan__ Acho que a Ilha Earthworn é uma boa opção!
__Eu não vou para uma ilha cheia de minhocas gigantescas! __resmungou Maya entre os dentes.
__Não me leve a mau, __disse Zig com a boca cheia__ mas, até cara de minhoca você tem! Não seria surpresa se uma das Earthworn se apaixonasse por você!
Maya passou a mão no chão e pegou a primeira pedra que encontrou. Em seguida ela mirou no meio da testa de Zig e acertou-o em cheio. Fechando a cara enquanto os outros davam gargalhadas, Maya saiu da “caverna” e parou de chofre ao escutar um uivo tenebroso vindo do interior do bosque.
__Vocês ouviram? __perguntou Maya entrando novamente na caverna.
Mas ninguém respondeu. O uivo fora tão tenebroso que Lisa se arrepiou e ficou com medo de perguntar o que fora aquilo. De repente, quando todos menos esperavam, um outro uivo tenebroso e sombrio ecoou pela clareira.
__O que foi isso? __perguntou Louise.
__É um uivo de um lobo ou... de um Lobisomem!
Tom virou-se para as árvores secas que balançavam lentamente à medida que o vento as impulsionava e ficou parado tentando escutar de onde viera o uivo. De súbito, um terceiro uivo ecoou entre as árvores e Tom viu uma manada de morcegos levantarem vôo e virarem comida dos grifos ao passarem por eles..
__Parece que os grifos já fizeram o jantar deles __disse Tom__ Seja de quem for esses uivos, a criatura deve estar bem perto! Venha Louise, não podemos arriscar em ficar aqui fora...
__Eu não vou para onde aquela estúpida está! __disse Louise mordendo os lábios e apontando a cabeça para a “caverna”.
__Deixe de besteira, Louise! Agora já é tarde, Maya e Peter nos seguiram... Nós não podemos mandá-los de volta para a Fonte Phoenix e além do mais pode haver Lobisomens nesse bosque... É perigoso ficarmos aqui fora!
Louise olhou para o bosque, que parecia ser mais sombrio à noite do que ao dia, e estremeceu ao ouvir outro uivo tenebroso.
__Está certo! Vamos sair daqui!
Entrando na “caverna” Louise fingiu não ter visto Maya e chutou o pé dela. A confusão estava armada. No entanto, um quarto uivo fez todos ficarem quietos e apreensivos.
__O que vocês acham que são? __perguntou Peter.
__Pode ser um Lobisomem __disse Tom__ É lua cheia e é normal criaturas desse tipo vagarem por aí...
__Você acha que ele pode vir até onde nós estamos? __perguntou Dan.
__Acho que não. Mas de qualquer forma acho melhor dormimos. Se for um Lobisomem, ele vai nos ouvir conversando e aí a coisa não vai ficar nada boa!
__Mas e os grifos e os cavalos alados? __perguntou Peter.
__Não se preocupe Peter __disse Louise__ Se um Lobisomem atacar um dos grifos ou um dos cavalos, o mais certo é que ele vai embora com os olhos furados ou com um grande coice no meio da cara!... Agora, onde vocês colocaram minhas coisas?
__Está ali __disse Lisa.
Louise foi até um baú e tirou dois cobertores. Em seguida ela forrou o chão com um cobertor que parecia ser mais um coro de um gato bem peludo do que um cobertor e deitou-se, cobrindo-se com a outra coberta.
Após Louise deitar-se, os outros também pegaram seus cobertores. Forraram o chão e deitaram deixando Maya e Peter a ver navios.
__E nós? __perguntou Maya.
__Você não nos seguiu? __disse Louise erguendo a cabeça debaixo do cobertor__ Devia ter previsto que iríamos passar a noite em algum lugar. Agora, queridinha, durma no chão! Boa noite!
__Dormir no chão? Nunca!
Maya levantou-se e ficou dando voltas em torno dos outros. Nesse meio tempo, Peter já estava se aconchegando a uma bela e fria pedra que ele acabara de transformar num travesseiro.
__Louise, eu quero que você me dê o seu cobertor, caso contrario, não relutarei em contar para Chamberlain o que vocês estão aprontando! __esguichou-se Maya.
__Faça o que você bem entender __disse Louise aconchegando-se ao seu confortável cobertor__ Eu não estou mais ligando. Na verdade, eu nem sei você vai conseguir voltar viva para a Fonte Phoenix depois que nós entrarmos no Bosque Espinhoso!
__Oh!
Maya tremeu os lábios e disse alguns palavrões em murmúrios. Vendo que não podia contestar, a garota irritante deitou-se no chão e puxou uma pedra para perto de si e tentou usa-la como travesseiro. Vendo que ela era bem dura, Maya tirou a varinha do bolso e apontou para a pedra. Segundos depois, a pedra explodiu em centenas de plumas brancas que entraram até mesmo dentro da boca dela.
Parece que essa idiota até hoje não aprendeu a transformar uma pedra em travesseiro! Ah, quem se importa?, pensou Louise antes de adormecer tranqüilamente.
A lua cheia já estava no ponto mais alto do céu quando todos dormiam tranqüilamente __exceto Maya, que tentava dormir com a cabeça sobre um monte de plumas brancas.
Enquanto todos estavam protegidos contra uma pequena névoa que cercava a clareira, algo se mexia por trás de alguns arbustos secos. Apesar da claridade da lua, não dava para saber o que realmente se movia numa velocidade assustadora em direção aos grifos e aos cavalos alados.
Quando os arbustos deixaram de protege-lo, a luz da lua revelou uma criatura coberta por uma longa capa que a cobria dos pés a cabeça. A criatura não parecia ter pés, pois a impressão era que ao invés de andar ela rastejava, arrastando a sua longa capa sobre o chão empedrado.
Ao aproximar-se dos grifos e dos cavalos alados, a criatura tirou uma varinha de dentro da capa e começou a aponta-la para Garrinha, quando de súbito, o grifo despertou. Garrinha empinou o corpo ao ver a criatura e abriu as asas. Com o barulho que o grifo fazia, Peninha e os outros cavalos alados despertaram fazendo um grande alvoroço.
Nesse meio tempo, Dan se aconchegava ao seu cobertor quando acordou com o barulho dos cavalos relinchando e os grifos batendo as enormes asas. No mesmo instante, Maya, Peter e Lisa também acordaram assustados.
__O que está havendo? __perguntou Tom despertando.
__Parece que tem algo atacando os grifos e os cavalos alados! __disse Dan dando um pulo e ficando em pé.
Quando todos levantaram para ver o que estava acontecendo, um grande flash de luz invadiu a “caverna” sendo seguido por um som de algo se chocando contra uma pedra e de asas batendo em vôo.
Imediatamente todos saíram correndo de dentro da “caverna” e pararam de chofre ao verem os destroços da carruagem a beira de uma pedra no final do penhasco e os grifos e os cavalos alados desaparecendo no horizonte.
__O que há pessoal? __perguntou Zig saindo de dentro da “caverna” com o cabelo armado para o alto.
__Parece que alguma coisa assustou nossos animais! __exclamou Louise andando na direção da carruagem partida ao meio.
__Eles não foram só assustados, Louise __disse Tom não acreditando que os animais estavam indo embora__ eles foram atacados!
__Mas, quem faria isso? __perguntou Lisa pegando em uma das rédias que se partiu.
Enquanto todos rodeavam a carruagem quebrada, algo havia chamado a atenção de Dan. Era um leve rastro sobre a terra recém molhada que desaparecia na direção do bosque.
__Hei, venham cá! Parece que o que atacou os animais era uma criatura que rastejava... Vejam esse sinal!
__Você acha que foi uma serpente gigante? __perguntou Peter, parecendo mais assustado do que os outros.
__Não seja ridículo, Peter! __exclamou Louise abaixando-se e passando a mão sobre o rastro__ Não há serpentes em Bellyhan! Talvez tenha sido algum Espectro que vagava por aqui e acabou provocando isso tudo.
__É, mas e a luz que nós vimos? __perguntou Maya__ Era um feitiço, não era?
__Não podemos afirmar se era ou não! __disse Dan levantando-se.
__Sendo um feitiço ou não, isso não parece ter sido obra de um Espectro como Louise disse __murmurou Tom.
__O que quer dizer? __perguntou Lisa.
__O Bosque Espinhoso não é apenas um lugar cheio de árvore secas e antigas, ele é também o lar de muitas criaturas... algumas até desconhecidos por nós. No entanto, não podemos descartar a hipótese de que um feitiço foi utilizado para espantar os animais...
__E isso pode siguinificar que alguém queria que nós ficássemos presos aqui, não é? __disse Louise lançando um olhar para Lisa__ Quero dizer, os grifos e os cavalos alados não voltarão depois disso! Como vamos embora?
__Teremos que encontrar um jeito! __disse Dan__ Acho melhor voltarmos a dormir. Amanhã levantaremos bem cedo e decidiremos o que vamos fazer...
Depois que todos voltaram para a “caverna”, Lisa permaneceu alguns segundos do lado de fora observando os destroços da carruagem. De alguma forma, ela não parecia inteiramente convencida de que um Espectro atacara e espantara os animais. Era como se algo lhe dissesse que aquilo tudo tivesse sido planejado por alguém que não queria que ela fosse embora sem encontrar-se com Madame Geoffrin ou que pelo menos não quisesse que ela retornasse para a Fonte Phoenix. Mas no fundo, Lisa encarou seus pensamentos como tolice e foi deitar-se. Afinal, amanhã seria um outro dia!
Os primeiros raios do sol atravessavam cautelosamente a entrada da “caverna” enchendo-a de luz e despertando os seus moradores. Dan, Tom, Lisa e Louise foram os primeiros a acordarem e nesse momento, decidiam o que iriam fazer sem os animais e agora, com a carruagem partida ao meio.
__Lisa, não podemos voltar! __disse Louise colocando uma mecha de cabelos por trás da orelha enquanto a primeira brisa da manhã tocava seu rosto__ Nós chegamos até aqui e agora não podemos ir sem encontrar Madame Geoffrin!
__Eu concordo com Louise __disse Dan esforçando-se para olhar no rosto dela__ Lisa, isso é importante para você. Foi por isso que viemos juntos. Não abandonaremos o nosso objetivo só por que uma “coisa” espantou nossos animais!
__Mas, como vamos voltar depois de encontrarmos Madame Geoffrin? __perguntou Lisa__ E Maya e Peter, por acaso esqueceram-se deles?
__Não havíamos pensado nisso! __exclamou Tom.
Louise cruzou os braços e sentou sobre o que seria uma roda partida ao meio. Depois de dar um leve suspiro, ela disse:
__Não temos opção, teremos que levar Maya e Peter conosco. E... como voltaremos para a Fonte Phoenix... encontraremos um jeito depois de encontrarmos Geoffrin. Quem sabe ela não tem uma carruagem e possa nos emprestar, não é mesmo? Temos que ser otimistas!
__Está certo __disse Lisa__ Se vamos continuar, não podemos perder tempo. Temos que ir!
__Vou acordar os outros e contar o que decidimos.
Dan entrou na “caverna” e acordou Peter e Maya. Já Zig e Cliffe, Dan precisou chutar o traseiro deles para que acordassem.
__Vamos, levantem! Nós já vamos partir.
__Como vamos embora? __perguntou Cliffe abrindo uma enorme bocarra.
__Não vamos embora, se querem saber. E, Maya, levante-se! O sol já está bem alto e nós ainda temos uma longa caminhada pela frente.
__Como assim, Dan? __perguntou Peter se espreguiçando.
__Vocês não nos seguiram? Agora terão que nos seguir até o fim!
Dan abaixou e pegou um dos baús que estava em um dos cantos da “caverna”. Saindo da “caverna”, Dan virou-se para os Pés Grandes e disse:
__Zig e Cliffe, tragam os outros baús e, Maya, se você não levantar nós vamos deixa-la para trás, para servir de comida para os Lobisomens!
Após Dan sair, Maya deu um pulo em pé e saiu atrás dele.
__Espere, você não está querendo dizer que eu vou ter que entrar naquele bosque? Ele é... espinhoso e pode arranhar a minha pele!
Louise ouviu Maya falando e foi até Dan, com um agradável sorriso no rosto.
__Ah, você acordou Maya?
__Isso é coisa sua, não é, Longbottom? __perguntou Maya pondo a mão na cintura e fazendo um horrível bico.
__Não tenho nada a ver com isso. Mas, se você não queria entrar no Bosque Espinhoso, não deveria ter nos seguido! Agora, agüenta as conseqüências.
__Escuta, Louise, você não está pensando que nós vamos carregar esses baús pesados nas costas novamente, está? __perguntou Cliffe aproximando-se do grupo e jogando o enorme baú no chão.
__É, nós não somos burros de carga! __protestou Zig.
__Há burros em Aragorn? __murmurou Lisa.
__Não queira nem saber! __sussurrou Peter.
__Não se preocupem, hoje eu serei mais gentil com vocês dois!
Louise aproximou dos baús e sacou a varinha. Aos aponta-la para eles, os baús diminuíram de tamanho e se transformaram em pequenas miniaturas que cabiam na palma da mão.
__Agora, ponham isso no bolso e não percam por nada!
__Engraçadinha ela, né?
Louise não deu atenção ao comentário e fez o baú de Dan diminuir de tamanho. Nesse meio tempo, Maya sentara-se sobre uma pedra, cruzara os braços e a pernas e ficara parada como uma estátua de parque.
__Pois bem, daqui eu não saio!
__O quê? __perguntaram todos.
__Vocês me ouviram bem. Eu não vou!
__Não vai? __Louise ergueu as sobrancelhas e virou-se para Dan com o mesmo sorriso de antes__ Dan, quer fazer as gentilezas?
__Com prazer!
Dan estralou os dedos e aproximou-se de Maya.
__Não se atreva! Ah!
Mas já era tarde para Maya desvencilhar-se. Dan já a havia pegado pela cintura e estava a meio caminho de joga-la sobre o ombro.
__ME SOLTA SEU BRUTA MONTES! AH!
Por mais que Maya reclamasse, gritasse, esperneasse ou socasse as costas de Dan, o rapaz não a soltava. No entanto, depois de quase três horas andando dentro do Bosque Espinhoso na direção em que a bússola de Louise apontava, Maya ainda continuava aos berros.
__QUANDO EU VOLTAR, MEU PAI VAI SABER DE TUDO QUE ACONTECEU E VAI TOMAR A DEVIDAS PROVIDENCIAS. OUVIRAM? AGORA, ME SOLTA!
__Será alguém dá para calar a boca dela? __disse Cliffe cutucando o ouvido com o dedo mindinho__ Eu já estou ficando surdo!
À frente do grupo, Louise e Tom abriam caminho entre algumas árvores que pareciam ser centenárias. Naquela altura do tempo, a clareira em que eles estavam se transformara num grande lugar fechado onde a luz do sol quase não penetrava devido à altura e a proximidade das árvores. Diferente da visão que eles haviam tido quando pousaram na clareira, as árvores deixaram de ser menos secas e passaram a ter mais folhas, no entanto, não deixaram o aspecto sombrio dos troncos serem afastados da visão de todos.
__Por que eles chamam esse lugar de bosque? Ele parece mais uma floresta! __disse Peter.
__Na verdade ele era um bosque, a princípio, mas a vegetação cresceu tanto que esse lugar se transformou numa floresta espinhosa __comentou Tom__ Mas mesmo evoluindo, as pessoas ainda continuaram a chamar esse lugar de bosque. Para onde agora, Louise?
__Deixe-me ver!
Louise apontou a varinha para a bússola e minutos depois um raio de luz penetrava entre as árvores na direção norte.
__Para o norte agora __Louise guardou a bússola e olhou para o alto das árvores__ Acho melhor pararmos um pouco!
__Está certo! __disse Tom.
__Até que em fim __disse Maya__ eu já estava ficando cansada de... ah!
Dan soltou Maya e esta caiu de costas sobre um monte de folhas secas.
__Seu grosso!
Maya levantou-se do chão e parou de súbito ao ouvir algo se mexendo por trás dela.
__O que foi, Maya? __perguntou Dan.
__Pensei ter ouvido algo rastejar por trás de mim!
__Admite, Maya __disse Zig rindo__ você nem mal entrou no bosque e já está se borrando de medo!
__Com medo, eu? Ora!
Maya tirou as folhas da sua roupa e escorou-se num tronco de uma árvore olhando atentamente para os lados. Ao encostar-se ao tronco, Maya viu um besouro e caiu para trás num grande grito. Nessa hora, Zig e Cliffe caíram na gargalhada.
__Eu aposto que ela não dura mais duas horas sem borrar as calças! __disse Zig.
__Três horas já é o suficiente! __exclamou Cliffe.
__Apostado! __disseram os dois.
__Não sejam tão maus! __repreendeu Lisa rindo ao passar por eles__ O que você acha, Louise? Será que vamos demorar muito para encontrarmos Madame Geoffrin?
__Não sei dizer, Lisa! O Bosque Espinhoso é gigantesco, é mais provável que demoraremos uns dois dia para encontra-la. Ainda bem que temos essa bússola enfeitiçada, caso contrário, passaríamos a eternidade nesta busca!
Enquanto Lisa e Louise conversavam, algo rastejava atrás das duas, passando por baixo das folhas e seguindo lentamente na direção delas.
__Acho melhor procurarmos uns gravetos para fazermos uma fogueira. Acredito que todos devem estar com fome! __disse Dan.
__Eu e Peter vamos com você, Dan!
Tom levantou-se de cima de uma raiz e seguiu Dan e Peter á procura de gravetos. Ao levantar-se, a raiz se moveu sem que ele percebesse.
__Essas árvores são estranhas, não acham? __perguntou Peter enquanto enchia os braços de gravetos.
__Elas são centenárias. Acredito que isso as deixe tão sombrias... __disse Tom afastando-se de Dan e Peter.
Peter pulou uma grossa raiz sobre a terra e caminhou-se na direção de alguns galhos que estavam caídos a sua frente. Ao abaixar-se para pegar um graveto coberto por folhas, Peter estendeu a mão e assustou-se ao ver o graveto entrando na terra.
__Dan, gravetos podem se mover?
__Não, Peter! __disse Dan recolhendo alguns gravetos no chão. Ao pensar no que Peter acabara de dizer, Dan ergueu-se assustado__ Gravetos podem o quê?
Entrementes, Tom analisava curiosamente uma árvore de coloração acinzentada que tinha um enorme caule. Aproximando-se dela, Tom passou a mão na sua casca e sentiu que a árvore havia estremecido.
Nesse meio tempo, Maya havia escutado novamente algo rastejar próximo a ela. Andando como uma barata tonta, Maya passou os olhos por todos os cantos tentando encontrar o que havia rastejado. Quando Maya passou por trás de Lisa e Louise, alguma coisa grossa se mexeu debaixo dos seus pés.
__Lisa, Louise!
__O que foi Maya? __perguntou Louise sem paciência.
__Tem alguma coisa se mexendo aqui!
Maya apontou o dedo para baixo e afastou-se lentamente do local.
__Isso deve ser sua imaginação e...
Mas antes de Louise terminar a frase, algo rastejou por trás dela. Louise levantou-se assustada e olhou para os lados.
__Vocês ouviram?
__O quê, Louise? __perguntou Cliffe se aproximando.
Mas Louise não respondeu. Seus olhos vagavam pelo emaranhado de raízes cobertas por folhas secas que se se destacava no chão. Algo havia se mexido em algum lugar. Não era imaginação dela e nem de Maya. Mas, o que era?
Longe do grupo, Tom continuava a tocar a curiosa árvore que estremecia quando era tocada por ele. Ao olhar para o alto e ver que ao redor dele havia várias árvore do mesmo aspecto e que os longos galhos delas estavam se movendo de um lado para o outro sem haver vento, Tom deixou os gravetos, que segurava, cair no chão e afastou-se rapidamente para trás. Porém, ele tropeçou numa raiz e caiu de costas sobre um monte de folhas secas.
Ao olhar ao seu redor, Tom viu que milhares de raízes estavam cobertas pelas folhas secas e que essas raízes se moviam como cobras abaixo do seu corpo.
__Ah, não!
Não tão longe dali, Louise e Maya ainda continuavam a procurar pelo que havia rastejado abaixo das folhas. Quando elas menos esperavam, algo se mexeu atrás de Lisa e passou por baixo de seus pés.
__Vocês ouviram? __disse Lisa pondo-se de pé.
Louise teve um mau pressentimento e arrepiou-se ao ouvir um novo rastejar, desta vez em todas as partes ao redor deles.
__O que foi isso? __perguntaram Zig e Cliffe pondo-se de pé.
__Parece que tem algo se mexendo debaixo dos nossos pés!
Maya temeu em abaixar os olhos para ver o que se mexia debaixo de seus pés e ficou intacta onde estava. Quando ela se encheu coragem já era tarde.
Rapidamente algo saiu dentre as folhas e subiu por entre as pernas de Maya, agarrando-a. De repente...
__Ah!
Entre a vida e a morte
Numa velocidade assustadora, Maya foi arrastada pelo bosque afora por uma enorme raiz.
__Socorro! __gritava Maya.
__Maya! __gritou Louise.
Porém antes de Louise sacar a varinha, várias raízes saíram debaixo das folhas e agarraram nos pés de todos. Um por um, eles foram erguidos no ar e depois arrastados pelo bosque afora.
Ao ouvir os gritos dos outros, Dan e Peter largaram os gravetos e correram para ver o que era. No entanto, duas raízes saíram da terra e pegaram os dois. Dan conseguiu destruir a raiz com um feitiço, mas Peter não teve a mesma sorte.
Tom por sua vez, levantara-se do chão para ajudar, mas as milhares de raízes que rastejavam aos seus pés o agarraram e o ergueram para o alto.
__Dan, socorro! __gritou Tom enquanto tentava se desvencilhar das raízes que agora prendiam os seus braços e se enrolavam em seu pescoço.
Nesse meio tempo em que Tom gritava por socorro, Peter estava com o corpo totalmente enrolado pelas raízes e estava sendo arrastado pelo bosque. Vendo o que estava havendo, Dan correu atrás das raízes e apontou o dedo para elas.
__Diffindo!
Uma grande faísca de luz vermelha envolveu as raízes e as cortou em vários pedaços.
__Obrigado, cara! __disse Peter__ Pensei que não ia me livrar delas.
__Não tem de quê, agora vá atrás dos outros e tente liberta-los. Eu vou ajudar Tom, ok?... Ahn... Peter, cuidado para não mirar nas raízes e acertar algum deles!
__Pode deixar!
Dan pulou um tronco de uma árvore caída e correu para onde Tom havia gritado. Ao chegar lá, Dan viu várias raízes se movendo de um lado para o outro e uma enorme poça d’água no chão. Porém, Tom não parecia estar mais lá.
__Ah, não! Cheguei tarde demais!
As raízes puxavam Louise e os outros por entre as folhas caídas, fazendo com eles rasgassem suas roupas e se arranhassem em galhos caídos e batessem em troncos ou pedras.
Tentando se desvencilhar delas, Louise pegou a varinha e apontou várias vezes para a raiz que a puxava, no entanto, nenhum feitiço as acertou. Até que na última tentativa, Louise mirou bem e atirou.
__Diffindo!
A faísca cortante da luz vermelha atingiu a raiz e a partiu em dois pedaços. Louise levantou-se do chão, tirou um pedaço de raiz que ainda estava agarrado a sua perna e apontou a varinha para o emaranhado de raízes que arrastavam, rodopiavam e sacolejavam os outros.
Numa grande faísca de luz vermelha, as raízes de Lisa e Zig se romperam e os dois caíram no chão.
__SERÁ QUE DÁ PARA ME AJUDAR!
Maya era a que mais estava gritando. Mas também, não era para tanto. A garota estava sendo rodopiada de um lado para o outro e ainda sendo disputada por outras raízes que tentavam agarra-la.
Imediatamente após libertar Lisa e Zig, Louise ergueu a varinha, no entanto, algo bateu contra a sua barriga e...
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