Biblio "SEBO"
Entre a vida e a morte
Numa velocidade assustadora, Maya foi arrastada pelo bosque afora por uma enorme raiz.
__Socorro! __gritava Maya.
__Maya! __gritou Louise.
Porém antes de Louise sacar a varinha, várias raízes saíram debaixo das folhas e agarraram nos pés de todos. Um por um, eles foram erguidos no ar e depois arrastados pelo bosque afora.
Ao ouvir os gritos dos outros, Dan e Peter largaram os gravetos e correram para ver o que era. No entanto, duas raízes saíram da terra e pegaram os dois. Dan conseguiu destruir a raiz com um feitiço, mas Peter não teve a mesma sorte.
Tom por sua vez, levantara-se do chão para ajudar, mas as milhares de raízes que rastejavam aos seus pés o agarraram e o ergueram para o alto.
__Dan, socorro! __gritou Tom enquanto tentava se desvencilhar das raízes que agora prendiam os seus braços e se enrolavam em seu pescoço.
Nesse meio tempo em que Tom gritava por socorro, Peter estava com o corpo totalmente enrolado pelas raízes e estava sendo arrastado pelo bosque. Vendo o que estava havendo, Dan correu atrás das raízes e apontou o dedo para elas.
__Diffindo!
Uma grande faísca de luz vermelha envolveu as raízes e as cortou em vários pedaços.
__Obrigado, cara! __disse Peter__ Pensei que não ia me livrar delas.
__Não tem de quê, agora vá atrás dos outros e tente liberta-los. Eu vou ajudar Tom, ok?... Ahn... Peter, cuidado para não mirar nas raízes e acertar algum deles!
__Pode deixar!
Dan pulou um tronco de uma árvore caída e correu para onde Tom havia gritado. Ao chegar lá, Dan viu várias raízes se movendo de um lado para o outro e uma enorme poça d’água no chão. Porém, Tom não parecia estar mais lá.
__Ah, não! Cheguei tarde demais!
As raízes puxavam Louise e os outros por entre as folhas caídas, fazendo com eles rasgassem suas roupas e se arranhassem em galhos caídos e batessem em troncos ou pedras.
Tentando se desvencilhar delas, Louise pegou a varinha e apontou várias vezes para a raiz que a puxava, no entanto, nenhum feitiço as acertou. Até que na última tentativa, Louise mirou bem e atirou.
__Diffindo!
A faísca cortante da luz vermelha atingiu a raiz e a partiu em dois pedaços. Louise levantou-se do chão, tirou um pedaço de raiz que ainda estava agarrado a sua perna e apontou a varinha para o emaranhado de raízes que arrastavam, rodopiavam e sacolejavam os outros.
Numa grande faísca de luz vermelha, as raízes de Lisa e Zig se romperam e os dois caíram no chão.
__SERÁ QUE DÁ PARA ME AJUDAR!
Maya era a que mais estava gritando. Mas também, não era para tanto. A garota estava sendo rodopiada de um lado para o outro e ainda sendo disputada por outras raízes que tentavam agarra-la.
Imediatamente após libertar Lisa e Zig, Louise ergueu a varinha, no entanto, algo bateu contra a sua barriga e a jogou para longe.
__Louise!
__Diffindo!
As raízes, que antes haviam estrangulado Tom, estavam atacando Dan com extrema ferocidade. O rapaz, com o ódio fervilhando em suas veias, transformava as raízes em pequenos pedacinhos de madeira com seu feitiço cortante. Mal sabia ele que enquanto lutava contra as raízes, a enorme poça d’água estava tomando forma e se transformando num homem.
Desviando-se de uma raiz que vinha na sua direção, Dan deu um salto para o alto e lançou um feitiço contra a raiz, cortando-a. Porém, para a sua surpresa, quando Dan pisou na terra novamente, uma raiz surgiu por trás dele e veio como um grande chicote contra seu corpo. Quando Dan menos esperou, algo molhado o empurrou para longe e a raiz bateu contra o chão, abrindo uma grande vala.
Ao levantar-se meio zonzo pelo tombo, Dan olhou para o lado e viu uma água saindo de sua roupa e se unindo aos pés de um homem que acabara de passar de água para um ser de carne e osso. Para seu espanto, era Tom quem estava ao seu lado!
__Diffindo!... Diffindo!... Diffindo!... Diffin...
__SERÁ QUE DÁ PARA VOCÊ ACERTAR PELO MENOS UM!
Enquanto Maya abria a boca até no canto para que Peter acertasse a raiz e a libertasse, Lisa corria por entre as raízes até chegar onde Louise estava caída.
__Louise! Louise, você está bem?
__Estou... um pouco zonza!... Cuidado, Lisa, atrás de você!
Lisa virou-se e viu uma enorme raiz vindo em sua direção. Rapidamente ela ergueu a varinha e apontou para raiz. Porém, antes de pronunciar um feitiço, uma bola de luz saindo de trás de uma árvore atingiu a raiz e a explodiu em cinzas.
__Vocês estão bem? __perguntou Tom aproximando-se com Dan.
__Louise foi arremessada contra essa árvore! __disse Lisa.
__Não se preocupem, eu estou bem! __disse Louise levantando-se com a ajuda de Tom__ Talvez, com uma ou duas costelas quebradas, mas... estou bem!
__Isso não é hora para brincadeiras, Louise! __advertiu Tom.
__Diffindo!
Finalmente, depois de tentativas frustrantes, Peter conseguiu acertar a raiz e libertar Maya. A garota irritante despencou de uma altura de quase cinco metros e caiu de cara sobre um monte de folhas. Ao levantar-se um tufo de folhas secas saíram de sua boca e de seus cabelos.
__Hei! Vocês esqueceram de mim? __gritou Cliffe do alto do bosque sendo balançado de um lado para o outro.
__Imobila!
Um grande flash de luz branca saiu da ponta da varinha de Louise e imobilizou as raízes. Cliffe dobrou o corpo para o alto e soltou a raiz de seus pés. De repente, o Pé Grande despencou do alto e caiu de costas no chão.
__Ai!
__O quê exatamente é isso? __perguntou Dan passando entre as raízes imobilizadas pelo feitiço de Louise.
__São raízes de uma árvore conhecida como Chicoteira __respondeu Tom__ É uma espécie muito rara que só existe, se não me engano, neste bosque! Como o próprio nome diz, ela possui raízes que dão chicotadas.
__Mas, porque elas fazem isso? __perguntou Peter.
__Para se alimentarem! A intenção delas era nos cansar e depois nos estrangular pouco a pouco até que nossos ossos se esmaguem...
__E depois?
__Depois? Bom... provavelmente elas nos comeriam por uma espécie de boca que existe no subsolo. Terríveis, não?
Enquanto Peter escutava receoso as histórias que Tom contava sobre Chicoteiras que comeram pessoas, Maya não desgrudava os olhos das raízes imóveis sobre a sua cabeça.
__Louise, tem certeza de que você está bem? __perguntou Lisa ao ouvir Louise dando alguns gemidos.
__Certeza absoluta. Não se preocupe, é só um dolorido bobo!
__Escuta, não tem perigo essas raízes voltarem ao normal, não? __perguntou Maya preocupada.
Louise levantou de cima da pedra e olhou para o alto. Ao reparar que elas tremiam vagamente, Louise virou-se para os outros e disse:
__Acho melhor irmos. Elas podem voltar ao normal a qualquer hora.
__Para onde nós devemos ir agora? __perguntou Dan.
__Deixe-me ver!
Louise tirou a bússola rapidamente do bolso e apontou a varinha para ela. Em seguida, um raio de luz cortou as sombras do bosque e apontou para o norte.
__Devemos continuar para o norte!
Louise guardou a bússola e olhou para o alto. Em seguida ela disse:
__Vamos logo! O feitiço não vai agüentar por muito tempo e, além do mais, eu não quero virar comida de uma árvore carnívora!
Louise e Tom voltaram a puxar o grupo e saíram na frente. Por trás, Maya e Peter se afastavam sem desgrudar os olhos das Chicoteiras. Devido à cisma delas voltarem atacar, Maya não viu uma raiz e tropeçou nela levando um grande tombo para cima de Peter.
__Olhe para onde anda!
Maya ergueu-se rapidamente e fez um horrível bico para Peter. Nesse meio tempo, Zig também não desgrudava os olhos da copa das Chicoteiras.
__Anda, pessoal! Andem logo! Quando mais rápido nós sairmos daqui, melhor será __disse Tom virando-se para os outros que estavam contando os passos ao ficarem olhando para o alto.
Depois que todos adiantaram seus passos, Zig parou e novamente ergueu os olhos para a copa das Chicoteiras. Ao ver que no alto delas os galhos balançavam ameaçadoramente, ele virou-se para os outros e gritou:
__Hei, Tom!
__O que foi, Zig?
__Esses galhos balançam mesmo depois de estarem imobilizados?
__Não. Por que está...?
Mas antes de Tom terminar a pergunta, Louise ergueu os olhos para o alto e o cutucou na costela. Vendo que Louise observava alguma coisa, Tom ergueu os olhos para o alto e se deparou com milhares de galhos ricocheteando o ar num balé ameaçador.
__Zig, sai já daí! __gritou Tom.
Assim que Tom gritou, Zig olhou para o alto e viu uma enorme Chicoteira dobrando o tronco para esmagar o Pé Grande com seus galhos enormes. Zig deu um grande grito e saiu correndo.
Nesse momento, os galhos da Chicoteira desceram esmagadoramente sobre Zig. O Pé Grande deu um enorme pulo e as galhadas da árvore bateram contra o chão levantando uma nuvem de poeira e folha ao mesmo tempo.
__Zig! __gritou Cliffe.
Instantes depois das galhadas tocarem o chão, a Chicoteira ergueu-se novamente e num novo balé ameaçador, os galhos desceram contra a terra numa forca duas vezes mais esmagadora. No entanto, Zig já havia levantado a tempo dentre a poeira e corrido para longe.
Num grande baque, as galhadas bateram no chão e ergueram-se deixando enormes valas no solo.
__Zig, você está bem? __gritou Louise vendo o Pé Grande recostando-se a uma enorme árvore.
__Estou bem, mas... __Zig olhou para o alto e deixou seu queixo cair ao ver às árvores ao seu redor ricocheteando o ar __ Ah, não!
Entrementes, Lisa e os outros olharam para cima e desesperaram correr ao verem as centenas de Chicoteiras descendo ao encontro deles.
__Corram!
Por mais que todos corressem, os galhos desciam esmagadoramente contra o chão e chacoalhavam a terra destruindo tudo pela frente. A cada passo que Lisa dava, um galho batia sobre a marca de seus passos abrindo valas enormes. Quando todos menos esperavam, Chicoteiras de um lado e de outro atacaram-nos repentinamente.
Louise, Tom e Maya receberam uma enorme galhada e se separaram do grupo. Em seguida, uma outra Chicoteira desceu contra Dan e Cliffe e apenas o baque dos galhos no chão jogaram os dois, juntamente com terra e folhas secas, numa distância de quase três metros.
Lisa e Peter por sua vez, pularam sobre um tronco de uma árvore seca e viram de relance uma galhada chocar-se contra o tronco e transforma-lo em migalhas de madeira.
Nesse momento, Peter enroscou seu pé numa raiz e caiu, derrubando Lisa. Antes dos dois conseguirem levantar, uma outra Chicoteira desceu esmagadoramente sobre os dois e...
Louise, Tom e Maya corriam por uma área do bosque onde havia um grande corredor de terra como se algo terrivelmente grande houvesse passado por ali. No entanto, nem assim eles estavam livres das Chicoteiras.
Ao passarem próximo a um barranco, centenas de raízes se desprenderam da terra e agarraram-nos pelas pernas, pelos braços e pelo pescoço, prendendo-os ao barranco e os estrangulando.
Pensando rapidamente, Louise tirou a varinha do bolso com dificuldade e apontou para uma fina raiz que prendia suas pernas. No entanto, uma outra raiz se desprendeu do barranco e agarrou seu braço. Tentando apontar a varinha para algum alvo, Louise pronunciou um feitiço e de súbito a raiz que prendia seu braço esquerdo se cortou.
Pegando a varinha da outra mão, Louise cortou a raiz que prendia seu pescoço e depois cortou as outras. Libertando-se, Louise virou-se para Maya e apontou a varinha.
__Diffindo!
Várias faíscas vermelhas saíram da ponta da varinha e libertaram Maya.
Voltando-se para Tom, Louise apontou a varinha, mas, o rapaz já estava acabando de virar água e escorrer entre as raízes que tentavam agarra-lo. Após escorrer pelo chão, a água se juntou e uma forma material de um homem surgiu, impressionando Maya e Louise.
__Genial! __disse Maya.
__Eu sei que é genial, mas nós temos que correr! __disse Tom vendo os galhos de um Chicoteira quebrando outras árvores para ataca-los.
__Corram! __gritou Louise.
Logo após os três saírem correndo, a Chicoteira bateu seus galhos no chão e levantou uma grande nuvem de poeira. Nesse meio tempo, Louise, Maya e Tom já estavam distantes tentando fugir de uma outra Chicoteira que balançava seus galhos na direção deles.
Os galhos da Chicoteira desceram do alto e riscaram o ar, produzindo longos zumbidos agudos. Quando Maya menos esperou, uma raiz saiu da terra e agarrou em seus pés, derrubando-a.
__Ah! Socorro!
Louise voltou para trás e cortou a raiz rapidamente. Porém já era tarde, os galhos da Chicoteira desceram numa força esmagadora contra as duas e...
Lisa e Peter tiraram rapidamente a varinha dos bolsos e apontaram para as galhadas que desciam assustadoramente contra eles.
__Imobila!
Rapidamente, um grande flash de luz invadiu o bosque e ofuscou os olhos de Lisa. Quando ela olhou para frente, os galhos da Chicoteira estavam imobilizados a menos de um metro dela. Para surpresa e espanto de Lisa, Peter também estava paralisado ao seu lado. Mas também não era para tanto! Peter havia pegado a varinha pela ponta errada e acabara acertando ele mesmo com o próprio feitiço.
__É só o que me faltava! __disse Lisa arrastando Peter pela gola da camisa para bem longe dos galhos imobilizados da Chicoteira.
Deixando Peter encostado numa pedra, Lisa pegou a varinha e apontou para ele.
__Finite Encantatem!
Logo após a execução do feitiço, Peter se moveu e começou a gritar assustado e bater as mãos contra o ar.
__Socorro!... Socorro!... Eu não quero ser esmagado! Ah!
__Peter!... Peter! __chamava Lisa__ PETER!
Peter parou de se debater e olhou de esguelha entre os braços para Lisa. Em seguida ele pulou em pé e ficou rodando para os lados como uma barata tonta.
__Cadê? Cadê?... Como viemos parar aqui?
Lisa suspirou e disse:
__Você pegou na ponta errada da varinha e acabou se imobilizando enquanto eu imobilizava aquela árvore maluca!
__Ah... é mesmo?
Peter olhou para a varinha e viu que ele a segurava de ponta cabeça. Depois de virá-la o rapaz de uma risada sem graça e disse:
__Acidentes acontecem!... Ahn... e os outros?
__Parece que na correria nós nos separamos...
__Será que algum deles... bom... ahn... está bem?
__Espero que sim! Mas, nós temos que encontra-los e... não acredito que vou dizer, mas... essa aventura está ficando muito perigosa para que nós cheguemos até o fim!
__Você está pensando... em desistir? Reunir todos e encontrar um meio de sair daqui?
__Não sei, Peter! Mas, depois de encontrarmos os outros nós veremos o que vai acontecer... Eu acredito que eles não devem estar muito longe.
Lisa colocou as duas mãos em forma de cone na boca e começou a gritar pelos outros. Peter fez o mesmo, mas os gritos foram em vão. Dentro do bosque apenas dava-se para escutar os ecos dos gritos e alguns retinir dos galhos das Chicoteiras chicoteando o ar.
__Não adianta gritarmos, Lisa! __disse Peter__ Vai ser inútil. Acho melhor tentarmos encontra-los... um sinal... algo que os localizasse...
__Claro! Porque não pensei nisso?
Lisa sacou a varinha e apontou para o alto do bosque.
__Periculum!
Da ponta da varinha, uma bola de luz saiu e subiu para o céu. No alto do bosque, a bola de luz explodiu como um fogo de artifício dando o sinal que Lisa queria.
Nesse meio tempo, Dan e Cliffe estavam escondidos atrás de uma árvore, totalmente sujos de terra e com folhas secas penduradas por todos os cantos do corpo. Atrás deles, uma Chicoteira batia seus galhos contra a terra e erguia-se novamente para ataca-los.
Dan andou em volta do pé da árvore e olhou para os lados para ver se havia algum lugar seguro para os dois saírem correndo. Porém era impossível. A sua direita e a sua esquerda havia duas Chicoteiras. O mesmo valia para as suas costas.
__O que vamos fazer agora? __perguntou Cliffe olhando para os lados.
__Temos que correr... para frente. Ser rápido... Está pronto?
Cliffe olhou para a sua frente e viu vários troncos de árvores caídos, algumas pedras e um emaranhado de raízes que não pareciam ser raízes de Chicoteiras.
__Não temos muita opção, não é? __disse Cliffe.
__Certo... No três __Dan olhou novamente para os lados para assegurar-se de que nenhuma Chicoteira iria ataca-los enquanto corriam e suspirou forte__ Um... dois... TRES!
No três, Dan e Cliffe saíram correndo ao mesmo tempo em que duas Chicoteiras __uma da esquerda e outra da direita__ rodaram seus galhos no alto e desceram contra a terra.
Na primeira Chicoteira, Dan e Cliffe saíram pulando sobre os troncos das árvores à medida que os galhos batiam as costas deles, destruindo tudo pela frente. Porém, na segunda Chicoteira, Dan tropeçou no emaranhado de raízes e caiu.
Nesse momento, os galhos desceram repentinamente sobres os dois numa força esmagadora. Porém, antes dos galhos atingirem os dois, Cliffe saltou sobre um tronco de uma árvore caída, fechou a mão direita e deu um grande murro na terra.
De repente várias pontas gigantescas de terra emergiram do chão e formaram um grande escudo sobre Dan e Cliffe. Nesse mesmo instante, as galhadas bateram contra o escudo de terra e recuaram para trás.
__Você está bem, Dan? __perguntou Cliffe depois de ver o alto de seu escudo rachar.
__Estou e... a propósito, você foi genial!
__Obrigado, mas é melhor corrermos. Esse escudo de terra não vai agüentar mais um ataque!
__Certo, vamos!
No mesmo instante em que Dan e Cliffe saíram correndo debaixo do escudo, as galhadas bateram contra ele e o destruíram em questão de segundos, fazendo uma grande nuvem de poeira subir para o alto.
Já estando bem longe das Chicoteiras, Cliffe não acreditava que ele e Dan conseguiram sair de lá a tempo.
__Foi por pouco! __exclamou Cliffe.
__Que dia louco! __disse Dan.
__É, eu sei! Mas, Dan, como vamos...
Mas antes de Cliffe terminar a sua frase, um grande estouro foi ouvido por eles seguido de um flash de várias luzes coloridas que iluminaram o céu.
__O que foi isso? __perguntou Cliffe.
__É um sinal! __disse Dan alegrando-se__ Os outros devem estar mandando sinais para nós os encontrarmos... Devem estar feridos!
__Então, o que estamos esperando? Vamos encontra-los!
Cliffe e Dan desceram uma pequena barranceira e pararam de chofre ao ouvirem algo rolando logo à frente deles.
__O que você acha que foi isso? __perguntou Cliffe.
__Vamos ver!
Dan e Cliffe suspiraram forte e deram passos lentos, sempre olhando para os lados e certificando-se de que nada os atacariam. Ao chegarem numa parte mais plana do terreno, os dois pararam e olharam para os lados. De repente, algo gemeu no meio da barranceira e despencou até cair aos pés dos dois.
Tom correu até Maya e Louise e se transformou numa grande correnteza de água. De repente a correnteza carregou as duas ao mesmo tempo em que os galhos da Chicoteira batiam contra a água e provocavam enormes ondas.
As ondas carregaram Maya e Louise para bem longe das Chicoteiras, numa área plana onde a presença de árvores era quase escassa. Jogando-as contra a terra, a água recolheu-se num grande redemoinho e juntou-se numa forma material, Tom ressurgia novamente.
Maya levantou do chão toda molhada e pôs para fora a água que tinha engolido através de grandes tossidos secos. Louise, por sua vez, levantou-se apressadamente e enfiou a mão no bolso da calça. Ao tirar a bússola toda quebrada de seu bolso, Louise caiu de joelhos no chão e olhou para Maya e Tom.
__Quebrada! A bússola está quebrada!
__Louise, eu sinto muito __disse Tom andando na direção de Louise arrastando uma das pernas.
__E agora? __perguntou Maya.
__Estamos definitivamente perdidos sem a bússola. Não vamos conseguir sair desse lugar sem ela e... __Louise virou-se para Tom e viu que uma de suas pernas sangrava__ Tom você está ferido!
__Não é nada, Louise __disse Tom sentando-se com dificuldade sobre uma pedra__ Foi só um corte bobo!
Tom tirou a mão de cima da batata da perna e revelou um grande corte profundo que aparentemente parecia ter quase um dedo de profundidade. Além da perna, o rapaz possuía cortes leves no rosto, no braço e um rasgado na costela.
__Como não foi nada? __repreendeu Louise se aproximando__ Deixe-me ver... Ah, Tom! Deve estar doendo muito!
__Só um pouco... Ahn, e vocês? Estão bem? Machucaram-se?
__Não, acho que não! __respondeu Maya dando um último tossido.
__Que bom! __murmurou Tom dando pequenos gemidos de dor__ Acredito que subestimei as Chicoteiras!
__Tom você precisa...
Mas antes de Louise terminar a frase, uma grande bola de luz colorida explodiu no alto do bosque lançando pequenas faíscas para os lados.
__É um sinal, Louise __disse Tom com dores__ Eles estão mandando sinais para que nós o encontremos. Acho melhor continuarmos andando se quisermos encontra-los antes do anoitecer...
Tom apoiou-se na pedra e tentou levantar. Porém, a sua perna estava tão ferida que o rapaz caiu para trás, batendo-a contra a pedra.
__Tom você não está em condições de continuar! __disse Louise ajudando-o a sentar-se novamente sobre a pedra__ Eu vou mandar um sinal para os outros. Assim saberão que nós estamos aqui. Quem sabe eles não vem ao nosso encontro?
Louise puxou a varinha e apontou-a para o céu. Segundos depois, uma bola de luz subiu rodopiando para o céu e explodiu lançando um grande flash luminoso assemelhando-se a um fogo de artifício.
__Periculum!
Zig caiu esborrachado aos pés de Dan e Cliffe. O Pé Grande estava mais sujo do que o normal e tinha vários cipós embolados ao seu corpo.
__Zig! __exclamaram Dan e Cliffe ao verem-no.
__Olá!
__O que aconteceu, Zig... espera aí, você não desceu rolando a barranceira, desceu? __perguntou Dan ajudando Zig levantar-se.
__É uma longa história, Dan __disse Zig chacoalhando a cabeleira cheia de terra__ Mas, onde estão os outros?
__Nós nos separamos deles enquanto fugíamos __disse Cliffe__ Você não viu o sinal que eles mandaram, não?
__Eu estava rolando, lembra?
__Ah...
Cliffe abriu a boca para dizer algo quando duas bolas de luz, em lados opostos, explodiram no céu.
__E agora? __perguntou Cliffe__ Quem nós vamos ao encontro primeiro?
__Aqueles que estão mais perto de nós... __disse Dan__ Seguiremos aquele sinal.
Dan apontou o dedo para o leste onde uma bola de luz estava se desintegrando em pequenos pontos luminosos. Em seguida ele virou-se para Zig e disse:
__Vamos! No caminho você nos conta o que houve, Zig!
__E então, o que foi mesmo que aconteceu? __perguntou Cliffe.
__Se eu contar vocês não vão acreditar! Eu estava fugindo daquelas árvores assassinas quando...
__Você viu aquele sinal? __perguntou Peter enquanto guardava a varinha no bolso da calça.
__Vi __respondeu Lisa__ Eles viram nosso sinal e mandaram outro.
__E agora, Lisa? O que vamos fazer? Vamos ir até eles?
__Não podemos, Peter __disse Lisa olhando ao redor__ O sinal veio de longe e provavelmente da direção das Chicoteiras. Além do mais, acredito que eles apenas responderam ao nosso sinal para dizerem que estão bem. Devemos ficar aqui e esperar até que eles nos encontrem. Enquanto isso nós devemos mandar sinais regularmente para ajudá-los a nos encontrar.
__Está bem!
Lisa e Peter sentaram-se sobre alguns troncos de árvores e esperaram até anoitecer. Nesse meio tempo, Louise também esperava preocupada com o ferimento de Tom.
__Até agora eles não nos encontraram __disse Louise aproximando-se de Tom__ Por que eles estão demorando? Será que não passou na cabeça deles que alguém pode estar ferido e...
__Louise, eu já disse, eu estou bem!
__Não, não está! __disse Louise voltando-se para a perna de Tom__ Se nós não tratarmos esse ferimento, Tom, ele pode infeccionar e...
__Louise, escuta, eu estou bem __Tom pegou no queixo de Louise e aproximou-se dela__ Nada vai acontecer com minha perna e, além do mais, eles já devem estar quase nos encontrando e...
Tom e Louise fixaram os olhares e aproximaram os rostos um do outro. Nesse momento, Maya apareceu com uma grande folha na mão e deixou-os sem graça.
__Eu encontrei um riacho atrás daquelas árvores e trousse um pouco de água nessa folha para...
Louise afastou-se de Tom e pegou a varinha que deixara sobre uma pedra.
__Eu vou mandar mais um sinal para os outros!
__Faça isso, Louise __disse Tom__ E Maya, me dê essa água aqui!
Louise foi para longe dos dois e parou sobre um tronco de árvore. Depois de olhar para trás, ela virou-se para o céu estrelado e apontou a varinha.
__Periculum!
__Dan, já estamos andando há horas! __disse Cliffe.
__Se quisermos encontrar os outros, não podemos parar!
__Dan, não podemos continuar! Já anoiteceu e é perigoso continuarmos e, além do mais, nós já estamos...
Dan virou-se para trás e escutou a barriga de Zig roncando. Nesse momento, a barriga dele também roncou de fome e o rapaz voltou atrás.
__Está bem. Vamos parar e encontrar algo para comer. Mas, quando amanhecer, nós vamos voltar a procura-los.
__Achar comida não vai ser problema...
Cliffe enfiou a mão no bolso e tirou um baú em miniatura. Em seguida, Zig também tirou um do bolso e, nesse instante, Dan lembrou-se que também possuía um em seu bolso.
__Só lamento que eles não vão ter nada para comer! __disse Cliffe.
Dan olhou para o pequeno baú cheio de comida na palma da sua mão e depois voltou o olhar para a bola de luz que mais uma vez explodia no alto do bosque. Naquele momento, ele desejou não ter saído da Fonte Phoenix.
A noite parecia apenas o início de uma eternidade para todos. Com ela, a fome, o frio, a cede e o medo os transformaram em alvos fáceis, exceto para Dan e os Pés Grandes que estavam com os baús cheios de comida e cobertores.
Para vencerem a fome, Peter encontrou alguns ratos silvestres e assou-os numa fogueira feita por Lisa. Já Louise e Maya tiveram que se contentar com os peixes que Tom fazia pular de dentro da água e cair na brasa á beira do riacho que Maya encontrou.
Além da fome vencida, Tom também teve que lidar com o seu ferimento que doía cada vez mais. Preocupada com o rapaz, Louise lavou o ferimento e fez um feitiço para que nenhum inseto penetrasse na carne de Tom. Nesse meio tempo, Maya resmungava enquanto comia seu peixe.
__Isso não vale nada! Eu não sei nem como vocês comeram isso...
__Se você não gostou, Maya, __disse Louise__ então porque está comendo?
Maya virou-se para Louise e mordeu os lábios. Em seguida ela abaixou a cabeça e voltou a comer o peixe. Nesse instante, Tom reparara a reação dela e soltara um leve suspiro para contar a dor que estava sentido. O rapaz sabia que Maya ainda daria dor de cabeça a eles e que muita coisa ainda estava para acontecer. Porém, ao pensar em inúmeros fatos que pudessem ocorrer, Tom preferiu afastar seus pensamentos e se preocupar mais com seu ferimento e, principalmente, com Louise.
As altas horas da noite, um bando de morcegos levantaram vôos para a lua ao mesmo tempo em que lobos e Lobisomens uivavam por todos os cantos do Bosque Espinhoso.
A essa certa altura do tempo todos dormiam, ou pelo menos tentavam dormir sobre folhas secas ao relento. A cada segundo que passava o Bosque Espinhoso parecia ficar mais sombrio e mais habitado.
Enquanto Dan, Zig e Cliffe dormiam enrolados aos seus cobertores, estranhas criaturas acinzentadas os observavam de longe. Devido à sombra das árvores quase não se dava para definir exatamente o que as criaturas eram. Elas pareciam ter longas orelhas pontudas e uma cabeça bem pequena. Na escuridão não era possível ver como eram seus olhos, mas de longe se percebia um leve brilho nefasto em seu olhar.
Pulando de galho em galho e escondendo-se nas sombras, as criaturas aproximavam-se dos três rapazes aos poucos. Elas pareciam curiosas com aqueles estranhos seres que ali dormiam tranqüilamente. Tal curiosidade fez reunir aproximadamente umas cem criaturas ao redor deles. Todas pareciam ansiar por uma vontade estranha. Algo naqueles rapazes a deixavam encantadas... famintas...
Quando o brilho da lua cheia conseguiu atravessar o bosque, enormes dentes pontiagudos estavam expostos numa boca de lábios de uma coloração violeta quase negra. Por trás das criaturinhas que não pareciam ter nem um metro de altura, asinhas mais murchas do que as de morcegos, surgiram lentamente.
De repente, uma criaturinha bateu as asas e posou perto do pescoço de Dan. Ela parecia ser a líder do bando, pois as outras criaturas permaneceram escondidas nas sombras e pareciam esperar o sinal do líder. Sobre olhos atentos e famintos, o líder cheirou o pescoço de Dan e lambeu os lábios com uma língua negra e fina. Após o lamber, seus dentes brilharam com uma intensa vontade de sugar o sangue do rapaz.
Vendo que havia muito sangue para todos, a criaturinha virou-se para as outras e disse algo num zumbido breve e sombrio. De repente, como se um exame de abelhas estivesse pousando sobre os três rapazes, as criaturas saíram de todos os cantos e os atacaram. No entanto, algo muito nefasto rastejou atrás das sombras de uma árvore.
Ao ouvirem o rastejo, as criaturinhas pararam de chofre e se curvaram ao verem um homem flutuar sobre as folhas ao mesmo tempo em que seu longo manto negro rastejava no chão. O homem, coberto dos pés a cabeça, aproximou-se lentamente dos rapazes.
O funesto homem levitou sobre os três rapazes e analisou-os. Enquanto fazia isso, as criaturinhas se afastavam lentamente. Pareciam temê-lo.
O homem curvou-se perto de Dan e passou a varinha sobre sua testa. De repente, uma névoa prateada saiu de Dan e entrou na varinha. Voltando-se para Zig e Cliffe, o homem repetiu o mesmo procedimento e afastou-se deles.
Ao afastar, rastejando sobre as folhas, os olhos do homem brilharam intensamente expulsando as criaturinhas de perto. Agora, só restava algo para fazer, encontrar quem ele realmente estava procurando e terminar o que já havia começado há mais de seis meses atrás...
Maya dormia tranqüilamente a beira da fogueira enquanto Louise dormia ao lado de Tom. O rapaz era o único que não parecia estar conseguindo dormir, pois, volta e meia a sua perna dava fisgadas fortes que lhe tiravam o sono.
Enquanto Tom se debatia em dores no chão frio do bosque, algo rastejava entre as árvores. Era um rastejo cauteloso e quase imperceptível. Ao aproximar-se de uma árvore, deu-se para perceber que era um homem coberto por um longo pano negro e que seus pés não tocavam o chão.
Vendo que aparentemente todos dormiam, o homem saiu rastejando de trás da árvore e aproximou-se de Maya. No entanto, no momento em que ele passava a varinha sobre a cabeça de Maya, algo se aproximou do outro lado do riacho provocando um grande barulho semelhante a um bater de asas.
Nesse exato momento, Tom abriu os olhos e levantou-se. Rapidamente, o homem rastejou para dentro das sombras e desapareceu. Quando Tom passou os olhos pelo riacho, três criaturas aladas bebiam água tranqüilamente. Elas eram horríveis. Possuíam asas de dragão, longos chifres de bode, tinham corpo de cavalo e brilhantes olhos vermelhos.
__Louise! __sussurrou Tom__ Acorda, Louise!
__O que foi, Tom? __disse Louise abrindo e fechando os olhos para conter o sono__ Voltou a sentir dores?
__Não, não é isso?
__Então o que é?
__Veja aquelas criaturas!
__O que está acontecendo? __perguntou Maya acordando__ De onde vem esse bater de asas?
Maya esfregou os olhos e olhou para frente. De chofre, Maya pulou para trás e gritou:
__O que são essas coisas?
Entrementes, Louise estava fascinada demais para responder a pergunta de Maya. Nessa altura do tempo, Louise estava de pé e caminha lentamente na direção do riacho. Tom estava logo atrás, puxando a perna machucada.
__Louise, aonde você vai? Não sabemos que criaturas são essas! Elas podem ser hostis...
__Não, não são! __disse Louise virando-se para Tom.
__Como você sabe disso, Louise?
__Porque elas são Dragóronas, Tom. Dragóronas!
Louise observou as criaturas pousarem do outro lado do riacho e abaixarem para beberem água sem notarem que estavam sendo observadas e depois se virou para Tom e Maya com um grande sorriso no rosto.
__Dragóronas não são criaturas demoníacas? __perguntou Maya se aproximando com a varinha na mão.
__São demônios na verdade, mas, não fazem mal algum __disse Louise admirando as Dragóronas__ O fato delas serem usadas por criaturas da Ilha das Sombras as transformaram em seres perigosos, o que não é verdade. Sabe, uma Dragórona é muito fiel a aquele que lhe trata com fidelidade. É por isso que muitas vezes elas servem a Ilha das Sombras.
Louise deu um breve suspiro e resolveu aproximar-se mais do riacho sob os olhos atentos de Maya e Tom.
__Cuidado, Louise! __advertiu Tom.
No entanto, Louise não ouviu. Ela estava tão absorta que não viu um graveto na sua frente e acabou pisando nele. Ao ouvirem o graveto se quebrando, as Dragóronas ergueram a cabeça e saíram voando assustadas. Em questão de segundos, as oito Dragóronas que ali bebiam água desapareceram no céu batendo as suas longas asas de dragão.
Nesse meio tempo, Lisa e Peter dormiam sobre uma cama de folhas secas e sonhavam com várias coisas. Peter sonhava que se transformara novamente num grande dragão e que destruía toda a Fonte Phoenix com suas gigantescas bolas de fogo. Lisa, por sua vez, sonhava com algo estranho.
A garota caminhava por uma sala cheia de espelhos de variadas formas e tamanhos. Enquanto andava, vozes cochichavam ao seu ouvido sem parar.
__Encontre a passagem!
__Encontre o destino! Encontre... encontre!
Atordoada com as vozes, Lisa resolveu parar em frente a um espelho. Naquele momento, uma grande vontade de encontrar algo veio a sua mente. Ela não sabia o que era, mas ansiava por aquilo.
Por alguns segundos, Lisa olhou-se no espelho. Lá estava ela com roupas humanas sujas e rasgadas e com pesadas correntes presas aos pulsos e aos tornozelos. Naquele momento, ela sentiu vontade de tirar todas aquelas correntes e vestir roupas novas, porém, a vontade de encontrar algo a motivava a seguir em frente.
Quando Lisa deu por conta de si, o espelho não mais refletia a sua imagem, ao contrário, ele refletia um longo salão escuro de cerâmicas brancas. No fundo do salão, Lisa via algo reluzir entre meio a escuridão. Era aquilo que ela queria. Ela sabia que era. No entanto, ela não sabia o que era e muito menos como iria pegá-lo. Como iria atravessar o espelho?
Mas Lisa não iria desistir. Ela bateu a mão contra o espelho e não conseguiu entrar. Tentou uma segunda vez e não obteve sucesso. Na terceira vez, ela afastou-se para trás e pulou com tudo para dentro do espelho. Quando ela menos esperou, a barragem de vidro desapareceu dando lugar ao salão escuro. Lisa virou-se para trás e viu o espelho, refletindo agora os outros espelhos da sala. Ao virar-se para frente, seu coração bateu mais forte. Ela tinha que se aproximar e pegar seja lá o que for que estivesse no fim daquele salão.
Lisa começou a caminhar na direção do objeto que parecia reluzir no escuro ao mesmo tempo em que a sua ansiedade lhe pedia para ser rápida. Ao aproximar-se do centro do salão, Lisa avistou o tal objeto. Ele estava sendo segurado por uma estátua de uma mão que saía do chão. A mão era murcha e tinha longos dedos finos de unhas negras e pontudas.
Lisa apressou mais os passos para tentar ver o quê exatamente a estátua estava segurando. Ela se aproximou, estava a quase cinco metros da mão quando algo rastejou alguma parte do salão. Lisa parou e olhou para os lados.
De súbito, calafrios subiram pela espinha de Lisa e uma sensação de que tudo estava sendo coberto por sombras invadiu o seu espírito.
Sem pensar duas vezes, Lisa sacou a varinha e ficou olhando para todos os cantos. Vendo que não era nada, ela voltou-se para a estátua da mão e começou a andar. Porém, um novo rastejo, agora mais perto, foi ouvido por ela.
Lisa parou, apontou a varinha para as sombras e ficou atenta a algum movimento. De repente, algo escuro se mexeu atrás dela. Lisa virou-se e não viu nada.
Tendo calafrios e aquela mesma sensação de que tudo estava sendo coberto por sombras, Lisa afastou-se para trás e segurou forte a varinha.
De repente, sem que ela percebesse, um homem surgiu por trás dela e apontou uma varinha.
Quando Lisa virou-se...
__Ah!
O Homem das Sombras
Lisa despertou assustada com Peter gritando feito um louco e ficou em pé num pulo. O rapaz estava pálido e parecia ter visto um monstro de todo tamanho. Em seu rosto, um suor frio escorria sem parar.
__O que foi, Peter? __perguntou Lisa enxugando o suor de sua testa.
__Um homem... tinha um homem aqui! __ofegou Peter.
__Um homem?
__Sim... Um homem coberto dos pés a cabeça por um pano preto. Ele segurava uma varinha e... e estava aproximando-se de você quando eu acordei...
__Para onde ele foi, Peter?
__Por aqui, venha!
Peter tirou a varinha do bolso e saiu na direção de onde o homem tinha ido, com Lisa em seus calcanhares.
Os dois andaram por uns cinco minutos numa direção que Lisa julgava que nem Peter sabia ao certo para onde estavam indo. Para certificar-se de que nenhum homem apareceria de surpresa e os atacasse, Lisa e Peter estavam com as varinhas inutilmente preparadas para qualquer ataque.
__Peter, tem certeza de que você viu um homem correr por aqui?
__Tenho, Lisa __afirmou Peter__ Na verdade ele não correu... ele rastejou. Foi... horrível!
__Rastejou? __indagou Lisa__ Peter, então não era um homem, era alguma criatura que ficou curiosa ao nos ver e...
__Não, não era uma criatura, Lisa __insistiu Peter__ Criaturas não possuem varinhas!
__Mas a Besta possuía, ela era uma criatura!
Peter virou-se para Lisa e fitou-a por alguns instantes. Naquele momento, nem mesmo Lisa percebera a gravidade do que ela falara.
__Peter, esquece o que eu disse. A Besta está morta, não é? Com certeza deve ter sido imaginação sua. Talvez você tenha sonhado com um homem que rastejava...
__É, talvez! __Peter olhou para onde o homem tinha saído e virou-se para Lisa__ Vamos voltar, acho que... sonhei, é foi isso, eu devo ter sonhado!
Lisa guardou a varinha no bolso e voltou com Peter para onde eles estavam. Enquanto os dois voltavam, um homem coberto por um longo pano preto saiu de trás da sombra de uma pedra e os observou desaparecerem entre as árvores. Após vê-los desaparecerem, o homem olhou para o céu e viu que o dia estava perto de amanhecer. Vendo que não podia seguir em frente, o homem voltou a rastejar sobre as folhas caídas e desapareceu repentinamente ao se transformar numa sombra.
Logo ao amanhecer, Dan e os irmãos Pés Grandes arrumaram as suas coisas e partiram na direção à leste, de onde eles viram o sinal mais próximo. Enquanto eles se esquivavam de espinhos, uma impressão de que eles haviam esquecido de algo os perturbava.
__É esquisito, não é? __disse Cliffe__ Quando dormimos fora de uma cama fofinha e confortável a gente levanta com impressão de que algo ficou para trás...
__Eu não sinto essa impressão __disse Zig__ Na verdade, não consigo me lembrar de quando foi a última vez que eu tomei banho!
__É, pensando bem, nem eu!
__Isso não é nenhuma novidade! __replicou Dan__ Vocês tomam banho de mês em mês. E, isso, só porque Big Bertha os obriga!
__É, nós somos demais!
Se o fato de Zig e Cliffe tomarem banho de mês em mês preocupava Dan, o fato do ferimento de Tom estar começando a zangar preocupava Louise muito mais. O ferimento amanheceu com as bordas roxas e com uma camada de pus surgindo na carne. A dor estava aumentando mais ainda.
__Tom, seu ferimento está zangando! __comentou Louise preocupada__ Ele precisa ser tratado logo, senão...
__Senão, o quê? __perguntou Tom__ Louise, ele não vai zangar assim do dia para a noite. Basta acharmos os outros e essa tal de Madame Geoffrin que logo farei um curativo. Por enquanto, acredito que essa tira de pano vai ajudar.
Tom rasgou um pedaço do seu manto e amarrou sobre seu machucado sem a aprovação de Louise, o que resultou em reprimendas.
__Mas, Tom, você não pode...
__Louise, eu posso caminhar muito bem e além do mais, esse trapo vai ajudar a proteger o ferimento contra arranhões e outras coisas. Agora, pare de ficar falando besteiras e me ajude a levantar de cima dessa pedra.
Louise respirou forte e percebeu que não podia continuar teimando com o rapaz. Ajudando-o a levantar-se, Louise passou o braço de Tom por trás de seu pescoço e segurou na cintura dele. Depois de Tom estar em pé, apoiado-se em Louise, os dois trocaram olhares por uma fração de segundos. No entanto Maya se aproximou e forçou um tossido.
__É melhor irmos, eu não quero ficar nesse fim de mundo mais nenhum segundo! __disse Maya.
__Não se preocupe, queridinha, no primeiro abismo que nós encontrarmos eu a jogo lá! Ok? __murmurou Louise.
__Vamos, antes que vocês duas comecem a discutir __disse Tom.
__Então se apóie em mim __disse Louise segurando na cintura de Tom__ Consegue andar assim?
__Assim está ótimo!
__Consegue andar assim? __começou Maya a imita-los com uma vozinha extremamente irritante__ Oh, claro, assim está ótimo! Herc!
__Se você abrir a boca outra vez, Maya, eu lhe arranco a língua! __disse Louise olhando para trás.
__Se atreva! __pensou ela.
Lisa e Peter levantaram bem cedo e logo saíram na busca dos outros lançando um Feitiço Sinalizador para o alto do bosque. Enquanto eles passavam por entre árvores finas e gigantescas, Peter não parava de fazer perguntas para Lisa.
__Lisa, e se nós nos afastarmos muito dos outros e eles não nos encontrarem? E se não conseguirmos voltar para a Fonte Phoenix antes das aulas retornarem? Será que vão sentir nossa falta?
Lisa não havia pensado nisso. Mesmo que ela quisesse negar, havia uma enorme possibilidade de que Peter estivesse certo. Essa aventura já estava se transformando num grande transtorno para todos. Primeiro os animais vão embora assustados, depois eles foram atacados por árvores assassinas e agora, o que viria?
Lisa estremecia só de imaginar o que poderia acontecer pela frente.
__Lisa, estive pensando __disse Peter pensativo__ eu tenho quase certeza de que aquele homem que eu vi era real. Eu não estava sonhando e... na verdade, eu nem estava dormindo...
__Você não estava dormindo? __Lisa parou.
__Não... bom, pelo menos acho que não!
__Isso não justifica o que você viu, Peter __disse Lisa voltando a caminhar__ Talvez você houvesse cochilado e sonhado com um homem.
__Não, havia um homem, eu tenho certeza... Ahn, Lisa, uma vez eu ouvi dizer que esse lugar possuía muitos ladrões e assassinos... E se quem eu vi, ou pelo menos penso que vi, queria nos fazer mal?
__Peter, não era ninguém. Se fosse alguém mal intencionado, teria nos feito algo. Mas, como você mesmo disso, ele fugiu. Porque alguém que queria nos fazer mal fugiria, não é mesmo?
__Ah, você tem razão! Mas mesmo assim eu ainda acho que eu não estava sonhando e...
Peter parou de chofre e olhou para o alto do bosque. Bem longe dali, um Feitiço Sinalizador foi lançado e explodiu no céu, assustando vários pássaros pousados sobre as árvores.
__Os outros estão se aproximando, Peter! __disse Lisa__ Acho melhor mandar um outro sinal! Periculum!
__É um sinal Dan! __disse Cliffe.
__É, olha, é outro sinal! __disse Zig__ Parece que nós estamos perto de um e longe de outro.
__Acho melhor lançarmos um sinal também, assim saberão que estamos perto e que, também estamos longe.
Dan esticou o dedo indicador direito e apontou para o céu. Após pronunciar o Feitiço Sinalizador, uma faísca de luz saiu da ponta do dedo de Dan e nada aconteceu.
__O que houve, Dan? __perguntou Cliffe.
__Estranho, não consegui lançar o feitiço __disse Dan olhando para a ponta do dedo__ Vou tentar novamente. Periculum!
Novamente nada aconteceu. Apenas faíscas pequeninas saíram da ponta do dedo e logo desapareceram no ar.
__O que está acontecendo comigo? __perguntou-se Dan.
__Dan, talvez você tenha que se concentrar mais antes de lançar o feitiço __disse Zig.
__É, talvez! __Dan encolheu o dedo e voltou estica-lo com uma grande concentração. Em seguida ele apontou para o céu e disse:__ Periculum!... Periculum!... Periculum!... Periculum!... Peri....
__Dan, talvez seus poderes podem ter... ahn... desaparecido __disse Cliffe depois da tentativa frustrante de Dan.
__Ou quem sabe, podem ter sido bloqueados! __disse Zig__ Talvez exista alguma magia neste lugar que impede as pessoas de usarem seus poderes...
__Impedido de usar meus poderes? Isso... isso é improvável! Não, não posso estar perdendo meus poderes, não mesmo!
__Dan, isso é normal em algumas pessoas __disse Cliffe.
__É, cara. Há uma fase na vida em que nós passamos por grandes mudanças e geralmente nossos poderes desaparecem temporariamente. É a evolução da vida!
__É normal, não é?
Dan tirou a atenção do seu dedo e olhou incrédulo para os irmãos Pés Grandes. O rapaz não podia acreditar que acabara de ouvir tanta besteira na vida.
__Normal? Isso não é normal! Ninguém perde seus poderes assim do nada! __gritou Dan irritado.
__Calma, cara __disse Zig__ É apenas uma possibilidade. Não quer dizer que você tenha perdido seus poderes.
__É, cara, quem sabe isso está acontecendo apenas com esse feitiço? Talvez seus poderes não tenham desaparecido. Porque você não tenta usar outro feitiço.
Dan não podia permitir que a possibilidade de não estar conseguindo lançar feitiços o atormentasse mais. Com extrema determinação, o rapaz apontou o dedo para uma pedra e pronunciou um feitiço.
__Bombarda!
Para surpresa de todos, apenas uma fumaça saiu da ponta do dedo de Dan e se dispersou no ar.
__A coisa está feia! __murmurou Zig.
Dan olhou para o dedo enfumaçado e caiu sentado sobre um tronco de uma árvore. Seus pensamentos estavam dando voltas em sua cabeça como um redemoinho. Ele não conseguia acreditar que não conseguira explodir uma simples pedra.
__Eu não acredito que isso está acontecendo comigo!
__Tenta de novo, Dan! __encorajou-o Cliffe__ Talvez você não tenha pronunciado a palavra corretamente.
Dan respirou forte e voltou a apontar o dedo para a pedra. No entanto, nada aconteceu, a não ser uma fumaça que voltara a sair da ponta do dedo dele.
__É, você realmente está sem seus poderes! __murmurou Zig arregalando os olhos ao olhar para a fumaça.
__Não, isso não pode ter acontecido só comigo! Vocês dois, usem seus poderes. Eu quero ver!
__Está bem!
Zig e Cliffe olharam um para o outro e balançaram os ombros. Em seguida eles saltaram para o alto e deram um enorme soco contra a terra. Nesse meio tempo, Dan afastou-se para que os picos de terra subissem. No entanto, nada aconteceu. Exceto as mãos de Zig e Cliffe têem se quebrado.
__Ai! __gritou Cliffe balançando a mão quebrada__ Por que a terra não subiu?
__Simplesmente porque vocês também perderam seus poderes! __disse Dan se aproximando incrédulo.
__O quê?!
__Algo de errado está acontecendo. Ninguém perde seus poderes assim, do nada!
__O que você quer dizer com isso, Dan? __perguntou Cliffe gemendo de dor.
__Pode ser tolice, mas, alguém pode estar bloqueando nossos poderes.
__Mas e os outros? __perguntou Cliffe enquanto tentava ajeitar os dedos no lugar novamente__ Porque eles não perderam seus poderes?
Desta vez, nem Dan podia criar uma possibilidade tão geniosa para explicar o que estava acontecendo. No fundo ele tinha a sensação de que alguém no Bosque Espinhoso não queria que eles usassem seus poderes. Mas, porque?
Louise, Tom e Maya caminharam por umas duas horas e resolveram parar para descansar um pouco. O ferimento de Tom estava começando a sangrar e uma dor persistente o atormentava.
__Tom, não podemos mais prosseguir __disse Louise__ com esse ferimento seu. Acho melhor ficarmos aqui e mandarmos vários sinais seguidos indicando que alguém está ferimento.
__Louise, não é necessário...
Mas Louise não ouviu Tom e afastou-se para lançar os Feitiços Sinalizadores. Nesse meio tempo, Maya andava ao redor das árvores na esperança de encontrar alguma fruta caída para saciar sua fome quando ouviu algo pisar as suas costas ao mesmo tempo em que três Feitiços Sinalizadores explodiram no ar.
Maya parou e olhou para trás. Vendo que não era nada, ela abaixou e pegou uma fruta amarela que encontrara caída à beira de uma árvore de caule liso e espesso. Voltando-se para onde Tom e Louise estavam, Maya mordeu a fruta e cuspiu-a de volta. A fruta era azeda e parecia estar podre.
__Pronto __disse Louise voltando__ Só espero que os outros entendam que Tom está ferido com os sinais que eu mandei e que nos achem logo.
__É bom que eles não nos façam esperar muito como fizeram ontem...
Enquanto Maya se lamentava pela noite terrível que tivera e pelo peixe horrível que comera, um par de olhos tenebrosos os espiava por entre um arbusto pequeno. Um dos olhos era maior do que uma bola de golfe e o outro era tão pequeno quanto uma bola de gude.
__Acho melhor vocês me tratarem com mais respeito a partir de agora. Eu não sou um bicho desses que vive no meio desse... desse lugar que vocês chamam de Bosque Espinhoso. Se não me tratarem como eu mereço...
__Se você não calar a boca eu ranco a sua língua antes mesmo de você dizer Fonte Phoenix!
Maya olhou para a varinha que Louise apontava para era e calou a boca. Nesse meio tempo, a criatura que os observava saiu de trás do pequeno arbusto e afastou-se do lugar até parar aos pés de um homem coberto por um longo pano preto. O homem, ao ver a criatura, sorriu e fez um sinal com a mão para que ele buscasse seus irmãos. Obediente, a criatura curvou-se ao homem e saiu correndo.
Bem longe do homem, a criatura correu por entre as árvores até parar em frente a uma caverna no alto de um pequeno morro. Ao aproximar-se da caverna, vários olhos brilharam na escuridão. Era um brilho vermelho que se destacava por entre pequenas tochas de fogo esverdeado que surgia no alto da caverna. Naquele meio, os habitantes perceberam que era a hora de ir a caça.
A noite mais uma vez chegou mais rápida do que em qualquer outro dia. Talvez a ansiedade de se reencontrarem deixara o dia mais curto e transformara a noite em algo mais sombrio do que nunca.
A distância entre os três grupos era consideravelmente grande, sendo Lisa e Peter os mais próximos do grupo de Dan. O Bosque Espinhoso pregava tantas peças a quem estava perdido que a certas horas da noite, Lisa e Peter já estavam perdidos e não paravam de andar em círculos. Mal sabia eles que alguém, do alto das árvores, mais precisamente entre as sombras dos galhos, estava confundindo a cabeça deles.
__Nós já não passamos por essa árvore umas três vezes, Peter? __perguntou Lisa olhando para uma árvore que tinha a marca de uma garra na casca.
__Não sei, Lisa. Acho que, estamos andando em círculos!
__Ah, não acredito! Estamos perdidos, com fome e imundos.
__Parece que nós vamos ter que ficar por aqui até o amanhecer. Não vamos conseguir sair daqui nessa escuridão total.
Lisa aproximou-se da árvore com a marca de uma garra na casca e encostou-se a ela. Escorregando até sentar-se ao chão, Lisa pôs a mão na cabeça e tentou encontrar uma forma de encontrar os outros o mais rápido possível. Nesse momento, Lisa preferia voltar para a Fonte Phoenix a ficar mais um dia no Bosque Espinhoso.
Madame Geoffrin que vá para o inferno!
__No quê eu me meti! __exclamou Lisa.
__Não há mais volta, Lisa! __disse Peter.
Lisa suspirou e encostou sua cabeça no tronco da árvore. Em seguida ela deixou seu rosto tombar para o lado e seus olhos encontraram-se com o arranhão na casca da árvore.
__Peter, quem será que fez esses arranhões aqui?
__Você quer dizer o quê que fez isso, não é mesmo?
Peter levantou-se de cima de uma árvore caída e foi até Lisa. Ao aproximar-se da árvore, Peter alisou os arranhões e virou-se para Lisa.
__São marcas de garras, Lisa. Elas foram feitas recentemente, olha só como o local das marcas está úmido ainda e... oh, não!
__O que foi Peter? __perguntou Lisa levantando-se.
__Todas... todas as árvores estão marcadas, Lisa. todas as árvores!
Lisa olhou para as árvores a sua frente e viu que todas a árvores num raio de cem metros estavam marcadas por garras e pareciam estar dispostas numa grande circunferência ao redor deles.
__Peter o quê será que fez isso?
__Provavelmente um animal de garras enormes. Pelo tipo ele estava furioso ou... faminto!
__Vamos parar por hoje!
Dan deixou seu corpo cair deitado sobre um monte de folhas secas e olhou para o alto da floresta. As árvores estavam tão próximas uma das outras que nem o céu era possível de se ver.
__Quando isso vai terminar? __perguntou Cliffe.
__Acredito que quando amanhecer e nós encontrarmos os outros...
Enquanto Dan conversava com Zig e Cliffe, uma sombra ergueu-se atrás de uma árvore e se transformou num homem. Ao espiar os três por uns instantes, o homem sorriu nefastamente e virou-se para as sombras das outras árvores. Em seguida ele sussurrou para elas num sussurro rouco e fraco:
__É hora da caça, meus queridos! Matem todos!
O homem apreciou seus servos saírem de trás das sombras e depois desapareceu repentinamente. Nesse meio tempo, Dan lamentava-se por estar cheirando mal.
__Não sei como vocês conseguem ficar sem tomar banho por muito tempo. É horrível! Se pelo menos houvesse um riacho por perto...
__Banho é algo de que se deve tomar em último caso __interrompeu Zig.
__E o que vocês julgam ser em primeiro caso? __perguntou Dan.
__Nossas mãos quebradas!
__É, com certeza, nossas mãos quebradas valem mais do que um banho anual __disse Cliffe__ Você só diz isso, Dan, porque não quebrou sua mão!
__Talvez vocês estejam certo e...
TRAC!
__Vocês ouviram isso? __perguntou Dan.
__O quê?
Zig e Cliffe levantaram e olharam para os lados. Os irmãos Pés Grandes estavam tão perturbados com o Bosque Espinhoso que eles se assustavam com qualquer coisa. Mas desta vez havia um bom motivo para se assustarem.
__Pensei ter ouvido um graveto se quebrando!
__O que foi, Dan? __perguntou Zig rindo__ Está com medo?
__Não tenho medo algum. Mas infelizmente não posso dizer o mesmo de vocês, não é mesmo?
__Medo? Nós? __disseram os irmãos Pés Grandes em uníssono.
__Meu caro, Dan __disse Cliffe__ nós não conhecemos a palavra medo.
__Exatamente, Dan __disse Zig__ Nós, os Pés Grandes nem se quer sabemos o que siguinifica a palavra e muito menos...
TRAC! TRAC!
__O que foi isso? __perguntaram Zig e Cliffe.
__Ora, ora! __exclamou Dan aos risos__ Vocês não disseram agora pouco que não sentem medo e...
__Pára, cara __exclamou Cliffe com os olhos fixos em algum ponto entre as árvores__ isso é sério!
__O que foi, Cliffe? Borrou as calças?
__Pára, cara, nós estamos falando sério! __exclamou Zig preocupado__ Alguma coisa se mexeu entre aquelas árvores!
__Se mexeu? O que foi que vocês viram, um graveto se quebrando?
__DAN, ISSO NÃO É BRINCADEIRA, CARA!
Cliffe virou-se furioso para Dan numa expressão medonha. Pela primeira vez, Dan vira o Pé Grande exaltado daquela forma e sabia que, para estarem assim, algo realmente os assustara.
__Tem algo atrás daquela árvore!
Cliffe apontou o dedo para uma árvore a mais de cinqüenta metros deles. Dan ficou sério e aproximou-se lentamente de onde Cliffe apontava. Ao aproximar-se e não ver nada, Dan virou-se para os outros e disse:
__Não tem nada aqui a não ser um monte de...
TRAC! TRAC!
Dan virou-se de chofre para trás e olhou assustado ao seu redor. Zig e Cliffe estavam certos, algo realmente estava se aproximando deles.
__Vocês também escutaram, não?
__Agora você acredita em nós, não é mesmo?
__Agora não é hora para dar sermões Zig. Algo está se aproximando de nós e, no entanto, não sabemos do que se trata. Acho melhor tomarmos cuidado!
Dan deu mais uma olhada ao seu redor e decidiu aproximar-se mais da árvore de onde viera o som. Lentamente, Dan aproximou sendo seguido por Zig e Cliffe. Os três rodaram em torno das árvores e não encontraram nada. Ao ficarem de costas para uma árvore de tronco grosso, os três ouviram um som semelhante a um rosnado de um cão.
__Fiquem quietos! __disse Dan sentindo os passos de uma criatura se aproximando atrás deles__ Vamos virar todos juntos.
Os três suspiraram forte e viraram lentamente para trás. Assim que eles viraram, o Bosque Espinhoso se iluminou com várias tochas esverdeadas e com vários olhos vermelhos incandescentes ao mesmo tempo em que vários rosnados ecoaram pela escuridão juntamente com os gritos de Dan, Zig e Cliffe.
__Ah!
Louise, Tom e Maya esperaram serem encontrados pelos outros o dia inteiro e quando chegou a noite, Maya abriu a boca até no canto para reclamar.
__Eu estou com fome, estou cansada, não dormi na noite passada e agora tenho que ficar caçando ratos silvestres para comer? Eu não agüento mais!
À frente de Maya, Louise andava com os punhos fechados para que ela não virasse para trás e socasse a cara de Maya como nunca a socara na vida.
Nesse momento, Louise e Maya caçavam algo para comer enquanto Tom descansava sua perna. As duas já estavam andando a mais de quinze minutos e não conseguiram encontrar nem se quer um esquilo no alto de uma árvore. Por fim, a frustração e a fome, estavam deixando Louise extremamente irritada com Maya.
__Deixa só nós sairmos desse lugar e voltarmos para a Fonte Phoenix __resmungou Maya__ Quando meu pai souber o que houve ele vai dar um jeito em vocês. Meu pai é muito influente e a Ordem dos Lordes adora puxar saco do dono da Folha do Centauro... Isso não vai ficar assim... Não vai ficar...
Louise fez força para ignorar Maya e continuou caminhando olhando para o alto e para os lados para ver se encontrava algum animal ou algo que servisse de comida.
Enquanto se preocupava em encontrar algo para comer, os pensamentos de Louise estavam voltados para Lisa e para os outros. Ela ainda não conseguia acreditar que aquilo tudo estava acontecendo com ela e que ainda não encontrara uma forma de sair do Bosque Espinhoso. No entanto, Louise sabia que ela devia se preocupar com Tom, pois o seu ferimento piorava a cada dia.
Louise não era uma mulher de se sentir culpada por algo, mas desta vez, ela tinha certeza de que se não houvesse chamado Tom para participar dessa aventura perigosa, o rapaz não teria se ferido. No fundo, Louise se roia de raiva por ter trago a pessoa que, ainda inconscientemente, mais amava na vida.
Entre pensamentos culposos, Louise teve sua atenção tirada por várias árvores que tinham marcas de garras em seus troncos. Ao vê-las, Louise parou de chofre e tirou a varinha do bolso.
__Ai, olha para onde anda! __disse Louise virando-se para Maya.
__A culpa foi sua, queridinha! __desdenhou Maya__ Ninguém mandou você parar no meio do caminho!
__Eu não parei por que quis, Maya! Veja aquelas marcas nas árvores.
__E o quê que tem? São apenas marcas, nada de mais!
__Nada de mais? __Louise aproximou-se de uma das árvores e depois se virou para Maya__ Se não estou enganada, essas marcas foram feitas por garras de algum animal feroz.
__Animal feroz? Você acha que...
__Dá para você ficar quieta? __repreendeu Louise__ Eu estou tentando me lembrar que tipo de criatura faria isso em árvores.
__Como assim?
__Essas marcas determinam o território de um.... de um... Ah, eu não consigo me lembrar que criatura faria isso para marcar território!
__Que ótimo! Se você não sabe, nem eu sei!
Louise olhou para Maya e depois balançou a cabeça. Em seguida ela alisou uma das marcas e reparou a forma como elas foram feitas. De repente, Louise afastou-se da marca num pulo e juntou-se a Maya.
__O que foi? __perguntou Maya ao ver que Louise parecia assustada.
__Temos que sair daqui, Maya. Agora!
__Sair, porque?
__Não há tempo para explicações! __Louise agarrou no braço de Maya e puxou-a por entre as árvores__ Temos que voltar, pegar Tom e sair desse local o mais depressa possível!
__Ai, me solta! Eu não vou a lugar algum sem saber o que está acontecendo! Me solta, Louise!
Maya puxou seu braço de volta e parou no meio do caminho. Louise parou também e virou-se visivelmente agitada para Maya.
__Você não entende sua idiota, nós temos que correr... sair daqui antes que...
TRAC! TRAC!
__O que foi isso? __perguntou Maya.
Louise abriu a boca para dizer algo quando várias tochas de fogo esverdeado surgiram entre a escuridão seguidas por vários olhos vermelhos incandescentes. Louise e Maya seguraram forte as suas varinhas e afastaram-se para trás à medida que vários rosnados saíam de trás das sombras.
__O q-q-que são essas co-co-coisas?
__São o que eu temia. Se você quiser continuar a viver, acho melhor... CORRE MAYA!
No mesmo instante em que Louise e Maya começaram a correr, dezenas de criaturas avançaram sobre as duas e as seguiram numa velocidade incrível. Por mais que Louise e Maya tentavam se afastar das criaturas, elas se aproximavam velozmente e surgiam de todos os lugares menos improváveis.
Atrás e do alto das árvores, mais criaturas surgiam à medida que Louise e Maya passavam por elas. As criaturas saltavam em longas distâncias e ameaçavam pegar as duas. No entanto, elas se protegiam com poderosos feitiços e continuavam a correr.
Em um dos momentos, uma criatura saiu do alto de uma árvore e pulou na frente de Louise e Maya. As duas pararam de chofre e olharam para trás. Vendo que não tinham saída, Louise girou a varinha e apontou para a criatura.
__Ex ducere!
Um raio de luz atingiu a criatura e a jogou para longe. Nesse mesmo instante, Louise e Maya olharam para trás e voltaram a correr. No entanto, quando estavam se aproximando do local onde estava Tom, Maya tropeçou numa raiz e caiu.
Quando Louise virou-se para ajudar Maya, duas criaturas deram um enorme salto e caíram sobre elas. Rapidamente, Louise apontou a varinha para a cara de cão da criatura e lançou um feitiço. Um gigantesco relampejar de luz bateu contra a cara da criatura e a jogou para longe.
Entrementes, Maya tentava pegar sua varinha que havia caído no chão ao mesmo tempo em que desviava seu rosto dos ataques do cão que parecia faminto. Quando ela finalmente conseguira pegar sua varinha, uma língua de quase um metro de comprimento saiu entre os caninos do cão e tocou o rosto de Maya.
Após a criatura lambê-la, Maya sentiu seu corpo enfraquecer como se algo em si estivesse sendo sugado. Ao ver que o cão estava sugando algo de Maya, Louise apontou a varinha e atirou na mesma hora.
__Ex ducere!
O feitiço acertou a criatura e ela rodou no ar com o impacto indo cair sobre as outras que se aproximavam.
__Você está bem? __perguntou Louise.
__Estou fraca como se minhas energias estivessem desaparecendo...
__Não há tempo para explicações... Lúmus Solem!
Um grande escudo de luz se formou na ponta da varinha e se dispersou pelo bosque como um gigantesco flash, ofuscando os olhos das criaturas o tempo suficiente para Louise e Maya fugirem.
__Eu já vi aquelas criaturas caninas em algum lugar __disse Maya se aproximando de Tom__ O que eram?
__Canidópulus! Criaturas que sugam a alma das pessoas.
__Então, ele estava sugando minha...
__O que aconteceu?
Tom estava encostado a uma árvore e tentou levantar ao ver as duas se aproximando a passos longos. No entanto, seu ferimento deu uma grande fisgada e Tom caiu sentado novamente.
__Temos que sair daqui, Tom __disse Louise se aproximando__ Estamos correndo perigo. Esse lugar está cheio de Canidópulus. Há Canidópulus por todos os lados!
__Canidópulus? Ajudem-me a levantar! Não podemos ficar aqui!
Louise e Maya seguraram nos braços de Tom e o ergueram até ele se apoiar no tronco da árvore. Após ficar em pé, Tom fechou os olhos e gemeu de dor.
__Louise, Tom não está em condições de andar. Como vamos sair daqui?
Louise tremeu os lábios para dizer algo, mas suas palavras não saíram de sua boca. Quando eles menos esperaram, vários rabos com uma tocha de fogo esverdeado na ponta surgiram entre as árvores ao mesmo tempo em que seus donos rosnavam para os três. Eles estavam cercados.
__E agora?
A lambida fatal
Os Canidópulus avançaram sobre Dan, Zig e Cliffe e os cercaram em torno de uma árvore. Os três se afastaram para trás enquanto dava-se para afastar. Ao baterem de costas no tronco de uma árvore, Dan e os irmãos Pés Grandes viram que já não havia mais saída para eles.
__E agora, o que vamos fazer? __perguntou Cliffe pegando um pedaço de pau e jogando contra os Canidópulus que se aproximavam.
__Com certeza jogar paus neles não vai nos ajudar! __exclamou Zig.
__Mas com certeza, isso vai resolver: Ex ducere!
Dan esticou o dedo e apontou para os Canidópulus, no entanto apenas uma nuvenzinha de fumaça foi produzida.
__Que ótimo! __exclamou Dan__ Estamos sem poderes e ainda encurralados!
__Não há outro jeito, Dan! __disse Cliffe__ Vamos ter que passar por cimas deles.
__Não temos muita opção, não é?
__É, apenas duas: morrer ou correr.
__Me convenceu!
Sem pensar duas vezes antes de agir, Dan, Zig e Cliffe pularam sobre as cabeças dos Canidópulus e deram um enorme salto até pisarem em terra firme. Assim que alcançaram o chão, os Canidópulus viraram-se para eles e fizeram um movimento com o rabo. De repente, várias bolas de fogo esverdeado saíram das caudas das criaturas e voaram na direção do três.
Imediatamente, Dan e os Pés Grandes iniciaram uma corrida para salvarem suas vidas, pois, aonde o fogo atingia, tudo se transformava em pó no mesmo instante.
Os Canidópulus, num total de quase trinta aproximadamente, davam gigantescos saltos no ar e caíam na frente de Dan, Zig e Cliffe. Sem saída, os rapazes arriscavam suas vidas em piruetas acrobáticas no ar enquanto bolas de fogo passavam rentes aos seus corpos.
Em um dos ataques, Dan corria na frente dos Pés Grandes quando um Canidópulus surgiu de trás de uma árvore e saltou sobre ele. O rapaz conseguiu desvencilhar-se da pesada criatura ao saltar para o alto e bater seus pés contra a cabeça do Canidópulus.
Nesse mesmo instante, Zig havia agarrado seu pé numa raiz e caíra no chão derrubando Cliffe que estava atrás dele e não o vira cair.
Dan percebeu que os dois não estavam atrás dele e parou. No entanto, antes de Dan ir ajudá-los, vários Canidópulus pularam de cima de um pequeno barranco e os cercaram.
__São muitos, não podemos pular sobre eles! __disse Zig depois de levantar e afastar-se para trás até bater de costas com Dan e Cliffe.
E realmente não podiam. Os Canidópulus haviam se multiplicado assustadoramente. Era impossível saber de onde vieram tantas criaturas de uma vez só. A cada segundo, mais Canidópulus surgiam de trás das árvores, tornando a fuga dos três mais impossível ainda. Mal sabia eles que atrás de uma árvore um homem os assistia com uma carta luminosa na mão.
__Vamos morrer, Dan! __dizia Cliffe sem parar ao ver que os Canidópulus se aproximavam com as línguas do lado de fora da boca__ Vamos morrer!
De repente os Canidópulus pularam todos de uma vez sobre os três e os atacaram. Vendo que não tinham escapatória, eles fecharam os olhos e encolheram num bolo. No entanto, quando tudo parecia perdido, uma criaturinha cinza surgiu de trás de uma árvore e estralou o dedo.
Numa grande onda de luz que saía da ponta dos dedos da criaturinha, os Canidópulus foram atingidos e se queimaram repentinamente até virarem cinzas no ar. Até mesmo o homem coberto pelo pano preto desintegrou-se em sombras ao ser tocado pela luz.
Quando finalmente a luz cessou, Dan abriu os olhos e olhou para frente. Entre o facho de luz que dissipava pelo bosque, Dan viu uma criaturinha desaparecendo juntamente com o clarão. De repente a luz deu lugar à noite e tudo voltou a ficar escuro.
__O que houve? __perguntou Cliffe ainda com as mãos sobre a cabeça__ Já estamos mortos?
__Já estamos mortos, Dan? __perguntou Zig agachado no chão com a cabeça entre as pernas.
Mas Dan não respondeu. O rapaz estava perplexo com o que vira. A imagem entre a luz era muito semelhante a alguém que Dan conhecera no passado, mas não podia ser ele. Afinal, ele estava morto!
__Não pode ser! __murmurou Dan enquanto corria até a árvore de onde a luz saíra.
__Não pode ser o quê? __disse Cliffe erguendo a cabeça__ Dan? O que... o que houve?
Os irmãos Pés Grandes levantaram-se do chão e passaram seus olhos ao redor deles. Para o espanto dos dois não havia nenhum Canidópulus por perto.
__Onde foram parar os...
Zig olhou para o alto do bosque e viu alguma coisa caindo em sua direção. Ele estendeu a mão e pegou uma espécie de uma carta que estava levemente chamuscada.
__Onde encontrou isso, Zig? __perguntou Cliffe.
__Caiu do alto!
Entrementes, Dan procurava ao redor da árvore a criaturinha que lançara o feitiço e os salvara. Dan sabia que se procura-lo, ele o iria encontrar. Mas, encontrar quem? Ele estava morto! Dan sabia que não podia ser ele e mesmo assim insistia em procura-lo.
__Quem lançou aquele feitiço, Dan? __disse Zig se aproximando__ O que está fazendo?
__Ahn... pensei ter visto... deixa pra lá!
Dan virou-se para Zig e bateu os olhos na carta chamuscada que ele segurava.
__Onde encontrou isso? __perguntou Dan assustado.
__Caiu do alto das árvores, por quê?
Dan tomou a carta da mão de Zig e analisou-a. Ao ver um nome nas costas da carta e o desenho de vários Canidópulus na sua frente, Dan deixou-a cair de súbito e olhou para os irmãos Pés Grandes com uma expressão assustadora.
__O que foi Dan? Porque ficou assim?
__Essa carta... essa carta é um... é um... Card Mortal!
__Vamos, Peter, temos que sair daqui! Não sei porque, mas eu estou com um mau pressentimento.
Depois de algum tempo sem ter arrepios na sua marca, Lisa sabia que um novo arrepio não era um bom sinal. Até mesmo porque desde o momento em que ela entrara no bosque uma sensação estranha a atormentava. Porém, ao acreditar que a sensação era algo motivado pelo fato do Bosque Espinhoso ser sombrio, Lisa a ignorou. Mas agora, as coisas estavam diferentes. Alguma coisa naquele bosque parecia não querer a sua presença. Podia ser apenas uma impressão, mas Lisa não podia arriscar-se.
__Lisa, o que está acontecendo? __perguntou Peter__ Você ficou estranha de repente.
__Não sei não, Peter! Acredito que as coisas já estão passando do limite. Há algo errado nesse lugar. Quero dizer, tudo está errado desde o momento em que chegamos.
__Você acha que os grifos e os cavalos alados foram embora por alguma coisa que os assustou de propósito?
__Não sei o que pensar, Peter! Mas repito, essa aventura está se tornando muito estranha, você não acha?
__Primeiro os animais são assustados e vão embora, depois as Chicoteiras, em seguida um homem... bem, não sei exatamente se eu o vi realmente, mas, já é algo para se preocupar...
Peter olhou para a frente e parou de chofre. Lisa percebeu que o rapaz havia parado e voltou para trás.
__Porque parou, Peter?
__Aquela árvore, nós estávamos parados em frente a ela!
Lisa olhou para frente e viu uma árvore com a marca de uma garra em seu tronco. Ao olhar ao seu redor, ela viu que todas também estavam marcadas.
__Peter, todas elas estão marcadas. São iguais. Não podemos ter voltado ao mesmo lugar!
__Mas voltamos, Lisa! Olha aquela árvore caída. Eu me sentei sobre ela e você se encostou naquela árvore, não se lembra?
Lisa aproximou-se da árvore e encontrou a marca no chão onde ela se agachara. Voltando-se assustada para Peter, Lisa olhou ao redor e reconheceu todas as árvores que antes ela observara.
__Estamos andando em círculos! Mas porquê?
__Vamos tentar sair para um outro lado!
__Certo!
Lisa e Peter saíram na direção oposta a que chegaram e depois de uns cinco minutos estavam de volta ao mesmo lugar.
__Retornamos ao inicio, novamente! __disse Peter.
__Vamos por ali agora.
Novamente os dois saíram correndo para o outro lado e em menos de dois minutos já estavam de volta ao mesmo lugar.
__Não adianta, Lisa! __disse Peter tomando fôlego__ Parece que tem alguma coisa que não quer que nós saia desse lugar.
__Mas nós temos que sair!
Lisa tirou a varinha do bolso e ergueu-a para o alto do bosque. Em seguida ela gritou:
__Periculum!
Um facho de luz subiu rodopiando para o alto e explodiu antes mesmo de passar por entre os galhos das árvores. Na explosão, as faíscas desceram contra Lisa e Peter como se quisessem atingi-los.
__Corre, Peter!
Lisa e Peter começaram a correr ao mesmo tempo em que as faíscas caíam sobre eles. Parecia mais que os dois estavam sendo atacados por vários feitiços ao mesmo tempo. No local onde as faíscas caiam, tudo explodia levantando nuvens de terra para o alto. Em uma das explosões, uma faísca caiu ao lado de Peter, lançando o rapaz para mais de cinco metros a sua frente.
Para a sorte de Lisa e Peter, aquele fora a última faísca que caíra.
__Você está bem, Peter? __perguntou Lisa ajudando-o a levantar-se entre meio a um monte de terra e folhas__ Se machucou?
__Estou bem, obrigado!
Peter levantou-se e chacoalhou o corpo lançando terra para todos os lados.
__Aquele feitiço foi revertido num feitiço explosivo, mas porque? __indagou Lisa olhando para os lados e vendo as crateras que as faíscas provocaram.
__Parece que além de irmos e voltarmos ao mesmo lugar... alguém também não nos quer ver vivos por aqui!
Aproximando-se mais das vítimas, os Canidópulus atacaram subitamente Louise, Maya e Tom em pulos grandes que os derrubaram na mesma hora.
Pensando rápido, Louise sacou a varinha e apontou para o Canidópulus que estava sobre ela. De repente um grande facho de luz o jogou para longe. Porém, antes dela conseguir levantar-se outro Canidópulus pulou sobre ela forçando-a contra o chão.
Nesse meio tempo, Maya apontou a varinha para a cara horrenda de um Canidópulus e o jogou para longe com um feitiço.
__Ah, que bicho feio... AH!
Dois Canidópulus, vindo de lados opostos pularam sobre Maya e a derrubaram novamente.
Entrementes, Tom passava apuros com um Canidópulus que estava perto de lambe-lo. O ferimento do rapaz doía como nunca havia doido deixando-o sem forças para defender-se do Canidópulus.
Quando Tom menos esperou, a criatura tocou a língua no seu rosto e começou a lambe-lo. De repente, Tom começou a sentir algo sendo sugado de seu corpo e uma tristeza tomando conta de seu ser.
Disparando vários feitiços contra os Canidópulus, Louise conseguiu levantar-se e viu a criatura lambendo Tom. Imediatamente Louise correu desesperada até o rapaz e apontou a varinha. No entanto, um outro Canidópulus pulou sobre ela. No tombo, a varinha saiu de sua mão e caiu ao seu lado.
Enquanto a criatura tentava lambe-la, Louise olhou para Tom e viu uma névoa prateada sair do corpo do rapaz e entrar nas narinas do Canidópulus. Louise já não conseguia ver aquilo, ela tinha que impedi-lo, mas a sua varinha não estava ao seu alcance.
__Tom!
À medida que o Canidópulus lambia Tom, o rapaz gritava de dor e erguia seu corpo para o alto quando as partes de sua alma eram sugadas. As lambidas da criatura desprendiam a alma lentamente de forma dolorosa e perversa. Era como se alguém estivesse descarnando uma pessoa viva aos poucos para que ela sofresse o máximo possível.
Por fim, Maya desvencilhou-se de um Canidópulus com um feitiço e depois lançou outro feitiço para ajudar Louise.
Com o Canidópulus lançado ao ar pelo feitiço de Maya, Louise pegou a sua varinha no chão e lançou um feitiço contra a criatura que sugava a alma de Tom. Numa fração de segundos uma bola de luz bateu contra o Canidópulus e o jogou contra uma árvore.
Imediatamente, Louise correu até Tom lançando feitiços para afastar os Canidópulus que se aproximavam. Ao chegar perto dele, Louise abaixou-se sobre o rapaz e chamou-o pelo nome.
Tom estava pálido e a íris de seus olhos estavam enevoadas. Por mais que Louise chamasse, Tom não atendia aos seus chamados. Enquanto ela gritava pelo rapaz, o Canidópulus atingido pelo feitiço levantou-se cambaleando e saiu correndo mancando pelo bosque afora. O feitiço de Louise o havia atingido no lombo provocando lesões na parte dorsal da criatura.
__Tom! Tom! __gritava Louise.
Os gritos de Louise não pareciam surtir efeito algum sobre o rapaz. Mas, para surpresa dela, Tom suspirou e abriu a boca. Lentamente, numa voz fraca e distante, Tom disse:
__Louise...
Porém, antes de Tom dizer mais alguma coisa, sua boca fechou-se e abriu novamente. Lentamente um ponto luminoso dourado saiu da boca dele e subiu para o alto __era o último vestígio de vida do rapaz, era a Áurea de Tom.
A Áurea subiu e parou na altura dos olhos de Louise. Por alguns instantes, Louise viu a vida de Tom flutuar na sua frente e desaparecer lentamente virando pequenos pontos de luzes menores do que um grão de areia e se dissipar no ar.
No mesmo instante, os olhos de Tom ficaram brancos e seu corpo amoleceu como se seus ossos não existissem mais. Acabara, Tom estava morto.
__NÃO! TOM! TOM! NÃO VÁ! TOM! ACORDA TOM! NÃO!
Os gritos de Louise ecoaram por além do bosque chamando a atenção de várias criaturas que pararam para escutar a tristeza dela. Naquele momento, nem mesmo os Canidópulus sentiram coragem de se aproximar e atacar Maya e Louise.
Entre uma tristeza inexplicável, um ódio sem fim subiu a sua cabeça. Com os olhos lacrimejando, Louise segurou forte a sua varinha e ergueu-a para o alto.
__MALDITOS!
De repente uma grandiosa luz saiu da ponta da varinha de Louise e se espalhou por todos os lados como uma furiosa ventania. Por onde a luz passava, folhas eram erguidas para o alto e se desintegravam em cinzas.
Quando a luz atingiu os Canidópulus, ela os envolveu como se uma cobra enrolasse ao redor do corpo de um animal para quebrar-lhe os osso. Um por um os Canidópulus foram destruídos e transformados em cinzas negras que se dissiparam no ar.
Lentamente a luz na ponta da varinha foi diminuindo e se apagou subitamente. Naquele momento, Louise abaixou a varinha e caiu sobre o corpo de Tom.
__TOM! VOLTA!
Dan segurava o Card Mortal na mão enquanto seus pensamentos estavam mergulhados num poço sem fundo, sem lugar para ir ou para sair.
__Um Card Mortal! __disse Dan revirando a carta entre os dedos__ Fomos atacados por um Card Mortal.
__Dan, você acha que alguém queria nos matar com esse Card? __perguntou Zig.
__Cards não matam ninguém! __disse Dan__ Eles apenas provocam um estado de morte permanente que pode ser quebrado quando o Card Mortal que provocou a morte é destruído.
__Quer dizer que...
__Alguém queria que nós morrêssemos por um tempo indeterminado. Tempo suficiente para esse alguém agir.
__Então, quem libertou o Card Mortal é responsável pelo desaparecimento dos nossos poderes! __concluiu Cliffe.
__Seja quem for que não quer que a gente atrapalhe o seu plano, ele encontrou uma forma de bloquear nossos poderes para que fiquemos indefesos frente aos perigos do Bosque Espinhoso.
__Dan, Lisa pode estar correndo perigo! __disse Zig.
__Se nossos poderes foram bloqueados e nossas vidas quase se transformaram em mortes permanentes... Lisa realmente está correndo perigo! Zig, Cliffe, vamos! Temos que encontrar Lisa o mais rápido possível antes que seja tarde demais!
Dan rasgou o Card Mortal e saiu na frente dos irmãos Pés Grandes rezando para que Lisa estivesse bem e para que ele não a encontrasse tarde demais.
Lisa, eu estou indo!
__Lisa, eu não estou gostando mais desse lugar! __disse Peter olhando ao redor__ Eu quero sair daqui!
__Eu também quero, Peter __disse Lisa__ E acredite, quero mais do que você!
__Alguém quer nos matar, por isso seu Feitiço Sinalizador se voltou contra nós!
Lisa deu dois passos à frente e parou. Seus pensamentos mais uma vez começaram a dar voltas em sua cabeça. Lisa não conseguia entender por que aquilo tudo estava acontecendo. Por que alguém os atrairia para aquele lugar e os atacaria? E se Louise estivesse certa?
Por mais que Lisa quisesse, a idéia de que alguém queria se vingar dela não saiu da sua cabeça desde o momento em que ela fora atacada pelo seu próprio feitiço. Algo estava errado e Lisa precisava descobrir o que era. Mas, como?
Enquanto os pensamentos de Lisa a atormentavam, um homem coberto por um pano preto saiu dentre a sombra de uma árvore e a espiou do alto de um galho. O homem, em seguida, estendeu a mão e uma carta surgiu repentinamente.
A carta era um Card Mortal que tinha um desenho de dez criaturas cobertas por panos pretos que seguravam enormes lanças nas mãos. Depois de fazer a carta girar no ar, o homem sussurrou para ela:
__Não permitam que ela a encontre!
De repente a carta começou a brilhar e em seguida, uma estranha névoa negra saiu dela. O brilho do Card fora tão grande que Lisa e Peter viram o brilho e se assustaram.
__De onde veio essa luz? __perguntou Peter.
__Não sei, Peter, mas eu estou com um mau pressentimento sobre isso! Vamos tentar sair daqui!
Lisa saiu na frente de Peter e parou no meio do caminho ao ver um pano negro rasgado se mover por trás de uma árvore.
__Quem está aí? __perguntou Lisa apontando a varinha para a árvore.
__Apareça! __gritou Peter apontando a varinha enquanto seu corpo tremia mais do que uma varinha verde.
O pedaço de pano rasgado continuou a balançar lentamente atrás da árvore deixando um silêncio angustiante no ar. De repente, um barulho quebrou a quietude e ecoou pelos ouvidos de Lisa e Peter como a voz de uma criatura agourenta.
Entre meio tantas árvores, vários panos negros rastejaram sobre as folhas e aproximaram de Lisa e Peter. Os dois ouviram o rastejo e encostaram um nas costas do outro.
De repente, entre o pano negro que flutuava atrás da árvore, uma mão murcha segurando uma longa lança prateada surgiu lentamente com o restante do corpo coberto inteiramente. Naquele momento, o coração de Lisa disparou e a sua mente ficou paralisada. Ela não sabia o que fazer. Não sabia se corria ou se atacava.
Lentamente a criatura saiu de trás da árvore seguida por mais outras nove, todas cobertas por panos negros e segurando longas lanças prateadas.
De súbito, a criatura da frente deu um grande grito sombrio e saiu voando numa grande velocidade na direção de Lisa e Peter.
Vendo que Lisa parecia paralisada, Peter entrou na frente dela e apontou a varinha. No entanto, a criatura fez um movimento com os longos dedos e o feitiço de Peter voltou-se contra ele, lançando-o a mais de dez metros de distância.
Com Peter fora do caminho, as criaturas seguiram uma atrás das outras num único ataque fatal. Mesmo vendo que corria perigo e que tinha que fazer algo, Lisa continuou a ficar parada no mesmo lugar. Era como se alguém a houvesse paralisado. Seus pensamentos diziam para fazer alguma coisa, mas seu corpo não obedecia.
Quando as criaturas estavam a quase cinco metros de distância, Lisa pareceu recuperar a consciência e num movimento rápido da varinha, ela apontou para as criaturas e gritou:
__Lorium Simirillium!
Enquanto Louise chorava sobre o corpo de Tom, Maya andava na direção de várias cartas chamuscadas que caíam lentamente do alto das árvores. Ao pegar uma delas, Maya viu que era um Card Mortal e voltou-se para Louise.
__Louise, Tom não morreu! __disse Maya aos risos.
__O quê? Nem num momento de dor você não pára com suas implicações!
Louise pegou sua varinha ao lado do corpo de Tom e levantou-se furiosa. Ela não podia mais permitir que Maya continuasse. Aquilo já era a gota d’água.
__Louise, espere, não estou brincando!
__Já chega Maya! Durante esse tempo todo eu vim suportando todas as sua provocações e agora já estou no meu limite...
Louise enxugou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e apontou a varinha para Maya. De repente uma luz vermelha começou a brilhar na ponta da varinha e os cabelos de Louise começaram a levitar. No entanto, antes do feitiço ser lançado, Maya fechou os olhos e apontou o Card para Louise.
__O que é isso? __perguntou Louise abaixando a varinha novamente.
__Tom não está morto! Tire a prova!
Maya jogou o Card nas mãos de Louise e saiu de perto dela. Entrementes, Louise analisou o Card e olhou ao seu redor onde, centenas de outros Cards repousavam sobre as folhas.
__Cards Mortais! __disse Louise deixando sua última lágrima se transformar num sorriso.
__Tom não está morto, não é?
__Morte permanente até que o Card seja destruído! Sim, Maya, Tom não está morto! __Louise jogou o Card no chão e correu até Maya__ Ah... Maya... acho que... devo-lhe desculpas e...
__Chega, Louise! __exclamou Maya cruzando os braços e erguendo a cabeça__ Não estou aqui para abraços melosos... Agora, o que vamos fazer? O Card que matou Tom não foi destruído...
__Temos que encontra-lo e destruí-lo a tempo!
Louise caminhou em torno de Tom e encontrou um rastro de sangue sobre as folhas. Virando-se para Maya, ela disse:
__Eu o feri no lombo quando o ataquei. Esse rastro vai nos levar até ele. Acredito que o Canidópulus não foi muito longo, ainda mais na situação em que ele está!
__Então vamos acabar logo com isso...
__Espere, não podemos deixar Tom aqui e muito menos leva-lo conosco... Espere, acho que tenho a solução!
Louise pegou sua varinha e fez um círculo ao redor de Tom com a ponta dela. Em seguida, Louise abaixou-se e tocou o círculo com a ponta da varinha.
__Protego!
Rapidamente, uma luz amarela saiu da ponta da varinha e tomou conta do círculo. Em seguida, a luz subiu e formou um grande lençol luminoso sobre Tom, cobrindo-o totalmente.
__O que é isso? __perguntou Maya.
__É um feitiço que vai proteger Tom enquanto estivermos caçando o Card. Isso vai evitar que alguma criatura carnívora o coma ou que insetos tomem conta de seu corpo... Bem, acho melhor irmos! Não quero nem pensar em ver Tom nesse estado mais uma vez...
Louise e Maya saíram atrás do Card Mortal, armadas com as varinhas para um eventual ataque surpresa de alguma outra criatura. Mal sabiam elas que o perigo ainda estava apenas começando a aparecer...
As criaturas avançavam sobre o feitiço de Lisa e recuavam ao sentirem seu corpo se desintegrar com ele. Porém, ao recuarem, eles voavam para o alto e desciam novamente na direção de Lisa com as lanças na mão.
Uma das criaturas bateu contra a luz do feitiço e recuou para o alto. Segundos depois ela desceu contra Lisa e jogou sua lança. Quando Lisa percebeu, a lança bateu contra a sua varinha e a tirou-lhe de sua mão. Indefesa, Lisa correu para pegar sua varinha, mas seus pés se enroscaram num emaranhado de raízes e ela caiu rolando entre as folhas.
Ainda zonza pelo tombo, Lisa levantou-se e deu de cara com uma criatura que, no exato momento, erguia sua lança para ataca-la. Quando Lisa sentiu que seria o fim, uma bola de luz passou rente a sua cabeça e empurrou a criatura a mais de dez metros de distância.
Lisa rastejou até a sua varinha e pegou-a. Ao levantar-se ela viu Peter lançando feitiços desordenadamente para todos os lados. Metade deles acertavam os alvos e outra metade atingia as árvores, o chão e por pouco não acertou Lisa também.
__O que são essas coisas, Lisa! __gritou Peter.
__ São Emissários da Morte! Lembra-se da aula de Ljosalfr sobre os... espera..
Lisa ergueu os olhos para o alto do bosque onde os Emissários davam vôos rasantes sobre eles e lembrou-se do Mundo dos Humanos, do ataque e de uma frase que Ljosalfr disse.
__Os Emissários desapareceram há quase dezessete anos atrás. Hoje, eles estão presos dentro de um baú protegido por sete maldições, sem contar, é claro, as milhares de serpentinas que os guardam...
__É claro, como eu não percebi antes! Cards Mortais durante todo esse tempo... no Mundo dos Humanos e agora, aqui. Mas porque?...
__LISA, ATRÁS DE VOCÊ!
Lisa virou-se e deu de cara com um Emissário da Morte. A perversa criatura bateu com suas enormes garras contra o corpo de Lisa e arrastou-a até joga-la contra um tronco de uma árvore. Rapidamente, o Emissário da Morte ergueu sua lança e, por uma fração de segundos, Lisa viu entre o capuz que cobria a criatura, a sua feição demoníaca.
Entrementes, Peter também estava tendo problemas com vários Emissários que giravam em torno dele. Pareciam mais um bando de abutres cobertos por longos panos negros rodeando a sua carniça.
Tremendo de medo, Peter tentava afasta-los com seus feitiços desordenados, mas apenas conseguia fazer com que os Emissários se concentrassem mais ao seu redor.
De repente, os Emissários da Morte pararam de voar em círculos e avançaram sobre Peter. O rapaz tentou fazer um feitiço, mas não teve tempo. De súbito, os Emissários o derrubaram no chão e embolaram-se sobre ele com suas lanças erguidas.
Quando Peter viu que várias lanças desciam contra seu corpo, uma voz rouca e fraca como um sussurro surgiu do nada e lançou um feitiço.
__Lorium....
Correndo na direção dos Emissários, uma criaturinha ergueu a mãozinha acinzentada para o alto e lançou uma grande luz.
A luz avançou sobre todos os Emissários como uma onda avassaladora, afastando as criaturas e os mandando para bem longe.
Enquanto as ondas de luz expulsavam os Emissários da Morte, Lisa olhou para a fonte da luz e viu com sua visão meio ofuscada uma criaturinha acinzentada lançando o feitiço. O mesmo aconteceu com Peter que, caído no chão, também a viu entre a luz ofuscante o Ser que os protegia.
Do alto das árvores, o homem que libertara os Cards Mortais dos Emissários da Morte, assistia os seus servos fugiram da luz. Eu não vou permitir que essa criaturinha insignificante atrapalhe os planos de meu mestre!
Tirando sua varinha de dentro do pano negro, o homem lançou uma bola de luz que bateu contra a criaturinha e a lançou para bem longe.
Após tirar a criaturinha do seu caminho, o homem voou de cima da árvore e posou a menos de dez metros de Peter.
__Quem é você? __perguntou Lisa levantando-se e pegando sua varinha.
__Afinal, nos reencontramos novamente, Lisa!
O homem passou ao lado de Peter e aproximou-se mais um pouco de Lisa. Peter, que estava mais assustado do que nunca, rastejou para trás e tentou se afastar do homem.
__Foi você, não foi? __perguntou Lisa__ Foi você quem mandou os Cards Mortais atrás de mim, não é? Quem é você? O que você quer? Porque está fazendo isso...
__Lamento, Lisa! Mas aqui é a sua parada final!
Peter viu que o homem ia atacar Lisa e apontou sua varinha para ele.
__Ex...
__Petrificus totalis!
O homem virou-se para Peter e lançou uma bola de luz contra ele. O feitiço acertou Peter e o jogou a mais de dez metros de distância. Depois de cair arrastado no chão, Peter levantou-se e antes mesmo de fazer algum movimento, seu corpo começou a endurecer até virar pedra.
__Peter!
__Agora é só eu e você, Lisa!
O homem fez um movimento com a varinha e Lisa desprendeu-se da terra e ficou suspensa no ar com alguma coisa invisível sufocando-a.
__Por que... está... fazendo isso? __perguntou Lisa sufocada.
__Há muitas coisas que...
__Ex ducere!
Uma luz saiu de trás de uma árvore e jogou o homem a mais de vinte metros sobre o chão. Em seguida, uma outra luz saiu de trás da árvore e puxou Lisa como se uma ventania a estivesse carregando para algum lugar.
A luz, envolvida com vento, puxou Lisa por entre as árvores e a carregou até um local onde havia uma enorme parede de raízes entrelaçadas uma sobre as outras. De súbito, as raízes se afastaram para o lado e um buraco surgiu no muro vegetal.
Lisa rodopiou no ar e a luz a jogou para dentro do buraco do muro de raízes. Quando Lisa menos esperou, seu corpo bateu contra um chão pedregoso num grande baque doloroso.
Depois de alguns segundos, Lisa levantou-se sentindo que alguma de suas costelas havia se quebrado. Ao levantar-se, Lisa olhou para trás e viu o buraco no muro de raízes se fechando.
Lisa olhou para os lados e viu enormes pontas de espinhos que nasciam da terra e ficavam a mais de dez metros de altura, formando um enorme deserto espinhoso sobre o luar. Tentando encontrar uma forma de sair dali, Lisa subiu sobre uma ponta de espinho recurva e olhou para o horizonte. Não havia nada no horizonte a não ser pontas de espinhos de vários tamanhos que pareciam não ter fim.
Ao virar-se para o outro lado, Lisa viu uma fumaça levantar a mais de mil metros de onde ela estava. Podia ser uma casa, talvez!
Lisa desceu de cima do espinho recurvo e começou a caminhar na direção da fumaça sem entender porque estava desejando ir até lá. Depois de quase meia hora andando e pulando sobre espinhos quebrados, Lisa avistou um outro bosque de árvores pequenas, secas e galhudas. No início do bosque havia um pequeno riacho que tinha uma ponte de pedra em forma de meia lua sobre ele. À frente do riacho, havia uma casa, também de pedra, com duas torres e uma chaminé soltando fumaça.
Com o coração acelerado, Lisa adiantou os passos, passou sobre a ponte e correu até a casa.
Ao aproximar-se da casa, Lisa levou um choque. As janelas estavam quebradas e a porta estava escancarada como se alguém a estivesse arrombado. Temendo o que encontraria lá, Lisa chegou até a porta e bateu nela. Ninguém respondeu.
Tomando coragem, Lisa resolveu entrar e encontrou a casa virada de pernas para o ar. Haviam móveis quebrados, jogados pelo chão e agarrados nas janelas.
Lisa continuou a entrar. Ela passou pelo hall de entrada e chegou numa sala redonda onde havia várias corujas empalhadas caídas no chão, um gato preto __também empalhado__ pendurado no teto pelo rabo e uma mesa com as duas pernas quebradas.
Lisa se aproximou da mesa e sentiu algo bater contra seus pés. Ela olhou para baixo e viu uma bola de cristal. Lisa pegou a bola de cristal e olhou para ela. De súbito, uma voz surgiu por trás dela.
__Eu a estava esperando... Filha do Herdeiro!
Madame Geoffrin
Madame Geoffrin era uma mulher de meia idade, tinha um rosto fino marcado por algumas rugas e usava vestes humanas. Seus cabelos eram um pouco grisalhos e estavam jogados num lado do pescoço. Geoffrin lançou um sorriso amigável para Lisa e sentou-se numa cadeira do outro lado da mesa com as pernas quebradas. Ao sentar-se, ela cruzou as pernas e fez um movimento com as mãos. Lentamente, a bola de cristal desprendeu-se das mãos de Lisa e levitou até alcançar a sua dona.
Madame Geoffrin alisou a bola de cristal e fitou Lisa com seus olhos mais azuis do que o céu.
__O que a preocupa, querida? __disse Geoffrin com uma voz doce e confortante.
__Vo-você! Eu a conheço de algum lugar...
__O destino é curioso, não?
__Me desculpe, mas, o que é curioso?
Madame Geoffrin alisou mais uma vez a sua bola de cristal e depois sorriu para Lisa.
__É curioso como o destino marca nossos caminhos de forma tão... espantosa! Há um ano atrás, nossos destinos se encontraram e agora, eles se encontram novamente. Sabe, Lisa eu esperei ansiosa por esse momento...
Lisa olhou para aquela mulher que sabia seu nome tão perfeitamente e buscou na memória alguma coisa relacionada a ela. Foi então que se lembrou:
__A senhora... é a mesma que estava na Casa do Oráculo no ano anterior, não era?
__Sim __sorriu Geoffrin__ Nós nos encontramos pela primeira vez quando a trama ainda não estava bolada...
__Trama? __perguntou Lisa.
Madame Geoffrin tombou a cabeça para o lado e olhou para seus móveis quebrados e espalhados pela casa. Lisa percebeu que olhava triste para seus pertences e não hesitou em perguntou:
__O que houve aqui?
Geoffrin alisou sua bola de cristal mais uma vez e suspirou baixinho.
__Quem dera se tudo fosse como antes... tudo seria diferente, Lisa... tudo!
__Me desculpe, mas eu não estou entendendo!
__É claro, querida, que não! Nem sempre as coisas foram como são... Aquele tempo, Aragorn era segura até Ele aparecer...
__Ele quem?
Geoffrin ficou em silêncio com seus olhos azuis escurecendo de tristeza enquanto sua mão alisava a bola de cristal. Naquele momento, Lisa não sabia o que pensar. Era insuportável o silêncio daquela mulher. Ela tinha que saber o que ninguém se atrevia a contar-lhe. Ela tinha que saber...
__Me diga Geoffrin, de quem você está falando?
Mas Geoffrin não disse nada. A enigmática mulher continuou a alisar a bola de cristal e distanciar o olhar.
Lisa olhou para a mulher e sentiu suas veias pulsando de raiva. Ela fechou as mãos para controlar a raiva, mas quando viu, já estava gritando.
__DIZ ALGUMA COISA! EU NÃO PASSEI LONGOS MESES A SUA PROCURA E TAMBÉM NÃO ARRISQUEI MINHA VIDA PARA QUE VOCE FIQUE EM SILENCIO!
Mas novamente Geoffrin permaneceu em silêncio. Lisa já estava a ponto de agarra-la pelo pescoço quando reparou em um detalhe. À medida que Geoffrin passava a mão sobre a bola de cristal, várias nuvens se formavam e rodavam dentro dela. Aos poucos as nuvens pararam de girar e uma imagem surgiu lentamente dentro da esfera. De repente...
Desde que largara Tom para trás, Louise andava marcando as árvores com um feitiço. O feitiço provocava um pequeno descascamento na árvore marcando assim o local por onde elas já haviam passado. Era uma forma de se certificar de que ela e Maya não se perderiam e de que quando destruíssem o Card que matara Tom, não ficaria difícil reencontrar o rapaz. Bastava apenas seguir as marcas de Louise e encontra-lo.
Nesse meio tempo, Dan caminhava a passos longos desbravando a floresta que ainda recebia o nome de bosque, a procura de Lisa e dos outros.
__A presença de Cards Mortais nesse lugar não é um bom sinal! __disse Dan__ Siguinifica que alguém os está usando contra nós porque não quer nos ver aqui!
__Será que essa tal Madame Geoffrin tem algo a ver com isso? __perguntou Cliffe.
__Eu acho que nós estamos confiando demais nas vozes que Lisa ouve e nos sonhos dela, vocês não acham? __perguntou Cliffe.
__Não, eu não acho, Zig! __disse Dan parando e amarrando a cara para Zig__ Se Lisa sonhou que ela deveria encontrar Geoffrin para descobrir toda a verdade, eu acho que ela fez a coisa certa em procura-la.
__Coisa certa, cara? __protestou Cliffe__ Olha só onde nós estamos! Que verdade você espera encontrar aqui? Por acaso a ilusão de que a Besta sobreviveu e agora ela está levantando seu exército para tentar tomar Aragorn novamente?
Dan parou de chofre e olhou para Cliffe.
Será que ele está certo?
Lentamente, uma névoa negra surgiu dentro da bola de cristal e formou uma grande árvore negra de galhos secos e sombrios. De repente, os olhos de Madame Geoffrin se distanciaram como se estivessem vendo alguma coisa muito além da nossa realidade. Aos poucos Geoffrin moveu os lábios e quebrou o silêncio insuportável.
__No início dos tempos, apenas uma árvore habitava o mundo das trevas. Os antigos a chamavam de Tenebrus, a árvore das trevas!
Lisa não entendia até onde Madame Geoffrin queria chegar, mas ela não viera de tão longe apenas para ouvir histórias de uma árvore que tinha um nome tenebroso. Na verdade, a paciência de Lisa já estava chegando no limite. Ela, então, abriu a boca para interromper Geoffrin. No entanto algo na bola de cristal voltou a chamar a atenção de Lisa.
Lentamente entre os galhos secos da árvore, uma fruta, semelhante a uma maçã podre, surgiu ao mesmo tempo em que Geoffrin continuava com sua narração misteriosa.
__Certa vez, Tenebrus floresceu e produziu apenas um único fruto. Esse fruto cresceu, amadureceu e caiu dentro das águas negras do Lago das Almas.
‘Durante séculos, o fruto negro de Tenebrus ficou mergulhado nas águas da dor, do sofrimento, do ódio... até que em um dia ele foi levado pela correnteza e deixado as margens de uma terra onde homens de bens cultivavam a paz.’
Com os olhos fixos na bola de cristal, Lisa viu o fruto negro sendo levado pela correnteza e deixado a beira de um riacho cheio de pedras. Enquanto as imagens surgiam na bola de cristal, Madame Geoffrin mantinha sua narração com seu olhar distante e misterioso.
__Certo dia, o fruto negro foi encontrado por uma pequena menina que colhia frutos com a mãe. Estando com fome, a menina levou o fruto a boca e comeu-o, deixando apenas uma estranha semente pulsante.
Dentro da bola de cristal, Lisa viu o rosto de uma menina com a boca lambuzada por algo negro e gosmento. Em seguida, a mão da garota surgiu segurando uma semente que parecia pulsar como um coração humano.
Novamente, nuvens tempestuosas tomaram conta da bola de cristal. Quando Lisa percebeu, uma nova imagem surgiu. Nela, Lisa viu a menina colocando a semente pulsante na boca e engolindo-a. Após engolir a semente, Lisa viu as veias da menina saltando para fora do corpo e seus olhos ficando vermelhos. De repente, chifres surgiram na cabeça da menina seguida por asas de morcego que nasceram das costas dela. De súbito, a imagem da menina foi desaparecendo num redemoinho distorcido. Logo em seguida, Lisa afastou-se para trás ao mesmo tempo em que a menina gritava agoniada em seus ouvidos.
__Ah!
__Longbottom, vamos parar um pouco! __disse Maya__ Minhas pernas já não agüentam mais!
Louise marcou uma árvore com um feitiço e depois virou-se para Maya com a testa levemente enrugada.
__Ora Maya, se sabia que iria ser cansativo, porque não ficou na Fonte Phoenix? Creio que lá você teria sombra e água fresca a hora que quisesse!
__Ah, muito engraçado, Longbottom! Fique sabendo que quando voltarmos meu pai tomará as devidas providências para que...
__Eu não importo nem um pouco para que seu pai possa fazer ou não! Agora, tire seu traseiro sujo de cima dessa pedra e vamos continuar andando...
__Quero ver quem me tira daqui! __desafiou Maya.
__Está bem. Pode ficar aí! __disse Louise sorridente__ Depois não me venha pedir ajuda quando um bando de Canidópulus te atacar...
Louise deu de costas para Maya e saiu andando entre as árvores marcando-as com um feitiço. Nesse meio tempo, Maya ficou olhando apreensiva para os lados. Ao ouvir algo se mexer atrás de uma moita de espinhos, Maya deu um pulo e correu até Louise.
__Louise, espera! Não vamos nos precipitar, não é?
__O que foi Maya, por acaso está com medo? __perguntou Louise rindo.
__Medo? Eu? Ora, francamente Longbottom!
Apesar de Maya negar, Louise sabia perfeitamente que a patricinha metida a besta estava se borrando de medo. No entanto, nem mesmo Louise conseguia admitir que também sentia uma pitada de medo ao andar num lugar onde a cada hora que passava ficava mais escuro ainda.
__Louise, será que vamos demorar a encontrar o Canidópulus? __perguntou Maya arregalando os olhos sempre que via algo estranho ao seu redor.
__Não sei. Ainda há rastros de sangue no chão __disse Louise abaixando e mexendo algumas folhas com a ponta da varinha__ Acredito que devemos estar perto de encontra-lo. Ele não deve ter ido muito longo com o ferimento que eu provoquei e...
Louise e Maya pararam de chofre ao verem uma moita de arbustos pequenos se mover. Imediatamente, Louise apontou a varinha para a moita enquanto Maya tentava esconder-se atrás dela.
__O que foi isso? __perguntou Maya tremendo as pernas.
__Deve ser o Canidópulus ferido! __disse Louise acendendo uma luz vermelha na ponta da sua varinha__ Ai Maya, não me empurra!
Maya tremia mais do que uma vara verde e atrapalhava Louise a aproximar-se da moita de arbusto para descobrir o que se mexia dentro dela. De repente, Louise ouviu um gemido vindo da moita e logo em seguida alguém saiu de dentro dela. Imediatamente, Maya deu um grande grito e bateu a mão contra a varinha de Louise.
De súbito um raio de luz vermelha riscou o bosque na direção de um rapaz de cabelos encaracolados seguido dos gritos de Louise e de mais três pessoas.
__Hei, cuidado! Olha para onde você atira! __disse Cliffe vendo alguns fios de cabelos da sua cabeça chamuscados e a moita virando cinzas__ Você podia ter me matado, sabia?
__Cliffe, Zig, Dan!
Louise correu até Dan, Zig e Cliffe e abraçou-os tão forte que Zig sentiu-se sufocado.
__Obrigado por não ter me sufocado! __resmungou Zig.
__É tão bom ver vocês novamente! __disse Louise__ Mas, o que estavam fazendo atrás dessa moita de arbustos?
__É o Dan! __disse Cliffe tentando arrumar o cabelo chamuscado__ Nós ficamos perdidos indo e voltando ao mesmo lugar. Aí o Dan teve a idéia brilhante de tentar atravessar essa moita para ver se conseguíamos encontrar uma outra saída e... olha só o que me aconteceu?
__Me desculpe Cliffe! Não foi minha intenção atingi-lo __disse Louise__ Acontece que teve alguém morrendo de medo que me fez lançar o feitiço!
__Ah, agora a culpa é minha, é? __disse Maya com sua voz irritante.
__Ah, você está aí? __disse Zig fingindo que não a notara__ Pensei que já tinha voltado para os braços do seu papai!
Maya resmungou algo baixinho e procurou uma pedra para sentar-se. Não encontrando nada, Maya sentou-se sobre um tronco de uma árvore caída e virou de pernas para o ar __a madeira estava podre!
__Louise, onde está Tom? __perguntou Dan.
Louise deu um suspiro e respondeu a pergunta de Dan com a cabeça baixa. Após ouvir o que aconteceu com elas, foi a vez de Dan contar com o que houve. No final, ambos ficaram intrigados.
__Louise, tem algo muito estranho acontecendo! __exclamou Dan__ Primeiro eu os Pés Grandes somos atacados por Cards Mortais e agora Tom é assassinado por um Card... Você não acha muita conhecidência? Quero dizer, Cards não são encontrados dentro de florestas e bosques. Eles são manipulados por pessoas...
__O que significa que alguém os está libertando e mandando-os nos atacarem! __disse Louise.
__Mas por que fariam isso?
__Não sei, Dan! Mas, eu temo por Lisa. Algo está errado aqui... muito errado!
Lisa afastou-se para trás com o grito agonizante da menina e bateu de costas contra a parede de pedra. O grito foi tão intenso que Lisa sentiu sua marca doer e algo estranho remoendo seu coração. De repente quando ela menos esperou, os gritos cessaram e Lisa viu uma fumaça vagando inocentemente dentro da bola de cristal.
__O que foi isso? __perguntou Lisa se aproximando novamente de Geoffrin__ O que aconteceu com aquela menina? Por que eu senti...
__Medo? __perguntou Geoffrin fitando Lisa com seus olhos azuis ainda escuros__ Não se preocupe, é um sentimento normal! Muitos motivos a fizeram sentir isso. Um deles é a lembrança da existência de uma das criaturas mais perversas, talvez a mais cruel que Aragorn já conheceu!
__Desculpe, mas eu não estou entendo!
Madame Geoffrin descruzou as pernas e levantou da cadeira. Ela se dirigiu até uma das janelas quebradas e disse alisando a bola de cristal:
__Aquela semente, Lisa, era a Semente do Mal. A única semente que Tenebrus conseguiu produzir germinou dentro do corpo daquela inocente criança. Não me cabe dizer ou julgar o que Tenebrus queria ao produzir o Fruto Negro, mas quem a comeu desencadeou o que hoje nós chamamos de corrente do mau! Uma corrente tão poderosa que até hoje ninguém nunca conseguiu destruir.
__E o que exatamente aconteceu a aquela menina?
__Lisa, quando a Semente do Mal germinou, uma árvore brotou dentro do coração daquela garota. Uma árvore tão perversa quanto à própria Tenebrus. As raízes dessa árvore se ramificaram nas veias da menina e tomaram conta de todo o seu corpo. A cada ramificação, uma nova raiz nasceu, formando outras novas ramificações. Foi um processo em cadeia que sugou todo o sangue da menina e o transformou numa corrente do mau.
‘Sabe Lisa, a partir daquele dia, a menina ficou controlada pelas raízes da árvore filha de Tenebrus. Nasceu assim, a pior criatura que já existiu. Uma criatura que podia dominar as sombras e tudo que cercasse as trevas. Essa criatura recebeu o nome de Keerva, a deusa da Destruição.’
‘Foram tempos terríveis aqueles. Com o corpo da menina sob seu controle, Keerva ergueu um exército de demônios e conquistou quase toda Aragorn. Muitos lutaram contra ela, mas poucos conseguiram sobreviver. Entre os seis reinos que existem, apenas o Reino de Allenah manteve-se intacto aos ataques de Keerva. Isso porque em Allenah, na parte sul onde se desmembrou o Reino da Fênix posteriormente, havia uma ave de fogo que possuía poderes incríveis. Essa ave era capaz de inibir as trevas e ferir Keerva.’
__Essa ave era a Fênix, não era? __perguntou Lisa interessando-se pelo assunto__ A Fênix que tinha o Sétimo Espírito, não era?
__Sim, era ela __confirmou Geoffrin sem olhar para Lisa ou para a bola de cristal em suas mãos__ A Fênix foi à protetora de todo o reino até quando ela pode protege-lo.
‘Depois de muitos séculos frustrantes, Keerva descobriu que havia uma criatura capaz de sugar o Sétimo Espírito e transforma-lo em uma fonte de poder inesgotável para as trevas. Essa criatura, Lisa, era um Carrasco. O pai de todos. Ele se auto denominava Malagat, a Besta.’
Ao ouvir o nome de Malagat, Lisa sentiu uma fisgada forte na sua marca que nunca houvera sentido antes. Naquele momento ela teve uma sensação ruim e estremeceu.
__Keerva procurou Malagat e ofereceu-lhe o que ele mais ambicionava na vida: ter o poder total sobre o universo ao lado da deusa da Destruição. Era uma proposta atentadora que ele não podia recusar.
‘A união entre Keerva e Malagat provocou o surgimento de intensas batalhas entre demônios e os habitantes do Reino de Allenah. As batalhas causaram grandes catástrofes irrecuperáveis.’
‘Abalado com o final que seu reino estava tendo e temendo que Keerva conseguisse atingir seu propósito, Grifus Allenah uniu-se a cinco poderosos sacerdotes e tentou destruir a deusa da Destruição. Foi uma batalha intensa entre o bem e o mau. Keerva era muito poderosa e os poderes dos sacerdotes eram insuficientes frente a ela.’
‘Tentando afastar a idéia de que tudo estava perdido, Grifus Allenah e os cinco sacerdotes encontraram forças provenientes da esperança dos habitantes de Aragorn. Foi aí que começou a revolta contra Keerva.’
‘Num certo dia, Keerva atacou a aldeia onde Grifus e os sacerdotes estavam se recuperando das batalhas e a destruiu completamente. Nesse mesmo dia, Grifus usou uma poderosa magia antiga desconhecida por todos e usou-a para transformar a esperança das pessoas numa arma tão poderosa quanto à própria deusa da Destruição.’
‘Unindo-se em torno de Grifus Allenah, os sacerdotes produziram um poderoso encantamento que foi lançado contra Keerva. O encantamento dilacerou o corpo de Keerva e a transformou em milhares de sombras que se dispersaram por Aragorn.’
‘No entanto nem tudo estava terminado como os sacerdotes supunham. Malagat ainda estava vivo e a Fênix corria um grande perigo. Foi aí que surgiu a solução mais desesperada de todas.’
‘Com o consentimento da Fênix, os sacerdotes aprisionaram o poder da ave de fogo em duas poderosas armas e depois lançaram um feitiço contra o Sétimo Espírito fazendo-o ir embora e reencarnar de tempos em tempos no corpo de uma mortal. Mas mesmo assim, Malagat ainda era uma grande ameaça, pois partes dos poderes da Fênix estavam nas armas e isso era suficiente para que a Besta dominasse Aragorn.’
‘Não encontrando outra solução, Grifus Allenah demarcou a área onde a Fênix habitava e desprendeu-a do Reino. Formou assim, uma gigantesca ilha que séculos mais tarde iria se chamar Reino da Fênix e ter os castelos mais seguros do mundo onde as armas seriam guardadas, a Fonte Phoenix.’
‘Malagat tentou impedir que as armas fossem protegidas, mas Grifus Allenah, apesar de estar fraco e cansado, ergueu seu cetro mais uma vez e ordenou que o reino se partisse mais uma vez. Precipícios de terras surgiram em torno do exército de Malagat e os distanciaram de todos os reinos. Surgia assim, a Ilha das Sombras. Uma ilha amaldiçoada pelos sacerdotes onde as criaturas das trevas foram proibidas de sair de lá.’
__Então foi assim que tudo começou! __exclamou Lisa olhando para Geoffrin.
__Sim, Lisa! As armas criadas pelos sacerdotes foram a espada e a varinha Witchfire e as mortais que recebiam a reencarnação da Fênix receberam o nome de Bruxas de Fogo...
Geoffrin deu um suspiro leve e voltou lentamente para a sua cadeira. Lá, ela cruzou as pernas novamente e voltou a alisar a bola de cristal.
Enquanto Geoffrin alisava a bola, Lisa observava a nova imagem que surgia. Era um bebê enrolado num pano negro mergulhado em várias sombras. Lisa tentou ver o rosto da criança, mas não conseguiu.
De súbito, Geoffrin ergueu os olhos e disse para Lisa:
__Durante séculos, Malagat perseguiu as Bruxas de Fogo na tentativa de sugar o Sétimo Espírito, no entanto ele nunca obteve sucesso algum. Mas, houve uma época tempestuosa em que Malagat quase alcançou a vitória.
‘Depois de muitos séculos após a desintegração de Keerva, nasceu uma criança na Ilha das Sombras proveniente da união do espírito maligno de Keerva que habitava o local e do sangue de Malagat. A união dos dois gerou o pior General das Trevas que já existiu. Devido a espantosa habilidade que a criança tinha em manipular as sombras, Malagat o chamou de Gorgon, o Mestre das Sombras.’
‘Anos mais tarde a Besta passou confiar a Gorgon a liderança de seu exército de Carrascos e de demônios ao lado de seis poderosas criaturas, os Generais das Trevas. Iniciava-se Lisa uma nova guerra tão cruel quanto à última.’
‘Sob o comando de Gorgon, os Generais das Trevas invadiram o Reino de Crystalice a procura da mais jovem Bruxa de Fogo. No entanto, a criança recém-nascida não estava lá. Furioso, Gorgon mandou que o reino fosse destruído e que toda criança recém-nascida fosse morta.’
‘Durante um período de um ano, Gorgon e os Generais destruíram todos os reinos que existiam a procura da reencarnação da Fênix. Entre tanta devastação, apenas um reino sobreviveu, o reino onde a criança estava escondida, o Reino da Fênix.’
‘Após descobrir que a criança estava sendo protegida na Fonte Phoenix, Malagat mandou Gorgon atacar o Reino da Phoenix e trazer a criança para ele. O ataque foi devastador. Milhares de soldados morreram tentando proteger a criança.’
‘Quando Gorgon e os Generais das Trevas estavam próximos a Fonte Phoenix, um comandante leal ao rei Aton liderou um poderoso exército que contra-atacou as tropas do Mestre das Sombras. Depois de dias de batalha, o comandante das tropas de Aton conseguiu lançar um poderoso encantamento sobre Gorgon que o aprisionou num grande baú de ferro.’
‘Após trancafiar Gorgon, o comandante lançou uma poderosa maldição sobre o baú e o levou para a montanha mais alta da Ilha das Serpentinas. O baú ficou escondido no subsolo de um templo antigo onde ninguém pudesse encontra-lo.’
Geoffrin parou de alisar a bola de cristal que nesse momento refletia um baú de ferro com milhares de trancas e fitou Lisa por uns instantes. Em seguida ela disse:
__Após o aprisionamento de Gorgon, Malagat ficou furioso com a incompetência dos Generais das Trevas e ordenou um ataque surpresa a Fonte Phoenix. Como o exército do rei estava cansado, o exército de demônios e Carrascos destruíram as muralhas da Fonte Phoenix e invadiram os castelos a procura da criança.
‘Foi uma noite terrível aquela! Todos deram suas vidas para proteger a criança, inclusive os pais dela e o próprio rei Aton! Creio que o resto da história você já saiba. Afinal, a criança a quem Malagat tanto perseguia era você, Lisa!’
Lisa afastou-se para um canto da sala e agachou-se no chão. Por longos minutos Lisa reviveu mentalmente as imagens que a bola de cristal mostrava. Uma gigantesca guerra entre soldados e demônios, milhares de pessoas morrendo, um comandante lançando um encantamento contra uma criatura rodeada por sombras que Lisa não conseguiu ver o rosto e uma criança de olhos verdes esmeralda no colo de uma mulher que fugia desesperadamente de vários Carrascos. Naquele momento, Lisa sentiu remorso e nojo de si mesma.
__Aquelas... aquelas pessoas morreram por minha culpa! __disse Lisa entre lágrimas.
__Não, Lisa. Aquelas pessoas não morreram por sua culpa! __disse Geoffrin fitando Lisa com seus olhos azuis voltando a sua tonalidade normal.
__COMO NÃO? __gritou Lisa__ SE EU NÃO ESTIVESSE NASCIDO, AQUELAS MORTES NÃO TERIAM OCORRIDO... NADA DISSO TERIA ACONTECIDO!
__Você está enganada, Lisa! Era seu destino nascer com o Sétimo Espírito. Você foi à escolhida e não pode negar esse fato. Entenda, aquelas pessoas fizeram suas próprias escolhas. Por isso elas sacrificaram suas vidas para lhe proteger!
Mas Lisa não conseguia entender por que aquelas pessoas deram suas vidas por ela. Naquele momento, o sentimento de culpa era algo que pesava em seus pensamentos fechando seus ouvidos contra as explicações de Geoffrin.
__Mas não era para ser assim! __disse Lisa abaixando a cabeça.
__Eu lamento Lisa que o destino tenha sido tão cruel com você e com o comandante das tropas do rei Aton...
__Porque diz isso? __perguntou Lisa erguendo a cabeça.
__Porque houve uma injustiça com o homem que trancafiou Gorgon __disse Geoffrin levantando-se da cadeira e aproximando-se de Lisa__ Ninguém estava presente na hora em que o encantamento foi lançado. Após o aprisionamento do Mestre das Sombras, os aliados de Malagat disseram que o quarto General das Trevas havia traído a confiança de Gorgon. Como ninguém conhecia a face do quarto General das Trevas, foi fácil dizer que o homem fiel ao rei e que tinha salvado todos da ameaça chamada Gorgon era um dos generais do exército da Besta. É claro, Lisa, que isso foi apenas uma forma de puni-lo por ter trancafiado o filho de Malagat. O verdadeiro quarto General das Trevas continuou vagando pelos reinos de Aragorn como um homem normal enquanto um outro homem inocente estava sendo cassado. Entende agora, Lisa? Fizeram isso apenas para preservar a verdadeira identidade do quarto General das Trevas!
Lisa parou de pensar nas mortes que ocorreram e lembrou-se de um fato importante que ela tanto queria entender. Naquele momento, uma luz acendeu na cabeça de Lisa e a fez abrir os olhos para o mistério que a rodeava desde o inicio do ano.
__Espere __disse Lisa levantando-se e enxugando suas lágrimas__ o quarto General das Trevas a quem os Generais acusaram de ter traído Gorgon é...
__Sim, Lisa. O comandante das tropas do rei Aton que conseguiu aprisionar o Mestre das Sombras chamava-se... Mayer Slater!
__Louise, nós temos que encontrar Lisa e Peter e dar um jeito de sair daqui o mais rápido possível! Isso depois de termos destruídos o Card Mortal que matou Tom! __disse Dan__ É claro! Louise, porque você não usa a bússola para localiza-los?
Louise olhou sem graça para Dan e tirou a bússola quebrada do bolso da calça.
__Lamento Dan!
Dan pegou a bússola quebrada não acreditando no que estava acontecendo. Por um instante todas as suas esperanças de sair logo do Bosque Espinhoso e voltar para a Fonte Phoenix se partiu assim como a bússola virou milhares de pedaços.
__Que ótimo! __disse Dan__ E agora, como vamos sair daqui?
__Acredito que ficar lamentando não vai resolver nada!
Para surpresa de Dan e Louise, Maya aproximou-se deles com os braços cruzados e com os cabelos cheios de pedaços de pau podre. Ela parecia irritada e ao mesmo tempo determinada.
__Por acaso você tem alguma idéia brilhante de como encontrar o Card e depois Lisa e Peter, queridinha? __perguntou Louise.
__Certamente que não!
__Ótimo! __resmungou Dan.
__Mas se usarmos a cabeça devidamente, encontraremos uma solução mais viável __disse Maya__ E isso significa que a solução deve ser encontrada URGENTEMENTE!... Ah, eu estou imunda!
Maya passou a mão nos cabelos e saiu de perto dos dois lamentando pelo estado em que ela estava. Nesse meio tempo, Zig e Cliffe não acreditavam que Maya tivera a capacidade de dizer aquilo tudo por nada.
__Nossa, ela ajudou tanto! __exclamou Zig.
__Na verdade ela ajudou muito mais do que vocês __disse Dan.
__Ajudei? __perguntou Maya voltando-se para todos__ É, ajudei!
__Se usarmos a cabeça, sairemos logo daqui__ disse Louise__ Vamos, não podemos ficar parados! Anda Zig... Cliffe, tirem seus traseiros de cima dessa pedra, AGORA!
__Estamos tirando nosso traseiro de cima dessa pedra, senhorita Longbottom! __desdenhou Cliffe.
__É, não se preocupe __disse Zig__ ela não vai ficar agarrada ao nosso traseiro!
__Engraçadinhos!
Enfileirados, os cinco voltaram a caminhar entre a escuridão do bosque. O local onde eles estavam era tão fechado que nem o céu era possível ver. No chão, o rastro de sangue que Louise perseguia já era quase imperceptível. Nem com uma luz acesa na ponta das varinhas de Louise e Maya estavam sendo suficientes para continuarem a seguir o rastro de sangue.
__Não podemos continuar, Louise! __disse Dan abaixando-se para tentar enxergar uma poça de sangue__ Vai ser impossível encontrar o Card que matou Tom e muito menos Lisa e Peter.
__É, Louise __disse Cliffe__ Já é tarde e nós precisamos descansar... dormir um pouco, entende? Agora, dá um tempo, tá!
__Prometo que amanhã nós vamos levantar bem cedo e voltar a fazer as buscas, ok?
__Está certo! __concordou Louise__ Só espero, Dan, que amanhã não seja tarde demais!
__Não será, Louise! Confie em mim.
Apesar das palavras de Dan, Louise temia que jamais pudesse reencontrar o Card que matara Tom. Naquele momento, suas únicas esperanças eram que Lisa e Peter estivessem bem e que o Canidópulus não estivesse muito longe. Mal sabia ela que o Card estava mais perto do que eles imaginavam.
Enquanto Louise fazia os baús de mantimentos voltarem ao tamanho normal, Maya tentava fazer seus cabelos ficarem lisos e sedosos com um feitiço. No entanto, ao invés de ficarem lisos e sedosos os cabelos dela armaram para o auto numa grande explosão de luz envolta em fumaça.
No susto que levou, Louise virou-se para trás e olhou para os cabelos armados de Maya.
__No que pensa que está fazendo?
__Eu...
Mas, antes de Maya dizer algo, alguma coisa se moveu por trás dela e surgiu entre as sombras do bosque. Dentre a escuridão, um par de olhos vermelhos brilharam chamando a atenção de Louise.
__Maya, não se mova!
__Como? __perguntou Maya levantando-se__ Porque eu não deveria me mover, hein?
Assim que Maya levantou-se, os olhos vermelhos piscaram, seguido de um rosnado tenebroso. Naquele momento, Maya fez uma expressão horrível e pareceu imobilizada.
__Tem alguma coisa atrás de mim, não tem? __temeu Maya ao perguntar.
__Fica quieta, Maya __disse Dan__ Quando eu contar até três, você abaixa lentamente, ok?
Maya fez um sinal positivo com a cabeça e ficou quieta com os olhos faltando pouco saltarem de suas órbitas.
__Um... dois...
Maya começou a suar frio e fechou os olhos. Louise, por sua vez, segurou forte a varinha e preparou-se para atacar.
__TRÊS! __gritou Dan.
Imediatamente Maya jogou-se ao chão ao mesmo tempo em que um raio de luz riscou sobre sua cabeça na direção do Canidópulus que surgia por trás dela. O feitiço acertou a criatura e a jogou para longe. No entanto, a criatura levantou-se novamente e rosnou furiosa para eles.
De repente, várias tochas de fogo esverdeado surgiram entre a escuridão e os cercaram.
__Parece que ele não está sozinho, não é? __disse Cliffe.
__E agora, o que vamos fazer? __perguntou Zig afastando-se para trás junto com os outros.
__Porque não destrói todos eles de uma vez só, Louise? __perguntou Maya segurando sua varinha.
__O quê? Eu não tenho feitiços tão poderosos para isso!
__ENTÃO COMO CONSEGUIU DESTRUIR TODOS AQUELES CANIDÓPULUS? __gritou Maya.
__Aquilo foi um ato involuntário sua idiota!
__Meninas, eu não quero atrapalhar mas, isso não é hora para discussões! __disse Zig__ Se não perceberam ainda, NÓS ESTAMOS CERCADOS POR CENTENAS DE CANIDÓPULUS FAMINTOS!
__Certo! __disse Louise retomando sua postura__ Vamos atacar todos de uma vez.... AGORA! Extrombordium!
Os feitiços de Maya e Louise atingiram dois Canidópulus e os jogaram para longe. No entanto, ao invés de recuarem, os Canidópulus avançaram sobre os cinco e os atacaram.
Rapidamente, Maya e Louise reagiram ao ataque e explodiram dois Canidópulus com um feitiço. Nesse meio, Dan e os Pés Grandes tentavam se defender com pedaços de pau, mas acabaram sendo atacados e derrubados ao chão pelas criaturas.
__Socorro! Me ajudem! __gritava Zig vendo a língua da criatura prestes a toca-lo.
Um Canidópulus pulou sobre Louise e foi destruído no mesmo instante por um feitiço. Vendo que Dan e os Pés Grandes estavam sendo atacados, Louise destruiu mais dois Canidópulus que a atacaram e correu para ajudá-los.
__Canis Expellio!
O feitiço de Louise bateu contra o Canidópulus e o jogou contra os outros que vinham na direção de Zig.
Nesse meio tempo, Maya estava enfrentando dificuldades com cinco Canidópulus que a haviam cercado. Sem ver o que estava fazendo, Maya apontou a varinha e atirou desordenadamente para todos os lados.
Os feitiços atingiram vários Canidópulus e por um triz quase não acertaram Louise também.
__Cuidado com sua apontaria sua idiota! Extrombordium!
Louise abriu caminho entre as criaturas e correu até Dan. Em seguida, ela girou a varinha e destruiu o Canidópulus que estava prestes de lamber Dan.
__Por que não o destruiu antes? __perguntou Louise observando que Dan não lançara nenhum feitiço para se proteger.
__Simplesmente por que meus poderes desapareceram!
__Seus poderes, o quê?
__Essa é mais uma coisa que aconteceu que eu esqueci de te contar. Mas se não importa, temos coisas mais importantes para resolver, como por exemplo, como se livrar de todos esses Cards Mortais.
Louise olhou para o Card Mortal chamuscado caído no chão e virou-se para Dan.
__Tive uma idéia!... ABAIXA DAN!
Dan abaixou-se e Louise destruiu um Canidópulus que estava prestes a ataca-lo.
__Que idéia? __perguntou Dan erguendo-se novamente.
Louise abriu a boca para responder quando um Canidópulus ferido no lombo saiu entre as outras criaturas e chamou sua atenção.
__É ele Dan, o Canidópulus que matou Tom!
__Mayer Slater foi quem aprisionou Gorgon, agora tudo faz sentido!
Como num grande flash, as lembranças de Lisa tomaram conta de sua cabeça. Rapidamente ela assimilou os fatos e entendeu o que houve.
__Ele não é o Quarto General das Trevas como eu temia! __disse Lisa__ Agora eu entendo... A carta, Slater me escreveu uma carta me alertando de um perigo... Geoffrin, você sabe de que perigo Slater queria me alertar?
Madame Geoffrin voltou para sua cadeira habitual e recomeçou a alisar a bola de cristal. Por um momento, Lisa pensou que não obteria a resposta já que o silêncio de Geoffrin já estava se tornando num novo tormento.
__Creio que eu não seja a pessoa certa para contar-lhe a verdade, Lisa __disse Geoffrin quebrando o silêncio__ Mas há alguém que há muito tempo queria rever-lhe que julgo ser a pessoa certa para iluminar seus pensamentos sombrios.
__E quem... é essa pessoa?
Lisa olhou para a bola de cristal que Geoffrin alisava e viu uma fumaça surgir lentamente. Aos poucos a fumaça se transformou em algo turvo e com dificuldades, Lisa pode perceber que uma imagem surgia. Para surpresa de Lisa, a imagem era nada mais nada menos do que a própria sala em que ela e Geoffrin estavam. Mas havia mais alguém dentro da sala.
Vendo que alguém entrava na sala dentro da bola de cristal e que Geoffrin olhava para a porta, Lisa virou-se para trás e sentiu seu coração levar um grande choque ao ver uma criaturinha acinzentada surgir no portal da porta.
__Esperei muito para rever-lhe, menina! Como vai?
Düblin e o retorno a Fonte Phoenix
Lisa ficou estatelada no centro da sala olhando para aquela criaturinha acinzentada de olhos grandes e que usava apenas um espécie de tanga como vestes. Ela não conseguia acreditar que aquela criaturinha estava viva. Era impossível ele estar vivo, ele morreu! Só podia ser um fantasma!
__Düblin! __disse Lisa perplexa com os olhos enchendo-se de água__ Düblin... Düblin!
Mesmo temendo que o que via era apenas uma miragem ou algo sobrenatural, Lisa correu até a criaturinha e tomou-a em seus braços. Ao sentir que ela era de carne e osso, Lisa teve certeza de que o que via não era uma ilusão e apertou a criaturinha contra seu corpo, sufocando-a.
__Düblin, eu pensei... eu pensei que estava morto! __disse Lisa chorando.
__Düblin sempre esteve vivo por todo esse tempo, menina! __disse o Freeguiz sentido-se sufocado por Lisa__ Düblin está muito feliz em revê-la. Düblin esperou ansioso por esse momento.
__Mas... o que houve, Düblin? Porque me fez pensar que estava morto durante todo esse tempo?
De imediato, a criaturinha chamada Düblin não respondeu. Seus olhos cheios de lágrimas se focaram na expressão de Madame Geoffrin e depois voltaram-se para Lisa.
__Muitas coisas aconteceram desde aquela explosão na torre do Castelo Principal, menina. Nem tudo terminou como deveria terminar... Ele voltou e uma nova trama está sendo bolada, menina. Düblin teme pela menina. Coisas terríveis estão para acontecer!
__Que coisas, Düblin?
__Düblin não sabe exatamente, menina. Mas Düblin teme que Ele tenha voltado para se vingar!
__Quem é que voltou Düblin e porque quer se vingar?
Düblin murchou suas orelhas pontudas e enrugou a testa. Após dar uma rápida olhadela para Geoffrin, Düblin disse:
__Düblin não ousa dizer seu nome. É contra a natureza de Düblin pronuncia-lo. Mas, creio que Geoffrin tenha contado-lhe sobre... sobre...
__Gorgon, não é? __perguntou Lisa__ É esse o nome que você não pode pronunciar?
__Sim, é esse mesmo.
__Mas, o que Gorgon tem a ver com o que está acontecendo?
Düblin olhou assustado para os lados como se temesse que alguém os estivessem ouvindo e aproximou-se mais de Lisa.
__Ele... ele foi... libertado! O Mestre das Sombras retornou e agora, quer se vingar daquele que destruiu seu pai!
__Voltou? O que... o que Düblin está dizendo Geoffrin?
Madame Geoffrin parou de alisar a bola de cristal e focou-se em Lisa. Seus lábios moveram involuntariamente e seus olhos rodaram por toda a sala. Por fim, ela disse:
__O que eu temia Lisa, se concretizou. Gorgon voltou. Uma nova Idade das Trevas se aproxima de Aragorn!
Lisa segurou a respiração por uns instantes enquanto seus pensamentos paralisavam todos seus sentidos. Naquele momento, a idéia de que alguém queria se vingar abalou-a mais do que antes, quando não sabia nada sobre o filho da Besta. Por um instante, Lisa sentiu que um abismo se abria sob seus pés e que o tempo voltara para trás. Alguém queria se vingar dela... alguém a queria ver... morta!
__Como isso aconteceu, Düblin? __perguntou Lisa assustada__ Como isso foi acontecer?
__Conte a verdade para ela, Düblin __disse Geoffrin__ Lisa, precisa saber do que a aguarda daqui para frente.
Antes de dizer algo, Düblin abaixou seu semblante e procurou uma cadeira para sentar-se. Após estar sentado, Düblin começou a apertar as mãozinhas e morder os lábios. Entrementes, a paciência de Lisa estava se esgotando.
__Conte-me, Düblin, como Gorgon foi libertado?
Düblin olhou para Lisa com seus grandes olhos e abaixou as orelhas. Em seguida, sua voz saiu como um lamento imperdoável.
__Tudo... tudo começou depois que Düblin explodiu a torre do Castelo Principal no ano anterior com Goblin e Düblin dentro, menina. Düblin, não tem muita certeza do que viu, mas... algum tempo depois da explosão, Düblin saiu dos destroços da torre e presenciou um... um...
__Um, o que Düblin? __interrompeu Lisa__ O que foi que você viu?
__Düblin já disse. Düblin não tem muita certeza, mas... Düblin viu alguém saindo dentre os destroços aquela noite. Não era exatamente alguém, mas Düblin viu uma névoa acinzentada desaparecer na direção dos portões da Fonte Phoenix. A névoa, menina, parecia ter vida e... ter ainda, a forma de um homem!
__Forma de um homem?
Lisa analisou o que Düblin disse e por um instante pensou em algo absolutamente improvável. Mas, poderia acontecer, já que Düblin estava vivo. Então, porque ele também não sobrevivera?
__Düblin... __Lisa olhou a esmo para a bola de cristal de Geoffrin que parecia ter uma névoa se movendo dentro dela e depois voltou-se para Düblin__ Se você sobreviveu a explosão... Por que então...?
__Düblin também pensa como a menina! __interrompeu Düblin__ Se Düblin sobreviveu, isso significa que quem está por trás da libertação do Mestre das Sombras é...
__GOBLIN!
__Canis Expellio!
Sem pensar duas vezes, Louise girou a varinha na direção do Canidópulus que matara Tom e atirou. O Card Mortal desviou-se do feitiço e correu para o interior do bosque. Vendo que ele fugia, Louise seguiu-o por entre os diversos Canidópulus que a atacavam. Louise, lançou vários feitiços e os afastou. Em seguida, ela começou a correr rapidamente para não perder o Card de vista.
__Louise, espera!
Dan começou a correr atrás de Louise quando os Canidópulus que ela atacara o cercaram. O rapaz afastou-se para trás na tentativa de se juntar a Maya, já que ela era a única que podia usar magia.
__Bichinhos bonitinhos! __dizia Dan ao se afastar.
__Extrombordium! __disse Maya ao lançar um feitiço e ajudar Cliffe__ Para onde Louise foi?
__Foi atrás do Card que matou Tom __disse Dan encostando-se a ela__ Agora, será que dá para você nos livrar dessa enrascada com sua varinha, hein Maya?
__Eu? Porque eu?
__Ótimo! Então me dá essa varinha que eu faço o serviço!
Dan tomou a varinha das mãos de Maya e apontou para os Canidópulus.
__Extrombordium! Me sigam!
Dan saiu correndo por entre os Canidópulus lançado feitiços que os explodiam e, na maioria das vezes, os afastavam para bem longe. Zig e Cliffe estavam logo atrás de Dan, seguidos por Maya que resmungava algo a ver com: Cuidado com essa varinha! Você não tem idéia de quanto ela custou...
Bem a frente do grupo, Louise perseguia o Canidópulus lançando feitiços fatais contra o Card. No entanto, devido a grande habilidade em que a criatura tinha de se esquivar, nenhum dos feitiços o acertou.
__Extrombordium!
Louise pulou sobre um tronco de árvore caído e lançou um feitiço, acertando o chão. Imediatamente após atingir o chão, uma gigantesca explosão de terra jogou o Canidópulus contra o tronco de uma gigantesca árvore galhuda de galhos secos.
Tremendo pela adrenalina que emergia em suas veias, Louise aproximou-se lentamente do Canidópulus caído e apontou a varinha para ele.
__Você está encurralado, meu amiguinho!
__Até que enfim acompanhamos você __disse Dan ofegante chegando por trás de Louise__ É isso, não é Louise? É isso que você queria, não é? O Canidópulus que matou Tom... encurralado a sua frente... faça o que tem de ser feito! Não temos muito tempo, os outros Canidópulus estão vindo atrás da gente...
__Está certo, Dan __disse Louise ofegante__ Tom vai voltar assim que eu o mata-lo...
Louise olhou para a criatura caída encostada ao tronco da árvore e segurou forte a varinha para contar a adrenalina que fazia seu braço tremer.
__É isso... chegou seu fim!
Lentamente, uma luz vermelha começou a brilhar na ponta da varinha de Louise quando um barulho de galhos balançando de um lado para o outro foi ouvido por todos.
__Que barulho é esse? __perguntou Zig.
Temendo pelo barulho, que parecia ser conhecido, Louise levantou seus olhos para o alto e deparou-se com centenas de galhos que chacoalhavam de um lado para o outro num balé ameaçador.
De repente, um gigantesco galho se desprendeu das outras galhadas e desceu como um chicote na direção de Louise e dos outros.
__Corre! __gritou Dan.
Ao invés de correr como os outros estavam fazendo, Louise continuou parada apontando a varinha para o Canidópulus encurralado. Por mais que gritassem para ela sair dali, o consciente de Louise não a permitia, pois, ela tinha que destruir o Card e dar vida novamente a Tom. Quando Louise viu que não podia permanecer ali senão seria esmagada, já era tarde de mais.
__O que está fazendo, Louise? __gritou Dan__ Sai daí!
Mas não houve tempo. O galho da árvore estava a meio metro de atingir Louise quando Dan ergueu a varinha de Maya e apontou para ela.
__Expelliarmus!
Em questão de segundos, Louise foi arremessada para o outro lado pelo feitiço de Dan e logo em seguida o galho chocou-se contra a terra, levantando poeira e abrindo um grande buraco no chão.
Rapidamente após chocar-se contra a terra, o galho recolheu-se para o auto e preparou-se para atacar novamente. Nesse meio tempo, Louise levantava-se meio zonza quando deparou-se com o Canidópulus fugindo. Imediatamente, ela pegou sua varinha caída no chão e saiu correndo atrás da criatura.
__Louise, o que está fazendo? __gritou Dan.
Mas Louise não deu ouvidos e saiu lançando feitiços contra o Canidópulus enquanto vários galhos desciam do auto e chocavam-se ao seu lado contra a terra. Em um dos ataques dos galhos, faltou meio metro para Louise ser esmagada.
__Extrombordium!
Por mais que Louise lançasse feitiços, nada adiantava diante a velocidade em que o Canidópulus corria. A distância entre Louise e a criatura estava ficando cada vez maior a medida que ela precisava desviar-se dos ataques dos galhos.
Mas, para a sorte de Louise, um gigantesco galho desprendeu-se do auto e desceu numa força esmagadora contra o Canidópulus, atingindo-o.
Naquele momento, Louise parou frente ao corpo esmagado da criatura e ficou observando o galho recolher-se para o auto e se preparar para um novo ataque. Mesmo com o perigo que estava correndo, Louise não deu atenção aos galhos, pois naquele instante o que interessava ela era se o Canidópulus estava morto.
Lentamente, Louise aproximou-se do Canidópulus com a varinha na mão para certificar-se de que ele estava morto. No entanto, quando ela se aproximou, o Canidópulus suspirou e tentou levantar-se.
Vendo que não podia perder aquela oportunidade, Louise apontou a varinha, fechou os olhos e atirou. Sem ter coragem de olhar para a frente, Louise permaneceu com os olhos fechados por alguns segundos. Após abri-los lentamente, Louise viu uma fumaça negra se dispersando no ar e o Card Mortal se queimando enquanto caía sobre as folhas secas.
Finalmente Louise conseguira. O Card havia sido destruído e agora era só encontrar Tom. Mas, com a felicidade que Louise estava sentindo, ela se esquecera do galho que se preparava para esmaga-la.
Quando Louise lembrou-se do galho, ele estava descendo contra seu corpo como um gigantesco chicote.
Rapidamente, Louise começou a correr e se desviar de outros galhos que também giravam no ar e desciam para esmagá-la.
Ao passar por um local onde havia várias raízes pequenas sobre a terra, as pernas de Louise foram presas pelas raízes que se desprenderam do chão e agarraram-na.
Louise caiu no chão e rapidamente apontou a varinha para as raízes.
__Diffindo!
Depois de cortar as raízes com o feitiço, Louise olhou para o auto e deparou-se com o galho que estava vindo em sua direção. Louise tentou levantar-se, mas já era tarde de mais.
__Ah!
__Mas, Düblin __disse Lisa relutando o seu próprio pensamento__ não pode ser! Você matou Goblin na torre, não matou?
O Freeguiz abaixou suas orelhas e apertou as mãozinhas nervosamente.
__Düblin não tem certeza! Veja bem, se Düblin sobreviveu, há o risco de Goblin também ter sobrevivido a explosão.
__E se ele sobreviveu, talvez tudo se explique agora.... Mas, Düblin, se Goblin libertou o Mestre das Sombras, porque eu nunca o vi, ou melhor, porque ele nunca veio atrás de mim para... han... me matar?
__Não é tão simples assim, menina! O Mestre das Sombras ainda está desabilitado, fraco; ele ainda não possui forças suficientes para vir atrás da menina. Mas, Düblin acha que há outro motivo...
__Outro motivo?
__Sim. O Mestre das Sombras não gosta de luz, esse é o ponto fraco dele. A luz provoca-lhe sérios danos. É por isso que seus aparecimentos são sempre cercados por fenômenos sombrios...
__Fenômenos sombrios? E, o que seria esses fenômenos?
__São muitos, mas o principal deles é o desaparecimento do sol. Quando a luz do sol desaparece, uma vasta escuridão toma conta do lugar. Esse é o momento propício para o Mestre das Sombras surgir, quando apenas as sombras reinam sobre o mundo!
Por um instante, a idéia vaga do sol sendo coberto por uma escuridão total perpassou pela cabeça de Lisa. Mesmo sendo um pensamento, a idéia do dia virar noite em questão de segundos era assustadora.
__Düblin, se Mayer Slater no passado conseguiu aprisionar Gorgon, porque ele não conseguiria desta vez?
__Esse é o problema, Lisa!
Pela primeira vez em longos segundos, Geoffrin resolveu se manifestar. Diferente das outras vezes em que seu olhar estava distante, ela agora não parecia tão lívida o que permitiu que seu tom misterioso na voz desaparecesse.
__Mayer Slater não está mais entre nós!
Por um instante, Lisa sentiu-se chocada com a notícia de Geoffrin, mas logo se tranqüilizou, pois aquilo não era novidade alguma depois de ter se lembrado da tentativa frustrante de localizar Slater no Localizol e descobrir por meio de Louise que era impossível encontra-lo já que provavelmente estava morto.
__Morto? __disse Lisa levianamente__ Disso eu já sabia ou pelo menos suponho que sabia. Na verdade tentei encontra-lo no Localizol, mas, foi inútil! Mas, há quanto tempo ele morreu?
__Faz algum tempo... Slater foi assassinado Lisa no final do ano passado por... __Geoffrin hesitou em terminar a frase e olhou para Düblin. Após o consentimento da criatura, ela continuou__ um Emissário da Morte!
__Emissário da Morte! __a revelação de Madame Geoffrin soou como um tiro de canhão nos ouvidos de Lisa__ Eu também fui atacada no inicio do ano por Emissários da Morte. Eles tentaram me matar e... quase conseguiram... Mas, Geoffrin não há o que se preocupar, os Emissário são réplicas de Cards Mortais; eles provocam morte permanente até que o Card seja destruído!
__É exatamente esse o problema, Lisa! __disse Geoffrin__ Não sabemos qual Card Mortal matou Slater e nem quem os está manejando! Sei que deve estar pensando que Goblin está por trás disso, mas eu lhe asseguro que aquele corcunda repugnante nunca teve acesso a um Card Mortal na vida. Isso só me leva a uma conclusão: há mais de uma pessoa envolvida nessa... como posso dizer... rebelião. O que significa que, se Gorgon foi libertado, os outros Generais das Trevas estão se reunindo novamente para uma nova batalha.
“Mas, o que me deixa intrigada é quem exatamente está por trás disso tudo e porque está dando voltas. Veja bem, Lisa, desde a destruição de Malagat, coisas estranhas passaram a ocorrer com maior freqüência. Gorgon foi libertado, Cards Mortais passaram a ser usados como executores de morte no lugar dos Carrascos; Mayer Slater e seus seguidores foram perseguidos até a morte... ”
__Seguidores? A quem você se refere?
__Me refiro aos últimos acontecimentos na Fonte Phoenix, o assassinato de Christian e Lauro Ravenclaw. Pai e filho assassinados brutalmente. É claro, que as duas mortes diferem da de Slater, já que elas foram executadas por uma pessoa em comum e não por Cards Mortais. Mas, Lisa, todas elas possuem o mesmo objetivo: impedir que Gorgon seja trancafiado novamente.
__Lauro e Christian Ravenclaw eram seguidores de Slater? __perguntou Lisa com espanto__ Isso explica porque foram assassinados. Eles sabiam como trancafiar Gorgon novamente...
__E também sabiam que o Mestre das Sombras estava livre por que foi o próprio Mayer Slater quem o libertou!
__Mayer... o quê?
Novamente a revelação de Geoffrin soou como um tiro de canhão, mas desta vez mais forte e mais fatal do que antes.
__É claro que, Slater foi forjado a desfazer todos os feitiços que protegiam o baú por alguém que dominou a sua mente. Ele não teve culpa!
“Logo depois de ser usado para libertar Gorgon, Slater procurou seus seguidores para que juntos pudessem impedi-lo de voltar à tona. No entanto, Emissários da Morte passaram a persegui-los e não houve alternativa a não ser se espalharem por Aragorn e encontrarem reforços”.
“Slater veio para cá com um jovem que o ajudava e se esconderam aqui durante algum tempo. Mas logo os Emissários os encontraram e mataram Slater. No dia seguinte Christian foi assassinado enquanto se passava por um aluno da Fonte Phoenix e meses depois foi a vez de seu pai, Lauro Ravenclaw”.
__Isso é horrível! __murmurou Lisa__ Mas, e o jovem? O que aconteceu com ele?
__Düblin o encontrou ferido num riacho próximo daqui, menina! __disse Düblin quebrando seu silêncio__ Düblin curou seus ferimentos e o ajudou a entrar na Fonte Phoenix para te entregar a carta que Slater deixou e protegê-la. Mas isso não bastou, pois coisas terríveis continuaram a acontecer...
__Por acaso está se referindo ao ataque onde alguns alunos tiveram seus poderes sugados? __interrompeu Lisa.
__Sim.
__Mas, Düblin, por que alguém sugaria os poderes dos outros?
Düblin virou seus olhos para Geoffrin e hesitou em responder quando percebeu que a mulher já estava adiantando a resposta.
__Receio que seja para transferi-los para Gorgon__ disse Madame Geoffrin__ Seria uma forma de recuperar as forças do Mestre das Sombras depois de ficar tanto tempo aprisionado.
“Entende agora, Lisa? É como se o retorno de Gorgon estivesse sendo perfeitamente planejado. Primeiro elimina-se quem possa oferecer-lhe risco, depois fazem-no recuperar suas forças e por fim... bom... julgam quem matou seu pai. Lisa tudo isso é uma vingança! Querem vingar a morte de Malagat e faze-la sofrer o máximo possível. Não é à toa que Chamberlain indicou-a como suspeita dos assassinos dos Ravenclaws. Alguém está tentando incrimina-la de alguma forma. Mas, infelizmente eles não estão conseguindo, pois a mulher a quem viram sair da casa de Lauro não teve seu rosto visto. E além do mais, seria impossível você estar em dois lugares ao mesmo tempo”.
__Como sabe que Chamberlain suspeita que eu tenho algo a ver com os assassinatos? __indagou Lisa.
Geoffrin esquivou seu olhar para um bolo de jornais espalhados num canto da sala e sorriu para Lisa.
__Não siguinifica que só porque eu estou afastada da civilização vou deixar de ler a Folha do Centauro!
Lisa sentiu suas bochechas rosarem pela indelicadeza que cometera e virou-se Geoffrin.
__Geoffrin, você acha que Chamberlain está envolvido nisso?
__Não acredito nessa possibilidade, Lisa. Mas há alguém que está a par dos acontecimentos que até agora não quis se manifestar. Não sei se é por que está sendo ameaçado ou porque teme por alguma coisa.
__De quem está falando?
__Athus __disse Geoffrin em auto e bom tom__ Não reparou que ultimamente ele se comporta um pouco estranho e que nega responder qualquer pergunta sua?
__Reparei, mas, como sabe disso tudo?
Mas uma vez, o fato de Geoffrin estar bem informada sobre coisas que estão extremamente longe dos seus olhos assustou Lisa.
__Já ouviu falar alguma vez nos Olhos que Tudo Podem Ver? Eu os possuo __disse Geoffrin ao ver Lisa balançar a cabeça__ Nada é oculto para mim, Lisa! Depois que vocês retornaram do Mundo dos Humanos, Athus recebeu uma carta da Ordem dos Lordes. A carta pedia esclarecimentos sobre o que ocorreu com você. No entanto, quando Athus chegou a Poltergrat, alguma coisa aconteceu com ele para que seu comportamento mudasse tão repentinamente.
“Até mesmo Gaya achou-o diferente e me procurou para que eu pudesse ter acesso ao que houve em Poltergrat. Mas eu não consegui, Lisa. Alguém me impediu com um feitiço muito forte. Alguém, por alguma razão, não queria que eu descobrisse o que houve. No entanto, houve um vazamento no feitiço e eu consegui descobrir algo. Alguém... um Lorde para ser mais exato, está tentando encontrar uma relíquia mística que está escondida na sede da Ordem. Não sei o que é, mas Athus com certeza sabe. Quem sabe você não consegue descobrir?”
__Não sei se conseguiria. Confesso que Athus está indiferente e que já suspeitava que ele pudesse estar escondendo algo. Foi por isso que eu resolvi procura-la depois de ter ouvidos vozes num sonho. Pensei que descobriria toda a verdade.
__E descobriu! __exclamou Geoffrin__ Descobriu que alguém libertou Gorgon e que Slater não é o quarto General das Trevas como todos dizem que é. Lisa, se eu estiver certa, você ainda corre muito perigo. Os planos de seja quem for que estiver provocando isso tudo, não está dando certo. Certamente ele tentará outros meios para faze-la sofrer enquanto o Mestre das Sombras não torna forte o suficiente para voltar a ação.
“Receio Lisa que o que está sendo procurado na sede da Ordem dos Lordes possa de alguma forma adiantar o retorno de Gorgon. Mas se eu estiver certa, o retorno dele estará próximo. Espero que nada aconteça a você nesse intervalo de tempo...”
__Você fala assim como se nada pudesse ser feito!
__E não há Lisa. Não sabemos exatamente o que está havendo e o que está sendo planejado. Sabemos apenas que você corre perigo. Tal perigo que eu não sei qual é. Eu posso ver mais além do que as outras pessoas vêem, mas nem sempre essa visão privilegiada pode me poupar de grandes catástrofes. Eu apenas ressalto, tenha cuidado!
“Não sei se reparou Lisa, mas eu fui atacada esta noite. Tentaram me matar, mas essa criaturinha adorável me protegeu e expulsou o invasor. Acredito que o motivo desse ataque foi que alguém não quer que você descubra que Gorgon voltou e que os Generais das Trevas estão se reorganizando. A principio, esse alguém, não queria que você retornasse para a Fonte Phoenix, pois a intenção era mata-la aqui mesmo. Mas algo muito estranho fez esse alguém mudar de idéia e passar a impedi-la de me encontrar. Por isso que você e seus amigos foram atacados por Cards Mortais”.
__A mesma pessoa que tentou mata-la foi quem me atacou agora pouco?
__Sim __confirmou Düblin__ E era Düblin o tempo todo que a estava protegendo-a. Enquanto a menina estiver aqui, estará segura. Düblin criou um muro ao redor da casa que irá impedir que alguém tente impedi-la de conversar com Geoffrin.
“Düblin quer que menina saiba que foi ele quem entregou a carta de Slater e que também foi Düblin quem fez-la sonhar com as vozes e com a indicação para procurar Madame Geoffrin.”
__Obrigada Düblin, se você não houvesse feito isso eu estaria até agora aturdida com esses fatos que não faziam sentido algum para mim. Mas agora, eu entendo.
“Entendo o que as palavras de Slater quiseram dizer-me na carta e só lamento que nós não possamos saber onde Gorgon está escondido para que possamos manda-lo de volta para aquele baú. Mas ainda tem uma coisa que está me intrigando...”
__E o que é menina? __perguntou Düblin.
Lisa, por um instante, pensou no iria falar. Poderia ser uma besteira... um sonho bobo, mas depois da conversa com Geoffrin talvez ele podia fazer algum sentido. Após alguns segundos de silencio, Lisa perguntou:
__Düblin, foi você quem me fez sonhar com...
BUM!
Ouviu-se um forte estampido seguido por um grande estardalhaço. Quando Lisa deu por conta, o teto da casa de Geoffrin estava desabando sobre sua cabeça. Imediatamente, Lisa ergueu a varinha e se protegeu dos destroços com um Feitiço Escudo.
Entre a poeira e o pó que levantavam dentro da sala redonda, Düblin correu até uma das janelas quebradas e olhou para fora. Ao longe, um vulto aproximava-se da casa lançando grandes bolas vermelhas que atingiam a parede e destruíam-na.
__Geoffrin! Geoffrin! Você está bem? __perguntou Lisa entre os estampidos fortes que se seguiam.
__Temos que sair daqui, menina! __disse Düblin apavorado surgindo entre a poeira e agarrando no cotovelo de Lisa__ Ele está vindo para cá e vai tentar mata-la!
__E Geoffrin? __perguntou Lisa enquanto estava sendo arrastada debaixo dos destroços que caíam sobre sua cabeça.
__Ela vai ficar bem, menina __dizia Düblin ainda mais apavorado__ Agora, vamos! Por aqui!
__Mas, Düblin... GEOFFRIN! GEOFFRIN!
Os gritos de Lisa eram sufocados pelos estampidos e pelos flashes de luz cada vez mais intensos. Por mais que Lisa tentasse localizar Geoffrin entre a poeira que agora formava uma neblina espessa, mais ela ficava distante pelos puxões de Düblin que a tiravam a força de dentro da casa.
Lisa atravessou o hall de entrada caindo aos pedaços e foi conduzida por Düblin até uma porta escancarada nos fundos da casa. Lá os dois desceram uma pequena ladeira e pararam próximos a um pequeno riacho.
Com o rosto todo aranhado pelos galhos das árvores que bateram em seu rosto enquanto desciam a ladeira, Düblin olhou para os lados como se estivesse indeciso para onde deveriam seguir. Após alguns segundos, o Freeguiz agarrou o cotovelo de Lisa novamente e puxou-a pela margem do riacho.
Enquanto corriam, Lisa olhou para o auto e viu uma grande nuvem de fumaça erguer-se para o céu seguido de uma grande explosão e de uma enorme bola de fogo. Naquele momento, o coração de Lisa acelerou-se e nada mais passou em sua cabeça a não ser fugir e que Geoffrin de algum modo pudesse estar bem.
Os dois correram na margem do riacho a cima por alguns minutos, que para Lisa parecia uma eternidade. De repente, as pedras no chão se iluminaram como se um grande farol tivesse sido aceso atrás deles. Quando Lisa virou-se, uma grande bola de luz vinha em sua direção.
__Abaixa menina!
Düblin puxou Lisa e os dois caíram sobre o terreno pedregoso a tempo. A bola de luz passou sobre a cabeça dos dois e explodiu logo a frente ao chocar com uma ponta de pedra no meio do riacho.
Sentido que seu cotovelo estava machucado pelo tombo, Lisa levantou-se bem a tempo de ver um homem usando uma capa negra esvoaçante descer a ladeira, erguer a varinha e atirar.
Imediatamente, Düblin ergueu sua mãozinha e lançou uma bola de luz contra o homem.
Em questão de segundos, as duas bolas de luz, uma vermelha e outra amarela, se chocaram e provocaram uma enorme explosão. No impacto da explosão, uma grande ventania foi produzida fazendo com que a água do riacho ergue-se para o auto e lançasse várias gotículas sobre Lisa e Düblin.
__Continue correndo, menina __gritava Düblin para Lisa__ Não olhe para trás.
Mas era inevitável olhar para trás. A cada vez que Lisa dava uma olhadela sobre o ombro, o homem lançava um feitiço e mais uma vez, Lisa e Düblin tinham que correr o máximo que podiam para não serem atingidos.
Numa tentativa desesperada, Düblin virou-se para trás e atacou o homem com uma bola de luz. Houve uma explosão e Düblin puxou Lisa para dentro do riacho.
Os dois atravessaram o riacho, que era raso, e subiram uma ladeira na margem oposta. Minutos depois, Lisa estava correndo dentro do bosque fechado tão ofegante que até a respiração estava se tornando difícil.
Quando ela passou sobre um emaranhado de raízes, algo se ergueu da terra e puxou seu pé para trás. Nesse mesmo instante, o homem surgia atrás com a varinha erguida.
Houve uma explosão e um grito agudo…
Uma grande correnteza de água invadiu o bosque e dirigiu-se até Louise. Antes mesmo do galho esmaga-la, um homem surgiu entre a água, tomou a varinha caída de Louise e apontou para a Chicoteira.
Uma bola de luz saiu da ponta da varinha e acertou o tronco da árvore. Em questão de segundos, a árvore explodiu lançando pedaços de galhos para todos os lados.
__Me desculpe pela demora!
Louise, que estava com os olhos fechados, abriu-os lentamente e deparou-se com a melhor visão que já tivera.
__Tom! __disse Louise ao agarra-lo pelo pescoço, emocionada__ Eu cheguei a pensar que jamais o veria!
__É, eu também! __disse o rapaz sorrindo__ Bem, parece que eu me enganei sobre essas Chicoteiras!
__Do que está falando? __perguntou Louise soltando o pescoço do rapaz.
__As Chicoteiras não existem no Bosque Espinhoso como eu supunha. Elas existem num bosque no Reino de Allenah. Essas que nos atacaram são Cards Mortais. Veja!
Louise olhou para frente e viu um Card Mortal caindo lentamente no chão enquanto queimava-se. Entre o fogo, Louise pode perceber o desenho de uma árvore galhuda desaparecer lentamente.
__Louise! Tom!
Dan e os outros surgiram por trás, ofegantes e com uma expressão de medo remetida em cada traço dos seus rostos.
__Você conseguiu, Louise! __disse Cliffe__ Destruiu o Card e trouxe Tom de volta!
__Bom, para completar nossa alegria, acho que falta Lisa e Peter, não é? __disse Louise.
BUM!
Louise e os outros viraram-se bruscamente para trás ao ouvirem um gigantesco estampido vindo de perto deles. De repente, houve outro estampido e algo veio à mente de Louise.
__Lisa!
Düblin protegeu Lisa das explosões com um poderoso escudo. No entanto, o homem passou a aproximar-se mais dos dois e começou a ataca-los mais intensamente, fazendo com que o escudo de Düblin rachasse.
Enquanto isso, Lisa tentava cortar com um feitiço as raízes que prendiam suas pernas. Após livrar-se delas, Lisa levantou e apontou a varinha para o homem.
__Expelliarmus!
Houve um estampido forte e muita fumaça. Sem esperar a fumaça cessar, Düblin agarrou Lisa pelo braço e voltou a puxa-la.
Enquanto corria, Lisa virou-se para trás para ver o que houve. Lentamente entre a fumaça, Lisa avistou o homem caído tentando levantar-se e procurar sua varinha. Naquele momento, Lisa entendeu. Ela o havia atingido e provavelmente os dois feitiços se chocaram, mas o dela foi mais forte e derrubou o homem.
Não tardou muito e Lisa voltou a ser atacada pelo homem, que agora, lançava feitiços mais fortes, pois parecia furioso.
Não tão longe dali, Louise passava entre as árvores e corria na direção dos estampidos. De repente, alguém caiu atrás dela e gritou intensamente.
__Tom!
Tom estava caído no chão com as mãos na perna machucada berrando de dor. Seu ferimento estava numa coloração escura e parecia sangrar.
__Tom, eu havia esquecido que você estava ferido! __disse Louise.
Enquanto Louise e os outros analisavam a perna de Tom, Maya passou os olhos ao seu redor e viu uma estátua de pedra que chamou sua intenção.
__Peter! __gritou Maya__ É Peter! Ele foi petrificado.
__Ele foi o quê? __perguntou Louise.
Louise deixou Tom sendo erguido por Dan e Cliffe e foi com Maya até a estátua de Peter. Quando as duas chegaram lá, um novo estampido pareceu chacoalhar o bosque. De repente, algo começou a se mover dentre uma moita de arbusto e surgir subitamente gritando para eles.
__Abaixem-se!
Louise olhou para frente e viu Lisa e uma criaturinha que ela jurava estar morta surgirem dentre o arbusto e se jogarem no chão. De repente, uma bola de luz passou sobre a cabeça dos dois e foi na direção de Louise e dos outros.
Rapidamente eles pularam no chão e a bola de luz passou rente suas cabeças.
Düblin levantou-se rapidamente e virou-se para trás. Após um movimento com a mãozinha, uma grande ventania se formou e foi na direção do homem como se fosse uma bala de canhão. Por onde a ventania passava, uma grande vala se abria lançando terra para todos os lados.
O homem tentou desviar-se da ventania, mas não conseguiu. Como num grande redemoinho, ele girou no ar e foi arremessado para longe.
__Louise, que bom ver você! __disse Lisa correndo até Louise e abraçando-a__ Pensei que... que nunca ia encontra-la!
__Eu também, Lisa! __disse Louise__ Mas agora tudo terminou. Estamos juntos novamente e vamos sair daqui!
__Lisa! __disse Dan aproximando-se depois de deixar Zig e Cliffe erguerem Tom novamente.
__Dan!
Lisa correu para abraça-lo e hesitou. Por um instante, os dois se entreolharam e depois trocaram um simples aperto de mão.
__É bom vê-lo novamente! __disse Lisa.
__Eu digo o mesmo!
__Não estou querendo interrompe-los __disse Düblin se aproximando ofegante__ Mas agora não é o momento propício para conversarem. Se não se lembra, menina, alguém está tentando mata-la!
__Düblin! __disseram Dan, Louise, Zig e Cliffe em uníssono.
__Quem? __perguntou Maya sem entender.
__Mas você não estava morto? __perguntou Dan incrédulo.
__Não __respondeu Düblin__ E isso é uma longa história. Agora, vocês precisam sair daqui! Sigam-me, Düblin tem uma idéia.
Düblin saiu correndo na frente seguido por Zig e Cliffe que carregavam Tom e por Maya. Lisa e Louise ficaram para trás fazendo Peter voltar ao normal.
__Finite Encantatem!
Após um banho de areia da cabeça aos pés, Peter levantou-se assustado e tentou atacar Louise.
__Seu maldito, você não vai fazer mal a Lisa!
__Sou eu seu idiota! Agora vem!
Louise agarrou no peito de Peter e puxou para onde Düblin havia entrado. Peter percebeu que era Louise e não hesitou em segui-las. No entanto, o rapaz ainda estava confuso e corria fazendo perguntas.
Logo após eles saírem atrás de Düblin, o homem surgiu entre as árvores com um pouco de sangue saindo do canto de sua boca __dava-se para ver entre o capuz dele. Após limpar o sangue, o homem segurou forte a sua varinha e saiu correndo.
Düblin conduziu os oito jovens por uma área do bosque onde havia vários espinhos que batiam contra suas roupas e as rasgavam. Enquanto todos corriam, Zig e Cliffe tinham dificuldades para correr com Tom, que corria com uma perna só. Após levar um tombo, Dan devolveu a varinha para Maya e pegou Tom nos braços.
Numa corrida desconfortável, Dan pulou raízes enormes e troncos caídos com Tom agarrado ao seu pescoço.
De repente, uma luz iluminou-os pelas costas e todos gritaram quando houve uma explosão atrás de Dan e Tom. Na explosão os dois foram lançados para longe e começaram a rolar, pois o terreno estava ficando íngreme e Düblin parecia conduzi-los para uma ladeira.
Dan e Tom bateram contra Lisa e Louise e desencadearam um efeito dominó. Os nove começaram a rolar e desceram ladeira abaixo até pararem a margem de um outro riacho.
__Será que dá para sair de cima de mim? __gritou Maya para Peter que caíra sobre ela.
__Desculpe!
Peter saiu de cima de Maya e depois esta levantou furiosa.
__Já chega! Eu não agüento mais eu quero... Ah!
Mas antes de Maya terminar a frase uma bola de luz passou sobre sua cabeça e atravessou o riacho indo chocar-se contra uma árvore na margem oposta, chamando a atenção de quatro Mandrágoras que ali bebiam água.
__Mandrágoras! É isso Düblin! __disse Louise entendo o plano de Düblin.
__Vamos, todos! __gritou Düblin__ Subam nas Mandrágoras. Elas vão leva-los de volta a Fonte Phoenix!
__Mas elas são selvagens! __disse Peter.
Mas antes que alguém pudesse protestar, Düblin abriu as mãozinhas e lançou quatro bolinhas de luz que flutuaram sobre o riacho indo na direção das quatro Mandrágoras. Lentamente as bolinhas de luz aproximaram-se das criaturas de aparência funesta e entraram em seus olhos produzindo um estranho brilho.
__Isso vai garantir-lhes que elas vão leva-los de volta a Fonte Phoenix __disse Düblin.
__Mas o que era aquilo? __perguntou Lisa.
__Era uma espécie de mapa que vai guiar as Mandrágoras. Agora elas sabem que vocês são amigos e que precisam de ajuda. Agora, não percam tempo, vão!
Louise começou a atravessar o riacho quando uma bola de luz riscou o céu e caiu ao seu lado. Houve uma grande explosão e Louise foi arremessada para longe.
__Louise! __gritou Lisa aproximando-se dela__ Você está bem?
__Estou, mas, parece que alguém não quer que a gente volte para a Fonte Phoenix!
Louise levantou-se enérgica e apontou a varinha para o homem que surgia na lareira. De repente um raio de luz passou sobre a cabeça de todos e envolveu o homem, empurrando para dentro do bosque.
__Vamos, não podemos perder tempo! __Louise correu até uma das Mandrágoras e agarrou-se em seu pêlo__ Lisa você primeiro.
Lisa agarrou-se na crina da criatura e subiu em seu lombo. Por um instante ela sentiu uma repugnância ao encostar o braço nas asas de dragão da criatura. Louise subiu também e gritou para os outros.
__O que estão esperando, rápido!
__Me ajuda aqui, Zig!
Dan e Zig seguraram Tom e o ajudaram a subir no lombo da Mandrágora. Após subir Tom, foi a vez de Dan subir.
__Eu não vou subir nessa coisa! __retrucou Maya.
__Ah, vai sim!
Cliffe pegou Maya pela cintura e jogou-a sobre o lombo da Mandrágora apesar dos protestos que ela fazia. Em seguida ele subiu e olhou para o irmão que acabara de subir junto com Peter na quarta Mandrágora.
__Düblin, você não vem? __perguntou Lisa.
__Não. Düblin vai ficar, menina! Düblin tem que proteger Geoffrin!
Naquele momento, não fez sentido para Lisa o que Düblin disse. Afinal, Geoffrin ficara na casa e por mais que Lisa tentasse não pensar nisso, ela podia ter explodido junto com seus pertences.
__Vamos!
Louise deu uma palmada no traseiro da Mandrágora e, após um empinado, a criatura começou a correr velozmente.
__Como essa coisa sai do lugar! __perguntou Maya após ver que todos saíam e só eles ficaram para trás.
__Assim! __Cliffe deu quase um murro no traseiro da Mandrágora e após um grande empinado, ela começou a correr tão veloz quanto às outras criaturas.
__Eu sabia que não devia ter perguntado! __disse Maya aos berros__ Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!!
__Düblin, você disse que o ajudante de Slater está na Fonte Phoenix. Quem é ele? __gritou Lisa enquanto a Mandrágora galopava sobre o riacho fazendo gotículas de água baterem no rosto de Lisa.
__Düblin ainda não pode dizer seu nome, mas a menina pode reconhece-lo por uma marca no abdômen no lado esquerdo provocada por uma lança de um Emissário da Morte __gritou Düblin enquanto corria dentro do riacho para falar com Lisa.
Por fim, as Mandrágoras se distanciaram de Düblin e Lisa não conseguiu ouvir o que ele disse por último. Era algo a ver com “tome cuidado”.
As Mandrágoras galoparam sobre o riacho a mais de um quilometro do ponto de partida com Louise e Lisa na frente e Maya e Cliffe ao lado delas __a Mandrágoras deles parecia furiosa com o murro de Cliffe.
__Elas não estão batendo as asas! __disse Louise após reparar que elas só galopavam sobre o riacho__ Porque não começam a voar?
__Será que aquela é a explicação? __disse Lisa apontando para frente.
Louise olhou para frente e viu que não havia mais terra a menos de cem metros deles. O riacho formava uma cachoeira que pelo visto era tão grande e alta quanto um penhasco.
Quando todas as Mandrágoras se aproximaram da cachoeira, Louise e os outros avistaram o mar e começaram a entrar em desespero.
__E se elas não voarem, Louise? __perguntou lisa vendo o abismo se projetava cada vez mais perto.
__Elas vão voar, elas vão sim!
__AH, NÓS VAMOS MORRER! __berrava Maya__ Eu não quero nem olhar!
Quando todos estavam a menos de um metro do abismo da cachoeira que desembocava no mar, as Mandrágoras aumentaram a velocidade e Lisa pode sentir seu coração gelar. De repente as estranhas asas abriram-se e quando todos deram por conta si, o abismo da cachoeira ficara para trás e agora todos voavam sobre o mar de águas esverdeadas.
Aquela fora uma das poucas sensações que Lisa já experimentara na vida. Nem nos grifos ela experimentara uma sensação assim. Era como estar flutuando entre no céu tendo o mar a mais de dez quilômetros abaixo dos seus pés e as nuvens a menos de um metro de distância. Era indescritível!
__Eu não vou olhar, eu não vou olhar! __dizia Maya com os olhos fechados.
__Se eu apertar seus seios, __disse Cliffe__ você jura que não vai olhar?
__Não se atreva!
Cliffe soltou uma grande gargalhada e sua Mandrágora tomou a frente de todos num grande mergulho aéreo.
__Yahoooo!!!
Depois de sentir o friozinho na barriga ao experimentar um mergulho aéreo, Lisa pode admirar seu reflexo sobre as águas do mar provocado pelo singelo brilho da lua que emergia no céu. As Mandrágoras voavam agora rente a água fazendo com que o oceano se tornasse um mundo de águas misteriosas e inexploráveis. Naquele momento, Lisa sorria. Afinal, ela finalmente estava voltando para a Fonte Phoenix!
A terrível noite do baile
Era madrugada quando as quatro Mandrágoras sobrevoaram a gigantesca Fonte Phoenix e pousaram no campo de pouso. Ao descer da Mandrágora, Dan e Cliffe desceram Tom e o levaram para o interior do Castelo Principal.
__Temos que leva-lo para a enfermaria, Dan! __dizia Louise enquanto acompanhava Dan e Cliffe.
A Fonte Phoenix estava terrivelmente vazia. Não havia sinal de ninguém por perto. Apenas um ventinho frio da madrugada que varria o local deixando-o mais vazio e sombrio.
__Como eu desço dessa coisa? __perguntou Maya.
__Pula, oras! __disse Zig contrariado.
Maya fez uma careta para o Pé Grande e tentou descer. No entanto, Maya puxou os chifres da Mandrágora e a criatura deu uma grande empinada, fazendo Maya voar e cair de cara no chão.
__O que vamos fazer com elas? __perguntou Lisa tentando esconder a vontade de rir da cara de Maya.
__Eu e Peter vamos leva-las para o estábulo. Talvez elas fiquem aqui na Fonte Phoenix __disse Zig__ Vamos Peter!
Zig e Peter entraram na frente das Mandrágoras e assoviaram para chamar a atenção delas. Em resposta, as criaturas os seguiram e desapareceram entre uma vasta neblina que surgia no fim da madrugada.
Minutos depois, Lisa entrava na enfermaria com Maya seguindo-a com o rosto cheio de gramas. Lá Tom estava deitado numa cama sendo rodeado por Cliffe, Dan e Louise. Aos fundos da enfermaria vazia estava uma mulher vestida de branco com os olhos inchados e sonolentos. A mulher pegou um frasco azulado num armário e voltou para onde Tom estava com uma expressão fechada como se estivesse furiosa por terem-na tirado da cama a essa hora da manhã.
__Espero que vocês tenham uma boa explicação para dar a Gaya quando ele voltar de Poltergrat! __retrucou Srta Prym__ Vocês não deveriam ter chegado aqui hoje. Sabe quantos dias faltam para as aulas recomeçarem? Dois dias... e eu ainda nem chegaram os remédios que eu encomendei... E vocês duas aí, também estão feridas? Acho bom!
__Ela parece estressada, não? __comentou Lisa ao aproximar-se de Louise.
__Isso é o que acontece quando alguém levanta cedo demais! __cochichou Cliffe.
__E o que estão esperando?__perguntou Srta Prym lançado um olhar sobre a tampa do frasco azulado__ Me ajudem aqui!
Srta Prym destampou o frasco e fez um sinal para que Dan e Cliffe segurassem as pernas e os braços de Tom. Antes de o rapaz pensar em perguntar porque estavam segurando seus braços e suas pernas, a enfermeira mau-humorada virou o frasco e um líquido âmbar caiu sobre o ferimento de Tom, fritando sua carne.
Tom gritou de dor e tentou desvencilhar-se de Dan e Cliffe que o seguravam com toda força. Enquanto o rapaz gritava, Srta Prym arregaçou as mangas e estendeu as mãos.
__Esse ferimento está passando da hora de ser tratado. Mais um dia e eu amputaria sua perna rapaz. E pare de gritar que isso ainda não está doendo! O que vou fazer agora vai doer mais ainda!
__O que? __gritou Tom trancando seus dentes para suportar a dolorosa sensação da carne sendo queimada__ Vai doer mais? Essa mulher é louca!
__Segurem ele! Segurem ele! __ordenou a enfermeira que agora suava tensa__ Não sei no que vocês se meteram para que esse rapaz se ferisse dessa forma, mas com certeza não era nada que prestasse! E você mocinha, pare de ficar olhando e enfie essa toalha na boca dele porque a coisa vai piorar!
Louise imediatamente correu até ao criado-mudo ao lado da cama, pegou uma toalha branca, enrolou-a e na primeira oportunidade que teve, enfiou a toalha na boca de Tom.
__Segurem firme!
Srta Prym estendeu os longos dedos da mão sobre o ferimento de Tom e murmurou algo que ninguém pôde entender. Em seguida ela passou a mão lentamente sobre o ferimento fazendo com que uma luz amarelada entrasse na carne. A enfermeira repetiu o procedimento três vezes e depois se afastou do rapaz parecendo ligeiramente tonteada. Sobre a cama, Tom parou de morder a toalha e pareceu adormecer lentamente.
__Nunca pensei que fosse tão difícil fazer isso depois de longos dez anos sem prática! __disse a enfermeira enxugando o suor e suspirando para recompor-se.
__O que aconteceu com ele? __perguntou Louise vendo que Tom fechava os olhos lentamente.
__Não se preocupe, ele vai dormir agora! Quando acordar, lá para o meio-dia, encontrará seu ferimento curado. E, olha só, já está começando!
Lisa e os outros voltaram seus olhos para o ferimento de Tom e viram que o aspecto escuro da carne estava desaparecendo. O sangue que escorria havia desaparecido e parecia que a pele se reconstituía lenta e gradativamente.
__Bom, já terminei por aqui! Não vejo necessidade alguma de vocês permanecerem na enfermaria. Então, vão, vão, vão, o rapaz precisa descansar agora!
Srta Prym agarrou os jovens e empurrou-os a força até a grande porta da enfermaria apesar dos protestos de todos. Depois de terem a porta da enfermaria batida no nariz deles, Louise encostou-se na parede e deixou-se escorregar aliviada até o chão.
__Bom, acho que tudo terminou, não? Tom está bem e nós conseguimos voltar para a Fonte Phoenix!
__Acho que nem tudo terminou como deveria __comentou Lisa sentando-se exausta no chão do corredor__ Sabe, eu consegui encontrar Geoffrin e bom... fiz algumas descobertas...
__Eu não quero me intrometer, mas esse assunto não me interessa! __resmungou Maya com sua voz irritante e com um tom de desdém__ Se todos não se importam eu vou para o meu quarto tomar um banho urgente! __Maya pegou alguns fios de cabelos cheios de pó de madeira podre misturado com grama e pedaços de folhas secas e fez um som parecido com o choro de uma criança__ Ah, eu estou imunda!
Sem dizer mais nada, Maya deu de costas para os outros e saiu pelo corredor lamentando o estado imundo em que ela estava.
Encostados a parede, Lisa e os outros olharam para si mesmos e decidiram adiar a conversa para quando o dia amanhecesse, depois que todos estivessem limpos e cheirosos.
O dia amanheceu em questão de uma ou duas horas. Os primeiros raios do sol invadiram uma das torres do Castelo dos Bruxos e penetraram as janelas da Sala Comunal, iluminando os rostos atentos que escutavam a voz de Lisa narrar sua conversa com Geoffrin. Após longos minutos, Lisa encostou-se aliviada na poltrona depois ter terminado sua narração.
__Bom, é isso! __disse Lisa.
Durante alguns minutos ninguém quis manifestar-se. Apenas o ruído das cortinas balançando de um lado para o outro quebrava o silêncio na sala.
__Eu até agora estou perplexo! __comentou Zig__ Düblin sobreviveu a explosão e provavelmente Goblin também.
__Acho que o pior não é a possibilidade de Goblin estar vivo, mas sim o fato de Gorgon ter sido libertado e... __comentou Dan__ pior, foi Slater quem o libertou!
__Lembre-se cara que Slater não libertou Gorgon porque quis __disse Cliffe__ Alguém o forçou a fazer isso. Mas quem?
__Geoffrin e Düblin não souberam me dizer __disse Lisa após um bocejo.
Enquanto todos davam sua opinião em torno dos fatos narrados por Lisa, Louise era a única que permanecia em silêncio. Na verdade ela estava pensativa e parecia analisar cada fato com extremo cuidado.
__Christian e Lauro Ravenclaw foram assassinados porque eram seguidores de Slater __murmurou Louise finalmente, parecendo que calculava o que dizia__ Parece que Gorgon não queria deixar nenhum vestígio de seu retorno. Mas, Lisa, algo está estranho! Quero dizer, se Gorgon está querendo se vingar de você, porque nada foi feito?
__Na verdade, já foi feito! __disse Lisa apertando os olhos para conter o cansaço__ Düblin me disse que Gorgon está fraco e que ainda não pode agir. Lembram dos ataques ao Castelo dos Trons onde os poderes daqueles alunos foram sugados? Então, Geoffrin acha que alguém, que mora aqui na Fonte Phoenix, possa estar roubando esses poderes e repassado-os a Gorgon para que adiante seu retorno.
__É claro, se receber energias __disse Louise triunfante__ ele se fortalece!
__Bom.. ahn... __murmurou Dan olhando para Zig e Cliffe sem dar muita atenção a conclusão de Louise que Lisa já tivera tido antes__ Lisa... sabe... também temos uma coisa para contar-lhe.
__Contar? O quê?
__Bom... enquanto estávamos perdidos no bosque, eu suponho que, talvez tenhamos sido atacados...
__Como assim, Dan?
__Nós tivemos... ahn...
__Dan quer dizer que nós tivemos nossos poderes roubados e, __ interrompeu Zig__ no momento, estamos sem eles!
__Roubados?
__Não contamos antes porque não tivemos muito tempo depois dessa confusão toda! __disse Dan.
__Dan, isso significa que a mesma pessoa que fez os ataques na Fonte Phoenix é quem tentou me impedir de encontrar com Geoffrin!
__Isso siguinifica que mesmo estando na Fonte Phoenix, você não está protegida, Lisa! __disse Louise.
Lisa não havia pensado nisso. Agora que Louise fizera essa observação, Lisa sentiu-se um pouco indefesa. Mesmo tendo se livrado daquele homem no Bosque Espinhoso ela agora, dali para frente, teria que tomar cuidado com qualquer estranho que se aproximasse dela fingindo ser um aluno.
__Eu não havia pensado nisso! __exclamou Lisa__ Mas, ainda assim é muito estranho. Sabem, depois que ocorreu as mortes, Chamberlain me acusou de saber de alguma coisa e...
__Você acha que ele pode estar envolvido...?
__Não Dan, de forma alguma! Geoffrin me assegurou isso. Mas, ela me disse que provavelmente alguém está querendo me incriminar pelas mortes e, não conseguiu. Ela acha que eles provavelmente tentarão uma outra forma de me fazer sofrer antes que Gorgon retorne definitivamente.
__Primeiro o sofrimento e depois a morte! __exclamou Zig__ Eles querem ser cruéis, Lisa! E, sabe, eles podem ser!
__Eu não importo __disse Lisa com firmeza__ Quero apenas que tudo se esclareça e que Gorgon volte para o baú onde fora aprisionado uma vez! Mas, isso não me preocupa agora.
__E o que a preocupa? __perguntou Peter entrando na conversa.
Lisa mexeu-se sobre a poltrona e tentou forçar os olhos a ficarem abertos. O cansaço dela já estava chegando ao limite.
__Alguém dentro da Ordem, está procurando alguma relíquia que está escondida em Poltergrat. Temo que essa relíquia esteja envolvida no retorno de Gorgon. Talvez ela... não sei... possa adiantar seu retorno!
__Como Geoffrin sabe disso? __perguntou Louise.
__Foi o que eu também me perguntei. Mas, parece que Gaya andou estranhando o comportamento de Athus depois que ele compareceu a Poltergrat e pediu a Geoffrin para que tentasse descobrir o que houve. Segundo ela, alguém dentro da Ordem dos Lordes impediu-a de ver o que havia acontecido com Athus. Mas mesmo assim, Geoffrin conseguiu descobrir o que alguém planejava.
Louise ouviu Lisa com atenção e depois que todos silenciaram, ela levantou e deu uma volta em torno da sala.
__Agora que você tocou no assunto, eu também reparei que Athus voltou muito estranho depois das férias. Você mesmo Lisa, me disse que Athus recebeu uma carta da Ordem logo depois que você e Dan voltaram do Mundo dos Humanos e que ele não permitiu que vocês vissem a carta... Vocês acham que ele sabe de alguma coisa?
__Geoffrin acredita que Athus saiba o que está sendo procurado dentro de sede da Ordem dos Lordes em Poltergrat e que provavelmente algo aconteceu a ele para mudar seu comportamento.
__Mas se ele soubesse de alguma coisa __disse Dan__ com certeza contaria a Gaya, não?
__Acho provável que Athus esteja sofrendo ameaças ou algo do tipo __disse Lisa__ Porque pelo visto nem Gaya sabe o que está se passando. Mas, depois da conversa com Geoffrin, eu fiquei com uma pulga atrás da orelha. Certa vez Gaya me disse para fazer o que eu tinha de fazer no período das férias do meio do ano. Isso siguinifica que ele sabia o que nós planejávamos. Será que ele também sabe sobre o retorno de Gorgon?
__Se Gaya procurou Geoffrin para tentar descobrir porque Athus está se comportando diferente, certamente, Geoffrin deve ter-lhe contado sobre Slater e sobre Gorgon.
Após Louise terminar sua frase, algo pareceu passar pela cabeça de Lisa. Era a lembrança de uma frase dita pela Srta Prym.
__Vocês lembram o que Srta Prym disse sobre onde Gaya estava?
__Poltergrat! __exclamou Louise parecendo pensar em algo__ Você não acha que ele possa estar correndo perigo com a possibilidade de alguém em Poltergrat ser um partidário do Mestre das Sombras, acha Lisa?
__Não sei. Na verdade não tenho mais forças para pensar em mais nada __Lisa bocejou e depois levantou da poltrona. No inicio das escadas, ela virou-se para todos e disse__ Vou descansar um pouco. Quem sabe assim eu não consigo pensar em algo para impedir o retorno do Mestre das Sombras...
E virando-se, Lisa subiu as escadas e desapareceu pelo corredor feminino deixando seus amigos pensativos na sala. Naquele momento onde dúvidas e o medo de Gorgon retornar atormentavam Lisa, apenas o peso de seu cansaço foi seu alívio.
O inicio da noite chegou tão rapidamente que quando Lisa acordou, pensou que já estava amanhecendo novamente.
Após lavar seu rosto e certificar-se de que não tinha olheira alguma, Lisa atravessou o quarto e passou pela cama de Louise, onde ela roncava sonoramente, e foi até a janela. Lisa abriu uma fresta na cortina e olhou para fora. O sol estava acabando de se pôr e havia algumas pessoas conversando nos jardins. Certamente, os que chegaram na Fonte Phoenix depois dela.
Por alguns instantes, Lisa ficou parada espiando pela janela pensando em que rumo sua vida deveria tomar. A aventura perigosa vivida no Bosque Espinhoso se tornara uma mera lembrança e agora, Lisa sentia que tinha de tomar alguma atitude. É isso, pensou ela, devo procurar-lhe e esclarecer tudo!
Sem pensar duas vezes, Lisa saiu apressada do quarto, passou pela Sala Comunal onde umas oito pessoas estavam reunidas e saiu pelos corredores do castelo em busca de Athus.
Lisa procurou-o pelos corredores e perguntou aos alunos que chegavam se Athus estava em alguma parte do castelo. Vendo que Athus não estava perambulando pelos terrenos da Fonte Phoenix, Lisa resolveu ir até a sua sala. Era sua única esperança. Athus tinha de estar lá.
Lisa aproximou da porta de Athus e suspirou forte. Pensou por um instante o que iria perguntar-lhe e depois bateu na porta. Foram seis batidas e nenhuma resposta. Depois de bater mais duas vezes, Lisa percebeu que Athus também não estava na Fonte Phoenix. Será que ele foi para Poltergrat junto com Gaya?, pensou a garota.
Decepcionada, Lisa desistiu de continuar batendo e resolveu voltar para seu quarto. Mas ao dar de costas para a porta, algo lhe ocorreu. Porque não? Dá ultima vez eu não consegui ver!
Excitada com a idéia, Lisa voltou até a porta e checou se ela estava destrancada. Para seu azar, ela estava trancada. Mas Lisa não ia desistir. Ela já estava ali e não poderia adiar o que iria fazer. Desta vez, nem mesmo uma porta insignificante a atrapalharia de descobrir o que Desmond não permitiu que ela descobrisse.
Sacando a varinha, Lisa apontou-a para a fechadura e após um brilho de uma pequena luz, a porta destrancou-se e se abriu. Lisa checou se ninguém a estava vendo e depois entrou.
A sala de Athus estava do mesmo jeito que da última vez. Havia alguns livros amontoados sobre a mesa de mogno e alguns papéis espalhados por todos os lados. Alguns amassados e outros rabiscados com alguns rascunhos, como se Athus estivesse tentando escrever alguma carta sem ter inspiração.
Lisa pegou uma das folhas e leu as poucas palavras que havia escrito. Não parecia ser algo de importante. Lisa, então, deixou as folhas de lado e pegou os livros que estavam sobre a mesa. Ela revistou todos a procura de um em especial e não o encontrou.
Lisa, então, passou a vasculhar as gavetas da mesa. Abriu a primeira e encontrou dois livros de Magia Espírita e alguns papéis amarelados. Na segunda gaveta, Lisa encontrou tinteiros e penas. Na terceira, na quarta e na quinta, mais livros e papeis. Só restava uma gaveta. Estava lá. Lisa tinha certeza.
Sem hesitar, Lisa abriu a sexta gaveta lentamente e encontrou um livro grosso feito de couro peludo. Cuidadosamente, Lisa retirou o livro e postou-o sobre a mesa. Por um instante ela sentiu seu coração acelerar e uma adrenalina subir a sua cabeça.
Não podendo perder mais tempo, Lisa abriu o livro e encontrou várias ilustrações e textos sobre variados assuntos. Em uma das ilustrações, havia um cálice quadrado levemente azulado com uma água transparente dentro, no canto superior da página. Ao lado da ilustração havia uma escrita tombada. Cálice da Vida.
Lisa continuou repaginando o livro e depois de alguns segundos encontrou o que queria. No canto esquerdo da página amarelada do livro, havia uma ilustração de um velho barbudo sentado num trono segurando uma bola de cristal em uma das mãos. A bola de cristal, ao pensar de Lisa, parecia ser um olho, pois uma pupila em forma de fenda brilhava em seu interior.
A suspeita de Lisa foi justificada quando seus olhos percorreram a página e pararam no topo onde, em letras tombadas, havia escrito: Olho do Milênio. Um pouco abaixo, havia uma outra palavra, em letras menores e menos tombadas. Estava escrito: Nostradamus.
Lisa passou os olhos novamente pela página e começou a ler o texto que se espremia entre a ilustração e a margem do livro. Quando Lisa leu a primeira fila de letras, a porta se abriu e um homem carrancudo entrou com dois corvos pousados em seus ombros.
__O que pensa que está fazendo garota? __guinchou Desmond Fhyfer.
Lisa fechou o livro e enfiou-o na gaveta tão rápido que nem ela percebera seus movimentos.
__Eu fiz uma pergunta, o que pensa que está fazendo, garota?
__Eu... eu só estava...
__Bisbilhotando, não é? Já é a segunda vez que eu a pego bisbilhotando as coisas do senhor Lupus. Fique sabendo que desta vez as coisas não vão ficar nada interessantes para a senhorita. Farei questão de informar ao senhor Lupus o que se passou hoje nessa sala! Espere só ele voltar de Poltergrat com o príncipe...
__Ele foi para Poltergrat com Gaya?
__Não é da sua conta! __disse Desmond aos berros__ Agora saia daqui imediatamente!
Lisa espremeu-se entre o Desmond furioso e os móveis da sala, escapuliu pela porta estreita e saiu correndo pelo corredor com uma pontada de desapontamento e um chafariz de raiva jorrando da sua cabeça.
A noite chegou e as milhares de luzes da Fonte Phoenix já haviam sido acesas quando Lisa voltou para seu quarto. Ao chegar lá, Lisa encontrou Louise de saída.
__Eu vou visitar Tom na enfermaria. Creio que a Srta Prym vai dar alta para ele amanhã __disse Louise empolgada__ Quer vir comigo, Lisa?
__Não __disse Lisa secamente__ Pode ir você!
__O que aconteceu, Lisa? Você parece irritada. Onde esteve?
__Em lugar algum! Agora, me deixa sozinha um pouco Louise. Quero encontrar uma solução para tantos problemas e...
__Claro __disse Louise parecendo desapontada por Lisa não lhe contar o que houve__ Quero que saiba que não é só você quem está tentando procurar uma solução, o.k? Nós estamos todos juntos nessa, Lisa. Nada vai nos separar. Nem mesmo a morte!
E fechando a porta, Louise saiu do quarto sem dar tempo para Lisa dizer alguma coisa.
Sentando-se a beira da janela, Lisa observou Louise sair do castelo, passar pela estátua do anjo e entrar no Castelo Principal. Naquele momento, apenas as palavras de Louise ecoavam em sua cabeça. Nada vai nos separar. Nem mesmo a morte!
Durante o resto da noite, Lisa não viu Louise. Presumiu que ela estivesse com Tom na enfermaria e que passaria a noite lá. Logo ao amanhecer, ela confirmou o que pensara na noite passada e foi para o Salão do Refeitório tomar café com os mais de mil alunos que haviam chegado na noite passada.
Depois de tomar café, Lisa saiu para os jardins e encontrou Zig, Cliffe e Dan indo para os estábulos.
__Aqueles traidores estão lá no estábulo como se nada houvesse acontecido! __resmungava Zig enquanto passavam pelo jardim norte.
__Você sabe muito bem, Zig, que os grifos não tiveram culpa. Alguém os assustou! __repreendeu Dan.
__Pensei que eles simbolizassem a coragem e a virtude! __disse Cliffe com sarcasmo.
__E simbolizam __disse Lisa__ Mas nem por isso eles vão deixar de levar susto alguma vez na vida e...
__Lisa! __disse uma voz chegando por trás dos quatro.
__Max!
Ao ver Max, Dan amarrou a cara e continuou andando como se Lisa não estivesse parado para dar atenção ao rapaz.
__Estaremos no estábulo, Lisa! __disseram os Pés Grandes ao saírem.
Após os irmãos Pés Grandes saírem, Lisa e Max ficaram se entreolhando como se nunca tivessem se visto. Por um mero segundo, Lisa não deixou de reparar como o rapaz ficava bonito de barba baixa e com os cabelos negros caindo sobre os olhos...
__Então, como foram suas férias? __perguntou Max.
__Não foram exatamente como eu esperava, mas... quando chegou? __perguntou Lisa começando a caminhar com o rapaz pelo jardim.
__Cheguei pela manhã __Tom indicou a beirada do chafariz para Lisa sentar-se__ Então, está animada para o baile de hoje à noite?
Animada? Lisa havia esquecido completamente do baile e nem se quer imaginava que seria hoje a noite.
__Animada? __disse Lisa lembrando-se do baile__ Ah, estou muito animada! Fiquei ansiosa as férias inteiras para que ele chegasse logo...
__O tempo passa rápido, não?
Claro, quando não se está casada por Cards Mortais e por um homem que quer sua cabeça, tudo passa mais rápido!
__Bom, acho melhor voltar para o castelo. Sabe, tem uma bagunça enorme me esperando para arruma-la antes do baile...
Max levantou inesperadamente e quando Lisa percebeu, o rapaz a estava beijando no rosto. Por uma fração de segundos, Lisa sentiu os lábios quentes tocarem sua bochecha e a barba de Max espetar seu rosto, provocando uma sensação gostosa.
__À noite vou espera-la na Sala Comunal __sussurrou Max no ouvido de Lisa. Ao se afastar ele disse ainda__ Até mais, Lisa!
Lisa não disse nada e nem se quer retribuiu o aceno e o sorriso de Max. Na verdade, Lisa estava abobada demais para fazer algo.
A tarde chegou e Lisa nem se quer foi ao estábulo ver Garrinha e Peninha, o que deixou Dan com a cara mais amarrada ainda. No finzinho da tarde, Louise reapareceu com um largo sorriso no rosto e com cara de quem tinha recebido uma proposta de casamento por um “príncipe encantado”.
__Tom está ótimo __disse ela enquanto subia as escadas espirais com Lisa__ Srta Prym deu alta para ele e... bom, poderemos ir juntos ao baile esta noite, isso não é emocionante?
Emocionante? Lisa não achava nada emocionante.
__Louise, me desculpe pela forma como eu a tratei ontem...
__Que... esquece, eu nem liguei muito. Na verdade não há mais nada nesse mundo que possa tirar meu largo sorriso do rosto. Nem acredito que vou ao baile com o Tom. Ah, preciso me aprontar logo! __embalada num sorriso que se estendia exageradamente de uma orelha até a ponta da outra orelha, Louise subiu as escadas correndo e deixou Lisa rindo da cara dela__ Nós vemos no quarto, Lisa!
Lisa continuou subindo as escadas pensando no que lera no livro na sala de Athus e ficou se perguntando por que o professor tanto o lia. Por um instante, Lisa pensou que era bobagem se preocupar com o significado daquela esfera desenhada no livro e logo tirou a idéia da cabeça.
Lisa subiu quase uns vinte degraus desde o ponto onde Louise a deixara e parou de súbito ao ocorrer-lhe algo. Aquela noite, fazia-se um ano desde a destruição da Besta e dos Carrascos. Seria inevitável algo não acontecer no baile.
__Lisa, porque você acha que hoje alguma coisa vai acontecer no baile? __perguntou Louise enquanto enrolava seus cabelos com a varinha.
__Não sei. Talvez porque hoje, faz um ano desde a morte da Besta. Não seria estranho se Gorgon reaparecesse bem no meio no baile e anunciasse que minha cabeça seria amputada na frente de todos.
__Não seja tão pessimista, Lisa __Louise terminou de fazer os cachinhos e conferiu no espelho se ficara bom__ Nada irá acontecer!
__Não estou tão convencida disso __disse Lisa sentando-se no canto da janela__ Lembra dos grifos e dos cavalos alados? Espantaram os animais para que nós não voltássemos para a Fonte Phoenix e depois de não conseguir de me impedir de conversar com Geoffrin, aquele homem novamente tentou nos impedir de voltar para cá.
Louise deu uma volta em torno de si para conferir os cacho e parou de súbito parecendo pensar em algo e ficar assustada por pensar assim.
__Lisa __disse Louise ficando séria e olhando para a amiga__ É uma armadilha perfeita!
__O que?
__O baile é uma armadilha perfeita. Por que eu não pensei nisso antes? A Fonte Phoenix inteira está correndo perigo!
__Me desculpe Louise, mas agora é eu quem não estou entendendo...
__Lisa, se Gorgon está fraco e precisa dos poderes de outras pessoas para se fortalecer, a Fonte Phoenix é um prato cheio! Quero dizer, todos os alunos estarão reunidos esta noite em um único salão. Se por acaso houver outro ataque como aquele do Castelo dos Trons... as energias serão suficientes para Gorgon retornar em piscar de olhos!
__Eu não havia pensado nisso, Louise! E agora?
__Se pelo menos Gaya estivesse no castelo... o que estou dizendo? Ele já deve ter voltado de Poltergrat!... Isso já é algo que nos tranqüiliza! Lisa, não podemos fazer nada por enquanto. Não sabemos se ocorrerá um ataque, mas se ocorrer teremos que lutar e desmascarar quem está sugando os poderes de todos. Não se esqueça que ele está morando aqui na Fonte Phoenix...
__O perigo está mais próximo do que nós pensávamos, Louise! __murmurou Lisa.
__Exatamente!
__Espero que nada aconteça a mim...
__O que quer dizer?
Lisa não respondeu Louise de imediato. Seus olhos deixaram o quarto e focaram-se na janela embaçada pela chuva que começara a cair. Por um instante, as palavras que saíram da boca de Lisa não soaram bem aos ouvidos de Louise.
__Temo pelo que possa acontecer esta noite!
Raios e trovões riscavam e chacoalhavam o céu sobre a Fonte Phoenix numa tempestade assustadora. Nas estradas lamacentas, centenas de carruagens terrestres entravam na Fonte Phoenix sob outras milhares de carruagens voadoras que davam vôos rasantes sobre as terrestres, passando sobre as muralhas e aterrissando nos campos de pouso. No penhasco, mais uma vez o Cruzeiro Fantasma escalava os gigantescos paredões de rocha e entrava na propriedade de Gaya. Invadindo e ultrapassando as muralhas, a caravela ancorou entre uma espessa névoa fantasmagórica na entrada do castelo Principal.
A rampa do Cruzeiro Fantasma desceu e uma corja de alunos, todos já vestidos para o baile, passaram sobre ela com os cabelos desarrumados pela escalada ao penhasco. Assim que os alunos saíram na chuva, um toldo invisível projetou-se sobre suas cabeças e impediu que a chuva os molhasse, formando um corredor seco onde as paredes não passavam de uma cachoeira de água que transbordava sobre o gramado.
No alto de uma das torres do Castelo dos Bruxos onde ficava a Sala Comunal, Dan estava postado a janela observando todo o movimento no jardim. Por um instante, um raio iluminou violentamente seu rosto e o rapaz decidiu voltar ao aglomerado de rapazes que esperavam impacientes suas garotas acabarem se arrumar e surgir encantadoramente ao topo das escadas.
A Sala Comunal parecia um clube de nobres franceses da Idade Moderna conversando sobre os ideais do Iluminismo. Todos estavam elegantemente vestidos com trajes a rigor e com alguns chapéus emplumados. Dan achava aquilo tudo ridículo, especialmente os babados na manga das blusas, mas infelizmente esse era a exigência do baile.
A porta da Sala Comunal se abriu e um belo rapaz trajando uma veste azul celeste e usando um chapéu azul-marinho com uma pluma exagerada na cabeça, entrou, indo sentar-se próximo a poltrona de Dan.
__Olá, Dan! Animado para o baile?
Dan virou seu rosto quase que mecanicamente e deparou-se com o sorriso extremamente branco de Max. Dan acenou com a cabeça e amarrou a cara, afundando-se na poltrona. Ela deveria ir comigo, e não com você, idiota! pensou ele.
Não tardou muito e Tom entrou na sala com sua perna perfeitamente boa. O rapaz cumprimentou Max e sentou-se ao lado de Dan.
__Elas estão demorando, não?
__E como! __murmurou Max.
Os três rapazes ali sentados, esperaram por quase meia hora. Após esse período, todos na Sala Comunal já estavam cochilando quando Alice desceu as escadas trajando um belo vestido rodado amarelo limão, usando luvas da mesma cor e com os cabelos amarrados. Dan, ao vê-la, não fez nem menção de levantar-se e ir recebe-la nas escadas, o que Alice interpretou como falta de cavalheirismo.
Nesse meio tempo, Lisa e Louise aproximavam das escadas. Lisa parecia preocupada e Louise tentava tranqüiliza-la.
__Não se preocupe, Lisa, Gaya estará no castelo e qualquer movimento estranho que houver, ele será comunicado.
__Mesmo assim...
__Já disse, Lisa, não há nada para se preocupar __disse Louise enquanto colocava luvas nas mãos__ A Fonte Phoenix é o lugar mais seguro de Aragorn e...
__É tão seguro que uma pessoa foi assassinada no inicio do ano e, como você se lembra, Malagat conseguiu congela-la inteiramente no ano anterior...
__Nem me lembre! Bom, em todo caso, vamos ficar precavidas. Agora, como eu estou?
__Está ótima!
__É eu sei. Vamos, os rapazes devem estar nos esperando!
__Vai na frente, eu vou terminar de pôr essas luvas...
Louise concordou e desapareceu nas escadas erguendo a barra do seu vestido rosado para não tropeçar. Ainda no corredor, Lisa colocou as enormes luvas brancas que iam desde a ponta dos dedos até acima do cotovelo, olhou como estava, suspirou forte e depois seguiu para as escadas.
Quando Lisa surgiu no alto das escadas, todos os olhares voltaram-se para ela e foi impossível alguém não ficar de queixo caído.
__Ela está linda! __murmurava rapazes e garotas em todos os cantos da Sala Comunal.
E realmente estava linda!
Lisa parecia uma princesa de um mundo desconhecido onde a beleza era algo imortal. Seus olhos verdes esmeralda pareciam estar mais vivos com o coque na cabeça e com seu fino rosto macio e delicado. Cercada pela luz de seu longo vestido branco rodado e pelo colar de brilhantes dado por Max, Lisa desceu as escadas parecendo envergonhada com tantos olhares sobre ela.
Ao chegar no meio das escadas, Lisa deparou-se com Max que estendia um lenço branco sobre a mão. Lisa pegou na mão de Max e ouviu-o murmurar encantado com sua beleza:
__Você está linda!
Lisa sorriu timidamente e, por um instante, não deixou de notar a cara amarrada de Dan e a cara enfurecida de Alice por trás dele.
Seguindo Louise e Tom, Lisa e Max saíram da Sala Comunal e desapareceram pelo corredor deixando Dan postado no meio da sala. Vendo que Dan não tomaria nenhuma atitude, Alice agarrou-se em seu braço e puxou-o para fora da sala.
O hall que dava acesso ao Salão Principal estava apinhado de gente e de vaga-lumes mágicos que voavam no teto dourado fazendo acrobacias em torno do gigantesco lustre de cristal que refletia o tom dourado das paredes.
Enquanto esperava a porta de carvalho do salão abrir-se, Lisa e Max permaneceram em silêncio. Não havia muito que falar entre o alvoroço de vozes excitadas que ecoavam pelo hall. Durante o tempo em que esperavam, Lisa ficou olhando para os lados tentando ver ou ouvir algo de anormal, o que chamou a atenção de Max.
__Está procurando alguém?
__Não __disse Lisa olhando para os lados. E, voltando-se para o rapaz disse__ Essa porta está demorando para abrir, não está?
Quando Lisa acabou de falar, duas estátuas __uma em cada lado da porta__ ergueram suas trombetas de pedra e tocaram um som harmonioso anunciando a entrada de todos. Em seguida, a porta de carvalho se abriu e uma música vindo da orquestra do Trons ecoou pelo hall.
O Salão Principal estava mais dourado do que nunca. Do alto do teto caía uma espécie de neve dourada que, quando tocava o rosto das pessoas, brilhava e desaparecia lentamente. Havia ainda pendurado ao teto um lustre maior do que o do hall e milhares de esferas douradas que Lisa supôs ser as responsáveis pela neve brilhante.
Encostada às paredes havia várias mesas repletas de bebidas e petiscos de variados tipos e sabores, uns mais esquisitos que o outro. No lado extremo do salão estava a grandiosa mesa de professores __onde Lisa avistou Athus conversando com Falco e Big Bertha fitando Zig e Cliffe em um dos cantos do salão, ela parecia furiosa com os dois__ e, sobre uma pequena escadaria atrás da mesa, estava Gaya postado em seu trono usando veste douradas e uma suntuosa coroa na cabeça.
Entre a luz dos raios e o som estridente dos trovões, Gaya fez um sinal para Hermes e em seguida, a orquestra dos Elfo-Trons parou de tocar.
Como mandava a tradição, o príncipe deveria escolher uma dama para dançar com o consentimento do seu parceiro e abrir o baile. Assim que Gaya desceu do trono e encaminhou-se até o salão, as pessoas abriram espaço e o príncipe passou entre eles a procura daquela que faria às honras do baile.
Lisa, Louise e seus respectivos pares estavam embolados no centro do salão quando Gaya se aproximava delas. Louise parecia ansiosa e pelo tipo torcia para ser escolhida. Já Lisa, tinha outras coisas mais importantes para se preocupar.
Desde o momento em que entrara no salão, Lisa não tirou os olhos das pessoas. É claro que isso parecia ser bobagem, mas Lisa temia que algo acontecesse. Mesmo depois da conversa com Louise, Lisa não se convencera e parecia estar atenta a tudo.
Lisa estava tão concentrada em procurar algo anormal que nem percebeu Gaya aproximar-se dela e fazer uma exagerada reverência.
__Me concede esta dança, bela dama? __perguntou Gaya.
__O que?
Lisa olhou surpresa para a mão estendida de Gaya e ficou vermelha ao ouvir risos atrás dela. Sem saber o que fazer, ela olhou para Max e o viu concordando com a cabeça. Em seguida, Lisa estendeu a mão e disse para Gaya:
__Será um prazer, meu príncipe!
O príncipe conduziu Lisa até o centro do salão e fez mais uma reverência. Lisa correspondeu ao cavalheirismo e pegou na mão de Gaya.
A orquestra começou a tocar e Gaya conduziu Lisa em passos repetidos de um-dois-três-e....
Enquanto dançavam, Gaya dirigiu-lhe a palavra.
__Como foi no Bosque Espinhoso?
__Como sabe? __perguntou Lisa pasma.
__Sou o príncipe, sei de tudo!
Antes que Lisa pudesse perguntar mais alguma coisa e dizer a ele sobre sua suspeita do que poderia acontecer no baile, Gaya parou de dançar, fez uma reverência, beijou sua mão e depois a entregou a Max.
__Você dança bem! __disse Max começando a dançar.
Lisa não deu atenção ao que Max disse e continuou dançando. Naquela altura do tempo, o salão estava coberto de pares que dançavam ao embalo da valsa tocada pela orquestra. Do alto do salão, o girado dos longos vestidos rodados, mostrava um espetáculo de cores e de brilhos.
Já era bem tarde quando Lisa e Max pararam de dançar e resolver sentar um pouco.
__Eu vou buscar uma bebida para nós dois, já volto.
Assim que Max saiu, Louise sentou ao lado de Lisa parecendo bastante cansada e feliz.
__Que noite! __exclamou Louise__ Você viu com quem Maya veio ao baile?
Lisa não respondeu e nem poderia, estava entalada com um petisco delicioso de cor roxa que ela pegara sobre a mesa.
__John Hariph __disse Louise apontando o casal que dançava no meio dos salão__ Formam um par estranho, não acha?
Lisa olhou para Maya, que usava um vestido lilás, e por um instante, pensou ter visto Hariph lançar-lhe um olhar sombrio. Desviando seu olhar, Lisa avistou Dan sentado no canto do salão com Alice ao seu lado, com os braços cruzados e com um enorme bico na boca.
__O que será que aconteceu para ela estar daquele jeito? __perguntou Lisa.
__Dan não quis dançar com ela. Coitada, está plantada até agora, quero dizer, estava!
Lisa olhou novamente para onde eles estavam e viu Julius Brown tirando-a para dançar. Dan nem se quer percebeu que sua par saíra de perto dele.
__Ah, olha! Agora quem está plantada é Maya. Hariph desapareceu. Com certeza deve ter enjoado da vozinha irritante dela!
__Vamos tomar um ar fresco, Louise? __disse Tom surgindo com dois cálices na mão.
__Até mais, Lisa!
Depois que Louise saiu, Lisa procurou Max com os olhos e não o viu em lugar algum. Ela estranhou que o rapaz saísse para buscar uma bebida e não voltara. Lisa, então, levantou-se e saiu pelo salão procurando-o. Após esbarrar numa aluna do quarto ano e entornar bebida no vestido dela, Lisa avistou Max saindo apressado do salão.
Lisa pediu desculpas a garota e seguiu-o pelos corredores e depois pelo hall de entrada do Castelo Principal. Quando ela pensou que o estava acompanhando, Max desapareceu entre a multidão de pessoas que conversavam e namoravam nos jardins escuros.
Não entendendo por que Max saíra daquele jeito do castelo, Lisa correu para os jardins na esperança de encontra-lo lá. Porém, ela não viu ninguém, apenas Louise e Tom que cochichavam sobre um banco atrás de arbusto podado no formato de um duende.
Erguendo a barra do vestido, Lisa resolveu voltar para o salão e mais uma vez, avistou Max atravessando correndo o jardim sul. Por que ele está correndo? Pensou Lisa.
E, tentando entender o que estava acontecendo para Max se comportar daquela forma, Lisa seguiu-o pelo jardim e parou frente a estátua do anjo. Lá, ela o perdeu de vista. Max desaparecera.
Lisa olhou para os lados e desejou que as luzes estivessem acesas nos jardins. Para sua sorte, um raio riscou no céu e iluminou tudo a sua volta. Rapidamente, Lisa virou-se e viu de relance um homem desaparecer na direção do Castelo dos Gaullers. Achando que poderia ser Max, Lisa encaminhou-se para lá e, após o brilho de um outro raio, ela viu o mesmo homem desviando-se e correndo para o jardim norte como se estivesse procurando por alguém.
Lisa então começou a correr e chamar Max. No entanto, o rapaz parecia não ouvi-la. Lisa tentou acelerar os passos para acompanha-lo, mas era difícil correr com aquele vestido pesado.
Lisa, então, parou e decidiu caminhar. Sentido o suor escorrendo pelo seu rosto, Lisa passou apressada por entre algumas árvores e quando estava preste a chegar no jardim, uma grande luz prateada ofuscou seus olhos e desapareceu repentinamente.
__Alguma coisa aconteceu! __pensou Lisa enquanto corria para o jardim__ Droga de vestido pesado!
Assim que Lisa chegou no jardim norte, o seu queixo caiu com a enorme quantidade de pessoas caídas no chão com os olhares distantes e parecendo abobadas.
Naquele momento, o coração de Lisa disparou. O que ela mais temia aconteceu. E agora, o que iria fazer?
Lisa atravessou assustada o jardim e constatou que haviam mais de cem pessoas caídas ali. De repente, quando seus olhos fitavam uma garota que babava sem parar no chão, Lisa ouviu alguém correndo e virou-se para trás. No fim da escuridão, um homem desaparecia com uma varinha na mão.
Sem saber o que fazer, Lisa atravessou o jardim novamente e saiu correndo atrás do homem que desaparecia na direção do portão norte. Lisa podia vê-lo correr sem parar por causas dos raios que incessantemente iluminavam o local.
Porém, houve um momento em que os raios pararam de riscar o céu e Lisa ficou mergulhada numa escuridão total. Naquele momento, um silêncio insuportável tomava conta do lugar. Apenas a respiração de Lisa era ouvida.
Lisa deu alguns passos e parou novamente. Era inútil continuar. Nessa certa altura do tempo o homem já devia ter atravessado o portão e escapado.
Eu sabia que isso iria acontecer!Eu sabia!
Ela não podia ficar ali, parada, olhando para o breu a sua frente. Tinha que voltar ao Castelo Principal e contar a Gaya o que aconteceu. Tinha que levar aquelas pessoas para enfermaria, urgente...
Mas quando Lisa virou-se para voltar, alguém se aproximou dela. Lisa parou e virou-se para a escuridão a sua frente. Não havia ninguém. No entanto, o som dos passos amassando a grama se aproximava de algum lugar. Lisa olhou para os lados e não viu ninguém.
__Quem está aí? __perguntou Lisa.
Mas ninguém respondeu. Os passos continuaram a se aproximar e Lisa passou a sentir medo. Sabia que alguém estava ali e que, provavelmente, era o homem que atacara aquelas pessoas no jardim norte.
Lisa virou-se mais uma vez e ficou de costas para a escuridão sem fim. Seu coração batia tão acelerado que parecia que iria saltar do peito. De repente, Lisa ouviu outros passos. Desta vez ela escutou de onde eles vinham.
Lisa ficou parada, suando frio. Se ela estivesse certa, alguém havia parado atrás dela.
E agora, o que vou fazer? Se ao menos minha varinha estivesse aqui!
O suor frio desceu por suas têmporas e Lisa apertou forte as mãos. Ela tinha que virar-se e encarar quem seja que fosse que estivesse atrás dela. Após um suspiro forte, Lisa virou-se lentamente e deparou-se com uma varinha surgindo na escuridão sendo apontada para ela.
De repente uma luz prateada surgiu na ponta da varinha e dispersou-se lentamente sobre Lisa em forma de ondas luminosas.
Lisa ficou parada, pois suas pernas não respondiam mais ao seu comando. De súbito, a luz aumentou e Lisa sentiu suas energias esvaírem. Pela terceira vez, a luz aumentou mais ainda e Lisa pôde ver entre as ondas luminosas o corpo do homem que a atacava. Ele usava vestes humanas e possuía longos cabelos loiros que flutuavam no ar com a força do feitiço. Quando Lisa olhou para a mão que empunhava a varinha, seus olhos arregalaram-se de espanto.
Lisa tentou dizer alguma coisa, mas, ela estava tão fraca que sentiu suas pernas bambearem e seu corpo cair num baque surdo no chão. Quando seus olhos voltaram-se para o alto, eles chocaram-se com o brilho da luz que agora, estava a menos de um metro do seu rosto.
De repente, a fraqueza de Lisa chegou ao ponto máximo e sua visão escureceu e voltou ao normal novamente. Ela sentia que iria desmaiar e que não iria resistir por muito tempo.
Lisa tombou a cabeça para o lado e novamente sua visão começou a escurecer. Porém, antes de escurecer totalmente, Lisa escutou uma voz surgindo por trás dela e pronunciando um feitiço. Em seguida, a luz se apagou. Lisa ouviu um grito de dor, uma explosão e por último a voz de alguém xingando.
Lisa tentou erguer a cabeça para ver o que estava acontecendo, mas suas energias desapareceram e ela mergulhou num poço de escuridão.
A interdição da Fonte Phoenix
Lisa acordou duas horas mais tarde dentro de uma sala cheia de camas brancas e de pessoas que olhavam vagamente para o teto com a boca aberta, onde uma baba escorria até o travesseiro. Ao lado dela, Lisa viu com a visão meio turva, várias pessoas de costas amontoadas ao redor de uma outra cama. Assim que perceberam que Lisa despertava, as pessoas correram até a cama dela e a rodearam.
__Olha, ela está acordando! __disse uma voz que Lisa logo reconheceu ser a de Zig.
__O que aconteceu? __perguntou Lisa apertando os olhos para enxergar melhor o rosto embaçado de Louise.
__Você foi atacada, Lisa, e desmaiou... __respondeu Louise.
Lisa não se lembrava de nenhum ataque e muito menos de ter desmaiado. Na verdade, sua cabeça doía muito, impossibilitando que qualquer lembrança viesse à tona.
__Eu não me lembro de nada... espere, __os olhos de Lisa correram de um lado para o outro dentro da sala e então, após alguns segundos, sua mente pareceu clarear apesar da insistente dor de cabeça__ Me lembro de uma luz prateada... um homem correndo no jardim... o que aconteceu?
Louise olhou para os rapazes ao lado dela e depois disse:
__Houve outro ataque, Lisa. Desta vez, mais arrasador do que o primeiro! Estima-se que duas mil pessoas tiveram seus poderes sugados de uma vez só, exceto você! Seus poderes estão ok segundo Srta Prym, você apenas desmaiou.
Lisa passou a mão na cabeça, que latejava insistentemente, e viu vários flashes seguidos do que houve. De súbito, Lisa ficou assustada e tentou levantar da cama. Porém, seu corpo estava tão fraco que ela despencou novamente sobre a cama.
__Eu preciso ver como eles estão... eu preciso...
__Calma, Lisa! Você está muito fraca ainda e segundo Srta Prym, terá que passar a noite na enfermaria __disse Louise tentando tranqüiliza-la.
__Como eles estão? __perguntou Lisa olhando por um buraco entre Dan e Cliffe.
__Nada bem __disse Zig olhando para uma cama ao lado__ Foi assustador, sabe. Houve muita correria...
__E pegaram quem fez o ataque? Descobriram quem era o partidário do Mestre das Sombras?
Louise olhou para Dan e depois virou-se para Lisa.
__Sinto muito, Lisa, mas ele fugiu! Eu o teria pegado se não fosse o idiota do...
__Você quase o pegou? __perguntou Lisa lembrando-se dos segundos antes de desmaiar__ Então, a voz que eu ouvi era sua. Foi você quem chegou na hora em que ele me atacava!
__Sim. Mas como eu estava dizendo, se não fosse o idiota do Peter eu o teria pegado!
__Peter? O que ele fez?
__Errou o feitiço e transformou o homem num pássaro __disse Cliffe rindo__ A ave abriu as asas e desapareceu. Patético, não?
__Patético ou não, __disse Dan evitando olhar diretamente para Lisa__ Louise não tinha o direito de xinga-lo e chamá-lo de imprestável!
__Você fez o quê? __admirou-se Lisa.
__O que vocês queriam que eu fizesse? Foi por culpa dele que o homem fugiu! __disse Louise encarando Dan
Lisa passou a mão na cabeça que parecia estourar de tanta dor e depois perguntou:
__Só tem duas coisas que eu não entendi. Onde estavam essas duas mil pessoas quando foram atacadas e como você e Peter me encontraram?
__Na verdade, Lisa, as duas pessoas não estavam reunidas em um mesmo local. Todas elas estavam separadas em vários pontos da Fonte Phoenix. Provavelmente o homem saiu pelos jardins e as atacou. No que se refere a eu e ao... __nesse momento, Louise fechou os olhos de tanta raiva que estava sentindo__ Peter, nós vimos às luz do feitiço quando você foi atacada. Eu estava com Tom quando vi a luz ao longe e Peter viu quando estava procurando a par dele que o deixou sozinho no baile. Mas também, não era de se esperar que Marisa Jones o abandonasse!
__Entre as duas mil pessoas, mais de cem foram encontradas no jardim norte __disse Dan ignorando o comentário de Louise.
__Foram as pessoas que eu o vi atacar! __disse Lisa.
__Mas, Lisa, agora me explique uma coisa! __disse Louise__ O que você estava fazendo próximo ao portão norte?
Lisa recostou na cama e demorou-se para responder. Ela esperou sua cabeça parar de dar pontadas e depois respondeu:
__Eu estava procurando Max.
__Max? __murmurou Dan.
__É, ele saiu para buscar uma bebida para mim e desapareceu do Salão Principal. Depois que Louise saiu com Tom, eu vi Max saindo também e fui atrás dele. Eu o segui até no jardim norte quando uma forte luz prateada ofuscou minha visão e então, vi que várias pessoas haviam sido atacadas e que um homem corria na escuridão.
__Acho que não precisa terminar de contar __disse Louise__ Você seguiu o homem na escuridão e quando percebeu já estava sendo atacada, não estou certa? Mas, Lisa, depois que ocorreu o ataque você viu Max?
__Não. Vi apenas as pessoas caídas no chão e um homem correndo para o portão norte... Espere, vocês não estão achando que foi Max quem atacou aquelas pessoas, estão?
Louise e Dan trocaram olhares e depois se viraram para Lisa.
__Eu nunca confiei nele! __murmurou Dan entre os dentes.
__Também não é para tanto! __disse Louise lembrando-se da rivalidade entre os dois__ Não podemos afirmar que foi Max quem fez os ataques. Mas certamente deve-se ter uma explicação para o fato de Max ter deixado Lisa no baile e saído para fora do castelo.
__E com certeza Max também deve ter uma explicação para ter desaparecido entre as vítimas do ataque __disse Dan fitando Louise__ Porque, não se percebeu, mas cem pessoas foram atacadas no jardim norte e ele não estava entre eles. E além do mais, Lisa viu um homem fugindo. Quem nos garante que Max não é o partidário do Mestre das Sombras?
__E quem garante que ele é? __atacou Louise desdenhosamente__ Ainda é cedo Dan para conclusões precipitadas. Mas uma coisa é certa, Lisa estava certa quando disse que algo iria acontecer essa noite. Só não esperávamos que o número de vítimas fosse tão pequeno em relação a numerosa quantidade de alunos que a Fonte Phoenix possui. Isso significa que o partidário do Mestre das Sombras não soube planejar bem o ataque!
__Lisa sabia que algo iria acontecer? __perguntou Cliffe assustado.
__Nunca ouviu falar em sexto sentido feminino? __disse Louise__ Bom, mesmo depois do homem ter fugido com a ajuda imprestável de Peter, conseguiremos desmascara-lo facilmente se ele continuar a freqüentar a Fonte Phoenix!
__Por que diz isso? __perguntou Zig.
__Porque eu lancei um Feitiço Marcador e o feri no abdômen. Dessa forma, saberemos se Max é o partidário do Mestre das Sombras como você acredita ser. Basta verificarmos se tem algum ferimento na região abdominal. E se ele não for, então, descobriremos quem é!
Enquanto Zig e Cliffe elogiavam Louise pela genial idéia do Feitiço Marcador, Lisa pensava em alguns detalhes que ela reparara no momento em que o homem a atacava.
__Sabe, eu estivesse tão perto do homem e não consegui ver seu rosto! __murmurou Lisa interrompendo o elogio de Cliffe__ Mas, vi o suficiente para dizer que... acredito que não seja bem um homem que me atacou!
__O que quer dizer, Lisa? __perguntou Louise.
__As vestes, ele usava vestes humanas e... seus cabelos eram longos e flutuavam no ar com a força das ondas do feitiço! __exclamou Lisa erguendo o olhar para encarar os amigos perplexos com o que ela dizia__ E, a mão que segurava a varinha era fina e delicada como a mão de uma mulher!
__Lisa, ele não pode ser ela! __exclamou Louise__ Eu o vi. Não o vi propriamente, mas, de costas ele era um homem! E além do mais, homens também podem ter cabelos grandes e às vezes, mãos finas também!
__Exatamente como Max! __retrucou Dan.
Louise fingiu que não escutou Dan e depois continuou:
__Como eu disse agora pouco, ainda é cedo para fazermos conjecturas. Saberemos quem ele é quando alguém de nós encontrar um ferimento no abdômen de qualquer um dos alunos...
__E enquanto isso, ficaremos erguendo as vestes de todo mundo para conferir um ferimento provocado por um feitiço! __ironizou Lisa__ Não é tão simples assim, Louise! Enquanto não soubermos quem é o partidário do Mestre das Sombras, a Fonte Phoenix não estará segura! Não estará!
No dia seguinte após o baile e aos ataques, Lisa recebeu alta e antes de ir tomar café com seus amigos, preferiu passar alguns minutos com as vítimas do ataque. Em apenas cinco minutos, Lisa percorreu toda a enfermaria e observou as expressões vazias de cada um. Por um momento, um grande ódio subiu em suas veias. Lisa sentiu-se inválida dentro da enfermaria. Afinal, ela sabia que um ataque aconteceria e infelizmente não pôde evitar.
Naquele momento onde os pensamentos de Lisa vagavam sobre os olhares distantes das vítimas, um pensamento momentâneo surgiu em sua cabeça. Por que ela não perdeu seus poderes como aquelas pessoas ali, deitadas sobre a cama?
Por alguma razão, Lisa pensou que a luz do sol que entrava pelas janelas da enfermaria poderiam iluminar seus pensamentos, mas ela estava enganada.
O Salão do Refeitório estava apinhado de gente quando Lisa atravessou-o para juntar-se a Louise e os outros em uma das gigantescas mesas. Enquanto Lisa atravessava o refeitório, era impossível não reparar que todos comentavam sobre o ataque da noite passada e que todos admiravam-se em ver Lisa, já que ela fora a única que não tivera seus poderes sugados.
__Parece que todos estão assustados com o ataque __disse Louise assim que Lisa sentou-se ao seu lado__ Alguns estão dizendo até que Gaya está abafando o caso, como da outra vez, já que nenhuma providencia foi tomada até agora.
__É estranho que nada foi feito ainda! __exclamou Norman Fingir__ É como se nada tivesse acontecido. Isso é um descaso com a gente. Nem mesmo a segurança foi reforçada. Isso é um absurdo!
__Gostaria de saber realmente o que aconteceu comigo __disse Lisa sem dar atenção a Norman quando revirava sua sopa de cereais.
__Não entendi, Lisa! __disse Louise.
__Eu fui a única que não teve os poderes sugados. Por que?
__Sabe, eu não havia pensado nisso!
Lisa revirou a sopa de cereais mais uma vez e depois olhou para a mesa de professores onde Athus conversa com Ius Flycken. Sua expressão preocupada fez Lisa pensar que eles conversavam sobre o que houve no baile.
Deixando a sopa de lado, Lisa passou mais uma vez os olhos na mesa dos professores e notou que uma das cadeiras estava vazia. Justina Rowena não estava no refeitório.
__Você viu a professora Rowena, Louise? __perguntou Lisa.
__Para dizer a verdade, faz algum tempo que eu não a vejo...
__Ontem ela não estava no baile. O que será que aconteceu?
Lisa ficou sem resposta a manhã inteira.
Após sair do refeitório, Lisa e Louise seguiram para a primeira aula depois do retorno das férias Defesa Contra Criaturas. Enquanto atravessavam o hall de entrada do Castelo dos Bruxos, Athus apareceu entre a multidão de alunos que não paravam de falar sobre o ocorrido, apoiado numa bengala e chamou Lisa.
__Por ter uma palavrinha com você na minha sala, Lisa?
Lisa estava atrasada para a aula de Ljosalfr, mas não podia perder a oportunidade, que tanto esperava, de ter uma conversa particular com Athus.
__Sente-se Lisa __disse Athus apontando uma cadeira para Lisa sentar-se.
Athus contornou a mesa de mogno apoiando-se na bengala e parou frente a janela. Por alguns segundos ele permaneceu calado, o que já estava irritando Lisa depois de ter levado-a para sua sala sem ter-lhe dito uma palavra. Por fim, Athus virou-se para Lisa e ela então, percebeu que o professor parecia preocupado e que havia uma pontada de constrangimento em seu olhar.
__Acredito que não faça parte do bom currículo de uma Bruxa de Fogo, invadir uma sala com a porta trancada, Lisa! __disse o professor, fitando-a, sério.
__Como soube...?
__Desmond __Athus contornou a mesa mais uma vez e depois encostou-se a ela, de frente para Lisa__ Ele me contou que essa é a segunda vez que você entra na minha sala sem permissão e que nas duas vezes parecia procurar alguma coisa. O que estava procurando, Lisa?
__Conto se me disser o que estava fazendo em Poltergrat __disse Lisa com insolência.
__Para sua informação, Lisa, eu não devo explicações sobre o que eu faço ou deixo de fazer. Agora, você estava procurando algo em minha sala e acredito que seja isso, não é?
Athus apontou a mão para um livro de couro peludo sobre alguns livros ao seu lado e fitou Lisa.
__É sim, senhor.
__Se queria o livro emprestado, Lisa, porque não me pediu?
__Eu não o queria emprestado.
__Então?
Lisa olhou do livro para Athus e depois do professor para o livro novamente. Em seguida, disse:
__Das vezes em que eu entrei nessa sala, eu o vi lendo esse livro. Em todas elas, você o escondeu de mim que como se eu não pudesse vê-lo. O que escondendo, Athus? O que tem de tão importante nesse livro que eu não posso ver?
__Ora, Lisa __disse Athus levantando-se da mesa contendo alguns risos. Na verdade, Lisa interpretou os risos como uma forma de disfarçar__ Não há nada nesse livro que deve ser oculto para você. Não vejo mal algum em proibi-la de lê-lo.
__Então, me explique o que é o Olho do Milênio! Por que da última vez em nos vimos, você se referiu a mim como “quem possui o Olho do...”. Você não terminou a frase. Era do Olho do Milênio que você se referia, não era? Mas, o que eu tenho a ver com ele?
__É claro que eu não me referia a ele. E é claro também, que você não tem nada a ver com o Olho do Milênio.
Lisa não acreditou em Athus, havia motivos de mais para ela não acreditar nele. O professor por sua vez, parecia inquieto e não parava de mexer nas cortinas e olhar para fora.
__Então, quem é Nostradamus?
__Nostradamus? Bem, Nostradamus foi um dos maiores Oráculos que Aragorn já teve e foi um dos homens que mais se preocupou em decifrar os segredos dessa marca no seu pescoço __disse Athus após apontar o dedo e os cabelos de Lisa balançarem para trás com mágica, descobrindo a marca de Lisa__ Por acaso você nunca se perguntou por que tem ela?
__Gaya me disse que minha mãe também a tinha e que ela era hereditária...
__É, Mysth realmente tinha essa marca, mas, Gaya está e sempre esteve errado. A marca do olho Lisa, não é hereditária. Gaya pensa assim por que sua mãe a tinha, mas a mãe dela não a tinha.
“Há muitos anos atrás, Nostradamus conheceu uma garota que tinha essa marca tatuada no pescoço e notou que ela dava um dom especial para a garota. Ninguém jamais soube qual era o dom. Nostradamus achou que ela tinha alguma coisa a ver com a clarividência e resolveu estuda-la, como você pode constatar nesse livro”.
Athus tocou de leve a ponta da varinha sobre o livro e ele se abriu, folheou-se e parou numa página onde havia um grande círculo desenhado, onde dentro dele havia um triângulo com um olho no centro e umas inscrições ao redor do triângulo. Em seguida, Athus virou a página e Lisa viu que era a página onde ela havia visto o desenho de Nostradamus segurando uma espécie de bola de cristal.
__Mas infelizmente os estudos de Nostradamus não puderam ser aperfeiçoados, pois a garota morreu meses depois. Agora, a respeito do Olho do Milênio, ele não passa de uma relíquia perdida em que muitos acreditam que Nostradamus teria registrado sete previsões catastróficas para o fim de Aragorn, entre outras palavras, sete profecias. É claro que o Olho do Milênio nunca foi encontrado. Não passa de uma lenda. Vê Lisa, não tem nada a ver com você!
A princípio, realmente não tinha nada a ver com Lisa. Ela agora se contentara com a desculpa de Athus, até mesmo por que o livro não parecia ter nada de muito importância, apenas a conhecidência de Nostradamus um dia ter se interessado por uma marca que ela possui. Mas, mesmo depois da explicação convincente de Athus ainda havia dúvidas na cabeça de Lisa sobre o que Geoffrin lhe disse.
__Está certo, o livro é apenas um bobagem, mas o fato de você ter me privado de ver a carta que a Ordem dos Lordes te enviou quando voltamos do Mundo dos Humanos após aquele ataque dos Emissários da Morte me faz pensar que você está escondendo algo de mim!
__Escondendo algo de você? __Athus pareceu ficar chocado e mais uma vez ficou nervoso e voltou a mexer nas cortinas__ Lisa, sua insinuação é absurda. A carta que recebi apenas me pediu para comparecer em Poltergrat e prestar esclarecimentos sobre o que houve no Mundo dos Humanos. E acredite, os Lordes ficaram chocados com a tentativa de assassinado contra você...
__Ficaram tão chocados que nada foi feito! Porque?
Definitivamente, Lisa estava decidida a ir até o fim para descobrir a verdade. Athus escondia algo e ele tinha certeza disso.
__Porque? Lisa, não houve outro ataque. Não tentaram mata-la novamente. Não há motivos para a Ordem tomar atitudes. E além do mais, você está segura na Fonte Phoenix.
__Tão segura que ontem a noite eu fui atacada novamente!
__Gaya já está tomando as devidas providências quanto a isso __o tom de voz de Athus agora mudara, parecia mais grossa e decidida__ Você está começando a ficar impertinente, Lisa!
__E você não está dizendo a verdade!
__Como?
__Geoffrin me disse que algo aconteceu em Poltergrat aquele dia, pois você voltou diferente e...
__Você procurou Geoffrin? __perguntou athus ficando assustado__ O que foi que ela disse?
__Muitas coisas. Descobri que Mayer Slater não é o Quarto General das Trevas como todos pensavam ser e descobri ainda que Gorgon foi libertado e nesse exato momento deve estar mais forte com os poderes que seu cúmplice sugou daquelas pessoas ontem a noite!
__E você acreditou naquela mulher? __disse Athus entre os dentes__ Lisa, isso tudo é mentira! Confesso que ela realmente disse a verdade sobre Slater, mas, Gorgon ainda está trancafiado dentro de um baú...
__Estava! __interrompeu Lisa a gora com seus nervos a flor da pele__ Ele foi libertado e agora quer se vingar de mim...
__Lisa, eu sei que você procurou Geoffrin porque você teve um sonho e tudo mais, mas, você não pode acreditar em que tudo que as pessoas dizem por aí.
__Da mesma forma que eu não posso acreditar no que você me diz!
Houve um silêncio contrariado dentro da sala. Lisa fitou Athus e percebeu que uma veia pulava em sua testa. Naquele momento, Lisa percebeu que estava indo longe demais.
__Isso não é verdade! __murmurou Athus.
Lisa abriu a boca para contestar, mas viu que era inútil. Se ela continuasse na sala, ficaria dando voltas e Athus continuaria a negar tudo.
__Acho melhor ir para minha aula, estou atrasada!
Lisa levantou-se e viu Athus passando a mão no rosto para conter o nervosismo.
__Lisa! __disse Athus quando Lisa abria a porta da sala__ Não há nada para se preocupar! Fique tranqüila!
__Professor, como posso ficar tranqüila se sei que alguém quer me matar?
Quando Lisa percebeu, ela já estava no corredor e a porta da sala se fechava a suas costas, deixando no seu interior um professor pensativo e assustado com a frase dela.
A luz do sol era a única coisa que penetrava a sala escura de Defesa Contra Criaturas. Lisa foi a última a entrar na sala e surpreendeu-se ao ver que Alfr Ljosalfr não havia chegado e que as velas, que flutuavam no teto, estavam apagadas.
__Como foi a conversa com Athus? __perguntou Louise.
__Irritante! __disse Lisa__ Ele negou tudo e não quis me dizer o que foi fazer em Poltergrat.
__Mas também, já era de se esperar! Você não tem nada a ver com a vida dele...
__Dispenso lições de moral Louise e...
Lisa calou-se de repente ao ouvir um estrondo e notar que a porta da sala estava escancarada e que Ljosalfr entrara com sua cara carrancuda fazendo movimentos impacientes com a mão. A porta se fechou com um novo estrondo as costas do elfo e depois as janelas e as cortinas também se fecharam com extrema violência.
Diferente das outras vezes, Lisa percebeu que Ljosalfr parecia mais mau-humorado e que agora parecia furioso, pois nem mesmo as velas foram acesas quando ele entrou.
De repente, Ljosalfr parou no meio da sala e virou-se repentinamente para os alunos. Ouve um relampejo e as velas se acenderam, revelando um rosto furioso e impassível do professor. Quando todos menos esperavam, o velho elfo enrugado abriu a boca e sua voz saiu como um trovejo dentro da sala.
__QUANDO O INFELIZ QUE FURTOU MEUS PRECIOSOS CARDS MORTAIS FOR DESCOBERTO, NÃO SOBRARÁ NEM UM FIO DE CABELO PARA SE FAZER HISTÓRIA...!
__Os Cards Mortais dele foram roubados?
Os cochichos invadiram a sala em questão de segundos e fizeram Ljosalfr trovejar mais alto do que nunca.
__CALEM A BOCA! AQUELE QUE SE ATREVEU A FURTAR MEUS CARDS MORTAIS SOFRERÁ AS CONSEQÜÊNCIAS DAS TREZE MALDIÇÕES ÉLFICAS E...
Ljosalfr calou-se. A sala inteira arrepiou-se ao notarem que as velas se apagaram e acenderam três vezes seguidas. Lisa pensou que o professor tinha algo a ver com aquilo, mas logo percebeu que ele também parecia assustado.
De repente as velas se apagaram de vez e, entre a escuridão, Lisa percebeu um tom acinzentado tomar conta da sala como se as cores do castelo estivesse perdendo vida. Quando todos menos esperavam, uma sombra passou voando nas janelas e a porta da sala se escancarou revelando um homem que surgia entre a luz do corredor com dois corvos pousados no ombro.
__Desculpe interromper a aula, professor, __adiantou-se Desmond ao ver que Ljosalfr rangia os dentes__ mas há ordens para que todos os alunos se dirijam ao Salão Principal, imediatamente!
E virando-se com os corvos, Desmond desapareceu entre a vaga luz do corredor e deixou a sala absorta em seus pensamentos.
__Será que Gaya tomou alguma providência sobre os acontecimentos de ontem? __perguntou Louise minutos depois enquanto atravessavam o hall do Castelo dos Magos.
__Provavelmente! __disse Lisa vagamente, o que chamou atenção de Louise.
__O que foi, Lisa? Parece estranha!
__Não sei. Parece que tem alguma coisa estranha. É como se eu sentisse medo, mas sem saber porque...
__Medo?
__É. Bom, deve ser bobagem! Mas, Louise, quem será que roubou os Cards Mortais do Ljosalfr?
__Tenho um palpite. Se eu estiver certa, a mesma pessoa que roubou os Cards é quem os usou contra nós no Bosque Espinhoso!
__Você acha que...
__Exatamente! O partidário do Mestre das Sombras deve ter roubado-os antes das férias e nos seguido até o Bosque Espinhoso. Isso só reforça a idéia de que ele está nos monitorando de alguma forma.
__Monitorando?
__Acredito que sim. Não sei como, mas ele pode estar seguindo nossos passos __Louise olhou para trás e viu Dan se aproximando com Ljosalfr a sua cola com uma cara mais fechada do que nunca__ Ljosalfr parece que não está muito contente com esse chamado!
Lisa riu e passou os olhos pelas pessoas que saíam do castelo. Em seguida, virou-se para Louise.
__Você viu Max?
__Para dizer a verdade, não! Ele não estava na sala. É estranho.
__Ele não foi me visitar na enfermaria e também não o vi desde a noite passada. O que será que aconteceu?
__Quem sabe ele não está tentando curar o ferimento que você fez, Louise? __murmurou Dan assando pelas duas e saindo do castelo logo em seguida.
Lisa e Louise trocaram olhares e ficaram em silêncio. Por algum motivo, a implicância de Dan com Max parecia fazer algum sentido. No entanto, Lisa preferia não pensar na possibilidade de ter sido ele quem a atacou.
As duas saíram do Castelo dos Magos, contornaram o jardim sul e dirigiram-se ao Castelo Principal. Quando Lisa atravessou o jardim, ela parou subitamente, chamando a atenção de Louise.
__Por que parou Lisa?
Lisa não respondeu. Parecia pálida e estremecia. Um vento soprou na direção das duas e ergueu os cabelos de Lisa. Ela olhou ao redor e viu que o jardim parecia ficar sem vida. Vendo que algo estava errado, Lisa ergueu os olhos lentamente e viu o céu sobre a Fonte Phoenix coberto de Sentinelas que voavam de um lado para o outro fazendo com que as correntes, presas ao corpo, retinissem quando davam vôos rasantes sobre os castelos.
__Venha Lisa, rápido!
Louise segurou o braço de Lisa e a puxou correndo para dentro do Castelo Principal. Lá, as duas pararam no corredor e olharam para as enormes janelas de onde via-se todo o movimento das Sentinelas e várias carruagens negras estacionadas próximas ao jardim norte.
__O que as Sentinelas estão fazendo aqui? __perguntou Lisa amedrontada.
__Não sei, mas acredito que as carruagens dos inspetores de Azgrah podem nos explicar. Se eu estiver certa, Gaya foi quem os trouxe para cá!
__Até que enfim ele tomou alguma atitude! __murmurou Lisa escondendo-se atrás de Louise quando uma Sentinela passou voando em uma das janelas.
__Porque, Lisa, você tem tanto medo das Sentinelas?
__Já me fiz essa pergunta várias vezes e digo que eu também não sei responder...
Lisa e Louise seguiram entre a multidão de alunos e entraram no Salão Principal. Diferente da noite do baile, o salão não tinha mais as mesas dos alunos e muito menos dos professores. Tudo estava vazio, exceto pelo grande número de alunos que se espremiam para tentar enxergar um batalhão de homens vestidos de preto que tinham uma cara mais carrancuda do que a outra. Entre os homens, Lisa distinguiu Lorde Weaslow, o mais carrancudo deles e Neville Chamberlain, a quem Lisa arrepiou-se quando notou que o inspetor filtrava seus olhos profundos nela.
__Onde está Gaya? Eu não o estou vendo em lugar algum!
Louise subiu na ponta dos pés e olhou ao redor dos homens de preto. Gaya realmente não estava no salão, apenas Godric e alguns professores estavam presentes. Assim que Lisa olhou novamente para eles, reparou que Rowena também não estava.
__Espere, quem é aquele? __perguntou Lisa apontando para um homem de estatura média, rosto jovial e com longos cabelos negros conversando com Chamberlain.
__Hart? O que o pai de Maya está fazendo aqui?
Mas antes que Lisa pudesse dizer algo, Lorde Weaslow se aproximou dos alunos e ergueu a mão. O salão inteiro ficou em silêncio e a voz carrancuda de Weaslow ecoou pelos quatro cantos.
__Vou ser breve e vou direto ao assunto __fez-se silencio e depois de Weaslow analisar as expressões curiosas dos alunos, continuou__ Devido aos últimos acontecimentos aFonte Phoenix está interditada até que a nova ordem se restabeleça! A partir de hoje, todas as aulas estão suspensas até segunda ordem.
Weaslow calou-se frente ao alvoroço de alunos que cochichavam em todos os cantos. Por fim, o lorde ergueu a mão e novamente fez-se silêncio.
__A Ordem dos Lordes considera os últimos fatos como um fator fulminante para a desordem da Fonte Phoenix e acredita que Gaya e seus professores não estão aptos para lidarem com essa situação. Durante um período indeterminado, todos os alunos serão submetidos a interrogatórios sobre os ataques de ontem a noite e os de dois meses atrás ao qual Gaya omitiu o acontecimento a Ordem.
‘As investigações sobre o assassinato de Christian Ravenclaw terão continuidade depois da interrupção feita pelo Príncipe Regente, até que o culpado seja encontrado e punido. Nesse meio tempo, todos os alunos serão submetidos a Feitiços de Aprendizagem no período noturno para que o ano letivo não seja atrasado e terão que prestar exames no final do ano.’
‘Peço que todos colaborem com as medidas adotadas e que não atrapalhem o trabalho dos inspetores de Azgrah e nem a vigília das Sentinelas que protegerão suas estadias na Fonte Phoenix. A todos, muito obrigado pela compreensão. Tenham um bom dia!’
__Interdição! __murmurou Louise enquanto saíam para os jardins quando Dan, Zig, Cliffe e Tom se reuniram a Lisa e a ela (Peter também se aproximou, mas ao ver Louise, se afastou e desapareceu magoado entre a multidão de alunos) __As coisas estão pirando por aqui!
__Mais do que piorando! __disse Cliffe__ Como a Ordem soube do ataque de dois meses atrás?
__Vocês não perceberam ainda? Quem é que estava ao lado dos inspetores? Alan Hart!
__Louise, você não está achando que...
__Foi uma denúncia, Dan! __exclamou Louise parando frente a estátua do anjo__ Gaya não iria tomar providencia alguma depois do que houve na noite passada. Não perceberam? Não foi feito nada e nada iria ser feito! Gaya queria resolver isso sozinho. Porém, Hart descobriu e contou a Ordem. Acredito que eu sei quem foi o dedo duro...
__Maya Hart! __murmurou Dan.
__Pelo visto ela ainda está furiosa pelo que aconteceu no Bosque Espinhoso! __disse Lisa.
__O que me faz ter mais um motivo para ter vontade de esgana-la!
__Bem, pelo menos foi bom que a Ordem soubesse __disse Cliffe__ Quero dizer, agora poderemos nos sentir seguros depois do que houve. E se não se esqueceram, o partidário do Mestre das Sombras poderá ser pego e tudo voltará ao normal...
__Isso se Max resolver dar as caras por aí! __murmurou Dan evitando olhar para Lisa, que abaixara a cabeça, e para Louise, que fitou-o__ Não sei se perceberam, mas ele não estava na aula de Ljosalfr e muito menos no Salão Principal! Max simplesmente desapareceu. Eu andei perguntando pelo paradeiro dele e ninguém soube me informar. Ninguém mais o viu depois do baile. Acho que a última pessoa a vê-lo foi Lisa!
__Max deve ter seus motivos para não aparecer, Dan! __disse Lisa depois de estremecer quando uma Sentinela sobrevoou o grupo.
__Claro que deve ter! O ferimento que Louise fez, por exemplo!
__Dan, não podemos julgar Max sem ao menos saber o que aconteceu com ele__ disse Louise__ Na verdade temos que buscar a verdade e descobrir porque ele deixou Lisa sozinha no baile e desapareceu do mapa!
__Você pode estar certa, Louise, __disse Dan__ mas Lisa não teria sido abandonada no baile se estivesse ido com...
Dan calou-se subitamente. O rapaz corou e desviou o olhar quando Lisa fitou-o.
__Com quem, Dan?
Dan avermelhou-se e saiu apressado entre os alunos sem responder a pergunta de Louise, o que aliviou Lisa.
__Dan acha que se você tivesse ido com ele ao baile, nada teria acontecido __disse Louise aos risos meia hora depois quando conversa com Lisa, sentadas sobre a cama__ É patético, não é?
__Não vejo graça nisso! __cortou Lisa.
__Desculpe!
Lisa dobrou os joelhos sobre a cama e ficou olhando para a janela. Quando uma Sentinela passou frente a ela, Lisa fez um movimento com a varinha e as cortinas se fecharam com violência.
__Isso está saindo do limite, não está? __comentou Louise__ Quero dizer, a nossa vida virou de pernas para o ar do dia para a noite. São tantos acontecimentos que, nenhum fato faz sentido mais. Esse seu medo súbito pelas Sentinelas e o roubo dos Cards Mortais do Ljosalfr são um exemplo disso!
__Creio que os Cards Mortais foram roubados para uma tentativa urgente de nos impedir de encontrar Geoffrin __disse Lisa__ Não resta dúvidas, fomos atacados pelos Cards do Ljosalfr! Só espero que o ataque que ocorreu no Mundo dos Humanos também não tenha sido provocado pelos mesmos Cards Mortais!
__Eu nunca vi Ljosalfr tão furioso como estava hoje! __exclamou Louise girando a varinha entre os dedos__ Só espero que os Cards sejam encontrados, porque se os encontrarem, saberemos quem os usou contra nós no Bosque Espinhoso...
A varinha de Louise escapou entre os dedos e caiu para debaixo da cama de Lisa. Louise prontamente, foi pegá-la.
__Agora que os inspetores estão aqui, será mais fácil desmascarar o partidário do Mestre das Sombras __disse Louise enquanto abaixava-se para pegar a varinha debaixo da cama de Lisa__ Pelo menos Maya fez alguma coisa que prestasse na vida!
__Por falar em prestar, você tem que pedir desculpas ao Peter, Louise!
__Desculpas? Essa palavra saiu do meu vocabulário no instante em que ele me impediu de pegar aquele homem... ai..!
Louise se enfiou debaixo da cama empoeirada e pegou com dificuldade sua varinha. Quando ela tocou na varinha, seus olhos bateram num objeto que nunca estivera ali embaixo.
__Lisa, o que é isso debaixo da sua cama?
__Do quê está falando?
__Tem um baú aqui embaixo! __disse Louise abaixando enfiando a cabeça para ver o baú que estava bem debaixo da cabeceira da cama__ Lisa, é o baú do...
__Com licença, mas precisamos fazer uma vistoria nesse quarto!
A porta havia se escancarado e dois homens vestidos de preto entraram no quarto seguido de Ljosalfr. Louise ao ouvir a voz grossa de um dos homens, bateu com a cabeça debaixo da cama e saiu com um pequeno galo cantando entre seus cabelos.
__Foi roubado alguns pertence desse senhor...
__Senhor é o filho da sua mãe! __Lisa pensou ter ouvido Ljosalfr murmurou baixinho.
__... e nós precisamos revistar o quarto. Por favor, peço para que fiquem do lado da porta para que possamos revistar...
Louise e Lisa trocaram olhares ficaram ao lado da porta como o homem pedira. Ljosalfr ficou ao lado delas lançando um olhar penetrador para as duas como se tentasse ler os pensamentos delas e descobrir se seus preciosos Cards Mortais estavam ali.
Os dois homens revistaram gavetas, criados-mudos e os baús de roupa de Lisa e Louise jogando para o chão tudo que encontravam, o que deixou Louise irritada.
Por fim, um dos homens abaixou e olhou debaixo da cama de Louise e em seguida abaixou para ver a de Lisa. Quando seus olhos focaram um baú debaixo da cama, o homem levantou-se subitamente e fez um gesto com a varinha. O baú, que lá estava, saiu debaixo da cama e bateu nas pernas do homem.
__De quem é essa cama? __perguntou um dos inspetores.
__É minha! __respondeu Lisa sem ter idéia de onde aquele baú viera.
__Esse baú é seu?
Mas antes de Lisa responder, Ljosalfr arregalou os olhos e correu para cima do baú, gritando:
__ABRA ESSE BAÚ! ABRA-O AGORA! QUERO VER SEU CONTEÚDO!
__O que tem dentro desse baú? __perguntou o inspetor sem dar atenção aos gritos de Ljosalfr.
__Não sei, não é meu! __exclamou Lisa arregalando os olhos__ Não estava aí hoje pela manhã!
O inspetor fitou Lisa por uns segundos e depois apontou a varinha para o baú. Após um breve relampejo, o baú foi destrancado e tampa abriu-se lentamente revelando o que ninguém esperava.
__O que significa isso, mocinha?
Duas marcas e um rastro de sangue
A sala da torre principal estava completamente mais vazia do que da última vez em que Lisa entrara nela. No centro da sala havia apenas uma grande mesa marfim onde uns quinze inspetores se reuniam. Quando a porta da sala se escancarou e os berros de Ljosalfr __porque agora ele não gritava como fazia há quinze minutos atrás e sim fazia toda a Fonte Phoenix ouvir seu falatório sem fim__ ecoaram ensurdecedoramente por todo o cômodo, os inspetores pararam de conversar e viraram-se para a porta. Nesse momento Lisa e Louise entravam seguidas por um inspetor e logo atrás, pelo elfo berrador.
__PUNIÇÃO! EU QUERO QUE O CULPADO APODREÇA NAS MASMORRAS DE AZGRAH PENDURADO NA PAREDE MAIS FRIA POR GROSSAS CORRENTES...
__O que está havendo aqui? Por que toda essa gritaria?
Lisa virou-se para os inspetores e viu um homem alto e magro de olhos escuros sair entre a corja de homens que pareciam estar vestidos para um velório. O homem lançou um olhar penetrante em Lisa e examinou-a de cima em baixo com um largo sorriso.
__Ora, ora! Finalmente nos reencontramos Lisa! __disse Chamberlain tentando focar o máximo possível os olhos de Lisa.
__Senhor, revistamos o quarto dessas garotas e...
__PUNIÇÃO! EU QUERO PUNIÇÃO! DILACEREM SEUS CORPOS E JOGUEM AS PARTES NOS...
__Como eu estava dizendo, __disse o inspetor mal encarado tentando sobrepor aos berros de Ljosalfr, que nesse momento estava roxo de tanto gritar__ encontramos os Cards Mortais desse senhor...
__SENHOR É A FILHA DA... __Ljosalfr agora estava parecendo uma gigantesca berinjela élfica.
__... que foram roubados antes das férias. Eles estavam dentro de um baú debaixo da cama dessa mocinha!
__LADRA! EU QUERO PUNIÇÃO! JOGUEM-NA NO ABISMO MAIS PROFUNDO QUE ENCONTRAREM E...
__Quietus!
Chamberlain apontou a varinha e um relampejo avermelhado jogou Ljosalfr sobre uma cadeira abandonada no canto da parede. O elfo caiu sentado e tentou gritar. Porém, nenhum som foi emitido, pois no lugar de sua boca havia uma grande massa de pele que parecia ter coberto sua boca.
__Bom, acho melhor sentarmos, não é?
Chamberlain fez um movimento com a mão e duas cadeiras surgiram atrás de Lisa e Louise. Naquele momento, os inspetores se aproximaram de Chamberlain e rodearam as duas garotas.
__Então o roubo dos Cards Mortais foi solucionado __dizia Chamberlain parecendo satisfeito com o som de suas próprias palavras__ Quem diria, hein, Lisa!
__Eu não roubei os Cards Mortais! __disse Lisa com as palavras saindo entre os dentes.
__Lisa está dizendo a verdade __disse Louise encarando Chamberlain__ Aquele baú não estava debaixo da cama dela hoje pela manhã. Alguém o colocou lá!
__E suponho que foi posto para incrimina-la, não é? __disse Chamberlain com sarcasmo__ Ora, qualquer um pode alegar uma coisa dessas quando se quer escapar de uma acusação, não é mesmo senhorita Longbottom?
Lisa sentiu Louise estremecer ao seu lado. Com certeza ela estava se assemelhando a um vulcão prestes a explodir lava pela boca.
Neville Chamberlain analisou Louise por um breve segundo e depois virou-se para os outros inspetores que as rodeavam.
__Saiam! __ordenou ele com grosseria__ Me deixem a sós com elas! O que estão esperando? Fora!
Os inspetores deixaram a sala aparentemente irritados com a grosseria de Chamberlain e fecharam a porta com total estrondo que uma pequena nuvem de poeira caiu sobre a sala.
No canto da sala, Ljosalfr permanecia sentado na cadeira __não que ele estava contente por estar ali, mas porque além de não ter uma boca para berrar, seu traseiro estava colado na cadeira__ tentando inutilmente dizer algo.
__Não adianta mentir para mim! __exclamou Chamberlain espremendo os olhos para focaliza-los em Lisa__ Sabe que eu tenho modos de descobrir a verdade...
__Não foi ela! __gritou Louise.
__Certamente senhorita Longbottom na atual situação em que a Fonte Phoenix vive, nós precisamos de provas concludentes. E creio, sei como encontra-las! Agora se me permiti...
Chamberlain fitou Lisa com seus olhos negros e por um instante ela viu uma fenda surgir neles. O inspetor aproximou de Lisa e ela sentiu as fendas penetrarem seus olhos lentamente.
Louise percebeu que Chamberlain estava extraindo informações através do olhar de Lisa e tentou fazer algo. Porém, outra pessoa fora mais rápido do que ela.
__Impedimenta!
A porta se escancarou e uma luz amarelada lançou Chamberlain sobre a mesa no centro da sala. Segurado pelos outros inspetores, Gaya desvencilhou-se deles e entrou na sala.
Sobre a mesa, Chamberlain levantou meio zonzo e pôs-se de pé.
__O que pensa que está fazendo? __berrou o inspetor com seus olhos em forma de fendas voltando ao normal.
__Acabou por hoje Chamberlain! __disse Gaya parecendo furioso__ Vamos garotas, voltem para seus castelos!
__Você não pode atrapalhar uma investigação! Elas roubaram os Cards Mortais desse senhor!
Ljosalfr resmungou algo no canto da sala e Gaya, sem dar atenção aos resmungos, disse em voz alta:
__Foi eu quem pegou os Cards Mortais!
__O quê? __exclamaram todos com exceção de Ljosalfr que deu um resmungo alto (com certeza ele fez a mesma exclamação que os outros mentalmente).
__Foi você? __perguntou Chamberlain incrédulo.
Entrementes, Lisa e Louise não estavam entendendo nada.
__Foi __confirmou Gaya__ Eu queria os Cards emprestados por alguns dias __e virando-se para Ljosalfr__ e não o encontrei na Fonte Phoenix, professor. O senhor já havia saído de férias. Então, peguei-os sem sua autorização. Eu ia devolve-los quando retornasse de suas férias, mas infelizmente tive que ir a Poltergrat e acabei chegando na Fonte Phoenix na noite do baile quando o senhor já havia percebido que seus cards haviam desaparecido. Sinto muito pelo inconveniente!
Ljosalfr não disse nada __mas também não poderia se quisesse! Seus olhos giraram de um lado para o outro como se não estivesse acreditando no que acabara de ouvir.
Lisa e Chamberlain estavam boquiabertos e Louise, inteiramente sorridente __o que deixou Lisa intrigada.
__Agora que tudo foi esclarecido, creio que Lisa e Louise não precisem mais permanecer nesta sala...
__Espere um momento __interrompeu Chamberlain abrindo um sorriso triunfante__ Se foi sua alteza quem pegou os cards, então porque eles estavam debaixo da cama dessa garota?
Ljosalfr soltou um resmungo e Gaya olhou de Lisa para Louise e depois respondeu:
__Pedi ao Luft para guardar os cards em um lugar seguro no castelo, mas creio que ele tenha entendido que embaixo da cama de Lisa fosse o lugar mais seguro que houvesse! Bom, se não tiver mais perguntas inspetor, vou me retirar!
Gaya fez um aceno com a cabeça e saiu da sala.
__A propósito __disse Gaya parando a porta__ gostaria que as duas viessem a minha sala um instante, sim?
Lisa e Louise lançaram um olhar a Chamberlain e apressaram-se a seguir o príncipe deixando o inspetor na sala com uma cara de quem comeu jiló com fel de dragão.
__Me desculpe pela insolência alteza, mas, sua desculpa foi esfarrapada! __disse Louise minutos mais tarde enquanto entrava na sala do trono de Gaya.
__Desculpa esfarrapada? __perguntou Lisa sem entender.
Gaya e Louise olharam para Lisa e riram. Segundos depois, Gaya disse:
__Não pensou que eu estava dizendo a verdade, pensou?
__Eu pensei que...
Lisa sentiu-se constrangida por ser a única, com exceção de Ljosalfr e Chamberlain, a não perceber que Gaya mentira para o inspetor para protege-la.
__Porque fez isso? __perguntou Lisa abafando os risos de Louise__ Porque mentiu dizendo que você tinha pegado os cards do professor Ljosalfr?
__Não percebe? __disse Gaya sentando-se ao trono__ Para protege-la!
__Lisa, tudo isso foi uma armação __disse Louise__ Roubaram os cards de Ljosalfr, usaram-no como bem entenderam e depois colocaram-no debaixo de sua cama para culpa-la de um roubo que você não cometeu!
__Sua sorte foi que cheguei a tempo e consegui livra-la da acusação. Neville parecia muito disposto a extrair informações de você. Felizmente eu o impedi!
__Gaya, que informações Chamberlain poderia extrair de mim? __perguntou Lisa.
Gaya mudou de expressão e manteve-se calado. Quando Lisa pensou em fazer-lhe a pergunta novamente, a porta da sala abriu-se e Martius Godric entrou.
__Alteza, Lorde Weaslow quer vê-lo novamente antes de voltar a Poltergrat __disse Godric após fazer um breve cumprimento a Lisa e Louise__ Ele o está aguardando no jardim norte.
__Ah, sim! Me desculpe, Lisa, mas nossa conversa vai ter de ser adiada. No momento, recomendo tomar cuidado com as Sentinelas e principalmente com possíveis abordagens que Chamberlain possa fazer. Não se esqueça, não olhe nos olhos dele, Lisa! Agora, se me dêem licença...
Gaya levantou-se do trono e saiu da sala. Martius estava saindo atrás do príncipe quando Louise o chamou.
__Senhor, se importa se eu levar esse jornal comigo? __perguntou Louise pegando um exemplar da Folha do Centauro sobre uma pequena mesinha ao lado do trono.
__Fique com você!
E virando-se, Martius saiu da sala deixando Lisa pensativa e Louise intertida com a Folha do Centauro.
__Louise, você percebeu que Gaya hesitou responder minha pergunta antes de Martius entrar na sala do trono? __perguntou Lisa vinte minutos depois enquanto estavam em seus quartos.
__Me desculpe, Lisa, mas eu estava prestando atenção nesse exemplar da Folha do Centauro __disse Louise estendendo o jornal para Lisa__ Essa reportagem só dá evidencias de que foi Maya quem contou a Ordem sobre os ataques...
Lisa pegou o jornal das mãos de Louise e leu a reportagem intitulada “Interdição da Fonte Phoenix”. Depois de alguns segundos, ela jogou o jornal sobre a cama e deixou-se cair de costas sobre a cama.
__Sendo Maya ou não, ela fez a coisa certa __comentou Lisa focalizando o teto do quarto__ Gaya não podia continuar escondendo da Ordem o que estava acontecendo na Fonte Phoenix. Mas isso não me preocupa agora...
__E o quê a preocupa?
__Chamberlain. Tenho certeza de que ele não se convenceu da minha inocência. Certamente ele deverá me perseguir o tempo todo. Ainda mais agora que sua estadia na Fonte Phoenix é indeterminada. Mas além dele, Max também me preocupa. Ele desapareceu!
__Lamento dizer isso, Lisa, mas o desaparecimento de Max só está me fazendo aceitar as suspeitas de Dan!
__É eu sei. Talvez até eu esteja, Louise. Até eu!
No dia seguinte, Lisa acordou com uma estranha sensação de que passara a noite inteira estudando grossos livros de magia. Louise explicou-a que essa sensação era causada pelos Feitiços de Aprendizagem que foram lançados sobre eles enquanto dormiam.
__No início é bem ruim, __disse Louise enquanto tomavam café__ mas logo depois a gente se habitua ao feitiço. Pelo menos de agora para frente nós não vamos precisar passar o dia inteiro trancafiados numa sala de aula!
Se as reações do Feitiço de Aprendizagem era ruim, passar o dia inteiro sem fazer nada era pior ainda. Lisa aproveitou o dia para caminhar pela Fonte Phoenix para refrescar a mente e mais do que nunca, descobrir o paradeiro de Max. O desaparecimento do rapaz já estava se transformando em algo que incomodava, ainda mais quando Dan ficava jogando na cara dela que Max não prestava.
Se Max prestava ou não, Lisa não sabia, mas com certeza ela gostaria de saber porque ele desaparecera na noite do baile e nunca mais reaparecera. Milhares de possibilidades passaram pela mente de Lisa, mas todas elas não deixaram de ser apenas inúteis possibilidades.
Além do mistério do desaparecimento de Max, a vida na Fonte Phoenix passou a ser embargada pelos interrogatórios insuportáveis feitos pelos inspetores de Azgrah. Diferente da outra vez, os inspetores trabalhavam calmamente e analisavam cada depoimento dado com extrema cautela, o que já estava irritando os professores que não viam a hora de voltarem as salas de aulas.
A demora no andamento das investigações fez com que os dois meses seguintes se aproximassem lentamente. A Fonte Phoenix passou esses meses extremamente vigiada pelas centenas de Sentinelas que, ao pensar de Lisa, deixara os castelos com um tom mais sombrio.
Se estavam sombrios ou não, não importava, a questão era que o céu sobre a Fonte Phoenix passara a ficar coberto por nuvens escuras quase que o dia inteiro. Ninguém sabia se era por causa das Sentinelas que viviam voando sobre as cabeças dos alunos retinindo suas correntes ou se era o inverno que estava se aproximando.
Nesse tempo cada vez mais sombrio, Lisa preferia ficar dentro do Castelo dos Bruxos à ficar escondendo das Sentinelas cada vez que elas passavam sobre sua cabeça. Mas esse não era apenas o motivo de sua reclusão.
Lisa passara os dois meses se martirizando por não poder fazer nada contra Gorgon. Era evidente que, depois de tudo que aconteceu, Lisa sentisse inválida ao tentar fazer algo sem saber como fazer. Era algo frustrante.
__Ficar trancada no castelo não vai ajudar em nada. Gorgon está lá fora, se recuperando enquanto você está aqui dentro se lamentando __disse Louise tentando fazer Lisa sair do quarto e andar pela propriedade__ Sinceramente, Lisa, se você quiser fazer algo para impedir o Mestre das Sombras de retornar, levante-se dessa cama e tente encontrar o ferimento que eu fiz em um dos alunos. E, quando você encontrar essa marca ferida, poderá desmascara-lo e quem sabe, impedir que Gorgon retorne!
As palavras de Louise soaram como um vento refrescante num dia de sol quente. Era isso, Lisa tinha que fazer algo e deveria começar pela pessoa que a atacou na noite do baile. Mas, como ela ia fazer isso? Lisa não podia sair pela Fonte Phoenix obrigando todo mundo a erguer suas vestes para que ela verificasse uma marca no abdômen! Novamente Lisa bateu de cara num muro de pedra. Deveria haver um jeito, mas como?
Fazendo o que Louise lhe aconselhou, Lisa resolveu sair do castelo e dar uma volta pelos jardins. No entanto seus planos tiveram de ficar de lado quando Melissa a parou no inicio das escadas espirais e lhe disse que era para comparecer a sala da torre principal. Disse ainda que Chamberlain tinha pressa.
Lisa, então, atravessou o jardim sul e entrou no Castelo Principal. Entrou nos corredores escuros do castelo, subiu uma escadaria estreita da torre e entrou na sala onde há dois meses atrás Gaya a livrara da acusação de roubo.
__Demorou __resmungou Chamberlain assim que ela entrou e recebeu uma cadeira para sentar-se.
Lisa sentou-se na cadeira e olhou para os inspetores que a encaravam. Como Gaya a aconselhara, Lisa evitara olhar diretamente nos olhos de Chamberlain.
Quando Chamberlain abriu a boca para começar o interrogatório, a porta se abriu e Gaya entrou.
__Me desculpe, mas gostaria de participar das investigações, se não for incômodo!
Chamberlain rangeu os dentes e fingiu que Gaya não estava na sala.
O interrogatório durou quase uma hora e, diferente da outra vez em que uma Sentinela atacou Lisa a mandado do inspetor, tudo ocorreu normalmente. Talvez a presença de Gaya não permitira os inspetores usarem seus métodos sombrios para descobrirem a verdade.
Lisa respondeu todas as perguntas e enfatizou os acontecimentos da noite do baile. Contou que também fora atacada e que aparentemente nada seu foi sugado. Disse ainda que Louise ferira o atacante com um Feitiço Marcador e que sua identidade seria facilmente descoberta por uma marca no abdômen. Por um instante, Lisa pensou em contar sobre o estranho desaparecimento de Max, mas hesitou e preferiu não comentar.
__Está certo! __concluiu Chamberlain parecendo extremamente furioso com a presença de Gaya__ Pode ir. Harold, vai buscar a aluna Louise Longbottom!
Lisa levantou-se e saiu atrás de Gaya, que para felicidade de Chamberlain também se retirava da sala. No entanto, quando Lisa se aproximava da porta, Chamberlain passou ao lado dela e murmurou baixinho:
__Teve sorte desta vez, garota! Mas ele não poderá protege-la sempre. Você escapou, mas da próxima não vai escapar!
E saindo na frente de Lisa, Chamberlain deixou a sala e desapareceu na escada da torre.
Lisa saiu da sala e encontrou Gaya esperando-a na saída. Quando os dois ficaram a sós no corredor, o príncipe pôs a mão no ombro de Lisa e disse:
__Teve sorte de eu ter visto você subindo para a torre. Pensei que Chamberlain a havia chamado para depor e resolvi assistir ao interrogatório propositalmente. Chamberlain ia interroga-la da pior forma se eu não estivesse na sala. Agora, siga minhas velhas recomendações. Não importa o que acontecer, não olhe nos olhos dele, ok?
__Porque não posso...
__Até mais, Lisa!
Quando Lisa percebeu, Gaya a havia deixado e estava descendo as escadas. Mais uma vez ela ficara sem respostas.
Lisa saiu do Castelo Principal e passou por Louise que seguia o inspetor chamado Harold. Lisa desejou boa sorte a amiga e entrou no Castelo dos Bruxos.
Lisa subiu as escadas espirais do castelo pensando no que Gaya lhe dissera. Por algum motivo o príncipe estava evitando responder sua pergunta. Mas porque?
__Lisa!
Lisa virou e deparou-se com Max. Ao vê-lo ela deu um pulo para trás e quase caiu sobre a escada.
__Eu a estava procurando...
__Onde estava esse tempo todo? __gritou Lisa interrompendo Max__ Porque me deixou no baile e fugiu de mim quando o segui pelos jardins? Por que desapareceu da Fonte Phoenix? Eu o procurei durante esses dois meses... Onde você estava Max?
Max ficou pálido e fitou Lisa, que agora tinha uma enorme veia saltando na sua testa.
__Eu...
__Desgraçado!
Dan surgiu por trás de Max, agarrou o colarinho de suas vestes e o jogou contra a parede.
__ONDE ESTAVA ESSE TEMPO TODO? __gritava Dan com as veias do pescoço saltando para fora__ PORQUE DEIXOU LISA NAQUELE BAILE E DESAPARECEU?
__Dan! __gritou Lisa ao ver que Dan segurava o colarinho de Max com tal força que o rapaz estava ficando sufocado.
__FOI VOCÊ QUEM ATACOU AQUELAS PESSOAS NÃO FOI? RESPONDA!
Dan agarrou no colarinho com mais força e ergueu Max no ar. Quando o rapaz foi erguido, suas vestes se levantaram e destamparam uma faixa enrolada no abdômen onde havia uma grande mancha de sangue. Provavelmente havia um ferimento no abdômen de Max.
Lisa estremeceu ao ver o ferimento e arregalou os olhos. Ao ver que Lisa ficara pálida, Dan olhou para baixo e viu o ferimento sangrando no abdômen de Max. De repente, Max empurrou Dan contra o corrimão da escadaria e saiu correndo pulando os degraus da escada.
Dan imediatamente saiu atrás de Max seguido por Lisa. Ao passar por Hariph no inicio das escadas, Dan empurrou o rapaz e o jogou contra a parede.
Quando Hariph bateu na parede, sua blusa ergueu-se e de relance os olhos de Lisa focalizaram uma marca de um ferimento curado há muito tempo no lado direito do abdômen do rapaz. Por um breve instante os dois se entreolharam e então Hariph abaixou a blusa e cobriu a marca.
Lisa ficou parada na escada sem saber o que fazer ou dizer. Seus movimentos estavam paralisados. Sua mente apenas dava voltas em torno de duas marcas descobertas em menos de trinta segundos.
Quando Lisa recuperou sua consciência, Hariph estava parado ao lado dela sussurrando em seu ouvido.
__Não se preocupe. Estou tomando as devidas providências para que tudo termine bem. Tudo vai dar certo agora, confie em mim!
E abrindo um largo sorriso, Hariph subiu as escadas e desapareceu em um dos corredores. Naquele momento Lisa não sabia se ria ou se chorava. As lágrimas escorreram pelo seu rosto à medida que seu coração se apertava.
__Eu confiei nele durante esse tempo todo! __dizia Lisa chorando sobre a cama depois de contar a Louise o que acontecera__ E esse tempo todo ele brincou com meus sentimentos enquanto planejava minha morte!
__Sinto muito, Lisa! __disse Louise ainda perplexa com o que Lisa contara__ Deve haver outra explicação...
__Não há nenhuma explicação. Max é o partidário do Mestre das Sombras! Eu fui uma idiota em acreditar nele e...
A porta abriu a Dan hesitou em entrar ao lembrar do feitiço que protegia o quarto das garotas.
__Posso entrar?
__Tem nossa permissão! __disse Louise.
__O desgraçado fugiu novamente! __disse Dan entrando__ Eu o segui até o Bosque das Ninfas, onde ele evaporou sem deixar rastro algum!
__Max conseguiu fugir. E agora, o que vamos fazer?
__Nada! __exclamou Lisa levantando-se com o rosto totalmente molhado de lágrimas.
__Nada? __espantaram-se Louise e Dan.
__Não vamos fazer nada por que o ajudante de Slater vai fazer alguma coisa por nós...
__Como tem certeza disso? __perguntou Louise.
__Porque ele me disse!
__Você descobriu quem ele é? __perguntou Dan incrédulo.
__Descobri, Dan. O ajudante de Slater é Hariph. Eu vi a marca no abdômen no lado direito como Düblin disse __Lisa ficou de costas para os amigos e encaminhou-se até a janela__ Ele me disse que era para não me preocupar porque ele estava tomando as devidas providências para que tudo terminasse bem. Ele já sabe sobre Max e certamente vai desmascara-lo frente a Chamberlain!
Louise e Dan não disseram nada. O choque de saber que Hariph estava do lado deles fora tão grande quanto saber que Max era o partidário do Mestre das Sombras já que todos já desconfiavam dele.
__Não podemos ficar sem fazer nada! __exclamou Louise.
__E o que vamos fazer? __disse Lisa virando-se para os dois__ Procurar Max no bosque das ninfas até encontra-lo? Acho que não. À uma hora dessas, ele deve estar bem longe daqui
__Então, o que a faz pensar que Hariph vai pega-lo se a uma hora dessas Max já está longe?
Lisa não havia pensado nisso. Por um instante suas lágrimas pararam de escorrer pelo rosto e uma fúria incontrolável começou a fluir em suas veias. No olhar de Lisa uma ave de fogo surgiu e logo desapareceu. Louise entendeu então que a Bruxa de Fogo retornara.
__Então Max é o partidário do Mestre das Sombras __disse Zig enquanto passavam por uma trilha ao lado do bosque das ninfas que leva-la a beira do penhasco, no dia seguinte__ E Hariph é o ajudante de Slater! Quem diria!
__E agora o que você vai fazer, Lisa? __perguntou Cliffe.
__Me sinto frustrada por não ter nenhuma idéia em mente!
Os cinco saíram da trilha e caminharam descalços pela areia e pararam a beira das ondas do mar. Lisa e Louise sentaram na areia e Dan, Zig e Cliffe foram jogar pedrinhas no mar.
__Como você está, Lisa? __perguntou Louise após esconder alguns fios atrás da orelha quando um vento soprou contra seu rosto.
__Nunca estivesse melhor!
Lisa estava mentindo. Ela não dormira na noite passada e sentia nojo de si mesma por sentir algo por Max. Algo que a fazia suspirar, ficar boba, sonhar...
__Encontraremos uma forma de encontrar Max. Sairemos dessa! __disse Louise pondo a mão no ombro de Lisa__ Só acho estranho que Hariph não tenha se manifestado até agora. Quero dizer, ele é o ajudante de Slater, está do nosso lado. Porque não nos conta o que está planejando?
__Não seria seguro ficar confidenciando planos a qualquer um que o perguntasse o que estava planejando! __disse Zig após lançar uma pedrinha. Ela bateu na água e saiu pulando até chocar-se contra uma onda e ser engolida pelo mar.
__Não somos qualquer um, Zig! __reprovou Louise.
__Que barulho é esse? __perguntou Lisa.
Lisa e Louise ergueram os olhos e viram as quatro Mandrágoras que os trouxeram para a Fonte Phoenix sobrevoarem sobre suas cabeças e depois pousarem sobre um pedregulho ao lado do penhasco.
__Parece que elas não quiseram ir embora __disse Louise.
__Elas se adaptaram a Fonte Phoenix e preferiram ficar no bosque das ninfas __disse Cliffe__ É incrível a capacidade de adaptação delas!
Lisa observou as Mandrágoras tomarem banho do pouco sol que surgia timidamente entre as nuvens e resolveu levantar-se.
__Vou voltar ao castelo. Preciso procurar Hariph.
__Vou com você! __disse Louise.
Lisa e Louise deixaram Dan, Zig e Cliffe observando as Mandrágoras e voltaram para a Fonte Phoenix. Quando as duas chegaram na trilha que levava de volta para os castelos, Lisa e Louise encontraram Athus que andavam com dificuldade apoiado numa bengala.
__Bom dia, professor! __disse Louise.
__Bom dia, meninas! Lisa, se importaria de dar uma palavrinha comigo?
Lisa não tinha mais nada para conversar com Athus depois da última conversa que tiveram no dia do baile. Ela não queria discutir com o professor e nem jogar mais uma vez na cara dele que suas mentiras não a convenciam. Quando Lisa abriu a boca para inventar uma desculpa qualquer, Louise tomou sua frente e disse:
__Bom, vou andando! No castelo a gente se vê Lisa! Ah, a propósito, vou procurar aquela pessoa e tentar conversar com ela, ok?
Louise piscou o olho e saiu apressada em direção as muralhas. Quando retornasse para o castelo, Lisa iria esganar Louise!
__Creio que nossa última conversa não tenha sido muito construtiva, Lisa __disse Athus saindo da trilha e entrando no bosque__ Quero que me desculpe se fui muito grosso com...
__Não há com o que se desculpar! __resmungou Lisa ainda furiosa por Louise tê-la deixado com Athus__ Acredito que... que talvez eu tenha passado do limite...
__Não, de forma alguma! Aqui! __Athus indicou uma pedra para Lisa e sentou-se numa outra pedra com um pouco de dificuldade__ Sabe, sua... como posso dizer... determinação me fez refletir sobre alguns aspectos que até então eu quis manter afastados da opinião de algumas pessoas...
__Vamos nos divertir um pouco, rapazes, vi o Horcliffe e os Pés Grandes indo para o penhasco...
Lisa e Athus viraram-se e viram o vulto de Grump, Gregor e Steven passando pela trilha quase coberta pelos arbusto e desaparecerem na direção do penhasco. Sem dar atenção aos rapazes, que com certeza procuravam confusão, Athus esticou sua perna cuidadosamente e continuou de onde havia parado.
__Sabe, Lisa, muitas coisas aconteceram e estão acontecendo este ano. É natural que todos se perguntem porque esses fatos... esses acontecimentos... estão de alguma forma envolvidos direta e indiretamente com a Fonte Phoenix.
__Me desculpe, mas, aonde quer chegar? __perguntou Lisa esquecendo sua raiva por Louise e se interessando pela conversa.
Athus alisou a perna machucada e depois analisou cada traço do olhar curioso de Lisa como se estive escolhendo as palavras certas para contar-lhe o que deveria ter-lhe contado há muito tempo.
__Digamos que eu queira chegar aonde nunca tive coragem de chegar!
__Não estou entendendo, professor!
__Certamente que não! Mas, vou ser mais claro. Creio que você estava certa durante todo esse tempo. Admito que seu poder de percepção é incrível, mas, desde o princípio você esteve certa!
Lisa segurou a respiração e sentiu um cubo de gelo cair em seu estômago. Havia alguma coisa no tom de voz de Athus que parecia que o professor iria voltar atrás e contar toda a verdade.
__Professor, o senhor está querendo dizer que...
__Por favor, não me chame de senhor, está bem? Não quero me sentir mais velho do que sou __repreendeu Athus fitando Lisa__ Mas, sim, estou admitindo que menti sobre tudo que lhe contei, com exceção dos Generais das Trevas e da noite em que você foi levada para o Mundo dos Humanos!
“Espere, não terminei! __disse Athus interrompendo a indignação de Lisa__ Eu sabia, Lisa, eu sabia desde o início que Gorgon havia sido libertado, por que um amigo meu, Bóris Lavinski, me procurou dois dias antes da formatura do quarto ano. Fui avisado sobre o perigo que a Fonte Phoenix estava correndo e inclusive, sobre os possíveis atentados contra os alunos.”
“Lavinski é um dos ajudantes de Mayer Slater e soube disso pelo próprio Slater. É claro que, quando Lavinski me contou, fiquei chocado e de imediato preferi não dizer nada a Gaya. Mas fiz isso apenas para garantir que Slater estava certo e que Gorgon realmente havia voltado.”
Na noite da formatura, tive certeza absoluta de que ele havia voltado. A morte repentina de Christian Ravenclaw, filho de um dos braços direitos de Slater, foi assassinado para que a verdade não fosse contada... para que todos continuassem pensando que Gorgon ainda estava preso no baú. Tive mais certeza ainda no outro dia quando eu e você fomos atacados por uma pessoa que não conseguimos ver o rosto. Esse ataque foi demasiadamente estranho porque nenhum de nós foi ferido.”
“Quando o dia amanheceu, fiquei horas e mais horas tentando entender porque fomos atacados e só descobri o motivo quando me lembrei do feitiço usado por aquela pessoa. Depois de analisar o feitiço descobri que ele possivelmente fora usado para sugar poderes e transferi-los para uma outra pessoa: Gorgon.”
“Eu só não imaginava que isso fosse apenas o início de muitos acontecimentos aterrorizantes. Quando fomos para o Mundo dos Humanos, por exemplo, você foi atacada pelos Cards Mortais dos Emissários da Morte e quase morreu se não fosse a intervenção de Crowley. Mas, depois que voltamos para Aragorn, houve outro ataque em que nem você nem Dan participaram. Desta vez, eu fui o alvo!”
“Fui atacado em Poltergrat, Lisa. Felizmente, nada aconteceu comigo __apressou-se Athus a dizer quando Lisa abriu a boca mais uma vez__ exceto por esse ferimento...”
Athus arregaçou a calça deixando exposto um enorme ferimento na batata de sua perna. Athus desenrolou a faixa que cobria o ferimento e mostrou-o a Lisa. O ferimento passava de uma coloração arroxeada para uma negra quase azulada. Havia sangue escorrendo e pus saindo do enorme buraco que deixava a mostra o osso da perna.
__Os ferimentos causados por cards mortais são como as mortes; são permanentes até que o card seja destruído! __comentou Athus ao ver a expressão de espanto de Lisa.
__Então é por isso que sua perna nunca melhorava! Porque ficou calado esse tempo todo? Por que não contou a Gaya que fora atacado em Poltergrat?
Lisa levantou-se da pedra com o rosto vermelho e com uma veia pulando em sua testa. A raiva que ela sentia por Athus agora estava ao extremo. Naquele momento, o punho de Lisa se fechou de vontade de acertar o nariz daquele homem que escondera a verdade enquanto mortes e ataques aconteciam embaixo do seu nariz.
__Lisa eu só quis...
__Vai encarar Horcliffe? Acho que meu punho está formigando para quebrar sua cara...
__Então vem idiota!
As vozes de Grump e de Dan discutindo interromperam Athus e o fizeram se calar. Naquele momento, Lisa não sabia se controlava-se para não gritar com Athus ou se corria para ajudar Dan.
__Zig e Cliffe, vamos embora __ouviu-se a voz de Dan gritando para os Pés Grandes__ Não quero sujar minhas mãos com o sangue desse asqueroso!
__Você me paga Horcliffe! __gritou Grump.
Segundos depois após os gritos, Lisa viu o vulto de Dan e os Pés Grandes passarem na trilha. Logo em seguida vieram Gregor e Steven tentando ajudar Grump que parecia estar com o nariz sangrando.
__Está sangrando, muito! __ouviu-se a voz de Gregor.
__Acho melhor leva-lo para a enfermaria! __disse Steven.
__Me deixem, não quero ir para lugar algum! __gritou Grump__ Não contem a ninguém o que aconteceu, ouviram! Ainda vou arrancar sangue daquele...
A voz de Grump desapareceu lentamente deixando um silêncio insuportável pairar sobre Lisa e Athus.
__Seu silêncio custou a vida de duas pessoas e os poderes de outras centenas __disse Lisa lentamente__ Por que só agora você resolveu me contar o que houve?
__Era a coisa mais sensata a fazer!
Athus enrolou a faixa em torno do ferimento, puxou a perna da calça e levantou com dificuldade de cima da pedra.
__Admito que errei, Lisa! __murmurou Athus__ Pensei que se ficasse calado, eu evitaria causar alvoroço nas pessoas por uma coisa que Gaya poderia resolver. Digo isso por que Geoffrin contou a ele e, é claro, também deve ter lhe contado que eu já sabia de tudo. Gaya nunca tocou no assunto comigo. Acho que preferiu deixar as coisas do jeito que estavam, calma para a Fonte Phoenix e tumultuada para ele! Tumultuada porque Gaya tentou impedir Gorgon de retornar, mas não obteve sucesso algum. É impossível procurar alguém que se esconde atrás das sombras.
__Gaya tentou encontrar Gorgon?
__Sim. Mas, creio que Gaya apenas conseguiu encontrar encrenca para se envolver. Digo isso porque no momento em que, como eu, Gaya preferiu agir sozinho, as coisas começaram a sair do seu controle. A Fonte Phoenix sofreu ataques e agora, sofre a interdição. Sabe, Lisa, querem tirar Gaya do poder! Querem derruba-lo!
__Mas porque querem fazer isso?
__Porque, se Gaya for destronado, a Fonte Phoenix ficará vulnerável e aí se tornará um alvo fácil para uma ocupação...
__Liderada por Gorgon!
__Exatamente!
Agora, as coisas começavam a fazer sentido para Lisa. Tudo que estava acontecendo na Fonte Phoenix era um efeito dominó que Gaya erroneamente causou e que poderia ter sérias conseqüências.
__Mas, devemos pensar nisso em outra oportunidade, Lisa. Agora, o que nos interessa é o que está acontecendo __disse Athus fitando Lisa__ Aqueles ataques não foram feitos apenas para sugarem poderes. Há um outro motivo para isso...
__Outro motivo?
__Exatamente __Athus olhou ao redor e abaixou a voz para que ninguém que passasse por ali os ouvisse__ O feitiço Erilum Extrillium não é um feitiço sugador de poderes como eu imaginava. Trata-se de um feitiço que pode sugar lem...
__Ah!
De súbito três gritos agudos ecoaram pelo bosque das ninfas e espantaram um bando de pássaros que estavam pousados numa árvore atrás de Lisa. Os gritos pareciam ser de Grump, Gregor e Steven. Ao ouvi-los, Athus percebeu que eles pareciam aterrorizantes demais para ser dado sem motivo algum.
__Está acontecendo alguma, Lisa! __disse Athus__ Acho melhor ficar aqui e esperar. Vou ver o que está acontecendo...
Athus saiu mancando e desapareceu pela trilha. Segundos depois Lisa ouviu outro grito aterrorizante e algo inesperado veio em sua mente.
Precipitando-se sobre a trilha, Lisa correu o máximo que pôde na direção dos gritos com a varinha na mão. Ela sabia que algo estava errado, senão Athus não teria ido verificar. De repente outro grito ecoou pelo bosque das ninfas e Lisa sentiu seu coração apertar. Algo estava errado, muito errado.
Lisa acelerou os passos e viu Athus tentando inutilmente correr com a perna machucada. Quando o professor viu Lisa, Athus virou-se e gritou para ela:
__O que está fazendo? Não me ouviu? Mandei você ficar lá atrás!
__Ah! __ecoou outro grito.
__Me desculpe professor, mas algo está errado!
Lisa deixou Athus para trás e desceu a trilha na direção de um terreno baixo por trás da gigantesca muralha no lado sul. Após fazer duas curvas e levar várias galhadas no rosto, Lisa parou de súbito ao ver Grump, Gregor e Steven caídos no chão e do outro lado da trilha, entre os arbustos do bosque, um homem coberto por um capuz negro empunhando uma varinha. Na ponta da varinha uma luz prateada ondulava de um lado para o outro sugando, o que Lisa logo percebeu, os poderes dos três.
Sem pensar duas vezes, Lisa segurou forte a varinha e correu até os rapazes. Em seguida, Lisa entrou na frente deles e ergueu a varinha contra a luz prateada.
__Expelliarmus!
De súbito, a luz se apagou, a varinha voou da mão do homem encapuzado e caiu aos pés de Grump.
__Quem é você? __perguntou Lisa apontando a varinha para o homem que parecia ter machucado o pulso com o choque do feitiço e tentando negar a si mesma que atrás daquela capa se escondia Max.
__Petrificus Totalis!
Athus chegou por trás e apontou a varinha para o homem que, imediatamente virou uma estátua de pedra.
___Muito bem, Lisa! __disse Athus se aproximando do homem__ Agora vamos saber quem se esconde por trás dessa capa.
À medida que Athus se aproximava do homem petrificado, o coração de Lisa palpitava. Ela torcia para que Max não estivesse ali, para que ele, apesar da marca que ela vira, não fosse o partidário de Gorgon.
Athus chegou perto da estátua e olhou por dentro do capuz. De súbito algo se mexeu dentro do bosque e Athus jogou a estátua no chão e saiu correndo mancando na direção do barulho.
__Ele fugiu! __gritou Athus enquanto desaparecia entre as árvores.
__Fugiu?
Lisa correu até a estátua e olhou dentro do capuz de pedra. Não havia ninguém lá. De alguma forma, o dono da capa conseguira fugir. Talvez se tele-transportara como uma vez fizera Max...
Não, não pode ser! Não pode ser!
Atormentada pelo seu medo de ser Max, Lisa olhou para trás para verificar se Grump e os outros estavam bem e viu de relance a varinha acabando de virar uma fumaça prateada e evaporar no ar.
__Ah!
De repente Lisa ouviu o grito de Athus e embalou-se dentro do bosque das ninfas pulando e desviando-se dos galhos e das gigantescas raízes de carvalho que emergiam da terra.
__Então é você! __Lisa escutou a voz de Athus gritar novamente. Desta vez, parecia que ele estava de frente a frente com o homem dos ataques__ Porque está fazendo isso?
Lisa passou por cinco árvores e bateu de peito contra os galhos de um arbusto. Quando as folhas se afastaram do seu rosto, uma grande luz envolveu Lisa e ofuscou sua visão.
Quando seus olhos voltaram a enxergar, Lisa viu Athus caído do chão e logo depois, se levantar e se transformar num lobo e sair correndo atrás do homem que neste momento desaparecia atrás de uma árvore.
O lobo embalou-se atrás do homem deixando no chão vários respingos de sangue. Naquele momento, nada veio a mente de Lisa a não ser segui-lo pois senão, __ela não gostava de admitir isso, mas__ Max poderia matar Athus.
Seguindo o rastro de sangue, Lisa desceu um terreno íngreme e viu ao longe um homem atravessando as bordas de um lago sendo seguido por um lobo manco.
De repente, o lobo pulou no ar e Athus surgiu, atacando e derrubando o homem no chão. Enquanto Lisa se esforçava para chegar ao lago, os dois homens começaram a rolar nas margens e gritar um para o outro. Lisa não conseguiu distinguir os gritos, mas com certeza, Athus o estava xingando por ter traído a Fonte Phoenix.
Lisa pulou uma raiz e enroscou o pé numa outra raiz, caindo no chão. Lisa rolou barranceira a baixo e caiu a margem do lago, que logo percebeu ser o mesmo lago que guardava a espada Witchfire no ano anterior.
Rapidamente, Lisa levantou-se e tentou correr, mas logo despencou no chão com uma forte dor no tornozelo. Lisa olhou para o tornozelo e viu que ele sangrava. Em seguida, ela olhou para a outra margem do lago e viu Athus ser arremessado por uma forte luz verde.
Quando Lisa conseguiu levantar-se, o homem já havia deixado o lago e desaparecia no alto de um barranco.
__Athus!
Lisa correu até Athus e viu que o professor estava com um forte ferimento no peito e que sangrava muito.
__Athus!
__Lisa __Athus agarrou na gola da roupa de Lisa e a puxou para mais perto dela. Sua voz estava rouca e sua respiração, fraca__ volte para a Fonte Phoenix e busca ajuda!
__Eu não posso deixa-lo aqui, sozinho!
__Sim, pode! __disse Athus vendo o sangue escorrer entre as vestes queimadas pelo feitiço__ Mas, antes, preste atenção! Eu... lamento por tudo que aconteceu... foi minha... culpa... minha inteira culpa! Eu devia ter contado a Gaya... sobre Gorgon naquela noite... da formatura! ... Se eu... tivesse contado... nada disso teria acontecido... Foi minha culpa!
__Não, o senhor não tem culpa de nada! __disse Lisa__ Eles iriam invadir a Fonte Phoenix e matar Christian Ravenclaw de qualquer forma. Iriam sugar os poderes de todos nós sem ao menos nos dar chance de defesa... SOCORROOOOOOOOOO!
__Não adianta gritar... eles não vão ouvir... __disse Athus suspirando de dor__ Me escute, Lisa,... não é poderes... que ele está sugando...
__Ele? Quem é ele? __interrompeu Lisa__ Você o viu. Lutou contra ele. Quem era?
__... Gorgon não precisa de poderes para.... se recuperar... não... ele não precisa... __continuou Athus sem dar atenção a as perguntas de Lisa__ na verdade... ninguém precisa...
Athus deu um suspiro forte e seus olhos pareceram girar na órbita. Lisa entrou em desespero e começou a gritar.
__Não dorme professor! Fique acordado! SOCORROOOOO!
__Olho do Milênio... __sussurrou Athus voltando a abrir os olhos__ eles procuram... Olho do Milênio... sete profecias... o fim...
As pálpebras de Athus ficaram pesadas e seus olhos se fecharam lentamente fazendo com que Lisa se desesperasse ainda mais.
__Professor! Professor! Acorda! SOCORROOOO!
O grito de Lisa ecoou pelo bosque inteiramente vazio de forma tão assustadora quanto a idéia de que Athus poderia estar morrendo.
Lisa imediatamente colocou o ouvido sobre o nariz de Athus e percebeu que ele ainda respirava. Para alívio de Lisa ele apenas desmaiara, talvez pela ação do feitiço, mas mesmo assim ainda estava vivo.
Lisa levantou-se apressada e saiu correndo saltitando com uma perna entre as raízes e a subida na barranceira para buscar ajuda. Após cair três vezes e rasgar suas vestes num arbusto espinhoso, Lisa vazou na trilha da Fonte Phoenix e embalou-se correndo na direção dos castelos. Aos chegar no local onde Grump e os outros haviam sido atacados, Lisa encontrou dois Trasgos que encontraram os rapazes e que agora prestavam ajuda.
__O que aconteceu?
Lisa reconheceu um dos Trasgos como sendo o que a ajudou no ano anterior na luta da posse da espada Witchfire. Lisa contou aos Trasgos que Athus estava ferido e os levou até a margem do lago onde deixara o professor desmaiado.
Porém, ao chegarem no lago, os olhos de Lisa arregalaram-se de medo e espanto.
__Ele estava aqui!
Athus não estava na margem do lago. No local havia apenas uma grande poça de sangue e logo a frente, várias pegadas de um lobo que desapareciam no alto do barranco num longo rastro de sangue.
Por trás da capa esvoaçante
A noite chegou sombria e fria. As Sentinelas ainda varriam os terrenos da Fonte Phoenix em busca de algum sinal de vida de Athus. Lisa estava na enfermaria cuidando do tornozelo rodeada por Louise, Dan, Zig e Cliffe quando Srta Prym enfaixou seu tornozelo e deu permissão para ela ir embora. Desde que fora encontrada pelos Trasgos, Lisa se recusava a voltar ao castelo e cuidar de seu ferimento.
Durante a tarde inteira, Lisa permaneceu no bosque das ninfas acompanhando de perto a busca. Somente ao anoitecer, depois de horas e mais horas respondendo os longos interrogatórios de Chamberlain e de Gaya sobre o que ocorreu, Louise conseguiu tirar Lisa do bosque e leva-la, mesmo que contra vontade da garota, para tratar seu tornozelo.
__Você não pode voltar para lá, Lisa! __disse Louise quando Lisa se retirava da enfermaria com o tornozelo enfaixado.
__Ele está lá dentro, Louise, ferido e... quem sabe, correndo perigo!
__Não seja pessimista, Lisa __repreendeu Louise.
__Lisa está sendo realista, Louise! __murmurou Dan aproximando-se__ Max feriu Athus e fugiu. Numa hora dessas, Athus deve estar caído em algum lugar correndo perigo de vida. Nunca se sabe se Max ainda está por perto... ele pode encontra-lo e terminar o que começou...
__Max pode mata-lo, Louise! Deixe-me ir!
__Não, Lisa, você não vai! Há centenas de guardiões e Sentinelas procurando pelo professor. Eles vão acha-lo e... tire Max da cabeça. Ele deve ter fugido novamente e não vai fazer nada com Athus... E, Dan, não piore as coisas!
__Não estou piorando nada, Louise __repreendeu Dan__ Todos nós sabemos do que Max é capaz. Ele sugou os poderes daquelas pessoas, atacou Grump, Gregor e Steven, nos atacou, feriu Athus e quem sabe, não foi ele quem matou Christian Ravenclaw no final do ano passado... Não sabemos com quem estamos lidando. Não sabemos se ele ainda está dentro dos terrenos da Fonte Phoenix... E se ele ainda estiver aqui, Athus, seja lá onde estiver, e Lisa, correm perigo!
__Mais um motivo para Lisa não sair do castelo! __concluiu Louise. E virando-se para Lisa__ Agora, vamos para a Sala Comunal. Você precisa descansar...
__Não vou a lugar algum! __gritou Lisa__ Vocês não entendem...
Lisa encostou as costas na parede e escorregou até cair sentada no chão. Nesse momento, suas lágrimas se misturavam com a sujeira no seu rosto e com a idéia insuportável de Athus estava ferido e desaparecido no Bosque das Ninfas.
__Athus admitiu que estava mentindo e me contou o que sabia __disse Lisa focalizando o corredor escuro na esperança de que o professor chegasse ferido carregado pelos Trasgos__ Ele soube de Gorgon dois dias antes da formatura por um tal de Bóris Lavinski. A princípio, Athus não quis contar nada a Gaya porque queria ter certeza de que Gorgon realmente havia sido libertado. Porém, seu silêncio custou a vida de uma pessoa inocente. Athus podia ter evitado aquela morte... ELE PODIA TER EVITADO!
__Athus não podia presumir que alguém seria assassinado na Fonte Phoenix, Lisa! __murmurou Louise olhando Lisa do alto.
__Sim, ele podia! __Lisa enxugou as lágrimas e voltou a olhar para o corredor escuro__ Athus sabia que Ravenclaw era um ajudante de Slater e que corria perigo porque, Gorgon queria que todos, que soubessem sobre seu retorno, fossem eliminados.
‘Não sei muito bem, ele não teve tempo de me contar tudo, mas, acredito que alguém descobriu que Athus sabia sobre a existência de Gorgon e mandou que o atacassem enquanto retornava de Poltergrat no início do ano. O objetivo era manter Athus fora do caminho temporariamente porque ele foi atacado por Cards Mortais de Emissários da Morte. Aquele ferimento que ele tinha na perna foi provocado enquanto Athus retornava para a Fonte Phoenix.’
Todos ficaram em silêncio. Lisa ainda olhava para o corredor escuro na esperança de Athus aparecer quando Louise murmurou:
__Isso faz algum sentido…
__Que droga! __bateu Dan na parede com o punho fechado__ Gostaria de encontrar Max e quebrar a cara dele...!
__Max não é o único que está envolvido nessa história, cara! __exclamou Zig__ Depois de tudo que descobrimos, torna-se evidente que mais de uma pessoa está envolvida nessa história. Quero dizer, Max não poderia ter descoberto que Athus sabia sobre o Mestre das Sombras já que eles só iriam se conhecer no início das aulas deste ano, horas depois do ataque que ele sofrera. Ou seja, outra pessoa ligada diretamente ao professor conseguiu extrair essa informação dele. A questão é, como essa pessoa soube e, quem é essa pessoa?
__Zig está certo __disse Louise__ Estamos sendo precipitados em acusar Max...
__Não o estamos acusando de nada, Louise __reprimiu Dan__ Apenas estou insinuando que Max veio para a Fonte Phoenix com a intenção de liquidar Athus, já que na tentativa anterior ele conseguiu escapar.
__Então, Dan, porque Athus não foi atacado na Fonte Phoenix? __perguntou Louise__ Caso tenha se esquecido, ninguém sofreu nenhum atentado nesses últimos sete meses. E, caso esteja lembrado, Athus só foi atacado porque ele e Lisa encontraram Max atacando Grump, Gregor e Steven...
__Não tenho certeza se era Max __disse Lisa de súbito.
__O quê?
__Não tenho certeza se era Max porque, eu não consegui vê-lo __respondeu Lisa lembrando-se do ocorrido__ Athus foi o único que conseguiu ver o homem porque, lutou com ele e, se espantou ao vê-lo. Era alguém conhecido, Louise, disso eu tenho certeza...
__Depois da marca que Louise fez, eis mais um motivo para culpar Max __concluiu Dan.
__Bem, motivos não faltam, não é! __exclamou Cliffe__ Quero dizer, Max deixou Lisa no baile e desapareceu pelos próximos dois meses. Depois quando reaparece, Dan o joga contra a parede e descobre que ele tem um ferimento no abdômen e logo, Max foge sem dar explicações. Horas mais tarde ele desaparece no bosque das ninfas e, no dia seguinte, ataca Grump, Gregor e Steven, é perseguido por Athus e por Lisa. Fere o professor e novamente desaparece sem deixar rastro algum... Bom, falta algum motivo para ele não ser o partidário de Gorgon?
__Eu já disse __gritou Lisa ficando furiosa__ não se era Max quem estava por trás daquela capa negra com capuz!
__Não é necessário saber, Lisa __murmurou Dan__ Basta supor. Se depois de tudo que aconteceu, Max não teve coragem de aparecer e declarar inocência, isso significa que ele tem o rabo preso e mais do que ninguém, sabe que é culpado!
__Tenho que concordar com Dan, Lisa! __disse Louise__ Max tinha que ter se explicado antes de ter fugido de Dan nas escadas.
Lisa continuou em silêncio. Ela sabia que as provas eram incontestáveis e que nada podia mudar isso. Desde o momento em que Lisa vira a marca sangrando no abdômen de Max, ela não conseguira se convencer totalmente da culpa do rapaz. Mentalmente, alguma coisa a fazia acreditar que algo estava errado e que todos estavam culpando uma pessoa inocente. Lisa não compreendia porque pensava assim, mas logo presumiu que seu sentimento, um pouco mais sensível em relação a Max, a fazia criar a fantasia de que ele nada tinha a ver com tudo que estava acontecendo na Fonte Phoenix. Porém ao lembrar-se de que Athus estava desaparecido, Lisa entendeu que ela deveria deixar seus sentimentos de lado e encarar a realidade, por mais difícil que fosse, e lutar com unhas e dentes para punir Max por tudo que ele fizera, mesmo que isso lhe fizesse pagar alto preço.
__Não posso ficar parada analisando fatos sem sentidos __disse Lisa enxugando o rosto e levantando com a varinha na mão__ de que nada me adiantam se sei que Athus está ferido e que neste exato momento pode estar nas garras de quem eu temo ser Max! Tenho que fazer alguma coisa urgente...
Lisa empurrou Louise, que já ia impedi-la, e esbarrou em Gaya que acabara de entrar no corredor seguido pelos inspetores de Azgrah __Chamberlain não estava entre eles!
__Encontraram Athus? Encontraram ele?
Gaya fitou Lisa com uma expressão cansada e balançou a cabeça negativamente antes de responder.
__Ainda não, Lisa. Mas, não se preocupe, os guardiões, os Trasgos e as Sentinelas estão fazendo uma busca incansável nos terrenos da Fonte Phoenix. Athus não pode ter ido muito longe no estado em que ele se encontra!
__Então porque até agora ninguém o encontrou? __gritou Lisa.
__Não é tão fácil quanto você pensa, Lisa! A Fonte Phoenix é muito grande e o bosque das ninfas gosta de pregar peças nas pessoas. Acredito que até o amanhecer nós o encontraremos. Mas, por enquanto, peço para que permaneça no castelo, aqui é mais seguro. Agora, se me derem licença, tenho que me reunir com esses senhores para planejarmos uma estratégia de busca mais eficiente. Boa noite!
Gaya desapareceu no final do corredor deixando Lisa trêmula de raiva. Seus nervos estavam à flor da pele e sua vontade era de explodir cada bloco de pedra da Fonte Phoenix para ver se encontrava Athus caído atrás deles.
As horas foram passando e a lua começou a dar as caras entre as nuvens escuras que cercavam a Fonte Phoenix. A cada segundo que se passava, o movimento das Sentinelas em torno dos castelos aumentava como se todo o local estivesse sendo invadido por um grande enxame de criaturas sombrias determinadas a encontrar o professor desaparecido.
Assim como as horas passaram e o movimento das Sentinelas aumentou, o falatório no interior dos castelos passou a ser atordoante para Lisa que fora forçada por Louise a entrar no seu quarto, tomar um banho e descansar o tornozelo um pouco.
Apesar das paredes do castelo serem bem grossas, ainda assim era possível ouvir as garotas passarem em frente ao quarto de Lisa fazendo comentários sobre o estranho desaparecimento de Athus e o envolvimento de Lisa em tudo que estava acontecendo.
A cada conversinha que Lisa ouvia, seus nervos palpitavam e sua raiva borbulhava em sua cabeça, louca para explodir.
__É incrível como ninguém parece preocupado com o desaparecimento de Athus! __murmurou Lisa apertando os dentes enquanto olhava para as muralhas da Fonte Phoenix pela janela
__Não é bem assim, Lisa! __repreendeu Louise estando visivelmente cansada de tanto tentar impedir Lisa de sair do castelo__ Pessoas lá, naquele bosque, procurando por ele. No momento certo eles vão encontra-lo e tudo vai voltar ao normal.
__Quem dera se tudo voltasse ao normal quando em alguma parte de Aragorn, Gorgon está se recuperando e planejando meios para vingar a morte de seu pai!
Louise deu um profundo suspiro e aproximou-se de Lisa.
__Uma hora tudo vai dar certo, Lisa, você vai ver! __disse Louise dando palmadas nas costas de Lisa.
__Por falar nisso, você disse que procuraria Hariph quando me deixou, contra minha vontade, com Athus?
Tantas coisas ocorreram durante o dia que Lisa acabara se esquecendo completamente de Hariph, a quem gostaria de ter uma conversa sobre seus planos com relação a Max.
__Pode ter sido contra sua vontade, mas bem que, se você não estivesse lá, Grump e aqueles idiotas teriam sido atacados e, quem sabe, até teriam ficado no mesmo estado em que os outros ficaram! __disse Louise voltando para o interior do quarto__ Foi pura sorte deles você ter aparecido e impedido Max de sugar seus poderes. Ainda bem que eles só desmaiaram! Estão dizendo por aí que o ‘homem sugador de poderes’ quebrou o nariz de Grump. Mal sabem eles que foi Dan quem o quebrou!
Louise deixou-se cair em risos e parou de súbito ao ver a cara, pouco expressiva de Lisa.
__Desculpe! __adiantou-se ao dizer antes que Lisa pudesse reprimi-la__ Bem, depois que cheguei ao castelo, procurei Hariph e não o encontrei. Eu ainda o estava procurando quando soube que Grump, Gregor e Steven haviam sido atacados e que Athus desaparecera dentro do bosque... É um pouco estranho, você não acha?
__Talvez não! __exclamou Lisa voltando-se para a frente da janela__ Talvez Hariph estivesse fora do castelo, encontrando-se com alguém que o pudesse ajudar a pegar...
Lisa começou a dizer o nome e parou. Ela simplesmente não conseguiu pronuncia-lo.
__A idéia de que Max traiu a Fonte Phoenix ainda atormenta você, não é, Lisa?
__Não consigo entender por que ele se aproximou de mim __murmurou Lisa fechando os olhos e lembrando-se do dia em que os dois foram na cachoeira encantada__ Não consigo entender porque...
Lisa calou-se. Ela subiu na beira da janela e juntou as pernas ao corpo enquanto desviava o olhar de Louise para o brilho da lua ofuscado pelas densas nuvens negras.
__Você o... __Louise aproximou-se de Lisa e começou a dizer algo. Sentindo-se meio embaraçada com a pergunta que ia fazer, Louise encostou-se à janela e perguntou__ Bem, ah... você o ama?
Lisa permaneceu calada fitando a lua que agora se escondia atrás das nuvens. Seu olhar estava distante e parecia refletir a pouca luz lunar que entrava pela janela. Para Louise, não foi necessário haver resposta. Ela compreendera.
__Lamento, Lisa! Lamento, mesmo!
Lisa fechou os olhos e uma lágrima escorreu em seu rosto. Louise aproximou-se para abraça-la, mas Lisa a impediu.
__Por favor, me deixe a sós um pouco, Louise! Quero ficar sozinha!
__Entendo!
E virando-se, Louise deixou o quarto dando uma última olhada em Lisa antes de fechar a porta. A garota estava a caminho de debruçar-se sobre a cama e chorar o quanto fosse necessário.
A lua foi coberta totalmente pelas nuvens. Uma escuridão sem fim envolveu a Fonte Phoenix em questão de segundos. Aos poucos os alunos foram se recolhendo e as buscas foram se tornando cansativas.
Já era tarde da noite quando Louise assistiu do hall de entrada do Castelo dos Bruxos a voz de Chamberlain e de Gaya dando ordens aos guardiões e Trasgos para que todos se recolhessem.
__Amanhã bem cedo, retornaremos as buscas!
Louise ouviu o último comando de Gaya ecoando pelo hall vazio e obscuro do castelo como uma dolorosa alfinetada no coração. Naquele instante, passou pela cabeça dela o que poderia estar acontecendo com Athus. Louise imaginou como seria passar a noite sozinho sobre um amontoado de folhas secas sentindo um ferimento fisgar dolorosamente no tórax e na perna durante a noite inteira. Por um instante, ela arrepiou-se ao lembrar da noite em que ela e Tom passaram no Bosque Espinhoso onde o rapaz delirou a noite inteira.
__Acabaram as buscas por hoje?
Louise virou-se e viu Dan descendo as escadas espirais e se juntando a ela frente as enormes janelas do hall.
__Vão recomeçar as buscas amanhã cedo! __disse Louise vendo o jardim se esvaziar.
Dan observou a estátua do anjo, que parecia muito sombria esta noite, e murmurou:
__E Lisa?
__Deve estar dormindo! __respondeu Louise__ Lisa está muito cansada e... desorientada!
__Não há o que fazer, não é?
Louise virou-se para Dan e observou que atrás da sombra que escondia parcialmente seu rosto, uma expressão indignada marcava o rapaz.
__Receio que não!
Louise soltou um breve suspiro e saiu de frente das janelas.
__Vou me deitar. Quem sabe amanhã, as coisas não melhoram...
__Louise!
A voz de Dan ecoou pelo hall vazio sobrepondo-se ao eco dos longos roncos exagerados de Luft, o Gobelin, no meio das escadas espirais. Louise parou no inicio das escadas e virou-se para Dan.
__Lisa está bem? __perguntou Dan.
Fez-se um instante de silêncio e depois Louise murmurou:
__Não, Dan, não está! __e virando-se__ Boa noite!
Dan já imaginava a resposta. Ele só não esperava que ouvi-la da boca de uma outra pessoa, lhe causasse tanta dor.
O rapaz deixou as janelas e atravessou o hall até a beira das escadas. Ao começar a subir, duas vozes longínquas ecoaram pelo enorme vácuo que existia entre as várias escadas espiraladas uma ao lado da outra. As vozes eram distintas e pareciam brigarem entre si. Não era possível entender o que era discutido, mas Dan logo percebeu que se tratava de algo ameaçador, pois um “desgraçado” ecoou tão alto que seu entendimento ficou mais claro do que o restante da frase.
Dan, então, subiu depressa alguns degraus e parou novamente para tentar descobrir de onde vinham as vozes. Novamente o eco atingiu as escadas e Dan percebeu que elas vinham de mais dois andares acima.
Dan subiu as escadas, ligeiro, passou pela porta do corredor que dava acesso a biblioteca e parou na outra porta, cerca de setenta degraus acima. O rapaz parou frente ao corredor e encostou o ouvido na porta. Realmente as vozes vinham daquele corredor e mais do que nunca, Dan teve certeza de que duas pessoas discutiam.
Por um instante, o rapaz pensou em continuar subindo e voltar para a Sala Comunal. Porém, uma voz estranha ecoou atrás da porta e Dan logo reconheceu de quem era.
Rapidamente ele abriu a porta do corredor, certificando-se de que não causaria nenhum barulho ao abri-la. Em seguida, Dan entrou no corredor escuro e seguiu os ecos que se intensificavam cada vez mais.
A cada passo, a voz de um homem alcançava os ouvidos de Dan e o faziam ter certeza de quem era. De súbito, uma raiva descontínua subiu a cabeça de Dan e o rapaz acelerou os passos para encontra-lo e quebrar a cara dele.
Dan correu até o final do corredor onde ele se dividia em dois, um para a esquerda e outro para a direita.
Dan parou. As vozes estavam próximas. Dan sabia que se virava para o corredor da direita, daria de cara com as pessoas que discutiam e certamente, com o dono daquela voz que tanto de lhe fazia raiva.
Dan encostou-se a parede e aproximou-se lentamente da esquina da parede. Por um instante, as vozes cessaram e Dan pensou que os dois homens teriam ido embora. Porém, segundos depois as vozes continuaram no mesmo tom ameaçador de sempre.
__Não adianta ficar se escondendo! Eles vão encontra-lo...
__Não seja idiota! Eles não sabem quem sou eu...
__Mas ela sabe!
__Não, não sabe!... No entanto, farei questão de dizer a ela que você é...
Dan curvou o corpo e espiou pelo corredor direito. Quando Dan viu os dois homens que discutiam, seus olhos arregalaram-se e mais do que nunca sua raiva fervilhou na cabeça.
Sem pensar, Dan começou a virar o corredor. De repente um dos rapazes agarrou o outro pelo colarinho das vestes e o jogou contra a parede.
__Desgraçado! __gritou Max forçando Hariph contra a parede.
Dan imediatamente voltou para trás da parede e ficou escutando Max e Hariph gritarem um para o outro.
__Eles vão desmascara-lo, Max! __gritou Hariph.
__Não há nada para ser desmascarado!
De súbito, os dois ficaram em silêncio. Dan ofegou e pensou dar mais uma espiada quando os dois voltaram a discutir. No entanto, Max e Hariph murmuraram tão baixo que Dan não conseguiu distinguir de quem era a voz de quem.
__Seu azar foi aquele ferimento no abdômen... vão pega-lo a qualquer momento...
__Tenho certeza de que vou sair dessa...
__O cerco está se fechando, meu caro, a máscara está caindo e a verdade vai surgir...
__Não vai surgir porque meu Mestre não vai permitir. Aqueles que sabem da verdade não viverão até o final deste ano para dar testemunho, sabe porque?
Novamente os dois ficaram em silêncio. Dan já ia tombando a cabeça para espia-los quando a voz sussurrada de um dos dois ecoou fracamente pelo corredor, mas o suficiente para Dan ouvi-la.
__ Porque eu.... __houve uma pausa e o sussurro saiu lento e bem pronunciado __vou mata-los!
__ENTÃO PORQUE NÃO ME MATA, LOGO!
__É exatamente o que vou fazer!
De súbito o coração de Dan acelerou. Ele tinha que fazer alguma coisa, mas não sabia o quê.
Precipitando-se, Dan surgiu no corredor e de relance viu Hariph imprensado na parede com Max segurando uma varinha na mão e apertando-a contra a goela do rapaz. Por um breve instante, uma luz vermelha surgiu na ponta da varinha e quando Max abriu a boca para pronunciar o Feitiço da Morte, Dan suspirou alto e correu para trás da parede.
Max o viu de relance e abaixou a varinha. Houve um prolongado silêncio. Dan continuou escondido atrás da parede respirando ofegante. De repente, a voz de Max ecoou pelo corredor afora.
__Teve sorte!
Dan ouviu Hariph suspirar e os passos de Max desaparecerem lentamente pelo escuro corredor que se seguia no lado direito. Após alguns segundos, Dan ouviu as vestes de Hariph sendo arrumadas e os passos do rapaz se aproximando.
Rapidamente, Dan escondeu-se no escuro e abaixou-se no canto do corredor, o mais próximo possível da parede.
Segundos depois, os passos de Hariph se intensificaram e o rapaz surgiu no corredor de Dan. Hariph passou pelo rapaz e desapareceu no corredor escuro na direção das escadas espirais.
Depois que Hariph se foi, Dan levantou-se e suspirou de alívio. Naquele momento, uma vontade de entrar no outro corredor, seguir Max, encontra-lo e quebrar sua cara perpassou pela cabeça de Dan. Vendo que não podia perder essa oportunidade, Dan embarcou pelo corredor escuro da direita e desapareceu atrás de Max.
Lentamente, as nuvens negras se afastaram e descobriram parcialmente a lua cheia. Seu brilho, prateado e imponente atravessou as barreiras do bosque das ninfas e tocou o corpo peludo de um lobo que se aproximava mancando das muralhas da Fonte Phoenix. Ao ver a luz, seus olhos brilharam e o lobo ergueu seu focinho para o céu e soltou um grande uivo.
O uivo, lento e doloroso ecoou por toda a Fonte Phoenix e atravessou a barreira de vidro das janelas do quarto de Lisa. De repente, a garota acordou com a luz da tocando sua bela face e os uivos dolorosos do lobo penetrando em seus ouvidos.
__Athus!
No jardim sul, a luz prateada da lua iluminava vagamente a estátua do anjo e os arbustos em formas de animais, deixando-os sombrios e estranhamente vagos. Entre aquele brilho misterioso do luar, um homem ferido surgiu cambaleando e mancando na direção do anjo. O homem olhou de relance para a lua e desapareceu na entrada do Castelo dos Bruxos.
Em uma das torres do castelo, uma pessoa estava parada a janela observando o homem ferido entrar. De súbito, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto e a pessoa virou-se, colocou uma longa capa preta, tirou uma espada da mão de uma armadura e saiu pelo corredor do castelo com a capa esvoaçando enquanto andava.
Enquanto isso, em um dos corredores do castelo, Dan corria tentando ver para onde Max estava indo. O corredor estava escuro e desde o momento em que Hariph passara por ele no ponto inicial, Dan não vira Max e também não tinha certeza se o rapaz passara por aquele corredor ou se ao menos estava por perto.
Dan continuou seguindo pelo corredor e vazou nas escadas espirais. O rapaz olhou para o alto e não viu ninguém, exceto Luft que roncava sonoramente sobre seu carpete flutuante a alguns metros sobre ele.
As escadas espirais estavam sendo vagamente iluminadas pela luz da lua que atravessava as gigantescas janelas verticais. Por um instante, as pupilas de Dan se dilataram e refletiram o brilho da lua que neste momento estava totalmente descoberta no céu. De súbito, os olhos de Dan deixaram de refletir a lua em seu mais alto patamar e focalizaram uma pessoa descendo as escadas espirais opostas a ele. A capa preta que cobria até a cabeça da pessoa, esvoaçava sobre os degraus deixando a mostra o brilho da espada que refulgia sobre o brilho lunar.
__Max!
Dan desceu as escadas correndo e parou de súbito no hall de entrada ao perceber que perdera a pessoa de vista. O rapaz, então olhou para os corredores escuros e viu em um deles, os archotes se ascenderem.
Dan correu para o corredor e viu apenas a ponta da capa preta virando para outro corredor. O rapaz suspirou forte para conter a respiração ofegante e embalou-se pelo corredor recém iluminado pelo fogo dos archotes.
No entanto, ao entrar no outro corredor, Dan não viu mais nada. Os archotes que estavam acesos estavam se apagando devolvendo ao corredor a escuridão habitual. Sabendo que se passasse em frente a eles, os archotes se ascenderiam novamente, Dan acelerou os passos e começou a correr. À medida que Dan passava pelos archotes eles se ascenderam e voltaram a iluminar o corredor.
Segundos depois, Dan fazia uma outra parada. O rapaz estava entre meio a um cruzamento de corredores. Não havia luz neles, certamente também não haviam archotes pois Dan não avistou nenhum.
De repente, os archotes as costas de Dan se apagaram e o rapaz se viu entre a escuridão novamente, desta vez, frustrado por ter perdido Max de vista.
__Droga! __murmurou Dan depois de ficar tonto de tanto olhar para os quatro corredores escuros sem saber para qual entrar.
Com as veias palpitando de raiva, Dan virou-se para o corredor da esquerda e bateu de cara com alguém.
Dan caiu sentado no chão com o coração batendo acelerado. Naquele momento, seus olhos tentavam focalizar a sombra de um homem que ele temia ser Max. Se fosse ele, Dan estaria morto.
De repente, Dan conseguiu ver entre a escuridão, uma varinha sendo erguida e apontada para ele. De súbito, uma luz se ascendeu e uma voz medonha ecoou pelo corredor.
__O que está fazendo perambulando pelos corredores à uma hora dessas, Horcliffe?
Entre a luz branca que brilhava intensamente na ponta da varinha, Dan viu o rosto inexpressivo de Magnum Darkness surgir entre as sombras do corredor.
__Acho que não preciso responder__ disse Dan levantando-se após suspirar de alívio__ porque o senhor já respondeu ao me perguntar, professor!
__Não seja idiota, Horcliffe! __rosnou Darkness deixando que a luz da varinha iluminasse apenas seu tórax tornando seu rosto mais carrancudo do que nunca__ Sei que não está perambulando pelo corredor. Então, o que está fazendo a essa hora nos corredores do castelo?
__Talvez o mesmo que o senhor! __murmurou Dan sentindo sua raiva voltando a aflorar na pele. Será que não bastava ter perdido Max de vista e agora ter que suportar as perguntas de Darkness?
__Além de idiota é insolente! __murmurou Darkness lentamente querendo dar sentido a cada sílaba que pronunciava. E erguendo a varinha na altura do rosto de Dan__ Volte para seu quarto, Horcliffe!
__Sim, senhor!
Darkness virou bruscamente para o corredor de onde surgira deixando Dan parado no meio do cruzamento olhando para o piso do castelo.
__O que foi, Horcliffe? __perguntou Darkness virando-se para trás e fitando Dan por trás da sombra que a luz da varinha fazia em seu rosto__ Não me ouviu?
__Não, senhor, é que...
Dan continuou imóvel olhando para algo sobre o piso. Darkness percebeu que o rapaz parecia perplexo e aproximou-se, abaixando a varinha e iluminando o chão.
__O que tem aí?
Assim que a luz da varinha clareou o chão, os olhos de Darkness se arregalaram ao ver um rastro de sangue que se estendia pelo corredor a frente dos dois.
__É sangue! __murmurou Dan.
__Volte imediatamente para seu quarto, Horcliffe!
Dan começou a obedecer Darkness quando um gemido de alguém ecoou pelo corredor. De repente um grande flash de luz vindo da direção do final do corredor de onde se estendia o rastro de sangue, iluminou um portal de onde começava outro corredor.
De súbito, algo passou pela cabeça de Dan e o rapaz hesitou e saiu correndo na direção de onde viera a luz.
__Me desculpe, professor, mas alguém está sendo atacado!
__Volte aqui, Daniel Horcliffe!
Apesar dos gritos de Darkness, Dan não parou. O rapaz correu até o final do corredor e hesitou ao entrar no outro corredor que surgia a esquerda onde a luz dos archotes iluminavam o portal.
__Eu disse para voltar! Se for um ataque, eu cuidarei de quem está atacando!
Darkness chegou por trás de Dan e agarrou ao seu braço. Em seguida, o professor segurou forte a varinha e encaminhou-se para o portal do corredor.
De repente, uma voz ecoou pelo corredor e Darkness parou, forçando Dan, que não obedecera a ordem de voltar para o quarto, a afastar-se para trás.
__Não, não faça isso, eu imploro! __disse a voz.
__É a voz do Athus!
Dan entrou na frente de Darkness e foi impedido pelo professor de entrar no corredor.
__Não, Horcliffe, pode ser perigoso! __murmurou Darkness segurando Dan pelas vestes.
__NÃO!
O grito de Athus ecoou como um terrível agouro pelo corredor. Naquele momento, Dan não agüentou ficar parado ao pensar que Max poderia estar atacando Athus novamente e entrou no corredor, com Darkness a sua cola.
Assim que Dan deixou o corredor escuro e entrou no outro iluminado, o rapaz parou de súbito ao ver Athus caído no chão, uma pessoa encapuzada sobre ele e uma grande poça de sangue escorrendo no meio do corredor.
Por longos segundos, Dan e Darkness ficaram imóveis vendo aquela pessoa coberta pela capa preta enfiando uma espada no coração de Athus.
De repente, a pessoa segurou forte o punho da espada e retirou-a do coração de Athus. A espada ensangüentada foi erguida no ar e observada pelos olhos verdes esmeralda escondidos no interior do capuz.
De súbito, a pessoa levou a mão a cabeça e abaixou o capuz deixando uma grande cascata de cabelos loiros cair sobre o ombro. Na lâmina da espada, o reflexo de Dan e Darkness surgiu entre o sangue que escorria.
Após ver o reflexo na lâmina da espada, a mulher virou-se lentamente para Dan e sorriu nefastamente para o rapaz.
Naquele momento, as pernas de Dan estremeceram e o coração do rapaz levou uma grande fisgada como se um punhal o houvesse perfurado ao ver o rosto daquela mulher sobre o corpo de Athus. Sentindo um abismo sem fim abrir sob seus pés, Dan murmurou perplexo:
__Lisa!
As masmorras de Azgrah
Lisa jogou a espada ensangüentada no chão e saiu correndo pelo corredor com a capa negra esvoaçando no ar. Dan ficou imóvel onde estava, não acreditando no que acabara de presenciar. Por um breve instante, os olhos de Dan mantiveram-se na capa esvoaçante que acabava de desaparecer no final do corredor e depois focalizaram a enorme poça de sangue que se formava sob os pés de Darkness.
__Ele... ele está morto! __murmurou Darkness verificando a pulsação de Athus.
Ele está morto! Morto!... Morto... morto... morto!
A voz de Darkness ecoou lenta e dolorosamente nos ouvidos de Dan. De súbito, o rapaz estremeceu os lábios e saiu correndo pelo corredor dando um grito que mais pareceu um berro.
__LISAAAAAAAAAA!!!!
__Volte aqui, Daniel Horcliffe! __gritou Darkness. E, vendo que Dan já virara o corredor atrás de Lisa__ Preciso buscar ajuda... preciso buscar ajuda!
Darkness puxou a capa para perto do corpo e saiu correndo pelo corredor oposto ao qual ele e Dan vieram.
Dan atravessou dois corredores escuros e topou com Lisa virando para outro corredor.
A vaga luz da lua atravessava as janelas verticais dos corredores e iluminavam os passos ensangüentados de Lisa. Dan seguiu-os até parar no portal que dava acesso as escadas espirais.
Dan olhou para baixo e viu Lisa descendo as escadas e entrando no hall do castelo.
__LISA!
Lisa pulou os quatro últimos degraus e virou-se para Dan. Por um breve instante, um sorriso malicioso sorriu em seu rosto e logo se desfez ao virar-se e correr para a saída do castelo.
__Lisa!
Dan desceu as escadas e atravessou o hall o mais rápido que pôde. Ao se aproximar da saída do castelo, alguém surgiu nas escadas e o chamou:
__Dan! Estava me chamando?
Dan parou. Seu coração gelou instantaneamente. Aquela voz era conhecida. Com certeza pertencia à mesma pessoa que... que saíra do castelo... Mas, se ela saíra, então estaria nas escadas?
__Lisa! __murmurou Dan estremecendo ao ver Lisa sair das escadas espirais e entrar no hall__ Co-como... como chegou até aí? Não pode ser, você saiu do castelo... e-eu vi!
__Não estou entendo, Dan! __disse Lisa__ O que aconteceu, parece estranho!
Dan não respondeu. Seus olhos corriam em Lisa de cima até embaixo. A garota não estava usando nenhuma capa negra como ele, há poucos instantes, vira matar Athus e sair do castelo. Ao contrário, usava suas roupas habituais, uma calça djeans e uma blusa azulada. Lentamente os olhos de Dan desceram e pararam nos pés de Lisa. Eles não estavam ensangüentados e seus tênis pareciam perfeitamente limpos.
__Aconteceu algo, Dan? __perguntou Lisa novamente. E vendo que o rapaz não a respondia__ Não importa!... Eu estava dormindo e acordei com um lobo uivando... Pensei que fosse Athus...
__A-Athus? __gaguejou Dan.
__É. Eles o encontraram? Você o viu?
Dan fitou o rosto de Lisa e por um instante, a imagem de Lisa virando-se para ele com a espada na mão, fez com que uma fúria descomunal tomasse conta do rapaz.
Dan abaixou a cabeça e apertou os punhos. Seu olhar escureceu e Lisa notou que alguma coisa muito séria estava acontecendo.
__Dan?
__Como pôde fazer aquilo? __murmurou Dan.
__Não estou entendendo, Dan! Você está me assustando!
__COMO PÔDE FAZER AQUILO? __gritou Dan__ ELE ERA UM PROFESSOR, LISA! PENSEI QUE FOSSE SEU AMIGO!
__Não estou gostando do seu tom de voz, Dan __disse Lisa andando para trás e voltando a subir as escadas ao ver que Dan se aproximava ameaçadoramente__ Do quê está falando?
__Você o matou!... VOCÊ O MATOU!
__Que gritaria é essa, Dan?
Lisa virou-se e viu Louise descendo as escadas parecendo sonolenta demais para abrir os olhos completamente.
__Lá da Sala Comunal dá para ouvir os gritos __disse Louise parando dez degraus atrás de Lisa__ O que está acontecendo? Por acaso encontraram Athus, é isso?
Lisa virou-se para Dan. Os olhos do rapaz estavam lacrimejando e seu corpo tremia sem parar.
__ELA... ELA É UMA ASSASSINA! __gritou Dan apontando o dedo para Lisa__ ELA O MATOU!
Os olhos de Lisa e Louise arregalaram-se. Lisa andou para trás e tropeçou no degrau, quase caindo de costas. Louise, por sua vez, manteve-se imóvel fitando o olhar acusador e implacável de Dan.
__O matou? __perguntou Louise__ Athus está morto, é isso?
__O que? __perguntou Lisa.
__Pensei que isso não fosse novidade para você, Lisa, já que... já que o matou!
__Matei? I-isso é uma brincadeira de muito mau gosto, Dan! __exclamou Lisa estremecendo__ Pare com isso! Eu não matei ninguém!
__COMO NÃO? __gritou Dan__ EU A VI RETIRANDO A ESPADA ENSANGÜENTADA DO CORAÇÃO DELE!... POR QUE FEZ ISSO, LISA? PORQUE?
__Eu não sei do que está falando? __gritou Lisa com uma lágrima escorrendo no rosto__ Eu não...
__Imobila!
De repente vários raios de luz avermelhada atravessaram o hall e atingiram Lisa, jogando-a contra os degraus da escada.
__Lisa! __gritou Louise.
Lisa caiu num baque surdo como uma pedra. Seu corpo ficou imóvel e esticado sobre os degraus. Todos os movimentos da garota desapareceram, exceto os olhos, que podiam de alguma forma girar e observar o que estava acontecendo.
Caída sobre os degraus, Lisa viu Darkness entrando no hall seguido por mais de vinte inspetores, na maioria, armados com varinhas que mantinham uma reluzente luz avermelhada na ponta. Lisa tentou gritar; perguntar porque a imobilizaram, mas era inútil. Sua língua estava presa no céu da boca e seus lábios estavam colados um ao outro.
__O que estão fazendo? __perguntou Louise entrando na frente de Lisa caída imóvel.
__Saia da nossa frente! __exclamou uma voz sombria que surgiu por trás dos outros inspetores. Era Chamberlain__ Essa garota está presa pelo assassinato do professor Athus Lupus!
Louise saiu das escadas e encostou-se a parede do hall mais perplexa do que quando ouvira Dan chamando Lisa de assassina. Aquilo tudo devia ter uma explicação. E com certeza tinha, porque Lisa não era assassina, não era!
Quando Louise voltou a si, Lisa estava flutuando em pé pela ação de um feitiço lançado por Chamberlain e passava a sua frente com o corpo totalmente imobilizado.
Assim que Lisa passou por ela, o olhar das duas se encontraram e Louise percebeu que Lisa estava assustada e que parecia implorar por ajuda. Era como se ela dissesse para Louise: Não foi eu, Louise! Não foi eu!
O mesmo olhar que implorava a ajuda de Louise, fitou o olhar de Dan. O rapaz, porém abaixou a cabeça e fungou, deixando que uma lágrima escorresse em seu rosto e parasse no campo de sua boca.
Lisa, por sua vez, girou os olhos e focalizou a saída do castelo que se aproximava lentamente a frente dos vários inspetores que andavam a sua frente.
Naquele momento, Lisa não estava entendendo nem a metade do que estava acontecendo. A idéia de que Athus fora assassinado entrou na sua cabeça como uma bala disparada contra todos os seus neurônios. Seu raciocínio lógico parou de funcionar como se toda a área do seu cérebro houvesse sido paralisada. Ela não matara Athus. Aquilo não era verdade.
Lisa foi levada para os jardins e acorrentada por um feitiço de Chamberlain. Naquela altura do tempo, a Fonte Phoenix já estava a par dos acontecimentos e pareceu a Lisa, mais impetuosa do que nunca.
Os alunos aglomeraram-se em frente ao Castelo dos Bruxos e lançavam olhares indignados e perplexos, ao mesmo tempo, para Lisa. Alguns a xingavam e outros baixavam o olhar quando a fitavam imóvel e sem qualquer reação.
Lisa sentia um enorme abismo aberto sob seus pés onde ela caía a mais de uma hora sem se quer bater de cara no chão. Aquelas pessoas, ali, rodeando-a, não sabiam o que se passava na cabeça dela. Lisa estava confusa e assustada, talvez mais assustada do que quando a imobilizaram-na. Ela sentia vontade de chorar, de gritar, de se defender e mais do que nunca, saber do que realmente aconteceu, mas tudo lhe foi negado.
Não tardou muito e treze cavalos alados negros cortaram as grossas nuvens negras, que agora cobriam a lua e formavam uma tempestade; e pousaram próximo ao jardim sul da Fonte Phoenix puxando uma enorme carruagem-cadeia totalmente de ferro.
Lisa viu a carruagem descer no jardim pelo canto do olho e logo em seguida, entre a multidão de alunos que abriam espaço, Chamberlain se aproximar com vários inspetores.
Os inspetores levaram Lisa até a carruagem e desfizeram a imobilização. Aquilo foi um alívio. Lisa podia se mover, falar, perguntar o que realmente estava acontecendo. Porém, quando ela abriu a boca, Chamberlain disse sombriamente para ela:
__Calada! No momento certo, você será ouvida...
__Lisa!
Lisa virou-se e viu Gaya e Martius saírem dentre a multidão de alunos e aproximarem dela. Gaya parecia fisicamente cansado e de alguma forma, não era impressão de Lisa, parecia assustado e parecia ter uma estranha sombra cobrindo seu olhar. Lisa logo presumiu que Gaya também não estava tendo uma noite muito boa!
__Gaya, diga a eles... diga a eles... __disse Lisa tentando sobrepor aos empurrões dos inspetores que a jogavam para dentro da carruagem-cadeia__ diga a eles que não foi eu!...
Dois inspetores empurraram Lisa e ela caiu de cara no chão batendo a testa em um pequeno banco de ferro preso por correntes a parede da carruagem.
__O que pensam que estão fazendo? __gritou Gaya empurrando um dos inspetores e indo ajudar Lisa.
__Não se atreva!
Chamberlain entrou na frente de cadeia e ergueu sua varinha na altura do nariz de Gaya.
__Não alteza! __murmurou Martius ao ver no canto do olho que Gaya enfiava a mão no manto e pegava sua varinha.
__Se interver como fez da última vez, terei de leva-lo preso! Não vou respeitar sua posição... alteza... __murmurou Chamberlain com vários fios de cabelos impreguinados sobre seu rosto. E virando-se para os outros inspetores__ Tranquem a carruagem!
Lisa levantou meio zonza do chão e correu até as portas duplas da carruagem, dando de cara com elas. As portas foram fechadas e logo em seguida lacradas por um feitiço.
__Não! Me deixem sair! __gritava Lisa__ Eu não o matei... PORQUE NINGUÉM FAZ NADA!
__Calma, Lisa! __disse Gaya aproximando de uma pequena janelinha na carruagem__ Tudo vai dar certo. Eu acredito em você. Sei que não mataria Athus... não teria nenhum motivo!
__Eu não o matei... eu não o matei! __dizia Lisa repetidamente com as lágrimas escorrendo no rosto e com o sangue saindo de um pequeno ferimento na testa.
Lisa olhou por entre as grades da janelinha e segurou a respiração ao ver entre a multidão um corpo coberto por um pano branco ser transportado numa maca por dois inspetores.
De repente, todos ficaram imóveis, perplexos com o que viam. Enquanto o corpo era retirado de dentro do castelo, uma carruagem puxada por cavalos negros pousou ao lado da carruagem-cadeia. Dentro dela, um homem de aparência traiçoeira apoiado numa bengala com um corvo na ponta, saiu seguido por um homenzinho pequeno que se parecia mais com um rato do que com um homem.
Robbie Felton correu até a maca e ergueu sua velha máquina fotográfica, enchendo em seguida, o jardim com vários flashes ofuscantes.
Alan Hart, por sua vez, correu até Chamberlain e estendeu um gigantesco rolo de pergaminho onde começou, logo m seguida, escrever freneticamente com uma longa pena de Fowl.
Os inspetores passaram por Felton e atravessaram o jardim. Ao passarem frente a carruagem-cadeia, uma das mãos de Athus saiu de dentro do pano e ficou pendurada, balançando de um lado para o outro.
Naquele momento, Lisa levou a mão na boca e afastou-se para o interior da carruagem. Ele estava morto!, dizia uma voz na sua cabeça, Ele está morto!
Os inspetores atravessaram o jardim e desapareceram na direção do campo de pouso onde uma carruagem aguardava o corpo.
__Vamos! __gritou Chamberlain ignorando as perguntas sem fim de Hart.
Lisa sentiu a carruagem se mover e correu para a janelinha. Por um breve instante, seus olhos focalizaram Louise que acabara de chegar ao jardim parecendo extremamente abalada com o que acontecera. Ao lado de Louise, estavam os irmãos Pés Grandes, Peter e Tom. Em nenhum momento Lisa vira Dan. Talvez o rapaz preferira ficar no interior do castelo.
No alto das nuvens um grande raio se formou e riscou o céu sendo seguido por um estrondoso trovão e por finos pingos de chuva que cobriram toda a Fonte Phoenix.
Os cavalos alados negros começaram a atravessar o jardim e deixaram para trás a multidão de alunos que os cercavam e os flashes de Felton que ofuscavam os olhos de Lisa.
De súbito, Lisa sentiu um medo profundo e inexplicável. Ao olhar para fora, viu que centenas de Sentinelas saíam dentre as nuvens e se aglomeravam ao redor da carruagem.
Entre a chuva fina e os raios que iluminavam o rosto lacrimoso de Lisa, os cavalos alados ergueram as asas e decolaram sobre as enormes torres pontudas da Fonte Phoenix.
Enquanto a carruagem desaparecia entre o enxame de Sentinelas que a rodeavam, Dan, parado em frente a janela da Sala Comunal, observava com o olhar distante Lisa desaparecer entre as nuvens tempestuosas.
No alto do céu, Lisa correu até a janelinha e viu entre as nuvens e os flashes dos raios a Fonte Phoenix desaparecer lentamente. Naquele momento, Lisa não se lembrou de ter visto a Fonte Phoenix tão sombria como ela estava vendo agora.
Lisa sentou sobre o pequeno banco de ferro e deitou-se apoiando a cabeça sobre o braço. Por um instante, Lisa pensou que era o fim.
Lisa acordou horas depois com um grande baque na carruagem que a fez rolar de cima do banco e cair sobre o chão gélido de ferro. Quando Lisa ergueu a cabeça para ver o que estava acontecendo, as portas duplas da carruagem se abriram e entre a vaga luz de alguns lampiões, ela viu um gigantesco castelo de aspecto funesto se exaltar entre as dezenas de raios que riscavam o céu tempestuoso que mais parecia formar um caracol de nuvem sobre as torres enormes, tortas e anormalmente pontudas de Azgrah.
Um inspetor entrou na carruagem e conjurou uma pesada corrente que se enrolou nas mãos de Lisa e a fez cair no chão com o tal peso delas.
__Levante-se! __gritou o inspetor severamente.
Mandar levantar era fácil, mas ficar de pé com uma corrente que forçava os pulsos a ficarem colados no chão não era nada fácil. Lisa ergueu-se com dificuldade e saiu da carruagem, tropeçando na rampa e rolando até cair na calçada áspera da entrada do castelo.
__Erga-se vagabunda!
Lisa suspirou forte e tentou fingir que não tinha ouvido aquele insulto sobre ela. Eles não sabem o que estão dizendo, pensou ela, não sabem!
Cambaleando, Lisa entrou no castelo com o corpo bambo pela presença medonha das milhares de Sentinelas que rodeavam o castelo em suas vigílias habituais.
Dentro do castelo, Lisa foi conduzida por um corredor escuro e gélido onde a cada dez em dez metros havia uma Sentinela de guarda encostada a parede.
A cada Sentinela que Lisa passava, seu corpo estremecia e um medo sem fim a atormentava. O medo era tanto que até as Sentinelas pareciam senti-lo. Os olhos enevoados das criaturas perseguiram Lisa até ela desaparecer por uma porta de metal que dava acesso a um pequeno aposento medíocre e mais gélido do que nunca.
Entre a vaga luz que entrava por entre as velhas e rasgadas cortinas negras que cobriam as janelas, Lisa viu Chamberlain sentado atrás de uma mesa faltando uma perna e num canto do aposento, próximo a uma prateleira de livros velhos e empoeirados, estava parado um homem magro de cabelos castanhos e de expressão vazia. Era Lyon.
Chamberlain saiu de trás da mesa de três pernas e rodeou Lisa por um momento. Ao passar próximo ao ouvido esquerdo de Lisa, o inspetor sorriu sombriamente e sussurrou tão baixo que apenas ela o ouviu.
__Não disse que você não escaparia? As previsões estão se cumprindo... você apodrecerá em Azgrah!
E virando-se para os outros inspetores:
__Levem-na para as masmorras! __e virando-se para Lisa__ Amanhã você será interrogada, mas enquanto isso, aproveite seu novo aposento, porque ele será a sua casa a partir de agora!... O que estão esperando? Levem-na!
Lisa foi puxada por um inspetor e deixou a sala com Chamberlain mostrando uma satisfação em vê-la arrastar aquelas pesadas correntes.
Minutos depois, Lisa estava sendo conduzida para as masmorras do castelo. O corredor em que ela passava estava mais escuro do que o primeiro e parecia extremamente úmido. Em intervalos regulares, Lisa passava por algum archote que mantinha uma pobre chama que a qualquer momento poderia ser apagada pelos respingos de água que caíam do teto.
Com passos lentos e pesados, Lisa desceu uma escadaria lisa e escorregou na ponta do penúltimo degrau. Lisa caiu sentada sobre a escada e logo foi erguida por um inspetor que em seguida, a empurrou para dentro do corredor que agora se tornava estreito.
Lisa tropeçou nas correntes e bateu de cara na grade de uma cela onde jazia um cadáver em decomposição de um homem barbudo e esquelético. Lisa soltou um grito de horror e se afastou para trás. Um inspetor se aproximou a empurrou novamente.
Tropeçando, Lisa firmou o corpo para não cair novamente e seguiu andando. Após dar quatro passos a frente, um homem cabeludo de dentes podres surgiu dentre a cela escura e bateu de cara na grade, dando um pavoroso grito.
Imediatamente, Lisa apressou os passos e virou o rosto para o outro lado, deparando-se com uma cela escura, onde no fundo dela havia um homem pendurado pelos braços. O homem ergueu os olhos negros para Lisa e sorriu nefastamente mostrando seus dentes podres e amarelados.
__Você vai apodrecer aqui comigo, gatinha! __a voz sombria do homem ecoou de dentro da cela e invadiu o correr estreito, fazendo com que Lisa estremecesse.
Lisa deixou a cela do homem para trás e entrou num outro corredor através de uma escada mais lisa e derraparnte do que a outra.
Firmando os passos naqueles degraus que pareciam fugir de seus pés, Lisa deixou as escadas. Assim que tocaram o chão, seus pés encheram-se de água e Lisa percebeu que aquele corredor era o pior de todos.
No canto das paredes desciam pequenas cachoeiras de água e do tempo, respingos caíam a todo instante. A corrente de Lisa pareceu ficar mais pesada e a garota cambaleou para a esquerda, batendo de ombro na parede.
Lentamente, seus olhos lacrimosos focalizaram seu ombro parcialmente molhado e depois o interior do corredor. Havia uma escuridão descomunal naquele lugar. Por um instante, um estranho flash veio a sua mente. Era a imagem de um corredor escuro onde ela se via ladeada por vários vultos que mais pareciam Sentinelas.
Naquele instante, Lisa percebeu que já vira aquele corredor antes. Num sonho, talvez. As semelhanças entre o sonho e a realidade pareciam descomunal e assustadoramente prováveis.
Não tardou muito e Lisa viu um novo flash. Agora, seus olhos se dilatavam ao ver a Chamberlain tirar um molho de chaves do bolso e abrir uma cela vazia. De súbito, a lembrança se esvaiu e Lisa deparou-se com uma realidade nua e crua.
Um dos inspetores que andavam a sua frente parou em frente a uma cela vazia e retirou um molho de chaves do bolso. Por um instante, a semelhança entre o sonho e a realidade voltou a atormentar Lisa. Aquilo parecia absurdo. Mas, ela sonhara com a própria prisão!
__Entre vagabunda! __o inspetor empurrou Lisa e ela caiu de cara no chão úmido e frio da cela__ Espero que aproveite sua estadia aqui!
E soltando uma gargalhada desdenhosa, o inspetor deixou o corredor junto com os outros sem retirarem as correntes dos pulsos de Lisa.
Caída, Lisa ergueu o corpo e rastejou até bater de costas na parede de pedra que parecia minar água. Lisa juntou as pernas ao corpo e apoiou a cabeça sobre as correntes envoltas nos pulsos. Ali, ela chorou até adormecer!
O sol saía timidamente atrás das montanhas nos fundos da Fonte Phoenix quando Louise descia as escadas e entrava na Sala Comunal com uma expressão sonolenta e angustiada.
Louise não conseguira pregar os olhos a noite inteira e sentia que seu corpo estava pesado e estranhamente cansado. Isso, talvez, devido a ação do Feitiço de Aprendizagem que tentou fazer efeito em Louise e não conseguiu porque ela não adormecera.
A mesma sensação era sentida por Dan que estava sentado em uma das poltronas da Sala Comunal contemplando de cara amarrada o nascer do sol. O rapaz estava com os olhos roxos e inchados. Louise logo presumiu que ele também não tivera uma noite muito boa.
__Queria que o sol não nascesse nunca mais! __murmurou Dan assim que viu Louise se aproximando.
__Não conseguiu dormir também, não é?
Os dois ficaram em silêncio. Dan sendo iluminado pelos raios avermelhados do sol que penetrava as janelas e Louise cobrindo o rosto.
__Porque ela fez aquilo, Louise? __murmurou Dan.
Louise fechou os olhos e uma lágrima escorreu em seu rosto.
__Não sei. Ela não tinha nenhum motivo...
__Também pensei isso, mas então, porque...?
Louise fungou e enxugou a lágrima. Em seguida, disse contemplando o quadro dos pais de Lisa:
__Estive pensando, sabe, o motivo que teria levado Lisa a ter matado Athus e cheguei a conclusão de que... de que não foi ela. Não ela, Dan!
__Como não foi, hein? __perguntou Dan entre os dentes.
__Você mesmo disse, ontem para Gaya depois que levaram Lisa, que você a seguiu até o hall de entrada onde a viu sair do castelo e depois, do nada, reaparecer nas escadas espirais __Louise passou a mão no rosto mais uma vez e apoiou o queixo sobre os dedos cruzados__ Bem, para Lisa ter saído do castelo e reaparecido nas escadas espirais, ela teria que ter o dom da bi-locação ou senão saber se tele-transportar com perfeição. Como eu sei que ela não pode se tele-transportar e nem se bi-locar, acho que Lisa caiu numa armadilha!
__Armadilha?
__Exatamente __disse Louise virando-se para Dan__ Dan, eu vi Lisa saindo do quarto e a segui até as escadas porque pensei que ela poderia sair do castelo à noite e procurar Athus. Sabe, Dan, Lisa estava muito atormentava e determinada a encontrar o professor... quando cheguei nas escadas, escutei vocês dois discutindo no hall e desci imediatamente para ver o que estava acontecendo. Entende agora, Dan? Não houve espaço de tempo para Lisa ter saído do quarto, encontrado Athus vagando pelos corredores e depois te-lo matado! O que significa que foi outra pessoa... A propósito, você não viu ninguém estranho no corredor, não?
Dan parou de chofre. Como pudera se esquecera da discussão de Max e de Hariph? Como fora tão idiota?
__É claro, como pude ter esquecido? __disse Dan olhando para a expressão de quem não estava entendendo nada de Louise__ Eu vi Max ameaçando Hariph minutos antes do assassinato!
Louise segurou a respiração e permaneceu em silêncio para que Dan narrasse o que houve. Após alguns minutos, Dan disse:
__Eu entrei no corredor, onde eles estavam, e dei de cara com Max apontando a varinha contra a garganta de Hariph. Ao me ver, Max hesitou em matar Hariph e saiu correndo pelos corredores... Eu então, me escondi no escuro para que Hariph passasse sem me ver e depois saí atrás.
‘Louise, eu o persegui até as escadas espirais quando parei e vi alguém usando uma longa capa negra descer as escadas segurando uma espada na mão. Eu pensei que fosse Max e segui a pessoa pelos corredores até perde-la de vista e dar de cara com o Darkness.’
‘Quando saía do corredor sobre o olhar atento de Darkness, escutei alguém gritando. Eu corri para ver o que estava acontecendo e descobri que era de Athus. É lógico que Darkness queria que eu voltasse para o quarto para eu tinha de saber o que estava acontecendo, afinal, Athus estava desaparecido e ferido; eu tinha de saber o que estava acontecendo.’
‘Foi então que, desrespeitei as ordens de Darkness e entrei no corredor de onde vinha a voz de Athus e, bem, deparei com Lisa retirando a espada do coração dele. Mas, Louise, como Max poderia ter me despistado, encontrado Athus e depois ter se transfigurado em Lisa e matado o professor?’
__Não parece muito provável que tenha sido Max! __exclamou Louise vendo a expressão de espanto de Dan__ E se, por acaso, houvesse mais de duas pessoas com o mesmo propósito naquela noite?
__Não estou entendendo! O que quer dizer?
Louise levantou-se da poltrona e começou a dar voltar em torno de Dan.
__Pense Dan. Você encontrou Max tentando matar Hariph e o impediu, fazendo-o fugir. Minutos depois, isso depois de você ter perseguido Max e te-lo perdido de vista, você encontrou uma pessoa transfigurada na imagem de Lisa executando Athus. Entende agora? Havia duas pessoas com um mesmo propósito em comum: eliminar todos aqueles que soubessem do retorno de Gorgon e de alguma forma, incriminar Lisa por todos os atos cometidos...
__Para faze-la sofrer! __completou Dan perplexo__ Uma das pessoas seria Max, é claro, mas, e a outra?
Louise deu uma última volta em torno de Dan e parou na frente do rapaz. Seu olhar agora mostrava um brilho que a menos de cinco minutos não era possível vê-lo.
__Dan, quem era a pessoa que Düblin disse para Lisa que teria sobrevivido a uma explosão no ano anterior e que podia se transformar em outra pessoa?
Uma lembrança perpassou na cabeça de Dan. O rapaz arregalou os olhos e deu um pulo de cima da poltrona ao mesmo tempo em que exclamava junto com Louise.
__Goblin!
Lisa despertou naquela manhã com uma estranha sensação de ter passado a noite inteira com o cérebro enfiado num livro de mil páginas, ao qual, o leu inteiramente. Além da estranha sensação, Lisa sentia seus pulsos dormentes. Havia uma grande mancha arroxeada no local onde os anéis da corrente friccionavam a pele.
Lisa levantou-se do chão, onde dormira agachada com as pernas juntas ao corpo e tentou olhar pela minúscula janela que mostrava um dia ensolarado com poucas nuvens. Ao ver alguns pássaros voarem livremente ao longe, a idéia de que a liberdade estava fugindo de seu ser, atormentou Lisa.
Voltando-se a agachar no canto da parede úmida, Lisa sentiu que algumas costelas estavam doloridas e que sua coluna latejava de dor. A noite não fora muito tranqüila para ela. Em termos, não era nada fácil passar a noite agachada sobre um chão duro e úmido com os pulsos presos por apertadas correntes. Mais do que nunca, naquele instante, Lisa desejou que aquilo tudo terminasse logo, que ela pudesse voltar para a Fonte Phoenix e dormir sossegada em sua cama macia e quentinha.
Novamente, a liberdade pareceu-lhe distante e terrivelmente impossível. Alguém tirara sua liberdade a culpando por algo que ela não fizera. Porque? Para se livrar da culpa do assassinato ou, algo passou pela cabeça de Lisa, para faze-la sofrer? As possibilidades eram inúmeras e todas, eram prováveis.
Recostando-se a parede de pedra úmida, a voz de Chamberlain ecoou sonoramente em sua mente. Uma lembrança vaga e muito estranha.
Teve sorte desta vez, garota! Mas ele não poderá protege-la sempre. Você escapou, mas da próxima não vai escapar!
Não disse que você não escaparia? As previsões estão se cumprindo... você apodrecerá em Azgrah!
A cabeça de Lisa deu voltas. Aquelas palavras de Chamberlain fizeram sentido como se o inspetor estivesse previsto ou planejado aquele assassinato. De alguma forma, as coisas estavam se cumprindo como Chamberlain dissera, pois até seu último sonho, o mais sombrio de todos, se cumprira. Os corredores escuros, as celas, os vultos negros andando ao seu lado...tudo, exatamente tudo virou realidade, exatamente como ela sonhara. Porque?
Mais uma vez, a cabeça de Lisa deu voltas e parou num pequeno detalhe que ela sonhara e que até agora não fizera sentido algum. No sonho, Lisa vira um Carrasco na cela a sua frente. Se seu sonho virara realidade, significava que havia um...
__Vamos, saia! Você vai ser interrogada!
Lisa estava tão concentrada em ver quem estava na cela a sua frente que não vira um inspetor, seguido por duas Sentinelas, abrir a cela e manda-la sair.
__Não ouviu?
Lisa voltou a realidade ao sentir um medo profundo aflorar na sua pele e saiu da cela de olho nas Sentinelas que a fitavam com seus olhos enevoados. Antes de sair totalmente da cela, Lisa deu uma última olhada na cela oposta a dela e foi contida por um empurrão dado pelo inspetor. Sem hesitar, Lisa saiu pelos corredores estreitos e desapareceu entre a escuridão sombria que a engoliu instantaneamente.
A mente invadida
No centro de uma sala escura e vazia, Lisa estava acorrentada a uma cadeira iluminada por apenas um facho de luz que descia do alto da masmorra e se projetava numa pequena circunferência ao redor da cadeira. Entre a escuridão que se projetava fora do círculo luminoso, o rosto sombrio de Neville Chamberlain surgiu à frente de outras dezenas de rostos que a observavam sombriamente.
__Porque matou, Athus Lupus? __rosnou Chamberlain entre as sombras com a voz ecoando estranhamente dentro da masmorra.
__Eu não o matei! __disse Lisa calmamente fitando algum ponto no chão.
__Quais motivos teria para mata-lo?
__Sua pergunta é uma repetição da anterior __murmurou Lisa com impertinência__ Já disse, não o matei!
Chamberlain estremeceu de raiva e depois se controlou.
__Não seja impertinente! __murmurou o inspetor sorrindo maliciosamente.
Chamberlain saiu da escuridão e surgiu no circulo de luz. Seu rosto parecia lívido e sua expressão era de pura desaprovação pela impertinência de Lisa. O inspetor aproximou-se de Lisa e fitou-a.
__O assassinato do senhor Lupus tem ligação com o assassinato de Christian e Lauro Ravenclaw?
Lisa ficou calada. Pensou em tudo que Geoffrin lhe dissera e disse, por fim:
__Sim!
Sem que Lisa percebesse, já que seus olhos fitavam o chão, o inspetor pareceu ficar contente em ouvir aquela resposta. Seus olhos brilharam com a inesperada resposta. Mas os outros, Lisa ouviu, soltaram uma pequena exclamação. Aquilo era realmente interessante para eles.
__Então confessa que matou os Ravenclaws e o professor Athus Lupus?
__Não disse isso! __exclamou Lisa erguendo a cabeça e encarando Chamberlain pela primeira vez desde que entrara na masmorra__ Eu apenas confirmei que os dois assassinatos tiveram alguma ligação.
__Certo! __as pupilas de Chamberlain se dilataram e Lisa abaixou a cabeça novamente__ E qual seria essa ligação?
__Ambos foram assassinados por um mesmo motivo: impedir que todos saibam que Gorgon retornou!
De súbito uma grande onda de espanto tomou conta da masmorra. Os inspetores que se escondiam na escuridão ficaram perplexo e aguçaram os ouvidos para ouvir melhor o que Lisa tinha a dizer.
__Gorgon, o Mestre das Sombras?
__Exatamente __confirmou Lisa__ Christian e Lauro Ravenclaw eram cúmplices de Mayer Slater, a quem todos pensam ser o Quarto General das Trevas revelado.
A masmorra ficou em silêncio. Era como se todos estivessem registrando mentalmente aquela informação. Quando Lisa menos esperou, Chamberlain soltou uma gargalhada e em seguida, os outros inspetores o seguiram.
__Você realmente quer que eu acredite nessa besteira? Gorgon está preso a sete chaves na montanha mais alta dessa ilha protegido por várias maldições e Mayer Slater está morto!
__Alguém o matou assim como fez com Lauro, Christian e Athus! __replicou Lisa.
Chamberlain coçou o queixo e depois deu uma volta em torno de Lisa, parando na frente dela e erguendo o seu queixo com a própria mão.
__Mayer Slater é o Quatro General das Trevas e morreu porque estava sendo cassado pela Ordem e por nossas Sentinelas há dezessete anos... Não minta para mim, Lisa. Sei que por trás desse belo rosto se escondem grandes segredos... Foi você quem matou Athus, não foi? E agora usa essa besteira para livrar-se da culpa, não é?
__Eu não o matei! __disse Lisa entre os dentes tentando desviar o olhar dos olhos penetrantes de Chamberlain__ E o que contei é a mais pura verdade.
__Então não vai confessar sua autoria, não é mesmo? __disse Chamberlain erguendo-se novamente e saindo do circulo luminoso__ Não tem problema. Você foi pega em flagrante na cena do crime por duas testemunhas oculares. As provas são incontestáveis, Lisa. Receio que não poderá usar a máscara que culpa um demônio que está trancafiado a dezessete anos para se livrar das acusações! Realmente não sabemos se você tem algo a ver com a morte dos Ravenclaws, mas, acredite, eu descobrirei. Você sabe que eu tenho meios para isso, não sabe?
Lisa estremeceu de raiva e fitou Chamberlain com seus olhos queimando de fúria. De súbito, ela deixara para trás as recomendações de Gaya e gritara para Chamberlain:
__ENTÃO, PORQUE NÃO OLHA NOS MEUS OLHOS E EXTRAI A VERDADE QUE VOCÊ TANTO ANCEIA?
__Não, Lisa! __exclamou Chamberlain repentinamente__ Para tudo há seu tempo. Dentro de dois meses e meio você será julgada pela Suprema Corte dos Lordes e condenada pelo assassinato de Athus Lupus. Depois da condenação, aí sim, poderemos pensar em extrair a verdade de você! Mas por enquanto, preocupe-se com seu julgamento, pois, como disse, as provas são incontestáveis!
Chamberlain riu pelo nariz e desapareceu na escuridão da masmorra dando ordens a um dos inspetores.
__Levem-na de volta para a cela!
A luz sobre Lisa se apagou e mais uma vez ela se viu envolvida por uma sombria escuridão que a condenava e a profanava.
A manhã pareceu uma eternidade para Lisa. Depois que saíra da masmorra, Lisa fora reconduzida a sua cela e abandonada lá como um ser medíocre e sem valor. Ainda em jejum, Lisa sentia seu estômago roncar ferozmente. Desde que chegara, nem se quer um copo de água fora lhe dado. A solução para matar a cede foi recostar a boca num canto da parede de pedra e chupar a pequena mina de água que ali infiltrava na masmorra.
Enquanto, com dificuldade, tentava matar sua cede, seus olhos correram da parede úmida para a cela escura do outro lado. Lisa, tirou o rosto da parede e ergueu-se para se aproximar da cela. Seus olhos tentaram penetrar a vasta escuridão da cela oposta para ver quem estava lá. No entanto, não havia sinal de vida algum.
O estômago de Lisa deu um ronco profundo e prolongado; parecia que um pequeno monstrinho se desenvolvia em seu interior, protestando insistentemente por comida. De súbito, uma pequena luz azulada surgiu no corredor. Lisa correu para a grade da cela e tropeçou na corrente que ainda apertava seus pulsos e caiu.
Um homem magricela surgiu entre a escuridão empunhando uma varinha que tinha um pequeno facho de luz na ponta. Seus cabelos ruivos pareceram cintilar entre a luz azulada. Seus olhos castanhos fitaram Lisa caída no chão e por um instante, a garota pensou ter visto um brilho de piedade perpassar seu olhar; mas logo, o pequeno brilho se desfez e Lyon empurrou uma tigela com sopa e um prato com um pãozinho preto. Sem fazer cerimônia, Lyon se virou e desapareceu entre as celas mandando um preso calar a boca após ouvi-lo lhe xingar.
Lisa encostou-se a parede úmida e olhou para a tigela com sopa. Alguns indícios de verdura giravam dentro da água amarelada e um pedacinho minúsculo de batata parecia repousar no fundo da tigela. O estômago de Lisa deu mais um ronco e ela virou a tigela na boca. Sua fome era tanta que a sopa, mais semelhante a uma lavagem do que uma sopa, lhe pareceu divina.
Enquanto tentava mastigar aquele pão preto, que mais parecia uma pedra de tão duro, os pensamentos de Lisa deixaram a cela na masmorra e pousaram na Fonte Phoenix. Muito longe daquele lugar insuportável, pessoas deveriam estar descansando pelos jardins da Fonte Phoenix após um farto almoço ou talvez, pensou Lisa, estivessem velando o corpo de Athus.
O pão se tornou mais duro do que nunca. Lisa engoliu-o com dificuldade e repousou a cabeça na parede fria. Será alguém estaria pensando nela naquele momento? Será que alguém estaria a caminho de Azgrah para visitá-la. Será que...
__Visita!
Lisa despertou de seus devaneios e olhou para a mulher que surgia frente a sua cela. Nunca em sua vida, Lisa vira Louise tão abatida e mau tratada. Seus cabelos estavam desarrumados e seus olhos pareciam que iam estourar de tão inchados que estavam.
Assim que a cela se abriu, Louise correu para Lisa e abraçou-a tão forte que a garota sentiu seus ossos estralarem.
__Me desculpe por não ter vindo antes, mas é que, muitas coisas estão acontecendo na Fonte Phoenix e... porque está amarrada a correntes?
Louise virou-se para o inspetor que esperava do lado de fora da cela e lançou-lhe um olhar desaprovador.
__O que siguinifica isso? Será que mesmo estando presa atrás desta cela ela não está trancafiada o suficiente para estar acorrentada?
O homem não respondeu. Seus olhos negros fitaram Louise por um instante. Em seguida, a porta da cela se fechou e segundos depois, o homem desapareceu pelo corredor.
__Pensei que não viria __comentou Lisa olhando a expressão de indignação de Louise__ Na verdade, pensei que ninguém iria vir...
__Lamento pelo que está acontecendo, Lisa! __exclamou Louise voltando-se para Lisa__ De repente nossa vida virou de pernas para o ar. Mas, não vamos lamentar o que está acontecendo... Sabe, eu acabei de prestar depoimento e...
__Você veio sozinha? __Lisa engoliu em seco. Temia que seus amigos lhe abandonasse nesse momento tão inoportuno.
__Não. Dan, Darkness e Gaya também vieram; Zig e Cliffe bem que quiseram vir, mas, Big Bertha não quer que eles se envolvam com...
Os olhos de Louise tremeram e Lisa completou a frase:
__Assassina, não é?
__Não, Lisa! __Louise aproximou-se de Lisa e pegou suas mãos lançando, por último, um olhar indignado para as correntes__ Sabemos que não é uma assassina. Sabemos que não foi você...
__Dan não acha a mesma coisa!
__Não! Agora... agora tudo é diferente. Dan acredita na sua inocência porque, bem, as diferenças são gigantescas entre a Lisa que matou Athus e a Lisa que está aqui, presa nas masmorras de Azgrah. Nesse exato momento, os inspetores estão interrogando Dan. Sabe, ele vai defende-la; vai dizer que não foi você, que foi outra pessoa que... que estava disfarçada de você!
__Como ele vai fazer isso? __havia um pingo de dúvida no tom de voz de Lisa. Os gritos de Dan ainda ecoavam em seus ouvidos fazendo feridas surgir em seu interior.
__Dan vai alegar que eram duas pessoas diferentes e que só percebeu a diferença horas depois. A Lisa que Dan e Darkness viram usava uma capa negra e tinha os calçados sujos de sangue; a Lisa, que é você, trajava outras vestes e não tinha o calçados sujos de sangue!
__Mas Chamberlain pode alegar que eu troquei de roupa e me livrei dos calçados!
__Não, não pode, porque uma Lisa saiu do castelo e a outra surgiu milésimos de segundos depois no hall de entrada, evidenciando que você é inocente e que alguém que se passou por você, matou Athus. Nem mesmo Darkness pode provar o contrário, pois ele também viu a Lisa que matou o professor e minutos depois, a outra Lisa, totalmente diferente. Lisa, foi tudo uma armadilha para incrimina-la!
__Uma armadilha? __pela primeira vez, a idéia penetrou na cabeça de Lisa.
__Exatamente! __Louise olhou para os lados e abaixou a voz__ Eu e Dan estamos achando que foi Goblin quem matou Athus.
__Goblin! Mas, Louise, não temos certeza se ele realmente está vivo; nem mesmo Düblin tem certeza!
__Eu sei, mas é provável, pois ele era o único que podia se transfigurar em imagem e semelhança de outra pessoa...
__E Max? Esqueceram-se dele?
__Não, de forma alguma, mas...
__Louise, ele é um mago! Ilusão é a especialidade dele!
Pela primeira vez em tanto tempo, Lisa estava odiando Max. O simples ato de ela estar presa em Azgrah sabendo que ele poderia estar envolvido na morte de Athus, entre outras coisas, já lhe dava um bom motivo para odiá-lo.
__Eu não havia pensado nisso! __murmurou Louise.
__De qualquer forma, eles... __Lisa não acreditava no que ia dizer__ conseguiram. Estou presa, acusada de um assassinato que não cometi. Se era essa a vontade de Gorgon, me fazer sofrer, ele conseguiu.
__Imagino como deve ser passar o dia nessa masmorra imunda!
Louise passou os olhos pela cela e estremeceu.
__Louise, tem uma coisa que eu não entendi. Onde estava Athus quando as buscas foram feitas?
__Gaya me disse que hoje pela manhã eles descobriram uma caverna no penhasco abaixo do bosque das ninfas. O local é de difícil acesso e, bem, ninguém sabe como Athus chegou até lá e muito menos como conseguiu voltar para a Fonte Phoenix. Pelo que parece, o professor tinha acabado de entrar no castelo quando você... __Louise hesitou__ ah... alguém o matou!
Enquanto Louise falava, Lisa via mentalmente Athus cambalear sobre as pedras lisas e pontudas do penhasco entre as ondas do mar que ricocheteavam os paredões pedregosos; o professor saindo do bosque das ninfas e entrando na Fonte Phoenix; passando pelos jardins, entrando no castelo, vagando pelos corredores e...
Lisa preferiu não tentar imaginar a cena que se seguia.
__Muitas coisas mudaram na Fonte Phoenix, Lisa. O ar daquele lugar está insuportável. Em cada canto e em cada corredor o assunto sempre é o mesmo __Louise calou-se por um breve instante. Seus olhos tremeram e uma lágrima escorreu em seu rosto__ Vão enterra-lo hoje ao crepúsculo, Lisa!
Lisa ficou em silêncio. A imagem do corpo de Athus sendo carregado perpassou a sua cabeça fazendo com que uma pontada no coração a atormentasse.
__Eu não queria que tudo isso estivesse acontecendo com você, Lisa, mas, nós vamos sair dessa, prometo! Como meu pai me disse uma vez: não existem mártires sem sofrimento. No fim, tudo vai dar certo; vamos conseguir tira-la daqui. Sabe, Gaya já está trabalhando nisso. Ele me disse que tem uma carta escondida na manga caso algo dê errado. Não sei o que é, mas, confio nele. Gaya está tão abalado com a perda de Athus que nem conseguiu preparar o enterro do professor. Godric é quem está cuidando de tudo. Só lamento que você não estará lá para prestar suas últimas homenagens!
Lisa despencou em lágrimas e antes que pudesse dizer algo, a porta da cela se abriu e Louise teve que se retirar.
__Acabou seu tempo! __disse o mesmo homem a quem Louise indagou sobre as correntes.
Louise abraçou Lisa e saiu da cela. A porta se fechou e antes que Lisa ficasse mergulhada na escuridão de seu martírio, Louise disse:
__Já ia me esquecendo... só mais um segundo! __disse asperamente para o homem que a aguardava de cara feia no corredor__ Lá em cima tem dois homens que você conheceu no Mundo dos Humanos. Acho que se chamam: Austin Osman e Aleister Croovey...
__Crowley, Louise!
__Ah, que seja!... Já estou indo! __disse Louise para o homem__ Eles vieram para o enterro e resolveram depor a seu favor. Bom, acho melhor ir. Prometo visitá-la sempre... calma, já estou indo!
Crowley e Osman estavam em Azgrah. A notícia pareceu iluminar a mente de Lisa. A presença dos dois melhores amigos de Athus poderia mudar totalmente a sua situação, ainda mais, depois de Dan desmentir a autoria dela no assassinato. Osman e Crowley, por exemplo, poderiam contar que ela e Athus foram atacados no Mundo dos Humanos e que os ataques estavam ligados a Gorgon...
Uma alegria sem fim aflorou no interior de Lisa. Pela primeira vez, algo realmente bom iria acontecer. No entanto, ao acompanhar Louise desaparecer no corredor escuro, Lisa sentiu sua felicidade se tornar tão distante quanto a presença da amiga. Crowley e Osman não sabiam sobre o retorno de Gorgon... ou será que sabiam?
Lisa não encontrou a resposta nem tão cedo.
Afundada naquela masmorra sombria, Lisa passou várias horas recostada à parede úmida esperando que alguém surgisse entre a escuridão e lhe desse a notícia de que estava livre, de que o que aconteceu não fora nada mais do que um terrível engano, de que prenderam a pessoa errada... No entanto, nem mesmo Gaya, Dan ou qualquer outra pessoa veio até ela nas próximas cinco horas.
Sentindo que não sairia nem tão cedo daquele lugar, Lisa adormeceu e acordou horas mais tarde com um raio de sol que se atrevia a atravessar a minúscula janela no alto da masmorra e ofuscar os olhos da garota. Lisa levantou-se do chão e foi até a janelinha. O céu estava alaranjado e um bando de pássaros desaparecia ao longe enquanto o sol se punha sobre o mar.
Entrementes, Lisa sabia que, muito longe dali, um corpo estava sendo rodeado por várias pessoas trajando vestes negras e segurando lenços brancos nas mãos. Ao pensar que em algum lugar fora de Azgrah, Athus estava sendo velado, Lisa recolheu-se para o interior da cela e se escondeu no ponto mais escuro que encontrou. Ali, ela chorou até a pequena luz alaranjada desaparecer e dar lugar a uma escuridão sem fim.
O dia que se sucedeu não fora tão pior do que o anterior. Lisa amanheceu com o estômago grudado na coluna de tão fundo que estava e com uma vontade descomunal gritar e pedir algo descente para se comer. Ela realmente pensou em gritar, reclamar, obter seus direitos, mas logo percebeu que seria pura insanidade exigir direitos num lugar onde o que menos se esperava era respeito ao próximo, quanto mais comida!
Como no dia anterior, por volta do meio-dia um homenzinho magricela rompeu a escuridão que se projetava no corredor e surgiu frente a cela de Lisa com uma tigela de sopa e um pãozinho seco. Ao ver Lyon, Lisa tentou levantar-se para pegar sua comida, mas, fraca, tropeçou na corrente, cambaleou e caiu aos pés do homenzinho como fizera da vez passada.
Desta vez, porém, Lyon abriu a cela e aproximou-se de Lisa com aquele mesmo olhar piedoso vibrando em seus olhos; e apontou sua varinha para as correntes que friccionavam os pulsos da garota. Houve um pequeno relampejo e, instantes depois, Lyon deixou a cela com um tímido sorriso no rosto. Lisa não entendera porque ele fizera aquilo, mas, certamente, estava agradecida assim como seus pulsos arroxeados.
E recostando-se a parede, Lisa pegou a tigela de sopa e virou-a na boca com tanta ganância que se engasgou, recompondo-se a tempo de ver duas imagens surgirem entre a escuridão e a chamarem pelo nome.
__Crowley... Osman!
Crowley, um homenzinho careca de nariz achatado e olhar sombrio e Osman, um homem alto, ruivo de olhos azuis e de bigode da mesma cor dos cabelos pararam frente à cela de Lisa e sorriram para ela. Não um sorriso amável, mas, um sorriso pesaroso pela morte do amigo e pela prisão da garota.
__Como está, Lisa? __perguntou Crowley.
__Bem! __mentiu a garota.
__Ora, sabemos que não está bem __exclamou Osman__ Imaginamos como deve estar sendo difícil suportar a morte de Athus e... esse lugar!
Osman girou seus olhos azuis em torno da cela de Lisa e parou-os na garota novamente.
__Gostaria que soubessem que eu não tive nada a ver com a...
__Não precisa terminar de dizer! __interrompeu Crowley__ Sabemos que não foi você. Nosso amigo não se enganaria nunca a respeito da integridade moral de uma Bruxa de Fogo, afinal, mesmo estando aprisionada aqui, você ainda continua sendo uma delas!
__Certamente foi uma armadilha! __disse Osman descontraído__ Mataram Athus para incrimina-la. Foi um plano perfeito...
__Tão perfeito que a assassina era idêntica a você, minha jovem!
__Era semelhante, mas não era eu! __disse Lisa.
__Sabemos disso __Osman colocou as mãos nos bolsos e começou a dar voltas em torno da cela__ Ainda mais depois do que houve no Mundo dos Humanos!... Lastimável, realmente lastimável!... Athus ainda tinha a vida toda pela frente. É uma pena que as coisas tiveram que terminar dessa forma...
__Dessa forma? Como assim? __perguntou Lisa.
__É óbvio, não é? __disse Crowley__ Athus se envolveu demais com o que não devia se envolver. Era de se esperar que seu fim fosse tão trágico!
__Ele não pensou bem antes de fazer o que fez. Não pensou que você pagaria um preço muito alto por isso!
__O que quer dizer senhor Osman?
__Nada, minha jovem... nada!
Athus realmente envolvera-se com algo que não deveria se envolver, Lisa tinha consciência disso, porém ela não entendia o que ele fez para merecer a morte e muito menos porque Crowley e Osman pareciam tão arrogantes e frios a respeito da morte do amigo.
__Oh, nossa! __exclamou Crowley olhando para um estranho relógio de pulso__ Olha que horas são! Nos desculpem, Lisa, mas, Osman e eu temos alguns assuntos a resolver em Aragorn antes de voltarmos para o Mundo dos Humanos. Sabe, nosso tempo é curto e viemos apenas para o velório de nosso velho amigo!
__Lamento que não possamos ficar mais, Lisa __disse Osman__ Mas, não se preocupe, demos nossa colaboração para que você saia logo daqui. E, a propósito, seus pulsos vão melhorar logo, logo agora que estão sem as correntes!
__Foram vocês? __perguntou Lisa alisando os pulsos.
__Não. Agradeça sua amiga, é... vejamos, qual é mesmo o nome dela... ah, Louise, é isso!
__Sabe, Lisa, mesmo estando confinada atrás dessa cela, você ainda possui amigos que certamente lutarão por você fora dessas masmorras. Não se esqueça disso, ok?
__Voltaremos no seu julgamento, daqui dois meses. Tudo vai dar certo. Até mais, Lisa!
__Até, Lisa!
Lisa voltou para o interior de sua cela com uma estranha sensação. Austin Osman e Aleister Crowley pareceram pouco confiantes quanto a libertação de Lisa antes de seu julgamento. O ar dos dois deixou bem claro que a situação da garota não era tão favorável quanto ela mesma pensava ser. Pelo visto, o depoimento de Dan não ajudou muito e certamente, Darkness também não quisera voltar atrás em sua acusação.
__Lamento, Lisa, mas ontem Chamberlain alegou que seria muito fácil alguém usar magia para esconder sua culpa __disse Louise no dia seguinte quando viera, pela manhã, visitar Lisa__ Isso significa que o depoimento de Dan não ajudou e que... bem, Darkness só piorou a situação dizendo que houve tempo suficiente para você conjurar roupas novas e calçados limpos, já que Dan a perdera de vista em alguns momentos. Segundo ele, na magia tudo é possível quando se temos apenas um segundo de diferença.
__Quer dizer que, não vou sair daqui nem tão cedo!
__Não, Lisa, também não é assim! __interveio Louise__ Gaya vai encontrar uma solução. Ele quase não fica na Fonte Phoenix mais. Parece que Gaya está numa busca incansável de algo que possa tira-la daqui.
__Mas, o quê, Louise?
__Infelizmente, não sei dizer!
As duas ficaram em silêncio. Lisa alisou os pulsos, que agora deixavam a tonalidade arroxeada para trás e adquiriam uma cor mais clara, e virou-se para Louise.
__Obrigado por ter pedido que tirassem aquelas correntes...
__Não foi nada! Aquilo era uma tortura sem necessidade...
__E, Louise __Lisa parou por um instante. Tentou hesitar no que ia perguntar, mas, viu que era necessário__ E Dan? Porque ele não veio me ver?
__Bom, Dan está um pouco abalado ainda com o que houve e, acho que ele está um pouco sem jeito de vir vê-la depois de ter acusado você, Lisa, do assassinato. Dan está envergonhado, se entende o quero dizer.
Lisa achou compreensível a atitude de Dan já que se ela estivesse no lugar dele, se sentiria envergonhada de tal conduta.
__Zig e Cliffe estão loucos para vir vê-la, mas, sabe como Big Bertha é! Tom também quer vê-la; acho que virá comigo no final da semana e, o idiota do Peter, também quer vir. Só espero que ele não venha comigo!
__Louise! __repreendeu Lisa.
__O que foi?
Mesmo estando presa em Azgrah, Lisa encontrou pela primeira vez um bom motivo para rir. As divergências entre Peter e Louise eram patéticas, mas Lisa as vezes achava que a raiva que sua amiga sentia pelo rapaz pudesse um dia desaparecer. Isso, torcia Lisa, deveria acontecer quando Peter fizesse algo que realmente prestasse para Louise e quando ela, Lisa, estivesse bem longe de Azgrah.
O inverno chegou antes mesmo que Lisa pudesse esperar. A Ilha das Serpentinas foi tomada por um longo lençol de neve que cobriu totalmente as gigantescas torres pontudas de Azgrah. As masmorras deixaram o tom negro para trás e adquiriram um branco gélido que cobriu todo o exterior do castelo com grossas camadas de gelo. O inverno estava tão rigoroso que nem mesmo as Sentinelas se atreviam a dar vôos rasantes sobre as masmorras em suas vigílias habituais.
O interior de Azgrah tornou-se insuportável. As paredes, que antes minavam água, ganharam finos cristais de gelo que se projetavam do teto para sobre a cabeça dos prisioneiros. A cela de Lisa não estava tão diferente das outras, na verdade parecia mais um freezer do que uma cela.
Lisa passou longos dias sofrendo com o frio indesejável que congelavam até o último fio de cabelo da garota. Se não fossem os cobertores que Louise e Tom trouxeram na primeira semana do inverno, Lisa estaria dura e cristalizada em um dos cantos da cela. Semanas depois, quando o inverno já estava alcançando o seu auge, Lisa descobriu que era proibida a entrada de cobertores em Azgrah e logo entendeu que Louise lhe dera um cobertor diferente de todos, enfeitiçado para que ninguém visse, exceto ela.
Além da ajuda de Louise, Lisa contava com uma intrigante ajuda de Lyon que, todas as manhãs vinha trazer-lhe um chá quente e, ao meio dia, uma confortante sopa fervente. No primeiro dia em que Lyon trouxe o chá para Lisa, a garota achou que todos receberam também. Dois dias depois, Lisa, constatou que ela era a única que tinha alguma mordomia naquele lugar quando escutou um preso reclamando que sua sopa estava gélida e porque não traziam chás para ele também.
Por alguma razão, Lyon não obedecia as regras de Azgrah, o que fez Lisa sentir alguma simpatia pelo homem magricela.
Dois meses inteiros já estavam se passando e Lisa sentia-se cada vez mais condenada a habitar aquele lugar até o resto de sua vida. A cada dia que se passava, Lisa, agora com cinco quilos a menos, sentia cada vez mais ódio de Gaya ao passar horas e mais horas esperando sua visita que, ao pensar dela, traria alguma notícia animadora.
__Gaya passou os últimos dois meses fora da Fonte Phoenix, se quer saber, Lisa __disse Louise notando a expressão esquelética que Lisa ganhara na última semana__ E, o mais estranho é que Hariph também desapareceu. Ninguém mais o viu desde dois dias depois do enterro de Athus.
__Será que ele e Gaya estão trabalhando juntos? __perguntou Lisa esperançosa que ambos pudessem estar tentando tira-la de Azgrah.
__É provável, porque Gaya e Hariph deixaram a Fonte Phoenix no mesmo dia!
__E, __Lisa hesitou. Prometera para si mesma que jamais voltaria a pronunciar seu nome, mas, era inevitável__ Max?
__Sabia que iria me perguntar. Dan foi o último que viu Max, na noite da morte de Athus. Ele simplesmente evaporou. Na certa deve ter fugido para bem longe!
Maldito! Era o que Lisa pensava. Seu ódio, antes limitado a Gaya por não, aparentemente, fazer nada por ela, agora se aflorava intensamente contra Max. Um sentimento que se misturava com emoções e com sensações que Lisa tentava ao máximo afasta-las.
__Volto no final da semana __disse Louise despedindo-se__ Prometo que trago notícias boas para você!
Notícias boas era o que Lisa mais desejava nos últimos dias, agora, mais quentes do que antes. O inverno estava esquentando e a tonalidade gélida de Azgrah passou a ser lavada por intensas chuvas que sucedia a estranha transição de estações em Aragorn.
O tempo chuvoso passou a ser mais freqüente. As chuvas finas e um pouco geladas devolveram a Azgrah o antigo tom sombrio de antes. Lisa não sabia se era por causa do tempo chuvoso, mas, os dias ficaram mais lentos e a idéia de que notícias boas viriam no final da semana ficaram cada vez mais distantes.
Depois que Louise lhe disse que as notícias ainda eram as mesmas e que única nova era que os alunos que perderam seus poderes estavam se recuperando; e foi embora, a garota voltou a recostar-se em sua habitual parede úmida e deixou que seus sonhos fossem o seu consolo. Porém, nem mesmo sonhando, Lisa pareceu ter paz.
Imagens atormentantes invadiram os sonhos de Lisa e a fizeram cair num abismo obscuro onde pessoas a chamavam de assassina e a xingavam de todos os nomes possíveis. Lisa rodopiou num grande redemoinho de vozes e caiu dolorosamente sobre um piso de mármore.
Sentindo seu corpo remoer de dor, Lisa ergueu-se do chão e olhou para os lados. Ela estava em uma grande sala escura onde a mármore sob seus pés desaparecia de vista entre o véu negro que cercava o lugar.
Lisa deu alguns passos a frente e parou de chofre ao ouvir uma voz rouca e fraca murmurar em seus ouvidos:
__Encontre-o para mim... encontre...!
Lisa girou nos calcanhares e não viu ninguém. A escuridão que a cercava era intensa e a garota apenas conseguia enxergar o que estava numa circunferência de dez metros ao seu redor.
__Encontre-o.... encontre-o...!
A voz continuava a penetrar nos ouvidos de Lisa, forçando-a a mover suas pernas e desbravar a sala escura.
Perturbada com aquela estranha voz, Lisa andou uns cinco metros dentro da sala e parou com a ligeira impressão de que haviam objetos gigantescos dispostos em fileiras as suas costas. Lisa virou-se e apenas viu seu reflexo, escuro e vago, num espelho vertical que desaparecia de vista de tão alto que era.
Voltando a andar, Lisa percebeu que não havia apenas aquele espelho, eram centenas, dezenas, milhares de espelhos verticais encostados um ao outro formando um grande labirinto que a cada passo dela, refletia seu corpo de variadas formas.
Por um breve instante, Lisa lembrou-se da Casa dos Espelhos e da presença horripilante de Goblin. Um arrepiou subiu pela espinha de Lisa e desapareceu entre a camada de pele da garota, arrepiando seus pêlos. Ela olhou mais uma vez para os lados e continuou a andar entre as paredes de espelhos, ouvindo a voz murmurar em seus ouvidos:
__Encontre-o para mim... encontre-o... encontre...!
Lisa atravessou uma fileira de espelhos e entrou em uma outra fileira que, minutos depois, levou-a a um círculo vazio onde um pequeno espelho apoiado em pernas de madeira se destacava solitariamente entre a escuridão.
__Encontre-o... encontre...!
A voz pareceu excitada e Lisa apressou os passos, atravessou o círculo e chegou ao espelho. Por breves segundos, Lisa e o espelho ficaram de frente um para o outro. Enquanto ficava ali, sem saber o que fazer, Lisa notou que no alto do espelho havia uma inscrição cravada na superfície do objeto com letras garrafais e tombadas. Estava escrito: Michel de Nostredame, Profecia do Milênio
__Encontre...!
Lisa saltou para trás. Por um instante, esquecera-se da voz e levara um susto ao ouvi-la novamente.
Sem saber porque estava fazendo aquilo, Lisa levou a mão ao espelho e tocou na sua superfície que, agora ela percebera, não refletia sua imagem. Lentamente, ondas se formaram em torno da palma da mão de Lisa e engoliram seu braço. Como se estivesse sendo aspirada, o corpo de Lisa foi puxado para dentro do espelho e, instante depois, saiu da mesma superfície que a sugava, numa outra sala escura e aparentemente vazia. Lisa olhou para trás e viu as ondas desaparecerem no espelho deixando sua superfície lisa e sem reflexo algum.
__Encontre...!
Voltando-se para a sala, Lisa começou a andar com a voz murmurando sem parar em seus ouvidos.
Alguns passos a frente, a escuridão se abriu revelando, sobre o piso de mármore, uma espécie de estátua posta ao centro da sala. Lisa parou e ouviu a voz murmurar, quase que ordenando, ao seu ouvido:
__Encontre-o...!
Lisa deu mais alguns passos a frente a parou frente a estátua. Do mármore branco surgia uma espécie de mão negra, fina, murcha, de dedos compridos e de unhas pontudas que segurava uma espécie de bola de cristal.
A voz sussurrou mais uma vez e Lisa se aproximou da mão de pedra. Mais uma vez, ela não sabia porque estava fazendo aquilo, Lisa esticou a mão e aproximou-a da esfera. Antes, porém, que seus dedos tocassem a superfície cristalizada, uma pupila vermelha em forma de fenda surgiu dentro da esfera e lançou uma poderosa luz que ofuscou os olhos de Lisa.
Lisa sentiu o chão sob seus pés desmoronar. A garota despencou em um enorme abismo e rodopiou até cair sobre um chão frio e duro.
__O que aconteceu? __murmurou uma voz distante, sombria e tão fraca quanto aquela que Lisa ouvira antes.
__Ela... ela... despertou meu mestre!
Lisa abriu os olhos com uma terrível pontada de dor na sua marca no pescoço e olhou para os lados. Ela estava numa outra sala, pequena, mau-cheirosa e de móveis tão velhos que pareciam ser relíquias do tempo. A sua frente, um homem usando um manto negro estava ajoelhado aos pés de um trono de ossos humanos. Sobre o trono, havia um ser escondido na escuridão; apenas suas pernas, finas e acinzentadas, estavam a mostra. As duas pessoas conversavam como se Lisa não estivesse ali, caída atrás do homem ajoelhado.
__Como despertou? __trovejou a voz que veio de cima do trono, parecendo intolerante e furiosa.
__Não sei, m-mestre __exclamou o homem ajoelhado ao qual parecia tremer de medo__ T-talvez o Olho tenha interrompido a ligação, mas, o tempo que fiquei na mente dela foi o suficiente. Eu o encontrei!
__Você conseguiu? __a voz sussurrou mais calma como se estivesse contente com aquela notícia.
__Consegui mestre! __disse o homem parecendo mais seguro para erguer a cabeça e olhar diretamente para quem estava sentado ao trono.
__Perfeito! Enfim, meu retorno se aproxima e... __a voz parou. Lisa apertou os olhos para ver quem estava sentado no trono e assustou-se ao ver um par de olhos vermelhos surgirem entre a escuridão que cobria o trono__ Quem está aí?
Rapidamente, Lisa rolou para trás de uma poltrona empoeirada e ficou parada atrás dela. Será que eles a viram? E agora, o que iria acontecer? O quê aquelas pessoas iriam fazer com ela?
Lisa recostou-se a poltrona e ouviu o homem ajoelhado levantar-se e aproximar-se dela com seu manto arrastando no chão. O coração de Lisa acelerou quando os passos pararam. Um silêncio sem fim invadiu a sala.
De súbito, a marca de Lisa explodiu em dor ao mesmo tempo em que a voz fraca gritou para o homem:
__Arraste a poltrona!
Um farfalhar de luzes jogou a poltrona para o ar e Lisa levantou assustada, virando-se para trás e vendo um Ser segurando uma caixinha de ossos no colo erguendo uma varinha e apontando-a para ela.
Lisa afastou-se para trás e viu uma luz vermelha, que se projetava na sala, ofuscar seus olhos e tomar seu corpo com uma dor insuportável.
__Ah!
Luta e fuga
Lisa despertou do pesadelo com sua marca ardendo em dor. A garota estava caída de cara no chão com os punhos fechados e com os dentes trancados. Uma terrível sensação parecia remoer dentro de Lisa. Ela sentia medo e uma tristeza descomunal. Era como se algo de muito ruim estivesse para acontecer a qualquer a momento.
O dia amanheceu e Lisa ainda não conseguira pregar os olhos. Depois do pesadelo, seu sono foi embora. Na verdade, ele dera lugar a dor na marca que não cessou em momento algum.
__Porque isso está acontecendo?
Lisa não conseguia entender o que estava acontecendo. Já fazia muito tempo desde a última vez em que sua marca doera. E quando isso aconteceu, Lisa e Malagat estiveram de cara a cara. Mas desta vez era diferente, pois Malagat estava morto e não haveria mais nenhum motivo para que ela doesse tanto...
Lisa estava redondamente enganada. Apesar de Malagat ter sido derrotado, Gorgon, seu filho, estava solto recuperando-se depois de passar longos anos aprisionado e agora, pelo que a garota viu no sonho, estava pronto para retornar.
__Como sabe que é Gorgon, Lisa, com quem você sonhou? __perguntou Louise dois dias depois quando Lisa lhe contara o pesadelo e as dores na marca que até agora não haviam cessado.
__Não sei exatamente, mas, tenho quase certeza, Louise! __disse Lisa friccionando a marca para tentar acalmar as fisgadas de dor__ Ele disse que estava pronto para retornar agora que eles encontraram o... não sei bem o que eles encontraram, mas, Gorgon estava procurando algo e, através de mim encontrou.
__Mente invadida! __murmurou Louise.
__Como?
__Mente invadida, Lisa! Gorgon usou você para encontrar o que estava procurando através dos seus sonhos. Ele penetrou na sua mente enquanto dormia...
__Não foi Gorgon, Louise __interrompeu Lisa__ Foi outra pessoa. Eu não vi o rosto dela, mas, ouvia-a dizendo que conseguira o que Gorgon queria.
__Ele chegou pronunciar o nome de Gorgon?
__Não. Acho que não! __disse Lisa tentando lembrar-se do pesadelo, apesar da intensa dor que a impedia de pensar__ Mestre! Foi isso que ele disse. Ele chamou Gorgon de mestre.
__Era de se esperar que ele fosse chamado de mestre, mas, Lisa, uma pessoa não consegue penetrar a mente de outra pessoa na primeira tentativa. É algo realmente difícil. Por acaso você teve outros pesadelos desse tipo?
__Não sei. Tirando os pesadelos que envolveram esta masmorra e aquela cela vazia do outro lado onde eu via um Carrasco, não houve pesadelos que... espere, antes das férias eu tive um sonho onde eu procurava algo dentro de uma sala cheia de espelhos. Louise, os dois pesadelos foram idênticos, exceto que no primeiro a sala pareceu menor e no segundo, a sala era maior e o espelho principal estava no centro de um labirinto só de espelhos!
__Claro! A primeira tentativa não obteve muito sucesso. Seja quem for que penetrou sua mente, ele não conseguiu recriar a sala dos espelhos completamente, o que diminuiu as chances dele encontrar o que estava procurando...
__Não, Louise! __interrompeu Lisa lembrando-se de um detalhe do primeiro pesadelo__ No primeiro pesadelo eu entrei num espelho e encontrei uma mão negra de pedra que segurava uma esfera de cristal, assim como no segundo.
__Mas, então...
__Acho que o fato do local não ter sido recriado fielmente, como você disse, fez com que eu encontrasse o que ele estava procurando, mas não deu a Gorgon a localização correta da esfera.
__Você acha que Gorgon queria achar aquela esfera? __perguntou Louise__ Mas para quê?
__Não sei. Talvez ela seja alguma fonte de poder que possa traze-lo de volta à tona.
__Pode ser.
Lisa e Louise ficaram em silêncio. Louise pensava no que Gorgon poderia estar querendo com a esfera e Lisa, tentava pensar em algo, mas a dor não lhe permitia.
__Lisa, você não sabe para onde foi levada enquanto estava sonhando? __perguntou Louise.
__Não, Louise. Na verdade, nunca vi aquele lugar.
__Isso só piora a situação __disse Louise começando a dar voltas em círculos__ Lisa, você não viu nada no pesadelo que possa nos dá uma indicação do lugar onde você estava?
__Não sei... __Lisa parou para pensar. Quando algo vinha em sua mente, sua marca repuxava de dor e Lisa voltava a estaca zero. Depois de alguns minutos tentando, Lisa lembrou-se de algo significante__ Espere, agora estou me lembrando, no espelho central onde se tem a passagem para encontrar a esfera, havia uma inscrição.
__Você se lembra do que estava escrito?
Lisa pensou por mais alguns instantes e depois respondeu:
__Era o nome de um homem... Miguel... Miquèl... não me lembro bem, mas, o segundo nome era... Nostre... Nostredame, é isso, Nostredame! Não sei porque, mas, esse nome não me é estranho.
__Não é estranho porque Athus lhe contou sobre ele, Lisa! Michel de Nostredame, conhecido também como Nostradamus!
O queixo de Lisa caiu. Apesar do que Athus lhe dissera sobre Nostradamus, Lisa voltara novamente ao ponto inicial. Ao ponto em que ela viu o nome de Nostradamus escrito no livro, ao qual, Athus escondeu dela desde o início do ano.
__Nostradamus! __disse Lisa involuntariamente__ Mas, Louise, o que... que significa...?
__Significa que Athus morreu escondendo muitas coisas. Ele não contou tudo que sabia para você, Lisa, antes de ser atacado e desaparecer no bosque das ninfas. Mas é estranho, porque o espelho tinha o nome de Nostradamus gravado nele?
Lisa não respondeu a pergunta de Louise. Ela não acreditava que depois de tudo que acontecera, Athus tenha lhe negado a verdade, que tenha omitido algo sobre Nostradamus... Mas, agora, pensou Lisa, já era tarde. Athus estava morto e ela não sabia o que o professor lhe escondeu desde o início do ano.
__Tinha mais algo escrito no espelho __disse Lisa de chofre__ Profecia do Milênio, se não me engano!
__Profecia do Milênio?
__Sabe alguma coisa a respeito?
__Não. Não sei. Mas, com certeza deve ser algo que interessa Gorgon. Se eu não estiver errada, essa profecia deve estar dentro da esfera de cristal que você viu. E, de alguma forma, se Athus desconfiava de algo, levou sua desconfiança para o túmulo.
Lisa nunca pensou que aquelas palavras de Louise lhe fossem doer tanto. Mesmo estando morto, Athus ainda estava presente com seus intermináveis mistérios. Se ao menos Lisa pudesse voltar ao passado e tentar arrancar a verdade de Athus... Voltar ao passado. Algo que Lisa mais desejava na vida. Poder voltar ao início e reformular todo o seu presente. Voltar e impedir que Athus fosse atacado por Max. Voltar e impedir que seus olhos vissem Athus caído à beira do lago no bosque das ninfas com um grande ferimento no peito. Voltar e impedir que seus ouvidos ouvissem o professor lhe dizer que... que...
__Como eu pude me esquecer! __disse Lisa de súbito__ Athus tentou me contar o que sabia quando estávamos no lago no bosque das ninfas. Ele estava ferido e eu assustada. Ele queria me contar algo, mas eu só estava preocupada em buscar ajuda...
__O que foi que Athus disse, Lisa? __perguntou Louise fitando Lisa encostar-se na parede e se lamentar por não ter prestado atenção no professor.
__Não me recordo bem, mas ele disse que Gorgon não precisava de poderes para se fortalecer, ele precisava de... Athus não me disse o que era! Athus disse ainda que eles estavam procurando algo... algo que se chamava... chamava-se Olho do Milênio!
__Olho do Milênio? Lisa, ele é uma lenda. Foi criada por Nostradamus. Segundo dizem, é nele que estão registradas as sete profecias que prevêem o fim de Aragorn!
__É isso. Foi isso mesmo que Athus me disse antes de Grump, Gregor e Steven serem atacados!
__Lisa, a Profecia do Milênio se refere ao Olho do Milênio, só pode ser! __concluiu Louise.
__Então, a esfera que eu vi era...
__O Olho do Milênio!
__Você acha que...
__Acabou a visita!
Um homem alto e forte surgiu no corredor e abriu a cela para Louise sair.
__Vou pesquisar sobre o assunto na biblioteca da Fonte Phoenix. Devo encontrar algo que nos ajude a entender o que Você-sabe-o-quê pode ser útil para Você-Sabe-Quem.
__Procure um livro de capa peluda na mesa do professor e abra-o numa página onde tem um desenho de um velho segurando uma esfera.
__Farei isso!
__Vamos, não tenho tempo, gracinha!
Louise fez uma cara feia para o homem fortão e desapareceu no corredor.
Após Louise ir embora, Lisa passou várias horas pensando no seu pesadelo e na possível ligação entre O Olho do Milênio e Gorgon. Será que o Mestre das Sombras queria ouvir a profecia do fim de Aragorn? Será que ele tinha esperanças de estar contido na profecia? Será que Gorgon seria quem iria conquistar Aragorn um dia? Eram tantas perguntas que Lisa não conseguia pensar numa possível resposta, ainda mais com sua marca doendo, o que já era demasiadamente estranho.
Por alguma razão, Lisa sentiu que as coisas iriam piorar ao final da tarde. Ela não sabia porque, mas o pressentimento era muito grande. Desde que a marca no pescoço começara a doer, Lisa tinha estranhas sensações que a atormentavam de hora em hora. Era muito estranho aquilo, mas de alguma forma, Lisa achava que tinham ligação com sua marca já que, da última vez, conseguira prever que havia um traidor na Fonte Phoenix e que ela deveria voltar imediatamente para o castelo.
Mesmo sem saber se seus pressentimentos eram reais ou não, Lisa tirou a prova de um deles à tarde quando Chamberlain veio fazer uma visita, um tanto desagradável, para a garota.
__Está gostando dessa cela, Lisa? __perguntou Chamberlain com um estranho sorriso no rosto__ Espero que sim porque daqui dois dias, ela será a sua casa, talvez, pela eternidade!
Lisa não cedeu a provocação e permaneceu indiferente no canto da cela com sua marca doendo intensamente com a presença do inspetor. Chamberlain, porém, parecia se divertir com aquela situação.
__Sabe, seu julgamento foi marcado para depois de amanhã __Lisa estremeceu no fundo da cela e Chamberlain abriu um largo sorriso__ Já pensou como vai ser daqui a dois dias quando você estiver de frente para a Suprema Corte sendo sentenciada a habitar essa masmorra pelo resto da vida sabendo que Gaya não poder fazer nada pela sua protegida?
Lisa não respondeu. Sua vontade era de gritar de dor e de chorar por pensar que poderia passar a eternidade naquele lugar.
Chamberlain arrumou suas luvas negras na mão e depois sorriu para Lisa.
__Sabe, Gaya quer muito vê-la solta, mas não vai conseguir. As provas são incontestáveis e, ao menos que Gaya possa provar o contrário, você é a assassina de Athus. Seu fim, Lisa, está a menos de dois dias, não se esqueça!
E virando-se com um sorriso sombrio no rosto, Chamberlain deixou o corredor. Lisa, por sua vez, não agüentou segurar mais e chorou por tudo aquilo que estava acontecendo. Lágrimas escorreram em seu rosto. Lágrimas de medo de permanecer trancafiada naquela masmorra e lágrimas de ódio. Max acabara com sua vida!
Uma fina chuva caía sobre os castelos da Fonte Phoenix quando Louise estava na biblioteca do Castelo dos Bruxos, coberta por duas pilhas de livros, tentando encontrar algo sobre o Olho do Milênio e sobre o possível benefício que ele poderia trazer para Gorgon.
Louise estava na biblioteca desde a hora em que voltara de Azgrah. A garota chegou na Fonte Phoenix e logo arrastou Dan, Zig e Cliffe para a biblioteca. Lá, Louise contou sobre o pesadelo de Lisa e sobre o Olho do Milênio. Desde então, os quatro permaneceram na biblioteca afundados em livros de quase duas mil páginas.
__Não adianta, Louise __exclamou Dan fechando o qüingentésimo quadragésimo sétimo livro que ele pesquisara__ Não encontrei nada. Nem se quer há alguma citação sobre o Olho do Milênio ou sobre essa tal de Profecia do Milênio!
__Continue procurando Dan __disse Louise abrindo seu milésimo ducentésimo trigésimo sexto livro__ Deve haver alguma coisa em um desses livros. Se o livro de Athus tinha, porque os outros não vão ter?
__Então, se o livro de Athus tem, porque estamos procurando em outros livros?
__Simplesmente porque o Olho do Milênio é apenas citado no livro como uma das obras de Nostradamus. Não há nada sobre ele no livro inteiro!
Dan pegou um livro de capa peluda entre alguns livros esparramados e abriu-o na página onde havia um desenho de um velho que segurava uma esfera de cristal na mão. Dan passou os olhos sobre o pequeno texto que havia no canto direito do livro e depois o fechou, convencido que o Olho do Milênio fora apenas citado.
__Louise, está tarde. Olha só, Zig e Cliffe até adormeceram __ em cada lado de Louise havia duas pilhas de livros ao qual, atrás de cada uma, Zig e Cliffe roncavam sonoramente__ Amanhã voltaremos a procurar, prometo!
__Amanhã pode ser tarde demais, Dan!
Se amanhã era tarde demais, Dan não sabia. O que importava agora era o ponteiro do relógio da biblioteca que apontavam para dois pontos estranhos na parede. Dan sabia que já tarde da noite e que seria perigoso se eles continuassem na biblioteca. Desmond poderia aparecer a qualquer hora e...
BUM!
Um grande barulho veio do fundo da biblioteca como se algo estivesse derrubado alguma prateleira de livros. Com o barulho, Zig e Cliffe pararam em pé num pulo só; Dan caiu para trás e Louise virou-se para as prateleiras para ver o que havia acontecido.
__O que foi isso? __perguntou Zig de olhos arregalados.
__Será que é Desmond?
__Não seja idiota, Cliffe, não é Desmond __repreendeu Louise levantando-se e andando na direção do barulho__ Se fosse Desmond, teria entrado pela porta e o barulho teria sido pior!
Louise atravessou a biblioteca e foi para o fundo da sala onde uma prateleira de livros estava caída no chão. Entre a pilha de livros espalhados por todos os lados, algo se debatia tentando livrar-se da prateleira que estava caída sobre ele.
De repente, a prateleira flutuou no ar e caiu num grande estrondo a dois metros da pilha dos livros. Zig, Cliffe, Dan e Louise deram um pulo para trás e hesitaram em se aproximar.
Quando todos menos esperavam, uma criaturinha acinzentada saiu dentre a pilha de livros e surgiu a luz dos archotes da biblioteca.
__Düblin! __espantaram-se todos em uníssono.
Düblin estava sério e assustado. Em sua expressão havia um tom de medo e angústia.
__Que bom que Düblin conseguiu encontra-los! __disse Düblin com sua vozinha fraca e levemente aguda__ Düblin não é muito bom em tele-transportes...
__Düblin, o que você está fazendo aqui? __perguntou Louise.
__Düblin veio avisa-los da catástrofe que vai acontecer. As sombras cobrirão o céu e Aquele-Que-Retornou tomará Poltergrat no dia do julgamento da Filha do Herdeiro. Sangue inocente será derramado na busca da relíquia que pode trazer os mortos à vida! Lisa, corre perigo!
__Perigo __exclamou Dan__ O que está dizendo Düblin?
__Düblin só está repassando o que Madame Geoffrin viu na bola de cristal. Geoffrin viu Ele retornando daqui dois dias. Traidores de todos os cantos se juntarão a Ele quando a Noite Eterna tomar Aragorn. Vocês precisam impedir que menina Lisa seja julgada, precisam impedir que a vingança se concretize!
__Como vamos fazer isso, Düblin? __perguntou Louise.
__Düblin não sabe dizer. Mas, Düblin acha que medidas extremas devem ser tomadas quando a Filha doHerdeiro corre perigo! Vocês precisam correr contra o tempo, precisam...
A porta da biblioteca se escancarou e uma voz grossa seguida por vários piados de corvos ecoou pelas fileiras de livros.
__Quem está aí?
__É Desmond! __sussurrou Cliffe__ E agora?
__Düblin, o que...
Mas quando Louise e os outros se viraram, Düblin não estava mais dentre a pilha de livros. O Freeguiz havia desaparecido.
__Então foi vocês, vândalos imprestáveis!
__Eu não acredito que Düblin deixou a gente se ferrar sozinhos com o Desmond! __resmungou Zig no dia seguinte enquanto encaminhavam-se para o castigo que o zelador lhes aplicara.
__Düblin não podia ser visto __disse Dan__ Ele não teve escolha, Zig!
Os quatro passaram pelo hall de entrada do Castelo dos Celtas e entraram em um dos corredores que estava apinhado de alunos. Enquanto se dirigiam para a sala onde Desmond os estava aguardando, Louise permanecia em silêncio. A garota estava preocupada com Lisa e com o que Düblin lhe disse na noite passada. Se fosse verdade o que Geoffrin preveu, Lisa corria perigo.
Desmond estava esperando os quatro alunos numa sala cheias de armaduras medievais antigas que estavam desmontadas e empoeiradas. Quando Louise e os outros entraram, o zelador lançou um sorriso sombrio para eles e encaminhou-se para o centro da sala com seus habituais corvos pousados nos ombros.
__Vejo que estão bem dispostos esta manhã __pigarreou Desmond__ Realmente vão precisar de muita disposição. Estão vendo essas armaduras? Estão desmontadas e imundas. Quero que limpem todas elas e depois as montem novamente. Ali no canto tem quatro baldes cheios de água e panos para limparem. Se quiserem ver o pôr-do-sol de hoje, acho melhor começarem, agora!
__Não acredito, aqui deve ter umas duas mil armaduras! __reclamou Zig ao pegar um elmo e começar a limpa-lo depois de olhar feio para Desmond que lia descontraído um exemplar da Folha do Centauro sobre uma mesinha no canto da sala__ Como ele espera que a gente termine antes do pôr-do-sol?
__Isso não faz a menor diferença, Zig __repreendeu Louise__ Estou preocupada agora é com Lisa. Se Düblin estiver certo, Lisa corre perigo. Nós temos que fazer alguma coisa.
__Mas o quê?
__Não sei, Dan.
Desmond resmungou algo no fundo da sala e saiu deixando o jornal e os corvos sobre a mesinha. Do outro lado da sala, Cliffe jogou uma perna da armadura para o lado e correu para a mesinha para pegar o jornal. Quando, porém, levou a mão para pegar o jornal, os corvos voaram sobre Cliffe, bicando e arranhando-o com suas garras.
__Corvos malditos! __disse o Pé Grande minutos depois quando se aproximava de Dan com os braços e o rosto todo arranhado.
__O que tem neste jornal, Cliffe?
Dan tirou o jornal da mão de Cliffe e folheou-o. Com uma expressão assustada, Dan tropeçou em alguns elmos e correu até Louise.
__Veja isso, Louise!
Louise pegou o jornal e estendeu-o. No topo da página havia uma grande fotografia de Lisa acorrentada e sobre a imagem estava escrito:
JULGAMENTO DE LISA TORNER
ESTÁ PREVISTO PARA AMANHÃ
__Dan, é o fim!
__No quê você está pensando, Louise? __perguntou Dan ao entardecer quando retornavam para a Sala Comunal, totalmente encharcados de água.
Louise estava nervosa desde o momento em que lera a matéria sobre o julgamento de Lisa. A garota passara o dia inteiro com a cabeça no ar, limpando armaduras que já haviam sido limpas e torcendo panos que já haviam sido torcidos. Dan nunca vira Louise tão desligada da vida como naquele dia.
__Nós temos que fazer alguma coisa, Dan! __disse Louise, por fim__ Düblin disse que tínhamos que impedir o julgamento de Lisa.
__Mas, o que podemos fazer, Louise? __perguntou Cliffe que os acompanhava com Zig__ Lisa está presa em Azgrah e Gaya não dá as caras na Fonte Phoenix há mais de dois meses!
__Zig está certo, Louise __falou Dan entrando na Sala Comunal e abaixando a voz para que Grump, Gregor e Steven não os ouvissem__ Não podemos fazer nada para ajudar!
__Mas algo tem de ser feito, Dan! __murmurou Louise contendo a voz ao ver Grump esticar o pescoço no canto da Sala Comunal ao ouvi-la__ O problema é que eu não consegui pensar em nada o dia inteiro. Na minha cabeça só vinham as palavras: Olho do Milênio, Lisa, perigo e salva-la. É frustrante!
__Pensando bem, galera __murmurou Cliffe__ se nada for feito, as coisas vão piorar para Lisa.
__Não só para ela, Cliffe __falou Dan__ mas para todos!
A idéia de que as coisas piorariam se Lisa fosse julgada, entrou na mente de Louise e não saiu nem tão cedo. Já era por volta das dez da noite e Louise ainda não tinha tido nenhuma idéia de como impedir o julgamento de Lisa. Sua cabeça dava infinitas voltas em torno do que Düblin lhe disse, aumentando a angústia da garota.
As sombras cobrirão o céu e Aquele-Que-Retornou tomará Poltergrat no dia do julgamento da Filha do Herdeiro. Sangue inocente será derramado na busca da relíquia que pode trazer os mortos à vida! Lisa, corre perigo!
Por um momento, Louise achou que não conseguiria vencer o tempo, pois, segundo a Folha do Centauro, o julgamento seria ao meio-dia do dia seguinte. Faltavam quatorze horas para o julgamento de Lisa e se algo fosse feito, Louise teria apenas oito horas para impedir o julgamento já que a distância entre a Fonte Phoenix e a Ilha das Serpentinas, onde ficava Azgrah, era de quase seis horas de vôo em carruagens. Levando em consideração as seis horas que Chamberlain gastaria para tirar Lisa de Azgrah e leva-la para Poltergrat, Louise tinha apenas duas horas para executar seu plano. Ao pensar nisso, Louise deu um pulo de sua cama e saiu correndo do quarto para a Sala Comunal. Se algo tivesse de ser feito, teria de ser feito agora.
__O quê? __disseram Dan, Zig e Cliffe perplexos ao ouvirem Louise manda-los pegarem os grifos e as Mandrágoras.
__É isso mesmo que ouviram __disse Louise abaixando a voz, pois Peter acabara de descer as escadas__ Nós vamos agora mesmo para Azgrah!
__Mas, o que vamos fazer em Azgrah? __perguntou Dan.
__Vamos salvar Lisa __exclamou Louise lançando um olhar reprovador para Dan.
__Quando diz: salvar Lisa, você quer dizer que vamos invadir Azgrah e tirar Lisa de lá? __perguntou Zig.
__A situação pede medidas extremas! Lisa, não pode ser julgada. Gorgon vai invadir Poltergrat quando Lisa estiver lá. Ela corre perigo!
__Você é louca, Louise! __repreendeu Dan__ Invadir Azgrah? Ninguém jamais conseguiu sair de lá. Azgrah é o segundo lugar mais seguro de Aragorn. Não há chance alguma de libertar Lisa e fugir com as milhares de Sentinelas que protegem aquelas masmorras!
__Exatamente, Dan __disse Louise surpreendendo Dan__ A Fonte Phoenix é o lugar mais seguro que existe e mesmo assim, alguém entrou aqui, matou Christian e Athus e ainda conseguiu fugir com tantos guardiões e Trasgos. Por que não podemos montar uma rebelião contra Azgrah?
__Porque ninguém nunca fez isso, exatamente por saber que é impossível!
__Então seremos os primeiros! Agora, se não quiser ir, Dan, ótimo! Não vai fazer diferença alguma para Lisa. Eu, Zig e Cliffe podemos dar conta do recado.
__Como? __disseram os Pés Grandes em uníssono.
__A menos que não queiram ir também...
Dan e os Pés Grandes ficaram em silêncio.
O plano de Louise era absurdo e irracional. O perigo que eles correriam em tentar libertar Lisa seria muito maior do que o perigo de Lisa ir a julgamento. Porém, a idéia de manterem a amiga longe de qualquer perigo ou de qualquer desejo sombrio de vingança, já lhes dava coragem suficiente para encarar a aventura que os aguardavam.
__Vamos com você __disse Dan__ Acho que talvez assim, meu sentimento de culpa pode desaparecer.
__É, Louise, nós também vamos! __disseram Zig e Cliffe.
__Lisa é nossa amiga e se ela corre perigo, estamos todos juntos! __disse Cliffe.
__Certo, rapazes, não podemos perder tempo. É hora de entrar em ação!
As nuvens negras cobriam o céu sobre a Fonte Phoenix prometendo mais um final de noite chuvosa. No alto de uma das torres do Castelo dos Bruxos, a luz dos furiosos raios iluminava o rosto de Louise, que preparava as coisas para partirem para Azgrah. Após pegar uma capa escura, a varinha e a espada de Lisa, Louise deixou o quarto e encaminhou-se para o portão de saída para o bosque das ninfas, onde Dan e os Pés Grandes a esperariam. No entanto, quando Louise passava pelo hall de entrada do castelo, Grump, Gregor e Steven surgiram de trás de um dos pilares e pararam-na.
__Grump!
__Onde pensa que vai, Louise?
Os grifos e duas Mandrágoras estavam amarrados em árvores a espera de Louise para partirem. Sentado sobre uma pedra coberta por musgos, Dan estava preocupado com a demora de Louise. Já fazia mais de meia hora que os animais estavam prontos e Louise ainda não dera as caras no bosque das ninfas.
Entretidos com um bando de morcegos que voavam de um lado para o outro, os grifos não pareciam se importarem com o fato de estarem amarrados a tanto tempo. De volta em meia, Peninha e Garrinha olhavam feios para as Mandrágoras que pareciam retribuir os carinhos de Zig e Cliffe quando brilhavam seus sombrios olhos vermelhos.
Dan já estava pensando em voltar para a Fonte Phoenix para ver o que tinha acontecido com Louise quando passos foram ouvidos e a garota surgiu entre a escuridão infinita do bosque com sua capa nos braços.
__Me desculpem pela demora, mas, encontrei reforço!
Louise virou-se para trás e Grump, Gregor e Steven saíram da escuridão segurando suas capaz de viagem.
__O que eles estão fazendo aqui, Louise?
__Grump e os rapazes vão nos ajudar, Dan.
__O quê? __disseram Dan, Zig e Cliffe.
__Precisaremos de ajuda em Azgrah e quanto mais gente for, melhor.
__Você não pode estar falando, sério, Louise! __disseram Zig e Cliffe.
__Ela nunca falou tão sério na vida __exclamou Grump se aproximando__ Nós vamos por Lisa, porque nos salvou daquele ataque. Devemos isso a ela. Agora, se fosse você, Horcliffe, eu os rapazes faríamos questão de que apodrecesse naquele lugar!
__Seu!
Dan esticou o dedo indicador e apontou-o para o queixo de Grump. De súbito, uma faísca de luz surgiu e se manteve acesa, para surpresa de Dan.
__Dan, seus poderes voltaram! __exclamou Cliffe.
__Estava sem poderes, Horcliffe? __perguntou Steven.
__Não é da sua conta!
__Por falar em poderes, __disse Zig__ vocês também perderam eles, não perderam?
__Não tenha tanta certeza disso, Pé Grande! __disse Gregor abrindo a mão e fazendo com que uma bola de fogo surgisse.
__Nossos poderes voltaram ontem ao anoitecer __disse Steven fazendo com que um raio brilhasse no lugar de sua pupila.
__Vamos deixar esse assunto para trás. Acho melhor partimos __disse Louise__ a viagem será longa e a fuga será cansativa e muito perigosa!
Louise e os outros deixaram o bosque e partiram para o canto do penhasco onde os grifos esperavam com mais quatro Mandrágoras, duas delas acabaram de pousar ao lado das outras que estavam amarradas.
__Vamos nessas coisas? __perguntou Grump encarando os olhos vermelhos das Mandrágoras.
__O que você esperava? Carruagens?
__Parece com isso, Dan __repreendeu Louise__ Teremos que trabalhar juntos... Mas, está sobrando uma Mandrágora!
__Não, Louise __disse Cliffe__ não está sobrando. Está faltando!
__Não, Cliffe. Está sobrando porque eu e Dan vamos no Peninha, você e Zig vão no Garrinha, Grump, Gregor e Steven vão em cada Mandrágora, o que faz sobrar um animal!
__Não vai sobrar porque eu também vou!
Todos viraram-se e viram Peter surgir atrás de uma árvore segurando sua varinha e uma capa de viagem pendurada ao braço.
__Não, não, não! __disse Louise indo até Peter__ Você não vai, Peter!
__Sei o que vai dizer __disse o rapaz__ Vai dizer que sou um imprestável e que só vou atrapalhar vocês. Mas não se esqueça, Louise, que Lisa também é minha amiga e prometi no inicio do ano que a ajudaria no que fosse preciso!
Peter estava certo. Louise não podia contestar o que o rapaz dissera. No inicio do ano, Lisa realmente havia permitido que Peter lhe ajudasse. Segundo ela, o rapaz poderia ajudar, mesmo sendo tão atrapalhado.
__Está certo. Fique com a outra Mandrágora!
Louise abaixou o olhar para Peter e voltou-se para os animais. Com um breve movimento da varinha, uma luz perolada surgiu na ponta e segundos depois se dispersou na direção dos olhos dos animais. De súbito, um desenho perolado de um castelo de torres pontudas e finas surgiu nos olhos das Mandrágoras e dos grifos.
__Como souberam que íamos libertar Lisa? __perguntou Cliffe para Peter, Grump e os outros.
__Ouvi Louise na Sala Comunal __disse Peter.
__Nós também.
Dan amarrou a cara para Louise e foi soltar Peninha. Enquanto isso, Louise virava-se para os outros.
__Estamos prontos para partir. Vistam suas capas de viagens. Um Feitiço de Impermeabilidade foi lançado sobre os animais. Quando montarmos neles, receberemos o feitiço também. Será uma proteção se caso o tempo não ajudar __Louise olhou para o céu coberto de nuvens e voltou-se para os animais__ Vamos, não podemos perder tempo.
Dan subiu no Peninha e ajudou Louise a montar no grifo. Ao lado deles, Zig e Cliffe montaram no Garrinha e os outros, nas Mandrágoras.
Após uma empinada, os animais embalaram-se numa corrida até a ponta do penhasco onde abriram as asas e decolaram sobre o mar, subindo, em seguida, para o alto das nuvens tempestuosas que se preparavam para uma tempestade.
O tempo tempestuoso não apresentava ser um empecilho enquanto estivessem sobre o Reino da Fênix. No entanto, quando passaram a sobrevoar o Mar Thorhand, uma tempestade pegou os sete de surpresa e atrasou um pouco a viagem. Para a infelicidade de Louise as nuvens pareciam se intensificar cada vez mais quando se aproximavam da Ilha das Serpentinas. As grossas nuvens e os poderosos raios estavam tornando a aventura muito perigosa antes mesmo de chegarem a Azgrah. Mas, nem assim, Louise iria desistir de libertar Lisa numa rebelião, que se desse certo, entraria para a história de Aragorn.
Há alguns quilômetros de onde Louise e os outros estavam, Lisa tentava dormir com a atormentante idéia do julgamento invadindo sua cabeça, tirando-lhe o sono e fazendo-a passar o resto da madrugada em claro.
O dia já estava amanhecendo com uma fina chuva caindo do lado de fora da masmorra quando Lisa finalmente conseguiu dormir. Não era um sono tranqüilo, pois pesadelos envolvendo a Suprema Corte lhe perturbavam a cada instante, sonho por sonho. Mal imaginava Lisa que a alguns metros dali, pessoas se preparavam para tira-la daquele inferno.
Louise e os outros pousaram num pequeno bosque no litoral da Ilha das Serpentinas quando a chuva finalmente parecia dar trégua. Ao descer do Garrinha e ver o sombrio castelo que surgia no alto de um fino morro que mais parecia ser um penhasco ao longe, Cliffe estremeceu e virou-se para Louise.
__Aquela é Azgrah?
__Agora entendo porque mamãe não queria que a gente viesse visitar Lisa __exclamou Zig ao ver Louise confirmar a pergunta do irmão.
__Qual é o plano, Louise? __perguntou Dan tirando a capa e olhando para as nuvens que giravam em torno das torres de Azgrah.
__Que plano?
__O quê? __disseram todos de queixo caído.
__Você não bolou um plano? __perguntou Dan.
__Não.
__Só que me faltava! __exclamou Grump.
__Louise, não podemos entrar em Azgrah sem sermos visto se não tivermos um plano! __disse Dan não dando atenção a Grump.
__Sei que não, mas, a situação exigia medidas extremas e uma rebelião foi à única coisa que veio a minha cabeça __disse Louise passando por Dan e parando para observar Azgrah__ Mas se querem um plano, farei um. Agora ouçam. Estão vendo sair água daqueles buracos na parte inferior do castelo? Bem, aquilo lá é uma rede de esgoto...
__Não está pensando que vamos...
__Entrar por lá? Porque não? __completou Louise virando-se para os outros__ A rede de esgoto abrange todas as masmorras de Azgrah. Se entrarmos por lá, conseguiremos penetrar no castelo sem sermos visto. É claro que não será necessário que todos entrem. Precisarei que dois ou três vá comigo. Os outros ficarão de vigília do lado de fora. Alguns atentos ao que possa acontecer e outros atentos quando Lisa conseguir sair. Quando isso acontecer, vocês devem estar com os animais prontos para pegar Lisa e vazar fora daqui, para o mais longe possível, ouviram?
__E se pegarem um de nós? __perguntou Peter.
__Se caso isso acontecer, teremos que voltar outra hora para liberta-lo também!
Peter e os Pés Grandes engoliram em seco e trocaram olhares. Já Dan, Grump, Gregor e Steven, pareceram mais dispostos do que nunca.
__Certo, e quem vai com você, Louise? __perguntou Grump.
__Bom, acho que devemos formar equipes. Eu, Gregor e Peter __Louise disse o nome de Peter com total desprezo que o rapaz se encolheu atrás de Cliffe__ entraremos pelo esgoto. Dan, Grump e Zig ficam escondidos nesse bosque montados nos animais e Cliffe e Steven vão ficar de vigília na entrada dos esgotos. Se algo der errado, vocês deverão entrar nas masmorras e libertar Lisa por nós. Alguma dúvida? Não? Certo rapazes, chegou a hora, a rebelião vai começar!
Armados com as varinhas e com os dedos prontos para lançaram feitiços, Louise, Peter, Gregor, Cliffe e Steven entraram no bosque atentos a qualquer movimento estranho. Segundo as lendas sobre a Ilha das Serpentinas, o local era infestado das mais perigosas serpentes que Aragorn possuía. Mas, para surpresa de todos, nenhuma serpente foi vista e nada o atacou.
Os cinco deixaram o bosque minutos depois e subiram para o alto do morro em forma de penhasco escondendo-se atrás dos rochedos que cobriam os paredões da erosão do relevo acidentado do lugar. Algumas horas mais tarde, Louise estava a menos de um quilômetro do castelo. A proximidade com as masmorras implicava uma maior presença de Sentinelas que davam vôos rasantes cada vez mais próximos aos rochedos, aumentando ainda mais o perigo da aventura.
Encostados numa parede de pedra e andando sobre uma mínima passarela de terra por trás de uma das masmorras de Azgrah, os cinco tentavam alcançar a saída do esgoto que estava a menos de cinqüenta metros deles. Mesmo estando tão próximos do esgoto, a travessia do paredão de pedra não era tão fácil quanto Louise pensava ser. Se caso a pequena passarela de pedra cedesse todos morreriam ao cair do ponto mais alto do penhasco. Olhar para baixo e ver o abismo que se projetava sob os pés de todos eles, era algo tão temido quanto à presença das Sentinelas que submergiam das nuvens tempestuosas e voavam a poucos metros do grupo.
Louise, Gregor e Steven atravessaram o paredão de pedra e pularam para dentro da saída do esgoto. Em seguida, tremendo feito uma vara verde, Cliffe pulou e por um triz não caiu no abismo. Peter era o único que estava para trás. O rapaz detestava altura e dava passos mínimos.
__Vamos, Peter! __gritou Cliffe.
Mas Peter não tinha muita vontade de ser rápido. Quando seus olhos abaixaram e viram uma pedra desprender-se e cair no abismo, o rapaz grudou seu corpo no paredão e fechou os olhos.
O vento não parecia ajudar Peter. Ele vinha do lado contrário e empurrava Peter para o lado, fazendo com que o rapaz se desequilibrasse sobre a pequena estradinha de terra. A tensão do rapaz aumentou quando o vento soprou mais forte e um de seus pés escorregou. Louise segurou a respiração e Peter segurou a boca para não gritar e estragar o plano dos amigos.
Agarrando o paredão áspero de pedra, Peter virou de posição e seguiu com o rosto colado a rocha fria e lisa.
__Vamos, Peter, só mais um pouco! __disse Louise se arrependendo de te-lo deixado vir.
Peter deu dois passos e uma estranha sensação tomou conta de todos. Eles olharam para os lados e viram toda a rocha negra ficar acinzentada. Para desespero de todos, uma Sentinela estava se aproximando.
__Peter, não se mexa!
Louise e os outros correram para dentro do esgoto e Peter permaneceu imóvel com o rosto colado na pedra. De súbito, um vento repentino passou por trás de Peter. O rapaz abriu os olhos e viu ao longe a barra do longo pano negro que cobria a Sentinela desaparecer sobre o penhasco. Soltando um suspiro de alívio, Peter deu mais alguns passos e, fechando os olhos, pulou para dentro do esgoto.
__Muito bem, agora escutem: Steven e Cliffe fiquem aqui. Se algo der errado, mandarei um sinal para vocês e, se nós conseguirmos libertar Lisa, vocês deverão ouvir uma explosão e esperar que Dan, Grump e Zig venham pegá-los. Ok?
Steven e Cliffe consentiram com um movimento da cabeça e se esconderam no interior do esgoto.
__O que é aquilo? __perguntou Cliffe antes de Louise sair com os outros.
Louise virou-se e viu uma carruagem ao longe se aproximando. A carruagem era puxada por cavalos e negros e não parecia pertencer a nenhum inspetor de Azgrah.
__Quem será? __perguntou Peter.
__Weaslow __disse Louise__ Parece que ele fez questão de vir para levar Lisa para Poltergrat. Vamos, não podemos perder tempo.
Louise, Gregor e Peter deixaram Steven e Cliffe para trás e desapareceram nos esgotos imundos e fedorentos de Azgrah. Os três entraram em uma das encanações e andaram cerca de quinze minutos, tempo em que encontraram uma grade no alto da encanação que dava para ver um dos corredores do castelo.
__Onde será que estamos? __perguntou Peter.
__Não sei __disse Louise olhando pela pequena grade__ Fiquem quietos, lá vem alguém!
Louise e os outros encostaram-se na parede da encanação e ficaram em silêncio. Segundos depois, dois homens passaram sobre a grade.
__Vamos a minha sala My Lord __disse um dos homens__ Lá poderemos resolver esse problema antes de manda-la para Poltergrat.
__Claro.
As vozes distanciaram e Louise voltou a olhar para a grade, agora, apreensiva.
__Eram Chamberlain e Weaslow! __exclamou Peter.
__Parece que eles estavam preocupados com algo. Um problema, talvez com o transporte de Lisa __comentou Steven__ A propósito, porque querem impedir que Lisa vá a julgamento?
__É uma longa história __exclamou Louise__ Agora vamos. Se eu estiver certa, a sala de Chamberlain fica para lá __apontou Louise para a frente__ o que significa que a cela de Lisa para a nossa esquerda, alguns andares abaixo. Vamos!
Os três entraram na encanação da esquerda e minutos depois tiveram que pular para uma outra encanação, maior e menos apertada. Louise pulou primeiro e caiu em pé sobre o pequeno rio de esgoto.
__Isso que é um verdadeiro rio de merda! __exclamou Gregor após pular e cair em pé.
__Aaaaaahhh!
Louise e Gregor continuaram andando sem darem atenção a Peter que despencara do alto da encanação e caira esparramado sobre a água do esgoto.
__Eu estou bem! __exclamou o rapaz, levantando de um pulo com merda impregnada em suas vestes.
Os três andaram pela grande encanação e depois viraram para a direita em outra encanação, tão pequena que só dava para andar agachado dentro dela. A cada passo que davam, Louise tinha certeza de que estava perto de Lisa. As vozes dos presos gemendo e gritando por comida e água passou a tornasse cada vez mais intensa.
__Devemos estar chegando!
__Como vamos encontrar Lisa, Louise, se não há mais encanações?
__O quê?
Peter estava certo, não havia mais encanações dali para frente. A antiga encanação que havia ali, fora coberta por uma parede de tijolos, certamente por alguma obra envolvendo a rede de esgoto que estivesse sendo construída.
__E agora? __perguntou Steven.
Louise não acreditava que aquilo ali fosse o beco sem saída dela. A garota então, passou os olhos para os lados em busca de alguma encanação ou qualquer outra coisa que pudesse ajuda-los. No entanto, não encontrou nada, exceto uma pequena grade no alto da encanação que mostrava o corredor da masmorra.
__Por ali.
__Você está louca, Louise? Se entrarmos por ali, sairemos no corredor. Podemos ser vistos!
__Vamos correr esse risco!
Louise ergueu as mãos e empurrou a grade para que pudesse subir para o corredor. Após certificar-se de que ninguém estava por perto, Louise subiu e depois ajudou Gregor e Peter a subirem também.
O corredor estava deserto e vagamente iluminado pelos archotes dispostos de dez em dez metros.
__É o corredor que dá aceso a masmorra de Lisa __murmurou Louise__ Se eu estiver certa, há uma escada logo à frente.
Os três então, seguiram pelo corredor e se esconderam rapidamente atrás da parede de um outro corredor quando dois inspetores passaram por eles. Após vê-los desaparecer na escuridão, Louise, Gregor e Peter voltaram para o corredor e seguiram até avistarem as escadas que Louise dissera.
__As escadas da masmorra de Lisa! __exclamou Louise.
Mas antes que Louise pudesse dar um passo a frente, uma voz ecoou ameaçadoramente atrás dela.
__Invasores!
Louise virou-se e viu três inspetores se preparando para atacarem-nos.
__Fomos vistos! __exclamou Gregor.
__Vamos dar cobertura __disse Peter puxando a varinha__ Corre Louise!
Sem pensar duas vezes, Louise começou a correr entre as luzes de feitiços que brilhavam atrás dela e desceu as escadas com um feitiço vermelho que passou por cima de sua cabeça.
Na masmorra escura, Louise correu até o final do corredor e parou em frente à cela de Lisa, encontrando-a agachada no canto da parede.
__Louise?
__Se afaste, Lisa!
Louise girou a varinha e...
__Bombarda!
Uma explosão entortou as grades da cela de Lisa e abriu um enorme buraco para a garota passar.
__O que está fazendo? __perguntou Lisa sem entender o que estava acontecendo.
__Estou fazendo o que Gaya ainda não fez, tirando-a daqui! Agora venha.
Louise agarrou o braço de Lisa e saiu puxando-a entre o corredor cheio de olhos espantados com a explosão que vinham as garotas fugiram.
__Eu gostosa, porque não me tira daqui também? __gritou um preso em uma das celas.
__Gostosa é a filha da p...
__Ah!
Um homem surgiu no topo das escadas e lançou um feitiço contra as duas. Louise e Lisa abaixaram e o feitiço atravessou o corredor e destruiu a parede da masmorra. Quando Louise menos esperou, as Sentinelas que voavam próximas ali, sentiram a explosão e correram para dentro do corredor.
__Expelliarmus!
Louise lançou um feitiço contra o homem e o jogou contra as escadas.
Pulando sobre o homem desmaiado, Lisa e Louise deixaram o corredor e embarcaram no outro corredor apinhado de inspetores que lutavam contra Gregor e contra Peter, que lançava feitiços desordenados por todos os lados.
__Por aqui, Lisa!
Louise avistou um corredor vazio e puxou Lisa para dentro dele. O corredor estava escuro, mas, ao passarem pelos archotes, as tochas se acenderam e o caminho se iluminou o suficiente para que Lisa e Louise vissem as Sentinelas entrarem no corredor e segui-las.
De súbito, uma Sentinela soltou sua corrente e lançou-a contra Lisa. A corrente enrolou na perna de Lisa e a puxou para trás.
__Louise!
__Diffindo!
A corrente se rompeu e Lisa voltou a correr com Louise atrás dela.
As duas viraram para outro corredor e deram de cara com quatro inspetores que lançaram feitiços contra elas. Louise e Lisa abaixaram e viram de relance quatro Sentinelas serem atingidas e jogadas para trás.
Rapidamente, Louise levantou-se e apontou a varinha para os inspetores.
__Petrificus Totalis!
Dois inspetores caíram duro no chão e os outros dois que restaram atacaram-nas, porém, Louise revidou e os fez girar no ar e cair inconscientes no chão.
Enquanto Louise se livrava dos inspetores, Lisa se preocupava com as Sentinelas que vinham em sua direção. Desarmada, Lisa agarrou uma tocha de fogo e jogou-a contra as Sentinelas. Para sua surpresa, duas Sentinelas pegaram fogo e se desintegraram no ar. As outras, diante das chamas que envolviam suas irmãs, deram meia volta e fugiram.
__Como fez aquilo? __perguntou Louise vendo as duas Sentinelas virarem cinzas.
__Não sei, mas, parece que elas têm medo do fogo!
__Ótimo, agora vamos!
Louise puxou Lisa pelo braço e levou-a para uma escada que subia para o segundo andar do castelo. Quando chegaram no segundo andar, as duas viraram para um outro corredor e deram de cara com uma varinha que tinha uma luz acesa na ponta.
__Louise!
Peter e Gregor surgiram entre a luz da varinha com vários arranhões no rosto e aparentemente cansados.
__Vocês nos assustaram!
__Acredite, também, nos assustamos, Louise! __exclamou Peter.
__Pelo visto você conseguiu tirar Lisa das masmorras __disse Gregor__ Que bom, agora podemos sair daqui, antes que os inspetores e as Sentinelas nos encontrem!
__Como chegaram nesse andar? __perguntou Louise voltando a correr pelo corredor
__Gregor incendiou as masmorras e nós fugimos __disse Peter__ Depois encontramos umas escadas e subimos para esse andar.
__Que foi, Lisa?
Louise parou. Lisa parecia estranha, cansada e sem forças para continuar.
__Estou fraca. Passei dois meses e meio tendo uma refeição por dia. Como acham que vou conseguir acompanha-los depois disso tudo?
__Impedimenta!
__Abaixa Lisa!
Vários homens seguidos por centenas de Sentinelas surgiram no corredor e atacaram os quatro. Louise pulou sobre Lisa e o feitiço atingiu Gregor, fazendo o rapaz ser arrastado até chocar-se contra a parede.
__Expelliarmus!
Peter ergueu a varinha e apontou para os inspetores. Um deles foi desarmado e os outros atacaram de uma vez só.
__Burgus! __gritou Louise e instantes depois, um escudo prateado impediu que os feitiços os atingissem.
Rapidamente, Louise ergueu-se e apontou a varinha.
__Millória!
Um fantasma de luz surgiu e chocou contra os inspetores, arrastando-os até desaparecerem de vista. As Sentinelas, no entanto, desviaram-se do feitiço e vieram numa grande velocidade na direção dos quatro.
__Fujam! __gritou Gregor caído no chão__ Eu cuido delas!
__Não, você está ferido! __disse Lisa.
__Posso me cuidar sozinho! __berrou o rapaz que tinha os olhos flamejando.
__Então, escute, Gregor __disse Louise__ Descobrimos que as Sentinelas não suportam o fogo!
__Ótimo! Agora vão.
Lisa, Louise e Peter embarcaram pelo outro corredor e desapareceram de vista deixando Gregor erguendo-se do chão com seu corpo virando chamas. Quando as Sentinelas finalmente se aproximaram do rapaz, Gregor abriu os braços e as chamas que envolviam seu corpo se dispersou pelo corredor, envolvendo as Sentinelas e reduzindo-as a cinzas.
Lisa, Louise e Peter corriam pelo corredor quando as janelas estouraram e centenas de Sentinelas surgiram, lançando suas pesadas correntes contra os três para captura-los.
__Incêndio!
Uma bola de fogo lançada por Louise atingiu uma Sentinela e destruía. As outras, no entanto, não se intimidaram e continuaram a persegui-los.
Os três, então, apressaram os passos e viraram para outro corredor. No entanto, depararam-se dezenas que inspetores que se aproximavam.
__Estamos cercados __disse Peter__ E agora?
__Só temos uma solução!
Louise olhou para a parede a sua frente e sem pensar duas vezes girou a varinha e apontou.
Dan, Zig e Grump já haviam percebido o estranho movimento das Sentinelas e se aproximaram com um grifo e duas Mandrágoras de Azgrah. Escondidos atrás de uma moita de arbustos na estrada que levava as masmorras, Dan, Zig e Grump ouviram uma gigantesca explosão e viram uma parede do castelo voar para o ar com uma nuvem de poeira erguendo para o céu. Rapidamente os três rapazes saíram com os animais e foram na direção do castelo.
__Impedimenta! __gritou os inspetores em uníssono.
Louise usou um Feitiço Escudo e virou-se para Lisa.
__Temos que pular!
__Você é louca, vamos morrer!
__Quer ser pega novamente? Então confie em mim. Vamos!
Entre tantos feitiços que eram lançados contra os três, Lisa, Louise e Peter correram para o enorme buraco feito na parede e pularam do alto do castelo, abismo abaixo com os milhares de Sentinelas seguindo-os.
__Daaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnn!!!!!!!!!! __berrou Louise enquanto despencava.
Enquanto despencava no abismo, Lisa pensava que seria seu fim, mas antes que a morte lhe fosse tão real, algo passou por debaixo dela e a agarrou. Quando Lisa percebeu, estava montada sobre Peninha, grudada em Dan.
__Bem vinda a bordo! __disse Dan.
Lisa abriu os olhos e viu Dan segurando-a com uma das mãos para que ficasse montada sobre o grifo e, com a outra mão, guiando Peninha sobre as torres finas e pontudas de Azgrah.
De dentro de uma das salas do castelo, Chamberlain e Lorde Weaslow ouviram a explosão e correram para a janela. Ao encostarem os narizes nas janelas, Peninha passou voando frente a torre com Lisa e Dan montados sobre eles. Nesse mesmo instante, a porta da sala se abriu e Lyon entrou ofegante.
__Senhor, uma fuga em massa!
Escondidos na entrada de um dos esgotos, Steven e Cliffe viram Grump pegar Louise com a Mandrágora e desaparecer entre as nuvens. Os dois rapazes trocaram olhares e voltaram a se esconder. Deveriam esperar mais um pouco até que viessem pegá-los.
__Louiseeeeeeeeeee!!!
Louise acabara de ser pega por Grump quando vira Peter cair no abismo. Zig veio em seu socorro, mas três Sentinelas o derrubaram de cima da Mandrágora e o prenderam. De súbito, Louise entrou em pânico. Se ninguém pegasse Peter, ele iria morrer. Mas antes que pudesse mandar Grump voltar e salvá-lo, as Sentinelas mergulharam no ar e capturaram Peter antes que ele se chocasse contra uma rocha.
Louise não tivera tempo para se sentir aliviada. Os milhares de Sentinelas que rodavam em torno de Azgrah, passaram a segui-los assim como a Dan e Lisa também.
Grump puxou as rédias da Mandrágora e fez-la mergulhar entre as torres e sobrevoar os castelos. Enquanto tentava fugir, Louise lançava feitiços para todos os lados.
Assim que desviaram de uma torre, várias Sentinelas entraram na frente da Mandrágora e lançaram suas correntes. As asas das Mandrágoras foram presas elas correntes e, no impulso da captura, Grump e Louise despencaram do alto. Grump caiu sobre o telhado de uma torre e escorregou até ficar preso pelas vestes por uma ponta de uma estátua em uma das janelas da torre.
Já Louise, despencou até ser pega pelas mãos murchas de uma Sentinela que a levou na direção da entrada de Azgrah. Antes, porém, que Louise fosse levada para dentro de Azgrah, a garota puxou sua varinha e apontou para a cabeça da Sentinela. Um feitiço foi lançado e a Sentinela soltou Louise.
Louise caiu em direção ao chão e usou um feitiço para amortecer a queda. No entanto, ela estava muito próxima do chão e o feitiço pouco ajudou. Louise bateu contra o chão e rolou até a beira da carruagem de Weaslow.
No alto das nuvens, o grifo de Dan tentava se desviar das Sentinelas que saíam dentre as nuvens e os cercava. Peninha desviou delas e atravessou uma nuvem. Ao atravessarem a nuvem, um raio riscou o céu e atingiu várias Sentinelas.
O grifo desviou de duas Sentinelas que lançaram correntes contra ele e depois mergulhou dentro de uma outra nuvem. No entanto, antes de fazer o mergulho, vinte Sentinelas surgiram em uma espiral negra e lançaram suas correntes.
As correntes prenderam as garras do grifo e o puxaram para trás. Dan e Lisa saíram de cima do animal e caíram entre as nuvens tempestuosas e a espiral de Sentinelas.
__Nããããããããoooooooooooo!!!!!!!!!!!! __gritou Lisa que caiu entre uma nuvem que se assemelhava a um gigantesco rosto. A nuvem espalhou-se e algo semelhante a um par de olhos e uma boca surgiu. Lisa atravessou a nuvem e caiu para o abismo.
Em terra firme, Louise levantou-se toda contorcida e ferida pelo tombo. Ao erguer sua cabeça para o alto, Louise deparou-se com Lisa caindo na direção do penhasco.
__Lisaaaaaa!!!!!
Sem saber o que fazer, Louise pegou sua varinha e ergueu para o céu. Mas, antes que pudesse pronunciar algum feitiço, um homem surgiu por trás dela e murmurou:
__Sonólens!
De repente, as pálpebras de Louise ficaram pesadas e seu braço não suportou o peso da varinha. Sentindo seu corpo desmoronar numa terrível fraqueza, Louise caiu de joelhos no chão e, antes que pudesse desmaiar, viu Lisa cair no penhasco e uma varinha, erguer-se no ar. Em seguida, a visão de Louise escureceu ao mesmo tempo em que uma voz murmurava atrás dela.
__Aresto momentu!
A Suprema Corte
Em uma sala apertada e vagamente iluminada por alguns archotes pendurados a parede, Dan, Zig, Cliffe, Peter, Grump, Gregor e Steven, estavam afastados uns do outro observando Louise que dormia tranqüilamente sobre uma maca. A sala não possuía móvel algum, exceto um espelho vertical encostado a uma parede que refletia os rostos amargurados dos rapazes e os olhares distantes de cada um.
Sobre a maca, Louise parecia viajar numa profunda sonolência que não se quebrava facilmente. Seu rosto, ferido e adormecido, era observado por Dan que mantinha uma expressão vazia e distante. Quando seus olhos desviaram-se de Louise por um instante, a garota abriu os olhos e pulou de cima da maca, assustada e ofegante.
__Onde está Lisa? O que aconteceu com ela?
__Calma, Louise __disse Dan__ Lisa está bem. Lorde Weaslow a salvou e...
__O que aconteceu, Dan? __perguntou Louise nervosa ainda sentindo suas pálpebras pesarem sobre os olhos.
Dan hesitou. Suas cordas vocais pareceram retorcer e sua boca se trancou ao pensar no que iria dizer. Mas, ao fundo da sala, Peter murmurou tristemente.
__Levaram Lisa para Poltergrat!
Louise estremeceu e cambaleou para trás. Dan correu até ela e a segurou.
__Levaram ela, Dan? Não podem ter feito isso!
__Mas fizeram, Louise!
__Há quanto tempo eles saíram?
__Há umas cinco horas, imagino.
__Cinco horas? Esse tempo todo eu estive... adormecida?
__Sim. Mas não foi sua culpa __disse Dan levando Louise para a maca__ Weaslow lançou uma sonolência sobre você antes de salvar Lisa. Parece que eles a querem mais viva do que morta!
Louise encostou-se a maca e passou os olhos pela sala. Grump, Gregor e Steven se juntavam a uma das janelas; Peter estava encostado na parede e os irmãos Pés Grandes, sentados no chão com as mãos na cabeça. Por alguns segundos, os olhos de Louise observaram a estranha sala vazia e o espelho encostado à parede.
__Onde estamos?
__Azgrah!
__Sim, mas, me refiro a esta sala!
__Depois que Weaslow salvou Lisa, Chamberlain nos prendeu e mandou que fossemos levados para as masmorras, mas, alguém mudou de idéia e nos trancou nesta sala do terceiro andar.
__E, __disse Louise virando-se para Cliffe e Steven__ o que aconteceu com vocês? Como foram pegos?
__As Sentinelas nos encontraram __murmurou Cliffe.
__Ficamos escondidos, como o combinado, mas, tivemos o azar de sermos vistos! __disse Steven.
As pálpebras de Louise ficaram pesadas e mais uma vez ela cambaleou para sobre a maca. Ao encostar-se a ela, Louise sentiu três objetos pontudos nos seus bolsos. Ela colocou a mão no bolso e tirou duas varinhas, uma de madeira e outra dourada; e uma minúscula espada dourada.
__Nossas armas... não as prenderam __exclamou Louise espantada ao ver sua varinha, a varinha e a espada reduzida de Lisa__ Porque não as prenderam?
__Se quiséssemos fugir __disse Peter erguendo sua varinha e girando-a entre os dedos. A varinha deu dois giros entre os dedos e depois caiu no chão lançando uma bola de luz que passou a poucos centímetros da cabeça de Gregor e depois saiu pela janela, desaparecendo de vista no horizonte__ até que poderíamos, __Peter pegou a varinha sem graça e guardou-a evitando olhar para Gregor que lançava chamas pelo nariz__ mas, há muitas Sentinelas lá fora e, não queremos ser pegos novamente.
Louise baixou os olhos e fitou algo sem importância no chão escuro da sala. Seu plano de fuga havia falhado e agora, Lisa estava em Poltergrat a poucos instantes de ser julgada e...
__Gorgon! __gritou Louise desesperada lembrando-se do aviso de Düblin__ Temos que ir para Poltergrat e...
__Louise, não podemos __disse Dan__ Estamos em Azgrah. Nunca conseguiremos chegar a tempo...
__... impedir o julgamento. Temos que salvar Lisa! __exclamou Louise parecendo não ouvir Dan.
Apesar da tentativa de Dan de dizer a ela que não adiantaria sair de Azgrah, já que estavam detidos, Louise atravessou a sala e dirigiu-se a porta. De súbito, a porta se abriu e um homem magricela surgiu apontando sua varinha para ela.
__Fiquem onde estão!
Poltergrat era uma grande cidade com casas de pedras que ladeavam um gigantesco lago de águas cristalinas, onde, no centro havia um imponente castelo sombrio, a cede da Ordem dos Lordes.
O céu enfim estava limpo e a luz do sol penetrava os gigantescos vitrais da Ordem, iluminando um tribunal cheio de homens vestidos de preto que, de trás para os vitrais, estavam sentados sobre suntuosas cadeiras de carvalho.
O tribunal era uma grande sala redonda cercada por armaduras medievais e por sete estátuas de homens apoiados em suas espadas, no alto do recinto, que pareciam direcionar seus olhares para a tribuna dos Lordes. As estátuas formavam as colunas e davam ligação com o teto em forma de abóbada.
No centro da sala e sobre os olhares dos Lordes que saíam de uma pequena porta dentre a fileira de cadeiras, Lisa estava sentada sobre um banco de três pernas dentro de uma espécie de gaiola humana vigiada por quatro homens armados com espadas, dois em cada lado da gaiola.
De cabeça baixa, Lisa fitava as grossas correntes que mais uma vez apertavam seus pulsos. Seus pensamentos estavam voltados para Louise e os outros, já que agora estavam presos em Azgrah por terem tentado liberta-la. Nessa altura do tempo, Lisa já não se preocupava mais com seu julgamento. O que iria acontecer com Louise e os rapazes era algo mais preocupante e, de certa forma, provocava um certo remorso na garota.
Era inegável que Louise e os rapazes foram presos por causa dela. Se Lisa não estivesse sendo acusada de um assassinato que ela não cometera, Louise não teria tentado aquela fuga e agora poderia estar gozando de sua liberdade. Mais do que nunca o sentimento de culpa afastou o temor de ficar frente a frente com cem Lordes que decidiriam o que deveria ser feito com Lisa.
A grande porta do tribunal se abriu e Alan Hart entrou com Maya e Felton em seu calcanhar. Ao ver que Lisa já estava no tribunal, Hart atravessou a sala desenrolando um gigantesco rolo de pergaminho de quase três metros e encaminhou-se tropeçando no pergaminho na direção de onde a garota estava. Antes, porém, que Hart pudesse se aproximar da gaiola ou fazer alguma pergunta, um dos guardas, ao lado de Lisa, o embargaram e Alan Hart teve que dar meia volta e se afastar para um dos cantos do tribunal.
A porta se abriu mais uma vez e Lisa viu, entre os insistentes flashes da máquina fotográfica de Robbie Felton, um rapaz moreno de cabelos negros compridos até o ombro, de barba baixa e de bela fisionomia surgir entre o portal do tribunal. Ao vê-lo entrar, Lisa se remexeu dentro da gaiola e seguiu a figura de Max subir para as escadas de pedras, que formavam o auditório, e sentar-se de frente para ela. Sem mover nenhum músculo do rosto, Max fitou Lisa e por um breve instante os dois se entreolharam.
Lentamente, Lisa sentiu seus punhos se fecharem e uma fúria descomunal germinar em seu interior. Depois de dois meses e meio, finalmente os dois estavam frente a frente. Lisa prestes a ser julgada e Max, prestes a ver seu triunfo se concretizar. Naquele instante, à vontade de Lisa foi de arrebentar as correntes que a prendiam e voar para fora daquela gaiola humana para devolver a Max todo o mau que ele lhe fizera durante o ano.
Max, por fim, desviou os olhos de Lisa e virou-se para a porta. Lisa acompanhou-o e viu Gaya, Godric, Hariph e Tom entrarem. Tom lançou um olhar penoso para Lisa e depois se dirigiu para o lado oposto do auditório onde Max estava, sendo seguido por Hariph que se manteve inexpressivo e distante. Gaya e Godric, por sua vez, vieram até Lisa e pararam ao lado dela. Godric balançou a cabeça para Lisa como se quisesse dizer que tudo daria certo e Gaya, porém, ficou ereto e não virou-se para ela.
Ao ver Gaya, pela primeira vez depois de dois meses e meio, ereto e sem olhar para ela ao seu lado, Lisa sentiu seu ódio voltar a aflorar na pele. Lisa ainda não conseguira se conformar com o estranho fato de Gaya não tê-la visitado em Azgrah e de não ter cumprido com a promessa de que a libertaria. O silêncio do príncipe era atordoante e só aumentava a raiva interior de Lisa.
__Está tudo bem?
__O quê? __perguntou Lisa surpresa ao ouvir Gaya lhe dirigir a palavra.
__Perguntei se está bem __disse Gaya sem ao menos virar o rosto para ver Lisa.
Como posso estar bem presa numa gaiola?
A vontade de Lisa foi de gritar aos quatro ventos e por sua fúria para fora, mas antes, porém, que a garota movesse seus lábios, Gaya a surpreendeu.
__Foi o que pensei! __disse Gaya fitando os Lordes que enfim acabavam de ocupar seus lugares.
Lisa ficou imóvel onde estava. Não sabia o que dizer diante das palavras do príncipe. Como ele sabia o que ela pensou? Gaya sabia ler pensamentos?
__Acredito que Louise lhe disse que tenho uma carta escondida na manga __murmurou Gaya fazendo um sinal com a cabeça para Magnum Darkness que acabara de entrar__ Receio que, diante dos últimos acontecimentos __Gaya fez uma pausa como se quisesse que Lisa entendesse que ele desaprovava a tentativa de fuga__ terei de usa-la.
Lisa ficou observando Gaya. Tentava imaginar o que ele queria dizer com “uma carta escondida na manga”. Seria provável que depois desses dois meses longe da Fonte Phoenix, Gaya tenha encontrado algo que pudesse provar a Ordem que Gorgon havia sido libertado e que ele era o mandante de todos os assassinatos. Mas, porque Gaya demorou dois meses e meio para conseguir essa “carta na manga”?
Sem obter resposta alguma, Lisa virou-se para Darkness, que dava uma entrevista para Hart num canto do tribunal e teve sua visão ofuscada pelos flashes da máquina fotográfica de Felton. Depois que sua visão voltou ao normal, Lisa percebeu que ela não era a única que se incomodava com os flashes. Martius Godric também não parecia muito satisfeito com as estrelinhas que rodavam em torno do seu globo ocular.
Dois homens postos à frente da bancada dos Lordes, vestidos exageradamente com vestes vermelhas, ergueram as trombetas que seguravam e fizeram um pequeno toque. Lisa virou-se para frente e viu a figura de Neville Chamberlain sair pela porta, de onde os Lordes saíram, e ficar parado em pé em frente a um altar vertical de pedra. Em seguida, os Lordes ficaram de pé e um homem de expressão carrancuda surgiu dentre a porta e dirigiu-se para o altar.
Entrementes, Robbie Felton aproximou-se do centro do tribunal com sua máquina fotográfica e começou a tirar fotos de Lisa. Godric abriu os olhos, depois de ficar ofuscado, e virou-se para Felton. Após fazer um singelo movimento com a mão direita, a máquina de Felton explodiu e uma nuvem de fumaça subiu para o alto.
Sem dar atenção a explosão da máquina e a expressão fumegada do elfo ratazana, Lorde Weaslow apoiou-se sobre o altar de pedra e disse:
__Esta Suprema Corte se reúne para julgar e condenar a ré Lisa Torner pelos atos praticados contra as leis de Aragorn __Weaslow fez uma pausa e analisou Lisa por um instante; depois continuou__ Quais são as acusações?
Chamberlain desenrolou um rolo de pergaminhos e começou a lê-lo. Entrementes, a cada acusação, Lisa sentia-se afundar dentro da gaiola humana.
__A ré é acusada pelo homicídio do professor da Fonte Phoenix, Athus Lupus e pelo envolvimento nos assassinatos de Lauro Ravenclaw e Christian Ravenclaw.
Ao ouvir Chamberlain, Lisa sentiu uma grande vontade de gritar para todos que ela era inocente e que aquelas acusações eram falsas. Mas, ao ver que Gaya a olhava pela primeira vez, Lisa permaneceu calada e depois se virou para Weaslow que a perguntava:
__Como a ré se declara?
Lisa olhou para os lados e viu Max observando-a. Sentindo seu ódio remoer por dentro, Lisa desviou os olhos para o outro lado e viu Tom fitando-a e, em outro canto, Hariph olhando-a inexpressivamente com um sorriso torto na boca. Voltando-se para Gaya, Lisa o viu fazendo um movimento com a cabeça.
E erguendo seu rosto, Lisa encarou Weaslow, que por um momento a garota pensou te-lo visto sorrindo, e disse:
__Sou inocente!
Louise e Dan afastaram-se para trás com a varinha de Lyon apontada para eles. Lyon estava sério e sua varinha tremia freneticamente na mão.
__Nós não queríamos...
Mas, antes que Louise pudesse se explicar, Lyon fez um movimento com a varinha e um raio de luz cortou a sala, passando entre Dan e Louise e acertando o espelho. De súbito, a superfície do espelho começou a brilhar. Em seguida, uma espiral de luz surgiu e uma imagem apareceu.
Assustados com o feitiço de Lyon e sem entender o que ele estava fazendo, Louise e os outros se agruparam num canto da sala e fitaram o homem magricela que abaixava sua varinha enquanto dirigia-se para o espelho.
__Sejam rápidos! __murmurou Lyon virando-se para o grupo.
__C-como? __perguntou Louise sem entender nada.
__Este é um portal. Ele vai leva-los até Poltergrat __disse Lyon__ Acredito que o julgamento já deva ter começado... a trama já começou... vocês precisam impedir que a Filha do Herdeiro seja julgada. O que estão esperando? Vão antes que eu me arrependa!
Louise, assim como os outros, ficou parada fitando Lyon. Seus olhos encontraram-se com os dele e depois se desviaram para o espelho que refletia um corredor de um gigantesco castelo. Por um instante, Louise pareceu indecisa. A atitude de Lyon não era algo esperado, mas, em termos, caiu como uma luva. Sem perder tempo, Louise puxou sua varinha e encaminhou-se para o espelho.
__Vamos!
__Louise! __murmurou Dan.
__Essa é a nossa única oportunidade. Não podemos permitir que uma parte da vingança de Gorgon se cumpra. Não podemos permitir que Lisa seja julgada e que, se Düblin e Geoffrin estiverem certos, o Mestre das Sombras tome Poltergrat... Se não quiserem vir, eu...
__Estamos nessa também! __disse Zig e Cliffe em uníssono.
__Exatamente __disse Dan e Peter.
__Já que começamos, vamos terminar __murmurou Grump trocando olhares com Gregor e Steven.
__Certo __disse Louise__ Então vamos. Vocês primeiro.
Zig e Cliffe tomaram a frente e aproximaram-se do espelho. De frente para o reflexo do corredor, os dois fizeram um sinal com a cabeça e pularam para dentro do espelho, desaparecendo da sala e surgindo, em seguida, em seu reflexo.
Peter foi o próximo. Em seguida foram Grump, Gregor e Steven. Dan, por sua vez, ficou de frente para o espelho e depois tocou a sua superfície. Ondas surgiram em torno de seu braço e, após um impulso do corpo, Dan foi engolido pelo espelho.
Louise foi a última. Antes de entrar no portal, Louise virou-se para Lyon e observou-o por um instante.
__Por que está fazendo isso? __perguntou Louise.
__Não sou semelhante aos meus superiores!
E contentando-se com a resposta de Lyon, Louise virou-se para o espelho e depois pulou para dentro dele. Louise atravessou um estranho tudo onduloso e depois saiu de uma pequena porta luminosa que surgiu na parede de um dos corredores de Poltergrat. Ao sair, a porta luminosa diminuiu de tamanho e desapareceu junto com a imagem de Lyon do outro lado do portal.
__Onde vocês acham que estamos? __perguntou Cliffe.
__Provavelmente não muito longe do tribunal da Suprema Corte __disse Louise olhando para o extenso corredor que surgia a sua frente__ Vamos, não podemos perder tempo.
Os oitos seguiram correndo pelo corredor e depois desapareceram de vista.
__Dizem que um certo General das Trevas retornou __disse Lorde Weaslow__ Isso é verdade?
A Suprema Corte se empertigou e fitou Lisa de tal forma que a garota sentiu-se intimidade com tantos olhares.
__É... __Lisa olhou para Gaya e, após um aceno do príncipe, continuou__ É verdade. O nome dele é Gorgon, o Mestre das Sombras.
A reação foi imediata. A Suprema Corte espantou-se com a ousadia de Lisa e prendeu a respiração. Lorde Weaslow, por sua vez, abriu um largo sorriso e depois caiu numa profunda e gozada gargalhada. Os Lordes e Chamberlain o acompanharam.
Dentro da gaiola humana, Lisa sentiu-se menos do que uma agulha caída no meio de um monte de palhas.
__Isso é ridículo! __murmurou Weaslow__ Esta Corte há de convir que a veracidade da declaração da ré é inválida __disse Weaslow para a Corte, que concordou prontamente com ele. E virando-se para Lisa__ Gorgon, a quem você chama de Mestre das Sombras, está trancafiado e protegido pelas mais poderosas maldições que Aragorn já conheceu...
__Se fosse tão poderosas quanto dizem ser, Gorgon não teria sido libertado!
Weaslow calou-se. O Lorde empertigou-se sobre o altar e sorriu para Lisa.
__Tem como provar isso? Tem como provar que Gorgon retornou?
Provar? Lisa nunca havia pensado nisso. Seus olhos correram da Suprema Corte para Gaya, que manteve inexpressivo ao seu lado.
__Eu sou a prova! __exclamou Lisa fitando a Suprema Corte que parecia ansiosa para ouvir o que ela tinha a dizer. Entrementes, Gaya e Godric viraram-se para Lisa, surpresos com o que ela dissera __ Desde o início do ano venho sofrendo atentados
__Já dei meu depoimento sobre esse assunto __interpôs Gaya__ A Suprema Corte foi informada no início do ano e posteriormente, nos meses subseqüentes sobre a existência de indícios que comprovavam o retorno de Gorgon.
__Foram apenas indícios. Essa Corte não considera indícios como provas contundentes! __replicou Weaslow.
__Foram mais do que indícios, My Lorde! __continuou Gaya mantendo seu olhar na Suprema Corte__ O ressurgimento dos Emissários da Morte, os ataques a Fonte Phoenix e o baú aberto na montanha onde Gorgon foi trancafiado são mais do que indícios, são provas. O retorno do Mestre das Sombras é incontestável!
__Não, isso não é verdade! __disse Weaslow com tanta ferocidade que até a Suprema Corte se surpreendeu.
__Sim, é verdade __interferiu Lisa__ Gorgon foi libertado por Mayer Slater, a quem foi forçado a repelir as maldições e abrir o baú. Livre, Gorgon reuniu seus antigos seguidores para formar uma rebelião contra Aragorn e contra a Fonte Phoenix. Porém, Slater e seus seguidores representavam um grande perigo ao plano e então, Gorgon mandou que todos que soubessem da verdade fossem eliminados. O primeiro foi Mayer Slater e os subseqüentes foram Lauro e Christian Ravenclaw e por último, Athus Lupus, ao qual sabia do retorno de Gorgon desde o final do ano anterior quando um dos seguidores de Slater lhe contou a verdade...
__Essa Corte foi informada pelo próprio Athus Lupus sobre os acontecimentos ocorridos no Mundo dos Humanos onde, ele e a ré, sofreram um atentado __completou Gaya__ A ré foi ferida gravemente por Cards Mortais de Emissários da Morte. A Corte constatará a veracidade dos acontecimentos nos depoimentos dos presentes, Aleister Crowley e Austin Osman.
__Os depoimentos já foram dados e, não há nenhuma relação com a declaração __murmurou Chamberlain após pegar um rolo de pergaminhos e os colocar sobre o altar de pedra.
__Como não há? __quando Lisa percebeu, sua voz ecoava pelo tribunal num grito longo e agudo__ Fui atacada. Tentaram me matar a qualquer custo e agora, me dizem que não há relação alguma com o retorno de Gorgon?
__Calma Lisa! __murmurou Gaya.
__Sabem quem eu sou? Sabem? Sou aquela a quem se Gorgon ficasse livre, seria a primeira a ser eliminada!
__Lisa! __intervia Gaya.
__Pessoas inocentes morreram por que sabiam o que Gorgon tramava.. morreram porque eles sabiam que Gorgon iria se vingar de quem destruiu MALAGAT!
Ao ouvirem o nome de Malagat, a Suprema Corte estremeceu e explodiu em sussurros. Antes que Weaslow pudesse dizer algo, a porta do tribunal se abriu com um grande estrondo e, para surpresa de todos, Louise, Dan, Zig, Cliffe, Peter, Grump, Gregor e Steven surgiram armados com suas varinhas e com seus dedos prontos.
Lorde Weaslow ergueu-se assustado e Chamberlain fez um sinal para que os guardas os prendessem. Porém, Weaslow fez um outro sinal e os guardas hesitaram.
Lisa virou-se para trás e, ao ver Louise, sorriu. Agora que seus amigos estavam em Poltergrat, Lisa percebeu que era hora de provar sua inocência e derrubar aqueles que queriam sua destruição.
__Eles são as provas __disse Lisa para a Suprema Corte__ No início das férias, eles me acompanharam numa viagem arriscada ao Bosque Espinhoso onde, após sermos atacados por um homem encapuzado, encontramos Madame Geoffrin e um velho amigo que pensávamos estar morto. Geoffrin me contou tudo que sabia sobre Gorgon e sobre seu retorno. Após retornarmos para a Fonte Phoenix, o castelo foi atacado e messes depois, Athus foi assassinado.
Por um instante, o tribunal ficou em silêncio. Os Lordes trocavam olhares assim como os que assistiam ao julgamento. Em um dos cantos do tribunal, Hart escrevia freneticamente tudo o que Lisa acabara de dizer e Robbie Felton se lamentava com os destroços da sua máquina fotográfica entre as mãos. Em um outro canto, sobre as escadas do auditório, Max sorria pela primeira vez. Ao vê-lo, Lisa não entendeu por que sorria. Será que ela disse algo de errado que poderia complicar a sua situação? Não, Lisa tinha certeza de que falara tudo que era preciso.
Do outro lado do auditório, Hariph estava de braços cruzados, sério como sempre, fitando Louise, Dan e os outros, que ainda permaneciam na entrada do tribunal.
__O que vamos fazer agora, Louise? __murmurou Dan assustado com os olhares apreensivos dos guardas que cercavam cada canto do tribunal.
Desde que entrara, Louise permanecera imóvel. Ao ver a Suprema Corte se mostrando surpresa ao que Lisa contava, Louise esqueceu o que viera fazer e por um momento pensou que o julgamento pudesse terminar bem.
__Venham!
Louise encaminhou-se para o auditório e se sentou.
__Louise, o que está fazendo? __perguntou Dan__ Viemos impedir o julgamento e agora vamos assisti-lo?
__Não, mas, olha como a Corte está surpresa. Dan, talvez não seja necessário intervir e...
__Por acaso esqueceu-se do que Düblin nos disse?
__Não, não esqueci. Mas, veja, Gaya está sorrindo, o que significa que o julgamento está sendo favorável para Lisa.
__Como chegaram até aqui? __perguntou Tom se aproximando de Louise__ Não estavam presos em Azgrah porque tentaram libertar Lisa sem mim?
__Estávamos, mas, desculpe-me Tom __disse Louise__ Foi tão repentino a nossa decisão que, não tivemos tempo para chamá-lo...
__Mas, aos outros, você teve tempo, não teve?
__Isso é uma longa história e o momento não permite que eu a conte. Agora, no momento, temos coisas mais importantes a se preocupar como o que vai acontecer com Lisa e... o que eles estão fazendo aqui?
Dan olhou para o outro lado do auditório e viu Maya sorrindo desdenhosamente e Max com um sorriso torto no rosto. Ao ver que Dan o observava, Max desfez o sorriso e ficou sério.
__Desgraçado, o que ele pensa que está fazendo a...
__Não, Dan! __Zig e Cliffe agarraram Dan pelas vestes e o fizeram sentar ao mesmo que tempo a voz de Weaslow ecoou pelo tribunal.
__Seus amigos? __perguntou Weaslow sarcástico__ Se esta Corte não se lembra, foram eles que tentaram montar uma fuga em Azgrah poucas horas antes de a ré ser traga para Poltergrat! Não sei como conseguiram fugir de Azgrah e chegar aqui em tão pouco tempo, mas, está claro que isso não passa de um complô contra nossa Ordem e contra as leis de Aragorn. Como Lorde supremo dessa Corte, peço que meus companheiros desconsiderem as declarações da acusada por serem infundadas e decretem sua condenação imediata por ser a autora do assassinato de Athus Lupus, segundo o testemunho do senhor Magnum Darkness, e por ser suspeita de estar envolvida nos assassinatos anteriores de Lauro e Christian Ravenclaw.
__Louise acho que não podemos mais ficar sem fazer nada __disse Dan aflito com o pedido de Weaslow__ vamos tirar Lisa daqui e...
__Não, Dan __interrompeu Louise ao ouvir Gaya protestando__ Vamos esperar mais um pouco...
__Protesto! __gritou Gaya__ A Corte não pode considerar a suspeita infundada da acusada por falta de provas. Peço que considerem seu testemunho sobre Gorgon e o testemunho de...
Lisa manteve-se calada enquanto pode controlar sua raiva. Quando não suportou mais, interrompeu Gaya e gritou para Chamberlain:
__É a verdade que vocês querem, não é? Por que não a extraem de mim?
__Não, Lisa! __disse Gaya__ O que está fazendo?
__ Porque não comprovam que eu estou falando a verdade? __continuou Lisa sem dar ouvidos a Gaya.
Chamberlain deu um passo a frente e Weaslow o impediu. Os outros Lordes, porém, pareceram querer o contrário de Weaslow.
__Conceda o que ela está pedindo! __murmuram a maioria dos Lordes.
Lorde Weaslow mudou de expressão e hesitou ao conceder o pedido de Lisa. Porém, ao ver a insistência da Corte, Weaslow virou-se para Chamberlain e balançou a cabeça. Num breve segundo, uma luz brilhou em um dos seus olhos e Chamberlain tomou a frente.
__OLHE PARA MIM! __gritava Lisa.
__Não faça isso, Lisa! __gritava Gaya tentando impedi-la__ NÃO OLHE PARA ELE, LISA!
Mas Lisa não deu ouvidos. Chamberlain deu um pulo de cima da bancada dos Lordes e, num vôo atravessou o tribunal e pousou de cara para Lisa.
Erguendo-se, Chamberlain abriu os olhos e duas fendas vermelhas surgiram. Apesar dos protestos de Gaya, Lisa encarou Chamberlain e fitou seus olhos. De súbito, os olhos de Lisa foram penetrados e flashes muito rápidos perpassaram sua cabeça. Os flashes mostraram as imagens de Lisa fugindo com Louise, Lisa dentro da masmorra, Lisa sendo levada para Azgrah numa carruagem-cadeia, Lisa caída imóvel aos pés de Louise, Lisa ajoelhada ao lado de Athus ferido, Athus sendo atacado por um homem no bosque das ninfas, Lisa salvando Grump, Gregor e Steven, Lisa vendo a marca no abdome de Max e de Hariph, Lisa sendo atacada por uma forte luz prateada, Lisa dançando com Max, Lisa e Louise montadas numa Mandrágora, Lisa fugindo com Düblin de um homem encapuzado, Madame Geoffrin alisando sua esfera de cristal, Lisa e Peter sendo atacados pelos Feitiços Sinalizadores, Lisa e seus amigos fugindo das Chicoteiras, Lisa pousando no Bosque Espinhoso na carruagem de Tom, Lisa vendo uma estranha luz no Castelo dos Trons, Lisa e Max se beijando, Lisa sendo atacada por uma Sentinela, Lisa e Athus discutindo, Lisa vendo o livro de Athus, Lisa no Cruzeiro Fantasma, uma espada sendo cravada no coração de Lisa, Emissário da Morte atacando-a, Crowley e Osman, Christian Ravenclaw morto, Lisa destruindo Malagat, Goblin ameaçando-a, Lisa fugindo da fúria de aldeões, Lisa abrindo o livro de Melody Bluesky, Barba Negra, Lisa caindo em Aragorn, Lisa fugindo da Besta, Lisa abraçando Anne, Lisa na Casa dos Espelhos com Goblin, Lisa no seu aniversário, Lisa feliz com Anne ao seu lado, Lisa aos quatorze anos, Lisa em seu aniversário aos seis anos, Lisa nos braços de Anne aos dois anos, bebê Lisa nos braços de Godric, bebê Lisa nos braços de Athus fugindo de um homem de máscara de ferro, bebê Lisa nos braços de uma mulher, bebê Lisa caindo dos braços de um homem retorcendo-se entre uma poderosa luz vermelha e...
__Impedimenta!
Uma luz riscou o tribunal e jogou Chamberlain para longe.
Lisa recuperou sua visão e caiu sobre o banco de três pernas sentindo-se fraca e cansada. Ao longe, Lisa ouviu a vozes da Corte, Weaslow e Gaya.
__O que pensa que está fazendo?
__Ele foi longe demais! As lembranças não podiam ser buscadas além do que a Corte objetivava que ele buscasse!
Fez-se silêncio. Lisa olhou para frente e viu Gaya segurando sua varinha, aparentemente furioso. Do outro lado do tribunal estava Chamberlain levantando-se todo retorcido pelo feitiço.
__Posso ter ido muito longe, mas consegui extrair tudo que era necessário! __murmurou Chamberlain sendo ajudado por guardas a ficar de pé.
__A Corte ordena que nos relate o que viu! __disse Weaslow.
Chamberlain ficou em silêncio. Colocou-se de pé e depois se virou para a Corte.
Entrementes, Louise cruzou os dedos, Maya fitou Chamberlain, Hariph manteve-se sério, Max sorriu __o que irritou Dan__ e Alan Hart preparou a pena. Lisa, por sua vez, fechou os olhos e torceu para que tudo terminasse agora.
Por fim, Chamberlain disse:
__Nada! __disse Chamberlain__ Não vi nada relatado pela acusada!
__O quê? __ao ouvir Chamberlain, Lisa quase caiu de cima do banco e se segurou na grade da gaiola. Aquilo tudo só podia ser um pesadelo!
__Como ele não viu nada? __disse Louise pondo-se de pé, incrédula com o que Chamberlain dissera __Tem algo errado. Estávamos com Lisa em tudo que aconteceu, como pode ele não ter visto nada?
__Acho que não podemos mais ficar parados, Louise, __disse Dan assustado__ Temos que...
__Diante dos fatos, concluo que a acusada mentiu sobre todas as afirmações aqui dispostas como sendo verídicas __continuou Chamberlain__ Não houve viagem ao Bosque Espinhoso, não houve ataque e Madame Geoffrin também não existe. Foi a acusada quem matou Athus Lupus e foi a acusada que...
__Isso é mentira! __gritou Lisa agarrando-se a gaiola humana.
__Lisa é inocente __interveio Gaya aproximando-se da Corte__ Tenho provas de sua inocência!
__Provas? A culpa da acusada é incontestável __disse Weaslow com um largo sorriso no rosto__ Essa Corte considera relevante o testemunho de Neville Chamberlain e...
__Posso provar o contrário! __Gaya estava vermelho e sua mão apertava forte a varinha__ Peço que a Corte permita-me trazer um homem, a quem estava considerado morto há alguns dias, e que pode lhes esclarecer o que realmente está acontecendo em Aragorn. Esclarecimentos aos quais se refere a inocência da acusada, a quem, todos devem relevar, é a Bruxa de Fogo, pessoa que destruiu Malagat no ano anterior e livrou Aragorn da ameaça dos Carrascos...
__Pedido negado! __gritou Weaslow.
__Não pode negar a Corte o direito de saber a verdade Weaslow __disse Gaya__ Não pode negar a eles o direito de saber o que se passa dentro da cede da Ordem...
__Pedido negado! __repetiu Weaslow aos berros!
A Corte assustou-se com a reação de Weaslow e protestou contra ele. Entrementes Gaya sorriu e virou-se para a porta do tribunal.
Lisa acompanhou Gaya e observou a porta se abrir. Lentamente, um homem de face jovial, cabelos grisalhos e trajando vestes brancas, surgiu trazendo um baú de ferro que flutuava ao seu lado. O baú era de ferro maciço e continha centenas de minúsculas fechaduras que estavam destrancadas.
Ao verem o homem entrar no tribunal, a Corte se assustou e alguns integrantes ficaram de pé para ver melhor o homem que entrava. Weaslow, por sua vez, afastou-se para trás e ficou imóvel como se uma pedra estivesse entalando em sua garganta. A reação de Chamberlain também não foi diferente dos outros. O inspetor olhava do homem para Weaslow com a boca ligeiramente aberta.
Lisa não sabia quem era o homem e estranhava a surpresa da Corte. Com certeza ele era a carta escondida na manga que Gaya prometera, mas, quem era?
O homem passou por Lisa e sorriu para ela. Em seguida, apertou a mão de Gaya e fez o baú pousar no chão.
Gaya virou-se para a Corte com um largo sorriso no rosto e, fitando a reação de Weaslow, disse:
__Senhoras e senhores, apresento-lhes Mayer Slater e o baú de Gorgon!
Noctisempra!
Lisa quase caiu para trás. Aquele homem era Mayer Slater. Mas, ele estava morto, como poderia estar vivo? Durante longos meses, Lisa procurara por ele no Localizol e nunca o encontrou, como Gaya conseguiu? Mesmo com tantas perguntas girando em sua cabeça, Lisa sentiu um grande alívio e uma vontade imensa de rir. Poderia parecer bobo, mas ela tinha vontade de gritar, como uma criança para a Corte que a prova de tudo estava ali, na frente deles.
A reação das outras pessoas ao ouvirem o nome de Slater foi de total espanto. A inabalável inexpressividade de Hariph se transformou numa expressão medonha como se o rapaz estivesse vendo um fantasma a sua frente, contrapondo-se com a expressão de Max, que se manteve fixa em Slater, sem manifestar qualquer reação. Alan Hart, por sua vez, não sabia se fechava a boca pendurada no rosto ou se escrevia o que presenciava no seu longo pergaminho. Já Crowley, Osman e Magnum Darkness ficaram paralisados e a inegável expressão de espanto se manteve presente em seus olhos arregalados.
Louise, Dan e os outros ficaram perplexos. Naquele momento eles não sabiam se olhavam de Slater para a Corte, paralisada, ou da Corte para Slater.
Em frente a Corte, Lorde Weaslow respirava ofegante. Com certeza, ele não esperava tal surpresa. Seus olhos estavam arregalados e seu corpo, sem qualquer movimento.
__Prendam esse homem! __ordenou Weaslow de chofre para os guardas.
__Protego! __Gaya ergueu a varinha para o alto e, instantes depois, um escudo reluzente surgiu em torno dele e de Slater. Quando os guardas se aproximaram para prender Slater, o escudo brilhou e lançou-os para longe.
__Esta Corte precisa ouvir o que este homem tem a dizer __disse Gaya.
__Não há nada para ouvir __disse Weaslow__ Este homem é Mayer Slater, o Quarto General das Trevas revelado...
__É o que todos pensam! __interrompeu Gaya__ Este homem foi quem aprisionou Gorgon e depois foi traído por um de seus seguidores que o difamou dizendo que ele era o Quatro General das Trevas. Esse traidor está entre a Corte. Ele forçou Slater a desfazer as maldições e libertar Gorgon. Em seguida, bolou um plano para o qual o objetivo era me destronar e em seguida tomar a Fonte Phoenix. Planejou ainda os assassinatos de Lauro e Christian Ravenclaw e, posteriormente, o assassinato de Athus Lupus, onde Lisa, a Bruxa de Fogo, foi acusada para que esta saísse de seu caminho. A Corte poderá constatar o que digo ao analisarem este baú, o legítimo baú onde Gorgon foi trancafiado.
Gaya fez um sinal com a cabeça e Slater passou a mão em frente ao baú num movimento singelo. Lentamente, os trincos se abriram e a pesada tampa de ferro ergueu-se revelando um conteúdo vazio.
De imediato, a Corte ergueu-se e um dos Lordes gritou para Slater.
__Quem o forçou a libertar Gorgon?
Mayer Slater ergueu-se e olhou para Gaya. Em seguida, virou-se para a Suprema Corte.
Entrementes, Weaslow aproximou-se do altar de pedra e observou Slater. Quando seus lábios se moveram, Weaslow virou-se bruscamente para a Suprema Corte e arregalou os olhos. De súbito, suas pupilas se transformaram em longas fendas vermelhas e lançaram uma poderosa luz contra os Lordes. Assustados com a luz, os Lordes olharam para Weaslow e, instantes depois, se transformaram em pedra.
__O que está acontecendo? __perguntou Dan ao ver os noventa e nove Lordes petrificados.
__Ele é uma Medusa__ gritou Gaya__ FECHEM OS OLHOS!
Weaslow virou-se para trás com os olhos avermelhados e lançou a luz sobre todos. Rapidamente, Lisa fechou os olhos e ficou em silêncio, tentando imaginar o que estava acontecendo e, porque Weaslow petrificara a Corte.
O tribunal caiu em um profundo silêncio. Lisa permaneceu imóvel onde estava, esperando que algo acontecesse, mas nada aconteceu. Lisa, então, sentiu vontade de abrir os olhos, mas temeu o que poderia acontecer. Foi então que a voz de Gaya veio a sua mente. Ele é uma Medusa, dizia a voz.
Medusa, pensou Lisa, é claro, elas só petrificam homens!
Lisa abriu os olhos e olhou ao redor. Louise e Maya estavam de olhos abertos e a maioria dos homens presentes no tribunal mantinham seus olhos fechados, exceto Hart, Magnum Darkness, Felton, Gregor, Steven e todos os guardas que viram o olhar de Weaslow e foram transformados em pedra.
No topo do altar, Weaslow dava uma gargalhada nefasta. Seus olhos brilhavam intensamente e focalizavam Gaya e Slater.
__ Pensou realmente que poderia me deter, Gaya? __Weaslow soltou uma gargalhada e saiu de trás do altar__ Pensou que poderia me desmascarar frente a Corte? Acho que não. Como está vendo, fui muito mais ágil do que você. Olha só como eles estão? __disse Weaslow virando-se para os Lordes petrificados__ É uma pena que agora eles não poderão ver o que vou fazer com você e com Slater... A propósito, como conseguiu encontrá-lo, porque, ele estava aqui, em Poltergrat, sobre minha proteção. Como fez isso?
__Tive meus meios! __murmurou Gaya apertando a varinha na mão.
__Não duvido de seus meios, mas, o que ganhou com isso? __perguntou Weaslow descendo as escadas, à frente do altar, enquanto passava por Chamberlain, que tinha os olhos abertos__ O que conseguiu? Digo-lhe, nada. Sua saga e desta garota, vão acabar aqui, Gaya, assim como a de todos aqueles que a protegem!
Weaslow sacou sua varinha e ergueu-a. Imediatamente, Louise saiu do auditório e correu para onde Lisa estava, sacando a varinha e apontando para Weaslow. No entanto, quando ela deixou o auditório, Gaya ergueu sua varinha e apontou para o alto.
__Protego!
Um jorro de luz prateada saiu da varinha e envolveu todos que estavam na sala, exceto Gaya e Weaslow que ficaram fora da barreira de luz. Louise tentou sair da barreira de luz, mas foi impedida e repelida para trás.
__Isso é só entre nós, Weaslow __murmurou Gaya.
__Como queira! Amplexus...
Weaslow ergueu a varinha e antes que pudesse lançar o feitiço, Gaya ordenou:
__Impedimenta!
Mesmo estando com os olhos fechados, a pontaria de Gaya era incrível. O feitiço acertou em cheio Weaslow e o jogou de volta para o altar.
Weaslow levantou meio retorcido e ergueu a varinha, lançando, em seguida, um raio de luz. Do outro lado, Gaya fez o mesmo e os dois feitiços se chocaram. De súbito, Gaya fez um movimento com a varinha e o feitiço de Weaslow voltou-se contra ele, fazendo-o girar e cair no chão.
__Não adianta lutar contra mim Weaslow, seus poderes são insignificantes se comparados aos meus!
Weaslow levantou do chão e desceu as escadas. Seus olhos ferviam de ódio e suas pupilas vermelhas pareciam pular para fora dos olhos.
__Você é tão irritante quanto seu pai!... Meu plano poderia ter dado certo se você não tivesse se intrometido. Mas, um alto preço deve ser pago por isso. Sabe, Gorgon vai adorar vê-lo derrotado quando chegar em Poltergrat e, vai gostar mais ainda, de ver sua protegida aqui, comigo!
__Veja por um lado, será melhor assim, não é? Gorgon enfim vai conhecer Lisa e, quem sabe, provará do que Malagat provou!
__Não sabe o que está falando __disse Weaslow__ As coisas são muito diferentes do que você pensa ser, Gaya. Gorgon não está sozinho...
__Assim como você também não está! __interrompeu Gaya.
Weaslow olhou para os lados e depois sorriu para Gaya. Dentro da gaiola, Lisa o observava, sem entender o que Gaya quisera dizer.
__É, realmente não estou! __murmurou Weaslow__ Só me admira porque você não os expulsou da Fonte Phoenix!
__Queria saber até onde poderiam ir __disse Gaya calmamente.
__Não seja patético, Gaya. Sei muito bem que você nunca fez idéia de que tinha gente a mandado de Gorgon na Fonte Phoenix. Os que sabiam, mandei que matassem... Athus foi um deles!
__Athus nunca quis me confiar seus segredos. Infelizmente tive que aprender a fazer minhas próprias descobertas. Receio que demorei demais para descobrir __Gaya suspirou e sorriu__ Por que está demorando, Weaslow?
__O quê?
__Porque não me matou ainda? Ë isso que você quer, não é? Por que não aproveita a ocasião? Não posso abrir meus olhos. Isso torna as coisas muito mais fáceis para você. Basta um feitiço e você toma a Fonte Phoenix...
__Está me provocando, Gaya!
__Estou apenas desafiando-o. Aproveite enquanto Gorgon não chega. Aproveite porque, se ele chegar, garanto que não vai dar esse gosto a você!
__O que está dizendo, Gaya? __perguntou Slater tentando atravessar a barreira de luz.
__Não me provoque! __murmurou Weaslow.
Presa na gaiola, Lisa não estava entendendo até onde Gaya queria chegar com aquelas provocações, assim como Louise, que tentava desesperadamente atravessar a barreira de luz e chegar até Lisa.
__O que está esperando? __gritou Gaya.
Weaslow rangeu os dentes e ergueu a varinha.
__Não me provoque!
De súbito, Weaslow lançou um feitiço e Gaya o repeliu. No entanto, Weaslow foi mais rápido e lançou outro feitiço. Gaya rodopiou no ar e caiu de costas no chão com sua varinha caída a mais de cinco metros dele.
__Gaya! __gritou Lisa.
__Pensou que poderia me enganar repelindo meu feitiço, Gaya? __perguntou Weaslow deixando as escadas e aproximando-se de Gaya__ Como acha que vai me vencer se não pode olhar para mim? Agora... levante-se!
Weaslow fez um movimento com a varinha e Gaya foi erguido no ar.
__Gaya! __gritou Lisa desesperada.
__Tem algum pedido a fazer antes de ver a morte abraçando-o, Gaya!
__Varinha! __murmurou Gaya.
__O que disse?
__Varinha!
De repente a varinha de Gaya se mexeu no chão e voou para a mão dele. Rapidamente, Gaya a ergueu no ar e apontou para Weaslow.
__Lúmus lucídium!
Uma forte luz brilhante saiu da varinha e penetrou nos olhos de Weaslow. O Lorde largou sua varinha e cobriu os olhos gritando de dor.
__Meus olhos... meus olhos... o que você fez seu desgraçado... não vejo nada!
Gaya caiu no chão, abriu os olhos e ergueu sua varinha novamente. Quando seus lábios se moveram para lançar outro feitiço, uma luz atravessou o tribunal e chocou-se contra Gaya, jogando-o contra a parede.
Gaya levantou-se do chão e ergueu-se novamente. No entanto, quando deu um passo a frente, seu corpo ficou imóvel e, lentamente, se transformou em pedra.
__Gaya! __gritou Lisa.
De súbito, a barreira de luz estremeceu e desapareceu no ar. Rapidamente, Louise atravessou o tribunal e foi até Lisa.
__Vou tira-la daí, se afaste!
__Meus olhos... meus olhos! __gritava Weaslow.
__Bombarda!
Após abrir um buraco na gaiola humana, Louise apontou sua varinha e cortou as correntes que a prendiam. Com os pulsos livres, Lisa deixou a gaiola e começou a correr na direção de onde Gaya estava petrificado quando um homem atravessou o tribunal e se juntou a Weaslow.
__My Lorde, my Lorde, o senhor está bem!
Ao ouvir a voz do homem, Lisa parou de chofre e virou-se para ele. Ao vê-lo, Lisa estremeceu e quase caiu para trás.
__Você?
O homem sorriu e virou-se para Lisa.
__O que pensava, Lisa? Achava que eu estava do seu lado?
__Mas... mas v-você era amigo dele?
Austin Osman soltou uma grande gargalhada e fitou Lisa com seu olhar medonho.
__Amigo? Athus nunca foi meu amigo, Lisa!
__Mas eu pensei que... como... como pode estar.. você estava do lado deles o tempo todo?
__Ele não estava sozinho, Lisa!
Aleister Crowley surgiu por trás de Osman e apontou sua varinha para Lisa. Perplexa, a garota afastou-se para trás e juntou-se a Louise.
__Você também? __disse Lisa__ Vocês o traíram! Pensei que fossem amigos dele!
__Não seja dramática, Lisa! __exclamou Osman__ Athus era um idiota, assim como você também é! Não faz idéia de quanto nós nos seguramos para não destruí-la no Mundo dos Humanos, não sabe quanto foi difícil recebe-la em nossa casa e não podermos mata-la!
__Infelizmente tivemos que jurar ao nosso Mestre que não a tocaríamos enquanto o plano não fosse executado __disse Crowley.
__Plano?
__Sim. Quando recebemos a notícia de que nosso Mestre havia retornado, corremos até ele e oferecemos nossos serviços __disse Osman.
__Sabe, nosso Mestre estava muito furioso e queria se vingar __disse Crowley abaixando sua varinha__ E para isso era necessário um plano, um plano tão brilhante quanto seu retorno.
__Então, resolvemos fazer um convite a Athus. Convidamos-lo para nos visitar no Mundo dos Humanos e traze-la consigo. Quando recebemos a confirmação dele, corremos contra o tempo e preparamos tudo para que o plano fosse perfeito.
__Como o combinado, vocês chegaram em nossa casa e nós, bons anfitriões, os recebemos de braços abertos. Os dias foram passando e nós tivemos que dar continuidade ao plano. Mas, para isso, era necessário feri-la profundamente para que a semente fosse implantada com sucesso. Foi então que resolvemos usar nossas criaturinhas de estimação.
__Quando anoiteceu, libertei os Emissários da Morte e ordenei que a matassem __disse Osman__ Queríamos uma morte permanente o suficiente para que a semente fosse implantada, por isso usamos Cards Mortais.
__No momento certo, os Emissários da Morte invadiram a mansão e tentaram mata-la. No entanto, Athus e Dan interferiram e fugiram com você.
__Entramos em desespero. Tínhamos que executar o plano como nosso Mestre ordenou __disse Osman__ No entanto, os Emissários não estavam dando conta de três vermes insignificantes como vocês. Foi então, que eu tive que tomar uma medida desesperada. Infiltrei-me entre as sombras daquele beco e, quando você passou por mim, cravei-lhe a espada no peito. Não sabe, Lisa, quanta vontade eu tive de arrancar seu coração, mas, me contive e desapareci nas sombras sem deixar rastro algum.
__Executado a primeira parte do plano __disse Crowley__ demos início ao final dele. Quando Dan destruiu nossos Cards Mortais, o que não foi nada impressionante, cheguei onde estavam e a vi ferida. Então, corri até você e implantei __ Crowley fez um movimento com a varinha e uma fumaça negra surgiu no ar formando uma espécie de semente negra__ a Semente do Mal em seu coração. Sem que percebessem, implantei a semente e fechei o ferimento.
__Semente do Mal? __perguntou Lisa.
__Ora, não diga que nunca ouviu falar nela? __disse Osman__ Sei que conhece, Geoffrin deve ter lhe contado sobre a lenda do único fruto que Tenebrus produziu, ao qual, dele saiu a semente que deu vida a Deusa da destruição, Keerva!
__Keerva? __disse Godric__ Impossível, Keerva foi destruída por Grifus Allenah.
__É o que todos pensam __disse Crowley__ Na verdade Grifus destruiu o corpo de Keerva e concedeu ao espirito dela, o direito de continuar vivendo na sua forma original, a de uma semente.
__Mesmo estando na forma de uma semente, Keerva conseguiu dar a vida a Gorgon , provando mais uma vez que seus poderes estavam além da nossa imaginação. Sabendo disso, nosso Mestre deduziu que se a semente fosse implantada no corpo de uma mortal, Keerva retornaria novamente. No entanto, não havia muitas mortais em Aragorn que seriam capazes de fazer a Semente do Mal germinar outra vez. Era necessário alguém com muito poder, assim, como você, Lisa!
__Não houve dúvidas quanto a isso. Sabe, nesse exato momento a semente está aí, dentro de você, instalada em seu coração preparando-se para germinar, tomar suas veias e enche-las de sangue negro, o sangue que move as trevas!
__Como será que seus imprestáveis pais reagiriam ao vê-la dando vida a Keerva, hein, Lisa? __disse Osman com sarcasmo.
__Meus pais não eram imprestáveis __gritou Lisa.
__Sim. Eram sim. Seu pai era um tolo patético __gritou Osman__ Se achava melhor do que todos só porque era herdeiro do trono de Bladefire e um dos fundadores da Fonte Phoenix!
__Isso não é verdade!
__Você não conheceu seus pais como eu conheci, Lisa __disse Osman__ Sua mãe, cheia de graciosidade, achava que podia ajudar todos com suas invenções idiotas. Quando você nasceu, ela ficou se enchendo só porque a filhinha dela era reencarnação de Melody Bluesky... Ela era tão imprestável quanto seu pai!
__Isso é mentira!
Rapidamente, Lisa tomou a varinha da mão de Louise e apontou para Osman. Num grande farfalhar de luzes, Osman foi lançado para trás e caiu aos pés de Chamberlain.
__Você vai pagar por isso, maldita!
Crowley girou sua varinha e instantes depois, Lisa foi desarmada e jogada para longe.
Martius Godric prontamente ergueu sua varinha e apontou-a para Crowley. Quando Lisa se levantou, ajudada por Slater, Crowley girava no ar e caía de cara no chão.
__Petrificus totalis!
Um raio de luz passou perto de Lisa e atingiu Godric, transformando-o em pedra. Lisa virou-se para quem lançou o feitiço e viu Chamberlain aproximando com sua varinha apontada para ela.
__Não vou permitir que você atrapalhe nossos planos!
Chamberlain ergueu a varinha e Slater entrou na frente de Lisa.
__Millória!
Um fantasma branco surgiu e chocou-se contra Chamberlain lançando-o para longe.
__Lisa, você está bem? __perguntou Louise.
__Estou. Ah, me desculpe, sua varinha!
__Obrigado. Mas, tenho algo para você!
Louise enfiou a mão no bolso e tirou uma varinha dourada e uma mini espada de ouro onde o nome Witchfire reluzia na lâmina.
__Minha varinha e minha espada! Obrigada Louise, eu...
__Abaixem!
Lisa, Louise e Slater abaixaram bem a tempo de uma bola de luz vermelha passar sobre suas cabeças. A bola de luz atravessou o tribunal e atingiu o auditório, onde Dan, Zig, Cliffe, Peter, Tom e Grump ainda estavam com os olhos fechados. Com o barulho da explosão, Dan e os outros abriram os olhos e viraram-se para o centro do tribunal, onde Osman atacava Slater, Lisa e Louise.
Imediatamente, Dan saiu do auditório e correu para o centro do tribunal. Quando ele passou pela estátua de quatro guardas, Dan viu Max saindo do outro lado do tribunal e dirigindo-se para onde Lisa estava.
__Imobila! __gritou Dan.
O feitiço atravessou o tribunal e imobilizou Max.
__Expelliarmus! __Slater lançou um feitiço e Osman repeliu-o, lançando em seguida, outro feitiço que atingiu Slater e o jogou para longe.
__Slater!
__Não gaste sua saliva com este imprestável, Lisa! __disse Osman__ Sabe, foi um erro eu ter mandado os Emissários da Morte para matarem Slater. Deveria ter previsto que Gaya encontraria os Cards Mortais e os destruiria. Mas agora não importa mais, vou mata-lo assim que me livrar de você.
__Então terá que me matar primeiro!
Louise entrou na frente de Lisa e abriu os braços.
__Como queira! Amplexus...
__Imobila!
Dan surgiu atrás de Osman e o imobilizou.
__Abaixa, Dan! __gritou Louise.
Dan abaixou-se e o feitiço de Crowley passou rente a sua cabeça e atingiu Louise, arrastando-a para sobre o auditório.
__Louise! __gritou Lisa.
__Expelliarmus! __gritou Dan. A varinha de Crowley voou de sua mão e caiu a mais de dez metros dele__ Então você também está do lado dele! Você traiu seu amigo...
__Não seja dramático como Lisa, garoto. Athus era fraco, gostava de ajudar a quem precisasse de ajuda. Achava que assim conseguiria conquistar as pessoas. Pura tolice!... Acredito que agora ele esteja tão melhor quanto vocês __Crowley ergueu sua bengala e puxou a parte superior de apoio da mão, de onde uma varinha negra surgiu, para surpresa de Dan__ Se esqueceu, meu jovem, que eu sempre guardo uma varinha de reserva? Mas, não importa agora, não é, o que importa vai ser o seu fim...
__Não, mesmo! __disse Dan__ Impedimenta!
__Reverso!
O feitiço de Dan chocou-se contra a varinha de Crowley e voltou-se contra ele. Dan ergueu-se no ar e caiu no chão aos pés da estátua de Godric.
__Dan! __gritou Lisa.
Lisa correu até Dan e o ajudou a levantar-se. Ao virar-se armada para Crowley, Lisa viu Hariph chegando por trás dele e abaixando-se para pegar a varinha caída no chão.
__Isso foi apenas um aquecimento. Gosto de brincar antes de executar o Abraço da Morte __enquanto Crowley falava, Hariph abaixava-se e pegava a varinha caída no chão. Entrementes, Lisa e Dan acompanhavam apreensivos os movimentos de Hariph__ Mas, não se preocupem, me canso muito rápido. Digo até que já estou me cansando dessa conversa fiada e...
__Expelliarmus!
Louise surgiu atrás de Lisa, com Tom ao seu lado, e apontou a varinha para Crowley, que foi imediatamente desarmado. Entrementes, Hariph levantou com a varinha de Crowley e ergueu-a para ataca-lo.
__Bom, muito bom! Mas não é o suficiente para me deter __debochou Crowley__ Na verdade, nada pode nos deter, agora, não é mesmo, meu caro Hariph?
Hariph abaixou a varinha e abraçou Crowley, que estava de braços abertos.
__É, sim, meu amigo!
__Amigo?
Lisa, Louise, Tom e Dan arregalaram os olhos. Aquilo não podia ser verdade. Hariph, amigo deles?
__Ela está aqui, Hariph! Eu esperei ansioso por esse momento, não vamos desperdiça-lo, vamos mata-la! __disse Crowley com um brilho doentio brilhando em seus olhos.
__Não. Não podemos __disse Hariph__ Ela é a nossa chave para encontrarmos o Olho do Milênio e o Mestre deu ordens para que a preservemos viva. Ela é dele, Crowley!
__Está certo, mas então, porque ficar enrolando? __gritou Crowley__ Traga-o para cá!
__Não. Ainda não. Temos que tirar os amigos dela do caminho, antes de meu Mestre chegar.
__Então, deixe-me fazer o serviço!
__Está certo. Mate os outros, __Hariph devolveu a varinha de Crowley e virou-se para Lisa, perplexa__ mas, antes, eles possuem o direito de saber a verdade!
__Verdade? __disse Lisa involuntariamente diante tamanho espanto__ Mas, eu pensei que...
__Como são idiotas! __disse Hariph sorrindo nefastamente para Lisa__ Acreditaram esse tempo todo que eu era um dos partidários de Slater, que eu era um de seus seguidores quando na verdade sempre segui o Senhor da Ilha das Sombras! Estou decepcionado com você, Louise... Achei que fosse mais inteligente. Cheguei até a pensar que minha máscara de aluno enigmático e solitário fosse arrancada por você, mas, me enganei! __Hariph riu medonhamente e depois fitou Lisa__ E você, sua idiota, acreditando o tempo todo que aquele imbecil __Hariph apontou para Max imobilizado pelo feitiço de Dan__ era quem havia atacado Grump, Gregor e Steven, e depois ferido Athus, fugido e retornado na mesma noite para mata-lo!
__Não, está errado __dizia Lisa sem compreender nada do que Hariph falava__ Está tudo errado! Eu pensei que você... a marca no seu abdômen...!
__Uma mera conhecidência, eu diria! __sorriu Hariph__ Duas marcas! Realmente eu não esperava que isso fosse acontecer, mas, me aproveitei do caso e pude continuar na Fonte Phoenix fora de qualquer suspeita. Devo isso a você Louise!... Quem diria, você vivia dizendo que Peter era um imprestável, apesar de não estar mentindo, mas, também, se mostrou tão imprestável quanto ele!
__Não entendo! __murmurou Louise ainda perplexa e sem entender muita coisa do que Hariph dizia.
__Seu feitiço. Quando lançou aquele feitiço na noite do baile contra mim, ele passou de raspão em meu abdômen e só provocou um mero queimado que, com a ajuda de um feitiço, ficou semelhante a uma cicatriz de um ferimento muito antigo.
__Não, não pode ser. Max estava com o abdômen sangrando!
__Meu abdômen sangrava, mas não por causa de um feitiço!
Lisa virou-se e viu Max se aproximando com Slater ao seu lado __certamente ele desfez o encantamento de Dan. Ao lado de Lisa, Dan parecia imóvel. Seus olhos vibravam e focavam, ora Max, ora Hariph.
__No final do ano anterior, depois de ter deixado Slater para trás para despistar os Emissários da Morte enquanto eu fugia do Bosque Espinhoso, fui encontrado pelos Cards Mortais e fui atacado. Lutei contra os Emissários e fui ferido por uma lança no lado direito do abdômen, contrário ao ferimento desse traidor que é no lado esquerdo!
Lisa olhou de Hariph para Max e lembrou-se do que Düblin lhe disse instantes antes dela e dos outros decolarem com as Mandrágoras do Bosque Espinhoso.
A menina pode reconhece-lo por uma marca no abdômen, no lado esquerdo, provocada por uma lança de um Emissário da Morte.
Como Lisa se esquecera disso? Como ela se deixara acreditar que Hariph era um dos seguidores de Slater?
__Espere, tem algo errado, se você é o seguidor de Slater, então, porque sua marca sangrava e porque, desapareceu na noite do baile e só reapareceu hoje? __perguntou Lisa.
__Como o ferimento foi feito por um Card Mortal ele também se torna permanente, assim como as mortes provocadas por eles. Depois que eu fui atacado e deixado inconsciente, Düblin me encontrou as margens de um riacho e me levou para ser cuidado por Geoffrin. Na casa dela, meu ferimento foi tratado e cuidado pelos meses que sucederam antes das aulas na Fonte Phoenix começarem. Os meses passaram e meu ferimento nunca se curava. No final das contas, estava se tornando impossível freqüentar as aulas e permanecer o dia sem ficar com as vestes sujas de sangue, devido aos escorrimentos que ocorriam continuamente.
“Na noite do baile, eu saí para pegar bebida para você e vi meu ferimento voltando a sangrar e saí as pressas do salão antes que alguém me visse. Vendo que meu ferimento não iria parar de sangrar nos próximos dias, me afastei da Fonte Phoenix permanentemente”.
__Estávamos errados esse tempo todo! __disse Lisa virando-se para Hariph sem acreditar no erro que cometeram__ Foi você quem atacou aquelas pessoas no Castelo dos Trons e na noite baile!
__Demorou muito para perceber isso, não foi Lisa? __debochou-se Hariph sorrindo sombriamente__ Tolinha, desde o final do ano anterior eu venho fazendo ataques a Fonte Phoenix. Ravenclaw... Christian Ravenclaw, fui eu quem o matou a mandado de Weaslow!
__Se você matou Christian, então, __Louise olhou de Lisa para Dan e depois se voltou chocada para Hariph__ matou também o pai dele!
__Obviamente sim. Mas, diferente da morte de Slater __Hariph fez uma pausa e fitou Slater__ a morte dos Ravenclaws foi definitiva. Eu consegui entrar na Cúpula da Fênix e tirei Christian da formatura enquanto seus amigos eram diplomados pelo cálice. Sobre a forma de__ Hariph fechou os olhos e instantes depois, seu corpo estremeceu e, entre uma luz prateada, o rapaz se transformou num homem alto, forte, de cabelos lisos e grisalhos. Ao vê-lo, Lisa arregalou os olhos. O homem era a imagem e semelhança de Christian Ravenclaw, porém, com alguns anos a mais__ Lauro Ravenclaw, levei Christian até o jardim sul e matei-o. Depois, pendurei-o na espada da estátua e deixei-o para que seu corpo fosse encontrado ao acaso... Hum, coitado! Morreu acreditando que era seu pai quem lhe lançava o Abraço da Morte e depois lhe cravava a espada!
__Você foi cruel! __disse Lisa.
Hariph riu e voltou a sua forma original num novo farfalhar de luzes prateadas.
__Talvez, não tão cruel quanto fui com o pai dele. Não tive dó de fazer a morte abraçar Lauro Ravenclaw e moer todos os seus ossos e os seus órgãos até o sangue fluir pelos orifícios do corpo. Sua morte foi merecida. Ninguém mandou ele meter o nariz onde não foi chamado... Mas, não me sinto nem um pouco culpado. E sabe porque, Lisa? Porque não foi eu quem o matou!
__O que está dizendo? __disse Slater__ Acabou de confessar que foi o autor dos assassinatos!
__Sim, mas, de certa forma, não foi eu quem invadiu a cabana de Lauro. Como da primeira vez, me passei por outra pessoa... uma mulher para ser mais exato... cabelos loiros longos, olhos esmeralda... isso não soa familiar, Lisa?
Lisa ficou imóvel. A descrição de Hariph era muito semelhante a de uma pessoa. Tal pessoa que ela temeu ser quem fosse.
De súbito, o corpo de Hariph voltou a brilhar e estremecer. Quando todos menos esperavam, uma mulher loira de cabelos longos, olhos esmeralda usando vestes humanas, surgiu com um sorriso malicioso no rosto.
__Não pode ser! __murmurou Dan.
__O que achou Lisa? __perguntou Hariph__ Sou ou não sou idêntico a você?
__Agora faz sentido, a mulher que o aldeão viu era você se passando por mim!
__Exatamente. Esse era mais um plano que tínhamos em mente. Queríamos eliminar Lauro Ravenclaw e culpa-la pelo assassinato dele. Mas, antes de executar o plano, fiz questão de contá-la sobre o que eu planejava. Lembra-se do dia em que nós nos encontramos no corredor do castelo e você desmaiou? Então, a voz que você ouviu lhe dizendo que alguém morreria naquela noite, era minha. Eu penetrei na sua mente e a forcei a ouvir o que meus pensamentos diziam. Eu queria que você contasse para seus amigos e que estes, espalhassem para a Fonte Phoenix. Tudo correu como o planejado, Lauro foi assassinado, um aldeão viu uma mulher trajando vestes da Fonte Phoenix saindo da cabana dele, você ouviu uma estranha voz lhe dizendo que alguém morreria aquela noite e Maya contou aos inspetores a conversa que ouviu entre você e Louise.
“Tudo estava perfeito, exceto por dois pequenos detalhes: o aldeão não me viu, quero dizer, não te viu de frente e assim não pode dizer aos inspetores quem era o assassino e o simples fato de você saber com antecedência da morte de Lauro, não a colocou como uma das executoras do assassinato. Como conseqüência, o plano não deu certo. Mas, já era de se esperar que o plano desse errado, ainda mais vindo de quem veio __Hariph virou o olho e, pelo canto, viu Crowley fazendo cara feia para ele__ Também não me admiro que os planos seguintes também não deram certo!”
__Planos seguintes? __perguntou Lisa depois de notar que Crowley resmungara algo incompreensível.
__Sim. Um dia antes de Lauro ser executado, ouvi você e Louise conversando na Sala Comunal sobre um sonho que teve, onde você sonhou com uma voz que lhe dizia para procurar Madame Geoffrin. Quando percebi o tamanho da gravidade, passei a persegui-las para descobrir o que planejavam. Foi então que as vi vasculhando a biblioteca e pegando o Localizol. Eu entrei em desespero, não podia permitir de forma alguma que encontrassem Geoffrin, ainda mais depois de ouvi-las pronunciando o nome de Mayer Slater.
“Naquele dia, eu tinha pouco tempo para impedi-las de encontrar Geoffrin e sair para matar Lauro. Desesperado, libertei os Canidópulus que Ljosalfr trouxera para a Fonte Phoenix e depois persuadi Maya a persegui-las e pegar um suposto livro que deixava Louise“incrivelmente habilidosa em qualquer matéria que ela quisesse”. A tola maravilha acreditou e roubou o Localizol da biblioteca enquanto vocês se ocupavam em acompanhar a confusão que os Canidópulus causavam no Castelo dos Gaullers”.
Entrementes, Louise lançou um olhar reprovador para Maya, que tentava se esconder atrás da estátua de Hart, e voltou-se para Hariph.
__Para meu alívio __continuou Hariph__ Maya negou-se a devolver o Localizol, mesmo depois de descobrir que tudo que eu lhe contara sobre o livro era mentira. A rixa entre as duas, Lisa, meu deu mais tempo para planejar uma nova forma de faze-la sofrer... No entanto, tive que me preocupar com a aproximação cada vez mais constante de Max, a quem, há pouco tempo descobri quem era. Weaslow o viu na Fonte Phoenix e me alertou sobre sua verdadeira identidade. A principio, eu fiquei despreocupado, pois, poderia dar conta dele assim que me livrasse de você.
“Antes das férias, enquanto caminhava por um dos corredores do Castelo dos Bruxos, ouvi Maya contando a Peter que vocês viajariam para o Bosque Espinhoso e que procurariam uma mulher. Obviamente, presumi que se tratava de Geoffrin e fui para o Bosque Espinhoso. Quando vocês chegaram lá, lancei um feitiço contra os animais alados, enquanto dormiam e os fiz voltarem para a Fonte Phoenix, deixando-os no Bosque”.
“No dia seguinte, libertei os Cards Mortais que Osman me emprestou e ordenei que matassem todos, menos você, Lisa. Ordenei que a atacassem e a ferissem o suficiente para que não pudesse encontrar Geoffrin. No entanto, Chicoteiras, Canidópulus, Emissários da Morte e uma reversão de feitiço não foram suficientes contra um bando de fedelhos. Então, tive que fazer o serviço sozinho. Eu só não esperava que aquele Freeguiz aparecesse e atrapalhasse meus planos”.
“Como você conseguiu se encontrar com Geoffrin, só me restou uma escolha: mata-la para que a verdade sobre o retorno do meu Mestre não chegasse aos ouvidos de Gaya, mesmo que para isso eu fosse castigado por desobedecer as suas ordens”.
“Eu não tinha muito tempo a perder, destruí a casa de Geoffrin e a persegui pelo bosque. No entanto, mais uma vez, você se deu bem. Conseguiu voltar para a Fonte Phoenix sem sofrer um arranhão se quer”.
“Sem saber o que fazer, vim para Poltergrat. Procurei Weaslow e contei o que houve. Imediatamente fui ordenado a voltar para a Fonte Phoenix e vigia-los. Sabíamos que não contariam para ninguém, pois, poucos acreditariam. Enquanto retornava para a Fonte Phoenix, recebi uma nova missão de meu Mestre. Ele estava fraco e precisava de mais energias; e o Baile que teria na noite seguinte, estaria lotado de gente”.
“Na noite do baile, desejei fazer um único ataque enquanto todos dançavam, mas, era arriscado e muitos guardas estavam de vigia. Então, deixei Maya no baile e saí do Salão para vagar pelos jardins da Fonte Phoenix, pois sabia que encontraria muitos casais escondidos nos becos mais escuros dos castelos. Sem hesitar, percorri todos os cantos da Fonte Phoenix e ataquei o máximo de pessoas que consegui, até que você apareceu. Eu não tive muita escolha, deixei os jardins e fugi. No entanto, não poderia fugir sem ataca-la novamente, como fiz no final do ano anterior com você e Athus. Voltei para trás e a aguardei na escuridão até que se aproximasse. Quando a vi se aproximando, me transformei e adquiri a sua forma. Em seguida, ergui minha varinha e a ataquei. Segundos depois, Louise apareceu me ferindo de raspão com um Feitiço Marcador e, por sorte, consegui fugir, graças ao feitiço de Peter, que me transformou numa pomba”.
__Então foi por isso, que eu tive a sensação de ter visto uma mulher me atacando __disse Lisa__ Era você se passando por mim!
__Exatamente. Em todos os ataques eu me passei por você, inclusive no ano anterior quando a ataquei naquele corredor. Mas, sabe, Lisa, a minha intenção era culpa-la pelos ataques, mas, era impossível de isso acontecer, pois, nenhuma das vítimas se lembraria de mim, na sua forma, atacando-as, ainda mais depois de terem suas lembranças totalmente sugadas.
__Lembranças? __perguntou Lisa__ Mas, eu pensei que sugasse os poderes delas!
Hariph calou-se. O rapaz ria baixinho, balançando os ombros com um largo sorriso no rosto.
__Como são tolos! Meu Mestre não precisa de poderes para se manter vivo! Lembranças são o suficiente para fortalece-lo. No entanto, confesso que eu realmente sugava os poderes das pessoas... para me fortalecer, é claro!
__Espere, se sugava os poderes para você __disse Louise__ então era por isso que você era tão exímio em todas as matérias. Você era o melhor aluno da turma só porque sugava as habilidades de suas vítimas!
__Exatamente __Hariph deu um pequeno riso e virou-se para Dan__ E você, seu idiota, pensando que Max servia meu Mestre. É ridículo! Acho melhor você prestar mais atenção no que vê, pois, nem sempre os olhos nos mostram a verdade do ângulo que vemos!
__Do que está falando? __perguntou Dan.
__Vou refrescar a sua mente! __Hariph sorriu e depois continuou__ Depois que ataquei Grump, Gregor e Steven e fui seguido por Athus e por você, Lisa, no Bosque das Ninfas, eu me refugiei na Fonte Phoenix na forma de uma Trasgo, o que não levantou suspeita de ninguém. Ao anoitecer recuperei minha forma original e voltei para a Sala Comunal. Porém, enquanto passava por um dos corredores, Max apareceu entre a escuridão e me abordou...
__Não é seguro ficar perambulando pelos corredores escuro à noite, Hariph. Ainda mais nos tempos atuais!
Max saiu dentre a escuridão do corredor e aproximou-se de Hariph. O rapaz, por sua vez, ergueu sua varinha, assustado, e acendeu uma pequena luz na ponta dela.
__Ora, Ora! Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo, Max? __disse Hariph abaixando a varinha__ Mas, receio que os tempos atuais não estão muito favoráveis para você, meu caro... Mesmo correndo perigo, você se arriscou e saiu de sua toca... Pelo que estou vendo, percebeu que não adianta ficar se escondendo! Eles vão encontra-lo, Max...
__Não antes de eles pega-lo __disse Max.
__Não seja idiota! __murmurou Hariph__ Eles não sabem quem sou eu!
__Mas ela sabe!
__Não, não sabe!... No entanto, farei questão de dizer a ela que você é...
Max agarrou Hariph pelo colarinho e jogou-o contra a parede do corredor.
__Desgraçado! __gritou Max forçando Hariph contra a parede.
__Eles vão desmascara-lo, Max! __gritou Hariph.
__Não há nada para ser desmascarado!
Por alguns segundos, Max e Hariph ficaram em silêncio. Max apertava Hariph contra a parede enquanto o rapaz ria debochadamente da cara dele.
__Sua sorte, Hariph, é que os fatos estão invertidos __sussurrou Max__ Pensam que eu é quem atacou aquelas pessoas enquanto o verdadeiro culpado está perambulando pela Fonte Phoenix como se não devesse nada a ninguém.
__Azar seu! __sussurrou Hariph. E após um risinho debochado, disse__ Seu azar foi aquele ferimento no abdômen... vão pega-lo a qualquer momento...
__Tenho certeza de vou sair dessa __disse Max forçando Hariph contra a parede__ Enfim, o cerco está se fechando, meu caro, a máscara está caindo e a verdade vai surgir a qualquer momento...
__Não vai surgir porque meu Mestre não vai permitir __murmurou Hariph__ Aqueles que sabem da verdade não viverão até o final deste ano para dar testemunho, sabe porque?
Hariph levou a boca até o ouvido direito de Max e sussurrou:
__ Porque eu.... __houve uma pausa e o sussurro saiu lento e bem pronunciado __vou mata-los!
Imediatamente, Max soltou Hariph e abriu os braços enquanto gritava:
__ENTÃO PORQUE NÃO ME MATA, LOGO!
__É exatamente o que vou fazer!
Hariph girou a varinha e apontou para Max. No entanto, Max fez um movimento com o dedo e uma faísca de luz arrancou a varinha da mão de Hariph. A varinha voou no ar e caiu, em seguida, nas mãos de Max. Imediatamente, Max, ergueu a varinha e imprensou-a contra a garganta de Hariph. Nesse mesmo instante, Dan apareceu no corredor.
__Então, eu...
Dan estava perplexo. Seus olhos corriam de Hariph para Max, que, ao vê-lo abaixou o olhar.
__Está vendo, Dan __disse Hariph__ você chegou no lugar certo, porém, na hora errada! Minha sorte foi Max ter arrancado a varinha de minha mão e apontada para mim no exato momento em que você apareceu. Sabe, Dan, isso me deu muitas chances, sabia? Se tivesse me visto atacando Max, meus planos teriam se arruinado. Mas, como isso não aconteceu, eu só ganhei mais tempo para terminar o que comecei: matar Athus!
Ao ouvir Hariph pronunciando o nome de Athus, Lisa fechou os punhos e se controlou para não voar no rapaz.
__Depois que deixei Dan seguindo Max, naquela noite, voltei para a Sala Comunal e fiquei um tempo lá, pensando no que eu iria fazer se caso Dan pegasse Max e este, lhe contasse a verdade. Confesso que entrei em desespero ao pensar na possibilidade de Athus reaparecer e contar a todos que foi eu quem o atacou, mas, logo encontrei a solução para meus problemas ao ver pela janela o incrível semblante de Athus entrando no Castelo dos Bruxos. Eu não poderia de forma alguma permitir que Athus continuasse vivo e então, me veio a idéia que eu precisava para tirar todas as atenções em torno dos meus ataques e focaliza-los em outra pessoa.
‘Sem perder tempo, me transformei em você, Lisa; em seguida, peguei uma espada das armaduras e saí da Sala Comunal pronto para terminar o que comecei no Bosque das Ninfas. Naquele momento eu sabia que Dan ainda perambulava pelos corredores procurando Max. E isso era favorável para mim, especialmente se Dan me visse, quero dizer, visse você, Lisa, matando Athus. A minha sorte foi tão grande que quando descia as escadas espirais, Dan apareceu e me viu, acreditando que eu era Max.’
‘Acredito que aquela noite foi a melhor de minha vida. Quando cheguei ao hall de entrada do castelo, vi as pegadas de sangue de Athus e as segui até encontra-lo caído em um dos corredores. É claro que, ao me ver, Athus ficou assustado e tentou me atacar, mas, pobre homem, estava fraco demais para se defender!’
‘Receio que eu tenha sido cruel de mais em fazer Athus urrar de dor, mas, era necessário se eu quisesse chamar a atenção de Dan, que eu sabia que estava por perto. Quando percebi que era a hora de acabar com tudo aquilo, lancei o Abraço da Morte e depois terminei o serviço cravando a espada no coração dele no exato momento em que Dan e Darkness apareciam no corredor.’
‘Naquele momento, fiz questão de que me vissem, na sua forma, Lisa, antes de fugir. Como o esperado, Dan me seguiu aos berros, acreditando que sua amiga era uma assassina!... Depois de atravessar o hall, eu saí do castelo e voltei para minha forma original no jardim sul. Pronto! O serviço estava feito. A verdade que Athus sabia, enfim, não oferecia risco algum aos planos de meu Mestre e, Lisa era a culpada do assassinato do professor. Bom, acho que lhes contei tudo que tinham direito de saber. Agora, temos que por em prática o que meu Mestre me ordenou... Crowley, Osman... matem os outros e você, Lisa, vem comigo!
Hariph ergueu a varinha e Lisa sentiu algo a puxando pelo pescoço e erguendo-a para o alto ao mesmo tempo em que a imobilizava. Hariph deu de costas e Lisa saiu flutuando, seguindo-o.
__Lisa!
Louise tentou impedir, mas Crowley e Osman entraram na frente de Hariph e ergueram a varinha.
__Se preparem para morrer! __rosnou Crowley.
__Impedimenta! __gritaram Max e Slater.
Crowley e Osman foram atingidos em cheio e lançados sobre as escadas da Corte.
__Vão atrás de Hariph, nós cuidamos deles! __disse Max.
__Certo __disse Louise.
Louise, Dan e Tom deixaram Max e Slater e correram para o centro do tribunal onde Hariph arrastava Lisa com sua varinha. Quando os três passaram pelos destroços da gaiola humana, um raio riscou ao lado de Louise e, instantes depois, Tom caiu duro como uma pedra no chão.
__Tom!
Louise virou-se para trás e viu Weaslow apontando sua varinha para ela com os olhos fechados. Quando o lorde ergueu a varinha novamente, um outro raio de luz riscou em sua direção e o atingiu lançando-o para longe.
Louise e Dan olharam para o lado e viram Zig, Cliffe, Gregor e Peter se aproximaram.
__Acho que chegamos na hora certa! __disse Peter abaixando a varinha.
__Valeu!
Louise e Dan deixaram os quatro e embalaram atrás de Hariph que nesse exato momento se aproximava da porta do tribunal.
Sem pensar duas vezes, Louise ergueu a varinha e apontou para o alto do portal da porta.
__Bombarda!
Uma bola de luz atravessou o tribunal e destruiu uma das estátuas dos homens que se apoiavam nas espadas. A estátua desprendeu-se do teto e caiu sobre o tribunal, cobrindo a porta do recinto.
Ao ver que a saída estava tampada, Hariph virou-se e deparou-se com Louise e Dan se aproximando.
__Não gosto que ninguém atrapalhe meus planos! __Hariph ergueu a varinha e apontou__ Impedimenta!
O feitiço acertou Dan e o empurrou até o corpo do rapaz chocar-se contra a parede do tribunal.
__Expelliarmus! __gritou Louise.
A varinha de Hariph voou da mão dele e caiu aos pés da estátua de um dos guardas. Imediatamente, Lisa parou de levitar e caiu no chão.
__Você está desarmado Hariph __disse Lisa apontando a varinha para ele__ Está indefeso!
__Impedimenta!
Chamberlain apareceu e lançou um feitiço que riscou o tribunal e atingiu Louise, jogando-a contra o auditório.
__Louise! __gritou Lisa.
__Expelliarmus!
Chamberlain lançou outro feitiço e a varinha de Lisa voou de sua mão. No entanto, quando Chamberlain se aproximou, Slater entrou em sua frente e lançou outro feitiço, fazendo o inspetor rodopiar no ar e cair no chão.
__Pelo visto não é só eu quem está indefeso!
Hariph foi até uma estátua de um dos guardas e arrancou a espada da mão deles. Entrementes, Lisa enfiou a mão no bolso e tirou sua mini espada, depois murmurou:
__Gládio!
Num farfalhar de luzes, a pequena espada aumentou de tamanho e se projetou na direção de Hariph. A espada era dourada e tinha o nome Witchfire escrito na lâmina.
__A famosa espada Witchfire __murmurou Hariph__ Só lamento que sua fama e poder não se comparar ao fracasso da dona!
Hariph ergueu sua espada e atacou Lisa. Por alguns minutos, o retinir das lâminas das espadas, ecoaram pelo tribunal enquanto feitiços de todos os tipos jogavam pessoas para o alto ou faziam parte do teto desmoronar.
Enquanto todos lutavam, Maya tentava se esconder atrás da estátua de seu pai. Um esconderijo que se tornou inútil quando Weaslow, que a pouco tempo rastejava de olhos fechados no chão, sentiu sua presença e lançou um feitiço contra ela. Maya saiu correndo pelo tribunal e parou debaixo da estátua de um dos homens apoiados nas espadas que desmoronava sobre sua cabeça pela ação de um feitiço lançado por Max e desviado por Osman.
Louise levantou-se meio zonza pelo feitiço de Chamberlain e olhou para o lado. Lisa e Hariph batalhavam com suas espadas; Max, Dan e Zig mantinham uma vantagem devastadora sobre Osman; Weaslow lançava feitiços desordenados com os olhos fechados; Chamberlain erguia-se e Peter, Cliffe, Gregor e Slater lutavam contra Crowley que se defendia com poderosos Feitiços Escudos. Ao virar-se para o outro lado, Louise encontrou Maya aos berros ao ver uma das gigantescas estátuas desprender-se do teto e cair sobre sua cabeça. Rapidamente, Louise ergueu a varinha e gritou:
__Ex ducere!
O feitiço arrastou Maya segundos antes da estátua cair e quebrar-se em centenas de pedaços.
Do outro lado do tribunal, Crowley ergueu sua varinha e lançou uma poderosa bola de luz contra Slater, que a desviou com outro feitiço. A bola de luz subiu para o alto do tribunal e atingiu o centro teto, destruindo-o.
Os que lutavam no centro do tribunal correram para as bordas ao mesmo tempo em que o teto caía sobre suas cabeças. Os que ficaram para trás lançaram Feitiços Escudos para se proteger.
__Porque está fazendo isso, Hariph? __perguntava Hariph enquanto se defendia dos ataques dele__ Porque está seguindo Gorgon?
__Não seja idiota...
Hariph avançou com a espada sobre Lisa e esta, tropeçou nos pés e caiu. Quando o rapaz ergueu a espada, Louise apareceu e lançou um feitiço. Hariph foi erguido no ar e lançado de costas contra o chão.
__Você está bem, Lisa? __perguntou Louise ajudando Lisa a levantar-se.
__Estou, obrigada!
Lisa levantou-se e encontrou sua varinha caída no canto da parede. Após pegá-la, Lisa olhou para o centro do tribunal e depois, com um sorriso no rosto, foi até Hariph e apontou a varinha para ele.
__Acabou, Hariph! __disse Lisa__ Seus amigos estão em desvantagem __Hariph olhou para o centro do tribunal e viu Osman sendo imobilizado por Slater, Crowley rodopiando no ar por causa de um feitiço desastroso lançado por Peter, Weaslow rastejando de olhos fechados e Chamberlain lutando em desvantagem contra Dan, Max, Zig e Cliffe__ Como vê seu plano foi por água abaixo...
__HARIPH!
Lisa virou-se e viu Osman gritando.
__CHEGOU A HORA HARIPH! TRAGA-O PARA CÁ. TRAGA-O, HARIPH!
Hariph olhou para os lados e murmurou:
__Varinha!
De súbito, a varinha de Hariph estremeceu no chão e voou, em seguida, até as mãos do rapaz. Com a varinha na mão, Hariph lançou um feitiço e Lisa e Louise foram jogadas para longe.
Rapidamente Hariph levantou-se e correu para o centro do tribunal, onde parou e ergueu a varinha para o alto. Em seguida, sorriu para Lisa e gritou:
__Noctisempra!
Um grande raio de luz negra saiu da varinha, atravessou o buraco no teto e desapareceu na direção do sol. De repente, uma grande massa escura surgiu no céu e começou a cobrir o sol ao mesmo tempo em que uma escuridão sem fim tomava conta de Poltergrat.
__Ah, não! __murmurou Louise perplexa.
__O que foi Louise?
__É... é a Noite Eterna!
Lisa olhou para o alto e viu o sol sendo totalmente coberto pela mancha negra.
__Você tem que sair daqui, Lisa! __disse Louise assustada.
__Porquê?
__Tire-a daqui! __gritou Slater da outra ponta do tribunal__ Lisa tem que sair daqui. AGORA!
__É Gorgon, Lisa __disse Louise__ Você tem que sair daqui!
__Não, eu não vou __disse Lisa__ Gorgon é o responsável por tudo que aconteceu... Chegou a hora de enfrenta-lo de frente a frente... Por todos que foram sacrificados, eu não vou fugir!
__Mas, Lisa...
Lisa sentiu uma fisgada forte na sua marca no pescoço e olhou para o céu, onde uma espécie de névoa negra se formava sobre Poltergrat. Sobre os protestos de Louise, Lisa caminhou até o centro do tribunal e parou com a mão na marca, que explodia em dor.
De súbito, uma espiral negra desprendeu-se das nuvens em forma de névoa e desceu até o centro do tribunal. Repentinamente, uma ventania sombria varreu o lugar e deixou tudo escuro. Quando todos menos esperavam, a névoa se dissipou e uma pessoa parada em pé sobre os destroços que caíram do teto, surgiu entre a escuridão.
Lisa estremeceu e olhou para os lados. Em todos os cantos sombras movimentavam-se atrás da escuridão e rodeavam o tribunal. Apertando os olhos, Lisa conseguiu ver entre a névoa negra que desaparecia, uma criatura de asas sombrias sair de cima dos destroços segurando algo na mão. Imediatamente, Hariph encaminhou-se até ela e caiu de joelhos aos pés dela.
__Mestre, ela está aqui! __disse Hariph aos pés da criatura__ Não conseguimos matar os amigos dela porque estávamos em desvantagem...
__Inútil!
De súbito, um par de olhos vermelhos surgiu na região do tórax da criatura e uma voz sombria ecoou como um trovão pelo tribunal às escuras.
__Me perdoe Mestre, mas...
__Cale-se! Cuidarei de você depois. Agora, tenho um assunto a resolver...
__Lisa!
Max saiu de onde estava e correu na direção da criatura.
__Max, não! __gritou Slater.
Ao ver Max, Hariph entrou na frente da criatura e ergueu a varinha, no entanto, a voz sombria trovejou novamente:
__Saia da minha frente, Hariph!
Hariph, imediatamente se afastou para o lado. A criatura, por sua vez, manteve-se parada onde estava.
Max pulou os destroços do teto e ergueu sua varinha.
__Desgraçado!
Assim que Max se aproximou da criatura, ela murmurou:
__Mate-o!
De súbito, um outro par de olhos vermelhos surgiu acima dos olhos existentes e lançou uma poderosa luz contra Max.
__Max, não!
O Olho do Milênio
Um flash de luz vermelha empurrou todos contra a parede e desapareceu deixando um profundo silêncio dentro do tribunal coberto por sombras que se movimentavam de um lado para o outro.
Lisa ergueu-se com dificuldade e olhou para os lados. Entre a escuridão, Lisa conseguiu ver Louise se levantando num canto e as outras pessoas erguendo-se no outro canto do tribunal. À frente de Lisa, a criatura permanecia intacta com seus dois pares de olhos vermelhos brilhando incessantemente. Atrás dela, Hariph sorria nefastamente.
__Max? Onde está Max?
Lisa olhou para os lados novamente e não o viu. Seu coração começou a bater acelerado. Será que Max virara pó? Será que... Não! Lisa não gostava de pensar no que teria acontecido ao rapaz. Ao virar-se novamente para a criatura, Lisa viu um corpo caído sobre os destroços.
Lisa ficou intacta. Não... não podia ser. Max estava morto!
Com os olhos vidrados no corpo, Lisa deu alguns passos a frente e parou de chofre ao perceber que havia mais um corpo ao lado de Max. Lisa apertou os olhos e percebeu Max se mexer. Ele não estava morto! Lisa sentiu um grande alívio e aproximou-se mais.
__Não, menina! __disse o outro corpo erguendo-se ao lado de Max__ Não se aproxime! Fuja, fuja!
Os olhos de Lisa arregalaram-se ao reconhecer aquela voz fraca e quase sussurrada de Düblin. O Freeguiz jogara Max no chão para livra-lo do ataque de Gorgon. Mas, de onde Düblin veio?
Os dois pares de olhos vermelhos da criatura brilharam novamente e Lisa virou-se para ela. Naquele momento, a presença daquela criatura era muito mais preocupante do que de onde Düblin saiu.
__Perda de tempo! __disse a criatura.
__Devo terminar de executa-lo, Mestre __disse uma outra voz, agora, feminina, vinda da criatura.
__Não, deixarei que os outros façam isso! Agora, deixe-me vê-la mais de perto Narnia!
A criatura começou a caminhar lentamente na direção de Lisa e foi atacada por Düblin, que levantou de chofre e atacou-a com uma luz brilhante. No entanto, a criatura brilhou os olhos superiores e Düblin foi arremessado para longe.
Ao vê-la se aproximando, Lisa estremeceu e segurou forte a sua varinha. A cada passo que a criatura dava, a marca de Lisa doía cada vez mais.
A criatura parou de chofre e Lisa ficou intacta onde estava, esperando a oportunidade certa para ataca-la. No entanto, quando a criatura parou, Lisa se assustou ao ver o semblante da criatura surgindo entre as sombras e hesitou em ataca-la.
As sombras se dispersaram e uma mulher acinzentada de cabelos escuros e lisos, olhos amarelos de corpo acinzentado, de orelhas pontudas, com asas de morcego, mãos finas e com unhas pontudas surgiu segurando uma almofada negra onde uma criança de quase cinco anos estava sentada. A criança era tão branca quanto à neve, tinha uma cabeça anormalmente grande, era careca e seus olhos eram esbugalhados. Sua íris era branca como a pele e seus lábios eram tão negros quanto à noite. Seus braços e pernas eram curtos, finos e pequenos. No colo, a criança segurava uma caixinha feita de ossos humanos onde uma caveira formava a tampa e sua boca formava a tranca da caixa. Na caixa, os olhos da caveira brilhavam intensamente numa tonalidade vermelha.
__Então, você é a filha de Draco Bladefire, não é? __perguntou a criança.
Lisa afastou-se para trás e apertou a varinha contra a mão.
__RESPONDA!
De súbito, os olhos da criança brilharam e Lisa sentiu sua boca abrir lentamente e responder a pergunta da criança.
__S-sim! __disse Lisa a força.
__Lisa Bladefire! Enfim nos conhecemos. Acredito que já saiba meu nome, não sabe?
__G-Gorgon!
__Exatamente! É uma pena, Lisa, que não teremos muito tempo para nos conhecer. Meu pai já esperou muito por este momento e, nada melhor do que adiantar as coisas, não acha?... Narnia!
__Sim, Mestre! __disse a mulher que Gorgon chamava de Narnia.
__Traga-a conosco __ordenou Gorgon__ Traga Hariph também. Vai ser útil!
__Sim, Mestre!
Os olhos de Narnia brilharam e seu corpo começou a desaparecer sobre um círculo negro que surgiu sob seus pés como se o chão do tribunal a engolisse.
De súbito, uma sombra ergueu-se atrás de Lisa e agarrou suas pernas, puxando-a para dentro do círculo negro que também surgira sob Lisa.
__Louise! __gritou Lisa enquanto era puxada pela sombra.
__Lisa!
Louise correu até Lisa e a puxou pelos braços. No entanto, Louise não conseguiu puxa-la e o corpo de Lisa foi engolida pelo círculo negro ao mesmo tempo em que a voz de Gorgon ordenava para seus seguidores.
__Crowley, Osman, Weaslow, Chamberlain... matem os outros...
A voz de Gorgon desapareceu e Lisa viu a escuridão engolindo-a e a puxando para dentro de um túnel cheio de sombras. De repente, Lisa caiu de cara no chão de uma sala escura onde havia sete espelhos verticais em um dos cantos dela.
Lisa ergueu a cabeça e viu Narnia segurando Gorgon no centro da sala e Hariph se aproximando com a varinha erguida.
__LEVANTE-SE!
Hariph fez um movimento com a varinha e Lisa sentiu seu corpo desprender-se do chão e ficar em pé.
__Onde estou?__perguntou Lisa de olho na ponta da varinha de Hariph apontada para ela.
__Esta é uma das centenas de salas que Poltergratpossui__disse Gorgon__ Acredito que ainda se lembre desta.
Lisa virou-se para os sete espelhos que nada refletiam e tentou lembrar-se de algo semelhante. De súbito, a imagem de um sonho que ela tivera antes das férias veio a sua mente e Lisa percebeu que já estivera naquela sala uma vez.
__Eu estive aqui em meu sonho, uma vez __murmurou Lisa__ Foi você quem me trouxe aqui, naquele sonho, não foi?
__Não! __disse Gorgon__ Weaslow a trouxe até aqui. Atrás de um desses sete espelhos existe um labirinto que esconde uma das mais preciosas relíquias que o mundo já viu. Infelizmente, não é qualquer um que pode encontra-lo!
__E, o que eu tenho a ver com isso?
__Você vai encontra-lo para mim!
__Jamais!
__HARIPH!
Hariph fez um movimento com a varinha e Lisa sentiu seu corpo esticar e remoer em dor. Enquanto Lisa gritava de dor, Gorgon dizia:
__Acho melhor colaborar, Lisa. A dor é apenas algo passageiro que pode ser cortado com um estralar de dedos __Gorgon estralou os dedos e Hariph abaixou a varinha. Lisa caiu no chão com o corpo todo dolorido__ mas, a morte, não é tão passageira quanto a dor!
__Prefiro a morte a encontrar o que você procura!
__Não sabe o que está falando, Lisa __Gorgon deu uma pequena risada e depois ficou sério__ HARIPH!
Hariph ergueu a varinha novamente e Lisa se debateu no chão com os ossos estralando.
__Pare! __disse Lisa aos gritos.
__HARIPH! __Hariph abaixou a varinha e Lisa repousou no chão__ Às vezes Lisa, o sofrimento é a penas uma ponte que liga a vida à morte. Mas, como qualquer ponte, podemos decidir entre atravessa-la ou permanecer na margem em que estamos. A escolha é sua, Lisa. Você não quer sofrer mais, quer?
__Porque quer encontrar essa relíquia? __perguntou Lisa levantando-se.
__Vencer a morte, Lisa, é o que muitos já almejaram, mas, nenhum conseguiu chegar tão perto quanto meu pai!
__Seu pai? __perguntou Lisa sem entender.
__Tudo depende de você, Lisa __disse Gorgon__ Então, o que me diz?
__Nunca.
__Que seja... HARIPH!
Novamente, Lisa caiu no chão retorcendo-se de dor enquanto Gorgon a fitava gritar.
__Isso não está ajudando, Mestre __murmurou Narnia.
__Pare Hariph! __ordenou Gorgon__ Preciso dela consciente.... Narnia, traga-me outra pessoa!
Os olhos de Narnia brilharam e de repente, um corpo caiu do teto da sala escura.
Lisa ergueu-se sentindo que metade de seus ossos estavam fora do lugar e virou-se para Gorgon, onde viu Louise levantar-se do chão e correr até ela.
__Lisa! __disse Louise.
__Narnia! __murmurou Gorgon.
Antes que Louise pudesse se juntar a Lisa, uma névoa negra surgiu ao lado dela e a envolveu num casulo negro onde apenas a cabeça da garota ficou do lado de fora.
__Louise! __gritou Lisa__ Solte-a!
__Porque deveria? __riu Gorgon__ Faça-a sofrer um pouco, Narnia!
Os olhos de Narnia voltaram a brilhar e a névoa em torno de Louise se comprimiu esmagando o corpo da garota.
__Pare __gritou Lisa__ Você vai mata-la!
Mas Narnia não parou. A névoa comprimia Louise como se fosse algo de concreto que esmagasse um corpo sob ele.
__Pare! Você a está esmagando!
__Pare, Narnia! __ordenou Gorgon.
A névoa afrouxou-se e Louise parou de gritar.
__Encontre a relíquia e libertarei sua amiga __disse Gorgon__ Caso contrário...
__Ahhhhhhhhhhhhhh!__gritou Louise comprimida pela névoa.
__Está bem __disse Lisa ofegante__ Deixe Louise e eu encontrarei o que procura.
__Primeiro, encontre!
__Está certo!
E passando por Hariph, Lisa atravessou a sala e parou de frente para os grandes espelhos verticais. Ali, Lisa começou a suar frio. Ela não sabia qual daqueles espelhos era a passagem para o labirinto e não tinha a mínima idéia de como encontra-la.
__Concentre-se Lisa! Concentre-se! __dizia Lisa mentalmente.
Lisa fechou os olhos. Aquilo era ridículo. E agora, o que ela iria fazer? Fazer Papai Noel mandou eu escolher esse daqui ou uni duni tê? Não. Lisa estava convencida de que teria que encontrar aquela passagem a qualquer custo, a vida de Louise estava em jogo.
Concentrando-se o máximo que pode, Lisa afastou os pensamentos de sua cabeça e deixou que sua mente lhe dissesse qual espelho escolheria. Quanto mais Lisa se concentrava, mais sua marca no pescoço parava de doer. Era como se a concentração aliviasse todas as suas dores e a enche-se de uma leveza antes nunca vista.
De súbito, uma voz ecoou levemente em sua mente:
Quatro da esquerda para direita e dois da direita para a esquerda.
É isso! Lisa abriu os olhos e caminhou-se para o quinto espelho da esquerda para direita. Ela não sabia se era exatamente ele, mas, algo a dizia que deveria confiar em sua intuição.
Erguendo o braço, Lisa tocou o espelho e sentiu a sua superfície sugando-a para dentro dele. Impulsionando o corpo, Lisa atravessou o espelho e vazou numa outra sala duas vezes mais extensa do que a anterior e repleta de centenas de milhares de espelhos que formavam um extenso labirinto.
__Andando, Bladefire!
Hariph surgiu atrás de Lisa e a cutucou nas costas com a varinha. Lisa virou-se e viu Narnia aparecer na sala com Gorgon em seus braços e Louise envolta na névoa negra ao seu lado.
__Por onde agora, Lisa? __perguntou Gorgon.
Boa pergunta, pensou Lisa. Até ali, fora até fácil, mas, daqui para frente, exigiria muito mais do que concentração para Lisa. A garota, então, andou até a entrada do labirinto de espelhos e parou. Lisa olhou para os milhares de reflexos que surgiam e decidiu entrar na segunda entrada da direita para esquerda.
Com Narnia e Hariph a sua cola, Lisa caminhou por longos minutos por corredores que a cada passo se tornavam confusos. Os reflexos se tornavam distorcidos e pareciam que pulavam de um espelho para o outro, formando uma ilusão de ótica que cobria as entradas de outros corredores.
Com a cabeça girando diante tantos reflexos, Lisa parou frente um espelho que dava fim ao beco em que ela entrara.
__Não tem saída! __murmurou Lisa.
__Hariph __murmurou Gorgon__ faça uma saída!
Hariph ergueu a varinha e Lisa abaixou-se. De repente, uma luz esverdeada explodiu os espelhos a frente da garota e abriu caminho para um outro corredor de espelhos.
__Agora, __murmurou Gorgon__ continue!
Lisa olhou de soslaio para Louise e viu que a garota estava bem. Pisando sobre os cacos de vidro do espelho, Lisa entrou no outro corredor e seguiu até dar de cara com outro espelho. Era um novo beco sem saída.
__HARIPH!
Os estilhaços dos espelhos se espalharam pelo novo corredor abrindo caminho para Lisa passar.
Enquanto caminhava sem saber qual rumo certo deveria tomar, Lisa percebia que Gorgon não parecia tão calmo quanto estava antes. A cada corredor sem saída, Gorgon ordenava que Hariph abrisse uma saída com um tom de voz cada vez mais impaciente. Esse tom de voz deixava Lisa cada vez mais preocupada.
Lisa já não tinha mais noção de quanto tempo ela estava andando pelos corredores ou de quantos espelhos Hariph precisou estourar. A cada passo que dava, Lisa sentia que seria inútil continuar. Os corredores estavam cada vez mais confusos e ela já não sentia mais a mesma firmeza que sentiu ao encontrar o labirinto. Lisa, porém, ao olhar o semblante sofrido de Louise, respirou forte e encheu os pulmões de ar. Mais do que nunca ela não poderia falhar. Por Louise ela iria encontrar a tal relíquia a qualquer custo.
Apressando os passos, Lisa parou em frente a dois corredores. Seus olhos correram de um para o outro sem saber em qual deveria entrar.
__Qual deles? __murmurou Hariph erguendo sua varinha.
Lisa não sabia responder. Tentando se concentrar novamente, Lisa fechou os olhos e tentou afastar seus pensamentos. No entanto, a idéia passageira de que a alguns andares acima, Max, Dan e os outros estavam duelando com os seguidores de Gorgon e que, andares abaixo Louise estava prestes a ser esmagada caso ela não encontrasse a relíquia de Gorgon, perpassou sua cabeça afastando qualquer tentativa de concentração.
__O que está esperando? __rosnou Gorgon com os olhos começando a brilhar de raiva__ Qual deles vai nos levar a relíquia?
Lisa olhou para o olhar furtivo de Gorgon e voltou-se para os dois corredores. Decidindo que tomaria qualquer um, Lisa caminhou para o corredor da direita, mas, ao entrar nele, sua marca fisgou e a atenção da garota voltou-se para o corredor da esquerda. Será que era ele que Lisa deveria tomar?
Lisa parou. Olhou para os dois corredores e novamente decidiu continuar pelo da direita. No entanto, ao dar alguns passos, Lisa parou. Sua marca fisgava incessantemente e sua atenção novamente se voltava para o corredor da esquerda.
__Porque parou? __perguntou Hariph.
Lisa olhou para o corredor em que estava e, não sabia porque, mas, resolveu voltar e seguir pelo outro corredor.
__Corredor errado __murmurou Lisa voltando__ É este aqui!
Lisa entrou no corredor da esquerda e, após andar por alguns minutos, viu o corredor se abrindo e terminar no centro do labirinto onde um espelho solitário se projetava num círculo vazio.
Aliviada de enfim conseguir chegar ao centro do labirinto, Lisa correu até o espelho solitário e parou de frente para ele. O espelho vertical apoiado em pernas de madeira não refletia reflexo algum, exatamente como Lisa vira em seu sonho. Ao erguer seus olhos para o canto superior esquerdo do espelho, Lisa viu uma inscrição em letras tombadas: Michel de Nostredame, Profecia do Milênio
__Michel de Nostredame __murmurou Lisa__ Nostradamus!
__O que disse? __perguntou Hariph se aproximando.
__Nada!
Nostradamus. Era isso! Atrás do espelho estava a relíquia que Gorgon procurava, a relíquia criada por Nostradamus. De alguma forma, Lisa tinha que impedir que Gorgon a pegasse, mas, se tentasse algo, Louise morreria. Lisa parou, seus olhos correram do espelho para Louise envolta na névoa.
__O portal para a Relíquia! __murmurou Gorgon__ Até que enfim...
__Atrás desse espelho está o que você procura __disse Lisa lembrando-se de seu sonho__ Já fiz minha parte, agora, liberte Louise.
__Ainda, não! __exclamou Gorgon__ Nosso trato era se você encontrasse a Relíquia eu libertaria sua amiga, mas, você ainda não a encontrou. Liberto sua amiga depois de ver a Relíquia!
__Mas...
__Faça o que meu Mestre manda! __murmurou Hariph espetando a varinha nas costas de Lisa.
Contrariada, Lisa virou-se para o espelho e tocou-o com a mão. Como no primeiro espelho, a superfície do objeto estremeceu e sugou o corpo de Lisa para dentro dele. Após atravessa-lo, Lisa entrou numa sala escura de piso de mármore.
Hariph surgiu logo atrás de Lisa e a empurrou para frente. Em seguida, Narnia, Gorgon e Louise entraram na sala e começaram a caminhar dentro da sala seguindo Lisa.
Após caminhar alguns segundos, a escuridão da sala se dissipou como um véu negro se abrindo sobre o mármore e aos poucos algo foi surgindo no centro da sala.
Lisa deu alguns passos e parou com seus olhos vidrados na estátua de uma mão negra, murcha e de aspecto cadavérico saindo do chão e segurando uma esfera de cristal.
__O Olho do Milênio! __murmurou Gorgon abrindo um sorriso negro no rosto__ Narnia, me leve até ele.
Narnia levitou e saiu na direção da estátua da mão. ao passar por Lisa, a garota chamou por Gorgon.
__Você está de frente com o Olho do Milênio, agora, liberta Louise.
Narnia parou e Gorgon murmurou:
__Narnia!
A névoa que prendia Louise desapareceu e a garota caiu no chão.
__Louise!
__HARIPH! __gritou Gorgon.
Hariph ergueu sua varinha e apontou para Lisa.
__Colocorpus!
De súbito, Lisa e Louise foram arremessadas contra a parede e ficaram presas como se seus corpos estivessem colados nela.
__O que está fazendo? __perguntou Lisa__ Eu cumpri com minha promessa, porque não nos deixa ir embora?
Narnia virou no ar e Gorgon ficou de frente para Lisa e Louise, que nesse instante despertava de suas dores.
__Você realmente acreditou que eu cumpriria com minha promessa, Lisa? __Gorgon soltou uma gargalhada e depois continuou__ Achou que depois de todo esse tempo tentando faze-la sofrer eu a libertaria? Não, Lisa, seu destino é morrer para pagar o que fez a meu pai. Sua morte servirá de consolo para seus amigos imprestáveis e seu coração, arrancado do seu corpo, servirá de alimento para minha mãe! Ah, Lisa, você não sabe quanto esperamos ansiosos por esse momento __disse Gorgon alisando a caixinha de ossos__ A morte enfim será vencida e o Senhor da Ilha das Sombras retornará mais uma vez... E você, Lisa, presenciarás eu retorno... Narnia!
Enquanto acompanhava com os olhos Narnia virar-se com Gorgon e seguir na direção do Olho do Milênio, Lisa tentava encontrar uma forma de impedir Gorgon de chegar perto da Relíquia. Por algum motivo, Lisa sentia que o que iria acontecer não seria nada de bom se Gorgon tocasse no Olho do Milênio. De alguma forma, ela tinha que conseguir pegar sua varinha, que caíra no chão, e impedi-lo.
__Varinha! __ murmurou Lisa.
A varinha de Lisa se debateu no chão e de repente voou para a mão da garota. Rapidamente, Lisa a empunhou e apontou para Hariph.
__Expelliarmus!
Hariph foi lançado para o fundo da sala e Lisa e Louise desprenderam-se da parede.
__Louise, você está bem?
__Estou!
__Narnia! __disse Gorgon.
Narnia ergueu uma das mãos e apontou para Lisa. de súbito, seus olhos ficaram vermelhos e um facho de luz negra saiu de seus dedos e seguiu da direção de Lisa e Louise.
Lisa e Louise rastejaram para o lado e o feitiço de Narnia acertou o chão, abrindo um enorme buraco nele. Rapidamente as duas levantaram-se e empunharam suas varinhas.
__Não sei porque, mas não podemos permitir que ele toque na esfera! __murmurou Lisa.
__Então, eu o distraio e você pega a esfera __disse Louise.
__Narnia! __gritou Gorgon.
Narnia fez um movimento com os dedos e lançou um raio de luz negra contra as duas. Louise entrou na frente de Lisa e apontou sua varinha.
__Burgus!
Um escudo prateado surgiu na frente das duas e o feitiço de Narnia chocou-se contra ele, empurrando Louise para trás. De súbito a varinha de Louise começou a tremer na sua mão e seu escudo começou a trincar diante tamanho poder de Narnia.
__Expelliarmus!
Hariph surgiu dentre a escuridão e desarmou Louise, jogando-a contra a parede. Rapidamente, o rapaz ergueu sua varinha e Lisa foi envolta por uma luz vermelha que a apertava e a fazia gritar de dor.
__Isso, Hariph __murmurou Gorgon__ mate-a!
__Não! __ gritou uma voz rouca e extremamente fraca vinda da caixinha de ossos__ Ela é minha!
Hariph fez um movimento com a varinha e Lisa caiu no chão com o corpo contorcido.
__Não perca tempo, Gorgon, pegue o Olho do Milênio! __disse a estranha voz.
__Sim, papai! __murmurou Gorgon__ Narnia!
Papai? Lisa levantou sobre o olhar de Hariph e tentou ficar em pé, mas sua marca no pescoço ardeu em dor e ela caiu novamente no chão. Erguendo-se com a mão sobre a marca, Lisa olhou para frente e não conseguiu ficar com os olhos fixos em Narnia. Sua marca queimou e Lisa abaixou a cabeça.
__Tenho que impedi-lo __murmurou Lisa tentando erguer-se, mas, sua marca doía tão intensamente que era quase impossível levantar __ Tenho que...
De súbito uma bola de luz atingiu Hariph e o jogou para sobre Narnia. Lisa virou-se para trás e viu Düblin, Max e Dan saindo do espelho e entrando na sala.
__Você está bem, Lisa? __perguntou Max.
__Estou, obrigada!
Enquanto Max e Dan ajudavam Lisa e Louise, Düblin corria até a esfera e a pegava. Entrementes, os olhos da caveira da caixinha de ossos que estava caída próxima à estátua da mão brilhou e uma voz fraca e rouca gritou:
__Eles estão fugindo com o Olho do Milênio! Detenho-nos!
Narnia empurrou Hariph de cima dela e levantou-se, com Gorgon em seus braços, e lançou um raio de luz negra contra os Düblin que corria na direção do espelho com o Olho do Milênio na mão.
__Sigam Düblin! __disse Düblin quando passou perto de Lisa, Louise, Dan e Max.
__Vamos! __gritou Max.
Düblin escapou de ser atingido por um raio de Narnia e entrou no espelho seguido por Lisa, Louise, Dan e Max.
Entrementes, Narnia pegava a caixinha de ossos caída, entregava a Gorgon e voava rapidamente na direção do espelho com Hariph a sua cola.
Lisa, Louise, Dan e Max atravessaram o espelho e vazaram no centro do labirinto onde viram Düblin desaparecer em um dos corredores de espelhos. Rapidamente os quatro o seguiram e, instantes depois, viram Narnia, Gorgon e Hariph sair do espelho e chagar no labirinto.
__Eles estão fugindo! __gritou a voz vinda da caixinha__ Impeça-os!
__Narnia! __gritou Gorgon.
Narnia deixou Gorgon flutuando no ar e ergueu seus braços. Após abrir suas mãos, seus olhos brilharam e de súbito uma luz vermelha espalhou-se pelo labirinto destruindo todos os espelhos que encontrava pela frente.
__Corram! __gritou Louise ao ver a luz vermelha se aproximando.
Entre os estilhaços de espelhos que explodiam antes mesmo da luz atingi-los, os cinco tentavam sair do labirinto que não parecia ter fim. Quando a luz enfim os estava alcançando e o corredor não tinha mais saída, Düblin gritou:
__Para o chão!
Os cinco imediatamente pularam para o chão e, milésimos de segundos depois, a luz vermelha devastadora passou sobre eles, erguendo seus cabelos e jogando cacos de vidro sobre seus corpos.
Assim que a luz cessou, Lisa ergueu a cabeça e olhou para frente. O que antes era um labirinto de espelhos, agora era um gigantesco piso de estilhaços de vidro que desaparecia de vista. Ao longe, sobre os restos do labirinto, Lisa viu Düblin correndo o máximo que podia com o Olho do Milênio na mão na direção do único espelho que restara na sala, o espelho-portal que dava acesso a primeira sala que Lisa entrara inicialmente.
Ao lado de Lisa, os outros se levantaram com os rostos levemente cortados pelos estilhaços de vidro e viraram-se para trás, onde Narnia se aproximava com Hariph a sua cola.
__Cuide deles Hariph __murmurou a voz da caixinha__ enquanto Gorgon recupera o Olho do Milênio!
__Sim, Mestre!
De súbito, Narnia se transformou numa sombra e desapareceu com Gorgon e a enigmática caixinha falante.
__Como chegaram até aqui? __perguntou Hariph erguendo sua varinha.
__Acho que não temos tempo para explicações, Hariph! __Max fez um movimento com a varinha e Hariph foi arrastado para trás por uma luz verde.
__Vamos! __gritou Louise.
Hariph ergueu-se com o nariz sangrando e apontou sua varinha.
__Vocês não vão a lugar algum! Impedimenta!
Max e Dan atravessaram o espelho-portal e deixaram Lisa e Louise para trás. Ao ver que Hariph as estava atacando, Lisa parou e virou-se com a varinha erguida para Hariph.
__Hametsius!
Um jorro de luz branca saiu da ponta da varinha de Lisa e chocou-se com o jorro de luz vermelha de Hariph, formando uma espécie de ponte luminosa sobre os estilhaços de vidro que ergueram-se no ar com as ondas de energia que o choque dos feitiços provocavam.
__Lisa!
__Louise, vá com Max e Dan. Deixe-me com Hariph, temos contas a acertar! __disse Lisa firmando a varinha para que seu feitiço não fosse empurrado contra ela pelo feitiço de Hariph.
__Mas, Lisa...
__Vá! Gorgon não pode pegar o Olho do Milênio!... O que está esperando?
Louise fez um sinal com a cabeça e pulou para dentro do espelho-portal.
Entrementes, Hariph aumentou seu feitiço e a ponte de luz vermelha empurrou a luz branca de Lisa. De súbito, o ponto de encontro entre os dois feitiços formou uma grande bola de luz heterogênea que, pela ação de Hariph, foi empurrada contra Lisa.
Segurando a varinha o máximo que podia, Lisa controlou o feitiço e em seguida, gritou:
__Reverso!
A varinha de Lisa estremeceu e uma grande explosão de luz transformou o feitiço de Hariph numa grande bola de fogo que em seguida, abriu-se em uma enorme Fênix flamejante. A ave de fogo avançou sobre Hariph e o atacou. O rapaz fez um movimento com a varinha e o fogo girou em torno de seu corpo formando um redemoinho flamejante.
Estacada a beira do espelho-portal, Lisa observava perplexa o seu próprio feitiço e a destreza como Hariph manejava-o em torno de seu corpo como se as chamas tivessem sido produzidas por ele mesmo. De súbito, para maior espanto de Lisa, as chamas em torno de Hariph ficaram negras e o redemoinho de fogo ergueu sobre a cabeça do rapaz numa grande massa negra flamejante. Após Hariph executar um movimento com a varinha, a bola de fogo negra abriu-se em um gigantesco Carrasco avançou sobre Lisa.
Ao ver o Carrasco, os olhos de Lisa arregalaram-se e visões atormentantes vieram a sua mente. Por um breve instante, Lisa viu a Besta entrando pela janela de seu quarto, os Carrascos girando em espiral sobre ela e Louise no Bosque das Ninfas, ela e Athus sendo atacados por eles e por último, a visão mais atormentante de todas: o pano negro que cobria o rosto da Besta caindo e a face horrenda de Malagat surgindo a sua frente.
Lisa deu um passo para trás e fitou o Carrasco de chamas negras cada vez mais perto dela. Por uma fração de segundos, Lisa viu Hariph do outro lado da sala sorrindo nefastamente e em seguida, o Carrasco esticando os longos dedos fúnebres a menos de cinco metros dela.
Como se o tempo e o espaço houvessem sido paralisados, Lisa assistiu em câmera lenta um de seus maiores pesadelos se aproximando e ela, ali, parada, sem fazer nada.
__Reaja, Lisa!__gritou uma voz no inconsciente mais profundo de Lisa__ Isso é um feitiço. Não confunda uma ilusão com a realidade!
Involuntariamente, Lisa ergueu sua varinha e os milésimos de segundos que se passaram pareceram uma eternidade antes dela gritar:
__Lúmus Máxima!
O retorno
Uma forte luz rompeu o tempo e o espaço paralisados entre Lisa e Hariph e atacou o Carrasco. A luz envolveu as chamas negras e logo em seguida explodiu, lançando cinzas ao ar.
__O que foi, Lisa, ficou com medo? __debochou-se Hariph vendo a expressão amedrontada de Lisa__ Saiba que de onde veio esse há muito mais...
Lisa abaixou o braço lentamente sem ouvir as provocações de Hariph. Mentalmente, as lembranças de Lisa ainda davam voltas em torno dos Carrascos, o que deixava a garota sem entender o porque dessas lembranças súbitas.
Entrementes, Hariph ria debochadamente como uma criança mimada e malcriada.
__Diga-me, Lisa, seu passado a atormenta?
__O quê? __murmurou Lisa percebendo, enfim, que estava no meio de um duelo.
Hariph não respondeu, nem ao menos continuou seu deboche. O rapaz ficou ereto e girou a varinha entre os dedos observando a expressão de Lisa.
__Você é patética, sabia? __disse entre os dentes__ Não sei como lhe deixei me vencer na aula de Flycken... mas isso não tem importância agora, pois, estamos numa nova oportunidade de duelarmos. Desta vez, vencerei... Só lamento que minha vitória não possa ser honrada com seu sangue derramado... meu Mestre não me perdoaria se eu a executasse em seu lugar... Se prepare Lisa, duelaremos até eu vence-la e, como recompensa, prometo que lhe darei a meu Mestre como presente.
__Você matou Athus e merece ser punido, mas, nosso acerto de contas terá que esperar mais um pouco... Colocorpus!
Hariph foi arrancado do chão e chocou-se de costas contra a parede do labirinto, onde ficou colado.
Lisa deu as costas para Hariph e atravessou o espelho-portal. Enquanto corria a procura de seus amigos, a mente de Lisa pedia-lhe para voltar e vingar a morte de Athus. Lisa, porém, hesitava, pois sabia que Gorgon poderia estar arrancando o Olho do Milênio das mãos de Düblin e usando-o para fazer o que seja que ele queria fazer com a relíquia criada por Nostradamus. Naquele momento, o futuro de Aragorn era mais importante.
Os archotes acenderam-se e o corredor escuro de Poltergrat se iluminou vagamente enquanto Lisa passava correndo desesperada tentando encontrar seus amigos. Empunhando a varinha, Lisa entrou por dois corredores e parou de chofre ao ver uma parede destruída na entrada do terceiro corredor.
Lisa, então, passou por cima dos destroços da parede e entrou numa pequena sala de móveis vermelhos destruídos e alguns, virados de pernas para o ar, mostrando claramente que o local fora palco de um duelo. Lisa olhou para os lados e viu um quadro de um imponente homem de quase quarenta anos de idade usando uma pesada armadura, segurando o elmo debaixo do braço esquerdo e uma longa lança dourada na mão direita, levemente chamuscado por um feitiço no canto superior esquerdo. Abaixo da pintura, uma faixa animada flutuava magicamente para cima e para baixo junto com o nome do homem da gravura: Lorde Farquar.
Sem dar muita atenção ao quadro, Lisa saiu da sala pelo buraco na parede e voltou para o corredor onde encontrou novos vestígios de duelos recém travados no local. Entre os vestígios havia uma enorme estátua de uma Gárgula partida ao meio e uma estátua de um velho sem a cabeça, provavelmente ela fora explodida por um feitiço.
Lisa continuou a correr pelo corredor e parou ao ouvir o barulho de sucessivas explosões. Eles estavam por perto. Certamente ainda estavam duelando, o que significava que Gorgon estava tentando recuperar o Olho do Milênio a qualquer custo.
Lisa segurou forte a varinha e correu na direção das explosões, sendo forçada em seguida, a parar bruscamente quando os blocos de pedra do castelo desprenderam-se da parede e foram lançados contra o corredor. Lisa mergulhou entre meio a nuvem de poeira e entrou num salão dourado de longas janelas verticais onde feitiços de todos os tipos ricocheteavam o teto incrustado com estátuas de homens, mulheres, gárgulas, grifos e dragões serpentes.
Em um dos cantos do salão, Lisa avistou Louise, Max, Zig, Cliffe, Peter, Grump e Dan que travavam um duelo contra Chamberlain e, em outro canto, estava Düblin, que se escondia atrás de Slater com o Olho do Milênio na mão. Fora uma das cenas mais impressionantes que Lisa já vira. Tentando proteger a relíquia nas mãos de Düblin, Slater duelava sozinho contra Narnia, Gorgon, Osman e Crowley. Um duelo em que Slater não parecia estar intimidado por estar em desvantagem. Ao contrário, sua mão movimentava a varinha tão rápido que ficava até difícil saber como Slater fazia para repelir os pesados feitiços de Narnia, ordenados por Gorgon em seus braços.
__Colocorpus! __ordenou Slater e, segundos depois, Crowley foi arrancado do chão e pregado na parede do salão.
Lisa assistia o duelo sem saber por onde começar. Por um breve instante, seus olhos voltaram-se para uma parte afastada de onde os duelos estavam sendo travados. Lá, Peter e Maya duelavam com Weaslow, que lançava feitiços a esmo já que o lorde ainda estava impossibilitado de enxergar meio palmo a sua frente.
__Ex ducere! __gritou Maya.
Uma bola de luz saiu da ponta da varinha de Maya e atingiu Weaslow. O lorde atravessou o salão de braços abertos e chocou-se contra uma das janelas, caindo em seguida sobre o lago em torno do castelo.
__Petrificus totalis!
Lisa virou-se e viu Cliffe cair duro feito uma pedra no chão num baque ensurdecedor.
__Ergam-se minhas crianças!
De súbito os olhos de Gorgon ficaram vermelhos e uma nuvem negra invadiu o salão. Da nuvem, sombras espectrais saíram e atacaram todos. Em seguida, vários relampejos emergiram dentre a escuridão que se propagava e Lisa viu Slater sendo lançado contra a parede e Düblin sendo erguido, em seguida, por Narnia pelos pés.
__Não! __gritou Lisa.
Desbravando as nuvens de sombras que surgiam no salão, Lisa tentou impedir Gorgon de tirar o Olho do Milênio das mãos de Düblin, mas foi atacada por uma sombra que agarrou seus braços e a carregou para longe.
__Lúmus!
A visão de Lisa ficou turva e suas costas ficaram doloridas quando a sombra a soltou e ela caiu de costas no chão. Lisa levantou-se e viu Max se distanciando na direção dos outros com uma luz acesa na ponta da sua varinha. Ao vê-lo desaparecer entre o enxame de sombras espectrais, Lisa se perguntou se ninguém, além dela, estava vendo Gorgon prestes a tirar o Olho do Milênio das mãos de Düblin.
__Expelliarmus!
Lisa viu um forte relampejo e em seguida ouviu a voz vinda da caixinha de ossos gritar:
__O Olho do Milênio. Não o deixe cair, Gorgon!
O coração de Lisa acelerou-se. Alguém atacara Gorgon e tirara o Olho do Milênio das mãos dele e agora, a relíquia estava preste a cair no chão. Com a idéia da relíquia quebrando em sua mente, Lisa segurou forte a varinha e correu na direção dos gritos da voz da caixinha. Tropeçando em algo duro e caindo de cara no chão, Lisa levantou-se bem a tempo de ver a esfera de cristal surgindo entre a névoa negra formada pelas sombras, caindo em sua direção. Lisa ergueu a mão para pegá-la, no entanto, Osman surgiu na escuridão e gritou algo. Como se fosse atraída por um ímã, a esfera voou na direção de Osman e bateu com força na palma de sua mão.
__Expelliarmus!
Lisa atingiu Osman com o feitiço e o Olho do Milênio voou de sua mão e mais uma vez desapareceu entre a névoa negra. Segundos depois, Lisa viu o flash de um relampejo e ouviu Gorgon gritar:
__Peguem o Olho do Milênio!
Houve vários relampejos e Lisa ficou sem rumo. A escuridão era tanta que era impossível saber com quem estava com o Olho do Milênio. Temendo mais uma vez que Gorgon pudesse pegá-lo. Lisa entrou a esmo entre a névoa e, segundos depois, deu de cara com a parede do salão. Percebendo que era inútil correr na escuridão, Lisa ergueu sua varinha e ordenou: Lúmus! Uma vaga luz surgiu na ponta da varinha e Lisa percebeu que a névoa parecia distanciar da ponta da sua varinha.
__É claro! Por que não pensei nisso antes? __E erguendo sua varinha o máximo que pode, Lisa gritou__ Lúmus lucídium!
Uma bola de luz saiu da ponta da varinha e subiu para o alto do salão. Segundos depois, a bola de luz explodiu iluminando o salão, afastando toda a névoa.
Quando os olhos de Lisa se habituaram a presença da luz brilhante que vinha do teto, ela viu Slater caído petrificado no meio do salão, Max preso a parede, Dan caído no chão amarrado por correntes, Zig, Louise, Düblin, Grump e Maya erguendo-se do chão e, em um canto afastado do salão, Peter encurralado por Crowley e Chamberlain que tentavam tirar o Olho do Milênio de suas mãos. Em um outro canto Osman levantava-se meio abobado e, a sua frente, Narnia e Gorgon pareciam ter perdido as forças, pois, não conseguiam ficar em pé.
Peter deu um passo para trás e deu de costas com a parede. O coração de Lisa acelerou. Ela tinha que fazer alguma coisa. Seu braço ergueu-se e sua varinha ficou apontada para a mão de Peter. No momento certo ela iria fazer o Olho do Milênio voar para alto e depois correria para pega-lo.
__Me dê o Olho do Milênio, garoto! __murmurou Chamberlain__ Agora!
Lisa girou a varinha e apontou. Antes, porém, que pudesse pronunciar um feitiço, algo bateu dolorosamente contra sua mão arrancado-lhe sua varinha, que girou no ar e caiu aos pés da estátua de Cliffe.
Hariph entrou no salão empunhando a varinha e apontando para Peter que, segundos depois, foi erguido de ponta cabeça e desarmado.
__Peguem a relíquia seus inúteis! __rosnou Hariph agora apontando a varinha para Lisa.
Crowley arrancou a esfera de cristal das mãos de Peter e encaminhou-se para onde Gorgon ainda permanecia sem forças para se levantar.
__Apaguem essa luz, Hariph! __implorou Gorgon mal conseguindo erguer a cabeça.
Hariph olhou para o teto onde a bola de luz de Lisa brilhava intensamente. O rapaz ergueu a varinha e...
__Finite...
__Expelliarmus!
Louise ergueu-se rapidamente e apontou a varinha para Hariph. O rapaz atravessou o salão de braços abertos e chocou-se contra a parede. Em seguida, Max fez um movimento com a varinha e desprendeu-se da parede. Rapidamente, Max ergueu sua varinha e apontou para Crowley. Houve um relampejo e o Olho do Milênio escapuliu de sua mão e voou para as mãos de Osman, que correu e apanhou a esfera antes mesmo dela cair no chão.
__Incarcerous!
Um raio de luz lançado por Louise envolveu Osman e o fez girar no ar, ao mesmo tempo em que grossas correntes o enrolavam até o pescoço, deixando apenas suas mãos, seus pés e sua cabeça do lado de fora.
Crowley e Chamberlain tentaram ajudá-lo, mas Zig deu um murro no chão e enormes cumes de terra saíram do chão e formaram uma barreira em torno dos dois.
Louise correu até Osman e fez um movimento com sua varinha. O Olho do Milênio voou para as mãos de Louise e Osman foi erguido para o alto do teto onde ficou preso pelas correntes no chifre de uma estátua de um dragão.
A luz no teto começou a falhar e Louise ergueu os olhos para a bola de luz de Lisa que diminuía drasticamente de tamanho.
__Expelliarmus!
Louise virou-se para Hariph e sentiu algo lhe empurrando e retirando a esfera de cristal de suas mãos. O Olho do Milênio subiu e, no ponto mais alto do teto, a esfera desacelerou a subida e acelerou-se numa caída que pareceu uma eternidade. Temendo que a esfera caísse no chão ou nas mãos de Hariph, Lisa atravessou o salão e esticou o braço para pegá-lo ao mesmo tempo em que Hariph se aproximava e fazia o mesmo.
Como se cada segundo fosse uma eternidade, o Olho do Milênio caiu lentamente entre meio Lisa e Hariph. A esfera girava no ar e refletia a bola de luz que apagava a cada milésimo de segundos e se transformava num mísero ponto luminoso. As mãos de Lisa e Hariph esticaram-se no ar no momento em que a esfera poderia ser alcançada por um deles.
Com os batimentos cardíacos fora do normal, Lisa esticou o braço direito o máximo que pode e sentiu cada movimento da esfera que se aproximava cada vez mais de seus dedos. No entanto, Lisa pode reparar, os dedos de Hariph também estavam muito próximos da esfera e o rapaz poderia apanha-lo. Ambos não poderiam perdê-la e avançaram sobre a esfera.
O Olho do Milênio passou entre meio os dois. Lisa e Hariph ergueram os olhos e esticaram seus braços mais uma vez. Numa fração de segundos, a esfera caiu exatamente entre meio o dedo indicador de Lisa e o dedo indicador de Hariph. A esfera girou lentamente e os dois dedos tocaram-na, ao mesmo tempo em que a luz no teto se apagou.
De súbito, como se o tempo e o espaço tivessem sido paralisados, a esfera parou no ar e Lisa viu uma nuvem prateada surgir dentro dela. De chofre, uma pupila de fogo em forma de fenda surgiu e a esfera assemelhou-se a um verdadeiro olho.
Após o olho surgir, uma forte luz dourada saiu da esfera ao mesmo tempo em que uma névoa da mesma cor da luz ergueu-se sobre ela. De repente, a névoa dourada começou a girar e um velho barbudo de vestes esvoaçantes segurando um cetro ergueu-se majestosamente sobre as cabeças de Lisa e Hariph e disse com sua voz celestial:
__Aqueles que habitam os dois mundos preparem-se para o fim. Quando as duas marcas erguerem-se sobre a terra e a terceira lua surgir no horizonte, o duelo estará terminado e os exércitos tomarão os mundos. Ouçam o que eu lhes digo, as sete profecias foram lançadas. O fim está próximo!
E dizendo isso, o velho ergueu seu cetro e se transformou em pura névoa dourada que foi em seguida, sugada para dentro do Olho do Milênio. A pupila de fogo desapareceu e a esfera de cristal deslizou entre as mãos de Lisa e Hariph e chocou-se contra o chão, quebrando-se em centenas de cacos de cristal.
__Nãããããooooo!!!
Lisa estava tão perplexa com o que vira que nem percebera quando os olhos da caveira da caixinha de ossos ficaram vermelhos e sua voz sombria ecoou pelo salão às escuras.
__O Olho do Milênio está destruído! __continuou a caixinha com seus olhos brilhando tão intensamente que pareciam saltar para fora da caveira.
__Lúmus lucídium!
Sem entender o que estava acontecendo, Louise acendeu uma luz sobre a cabeça de todos e iluminou o salão. Ao ver a luz, Narnia cambaleou para trás e soltou Gorgon que, por sua vez, deixou a caixinha de ossos cair no chão.
__Sua imprestável!
Lisa sentiu seu corpo enrijecer e seus pés saírem do chão. Hariph apontou sua varinha para a testa de Lisa e fez sair faíscas vermelhas da ponta dela. Entrementes, Louise prendeu a respiração e Max e Dan fizeram movimentos ara atacar Hariph, mas, detiveram-se ao ouvir a voz da caixinha murmurar para o rapaz.
__Deixe-a, Hariph!
Hariph saiu de perto de Lisa e a garota caiu no chão com seus movimentos restabelecidos. Ao erguer-se com a ajuda de Louise, os olhos de Lisa depararam-se com a caixinha de ossos.
De dentro da caixinha, uma estranha névoa negra saía e subia lentamente adquirindo uma estranha forma. Para espanto de Lisa e de todos que a rodeavam, um rosto desfigurado surgiu entre a névoa e como uma profunda facada lhe tivesse sido dada no pescoço, Lisa caiu no chão com sua marca ardendo e sangrando.
__Lisa, o que está acontecendo? __perguntou Louise que ouvia os gritos de Lisa.
__Minha marca...
Com o sangue tomando seu pescoço, Lisa ergueu a cabeça, apesar da intensa dor, e olhou para o rosto que surgia dentro da névoa.
__Olá, Lisa! __disse a névoa__ Quanto tempo!
A marca de Lisa explodiu em dor e a garota sentiu seu corpo perder as forças.
__Essa névoa __Düblin estatelou os olhos e postou-se ao lado de Lisa profundamente perplexo com o que via__ Não pode ser...
__Quem é você? __gritou Max apontando sua varinha para a névoa.
Atrás da névoa viva, Hariph segurou a varinha, mas a névoa o interrompeu:
__Não, Hariph, ainda não! __e virando-se para Lisa e os demais__ Não se lembra de mim, Lisa? Ah, que pena, pensei que depois de um ano ainda se lembrasse de seu maior... pesadelo! Que decepção!
__Do que está falando? __perguntou Max com a varinha erguida.
__Lembra-se daquele inverno, terrível, por sinal? __continuou a névoa sem dar atenção a Max__ Nunca houve nada igual em Aragorn... castelos congelados, pessoas cristalizadas até o último fio de cabelo e maravilhosas criaturas voando pelo céu tempestuoso... Boas lembranças, não, Lisa?
Atormentada pela dor, a voz sombria da névoa rodopiou nos ouvidos de Lisa fazendo-a voltar a mais de um ano atrás e relembrar um de seus piores momentos: milhares de Carrascos cercando uma Fonte Phoenix totalmente congelada. Lisa não entendia até onde aquela névoa queria chegar, mas, assim como Düblin, que parecia estarrecido com aquilo, a garota parecia temer quem provavelmente estaria por trás da névoa.
__Seriam ótimas se aquelas maravilhosas criaturas não tivessem sido consumidas pelas chamas assim como meu corpo... Corpo e alma separados... veja no que me transformei, Lisa, um ser insignificante condenado a viver pela eternidade alimentando-se das lembranças de seres inferiores...
__Corpo e alma separados pelas chamas... __os olhos de Lisa arregalaram-se e um corpo sendo consumido por chamas ficou de frente para ela. Não, não podia ser! Aquilo tudo deveria ser um pesadelo. Lisa o destruíra, não poderia estar vivo, não ele!__ MALAGAT!
__O quê? __assustaram-se os que estavam ao redor de Lisa.
__EU O DESTRUI, COMO PODE ESTAR VIVO? __gritou Lisa.
Malagat, a Besta, soltou uma longa e sombria gargalhada.
__O Sétimo Espírito! Eu o estava sugando quando seu feitiço se transformou em chamas. Não esperava que aquilo fosse acontecer. O que antes eu sugava se voltou contra mim em forma de fogo. Meu corpo virou cinzas, mas, minha alma... não.
__A névoa que Düblin viu sair dos escombros era... era você! __murmurou Düblin estarrecido.
__Depois daquela noite, vaguei sem rumo pelos reinos até que em um dia, encontrei o filho de um velho servo meu. Alguém que me jurou lealdade e vingança __atrás de Malagat, os olhos de Hariph estremeceram e o rapaz pareceu encher-se de si mesmo__ Mais do que nunca eu desejava recuperar meu corpo e voltar ao poder, mas para isso, era necessário reunir meus antigos servos. E o primeiro a quem se reuniu a mim foi meu filho, Gorgon. Isso, graças a Slater que, dominado por mim, o libertou.
‘Desde então, me mantive vivo com as lembranças que Hariph sugava enquanto não encontrava uma forma de recuperar totalmente meu corpo. A solução para meus problemas tardou para chegar e você a destruiu, Lisa. O Olho do Milênio era a lembrança mais antiga e poderosa que já existiu, uma lembrança suficientemente forte para trazer meu corpo de volta... e agora, ele não passa de um destroço sem serventia alguma... Ah, como eu te odeio, Bruxa de Fogo! Sua morte será meu consolo e seu coração, minha futura vitória...’
__Você não vai fazer nada a Lisa! __Max girou a varinha e um raio de luz atingiu Malagat, explodindo-o.
__Seu idiota!
Rapidamente, Hariph apontou sua varinha e, instantes depois, Max bateu com a cabeça na parede e caiu desmaiado.
__Max! __gritou Louise correndo até o rapaz.
__A morte será o fim de vocês, seus...
Hariph parou estarrecido. A sua frente, finos fios de névoa rodopiando se juntavam lentamente, formando uma nova névoa. Quando Lisa percebeu, o rosto de Malagat ressurgia entre a névoa, soltando uma profunda gargalhada.
__Felizmente, apesar dessa minha aparência, sou imortal. Nada pode me destruir. Entende agora, Lisa, eu voltei... voltei mais poderoso do que antes, sabe porque? Carrego dentro de mim metade do Sétimo Espírito. A metade que consegui sugar antes que ele próprio se virasse contra mim...
__Isso não adianta de nada se não tem seu corpo! __disse Lisa estarrecida com a idéia do Sétimo Espírito partido ao meio.
__Eu teria um corpo se o Olho do Milênio não fosse um monte de cacos de cristal. Você acabou com minhas esperanças de ter um corpo novamente...
__Receio que Hariph também me ajudou a quebrá-lo __murmurou Lisa.
Hariph arregalou os olhos e apressou-se a dizer:
__Mestre, eu não...
__Cale-se, inútil, cuidarei de você mais tarde!... E você, Lisa, terá a honra de sentir o Abraço da Morte esmagando seus ossos e explodindo suas vísceras. Depois que estiver em seu leito de morte, lhe arrancarei seu coração onde minha amada Keerva irá habitar até renascer novamente. Depois de hoje não haverá mais ninguém para impedir minha ascensão... não existirá mais Bruxas de Fogo por que para que o Sétimo Espírito renasça, deverá estar completo novamente. Entende agora, Lisa, este é o seu fim, este é o fim da Bruxa de Fogo e de todos aqueles que se dizem protegidos por ela. Depois de hoje, as trevas tomará conta de Aragorn e o universo será, eternamente meu ao lado de Keerva.
__Não vejo como vai fazer isso. Se não tem poderes para recuperar sua antiga forma, como vai ter poderes para __olhou para seus amigos ao seu lado e continuou__ nos derrotar?
Apesar da névoa negra que esvoaçava de um lado para o outro, Lisa percebeu Malagat estremecendo os lábios.
__E, se está esperando que seus servos vão fazer o serviço, acho que está enganado __Lisa olhou para os diversos cantos do salão. Crowley e Chamberlain estavam cercados por pontas de terra feita por Zig, Osman estava pendurado no teto pelas correntes enroladas em seu corpo, Narnia e Gorgon estavam caídos no chão perdendo suas forças por causa da luz que Louise acendera no teto e, em algum lugar fora do castelo, Weaslow estava provavelmente cego demais para sair de dentro do lago__ Além do mais, estamos em vantagem. Talvez não podemos vence-lo, mas nada nos impede de vingar a morte daqueles que seus servos executaram para atender as suas ordens. Hariph poderá ser um boneco em nossas mãos e você não poderá fazer nada, Malagat!
Hariph deu um passo para trás, talvez, intimidado por Lisa e por seus amigos. Malagat, por sua vez, não deixou se intimidar.
__Se acha muito esperta, não é? __murmurou Malagat__ Você não sabe o poder que eu ainda possuo. As coisas não parecem estar do seu lado, como você pensa, Lisa! Athus, Lauro e Christian mereceram as mortes que tiveram. Só lamento que não tenha mandado destruir todos na Cúpula da Fênix. Mas, já que deseja morrer, darei-lhe a mesma morte que todos eles e... __Malagat parou de chofre, como se algo repentino lhe ocorresse naquele exato momento. O silêncio da Besta fez Lisa temer o que ela estava pensando__ espere, por que não pensei nisso antes... o Cálice da Vida!... Mudança de planos Hariph, acho que ainda há uma chance... venha comigo!
E erguendo-se no ar, a névoa passou sobre Lisa e seguiu na direção da janela numa incrível velocidade.
__Veja o que eu posso fazer, Lisa!
Malagat estourou as janelas do salão e subiu para as nuvens negras que rodopiavam sobre Poltergrat. De súbito, as nuvens se recolheram e formaram um gigantesco rosto. Malagat abriu a boca e num grito sombrio avançou na direção da Fonte Phoenix levando com sigo uma profunda escuridão.
Por onde a nuvem passava, tudo se tornava sem vida. Árvores murcharam e as folhas, antes verdes, ficaram negras e caíram.
As trevas, guiada por Malagat, avançou sobre a Fonte Phoenix e cobriu os sete grandiosos castelos por uma intensa escuridão. Janelas estouraram e alunos foram arrastados por uma ventania descomunal. O mar, abaixo do penhasco se abriu e a gigantesca construção da Cúpula da Fênix surgiu entre dois abismos, antes cobertos por água.
Antes de mergulhar para dentro da Cúpula, Malagat abriu sua boca mais uma vez e gritou:
__Eu voltei!
O Abraço da Morte
Lisa correu até a janela do salão e viu a nuvem cobrindo tudo com uma densa névoa negra enquanto se afastava de Poltergrat. Ao virar-se para trás, ela viu Hariph virando chamas negras e desaparecendo no ar.
__Para onde ele foi? __perguntou Peter.
__Para a Cúpula da Fênix! __disse Lisa observando a escuridão que embarcava sobre o reino.
__Mas, para quê?
__Não sei, Peter, mas receio que tenha algo a ver com o Cálice da Vida! __e virando-se assustada para o salão ao lhe ocorrer o que Malagat poderia querer com o Cálice da Vida, Lisa disse__ Tenho que voltar para a Fonte Phoenix...
__Voltar? __disse Louise deixando Max desacordado e se aproximando de Lisa__ Está louca? Se Malagat quer o Cálice da Vida, ele vai conseguir por que você não vai conseguir chegar a tempo para impedi-lo. Na velocidade que aquela nuvem avança na direção da Fonte Phoenix ela levará pouco tempo para chegar até lá! É impossível, Lisa, de você alcança-lo!
__Não importa, Louise! __disse Lisa__ Eu ouvi Malagat pronunciando o nome do Cálice da Vida e temo que ele possa ajuda-lo a recuperar seu corpo.
__Você não o ouviu dizendo que a única coisa que lhe traria o corpo de volta era o Olho do Milênio?
__Sim. Mas, Louise, pense. O que o Olho do Milênio tinha de especial para trazer o corpo dele de volta? Uma lembrança antiga e muito forte. E o que exatamente o Cálice da Vida guarda dentro de si?
__Lembranças! __murmurou Louise estarrecida.
__Várias lembranças de alunos que depositaram seus medos e suas angústias naquele cálice durante séculos. Se eu estiver certa, o conteúdo do Cálice da Vida poderá ser suficiente poderoso para trazer o corpo de Malagat de volta! Eu tenho que...
BUM!
Lisa e os outros se viraram e depararam-se com uma nuvem de poeira que saía do meio do salão. Dentre a poeira, Crowley e Chamberlain saíram empunhando suas varinhas. Assim que a poeira abaixou, Crowley ergueu sua varinha e gritou:
__Nox!
A bola de luz feita por Louise se apagou e, segundos depois, feitiços de todos os tipos ricochetearam as paredes e o vácuo escuro.
Louise empurrou Lisa para o chão e três feitiços seguidos passaram sobre suas cabeças. Quando ambas levantaram, algo negro agarrou Lisa pelos braços e a puxou para dentro da escuridão. Louise tentou impedir, mas Narnia pulou sobre ela e as duas desapareceram no salão.
__Louise! __gritou Lisa.
Como se um buraco tivesse sido aberto sob seus pés, Lisa despencou em um redemoinho onde sombras giravam de um lado para o outro enquanto uma criança gargalhava sombriamente.
Lisa caiu de costas sobre um piso negro e levantou-se com sua coluna estralando de dor. Uma profunda escuridão cercava Lisa por todos os lados. De volta em meia a garota tinha a nítida sensação de que vultos negros se moviam ao seu redor.
Ecoando lentamente, a gargalhada da criança tornou-se cada vez mais próxima de Lisa. Tal proximidade que deixava Lisa cada vez mais assustada. De súbito, uma voz infantil ecoou na escuridão.
__Adoro brincar no escuro, é tão... emocionante! Você não acha?
A silhueta de Gorgon, infantil e funesta, surgiu vagamente entre a escuridão. O Mestre das Sombras rompeu o escuro e ficou de frente para Lisa, seus olhos gélidos fitando-a com um sorriso sombrio no rosto.
__Não tenho tempo para brincadeiras __disse Lisa__ Tenho voltar para a Fonte Phoenix...
__Para quê? Para interromper os planos de meu pai? Acho que não, Lisa. Você ficará aqui, comigo, se divertindo com minhas adoráveis criaturas.
Uma pupila vermelha surgiu nos olhos de Gorgon e quando Lisa deu por conta, estava cercada por centenas de sombras que a observavam do alto de uma espiral negra.
__Sabe, eu e minhas criaturas passamos longos anos sem nos divertirmos, acho que chegou a hora de voltarmos aos velhos tempos... Divirtam-se!
Uma por uma, as sombras desprenderam-se do alto da espiral e voaram na direção de Lisa. A garota tentou se proteger, porém, as sombras atacaram-na em um grande enxame negro.
Sem saber como e de onde vinham tantos ataques, Lisa sentiu seu corpo ser arranhado, como se as sombras possuíssem unhas. O sangue escorreu pelos arranhões e Lisa começou a gritar de dor. A sensação que a garota tinha era que vermes entravam pelos ferimentos e comiam sua carne.
Não agüentando a dor, Lisa sentiu seu corpo ficar pesado e caiu sobre o chão negro.
__Lisa!... Lisa!
Lisa abriu os olhos. Não haviam sombras atacando-a, porém, a escuridão ao seu redor ainda permanecia, exceto por um pequeno facho de luz ao longe.
__Lisa!...
Lisa levantou-se. Ao ficar de pé, percebeu os inúmeros arranhões por todas as partes do corpo. Ao ver que vermes negros se movimentavam dentro de sua carne, Lisa gritou estarrecida.
__Lisa!... __continuou a voz__ Calma... isso não passa de uma ilusão.
Lisa parou, olhou para a vaga luz a sua frente e teve nítida sensação de ver uma porta luminosa e um homem parado ao meio dela.
__Escute, Lisa, se você quiser vencer Gorgon e impedir a Besta de conseguir seu corpo de volta, deve atingi-lo em seu ponto fraco.
__Ponto fraco? __disse Lisa apertando os olhos para ver quem era o homem ofuscado pela luz.
__Lamento pelo que houve na Fonte Phoenix __continuou o homem parecendo ter escutado a pergunta de Lisa__ Eu não sabia o que estava fazendo, mas agora, sei que estava errado. Você é a nossa única chance de vence-los, Lisa. Conto com você!
A luz diminuiu e o homem se afastou para dentro da porta luminosa.
__Espere. Não me disse exatamente como derrota-lo __disse lisa.
__Lembre-se: uma luz apenas fará uma grande diferença quando só tivermos escuridão a nossa volta!
A luz da porta foi se apagando lentamente e, antes que desaparecesse, a expressão sorridente de Athus surgiu. A luz se apagou e a escuridão voltou a tomar conta de Lisa. a garota sentiu seu corpo ficar pesado e novamente caiu, desta vez, num abismo rodeado por sombras onde uma voz lhe dizia insistentemente:
__Lembre-se, Lisa, lembre-se...
Os olhos de Lisa se abriram e a garota se viu caída no chão enquanto sobre ela, centenas de sombras desciam do alto de uma espiral e a atacava num enxame sombrio.
Lisa virou o rosto para o lado e viu os vermes tomando conta de seu braço. Ao ver a varinha entre seus dedos, fracos e sangrando, Lisa lembrou-se de seus amigos, da Fonte Phoenix e mais do que nunca daqueles que morreram.
Uma luz apenas fará uma grande diferença quando só tivermos escuridão a nossa volta!
A voz de Athus ecoou repetidamente na mente de Lisa e, após perceber que não poderia deixar ser vencida por uma escuridão que lhe arranhava o corpo e depositava vermes para que comessem sua carne, a garota fechou a mão com a varinha dentro e, com dificuldade apontou-a para o centro da espiral de sombras. E pensando em todos aqueles que em algum lugar também lutavam contra a escuridão, Lisa ordenou:
__Lúmus solem!
Um grandioso e luminoso raio de luz rompeu da ponta da varinha e atravessou a espiral, atingindo Gorgon que flutuava no topo. A luz tomou seu corpo e aos gritos, o Mestre das Sombras foi expulsando junto com suas criaturas nefastas. O raio de luz abriu-se e em um grande flash e tudo ficou ofuscado.
__Lisa! Lisa!
Lisa abriu os olhos e viu Louise com o rosto arranhado erguendo sua cabeça.
__Você está bem?
__Acho que sim!
Lisa olhou para os lados e viu Gorgon e Narnia caídos em um canto do salão. Os dois corpos se transformaram em sombras e desapareceram no salão.
__Eles foram embora __disse Louise__ Vencemos!
__Não, ainda, não. Malagat está na Cúpula da Fênix, eu tenho que impedi-lo de...
Lisa levantou-se, porém, não suportou o peso do seu corpo e caiu, sendo segurada por Louise.
__Você não está em condições de enfrentar a Besta. Nós faremos isso por você.
__Não.
Lisa desvencilhou-se de Louise e caminhou até o centro do salão, onde parou de chofre ao ver Chamberlain encaminhando-se para ela com a perna ferida.
__Você não vai a lugar algum __disse Chamberlain com a varinha erguida.
__Lamento, mas o senhor não vai fazer nada a ela! Expelliarmus!
A varinha de Chamberlain voou da mão dele e caiu aos pés de Maya, que a pegou. Do outro lado do salão, uma porta luminosa havia surgido na parede e um homem magricelo saía apontando sua varinha.
__Lyon! __murmurou Chamberlain__ Seu traidor.
Lyon girou sua varinha e apontou para a parede, onde uma nova porta luminosa surgiu.
__Entre naquele portal __disse Lyon para Lisa__ Ele vai leva-la para a Cúpula da Fênix. Vá com ela, garota.
__Vamos, Lisa __Louise pegou-a pelo braço e a puxou para o portal.
__Seu verme, __rosnou Chamberlain__ você não vai atrapalhar nossos planos... CROWLEY!
Crowley fez um movimento com a varinha e Maya se transformou em pedra. Após um outro movimento, a varinha saiu da mão de Maya e parou na mão de Chamberlain. O inspetor ergueu sua varinha e antes que pudesse fazer algum feitiço, Düblin pulou em suas costas e tampou seus olhos. Chamberlain disparou feitiços por todos os lados.
__Vá, menina __disse Düblin agarrando Chamberlain pela cabeça__ Nós cuidaremos deles.
__Saia de cima de mim!
Um raio de luz atingiu Düblin e o Freeguiz caiu petrificado no chão.
__Düblin! __gritou Lisa.
__Vão! __gritou Max__ Poderemos segura-los.
Lisa e Louise concordaram com a cabeça e correram para o portal, no entanto, um feitiço foi lançado por Crowley na direção delas e ambas pularam para o chão.
Crowley correu na direção de Lisa e Louise, porém Dan, que acabara de ser libertado por Grump das correntes que o prendia, avançou sobre Crowley e o jogou no chão, onde ambos lutaram rolando de um lado para o outro.
__Vão __disse Dan__ Não percam mais tempo.
Lisa e Louise voltaram a correr para o portal, mas Chamberlain tentou impedi-las. Grump entrou na frente e foi lançado para longe. Em seguida, Peter tentou impedi-lo de atacar as duas e, segundos depois, caiu imobilizado no chão.
__Vocês não vão entrar nesse portal!
Chamberlain ergueu sua varinha, porém, Lyon entrou em sua frente e os dois iniciaram um duelo.
__Vamos, Lisa!
Louise pegou na mão de Lisa e, de frente para o portal, pularam juntas para dentro dele. Depois de um breve flash de luz, as duas saíram de uma outra porta luminosa que se fechou às costas delas.
__Estamos no interior da Cúpula da Fênix __murmurou Louise observando o corredor coberto por estátuas que pareciam sustentar a Cúpula com suas costas.
__ Por onde agora? __perguntou Lisa.
__Por aqui.
As duas seguiram pelo vasto corredor apinhado de estátuas que não parecia ter fim. Enquanto corriam, Lisa tinha certeza que, não tão longe dali, Malagat estava tomando posse do Cálice da Vida. Ela só esperava que pudesse chegar a tempo para impedi-lo de recuperar sua antiga forma.
Lisa e Louise entrava por três corredores e, depois de longos minutos, encontraram o corredor principal que dava acesso ao centro da Cúpula onde o Cálice da Vida estava depositado.
Ofegantes e com medo de terem chegado tarde demais, Lisa e Louise avistaram ao longe a porta por onde os formandos passavam e a silhueta de Hariph se movimentando dentro da Cúpula.
__Eles ainda estão lá dentro, vamos __disse Lisa segurando forte a varinha e avançando na direção da porta.
Quando Lisa e Louise se aproximaram da porta, Malagat percebeu as duas e ordenou algo inaudível a Hariph. O rapaz virou-se para as duas e instantes depois, a pesada porta da Cúpula se fechou num baque estrondoso.
__Vai ser necessário mais do que uma porta para nos impedir __Louise girou a varinha e apontou para a porta__ Bombarda!
Após um grande estrondo, estilhaços da porta voaram para todos os lados e Lisa e Louise viram a névoa de Malagat se aproximando de um cálice de vidro transparente levemente azulado onde uma água cristalina repousava, o Cálice da Vida.
__Ele vai pegar o Cálice! __disse Lisa.
__Impeça-as, Hariph! __gritou Malagat com sua névoa esvoaçando na direção do cálice.
Hariph ergueu a mão e, após um estralar de dedos, chamas negras romperam-se num círculo ao redor de Lisa e Louise. A cada vez que as duas tentavam atravessar as chamas, as labaredas de fogo aumentavam de tamanho e faziam-nas voltar para trás.
__Pegue o cálice, Hariph! __ordenou Malagat.
Hariph deixou Lisa e Louise tentando se desvencilharem das labaredas negras e correu para pegar o cálice.
__Despeje o conteúdo do cálice sobre mim __disse Malagat parando próximo ao Cálice da Vida__ Se eu estiver certo, meu corpo retornará... agora, Hariph!
Hariph ergueu o Cálice da Vida e despejou-o lentamente sobre a névoa negra. Quando metade do conteúdo do cálice já havia sido despejado, chamas esverdeadas surgiram dentro da névoa e a tomaram por inteiro. Assustado, Hariph recolocou o Cálice da Vida no lugar e se afastou.
De súbito, as chamas esverdeadas incendiaram a névoa e labaredas verdes-esmeraldas ergueram-se a mais de três metros de altura. Lentamente, dentro da chamas, algo negro foi surgindo com se um corpo emergisse das chamas. Braços e pernas surgiram e um gigantesco chifre de bode crepitou-se dentre as chamas.
O corpo envolto pelas chamas encolheu-se como se entrasse dentro de um útero esverdeado. As chamas diminuíram de tamanho e assim que o corpo se esticou novamente, uma ventania assustadora invadiu a Cúpula da Fênix.
O círculo de fogo negro se apagou com a ventania e Lisa e Louise puderam ver o corpo gélido e nu de Malagat exalando uma estranha fumaça perolada que se espalhou dentro da Cúpula. . De súbito, um frio insuportável tomou conta do lugar e Lisa caiu no chão, de joelhos, com sua marca voltando a sangrar e doer violentamente.
Cristais de gelo surgiram sobre os pés finos e esqueléticos de Malagat e, após um movimento da varinha de Hariph, uma longa veste negra cobriu a nudez do demônio.
Lentamente, Malagat ergueu seus braços e tocou seu rosto deformado com seus longos dedos finos e de unhas negras e pontudas. Seus olhos se abriram e sua pupila vermelha em forma de fenda brilhou no globo ocular gélido.
__Enfim... meu corpo, meu amado corpo __dizia Malagat tocando seu corpo aos risos__ Estou completo novamente... EU VOLTEI!
A marca de Lisa explodiu em dor ao mesmo tempo em que o grito de Malagat ecoava dentro da Cúpula da Fênix.
__Mestre __disse Hariph ajoelhando aos pés da Besta__ fico feliz com seu retorno.
__Sei que sim, meu fiel servo. A partir de hoje tudo vai mudar... tudo vai ser diferente... Aragorn será meu... assim que eu terminar um serviço desejado há muito tempo... __e virando-se para Lisa e Louise__ ERGA-SE!
Lisa foi arrancada do chão e pendurada no ar como se alguém lhe tivesse segurando pelo pescoço.
__Lisa!
Hariph fez um movimento com a varinha e Louise bateu de costas contra a parede.
__Durante séculos suas antepassadas arruinaram meus planos, destruíram meus filhos e baniram meus servos dos reinos aprisionando-os na Ilha das Sombras. Porém, todas elas pagaram um preço muito alto pelo atrevimento... sacrificaram-se para evitar que o Sétimo Espírito fosse meu. Agora, séculos mais tarde, quem iria dizer que o tempo pudesse pregar uma peça tão grande em uma das Bruxas de Fogo?... Metade do Sétimo Espírito é meu e a outra metade vai ser minha. Depois de estar totalmente completo, matarei você, Lisa, e acabarei de uma vez por todas com as Bruxas de Fogo! Como recordação, guardarei seu coração comigo de onde, daqui há algum tempo, minha amada Keerva retornará para que, ao meu lado, governemos o universo! A partir de hoje, não haverá ninguém para contestar meus propósitos... A partir de agora, considere-se... MORTA!
Malagat abriu sua enorme boca e aproximou-se de Lisa. No entanto, Louise levantou com a varinha erguida e apontou para Malagat. Um raio de luz empurrou a Besta para sobre a arquibancada e, segundos depois, Lisa caiu no chão.
__Sua idiota, sua amiga vai pagar por isso!
Hariph ergueu a varinha e Lisa foi arremessada contra a parede. Ao fazer outro movimento com a varinha, a garganta de Lisa afundou como se a varinha a estivesse espetando.
__Não, seu idiota, ela é minha! __gritou Malagat erguendo-se com um corte na testa enrugada, de onde um sangue negro escorria pelo rosto__ Mas, a outra, mate-a!
__Louise! __gritou Lisa.
Hariph ergueu a varinha e...
__Amplexus mors!
Louise empunhou a varinha, no entanto, um raio de luz vermelha atingiu-a e a garota ergueu-se no ar. O raio vermelho envolveu Louise como num abraço, um Abraço da Morte. Os ossos da garota viraram pó e suas víceras estouraram. Louise caiu rolando no chão e, com o corpo mole e sem movimento, parou aos pés do Cálice da Vida. Lá sua cabeça bateu no chão e suas pupilas desapareceram deixando apenas o globo ocular. Em seguida, o sangue escorreu pelos orifícios de seu corpo e formou no chão uma possa de sangue.
__Não! __gritou Lisa correndo até Louise__ Louise!... Louise!
__Não adianta, Lisa, ela está morta! __murmurou Malagat do alto das arquibancadas__ Assim como você também estará depois de que eu lhe sugar a outra metade do Sétimo Espírito.
Malagat pulou das arquibancadas e voando, agarrou Lisa pelas vestes, tirou-a de perto do corpo de Louise e imprensou-a contra a parede. A Besta abriu sua bocarra e Lisa espetou sua varinha na barriga dela. Houve um relampejo e Malagat foi jogado para o outro lado da Cúpula.
Caindo no chão, Lisa deu uma última olhada no corpo de Louise e após prometer voltar para busca-la, correu na direção da porta e lançou um feitiço contra Hariph, jogando-o contra a parede.
Malagat ergueu-se sobre a Cúpula e avançou voando sobre Lisa que desaparecia no corredor.
__Impedimenta!
Lisa tentava atingi-lo com um feitiço, porém, a Malagat desviava de todos e se aproximava cada vez perto dela.
__Você não vai escapar de mim!
Malagat abriu sua mão e uma forte luz vermelha invadiu o corredor e jogou Lisa contra o chão. Em seguida, Malagat sobre Lisa e abriu sua boca. Antes, porém, que começasse a sugar o resto do Sétimo Espírito, Lisa ergueu sua varinha e atingiu-o no peito. A Besta girou no ar e caiu no chão.
Lisa levantou-se e viu Hariph correndo na sua direção lançando um feitiço que passou rente a sua cabeça. Voltando a correr, Lisa sentiu algo segurar uma de suas perna e força-la a cair. No chão, Lisa viu uma espécie de corda negra segurando-a pelo tornozelo.
__Diffindo!
A corda rompeu-se e Lisa levantou. No entanto, Malagat já estava de pé e a atacava.
Durante frações de segundos, os feitiços de Lisa e de Malagat chocaram-se uns contra os outros e se desviaram na direção das estátuas, estourando-as. Quando Lisa menos esperou, algo bateu dolorosamente contra seu pulso e sua varinha voou para longe. Lisa olhou para Malagat e viu Hariph chegando atrás dele com a varinha erguida.
Malagat fez um movimento com os longos dedos e uma parede de gelo surgiu atrás de Lisa.
__Você não tem para onde ir, Lisa! Encare a realidade. Não adianta fugir, porque eu, vou te matar! Mas, antes, quero a outra metade do Sétimo Espírito...
Não tão longe dali, aos pés do Cálice da Vida, Louise repousava em seu leito de morte quando chamas esverdeadas surgiram sobre a água cristalina do cálice. Lentamente, um rosto surgiu e observou o corpo de Louise.
De repente, as chamas ergueram para o alto e o fogo desapareceu junto com o rosto. Aos poucos o cálice, antes, pela metade, começou a se encher como se a água brotasse de dentro dele. Quando o cálice se encheu a água transbordou e escorreu pela superfície que o sustentava até cair sobre o corpo Louise. Assim que a água o tocou, uma forte luz dourada tomou conta de Louise e tomou conta da Cúpula da Fênix.
Lisa afastou-se para trás e deu de costas com a parede de gelo. Malagat, então, ergueu-se no ar, abriu sua enorme boca e avançou sobre Lisa. No entanto, antes de se aproximar de Lisa, uma bola de luz passou sobre a cabeça de Hariph e chocou-se contra a Besta, lançando-a contra a parede de gelo, que se quebrou.
Hariph olhou estarrecido para a Malagat caído sobre os destroços da parede de gelo e apontou sua varinha para Lisa.
__Você vai pagar caro, por isso!
Hariph ergueu a varinha e...
__Acho que não!
Hariph virou-se e um facho de luz arrastou-o pelo corredor a fora.
Lisa olhou para a mulher parada a sua frente e quase caiu para trás. No meio do corredor, sem qualquer sinal de ossos quebrados ou de sangue escorrendo pelo corpo, Louise andava em sua direção, mais viva do que nunca.
__Louise!
Lisa ficou parada olhando para a amiga que se aproximava cada vez mais dela, não acreditando no que via. Quando percebeu que não poderia ser uma miragem, Lisa correu ao encontro de Louise e a abraçou constatando que ela era realmente de carne e osso.
__Não! __gritou Malagat erguendo-se sobre os destroços da parede de gelo__ Você estava morta. Hariph, seu inútil, você não a matou!
__Não, Mestre, eu tenho certeza de que a matei __disse Hariph estarrecido.
__Então, porque está viva?
__Não sei, Mestre, deve haver alguma explicação...
__Não, não há, seu inútil! __rosnou Malagat com os olhos fervendo de brilhando de raiva__ Mas, não tem problema. Eu já estava me cansando de perseguir, Lisa. Acho que metade do Sétimo Espírito já me satisfaz. Uma outra metade a menos não vai fazer diferença... Agora, preste atenção, inútil, é assim que se mata dois coelhos com uma cajadada só!
Malagat ergueu a mão e a varinha de Hariph escapuliu da mão do rapaz e voou para a mão da Besta. Louise entrou na frente de Lisa e ergueu os braços.
__Digam adeus as suas vidas miseráveis!... Amplexus...
Um facho de luz saiu do pulso de Malagat e sua mão caiu no chão, virando cinzas. De súbito vários fachos de luz romperam-se de diversas partes de seu corpo, fazendo com que os locais de onde as luzes saíam, virassem cinzas.
__NÃO. O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM MEU CORPO __gritava Malagat.
Lentamente, uma de suas pernas virou cinzas e vários orifícios surgiram no corpo. Desses orifícios, uma névoa negra foi exalada e se espalhou no ar. Vendo a névoa e os fachos de luz que surgiam cada vez mais, Malagat gritava:
__MEU CORPO. O QUE VOCÊS FIZERAM? NÃO! MALDITAS!
De súbito, Malagat estufou o peito e abriu os braços cheios de furos. As luzes se intensificaram e segundos depois, Malagat explodiu lançando cinzas e névoa por todo o corredor.
__Mestre! __gritou Hariph correndo na direção do monte de cinzas.
__Ele explodiu! __disse Louise perplexa vendo as cinzas caindo sobre o monte__ Malagat explodiu!
__O que vocês fizeram com ele, malditas? __gritou Hariph retirando a varinha de dentro das cinzas e apontando para as duas.
__Não fizemos nada __disse Lisa sem acreditar no que acabara de acontecer com Malagat.
__Mentira, vocês o destruíram, vocês...
__Não seja idiota, Hariph!
Lisa arregalou os olhos ao ver uma névoa negra erguendo-se atrás de Hariph. O rosto de Malagat surgiu na névoa e Lisa teve certeza de que ele não explodira totalmente, seria uma vitória muito fácil derrota-lo sem precisar fazer nada.
__Mestre, o senhor não explodiu __disse Hariph com os olhos lacrimejantes.
__Saia da minha frente, Hariph!
Hariph virou para o lado e a névoa aproximou-se de Lisa e Louise.
__Não sei como fizeram isso, mas tenha certeza que eu voltarei! __E virando-se, a névoa seguiu pelo corredor com o rosto de Malagat guiando-a enquanto gritava__ UM ANO... DAQUI UM ANO, RETORNAREI E ACABAREI COM VOCÊ, LISA BLADEFIRE! UM ANO!
Com um gigantesco grito, Malagat saiu da Cúpula da Fênix e ergueu-se sobre o céu, onde foi embora levando consigo a escuridão que tomava a Fonte Phoenix. Após desaparecer, o mar se fechou e a Cúpula da Fênix ficou mais uma vez submergida dentro do mar.
__Acho que você ficou para trás, Hariph! __murmurou Louise.
__Não, mesmo!
Hariph deu as costas para as duas e começou a correr pelo corredor.
__Incarcerous!
Pesadas correntes saíram da ponta da varinha de Louise e enrolaram-se aos pés de Hariph, no entanto, o rapaz as cortou e levantou.
Lisa rapidamente pegou sua varinha caída no chão e apontou para Hariph. Um raio azulado passou rente ao pescoço de Hariph e arrancou-lhe um pedaço de pele.
Lisa parou de chofre ao ver que o pedaço de pele destampava uma marca no pescoço de Hariph. Ao ver a marca, Lisa ficou paralisada fitando o olho triangular rodeado por um círculo desenhado sobre o pescoço.
Hariph percebeu que sua marca fora destampada e cobriu-a com uma das mãos. Com a outra mão, ergueu a varinha para o alto e disse:
__Nos veremos um dia!
Após um brilho na ponta da varinha, chamas negras surgiram e Hariph desapareceu dentro delas.
__Maldito, ele conseguiu fugir! __disse Louise__ O que foi, Lisa?
Louise virou-se para Lisa e a viu parada com os olhos estatelados como se estivesse visto um fantasma.
__Você viu aquela marca? __perguntou Lisa.
__Marca? Do que está falando?
__Vocês estão bem?
Lisa e Louise viraram-se e se depararam com Tom que acabara de sair de uma porta luminosa que surgiu no corredor.
__Tom!
Louise correu até o rapaz e o abraçou.
__Onde estão Malagat e Hariph?
__Eles fugiram __disse Lisa involuntariamente pensando na marca no pescoço de Hariph.
__Quando soube que Malagat estava vivo, pensei que fosse brincadeira...
__Como chegou até aqui?
__Peter, Louise. Ele foi fantástico! Ele conseguiu desfazer o Imobila que o imobilizava e fez Crowley e Chamberlain fugirem. Ele desfez a minha petrificação e depois, Lyon abriu um portal e eu vim para cá. Peter e Lyon ficaram em Poltergrat ajudando os outros. Bom, acho que tudo terminou bem. É melhor voltarmos para a Fonte Phoenix e avisar aos outros que Malagat fugiu!
__Como vamos voltar se o portal se fechou? __perguntou Louise olhando para a parede sólida, novamente.
__Não se preocupe, sei como!
Lisa deu uma última olhada no corredor semidestruído da Cúpula da Fênix e, sem entender o que se passara ali dentro, seguiu Tom e Louise que desapareciam no corredor.
O fundo do mar nunca pareceu tão bonito quanto Lisa pensara. Agarrada na cintura de Louise, que por sua vez estava agarrada a cintura de Tom, Lisa viu a Cúpula da Fênix se distanciando no fundo mar a cada impulso que Tom dava.
Antes de saíram da Cúpula, guelras surgiram no pescoço de Tom e os pés do rapaz deram lugar a belas nadadeiras. Metade homem, metade peixe, Tom retirou Lisa e Louise do fundo do mar e levou-as para a superfície.
Enquanto se aproximavam da superfície, Lisa via a luz do sol rompendo as barreiras entre ar e água. Uma luz que enchia o coração de Lisa de felicidade. Afinal, ela via o sol pela primeira vez depois de longos e tenebrosos meses.
A jornada
O sol se punha sobre o mar cobrindo a Fonte Phoenix com um majestoso lençol avermelhado. Em uma das altas torres do Castelo Principal, a luz do sol poente entrava pela janela da enfermaria e iluminava o rosto cheio de arranhões de Lisa, recém tratados pela Srta Prym, que durante longos minutos, cuidava dos ferimentos daqueles que batalharam em Poltergrat sem pedir explicação alguma. Não porque lhe faltou vontade, mas sim, porque Srta Prym ainda estava aterrorizada com a escuridão que tomou a Fonte Phoenix a menos de uma hora atrás.
__Pronto, ficará melhor daqui algumas semanas __disse finalmente após enfaixar o braço de Zig. Sem olhar para os demais, Srta Prym saiu para os fundos da enfermaria e desapareceu atrás de alguns armários.
O ar na enfermaria não era um dos melhores. Os que estavam lá, tinham as cabeças baixas e os olhares distantes.
__Como conseguiram se livrar de Crowley, Chamberlain e Osman quando Gorgon me levou para encontrar o Olho do Milênio? __perguntou Lisa olhando para as expressões cansadas de seus amigos.
__Depois que você desapareceu com Gorgon, Narnia e Hariph __disse Dan__ Lutamos contra as sombras e só conseguimos vence-las porque Max usou um feitiço de luz para afasta-las.
__Depois, deixamos os outros no tribunal e saímos pelo castelo a sua procura __continuou Max__ Andamos pelos corredores por algum tempo e encontramos a sala dos espelhos. Louise lembrou-se do sonho que você teve sobre essa sala e pensamos que você talvez estivesse dentro de algum daqueles espelhos. Acho que Louise escolheu o espelho certo e talvez, os corredores certos porque aquele labirinto era gigantesco!
__Quando deixei você com Hariph no labirinto destruído __disse Louise__ voltei pelos mesmos corredores que viemos para encontra-la e dei de cara com Gorgon que tentava tirar o Olho do Milênio das mãos de Düblin, apesar dos feitiços de Max e Dan que o protegiam.
__Nós chegamos uns minutos depois com o resto da turma __disse Zig__ Slater imobilizou Crowley, Osman, Weaslow e Chamberlain e depois saímos pelos corredores à procura de vocês. Encontramos Louise, Max, Dan e Düblin porque ouvimos o ricochetear dos feitiços que estavam usando.
__No entanto, o Feitiço de Imobilização de Slater não durou muito e Crowley, Chamberlain, Osman e Weaslow se juntaram a Gorgon pouco tempo antes de você chegar __murmurou Peter de cabeça baixa.
O sol desaparecia no horizonte e a enfermaria ficava cada vez mais escura. Os rostos feridos pareceram se esconder na vaga escuridão da noite que se aproximava.
__O que aconteceu depois que eu e Louise entramos no portal de Lyon? __perguntou Lisa.
__Bom, __começou Max__ Crowley e Chamberlain nos atacaram pesado e minutos depois de vocês saírem, Dan, Lyon, Grump e eu estávamos petrificados. O único que restou foi Peter que, de forma extraordinária acovardou Chamberlain e Crowley...
__Não foi extraordinário __murmurou Peter corando-se__ apenas tive sorte...
Peter calou-se. Suas orelhas, assim como suas bochechas estavam púrpuras e suas mãos se entrelaçavam compulsivamente uma na outra.
Enquanto o silêncio e a exaustão pairavam sobre todos, Louise parecia estranha sentada ao lado oposto ao de Peter. A garota, que mantinha no rosto os leve arranhões da batalha, fitava seus pés e balançava o corpo de um lado para o outro. E sobressaltando o silêncio, Louise espantou a todos com seu murmúrio:
__Acho que lhe julguei mal, Peter.
__O que?
Todos ergueram suas cabeças e olharam para Louise que tinha uma lágrima escorrendo no rosto.
__Me desculpe __quando Peter percebeu, Louise estava agarrada ao seu pescoço pedindo-lhe perdão__ Disse coisas horríveis sobre você. Achei que não era capaz de...de...de...
__Não precisa pedir desculpas __disse Peter sem saber o que dizer__ eu apenas... eu apenas fiz o que qualquer um faria vendo seus amigos petrificados, acorrentados ou imobilizados. Agi por instinto.
__Mesmo assim __disse Louise afastando-se do rapaz__ Você foi fantástico, Peter! Mas, me conte, como fez para acovardar Crowley e Chamberlain?
Para espanto de todos, Peter empalideceu e olhou apreensivo para os rostos curiosos que desejavam saber como o rapaz fizera o feito quase heróico. Após dizer algo inaudível, baixou os olhos e balançou o corpo timidamente para frente e para trás.
__Desculpe, eu não... nós não entendemos. Pode repetir?
Peter pareceu hesitar, porém, com dificuldade murmurou baixinho, mas audível, o que fizera:
__Errei o feitiço e transformei Chamberlain num gafanhoto e Crowley numa... não sei bem... acho que numa... pulga!
Louise arregalou os olhos e trocou olhares com Lisa. Após reprimir uma vontade louca de rir, disse:
__É, bem, eu também teria feito o mesmo no seu lugar __disse Louise distraidamente procurando não olhar para Peter para não correr o risco de dar gargalhadas.
__Sério? __espantou-se o rapaz que pareceu ficar animado__ Mas, eu errei o feitiço!
Louise pareceu ficar sem argumentando e trocou olhares com os outros que não pareceram ajudar muito.
__Bom, quando não tivermos outra opção... han... podemos reduzir nosso adversário a um gafanhoto ou a uma insignificante pulga...
Peter pareceu se estufar de orgulho ao se convencer com a resposta de Louise, que no bom senso, não passava de uma desculpa esfarrapada para não dizer ao rapaz que sua perspicácia em executar feitiços era extremamente nula.
__Peter, depois que Chamberlain e Crowley... han... “se acovardaram”, o que você fez?
__Bom, depois eu desmobilizei Max e os outros com a ajuda dele.
Mais uma vez, Louise pareceu surpresa. Mesmo tendo errado o feitiço e sem querer, ter impossibilitado Chamberlain e Crowley de lutarem, Peter se superou desfazendo o Feitiço Imobilizador, o que de alguma forma, dá ao rapaz o mérito de tudo.
__Assim que desmobilizamos e despetrificamos os outros __disse Max__ nós voltamos ao tribunal e desfizemos a petrificação de Gaya e Martius. Nesse meio tempo, Lyon estava abrindo um novo portal para Tom ir ajudá-las, já que era o único, naquele momento, possibilitado de lutar contra alguém. Após tirarmos Osman do teto e posta-lo à frente dos Lordes, Gaya ordenou que voltássemos para a Fonte Phoenix. Muitos de nós não quisemos vir para cá, pois sabíamos que vocês __Max olhou para Lisa, Louise e Tom__ estavam lutando contra Malagat na Cúpula da Fênix. Quando Lyon abriu um novo portal, apesar da desaprovação de Gaya, vimos a escuridão, que tomava Poltergrat, desaparecer e entendemos que vocês haviam derrotado Malagat ou talvez, que ele tinha fugido.
__Então, vocês vieram para cá e nos encontraram na enfermaria __concluiu Lisa lembrando-se do reencontro deles há uma hora atrás__ Mas, porque Gaya, Slater e Düblin também não vieram com vocês?
__Eles ficaram em Poltergrat fazendo os Lordes voltarem ao normal __disse Dan__ Acho que Gaya queria que a Ordem ouvisse o que Osman tinha a lhes contar, depois de verem o estado em que Poltergrat ficou depois da invasão. E mais do que nunca, Gaya queria que a verdade sobre Weaslow fosse descoberta.
Lisa ficou em silêncio, enfim, compreendia o que Gaya planejava. Com Osman acorrentado, a Ordem descobriria que Malagat, através de Gorgon e de Weaslow, planejava condenar Lisa a um assassinato que ela não cometera e que a Besta planejava invadir Poltergrat e roubar o Olho do Milênio, que agora, estava destruído.
O Olho do Milênio. A relíquia pareceu surgir frente Lisa, a pupila de fogo aparecendo e o velho barbudo de vestes douradas erguendo sobre sua cabeça...
A porta da enfermaria se abriu com um estrondo e Gaya entrou seguido por Godric, Düblin, Lyon e Slater que parecia aborrecido com algo. Gaya, por sua vez, parecia furioso.
__E então? __perguntou Max.
__Ele conseguiu se livrar das acusações __disse Gaya dando um murro sobre um criado-mudo. No fundo da enfermaria, Srta Prym apontou a cabeça atrás de um armário e saiu de trás dele__ Para a Ordem, Weaslow não teve nada a ver com o que houve em Poltergrat...
__Como assim? __perguntou Dan__ Osman não contou a verdade?
__Sim, Osman contou a verdade __disse Slater__ contou que Gorgon retornou, contou que Hariph assassinou Christian, Lauro e Athus e que, na última morte, se transfigurou em imagem e semelhança de Lisa para incrimina-la, porém, negou que Weaslow seja cúmplice de Gorgon e que Malagat tenha retornado.
__Quer dizer, senhor, que...
__Depois de tudo que passamos, para a Ordem dos Lordes, Malagat está morto!
Lisa abaixou a cabeça e suspirou indignada. A mesma reação pareceu alastrar-se pela enfermaria como uma doença contagiosa.
__ E Chamberlain e Crowley? __perguntou Cliffe.
__A Ordem desconhece qualquer envolvimento deles no que aconteceu __disse Slater__ Osman se negou a contar o restante da verdade.
__Não fez diferença!
__O que?
Todos fitaram Lisa que se levantava da cama e postava-se a janela da enfermaria de braços cruzados. Enquanto falava, seu olhar acompanhava o último facho de luz avermelhada do sol que acabava de desaparecer sobre o mar.
__Não fez diferença __repetiu Lisa__ Nós arriscamos nossas vidas para... para que tudo continuasse como estava!
__Como não, Lisa? __disse Godric__ Mostramos a Ordem que ela estava errada. Provamos a sua inocência e adiamos o retorno definitivo de Malagat. Sim, fez toda diferença! E posso dizer que uma diferença gigantesca, pois, mostramos do que somos capazes quando enfrentamos o inimigo e o acovardamos com coragem e determinação!
Ao ouvir as últimas palavras de Godric, Peter suspirou orgulhoso e Zig e Cliffe reprimiram um risinho entre as mãos.
Lisa, não pareceu se convencer com as palavras de Godric, pois sabia que nenhum deles poderia entender o que é viver um ano pensando que seu maior inimigo está morto e do dia para a noite, descobrir que ele está vivo e que deseja vê-la a sete palmos do chão.
__Vocês não entendem __disse Lisa__ Vocês não compreendem o que é viver numa masmorra fria e fedorenta durante meses se alimentando de pão e água, por que aquilo que me davam passava longe uma sopa! Vocês não sabem o que é enfrentar um tribunal presa como um pássaro dentro de uma gaiola. Não compreendem o que eu senti quando vi Malagat surgindo dentro daquela névoa. Não compreendem o que é ver sua melhor amiga morta a sua frente e vocês não sabem o que é ser condenada a viver com uma semente maligna no coração, sabendo que algum dia ela vai brotar e um ser demoníaco vai dominar seu corpo!
__Semente? Do que está falando? __perguntou Gaya assustado.
__Osman cravou uma espada no meu coração no Mundo dos Humanos para que Crowley implantasse a Semente do Mal dentro de mim.
__Semente do Mal? __Gaya avançou sobre Lisa e imprensou-a na parede__ Que semente é essa? Responda, Lisa.
__A semente que pode trazer Keerva de volta a vida. Allenah não a matou como todos pensávamos. Malagat descobriu isso depois que retornou e mandou que Crowley e Osman a implantassem em meu coração.
Gaya, Slater e Godric ficaram aterrorizados com o que Lisa contara, nem mesmo Srta Prym, que permanecia ao lado dos armários, deixou de soltar um grito e levar a mão à boca.
__Como vêem, não fez diferença alguma __disse Lisa convicta do que falava__ Eu vou ter que viver com a semente em meu coração até chegar a hora de Keerva dominar minha corrente sangüínea e me matar como fez com a menina Danielle. Isso, sem a Ordem reconhecer que Malagat retornou e que Aragorn está em perigo novamente!
__Deve haver uma forma de reverter isso, não deve? __perguntou Gaya pasmo__ O que acha? Godric?
Martius Godric alisava sua longa barba branca fitando Lisa. Depois de longos segundos, o velho conselheiro disse:
__Não sei se seria provável retirar a semente sem causar algum dano para Lisa, o que acha, Slater?
__Concordo com você. Se Malagat descobriu que Keerva ainda estava viva e mandou que implantasse-a em você, certamente tinha certeza de que um dia retornaria e acabaria com sua vida!
__Lisa pode morrer? __perguntaram Zig, Cliffe e Dan simultaneamente.
__Não vamos pensar nisso por enquanto __disse Godric__ Acredito que você conheça alguns encantamentos, Slater, que possam nos ajudar, não sabe?
__Sim, acho que sim __respondeu Slater um pouco incerto do que dizia__ Precisarei de alguns dias pesquisando sobre o assunto, acho que, poderei fazer alguma coisa.
Lisa não se sentiu nem um pouco feliz com a resposta de Slater. Na verdade, se sentiu afundando cada vez mais num poço sem saída. Se Allenah não conseguiu destruir Keerva, então por que alguém conseguiria arrancar a erva daninha que se alastraria por suas veias e impedisse que ela retornasse?
__Vamos, por enquanto esquecer esse assunto __disse Gaya percebendo que Lisa pareceu se entristecer__ Mas, me contem, como Malagat sobreviveu?
__O Sétimo Espírito __disse Lisa__ Malagat conseguiu sugar metade dele no ano anterior enquanto meu feitiço o atingia. Não sei bem o que houve, mas, meu feitiço Lúmus Maximum se transformou em fogo e queimou o corpo de Malagat separando-o da alma que foi transformada em névoa. Depois da explosão, quando os Carrascos foram destruídos, Düblin viu a névoa de Malagat saindo dos destroços do castelo e pensou que fosse Goblin quem conseguira sobreviver.
‘Depois daquele dia, Malagat vagou pelos reinos e encontrou Hariph, que é filho de um antigo servo dele. A partir daí ele reuniu alguns servos para ajudá-lo a encontrar uma forma de recuperar seu corpo e voltar ao poder’.
__Acredito que em uma dessas tentativas de encontrar meios de recuperar o corpo destruído, ele tenha me encontrado __suspirou Slater sentando sobre uma cama__ Não me recordo bem como foi, mas, acho que levei uma pancada na cabeça, provavelmente dada por Hariph. Quando acordei, no dia seguinte, não sentia mais meu corpo, era como se alguém o estivesse dominado, paralisando meus movimentos.
‘No mesmo dia, fui levado por Hariph para as montanhas da Ilha das Serpentinas e desfiz as maldições do templo onde Gorgon estava trancafiado. Eu não tive escolha, não podia lutar contra aquilo que parecia dominar minha mente e me forçar a fazer o que Ele queria. Depois que libertei Gorgon, senti uma enorme dor na cabeça e vi uma névoa saindo de minhas narinas. Foi então que percebi a gravidade do problema’.
‘Quando consegui sair da Ilha das Serpentinas, procurei meus antigos seguidores e contei-lhes o que houve. Durante meses tentamos impedir o retorno de Gorgon, pois não passava na nossa cabeça que Malagat estava por trás disso. Quando demos por conta, estávamos sendo perseguidos e eliminados um por um. De doze seguidores, apenas Lavinski, Christian e Lauro Ravenclaw e o jovem Maximilliam e eu fomos os únicos que restamos. Por fim, apenas Lavinski, que está bem escondido, e Maximilliam sobreviveram’.
__Espere, se me recordo bem, você estava morto! __exclamou Zig__ Como pode estar vivo?
__Card Mortal. Foi uma morte permanente até que Gaya e Maximilliam me encontraram em Poltergrat e destruíram o Card que me matou.
__Como fizeram isso? __perguntou Lisa perplexa.
__Uma pequena troca de Cards foi o suficiente __disse Gaya__ Max me contou que Crowley e Osman estavam envolvidos nas mortes. Como Osman foi quem mandou os Emissários da Morte para matar Slater, peguei os Cards Mortais de Ljosalfr, digamos que emprestado, e trocamos pelos Cards Mortais de Osman.
Lisa e Louise trocaram olhares e voltaram-se para Gaya.
__Como conseguiram?
__Não foi fácil __disse Max__ A primeira tentativa foi nas férias. Fomos para o Mundo dos Humanos e tentamos entrar na casa de Crowley e Osman, mas não conseguimos. De volta a Fonte Phoenix, eu tentei devolver os Cards Mortais ao professor Ljosalfr antes que ele pudesse dar por falta deles. No entanto, não consegui entrar em seus aposentos e entreguei os Cards ao Luft para que ele os guardasse no lugar mais seguro que ele tinha, pois, quando Ljosalfr retornasse a Fonte Phoenix, eu tentaria devolve-lo sem que ele percebesse. Porém, Luft achou que o lugar mais seguro fosse debaixo de sua cama.
__Quando os inspetores encontraram os Cards do Ljosalfr debaixo de sua cama, tive que dizer que fora eu quem os pegou e mandei que Luft os guardasse e que, por engano, ele os guardou debaixo de sua cama __disse Gaya__ O que no fundo era verdade.
__A segunda tentativa foi depois que você foi levada para Azgrah. Nós sabíamos que Crowley e Osman estavam em Aragorn e aproveitamos a oportunidade para fazer as trocas. No dia em que ambos foram visitá-la em Azgrah, entramos na casa de Crowley, em Poltergrat, e trocamos os Cards Mortais de Osman pelos Cards de Ljosalfr.
__Com os Cards trocados, era necessário tirar o corpo de Slater de Poltergrat para depois destruir os Cards dos Emissários da Morte. No entanto, Max estava desabilitado por causa de seu ferimento, provocado por um Emissário no final do ano, e tive que manda-lo para um esconderijo próximo a Fonte Phoenix, pois seria arriscado descobrirem sua identidade e acabar com nossos planos. Entende agora, Lisa, foi por isso que me ausentei durante todo o período em que você ficou em Azgrah.
Lisa sentiu vergonha de ter duvidado do príncipe enquanto estava em Azgrah e percebeu que sua ausência foi mais que necessária.
__Eu ainda não consigo entender, por que Malagat precisava do Olho do Milênio? __perguntou Max.
__O Olho do Milênio continha uma lembrança aprisionada dentro dela __disse Lisa__ Uma lembrança que, por ser muito antiga, era forte o suficiente para trazer o corpo de Malagat de volta. Como a relíquia foi destruída....
__Malagat veio para cá, atrás do Cálice da Vida! __interrompeu Gaya__ Porque não o procurou antes? Porque Malagat quis o Olho do Milênio?
__Acho que nunca passou pela cabeça dele que o Cálice da Vida também poderia trazer seu corpo de volta __murmurou Dan.
__Não, Dan, não estou muito convencida disso __disse Louise__ Acho que Malagat sabia que o Cálice da Vida poderia dar-lhe o corpo perdido, mas temia o que o Cálice poderia fazer com ele e, como o Olho do Milênio se quebrou, não teve outra opção a não ser procura-lo.
__Porque pensa assim? __fitou-a Slater.
Louise olhou para Lisa e depois respondeu:
__Bom, Malagat recuperou o corpo e, não sabemos como, perdeu-o novamente.
__Em outras palavras, __disse Lisa__ ele explodiu na nossa frente. Foi por isso que Malagat fugiu.
Gaya e Slater não souberam o que dizer sobre a explosão de Malagat e a sua fuga. Godric, no entanto, parecia refletir sobre o assunto.
__Mas essa, não foi a única coisa estranha que aconteceu! __exclamou Lisa olhando para Louise__ Hariph matou Louise e...
Antes que Lisa pudesse terminar, todos soltaram gritos assustados e Zig e Cliffe exclamaram:
__Você está morta? __ disseram Zig e Cliffe afastando-se de Louise.
Louise fez uma careta para os dois e voltou-se para Gaya:
__Fui atingida pelo Abraço da Morte e acho que, devo ter desmaiado ou ficado inconsciente por um tempo, porque, minutos depois eu acordei como se tivesse acordado de um sonho aos pés do Cálice da Vida. Mas, o estranho é que o chão ao meu redor estava molhado e eu estava seca. O quê, realmente aconteceu comigo?
Gaya e Slater trocaram olhares perplexos e o restante dos que estavam na enfermaria permaneceram em silêncio. Godric, por fim, disse:
__Curioso, muito curioso como depois de séculos o Cálice da Vida ainda é um mistério para nós! Diga-me, o Cálice estava vazio quando você o viu depois de acordar?
Louise ficou em silêncio provavelmente tentando buscar no fundo da mente alguma imagem vaga do Cálice.
__Não sei dizer, senhor. Quando acordei e vi que Lisa não estava na cúpula, sai pelos corredores a procura dela e encontrei-a no momento em que Malagat e Hariph a haviam encurralado.
__Diga-me, mais uma coisa __disse Godric alisando a longa barba__ Malagat explodiu depois que você o atacou para proteger Lisa?
__Sim, mas, o que isso tem a ver?
Godric calou-se. O velho conselheiro sorriu e caminhou até o fundo da enfermaria. Lá, observou a parede acinzentada do castelo e disse, sem virar-se para os demais:
__Quando lançado, o Abraço da Morte não pode ser repelido por nenhum feitiço. A morte é imediata. Presumo que quem o lançou estava um pouco desabilitado para matar alguém naquele momento. Quero que entendam que o Amplexus mors é o feitiço mais sombrio que existe. Usa-lo em uma pessoa necessita de uma grande energia e concentração daquele que vai lança-lo, o que duvido que Hariph tenha tido no momento em tentou matar a senhorita Longbottom.
__Mas, eu vi Louise caindo no chão com os ossos quebrados e com sangue escorrendo por... __Lisa fechou os olhos, não gostava de rever aquela cena.
__De certa forma, Hariph o soube lança-lo. Mas, o que deve ter acontecido foi que o feitiço não estava em seu todo, o que significa que ele provocou um estado de semivida, o mesmo que Malagat possui. Em outras palavras, o corpo de Louise estava morto, mas a alma e algumas funções psíquicas, não.
‘Geralmente, este estado de semivida pode fazer brotar dentro das funções psíquicas, um medo de morte completa. O medo, em si, é captado pelo Cálice da Vida há séculos. É isso que o fortalece e o que o faz ter vontade própria. Quando isso acontece, o Cálice retira o medo para si e o transforma em vitalidade. Acredito que ele tenha feito o mesmo com a senhorita’.
__Então, ele usou meu medo para me trazer de volta a vida...
__Não. Não existe nada no mundo que possa trazer os mortos à vida, sabe disso. O que o Cálice fez foi usar seu medo, um medo que não aceitava a morte e muito menos a idéia de se afastar de sua amiga. Inconscientemente, você estava mais preocupada com o que fosse acontecer com Lisa do que com si própria. E isso, bastou para que o Cálice da Vida usasse seu medo de perde-la para transforma-lo em vitalidade. Seu corpo foi regenerado e suas funções psíquicas devolvidas ao estado original.
‘Mas, o que mais me intriga é a ligação que isso possa ter com a explosão de Malagat. Se eu não estiver errado, depois de fazer corpo e alma ficarem unidos novamente, o Cálice ainda permaneceu dentro de você. Quando você viu Malagat atacando Lisa e sentiu a necessidade de protege-la, o Cálice se manifestou e através de seu feitiço, quebrou a ligação entre corpo e alma que ele próprio concedera a Besta. Uma concessão forçada, já que Malagat não ofereceu nada ao Cálice.’
__Malagat é uma criatura, Lisa, que não sente medo, angústia ou qualquer outro sentimento. Assim como os Carrascos ele é uma criatura que não possui coração, por isso, seu corpo é gélido, por não haver nada de bom correndo em suas veias __disse Gaya__ O Cálice da Vida é um objeto místico que necessita dos sentimentos das pessoas, sejam eles: medo, dor ou angústia, para que eles os transforme em coragem, virtude e vitalidade, essenciais para nós.
__Então, o Cálice se virou contra Malagat e destruiu o corpo que ele próprio lhe concedeu exatamente por não ter conseguido nada em troca? __perguntou Peter.
__Podemos dizer que sim.
__Caramba, até o Cálice é interesseiro!
Os risos ecoaram pela enfermaria escura iluminada vagamente pelas velas e por alguns archotes que Srta Prym acendia.
__Tem uma coisa que eu não entendi __murmurou Lisa__ O que aquele velho quis dizer quando saiu do Olho do Milênio?
__Velho?
Olhares foram trocados dentro da sala e Godric mais uma vez pareceu interessado.
__É. Não me digam que não viram aquele velho que saiu de dentro do Olho do Milênio segundos antes da esfera cair no chão e se quebrar?
O silêncio novamente vagou pela sala. Lisa olhou para todos e sentiu seus olhares fitando-a como se ela estivesse contando uma grande mentira.
__Desculpe, mas, nós não vimos nada, Lisa! __exclamou Max.
Como não? Lisa tinha certeza de que vira um velho barbudo de vestes esvoaçantes erguer-se sobre suas cabeças. É claro que, na hora, estava escuro, mas a luz dourada que irrompeu da esfera dava para iluminar quase o salão inteiro de Poltergrat. Ela tinha certeza de que o vira e não estava sonhando.
__Este velho a quem se refere, __disse Godric da outra extremidade da enfermaria se aproximando de Lisa__ possuía vestes esvoaçantes e segurava um cetro na mão?
__S-sim. C-como sabe?
E sem mais nem menos, Godric respondeu a pergunta de Lisa, deixando Gaya novamente de queixo caído.
__Deduzi. Aquele velho é Miquèl de Nostredame. Nostradamus se preferir.
Nostradamus. É claro! Tantas coisas passavam na cabeça de Lisa que ela nem se dera conta que o velho barbudo era o próprio criador do Olho do Milênio.
__É claro! __exclamou Louise__ Nostradamus deve ter se projetado dentro do Olho do Milênio para transmitir a lembrança dele através dos séculos. Mas, porque apenas Lisa o viu?
__Talvez a explicação tenha algo a ver com esta marca __Godric fez um movimento com o dedo e os cabelo de Lisa esvoaçaram para o lado, descobrindo a sua marca no pescoço, um olho triangular rodeado por um círculo.
__Minha marca?
__Sim. No passado, uma menina nasceu na aldeia onde Nostradamus habitava com uma marca semelhante a sua. Na época, Nostradamus a achou curiosa e estudou-a durante anos. Infelizmente temos poucos livros que falem sobre as conclusões que ele obteve. Mas, há quem acredite que Nostradamus tenha descoberto algo surpreendente sobre a marca que o tenha forçado a pouco falar sobre ela. Alguns afirmam que, anos depois de Nostradamus ter encerrado suas pesquisas sobre a marca, ele teve uma visão na qual ele via o fim de Aragorn. Segundo lendas, para que sua visão não fosse perdida no tempo, ele aprisionou a lembrança da visão em uma esfera de cristal, que em seguida recebeu o nome de Olho do Milênio.
‘Após a morte de Nostradamus a sua casa foi saqueada e o Olho do Milênio foi roubado. Acredita-se que os ladrões sabiam sobre ele e tentaram ver a tal visão sobre o fim dos tempos. No entanto, a esfera não se manifestou e o Olho do Milênio foi dado como inútil e a história da visão, mentirosa’.
‘Séculos depois, segundo lendas, uma mulher encontrou o Olho do Milênio enterrado a beira de uma corredeira e o levou para a aldeia em que morava. A esfera foi vendida para um homem, que em seguida, deu de presente para sua mulher. Conta a lenda que a mulher possuía uma marca no pescoço semelhante à marca que Nostradamus estudou e que, no momento em que a mulher tocou o Olho do Milênio, Nostradamus apareceu para ela’.
‘Infelizmente, ninguém sabe o que Nostradamus disse a mulher e muito menos o que ela fez com o Olho do Milênio. O que a lenda conta é que anos mais tarde a esfera foi reencontrada por um grupo de sacerdotes que, por ventura, estudavam os mistérios que Nostradamus deixara quando morrera. Depois de analisarem a esfera, os sacerdotes concluíram que pertencia a Nostradamus, mas não tinham certeza se ela era realmente o lendário Olho do Milênio’.
‘Acredita-se que os sacerdotes tenham, através dos séculos, procurado alguém que tivesse a marca estudada por Nostradamus para que suas suspeitas sobre a esfera se concretizassem. Também não sabemos se eles encontraram alguém com a marca, mas, o fato é que os sacerdotes descobriram alguma coisa sobre o Olho do Milênio que os fizeram esconde-lo no interior de um castelo que mais tarde seria a cede da Ordem dos Lordes’.
‘Muitos Lordes, conhecedores das lendas, tentaram encontrar o Olho do Milênio em Poltergrat, mas, nunca conseguiram acha-lo. Dizem que o labirinto chegou a ser encontrado uma vez e a sala onde acreditava-se estar o Olho do Milênio. No entanto, ninguém nunca o via dentro da sala. Passaram a acreditar que tivesse sido roubado ou que havia alguma magia forte impedindo que meros mortais o vissem’.
__Será que foi por isso que Weaslow penetrou minha mente e me levou em sonho ao labirinto e a sala onde estava a relíquia, para ver se eu a via? __perguntou Lisa__ Será que há alguma ligação entre mim e a esfera?
__Acredito que sim __confirmou Godric__ Se eu estiver certo, apenas quem possui essa marca no pescoço pode ouvir a Profecia do Milênio. Será que poderia nos contar o que foi que Nostradamus disse?
__Acho que sim.
Lisa pensou por um instante. Tentou buscar na mente o que exatamente Nostradamus dissera. A lembrança do velho erguendo sobre sua cabeça veio a sua mente. Ainda meio incerta sobre o que ele dissera, disse:
__Acho que é algo parecido com: “aqueles que habitam os dois mundos preparem-se para o fim. Quando as duas marcas erguerem-se sobre a terra e a terceira lua surgir no horizonte, o duelo estará terminado e os exércitos tomarão os mundos. Ouçam o que eu lhes digo, as sete profecias foram lançadas. O fim está próximo!”
__Sinistro! __exclamaram Zig e Cliffe__ Mas, o que significa?
__Não sei.
__Godric?
Gaya fitava Godric esperando que ele soubesse o que significava.
__Também não sei dizer, mas, acredito que a profecia foi ouvida no tempo certo. Os tempos sombrios estão voltando, meu príncipe. O retorno de Malagat, de Gorgon e de Keerva pode ser apenas o começo de tudo que Nostradamus viu acontecer em sua visão.
__O fim está próximo __murmurou Gaya__ Será que a profecia realmente foi ouvida no seu tempo certo?
Ninguém soube responder. Lisa repetia mentalmente o que Nostradamus dissera quando algo passou lhe ocorreu.
__Senhor, depois que Malagat fugiu, Louise acorrentou Hariph, mas ele conseguiu escapar. Em seguida, eu lancei um feitiço que arrancou-lhe um pedaço de pele do pescoço. Quando a pele caiu, uma marca semelhante a minha surgiu no pescoço como se a pele estivesse lá apenas para cobri-la. Ao ver que a marca estava descoberta, Hariph cobriu-a com a mão e desapareceu. Será que é provável que a marca dele seja a mesma que a minha e que ele também tenha ouvido a profecia de Nostradamus?
__Hariph tem a mesma marca que você? __perguntou Gaya.
__Aparentemente, sim.
__Também não sei dizer, Lisa __disse Godric parecendo um pouco perturbado com tantas informações__ Acho melhor, meu príncipe, pensarmos nisso em outro momento. Acredito que o dia foi muito cansativo e nossas mentes não estejam preparadas para entenderem exatamente o que ocorreu hoje. Talvez o tempo diga por si só.
__Concordo plenamente.
Ao dizer isso, algo como um ronco ecoou sonoramente na enfermaria. Todos olharam para Lisa assustados com o barulho que a barriga dela produzira. Antes mesmo de Lisa justificar o ronco monstruoso de sua barriga, outras barrigas também roncaram sucessivamente. Nem mesmo Gaya deixou de escapar um ronco.
__É, acho que todos estamos famintos!
BUM! BUM!
A enfermaria estremeceu quando longos e pesados passos se aproximaram da porta. Camas tremeram, frascos de remédios caíram e Lisa sentiu seus pés saírem do chão. Assim que a silhueta de uma gigantesca mulher surgiu na porta, Zig e Cliffe pularam para trás da cama e ficaram encolhidos.
Big Bertha entalou o traseiro na porta e depois de retira-lo com dificuldade, empurrou Gaya para o lado e correu para seus filhos, que ao seu tamanho pareciam dois fantoches.
__ANTONIUS ZIGOFEU JÚNIOR E ANTONIUS CLIFFONEU JÚNIOR, SAIAM JÁ DAÍ! __trovejou Big Bertha.
__Antonius o quê? __disseram Dan e Louise perplexos.
__A senhora só nos chama pelos nomes quando está com raiva! __exclamaram Zig e Cliffe erguendo as cabeças atrás da cama.
Big Bertha estava escarlate e bufava pelas narinas. Ao ver os filhos erguerem-se de trás da cama, Big Bertha estufou os pulmões e estremeceu os lábios. Lisa pensou que ela explodiria dentro da enfermaria, mas, para sua surpresa, a gigantesca mulher arrancou os filhos de trás da cama e apertou-os contra o corpo, esmagando-os ao meio com seus enormes e fortes braços enquanto falava de olhos lacrimejantes.
__Nunca desapareçam sem avisar a mamãe, yah? Mamãe ficar preocupada com filhuscas desaparecidas. Nunca mais façam isso!
__Está bem, mamãe __disse Zig sentindo os ossos estralarem__ Não vamos fazer mais isso.
__Será que dá para nos soltar, agora? Nossos amigos estão nos vendo...
Big Bertha largou os filhos e os dois caíram sentados no chão. E após dar um beijinho, mais parecido com um chupão, nos filhinhos da mamãe, Big Bertha deu um risinho e surpreendeu os filhos:
__Agora, vão tomar banho. Filhuscas estar de castigo por dois meses!
__Mas, mamãe!
__AGORA!
Zig e Cliffe deixaram a enfermaria, sem dizer mais nada, seguidos por Big Bertha, que voltou a entalar o traseiro na porta e depois de mais longos minutos, desentalou e desapareceu provocando o terremoto de sempre.
Lisa os observou desaparecer de vista enquanto saía do Castelo Principal. Ao ver o jardim sul totalmente iluminado pelos vaga-lumes mágicos e pela lua que surgia no horizonte, Lisa sentiu que estava em casa novamente. Talvez como nunca sentira-se antes.
No dia seguinte, centenas de exemplares da Folha do Centauro começaram a transitar pelo Mundo de Aragorn logo nas primeiras horas do dia. Na primeira capa do jornal, estava destampada uma gigantesca foto de Alan Hart e Maya sorrindo desdenhosamente para a máquina fotográfica, talvez, a nova de Felton. Na legenda da foto, estava o título:
SOBREVIVENTES DO RETORNO (ver pág.5)
Acima da fotografia havia também várias reportagens, entre elas:
O MESTRE DAS SOMBRAS RETORNOU (ver pág.8)
ORDEM DOS LORDES DECRETA LIBERDADE A LISA BLADEFIRE (ver pág. 18)
E, abaixo da foto dos Hart, uma fotografia de Hariph, com os dizeres:
PROCURA-SE, VIVO OU MORTO!
RECOMPENSA: 100 MIL DRACMAS
O grandioso salão do refeitório do Castelo dos Bruxos estava apinhado de gente quando Lisa sentou-se à mesa para tomar o café da manhã depois de dormir como nunca dormira antes. Quando se sentara a mesa, fora inevitável não perceber os olhares atentos dos alunos que erguiam suas cabeças para vê-la por trás dos jornais.
__A Ordem decretou oficialmente a sua liberdade __disse Louise ao vê-la sentado-se a mesa__ e está oferecendo uma recompensa de 100 mil dracmas pela cabeça de Hariph. Parece que enfim, as coisas vão terminar bem!
__Que bom __murmurou Lisa observando os olhares curiosos dos outros.
__Eu já ia me esquecendo, Maya e seu pai não deixaram de se exibir na primeira página da Folha do Centauro. “Sobreviventes do retorno”. Grandes coisas, ela e o pai dela não fizeram quase nada, especialmente Hart que virou pedra antes mesmo da coisa toda começar! Lisa, você está me ouvindo?
__Ah, estou, claro que estou!
__Pois não parece __murmurou Louise__ Eles não param de olha-la. Isso está te incomodando, não está?
__Talvez.
__Lisa, escute. Tudo acabou bem. Você está livre e todos sabem que foi Hariph quem matou Athus. Talvez eles te olhem assim porque estejam envergonhados das coisas horríveis falaram depois que você foi levada para Azgrah. As coisas estão voltando ao que era antes, e isso é o que importa agora.
__Queria que tudo fosse quando era antes. Antes das mortes, antes da formatura...
__Infelizmente, Lisa, não podemos voltar ao passado e corrigir os erros. Esse é o nosso presente e, por mais tenebroso que o nosso futuro possa parecer, nós devemos continuar de cabeças erguidas. É o melhor que podemos fazer. Não se preocupe, um dia tudo vai ficar bem.
Lisa passou os olhos pelo salão e suspirou.
__ Sei que sim!
Justina Rowena pousou na Fonte Phoenix ao entardecer numa bela carruagem branca puxada por dois cavalos alados. Ao vê-la, Lisa teve a alegre sensação de que aos poucos tudo estava voltando ao normal. Naquela mesma noite, os Feitiços de Aprendizagem foram suspensos e, no dia seguinte, todos acordaram sem a terrível sensação de dormirem sobre um livro de duas mil páginas.
Logo pela manhã, a notícia de que as aulas voltariam ao normal no dia seguinte tomou a Fonte Phoenix de um profundo alvoroço, que se estendeu até ao entardecer. Durante o dia todo, alunos circularam pelos corredores lendo livros e consultando anotações feitas no início do ano para conseguirem fazer metade dos exames finais que seriam aplicados a partir da outra semana. A outra metade dos enxames seria aplicado sobre as matérias que foram transmitidas pelos Feitiços de Aprendizagem.
Enquanto todos se preocupavam com os exames finais, Lisa parecia se preocupar com outra coisa.
__Parece preocupada, Lisa__ perguntou Slater no final da semana quando a levou para a torre principal onde analisaria o estado da Semente do Mal implantada em seu coração__ Keerva a está preocupando?
__ Só penso nela o dia todo.
__Apenas nela? Em Malagat também não?
Lisa afundou-se na poltrona e preferiu observar o teto ao olhar para Slater.
__Quer um conselho, Lisa? __Slater levantou-se e foi até as velas, acende-las uma por uma com um movimento da mão__ Não acho prudente ficar pensando nos problemas que possui. Abra seu coração para as coisas boas e abra a mente para o que você possa fazer contra as coisas más. Sei que não é fácil dormir com uma semente no coração sabendo que quando acordar ela poderá estar germinando e suas raízes se alastrando por suas veias como uma erva-daninha. Se quer realmente impedir que isso aconteça deve lutar contra tudo que Keerva preza: discórdia, angústia, ódio... Não deve permitir que esses sentimentos interfiram na luta que seu corpo estará travando contra ela.
__Não acho que isso possa ajudar muito.
__Talvez mais do que minha varinha possa ajudar! __exclamou Slater sentando-se de frente para ela__ Não consegui encontrar muita coisa que possa ajudá-la a retirar essa semente. O máximo que encontrei foi um feitiço de análise. Ele poderá analisar o estado que a semente se encontra. Posso tentar, se quiser.
__Não tenho muita escolha, não é?
__Receio que não.
Lisa consentiu com a cabeça e Slater levantou-se, ergueu a varinha e apontou-a para o coração de Lisa. Em seguida, pronunciou o feitiço:
__Expecto revelio!
Imediatamente após a pronúncia, Lisa sentiu uma forte queimação no peito e quando percebeu, uma estranha energia jogava Slater para trás. As velas se apagaram e um vaso se quebrou sobre uma mesinha.
__O que foi isso? __perguntou Lisa esfregando o peito.
__Acho que Keerva! __exclamou Slater assustado__ A semente possui uma proteção que impede que alguém a retire. Uma magia que desconheço, para ser mais exato. Mas, por enquanto, não há o que se preocupar, a semente ainda está em estado de dormência.
__ E o que quer dizer isso?
Slater levantou-se e voltou a acender as velas.
__Quer dizer que a semente ainda não está pronta para germinar. Se a dormência for quebrada ocorrerá o processo do... renascimento de Keerva!
__E quanto tempo levará para a dormência ser quebrada?
__Não sei. Talvez meses, anos... se levarmos em consideração o tempo em que essa semente vagou pela Ilha das Sombras desde o dia em que Allenah quase dizimou Keerva, ela não retornará nem tão cedo. Não se preocupe, até lá encontraremos uma forma de quebrar a proteção e retira-la de você.
__Mas, o senhor disse que é magia desconhecida...
__Sim. É uma magia negra que nunca vi antes, mas conheço alguém que possa ajudá-la. É um velho amigo meu. Ele conhece como ninguém as artes das trevas. Certamente saberá uma forma de anular a proteção e retirar a semente. Agora, vamos, desfaça essa cara de preocupação. Mais cedo ou mais tarde encontraremos uma forma de livra-la dessa semente, ok?
Slater contornou a sala e parou a porta.
__Antes que eu me esqueça. Vou pedir para meu amigo procura-la nas férias. Assim, adiantaremos as coisas. Então, onde ele poderá encontra-la?
Férias. Lisa não havia decidido aonde passar as férias. Com os últimos acontecimentos dando voltas em sua mente, Lisa esquecera-se completamente da carta de seus avós que a convidavam para passar férias com eles. Nessa atura do tempo, Lisa não sabia se realmente gostaria de conhece-los, afinal, o descaso com ela no período em que estava em Azgrah ainda não fora esquecido.
__Tenho certeza de que não fizeram por mau __disse Max no final de semana quando caminhavam no jardim norte__ Seus avós são reis e certamente estavam ocupados...
__Ocupados demais para me visitarem! __exclamou Lisa parando e sentando a beira do chafariz.
__Não foi bem isso que eu quis dizer... acho __murmurou Max percebendo que não ajudara em nada.
Os dois ficaram em silêncio. Lisa, se perguntando por que não recebeu a visita de seus avós e Max tentando encontrar palavras para fazer Lisa mudar de idéia.
__E você? __perguntou Lisa deixando seus avós de lado__ Onde vai passar suas férias?
__Não sei bem se vai ser férias.
__Porquê?
__Eu, Slater e Düblin estamos planejando fazer uma jornada por Aragorn a procura dos seis colecionadores de Cards Mortais que existem, assim que eu prestar os exames finais e estiver livre da Fonte Phoenix.
__Porque procura-los?
__Slater acredita que se convencermos esses colecionadores a destruírem seus Cards, nós conseguiremos atrasar uma boa quantidade dos futuros planos de Malagat, já que, uma quantidade pequena de seu exército foi no passado de Cards Mortais.
__E como vão convence-los?
__Não sabemos __murmurou Max desanimado__ Na verdade, não sabemos o que fazer depois que só restarem os Cards que estão nas mãos de Malagat.
__Desculpe, mas, não entendi!
__Lisa, existem nove colecionadores no mundo. Dois dos nove são: Ljosalfr e Osman. Os Cards de Osman, que estavam em nossa posse foram destruídos por Gaya, porém, os Cards de Ljosalfr não, porque foram trocados pelos de Osman. No entanto, a Ordem fez uma busca anteontem na casa de Osman e encontrou os Cards, que logo em seguida, foram destruídos por Gaya, que acompanhou a busca. Agora, restam sete colecionadores, da qual, um deles é Hariph.
Lisa ficou pasma.
__Hariph?
__Sim __respondeu Max.
__É claro, isso faz sentido! __exclamou Lisa de chofre__ No Bosque Espinhoso fomos atacados por Cards Mortais e nós pensamos que fossem os Cards que Gaya e você pegaram de Ljosalfr. E esse tempo todo era Hariph?
__Parece que ele realmente queria vê-los fora do caminho!
Uma leve brisa passou pelos dois e por um instante, ambos ficaram em silêncio. Sem querer, Lisa observou o rosto de Max, que parecia preocupado e ela tinha certeza de que não era os Cards que o estavam preocupando.
__Você parece preocupado.
__Não tem como esconder, não é? __Max suspirou e disse__ Minha, marca, Lisa. Pensei que iríamos destruir o Card que me feriu, mas, ele não estava entre os Cards de Osman.
__Então, sua marca ainda...
Max balançou a cabeça e ergueu a camisa, mostrando para Lisa o abdômen enfaixado. Era visível no lado esquerdo uma pequena mancha de sangue.
__Esse é o motivo pelo qual me leva junto nessa jornada __disse Max abaixando a camisa__ Por algum motivo ou, talvez, por engano, Osman deve ter trocado o Card com Hariph ou perdido ele. Não importa quanto tempo eu gaste, mas, eu quero encontra-lo e destruí-lo. Somente assim esse ferimento vai cicatrizar.
__Tenho certeza que vai conseguir encontra-lo.
Sem que Lisa percebesse, sua mão escorreu pela perna de Max e parou sobre a mão dele. Os dois se entreolharam e, tímidos, afastaram as mãos.
A tarde chegou mais rápida do que Lisa estava esperando. Ainda martirizada pelo fato de seus avós pouco terem se importado com seus problemas, Lisa ficava refletindo sobre o assunto durante horas e mais horas.
__Lisa, você não pode ficar só pensando nisso o dia todo __disse Louise quando estavam na aconchegante Sala Comunal__ Seus avós tiveram algum motivo para não visitá-la naquele lugar. Lembre-se de que no ano anterior eles quiseram vê-la, mas Gaya não permitiu com medo de por sua segurança em risco. Eles querem conhece-la, talvez não tenha tido coragem de fazer isso dentro de Azgrah. Lembre-se, você é quem deve dar o primeiro passo. Espero que faça a escolha certa...
E vendo Tom aparecer na porta da Sala Comunal, Louise levantou-se e saiu com o rapaz.
Talvez Louise tivesse razão. Lisa deveria dar o primeiro passo. Eles tentaram uma vez e não conseguiram. Agora, era a vez dela. Mas, qual deles escolher?
Lisa levantou-se e ao passar pela lareira, seus olhos pararam nos quadros de seus pais. Naquele momento, Lisa perguntou-se por que Osman lhe dera aqueles quadros. Mas antes que a pergunta desse voltas em sua mente, os olhos de Lisa encontraram-se com os olhos meigos de sua mãe. Por um instante, mãe e filha se entreolharam e Lisa, então, percebeu o que realmente deveria fazer.
Lisa voltou correndo para o quarto e pegou um rolo de pergaminhos, uma pena e um tinteiro. Seu coração batia em ritmo acelerado. Ela não entendia porque se sentia assim, mas sabia que era bom, muito bom.
E pondo a pena sobre o pergaminho...
Querido, vovô, Articuno...
Os exames finais foram aplicados três dias antes das aulas terminarem. Os exames que deveriam ter sido aplicados por Athus foram dados por Rowena, que o substituía desde o retorno das aulas, há quase uma semana atrás. Lisa estranhou um pouco a presença confortante de Rowena, pois a cada volta que a professora dava na sala, concentrada em seus pergaminhos, Lisa tinha a ilusão de ver Athus em seu lugar. Ao final do exame, a imagem do professor assassinado dava voltas em sua mente.
Enquanto caminhava pelo corredor do castelo, Lisa tinha a impressão de ver Athus aparecer e desaparecer, em seguida, entre os alunos que completaram os exames. Ao passar pelo hall de entrava, Lisa desviou das escadas espirais e caminhou-se pelo longo corredor até parar em frente a uma grande porta de carvalho.
Lisa não sabia porque estava ali. Pensou em voltar, mas uma estranha vontade de entrar na sala fez seu coração acelerar. A garota, tirou a varinha do bolso e antes que pudesse abrir a porta com um feitiço, a porta se abriu e Lisa viu a silhueta de Godric surgir atrás da mesa de mogno de Athus.
__Entre, Lisa __murmurou o velho conselheiro__ Tive a impressão de que estava atrás da porta.
Lisa entrou e a porta se fechou lentamente as suas costas.
__Essa sala vai deixar muitas lembranças, não acha, Lisa?
__Acredito que sim, senhor __respondeu Lisa olhando para uma pilha de livros sobre a mesa.
__É uma pena que vão ser apenas lembranças __suspirou Godric__ Sabe, amanhã pela manhã esta sala vai deixar de existir. Acho que não é prudente apegarmos ao passado...
__Mas, senhor...
__Sei o que vai dizer, Lisa __interrompeu-a Godric__ Esta sala era de Athus e devíamos mantê-la do jeito que está. Mas, eu lhe pergunto, até quando vamos nos apegar a essas coisas materiais? Entenda, Lisa, Athus ficaria mais feliz em ser guardado em nossa mente do que entre quatro paredes. Entende, o que eu quero dizer, Lisa?
__Acho que sim.
__Fico feliz __Godric deu uma olhadela na sala e dirigiu-se a porta__ Vou deixa-la a sós para se despedir.
Godric abriu a porta e, antes de sair, hesitou e voltou para trás retirando algo do bolso das longas vestes brancas que usava.
__A propósito, gostaria que você ficasse com isso.
Godric estendeu a mão e deu a Lisa uma pequena esfera onde um dragão de fogo em forma de serpente voava em círculos dentro dela.
__O que é, senhor?
__É uma insígnia. Uma insígnia celestial. Existem apenas sete no mundo. Esta é a insígnia do dragão. Pertenceu a seu pai e acho que lhe seria mais útil com você do que comigo.
Lisa segurou a minúscula esfera na mão e observou o dragão de fogo percorre-la. Por um instante, Lisa sentiu um calor confortante vindo da esfera, como se as chamas do dragão fossem reais.
__Ah, obrigado, senhor.
Lisa estava a sós na sala. A porta estava fechada e Martius Godric havia saído. Mas como, se Lisa não o vira sair?
Lisa guardou a insígnia do dragão no bolso e, após dar uma última olhada nos antigos pertences de Athus, saiu da sala sem olhar para trás.
Os resultados dos exames foram dados no dia seguinte. Como era de se esperar, Louise tirou um A seguido por seis positivos; Lisa tirou um B positivo; Dan um B negativo e Peter, que surpreendentemente se superou e tirou um B seguido por três positivos. Quem não pareceu gostar muito do resultado foi Maya, que tirou D seguido por sete negativos.
__Teve sorte, queridinha! __desdenhou Maya quando ela e Louise se toparam nos corredores__ Eu no seu lugar teria tirado a mesma nota...
__Não tirou porque não era eu, presumo __interrompeu Louise abrindo um sorriso no rosto.
Maya mordeu os lábios e resmungou alguma coisa que ninguém entendeu.
__Certamente __disse Maya abrindo um sorriso falso no rosto__ Mas, acho que ser você seria extremamente repugnante e não ficaria bem para mim, Maya Hart, andar por aí sendo Louise Longbottom, alguém de baixa classe e que cheira mal __ e dizendo isso, Maya soltou um risinho desdenhoso e deu de costas para Louise.
__Como?
No meio da testa de Louise uma veia pulava assustadoramente. Ela tremia descontrolada e seus dentes se rangiam de raiva.
__Louise, se acalme!
Mas, antes que Tom pudesse terminar a frase, Louise arrancou a varinha do bolso e apontou para Maya. Segundos depois, a garota era arremessada corredor afora sobre as cabeças dos alunos. No final do corredor, Maya bateu de cara no vidro, recém colocado, da janela e deslizou até cair de costas no chão.
__Agora me sinto bem melhor!
Louise guardou a varinha no bolso e deixou Lisa, Tom, Zig, Cliffe e Dan de queixos caídos com sua atitude.
Ao final da manhã daquele mesmo dia, Lisa recebeu a carta-resposta de seu avô, que fora trago por Hermes.
__Obrigada, Hermes!
O pequeno elfo de elmo alado saiu pela janela do quarto de Lisa e desapareceu de vista ao chocar-se contra uma árvore nas mediações do jardim sul. Pelo visto, o elfo a confundira com alguma coisa.
Lisa correu para cima da cama e abriu a carta de gelo que Hermes trouxera. Assim que Lisa abriu-a, flocos de neve jorraram da carta e se espalharam pelo quarto. Uma maravilha mágica que permaneceu até ao anoitecer.
A lua cheia surgia entre as nuvens quando a Cúpula da Fênix emergiu mais uma vez das profundezas do mar para sediar a formatura do quarto ano. Diferente do ano anterior, Lisa e seus amigos preferiram não assistir a formatura e ficaram na Fonte Phoenix para se despedirem de Max, Slater, Lyon e Düblin.
__Tem certeza de que ficará bem? __perguntou Slater a Lisa.
__Sim, senhor.
__Certo __Slater abraçou-a__ Não se preocupe, meu amigo irá até você nas férias, ok?
__Ok.
__Bom, acho que Gaya não poderá vir se despedir __disse Slater__ A sua presença na formatura é mais importante. Estamos prontos para partir, então?
__As Mandrágoras já estão prontas, senhor __disse Max se aproximando com as quatro Mandrágoras que trouxeram Lisa e os outros do Bosque Espinhoso.
__Ótimo, Maximilliam __disse Slater__ Então, até mais Lisa!
__Até.
Düblin, que também trazia uma das Mandrágoras, entregou-a a Zig e veio até Lisa.
__Acho que chegou a hora de Düblin se despedir de menina Lisa, outra vez!
Lisa olhou para os olhos verdes de Düblin que brilhavam a luz do luar e abraçou-o.
__Obrigada, Düblin. Obrigada por ter me ajudado. Se não fosse você talvez eu ainda estaria em Azgrah ou quem sabe...
__Não pense mais nisso, menina __disse Freeguiz enchendo seus olhos de lágrimas__ Tudo terminou bem e a menina está novamente entre nós. Düblin tem de ir agora, até mais menina.
__Até, Düblin.
Düblin cumprimentou os demais e subiu em uma das Mandrágoras, ajudado por Slater. Entrementes, Lyon se aproximava timidamente de Lisa.
__Eu lamento por não ter feito muita coisa por você em Azgrah e...
__Está errado, Lyon __disse Lisa pondo a mão no ombro do homem magricela__ Você fez grandes coisas. Enfrentou Weaslow e Chamberlain. Provou que é um bom homem. Serei eternamente grata.
__Onde vai ficar agora, Lyon, já que não quer voltar a trabalhar em Azgrah? __perguntou Louise se aproximando.
__Eu darei um jeito. Düblin disse que Madame Geoffrin está precisando de alguém que fique com ela. Geoffrin se sente muito sozinha no Bosque Espinhoso e quer um acompanhante. Acho que vou aceitar o emprego.
__Fico feliz por você __disse Lisa.
__Então, até mais garotos!
Lyon fez um aceno para todos e subiu em uma das Mandrágoras.
Agora, só restava Max para se despedir e Louise não quis ficar perto de Lisa, nem tão pouco Dan, que preferiu se afastar para não ver aquela cena. Mas, antes, pediu desculpas para Max.
__Não tem o que se desculpar, Dan __disse Max.
__Acho que lhe julguei mal, cara, me desculpe!
__As circunstâncias o fizeram me julgar daquela forma. Não culpo você, sabe disso.
__Então, boa sorte em sua jornada.
__Valeu!
Max apertou a mão de Dan e foi até Lisa. Dan, por sua vez, afastou-se para o lado oposto do jardim.
__Então é isso __murmurou Max ara Lisa.
Lisa não sabia o que dizer. Quando deu por conta, estava agarrada ao pescoço de Max desejando-lhe boa sorte.
__Vou ficar bem, não se preocupe __disse o rapaz.
__Quando vai voltar?
__Não sei dizer. Talvez eu não volte para a Fonte Phoenix no ano que vem.
Lisa tirou seus braços de torno do pescoço de Max e beijou-o na testa. Do outro lado do jardim, Dan virou o rosto para ver a cena.
__Prometa-me que vai voltar __disse Lisa segurando suas mãos.
__Já lhe disse...
__Prometa...
__Maximilliam, vamos! __gritou Slater.
As mãos de Max se desvencilharam das de Lisa e ela o viu partir sem sua resposta. As quatro Mandrágoras ergueram-se no ar e desapareceram no céu enluarado.
__Não se preocupe, Dan __disse Tom ao ver que Dan observava Lisa vendo Max partido__ Ainda chegará a sua vez!
__Não sei do que está falando!
E virando-se, Dan deixou todos no jardim e entrou no Castelo dos Bruxos sem dar atenção ao que Tom dissera por último.
__Certamente que não!
Uma grande carruagem de gelo surgiu no horizonte conduzida por quatro pares de belos cavalos brancos alados, de longas crinas e de belos cascos prateados. Atrás da carruagem, mais seis a seguiam enfileiradas uma atrás da outra. As carruagens pousaram na Fonte Phoenix e de dentro delas, Lisa viu um pomposo homem de vestes prateadas sair, seguido por outros tantos homens, que ao olhar pareciam ser seus guardas.
Do alto de uma das torres do Castelo dos Bruxos, Lisa observava Gaya e Martius Godric os recebendo. Quando o pomposo homem, de vestes azuladas com prata, percebeu que ela o observava, ele abriu um largo sorriso e Lisa desceu correndo para o hall de entrada onde os encontrou com Gaya e Godric.
__Esta é Lisa Bladefire __disse Gaya__ Este, Lisa é...
__Premagier, alteza!
O pomposo homem curvou-se para Lisa e beijou sua mão. Os guardas, fizeram o mesmo.
__Acho que a viagem deve ter sido muito longa. Aceitariam algo para comerem enquanto descansam?
__Nós devemos partir ao pôr-do-sol, concorda alteza? __Lisa concordou, meio abobada com tudo aquilo__ Enquanto isso, descansaremos e aceitaremos algo para comer.
__Por favor,senhores, por aqui.
As malas de Lisa foram colocadas nas carruagens ao entardecer. Poucos minutos depois, o navio do Cruzeiro Fantasma desafiava a gravidade e escalava o penhasco até entrar nas propriedades da Fonte Phoenix. Entrementes, carruagens saíam do castelo, tanto pelo ar quanto por terra, para retornarem aos seus reinos.
Nas mediações do jardim sul, Louise, Zig, Cliffe, Dan e Peter se preparavam para partirem, acompanhados de perto por Lisa.
__Não sei por que mamãe nos deixa carregar os malões mais pesados __reclamava Zig enquanto carregava os malões de Big Bertha para dentro do Cruzeiro Fantasma__ Seria tão simples mandar o Splinter fazer isso.
__Talvez sua mamãe não faça isso porque vocês estão de castigo e eu não sou nenhum burro de carga __exclamou Splinter ao ouvi-los enquanto aguardavam os alunos entrarem no navio.
__Como ele soube disso? __indagou Cliffe acompanhando o irmão.
__Onde vai passar as férias, Dan? __perguntou Louise parando no jardim sul.
__Vou voltar para minha aldeia. Não voltei para ela no ano anterior __respondeu Dan olhando para Lisa e desviando o olhar em seguida__ Zig e Cliffe vão comigo nos grifos. Vamos leva-los para nossas aldeias.
__E você, Peter?
__Eu? Vou voltar para minha casa.
__Bom, eu vou com Tom para Goldenwarth __disse Louise animadíssima__ Eu e eles estamos... nos dando bem e ele me chamou para conhecer a aldeia dele. É claro que eu só vou para lá porque meus pais vão estar me esperando. Sabe, vamos jantar em família... a minha e a de Tom...
__Fico feliz por vocês dois! __exclamou Lisa um pouco cabisbaixa.
Desde o momento em que vira seus amigos arrumando as coisas para partirem, Lisa sentiu um enorme vazio dentro si. Estava tão acostumada a tê-los por perto que a separação, mesmo que por alguns meses, pareceu-lhe impossível.
__Entenderam bem? __Lisa ouviu Big Bertha dizendo aos filhos__ Quero que filhuscas chegar em casa antes de mim, ouviram? Não vou aceitar nenhuma desculpa do tipo: o grifo errar o caminho ou o grifo se perder numa massa de ar. Está certo?
__Sim, mamãe! __exclamaram Zig e Cliffe quase enfiando a cara no chão. Todos os observavam e riam.
__Então, estr bem __disse Big Bertha__ Mamãe ver filhuscas em casa, yah? Agora, mamãe abraçar filhuscas.
Big Bertha agarrou os filhos e depois os soltou.
__Beijinhos!
Big Bertha jogou um beijo para os filhos e subiu a rampa do Cruzeiro Fantasma. Por um instante, Lisa pensou ter visto o navio tombar e depois voltar a posição normal.
__Vamos partir, marujos!
O grito assombroso de Srta Sparrow ecoou pela Fonte Phoenix e Peter despediu-se às pressas de Lisa e dos outros.
__Até o ano que vem, galera!
__Louise, estamos prontos __gritou Tom do campo de pouso ao lado de sua nova carruagem.
__Bom, acho que chegou a hora de nos despedirmos __disse Louise__ Espero que fique bem, Lisa.
__Ficarei __disse Lisa abraçando Louise__ E quero que vocês também se cuidem!
__Pode deixar! __disse Zig.
__Então, acho que nos veremos novamente no ano que vem, Lisa __disse Dan.
__É, acho que sim. Cuide-se.
__Pode deixar. Vamos, então?
Louise, Dan, Zig e Cliffe deram as costas para Lisa e começaram a se afastar dela. De súbito, Lisa correu até eles e chamou-os novamente.
__O que foi, Lisa? __perguntou Louise.
__Me prometam que no ano seguinte vão estar ao meu lado...
__Sempre estaremos ao seu lado, Lisa! __exclamou Louise.
__Somos uma família, agora! __exclamou Cliffe.
__Exatamente. Nunca te abandonaremos! __disse Zig.
__Não importa o que acontecer, nós sempre estaremos ao seu lado __disse Dan por último.
Em um abraço compartilhado, Lisa se despediu dos amigos e acompanhou-os até campo de pouso. Lá, Louise entrou na carruagem e, antes que Dan e os Pés Grandes fossem pegar os grifos no estábulo, Grump passou por eles e Dan o arou.
__O que foi, Horcliffe?
Dan pareceu engasgar como se as palavras não saíssem de sua boca. Por fim, disse:
__Obrigado. Obrigado por ter me desacorrentado em Poltergrat. Acho que fico lhe devendo essa.
Grump sorriu e de as costas para Dan. Deu um passo a frente e depois virou-se novamente para ele com o punho erguido. Grump deu um soco no nariz de Dan e depois foi embora com Gregor e Steven.
__É, agora estamos quites! __exclamou Grump indo embora.
__Dan, você está bem? __perguntou Louise pondo a cabeça para fora da carruagem.
__Estou!
E dizendo isto, Dan saiu pelo campo de pouso seguido por Zig e Cliffe.
A carruagem de Tom entrou em movimento e aos poucos, deixou o chão e sobrevoou sobre a muralha da Fonte Phoenix. Segundos depois, Dan, Zig e Cliffe surgiram no céu, montados sobre os grifos.
Entrementes, o Cruzeiro Fantasma despencava no penhasco e caía sobre o mar, com os gritos eufóricos dos alunos ecoando por toda Fonte Phoenix.
Parada ao portão sul, Lisa observava seus amigos partirem. Ela sabia que aquele momento não significava exatamente uma partida. Eles se reencontrariam em breve e provavelmente contariam aos risos como foram suas férias.
Lisa os viu partir sabendo que tinha verdadeiros amigos, pois, independente do que pudesse acontecer a ela no ano seguinte, eles estariam ao seu lado.
Naquele momento, o futuro pareceu incerto para Lisa. Afinal, o que aconteceria a ela dali para frente? Malagat estava de volta e tentaria voltar ao poder. Um ano, fora o que dissera antes de partir. Será que ele retornaria nesse período, ou será que encontraria um meio para voltar antes do prometido? E a Semente do Mal, será que o misterioso amigo de Slater conseguiria quebrar a proteção que a impedia de retira-la do coração de Lisa? E Keerva, renasceria em seu coração e tomaria seu corpo?
Lisa não sabia responder. Seu destino parecia cruel e terrivelmente bolado para que ela sofresse, talvez, mais do que sofrera neste ano que se passava.
__Sua carruagem está pronta, alteza! Podemos partir quando quiser.
Lisa estava tão mergulhada em seus pensamentos que nem ouvira Premagier se aproximar.
__Obrigado Premagier! Já estou indo!
Premagier recolheu-se e Lisa ficou observando o mar, que adquirira uma tonalidade avermelhada devido ao pôr-do-sol.
Ao longe, o Cruzeiro Fantasma parecia um pequeno ponto negro ofuscado pela luz do sol que também parecia se despedir de Lisa. De súbito, o navio desapareceu em sua habitual névoa fantasmagórica e Lisa pode ver três pequenos pontos pretos tomando rumos diferentes. A carruagem de Louise e Tom mergulhou na luz do sol poente e desapareceu na direita. Na esquerda, Garrinha e Peninha davam um mergulho sobre o mar avermelhado e desapareciam de vista com Dan, Zig e Cliffe sobre eles. Ao centro, o Cruzeiro Fantasma tomava seu rumo.
Assim como seus amigos partiram, Lisa achou que também era a hora de partir para o reino de sua mãe. E encaminhando-se na direção das carruagens de gelo, Lisa começava a traçar seu novo destino. Um destino que lhe reservava novas emoções e uma grande aventura. Talvez, a maior de todas!
Naicon Martins
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Senhor Peterson era um homem rústico, de poucas palavras e de olhar distante. Desde seus vinte anos, quando o vigor da juventude ainda corria em suas veias, orgulhava-se de ser um bom pescador. Não havia uma só pescaria em que não voltasse para casa sem um peixe fisgado pelo seu anzol. Muitos diziam que era sorte, outros, que ele apenas estava no lugar certo e na hora certa. Mal sabiam que Sr. Peterson não era apenas um velho sortudo, mas, sim, um velho conhecedor das águas britânicas.
Mesmo com a idade avançada, o bom homem ainda mantinha seu velho costume de pescar ao entardecer, num pequeno riacho ao leste de Winsville. Não havia nada no mundo que o deixasse mais feliz. Porém, com o tempo, sua saúde foi piorando e ele precisou se mudar para a cidade. Horrorizado com a ideia de não poder mais pescar ao final da tarde, como de costume, o velho pescador entrou em estado de depressão, tornando-se um homem fechado, rabugento e insuportável. A vida não fazia mais sentido sem sua velha vara de pescar, sem seus preciosos momentos de diversão...
Mas um dia, algo o alegrou. Ao passar por um bar no centro de Winsville, Sr. Peterson ouviu um grupo de homens falando sobre um tal Lago Grumbecker que ficava a dois quilômetros da cidade, onde ninguém nunca reclamara da fartura de peixes. Imediatamente, o velho pescador voltou para casa sem dar atenção ao que um homem falou por último. Não importava o que eles disseram, ele tinha que conhecer o lago, matar sua sede insaciável de pescar e ser o velho Sr. Peterson de antes.
Voltando para casa, arrumou suas tralhas de pesca e pegou seu velho carro, que estava à beira de bater o motor, e partiu para o Lago Grumbecker ao entardecer. Aquela foi a tarde mais feliz de sua vida. Suas tarrafas e anzóis não deram conta da grande quantidade de peixes que o lago possuía. Até parecia que ninguém pescava ali há séculos!
Animado com a nova distração, o pescador voltou ao lago nos dias seguintes. Aquilo já estava se transformando em um vício. Não havia mais um dia em que o velho não retornasse com seu humilde barco às águas escuras de Grumbecker.
Nas semanas seguintes, quando a vizinhança descobriu que Sr. Peterson pescava no lago, boatos rapidamente se espalharam pela cidade e o homem, aos olhos dos demais, pareceu um louco, pois ninguém se atrevia a tocar naquelas águas escuras. Diziam que o tal lago era amaldiçoado e que luzes estranhas caíam do céu sobre ele. Mas o velho não deu importância e retornou para mais uma pescaria.
Nos dias que se seguiram, os antigos pescadores passaram a barrar o velho Peterson na cidade para adverti-lo sobre as coisas sobrenaturais que lá ocorriam. Chegaram a dizer que carruagens surgiam a noite, puxadas por cavalos que galopavam sobre Grumbecker como passe de mágica. Mais uma vez, o velho pescador não deu atenção.
Ora, era absurdamente ridículo! Não existiam luzes sobre o lago e muito menos magia. Aquilo tudo era pura tolice. Era apenas uma forma de impedi-lo de pegar todos os peixes do lago.
E assim o bom homem continuou a pescar no lago sem ver nenhuma das coisas sobrenaturais que os outros diziam ter visto. Porém, um dia, algo aconteceu.
A lua repousava entre as nuvens, majestosa e imponente como jamais senhor Peterson vira antes. Era certo que aquela noite não era como outra qualquer, pois até mesmo o vento, que outrora era hostil, parecia repousar sobre as águas cristalinas do...
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