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Usando nada além de um camisolão masculino Fleur Monley acordou para se encontrar na cama do libertino mais charmoso e imprudente da Inglaterra. Mas foi uma bala perdida, não paixão, que a colocou à mercê de um homem tão infame e bonito quanto era famoso por ser talentoso nas artes do amor. Acreditando ser imune a qualquer sedução, Fleur achou que estava perfeitamente segura para fazer a ele uma proposta que nenhuma mulher comum ousaria fazer: metade de sua fortuna pela liberdade que ganharia por ser a esposa dele... apenas no nome.
Desesperadamente precisando de fundos, Dante Duclairc poderia fazer pior do que o "casamento de nome" proposto por essa beleza idealista, ingênua demais para saber o perigo em que estava. Mas a coisa mais precipitada que ele já fez foi dizer a si mesmo que seria capaz de resistir ao convite para pecar que essa sensual inocente despertaria a cada passo... ou que ele seria capaz de protegê-la tanto dos implacáveis inimigos que buscavam a ruína dela... quanto do seu próprio perigoso desejo.
Capítulo 1
A ruína total provoca a busca da alma, mesmo no menos reflexivo dos homens.
Dante Duclairc estava contemplando essa descoberta indesejável quando ouviu o cavalo lá fora. Abriu a porta do chalé, para encontrar um médico muito irritado, em pé, sob o luar, na soleira.
Morgan Wheeler olhou severamente por cima dos óculos. — É melhor que seja muito grave, Duclairc. O administrador do seu irmão me tirou para fora da cama.
— É muito sério, e lamento que o seu sono tenha sido interrompido.
— Ninguém disse que você tinha vindo para Laclere Park. Por que você não me chamou?
— Só o administrador sabe que estou aqui, então você tem que jurar manter esta visita em segredo. Eu deveria ter mandado vir um cirurgião, mas você é o único médico na região que podia confiar em ser discreto.
Morgan suspirou profundamente e entrou na humilde morada.
— Por que você me mandou vir?
— Há uma mulher lá em cima que precisa da sua atenção.
Morgan pousou a mala e tirou o sobretudo. — Ela está sozinha aqui?
— Exceto por mim.
— Porque é que essa mulher precisa de mim?
— A senhora foi baleada.
Morgan estava a arregaçar uma manga. Ele parou, braço estendido e os dedos esticados.
— Você tem uma visita de uma senhora que foi baleada?
— De raspão, na verdade.
— Onde ela foi baleada? Desculpe-me, de raspão?
— Nesta casa. Acidentalmente. Nós estávamos jogando um pequeno jogo e...
— Eu quis dizer, onde está a ferida?
— Na região inferior traseira do seu tronco.
— Desculpe-me? Você está dizendo que atirou na nádega da sua amante?
— Sim. Venha para cima.
— Um momento, meu bom amigo. A minha vida monótona diverte-se com a sua emoção há anos, mas isto é demais. Você, secretamente, trouxe uma mulher, uma senhora, para um chalé no campo, na propriedade do seu irmão visconde, onde se envolveu em algum ritual depravado, que resultou em ela ser baleada nas nádegas. Tenho os fatos essenciais corretos?
— O seu braço está machucado e ela também bateu com a cabeça.
— Não gosto de você ficando duro assim, Duclairc. Você me surpreende e me decepciona.
— Garanto-vos que isto foi um acidente. Um pequeno jogo que deu errado.
— Como? O quê? A minha imaginação me falha. Tento imaginar isso, mas... se eu vou me rebaixar fazendo o trabalho de um cirurgião, o preço das minhas capacidades e silêncio é uma explicação.
— Pelo que parece, é precisamente isso que eu posso pagar. Por favor, venha agora. O administrador tinha algum láudano e demo-lo, então ela ainda está apagada e seria melhor se você fizesse isto rapidamente.
— Detalhes, Duclairc. Vou esperar mais detalhes.
Conforme Dante conduzia Wheeler pelas escadas acima, ele considerou que os detalhes eram exatamente o que seu amigo nunca iria obter. Ninguém obteria. A mulher que aguardava pela atenção de Wheeler tinha vindo para esta casa através de circunstâncias estranhas. Dante sabia em seu íntimo, que falar delas para alguém, só lhe iria causar problemas inoportunos.
O que ela estava fazendo lá fora, vestida como um homem e brandindo uma pistola, numa noite em que a zona rural estava cheia de uma multidão queimando máquinas agrícolas e um pelotão em perseguição? Dante tinha levado a sua própria arma para a colina mais alta de Laclere Park, num esforço nostálgico para proteger a propriedade, em sua última noite na Inglaterra. Quando ele tinha sido surpreendido por um invasor, ele tinha disparado, apenas para descobrir, para seu horror, que ele não tinha atirado num radical, mas numa mulher.
E tal como aconteceu, não em qualquer mulher.
Dante fez uma pausa fora do quarto. — Se você, alguma vez revelar o que ocorreu aqui, ou que ela estava comigo, ela vai ser arruinada.
— Discrição é o segundo nome de um médico. Eu nunca o desiludi no passado, pois não?
Wheeler tornou-se todo em trabalho logo que eles passaram para o quarto. Ele caminhou até à cama, tomou o pulso da paciente, e tocou o seu rosto. Sempre muito gentil, ele virou a cabeça dela para ele.
Ele congelou.
— Oh Meu Deus.
— Exatamente.
— Oh. Meu. Deus.
— Agora você sabe por que a discrição é essencial.
— É Fleur Monley, Duclairc. Fleur Monley.
— Pois é.
Wheeler concentrou-se. Balançando a cabeça, ele começou a examinar a sua paciente.
— Fleur Monley. Mesmo eu, que tenha visto mulheres de elevada reputação desmaiar com o seu sorriso, estou completamente impressionado. Nunca ninguém conseguiu levar a Senhorita Monley ao altar, muito menos para a cama, muito menos jogar jogos que podem levar as mulheres a serem baleadas nas nádegas. O mais próximo, foi quando o seu irmão Laclere quase ficou noivo dela... — As implicações disso fez Wheeler arregalar os olhos novamente. — Ele provavelmente vai matá-lo se descobrir.
— Outra razão para a discrição.
— É claro, é claro. Prometi silêncio e sou obrigado por isso, mas vai ser um inferno honrar a minha palavra. Eu vou explodir. — Ele afastou as roupas da cama para revelar Fleur, recatadamente vestida, numa das camisas de dormir de Dante. — Encantador, Duclairc, mas para que se incomodar? Ela está drogada, eu sou médico e você é o seu amante.
Ele se incomodou, porque ele dificilmente poderia apresentá-la naqueles trapos de rapaz do campo, e porque não parecia digno deixa-la nua apesar da sua inconsciência e a história irreverente que ele estava dando a Wheeler. Não importa que razões um homem tivesse para tirar as suas roupas, mesmo um canalha não deixava as Fleur Monley do mundo nuas, para alguém ver.
Morgan tocou a sua perna nua. — Ela está molhada. Você banhou-a?
— Ela estava quente, e eu pensei que deveria. — Foi mais uma mentira deslavada. Após remover os trapos, ele tinha descoberto um corpo muito sujo e tinha lavado o pior de tudo.
— Claro. Da próxima vez não dê láudano se o paciente tem um ferimento na cabeça.
— Não foi muito, e dei há algum tempo atrás, quando ela começou a gemer e acordou. Estou preocupado que possa passar o efeito, então você deve se apressar.
Morgan não era para ser apressado. Ele tocou em todo o couro cabeludo. — Não parece muito grave. Caiu, não foi? Lá fora? Ela terá um grande alto. Ela vai ter que descansar tranquilamente por alguns dias.
— Certamente ela pode ser movida.
— É melhor não. Você terá que inventar uma desculpa se alguém estiver esperando o seu regresso. Ela deve ficar aqui pelo menos dois a três dias, na cama. Em repouso. Também dará tempo para este braço recuperar. Entorse feia. Eu apenas posso imaginar como isso aconteceu. Sem dúvida, alguma posição exótica para o coito que os rapazes do campo, como eu, nunca chegam a aprender. Hindu?
O sorriso de Wheeler convidava à explicação. Dante ignorou-o. Fleur Monley ia criar problemas. Ele não podia mantê-la aqui por vários dias, porque ele próprio não tinha a intenção de estar aqui. Em cerca de dez horas, ele planejava encontrar um barco de pesca na costa que o levaria para a França.
— Ajude-me a virá-la para que eu possa ver sobre este tiro. Gentilmente agora.
Juntos, eles viraram Fleur de barriga para baixo. Morgan puxou a camisa. Dante se virou para sair.
— Não, você fica. Ela só foi cortada, mas você estava certo, ela precisa ser costurada. Chegue aqui e segure-a. O láudano a fez dormir, mas ela não está inconsciente. Se ela acordar enquanto estou nisto, quero alguém me apoiando.
Dante realmente não queria ficar. Em seus trinta e dois anos ele tinha visto mais mulheres nuas do que ele poderia contar. Ele tinha aprendido, há muito tempo, a liberar ou a suprimir as suas reações sexuais à vontade, muito parecido como uma comporta controla a água. Ainda assim, ver Fleur como estava, deixava-o desconfortável.
Ela foi ferida e precisava de cuidados e ele mentiu sobre eles serem amantes só para protegê-la do pelotão, lá fora à procura de sangue. Tê-la nessa cama, nua da cintura para baixo e o seu rosto pressionado em seu travesseiro, pareceu algum tipo de profanação. Ao mesmo tempo, ele estava irritantemente consciente de que despi-la, lavá-la e ver o seu corpo, tinha levantado o nível da comporta mais do que ele gostaria.
Isso o surpreendeu, porque ele tinha começado a ficar bastante aborrecido com essas coisas. Além disso, a reputação dela e a sua condição faziam as reações sexuais tanto ridículas como desprezíveis.
Então, novamente, a própria presença dela aqui, indicava que o mundo podia ter interpretado de forma muito errada esse negócio da sua virtude imaculada. A mulher que Fleur Monley era suposto ser, nunca iria correr pelo campo com roupas de menino, numa noite em que a multidão radical estava por aí a cometer crimes.
O que diabos ela estava fazendo lá fora? Para além disso, de onde diabos ela tinha vindo? Pelo que ele sabia, ela estava visitando França. Ele se sentou ao lado dela na cama e cuidadosamente colocou as mãos em suas costas. Atrás dele Morgan preparou a agulha, salpicou algo na nádega de Fleur e começou a trabalhar.
Ela cerrou os dentes e segurou as lágrimas. Ela queria gritar. Se ela o fizesse, no entanto, esses homens saberiam que ela estava acordada. Isso seria humilhante demais para suportar, e possivelmente, muito perigoso.
Onde ela estava? A cama parecia limpa, mas ela podia sentir o cheiro a terra e humidade, e ela duvidava que tivesse conseguido chegar a Laclere Park. Aquele homem que atirou nela a deve ter entregue. Ela provavelmente estava na casa de um fazendeiro, sendo atendida, antes de transportá-la para prisão. Melhor isso do que Gregory, ela supôs. A menos que ele tenha descoberto sobre isso e os tenha subornado para recuperá-la. Nesse caso, ela estaria exatamente onde começou.
O homem que a segurava não tinha falado muito. Ela desejou que ele não olhasse para ela. Ela não teria que engolir tanto a dor se ele não estivesse olhando para ela. Ele estava, definitivamente, a fazer isso. Ela podia sentir a sua atenção sobre ela, apesar das suas breves respostas aos comentários do outro sobre cavalos e pugilistas.
Uma mão mexeu-se das suas costas para a sua cabeça. Ela mal segurou o grito de surpresa que saltou para a sua garganta. Dedos, gentilmente escovaram o seu cabelo para trás do travesseiro e levemente acariciaram a sua cabeça. Ela prendeu a respiração, rosto achatado para baixo, e rezou para que ele não tenha visto a sua mandíbula apertar ou ouvido a sua chocada ingestão de ar.
Essa mão acariciando-a a devia afastar. Significava um interesse perigoso e ela estava terrivelmente indefesa. Em vez disso, ela achou o leve toque, reconfortante e simpático e não de todo insinuador. Quem era esse homem que se preocupou em tranquilizar uma mulher inconsciente?
— Não me lembro de ela ser tão magra, — a voz perto da sua nádega meditou. Um espeto doloroso da agulha acompanhou o comentário. Ela provou sangue à medida que mordia. — Eu posso ver as suas costelas claramente. Normalmente as pessoas ganham peso no Continente, em vez de perdê-los. Eu tenho que dizer que mesmo assim ela tem um bom, hum, como você tão elegantemente colocou, região inferior traseira.
Ele falou como se a conhecesse! Se assim for, os riscos da noite provavelmente tinham atingido nada mais que perigo.
— Apenas costure, — o homem ao seu lado murmurou. — Não é suposto que os médicos estejam acima de repararem em tais coisas? Um pouco como os artistas?
—Eu sou um médico, um homem de cultura e conhecimento. Se você acha que os artistas também ficam imunes, você é duplamente tolo. Tudo igual, eu aceito a sua correção. Embora, vindo de você...
— Eu não gosto que as minhas amigas sejam comentadas por outros homens, é tudo.
As suas orelhas estavam meio sufocadas no travesseiro, mas a voz dele soava familiar. Por que ele estaria alegando que ela era sua amiga? Uma terrível possibilidade surgiu. Poderia ser este o homem que ela tinha ouvido falar com Gregory na noite passada?
— Considerando a rapidez com que você se cansa das suas amantes, sempre pensei que a sua reticência em falar delas um pouco pedante e mesquinha — disse o médico. — Embora nunca tenha sido as senhoras que me interessavam, mas as estratégias para as ganhar e amá-las. Você poderia evitar um monte de perguntas curiosas, escrevendo um tratado como sugeri anos atrás.
— Talvez eu faça isso. Terei bastante tempo na França, e poderá pagar o meu sustento por alguns anos.
O ritmo da agulha parou. – França? Meu bom homem, você não pode! Já chegou a isso?
— Lamentavelmente sim.
— Quão ruim?
— Muito ruim. Eles estão atrás de mim.
— Certamente que o seu irmão...
— Estive nesse inferno demasiadas vezes, e não vou voltar novamente. Uma vez instalado em França vou escrever e explicar para ele.
— Agora estou aflito. Você arruinou o meu humor completamente.
— Bem, termine aqui, desça e eu vou contar-lhe tudo, mas é uma história tão velha e banal que eu tenho a certeza que você já ouviu isso muitas vezes antes.
Mãos eficientes ligaram uma atadura na sua anca. Outras mais suaves, deslizaram a camisa para baixo e cuidadosamente aconchegaram as cobertas até aos ombros. Eles saíram. Ela exalou o esforço de manter a compostura e quietude. A sua nádega doía bastante agora, ainda mais do que quando ela tinha acordado pela primeira vez em choque, para a agulha de costura. Ainda assim, a dor, tanto existia como não, como algo flutuando numa parte da sua mente enquanto as outras partes sonhavam e dormiam. Ela não sabia quanto tempo flutuou em volta dos limites da consciência.
Perguntou-se se apenas o médico a tinha reconhecido ou se o outro homem também tinha. Ele falou de maneira culta o que dizia que ele se movia no tipo de círculos onde ela poderia tê-lo encontrado, em algum momento ao longo dos anos. Ela agarrou-se à esperança de que ele não era alguém que tivesse alguma coisa a ver com Gregory, e certamente não o homem que passou a última noite negociando por ela, como se ela fosse um animal de quatro patas.
A porta abaixo foi fechada com despedidas murmuradas. Passos de botas soaram nas escadas. Alguém entrou no quarto. Ela fechou os olhos, mas sentiu o calor da vela perto do seu rosto.
— Ele se foi. Vamos ver se podemos pô-la mais confortável agora, senhorita Monley.
Desta vez, ela ouviu a sua voz claramente. Sacudindo no seu braço bom, ela virou-se em choque. E olhou diretamente nos resplandecentes olhos castanhos do patife mais charmoso da Inglaterra.
Capítulo 2
As mulheres da sociedade Inglesa poderiam brigar e discutir o que quisessem, mas num ponto elas tinham sempre estado em total acordo. Dante Duclairc era um homem bonito. Essa era a palavra que elas usavam. Bonito. Os seus olhos luminosos, espesso e lustroso cabelo castanho, rosto perfeito e sorriso diabólico tinha hipnotizado qualquer mulher que ele escolhesse conquistar, desde que ele completou dezessete anos. Fleur sabia de três senhoras que tinham cometido adultério apenas uma vez em suas vidas. Com ele.
Os anos tinham adicionado alguma dureza ao seu rosto, mas eles não tinham embotado o efeito de pular o coração que a sua atenção provocava. Mesmo nela, e ele nem sequer estava a tentar.
A sua expressão lançava curiosidade e irônica diversão. Ele sorriu com quente familiaridade, instantaneamente criando uma ponte para o passado, para esse período há dez anos atrás, quando o seu irmão Vergil, o Visconde Laclere, a havia cortejado. E, no entanto, sob a sua calma e compostura refinada brilhava uma emocionante e perigosa energia. Com Dante sempre estava lá. Agora mesmo, assustava-a sem palavras.
De alguma forma, ela sabia sem perguntar que eles estavam sozinhos. Não havia uma serva neste chalé, o que significava que Dante, provavelmente, a tinha despido e posto na cama. O que ele tinha visto, enquanto o médico cuidava dela tinha sido o de menos.
— Você é extraordinariamente corajosa —, disse ele. — Wheeler nunca suspeitou que estava acordada. — O seu tom implicava que ele tinha sabido o exato momento em que ela tinha acordado. Ele tinha acariciado a sua cabeça ciente de que ela iria senti-lo fazer isso.
— Era a minha esperança evitar dar explicações a estranhos.
— Desde que eu dificilmente sou um, você não se deve importar de dar uma para mim. Mas primeiro, vamos pô-la confortável.
A sua reação aos Dante Duclairc do mundo, sempre foi fugir, mas ela não podia fazer isso agora. Ela experimentou a sua força esguia pairando sobre a sua cama, sustentando travesseiros e organizando-os para o seu conforto. Quando ele começou a afrouxar para o lado dela, ela parou as suas mãos com um gesto frio e arranjou isso por conta própria.
O que a deixou olhando para cima, para ele, e ele olhando para baixo, para ela. Ele tinha tirado o casaco e colarinho, e a sua camisa se abriu acima do seu colete. Como uma mulher solteira, ela nunca tinha visto um homem tão relaxado com as suas roupas. A sua vulnerabilidade atingiu-a com força. Ela disse uma rápida oração de agradecimento, de que de todos os libertinos na Inglaterra, ela teve a sorte de cair nas mãos deste. Afinal de contas, eles tinham ficado perto de serem familiares. Isso devia contar para alguma coisa. Ela esperava.
Ele cruzou os braços e olhou para ela. Para um homem com uma reputação de ser bem-humorada, o seu escrutínio pareceu mais crítico do que seria de esperar. Ela aconchegou os lençóis em volta do pescoço.
— Esta é uma ocorrência extremamente única, senhorita Monley. Encontrar você, de todas as mulheres, na minha cama.
Ele não ia fazer isso fácil.
Ela relaxou contra um travesseiro e estremeceu quando a sua nádega picou com a pressão.
— Eu acredito que você não atingiu o seu alvo.
— Claro que eu atingi. Esteja feliz por eu não ter apontado para a sua cabeça, que é onde você quase me atingiu.
— Só porque você guinou para a direita. Eu não apontei para qualquer lugar perto de você e só estava tentando assustá-lo.
—Porquê? Eu espero que você explique o que você estava fazendo com uma arma, com essas roupas, correndo em volta deste campo.
— Eu preferia não explicar.
— Então você não me deixa escolha a não ser assumir que você é parte da multidão incendiadora de máquinas e campos. O seu líder? Espero que sim. Há uma recompensa considerável sobre a cabeça dele, e por acaso, eu poderia usar o dinheiro.
Sim, provavelmente faria, se ele estivesse fugindo para França. Gregory provavelmente pagaria generosamente para recuperá-la também. Melhor não o deixar saber sobre isso.
— O seu irmão está em Laclere Park? — Ela perguntou.
— Ele e Bianca foram passar alguns meses em Nápoles, onde ela está atuando. A minha irmã Penélope viajou com eles. Dado que Charlotte e eu preferimos Londres, há apenas servos na casa aqui.
O desespero apagou a pequena chama de esperança que ela estava cuidadosamente alimentando por dois meses.
A forma alta de Dante elevou-se sobre a cama. — É por isso que você está aqui? Você veio à procura de Vergil? — Um dedo deslizou suavemente sob o queixo. Ele inclinou a sua cabeça até que ele pudesse ver o seu rosto. — Você está com algum problema Fleur?
Ela não pôde responder. Essa última esperança tinha sido muito frágil, mas isso a sustentou. Com a sua destruição, toda a sua força simplesmente desapareceu. Tudo estava perdido agora. A sua liberdade, o Grande Projeto, o sonho de que a sua vida significasse algo. Se Gregory entrasse no quarto agora, ela iria concordar com tudo o que ele quisesse. Dante olhou para ela. Ele possuía os olhos claros mais bonitos, e a preocupação neles a surpreendeu. Ela nunca o tinha visto sério antes. Ele era o tipo de homem que se presumia que não se preocupava com muita coisa.
Ele a tinha chamado de Fleur, o que ele realmente não devia ter feito, e estava a tocá-la o que ele definitivamente não devia fazer, mas ela estava em sua cama, vestindo a sua camisa. Não havia nada de insinuante sobre o seu comportamento, na verdade, e a quebra das formalidades confortou-a. Ela ficou aliviada ao ser capaz de responder na mesma moeda.
— Estou muito cansada, Dante. A minha cabeça ainda está nadando. Talvez pela manhã eu esteja em condições de lhe explicar.
A sua mão caiu. — Claro, Fleur. As minhas desculpas por pressioná-la.
Ela adormeceu quase imediatamente. O láudano ainda devia estar deixando-a sonolenta. Dante caminhou ao redor da cama para apanhar a vela. Ele segurou a luz mais perto do seu rosto. Quando jovem, Fleur tinha sido o epítome da beleza elegante com o seu cabelo escuro, pele de marfim e boca vermelha curvada. Ela possuía uma graça esbelta e uma conduta recatada também, juntamente com uma fortuna significativa. Tudo isso fez dela uma das jovens mais valorizadas no mercado do matrimônio. Quando parecia que o seu irmão perfeito Vergil ia ganhar ela, parecia evidente que o mundo de fato funcionava como um relógio bem elaborado.
Então Vergil se tinha casado com uma cantora de ópera americana e Fleur tinha desaparecido para o Continente por dois anos. Após a sua volta, ela era uma mulher mudada. Ela retirou-se da sociedade e evitou os bailes. Ela ficou indiferente à sua beleza e vestiu-se fora de moda. Trabalho de caridade, nem prazeres e diversões, absorveu o seu interesse e rendimentos. O murmúrio que ela tinha perdido a sua aparência era falso. Dante pensou que ela ainda era extraordinariamente bela.
Ela estava em apuros e assustada. Assustada o suficiente para atravessar o campo durante a noite, para buscar refúgio com o seu irmão. Tolo dele pensar que ela iria confiar nele em vez do irmão. Ainda bem que ela não tinha. Ela seria problemas suficientes sem enredá-lo em qualquer desventura que ela estivesse envolvida.
Ele deixou a porta aberta e desceu para a sala de estar para contemplar conseguir para ela proteção, depois que ele saísse amanhã. Enquanto fazia isso limpou ambas as suas pistolas. Tão logo ele terminou, ouviu os sons de cavalos e cães que diziam que o pelotão se aproximava.
Enfiando as pistolas num armário, ele caminhou até à porta e esperou no seu limiar.
Dez cavaleiros trovejaram na pequena clareira e frearam os seus animais. Pearson, o administrador, voou da sua montaria e correu para Dante.
— Tive que trazê-los. Eles pararam na casa grande e exigiram entrada. Disse que os cães tinham um cheiro, de um deles, na grande colina vindo para cá. — Ele baixou a voz e inclinou a cabeça perto. — Eles exigiram verificar cada maldito chalé, especialmente os vazios. Eu insisti em vir para manter um olho sobre eles e para tranquilizar os inquilinos.
— Bom homem. Tente ficar quando eles saírem. Preciso da sua ajuda.
Sir Thomas Jameson, o juiz de paz do condado, elevou o seu considerável volume do seu cavalo e caminhou para a frente. — Quem está aí? — o seu rosto corpulento se projetava em direção à sombra da porta, enquanto ele tentava ver à luz da lua.
— É o Sr. Duclairc, irmão do visconde, — disse Pearson.
— Duclairc? Não sabia que você tinha vindo. O que você está fazendo aqui?
— Eu estou visitando a sede da família. O que você está fazendo aqui?
— Maldita pergunta para se fazer. Alguém tem de proteger a propriedade e manter a lei, enquanto os, como você, perdem o tempo em antros de jogos e bordéis. Agora saia da frente. Estamos à procura de um deles, visto a vir para cá.
— Eu estive aqui a noite toda, então eu posso assegurar-lhe, que um dos que quer que seja que você busca, não está aqui.
— Ainda assim, tenho que verificar. No mês passado, os homens do condado decidiram que era como iríamos fazê-lo, sem exceções.
— Devo insistir numa.
— Eu disse saia da frente, ou podemos ficar desconfiados sobre o porquê de você se recusar.
— Meu bom homem, a política aborrece-me e todos sabem disso. Eu não saberia a diferença entre um radical e um rabanete.
Outro homem deixou os cavalos e se juntou a Jameson. — Faça-lhe a vontade Duclairc, de modo a que todos nós possamos fazer o nosso dever e ir para casa, para a cama.
Depois de ouvir a voz sarcástica, Dante imediatamente perdeu o senso de humor. — Você está muito longe de Londres, Siddel.
— Assim como você. Uma estranha coincidência encontrar você aqui, logo após nosso último encontro.
O sangue de Dante fluiu mais quente à referência. O seu último encontro tinha sido numa mesa de cartas, duas semanas antes e, ele tinha quase certeza que Siddel tinha trapaceado. — O Laclere Park é propriedade de Duclairc, Siddel. Você é a pessoa sem laços com Sussex.
— Eu estava no condado a visitar um amigo e decidi me juntar à diversão. Um deleite raro, caçando o homem, em vez da raposa.
Correntes geladas de má vontade fluiu entre eles. Jameson não pareceu notar. — Não posso esperar a noite toda, Duclairc. Saia da frente.
Não havia nada a fazer, a não ser tentar e conter os danos. Ele entrou para o chalé.
— Certamente vocês os dois serão suficientes. Eu não estou preparado para receber uma assembleia do condado — Jameson assentiu. Ele e Siddel entraram.
A busca não levou muito tempo, uma vez que o chalé tinha apenas uma sala de estar e uma cozinha em baixo. Jameson realizou um ridículo cutucar nos baús.
Dante descansava em sua cadeira, mas manteve um olho na forma espessa e escura do cabelo de Siddel. Ele tinha sido um esportista em sua juventude, um verdadeiro corintiano, mas os excessos e a bebida tinham cobrado o seu pedágio e transformaram-no balofo.
Era difícil de acreditar que o homem tinha uma cabeça astuta para os investimentos, como era noticiado, e contava com grandes financiadores e ricos aristocratas entre os seus associados. O estilo em que ele vivia confirmou, no entanto, esses rumores. O seu cinismo despojado provou, na mente de Dante, que a crença de que a virtude e sucesso caminhavam juntos, era um absurdo. Jameson arrastou-se para as escadas.
Dante desejou poder poupar Fleur disto, mas ele não via saída. — Senhores, devo avisá-los de que há alguém lá em cima dormindo. Não ele quem procurais, mas uma senhora.
Siddel sorriu. — Eu tiro o meu chapéu para você, Duclairc. Mesmo quando os oficiais de justiça farejam a sua trilha, você diverte-se para o seu prazer. Isso é verdadeiro estilo.
— Obrigado.
— Mesmo assim, enquanto todos nós somos cavalheiros a sua palavra devia ser suficiente, provavelmente seria melhor se nós verificássemos a sua descrição da pessoa em cima. — Siddel se dirigiu para as escadas com antecipação indecorosa.
Jameson tinha virado para descer e corou furiosamente quando Siddel bloqueou o seu caminho. — Sim, claro. Precisa ser feito. Embora muito embaraçoso, diabos — ele murmurou enquanto Siddel enxotava-o.
— Ela está dormindo — Dante disse depois deles. — Eu confio que vocês não vão fazer nada para perturbá-la. Ela está muito cansada.
Siddel riu. Jameson tropeçou. Dante ouviu os seus passos nas tábuas acima de sua cabeça. Ouviu-os andar até a cama. Ele ouviu Jameson exclamar em estado de choque.
Ambos os homens bateram em retirada para a sala de estar.
Jameson ficou boquiaberto. — Isto é... isto é . . .
— Eu tiro o meu chapéu de novo — Siddel disse secamente. — O que a trouxe aqui?
— O meu encanto, eu presumo.
— Eu quis dizer o transporte. Não há uma carruagem lá fora.
— Eu aluguei uma e trouxe-a quando soube que ela estava de volta ao país. A minha última indulgência.
As pálpebras de Siddel abaixaram. — Definitivamente isso.
A ameaça era inconfundível. Dante reconheceu a tensão escorrendo de Siddel, porque ele já o tinha provocado muitas vezes antes. O homem torcia com fúria reprimida, assim como um marido que tinha sido traído.
Jameson estava tão perturbado que se poderia ter pensado que ele tinha sido pego com uma santa em sua cama. — Muito bom, muito bom. Terminado aqui. Tudo terminado. Vamos embora. A alma da discrição, é o que somos, eh, Siddel? Os nossos lábios estão selados. Boa noite para você, e dê ao visconde os meus cumprimentos. . .
As suas palavras divagavam para fora da porta. Siddel não seguiu imediatamente. Voltou-se para Dante no limiar, delineado no luar.
— Você vai se arrepender de tocá-la, — ele rosnou.
Esta ameaça mais flagrante despertou a irritação de Dante. — Eu não sabia que você tinha uma afeição por ela, Siddel. Se eu tivesse, mas... Bem, na verdade não teria feito qualquer diferença. Você vai garantir o silêncio de Jameson, eu creio?
Siddel murmurou uma maldição e balançou fora da casa. Cavalos começaram a salpicar na alameda. Pearson entrou calmamente pela porta do jardim, à medida que os sons retrocediam.
— Onde está a minha irmã Charlotte? — Perguntou Dante.
— Ela está de visita a Brighton com os St. John.
— Primeiro, vá à casa e procure algumas roupas de mulheres. Veja o que Charl ou Penélope deixaram lá. Então eu preciso que você vá imediatamente até Brighton e diga a Charlotte que eu preciso dela rapidamente. Consiga que St. John venha também. Diga-lhe que é importante.
O administrador subiu para o seu cavalo. Dante olhou para o quarto onde Fleur dormia.
Se ele tivesse algum sentido, ele próprio pegaria no cavalo de Pearson e iria. Para a costa. A desgraça que o esperava se ele não fosse, seria pior do que qualquer coisa que tenha acontecido em sua família. No entanto, ele não podia ir até que entregasse Fleur a alguém que confiasse para protegê-la. Ela estava com problemas, disso ele estava certo. De manhã, ele iria fazê-la contar sobre isso. Dar-lhe-ia algo para pensar enquanto ele definhava na prisão
Fleur abriu os olhos para as paredes brancas do chalé e para o sol que fluía através das cortinas simples. O desespero de ontem à noite tentou submergir novamente. Ela forçou-o para baixo. Na verdade, se olhasse para isto de uma certa maneira, a sua situação era bastante divertida. Ela tinha vindo à procura de ajuda do único homem em quem confiava, mas ele tinha ido vivendo a sua vida como devia ser vivida. Em vez do visconde, o modelo ideal, o máximo da autoridade, ela tinha encontrado o irmão, o libertino, o esbanjador. Ela precisava da proteção de um homem que poderia intimidar juízes e lordes. Em vez disso, ela tinha levado um tiro na nádega por alguém que não poderia pagar o seu alfaiate.
Ela lutou para se sentar. O movimento, acentuadamente, a lembrou das suas enfermidades. Ela conseguiu se pôr de pé e mover-se lentamente para cuidar dos assuntos necessários. Ela estava pensando em como voltar para a cama quando Dante apareceu à porta.
— Você deveria ter me chamado.
— Eu consigo fazer isto. Por favor vá embora.
Braços fortes abraçaram-na sob os ombros e joelhos. Ele balançou, levantou e abaixou. Um lençol baixou para cobri-la.
— Onde estão as minhas roupas?
— Você quer dizer os trapos que estava vestindo, enquanto homens armados tentavam caçá-la? Aquelas que me levaram a pensar que eu estava disparando contra um homem? Eu queimei-as.
— O que é suposto eu vestir?
— Se você começou a gostar de calças, você pode vestir um par das minhas. Ou você pode usar o vestido que o administrador secretamente retirou de Laclere House.
— Será que o administrador sabe por que você o queria?
— Estou certo que ambos estamos contentes que ele sabe que não é para mim.
Pânico agitado bateu em seu peito. — Ele me viu?
— Ele sabe que você está aqui. Várias pessoas sabem, eu lamento. — Ele puxou a cadeira e sentou-se, apoiando a sua bota na beira da cama.
— Tivemos visitantes na noite passada. Jameson, o juiz de paz, e os seus homens. Eles estavam procurando na propriedade inteira. Eu não poderia manter sua presença em segredo. Eu assumi que você não queria que eles soubessem exatamente como você chegou aqui, então eu deixei-os pensar que você era minha convidada.
— Sua convidada? Isso é dizê-lo muito levemente. Certamente eles não acreditaram em você.
— Bem, Fleur, eles não queriam, mas a prova foi bastante contundente. O choque deles quase trouxe este teto a baixo quando a encontraram nessa cama.
— Você está dizendo que eles me viram? Nesta cama? Homens que eu não conheço, testemunharam isto?
— Eu lamento dizer que eles viram.
— Como você pôde permitir uma coisa dessas?
— Uma pergunta melhor é como eu poderia ter parado. — Ele fixou-a com os seus olhos castanhos. — Será que eu errei, Fleur? Deveria ter dito a verdade em vez disso?
— Claro que não. — Ela disse muito rapidamente. — Apenas, a ideia de que as pessoas pensarão que nós.... Quem me viu?
— Apenas Sir Thomas Jameson e Hugh Siddel.
— Siddel! Ele sabe? Oh, querido Senhor. — Isso prometia ser muito humilhante. A sua mente começou a encher com as potenciais complicações que a descoberta do Sr. Siddel poderia criar.
— Perdoe a minha impertinência, mas você tem alguma relação com ele? Ele agiu como se o nosso caso amoroso, o insultasse diretamente.
— Quando eu fiz a minha apresentação, quando jovem, Siddel me cortejou brevemente, mas isso foi há anos.
Ele não pareceu notar que ela não tinha respondido à sua pergunta. — Os meus instintos sobre isto estão bem afinados pela experiência, Fleur. Ele estava numa fúria com a evidência de que nós éramos amantes. Eu meio que esperava que ele me desafiasse. No entanto, um duelo é o menor dos problemas que o homem pode me causar. — De repente a sua atenção focou-se em seu rosto. — É por isso que você precisa explicar as coisas agora. Encontro-me envolvido em uma situação que não é da minha responsabilidade ou compreensão. Devo insistir em saber por que, na noite passada, você agiu como se estivesse correndo pela sua vida.
Ele tinha-se sentado confortavelmente na cadeira. Um homem contido, calmo e suave. Um homem bonito, à vontade com o seu corpo e presença, confiante da sua impressão física. Um homem determinado, cujos olhos claros, a observava com paciência. Ele estava preparado para esperar por ela. Tome o seu tempo, dizia a sua postura. Temos o dia todo, se você quiser fazê-lo dessa maneira.
— Eu gostaria que você trouxesse o vestido de que falou, Dante. Vou vesti-lo e saio.
— Você tem que descansar, e eu não podia permitir que fosse embora sozinha, mesmo que estivesse bem.
— Eu irei para a casa e pedirei ajuda. Vai ser melhor assim.
— Não. — Ele cruzou os braços sobre o peito.
A tentação de lhe contar e fingir que havia alguma esperança de que ele saberia o que fazer, quase a derrotou. Ele olhou para ela. Demasiado e durante muito tempo. Tornou-se num exame interessante. Ela começou a ficar desconfortável de uma forma estranhamente emocionante e vergonhosamente consciente, do algo assustador, que brilhou em torno dele como uma força sutil.
— Eu acho que vamos passar o tempo com um jogo — disse ele.
— Que tipo de jogo?
— Você não tem que parecer tão desconfiada. Não é desse tipo. Apesar de ter você na minha cama, mas numa condição que me impede de tentar romper as suas defesas, é suficiente para me fazer chorar.
— Eu duvido que você vá chorar quando você está claramente rindo. De mim. Agora, que tipo de jogo?
— As regras são simples. Eu faço uma pergunta e você responde honestamente. Depois faço outra e você responde. E assim por diante até que eu acabe as perguntas.
— Não parece um jogo nada divertido. Pelo menos eu acho que nós devemos revezar. Você faz uma pergunta, depois faço eu. E assim por diante.
— Soa quase demasiado desportivo. Eu acho que deveria ter permissão para pressionar a minha vantagem de alguma maneira, uma vez que você está indisposta e não pode ser seduzida.
— Pare de me provocar como um conquistador desajeitado. Todo mundo sabe que você é muito mais lisonjeiro quando está realmente interessado numa mulher.
Isso apanhou-o desprevenido. — Será que todo mundo sabe, na verdade?
— Sim. Todos — disse ela, contente por ter inclinado o equilíbrio deste jogo, fosse ele qual fosse.
— Você está dizendo, que algumas das minhas amantes, têm sido indiscretas?
— Você tem sido comentado em salas de descanso durante anos. Eu ouvi tudo sobre você quando eu era uma jovenzinha. É uma maravilha que você continue a ser bem sucedido, com os potenciais todas as estratégias de sedução tão bem documentadas por testemunho pessoal.
— Acho isso desconcertante. Eu nunca comentei o que ocorreu entre mim e qualquer mulher.
— Como um cavalheiro, você está impedido de fazer. As mulheres não são tão contritas.
— Que malandrice da sua parte ouvir tais coisas. — Ele sorriu diabolicamente, e ela percebeu que o seu desânimo tinha sido um ardil. Ele a tinha levado, deliberadamente, para uma conversa muito inapropriada.
E, ao que parecia, não ia deixá-la sair.
— Eu acho que não poderia seduzi-la agora, não importa a quão querida você parece na minha camisa de dormir, Fleur. Eu estava à espera que você fosse pura e ignorante. Em vez disso, você estaria verificando itens de uma lista enquanto eu progredia.
Ela engoliu em seco. Esta conversa tinha ficado muito pessoal, de repente. A cabeça dele inclinou. As suas pálpebras baixaram. Ele olhou para ela com calor de homem. Aquele algo brilhou. Direto para ela.
— Eu posso ver isso agora. Eu estaria acariciando a sua perna nua e você iria me lembrar que eu perdi o ponto sensível atrás do joelho, que eu descobri numa noite com uma certa duquesa.
Ele tinha definitivamente ultrapassado a linha com essa. Se ela pudesse encontrar a sua voz ela lhe daria uma boa bronca.
— Ou eu estaria beijando as suas costas e você me instruiria para não esquecer o truque que envolve a cavidade na base da sua espinha, como relatado pela esposa de um proeminente deputado.
Isto tornou-se ultrajante, mas as suas descrições chocantes de brincadeiras de amor, lançaram um feitiço. Ela não conseguia tirar os olhos de cima dele. O seu pulso batia tão alto em seus ouvidos, que ela temia que ele pudesse ouvir.
Ele inclinou-se para a frente na cadeira até que o seu rosto ficou perto do dela.
— Talvez, se o meu desempenho não correspondesse às expectativas, você exigiria que eu te mostrasse como algumas partes do corpo de uma mulher podem ser ainda mais sensíveis, depois de fazer amor do que antes, como uma indiscreta baronesa me confidenciou quando eu mostrei a ela.
— Você é um velhaco depravado.
— E você está corada e pronta e eu nem sequer toquei em você.
Ele tomou a mão dela no calor da sua. Ela ficou boquiaberta quando ele a levantou até à boca e beijou-lhe os dedos. O seu corpo deu um grito físico que a assustou.
Ela retirou a mão. — Como você se atreve.
Ele relaxou na cadeira, de olhos brilhantes com escura diversão. — Uma pequena ousadia para lembrá-la de que não sou um tolo. Você está segura comigo, mas só porque eu escolhi fazê-lo assim. Não me incite, porque se me desafiar, a escolha de armas é minha.
O seu coração, o seu sangue, a sua própria respiração precisavam desesperadamente de se acalmarem. Ela se esforçou para impedi-lo de ver a horrível luta interna, que o seu toque tinha provocado.
Uma euforia emocionante caiu de cabeça num doentio medo paralisante. Ela olhou para a mão que ele tinha beijado e sentiu novamente o calor da sua respiração. As suas reações conflituosas, deixaram-na enjoada. Isto nunca tinha acontecido antes. O medo nunca tinha permitido. Não quando ela era mais jovem, e certamente não desde que ela mesma se tinha colocado na prateleira.
— Eu a assustei bastante, não foi? — Ele estendeu a mão para o rosto dela, mas conteve-se. — Eu não deveria ter feito isso. A sua virtude está realmente muito segura comigo. No entanto, se eu tiver que mantê-la segura de outras maneiras, eu preciso saber do que se trata.
Ele merecia uma explicação. Ela o tinha envolvido, agora que outros a tinham visto aqui. No entanto, ela não tinha tido tempo para inventar uma boa mentira. Teria de lhe dar a verdade. Ou pelo menos parte dela. Ela simplesmente teria que contornar todas as referências ao Grande Projeto.
— Em outubro passado saí da Inglaterra para visitar alguns amigos na França. Eu fiquei depois do ano novo. Voltei há dois meses, em fevereiro.
— Fevereiro? Nunca ninguém mencionou a sua volta ou a viu na cidade.
— Isso porque o meu padrasto, Gregory Farthingstone, me encontrou na doca em Dover. Eu fiquei aprisionada por ele desde então.
Capítulo 3
? Eu tinha escrito que planejava viajar para casa no Dragão do Mar em fevereiro. Gregory estava esperando em Dover. Fiquei surpresa, mas feliz em vê-lo. Pode-se sempre precisar de ajuda após uma longa viagem — explicou Fleur.
— Então ele aprisionou você? — Dante tentou afastar a incredulidade de seu tom. A acusação era bizarra o suficiente, para que alguém se perguntar se a queda afetou o seu cérebro.
Gregory Farthingstone era um homem conhecido pelo bom senso e vida moderada, e um administrador do Banco de Inglaterra. Seria mais fácil acreditar que Fleur tinha aprisionado Farthingstone, do que o contrário.
Fleur tinha estado a mexer com o lençol, colocando-o em volta do pescoço, como se sua provocação anterior a tivesse deixado nua. Agora ela se tinha esquecido disso, o ressentimento acendeu nos seus olhos.
— Ele alegou que estava olhando por mim, me protegendo e garantindo que eu tivesse a ajuda que precisava. Ele disse que, como um velho amigo da família da minha mãe, e, como seu segundo marido, ele estava apenas cumprindo a sua responsabilidade. No entanto, as suas intenções são muito menos benignas do que isso.
— E que intenções seriam essas?
— Ele está tentando alegar que eu sou irracional e incompetente.
— Por que ele acha isso?
— Porque eu tenho desperdiçado a minha fortuna. Isso é como ele vê as minhas contribuições para as instituições de caridade.
A generosidade de Fleur para escolas, hospitais, e causas de reforma eram bem conhecidas. — Você arriscou seu próprio futuro com a sua generosidade?
— Eu não tenho dado tudo, mas o suficiente para que Gregory pense que é irresponsável. No entanto, o suficiente permanece para eu viver muito confortavelmente. Eu sou maior de idade, e uma mulher independente. Ele não é o meu guardião e não tem autoridade para interferir na minha vida. Ele diz que é a coisa mais próxima à família, e é sua responsabilidade se certificar de que eu receba a orientação e o cuidado que preciso.
— Para onde é que ele a levou, depois que a encontrou em Dover?
— Para uma das suas propriedades, em Essex.
— Você andou desde Essex?
— Estávamos viajando. Gregory não me disse para onde ele estava me levando, mas eu acho que era um daqueles lugares perto do mar, onde as famílias colocam os seus familiares problemáticos. Eu reconheci que estávamos em Sussex e fugi, esperando encontrar Laclere.
Sim, Vergil seria formidável o suficiente para enfrentar Gregory Farthingstone.
— Eu não estou confusa — ela murmurou, olhando para as suas mãos esticadas, dedos entrelaçados. — Não é irresponsável usar o dinheiro para ajudar as pessoas. Se eu gastasse a minha fortuna em vestidos de baile e joias, ninguém iria questionar.
Ela deveria ter feito ambos. Se ela tivesse comprado esses vestidos e joias, ela teria ficado a salvo de qualquer suspeita. Tinha sido o seu repúdio da sociedade e do casamento que tinha levantado o espectro da instabilidade.
Ela continuou olhando sem ver, para os dedos torcidos. Ele teve a impressão de que havia mais a dizer e que ela estava decidindo se devia ou não o fazer. Ela lhe dera a explicação que lhe devia. Ele não ia pressionar por mais, mas ele esperava que ela continuasse.
— Há outra coisa, — ela finalmente disse. — Na noite passada paramos numa pousada. Como sempre fez desde Dover, ele me trancou no meu quarto depois do jantar. Ele não percebeu que parte da parede tinha sido removida para construir um guarda—roupa. Quando eu abri a porta desse guarda—roupa, eu pude ouvir uma conversa abafada no quarto de Gregory. Outro homem estava lá tarde da noite. Eles estavam falando sobre mim, eu acho.
— Não seria óbvio se estivessem?
— No começo eu pensei que eles falavam de uma coisa, não uma pessoa. Ora bem, o homem estava se oferecendo para comprar a coisa. Só mais tarde é que vim a perceber que talvez fosse eu.
Agora ela estava soando um pouco estranha, como uma daquelas pessoas que pensam que todo mundo conspira contra elas. — Fleur, Farthingstone não pode vendê-la. Se ele o fez, o que traria de bom para o comprador? Como você disse, você é uma mulher independente de idade madura.
— Não, ele não pode legalmente vender-me. Mas também ele não pode legalmente me aprisionar, mas ele o fez. “Estará terminado antes que ela perceba o que aconteceu, e ela será mais feliz assim” disse o homem. “Se ela lutar, então vamos colocá-la fora” Eu não sei o que você pensa, Dante, mas isso soa como um casamento forçado para mim. Para o meu próprio bem, sem dúvida. Para garantir que alguém tenha autoridade para cuidar de mim.
— Convenientemente organizado antes que mais da sua fortuna desapareça.
— Eu nunca gostei de Gregory. Eu nunca entendi por que a minha mãe se casou com ele, depois que o meu pai morreu. Ele assume que eu deveria aceitar a sua autoridade, mas ele não é o meu pai, e nenhuma relação de sangue. Não me surpreenderia descobrir, que após o casamento, ele e aquele homem pretendessem dividir tudo o que eu tenho.
— Assumindo que eles realmente, discutiam sobre você. Você não sabe disso. — Para uma mulher que não estava envolvida, ela contou uma história bizarra. Ainda assim, não seria a primeira vez que uma mulher seria usada assim.
Uma carranca enrugada, enquanto ela considerava isso. — Eu suponho. No momento foi isso que me fez decidir fugir. Gregory garantiu que eu não tivesse dinheiro. Na sua mansão e na estrada eu era observada de perto. Fugir não seria fácil. Mas a ideia de que ele poderia me forçar a um casamento, me deu coragem. Com o aprisionamento eu poderia ter me rendido, mas não o casamento.
— Certamente não. Com isso, ele definitivamente foi longe demais.
— Na noite seguinte, subi à minha janela, desci pelo edifício e escapei. Eu roubei aquelas roupas e deixei o meu vestido como pagamento. À beira de uma taberna, troquei um anel que tinha pela arma. Então eu corri. Devemos ter estado a dez milhas daqui. Quando você atirou em mim e eu caí, acho que foi tanto pela exaustão como pelo impacto.
Com a conclusão da história de Fleur, uma calma pacífica encheu o quarto, como se o revelar da mesma, acalmasse os seus medos. Dante se levantou e caminhou até à janela. Por alguma razão, ela tinha escolhido um caminho diferente da maioria. Em um homem tais excentricidades seriam aceitas. Mas, um Gregory Farthingstone determinado, podia elaborar um caso mostrando instabilidade suficiente, que iria convencer um juiz a tirar a independência de uma mulher.
— Eu lhe peço um favor, Dante. — Ela parecia tão impotente na cama. Pequena e frágil e muito sozinha. — Quando Laclere voltar, por favor, diga a ele. Talvez ele me procure para ver se as coisas correram bem.
— Claro, Fleur, mas não vai chegar a esse ponto. Se você compreendeu essa conversa ou não, ainda assim, ele não tinha o direito de confinar você. Se você correu tal risco para fugir, devemos garantir que você não volte.
— Como eu fui vista aqui, Gregory vai saber onde estou. Tenho estado à espera para ouvir os sons da sua carruagem.
— Se você ouvir uma carruagem, não assuma que é Gregory. Enviei o administrador para buscar a minha irmã Charlotte e Daniel St. John. Eles estão em Brighton e deverão estar aqui depois do meio dia.
Os seus olhos brilharam com algo que podia ser esperança. Ela relaxou nos travesseiros.
— Mesmo na noite passada você pensou em fazer isso? Foi muito gentil da sua parte, Dante.
— Absurdo. Eu faço coisas como essa, cada vez que eu atiro uma mulher nas nádegas. Descanse agora. Vou descer para ver se há alguns alimentos para você. Você não deve se preocupar.
Ele tranquilizou-a com mais convicção do que sentia. Era melhor que Charlotte e St. John não tardassem em deixar Brighton. Se Farthingstone descobrisse onde ela estava, esta poderia ser uma corrida para o fim.
Ela dormiu depois do café da manhã, e Dante caminhou no nível abaixo, enquanto as horas passavam e o sol se movia. Muito provavelmente, as suas preocupações não se baseavam em qualquer coisa real. Possivelmente ela se comportara de maneira irregular, de um modo, que um conhecido por acaso não notaria. Talvez Farthingstone só queria ter certeza que ela descansasse depois da sua viagem. Sem dúvida ela tinha interpretado mal o pouco que tinha ouvido por aquele guarda—roupa.
Ainda assim, a conexão de Farthingstone a ela, através do casamento com a mãe, deu-lhe a aparência de autoridade. Pior, ele poderia afastá-la sem que ninguém soubesse, uma vez que se pensava que ela ainda viajava pelo Continente. Ridículo, é claro. Ela não estava em perigo.
Ele removeu as duas pistolas do seu gabinete e carregou-as. Um pouco antes do meio-dia ele a ouviu movendo-se na cama. Ele subiu e a encontrou sentada na beira, tentando espalhar, com o braço bom, o vestido que ele tinha conseguido.
— Eu não quero que eles me encontrem assim, — disse ela. — Eu vou me vestir, pelo menos.
— Se você quiser. — Ele trouxe as roupas íntimas que Pearson tinha encontrado. Ele a ergueu da cama e a colocou de pé.
Ela percebeu as suas intenções. — Eu consigo.
— Eu sei que você não consegue. Vou te ajudar.
— Você não deve.
— Não deixe que a minha tentativa anterior de humor a deixe desconfortável. A repetição do prazer entorpeceu a minha susceptibilidade. Eu tenho que, deliberadamente, acender a vela ou não há chama. Eu sou completamente indiferente. Como um médico ou um artista.
— O médico ontem disse que eles não são indiferentes, mas eu posso ver como você pode ser. A primeira mulher nua seria emocionante, mas a milésima seria chata. Um pouco como muito demasiado marzipan.
— Precisamente. Exceto você não é a milésima. Eu só recentemente passei de oitocentas.
Ela virou os olhos chocados para ele.
— Eu estou brincando, Fleur. Agora, braço esquerdo para cima.
Ele assumiu o semblante inexpressivo de um criado de quarto e desviou os olhos, mas a vela brilhava por si só, quando a camisa caiu no chão. Indiferença dificilmente descrevia a sua reação quando ele vislumbrou a sua pele marfim, curvas femininas e seios altos. Ela desviou o olhar e corou, quando ele deslizou a camisa sobre a sua tímida e tremente nudez. Vestir o resto das peças foi um processo desajeitado, devido às mútuas tentativas de fingir que o outro não estava lá.
Ele fez a cama grosseiramente e, em seguida, levantou-a de volta para ela.
— Vê. Sem liberdades. Foi o seu dia de sorte quando foi baleada por um libertino cansado e saciado como eu.
Ela riu. Era um belo som, como as notas aquosas de uma harpa.
— O meu dia de sorte, Dante, mas não o seu. Agora, eu estou acomodada, vestida e alimentada. Eu acho que você deve ir para os estábulos, obter um cavalo, e cavalgar para a costa como você tinha planejado.
Ele sentou-se na cadeira. — Eu não posso fazer isso, Fleur.
— Eu vou estar segura. Alguém estará aqui em breve.
— Poderia ser a pessoa errada. E se alguém não vem? Esta noite poderia ser como a última, e esses saqueadores podem escolher queimar este chalé ou entrar e se esconder aqui. Eu não posso deixá-la sozinha.
— Você poderia conseguir alguém da casa para ficar comigo.
— Os serventes não podem ficar contra Farthingstone se ele chegar à sua procura. Vamos esperar por Charl e St. John juntos. Eu disse que você estaria segura, e você estará.
— Lamento que isto aconteceu — disse ela. — Os oficiais de justiça estão realmente no seu rastro?
— Determinados credores venderam as minhas dividas a um homem, o Sr. Thompson, que exigiu o pagamento. Uma má noite nas cartas arruinou qualquer chance de negociação.
— Você não poderia pedir a Laclere para ajudá-lo?
— Eu poderia, e ele o faria. É provavelmente o que Thompson espera. Mas eu não vou pedir. Verg já tem sido muito generoso.
Ele se perguntou por que falou tão abertamente. Talvez vesti-la tenha aprofundado a sua familiaridade. Talvez cuidar dela tenha. Ele experimentou um companheirismo pacífico com ela. Provavelmente, os sobreviventes de naufrágios também desenvolviam amizades rapidamente, enquanto eles compartilhavam uma jangada e tentavam não observar o horizonte.
— Eu diria que foi lamentável que as coisas não terminassem bem entre você e Bianca, exceto que ela e Laclere estão, tão obviamente certo, juntos — disse ela.
Fleur estava se referindo ao momento em que ela foi a pretendida de Vergil, e o plano tinha sido que Bianca seria a de Dante. — Eu não fiquei desapontado por Bianca querer Vergil. Ela e eu não combinávamos bem, e ela é boa para ele. No entanto, eu iria mentir se negasse que, em certas ocasiões, lamentei a perda da sua fortuna.
Ela riu de novo. — Eu sorri mais nesta última hora do que no último ano. Estranho, isso. Afinal, mais cedo ou mais tarde eu devo enfrentar Gregory, e você deve ficar longe. Se você perder o barco, como você vai escapar?
— Há outros barcos.
— Que egoísta da minha parte, estar tão concentrada no meu próprio problema que não vi mais cedo como eu tinha feito o seu pior. Por favor, não se demore por mim.
— Até que eu saiba que você está segura, eu vou permanecer aqui. Qualquer cavalheiro o faria, e apesar das minhas circunstâncias, espero que eu o seja.
— Você, definitivamente é isso e muito mais, querido amigo.
A sua gratidão tocou-o. A serenidade que ele lembrou nela, anos atrás, tinha se estabelecido sobre ela. Ele provavelmente devia deixá-la com a sua privacidade, mas o quarto era arejado e agradável e sua companhia lhe agradava. Um dia de espera estendia-se à frente deles.
Ele se fez confortável. — Eu vou te dizer como desperdicei a minha vida, se você me dizer como você tem florescido na sua.
A harpa tocou novamente enquanto ela riu.
Ela nunca tinha percebido que ele poderia ser tão amável. Ela deveria ter adivinhado. As suas amantes sempre falaram bem dele. Elas sabiam, que tendo um caso com ele, que ele era inconstante e que a paixão seria breve. Se corações tinham sido quebrados, e alguns tinham, ela suspeitava que não era porque ele prometeu mais do que deu.
No entanto, não apenas bondade. Uma pequena crista de escuridão espreitava de dentro do seu charme. Ela podia ver isso em seus olhos às vezes, e ouvi-la em sua voz. Ele poderia manifestar-se de forma inesperada, como com a sua ameaça de entregá-la, ou com que o flerte brincalhão desta manhã. Ela sentiu que aquilo queria se tornar algo maior, mas ele controlou. A maior parte do tempo. Ele a divertiu com histórias de ousadia nas mesas de jogo e corridas de cavalos, e das fortunas ganhas e perdidas. Ele pareceu contrito, quando admitiu as vezes que se tinha virado para o seu irmão, quando ele tinha ido muito profundo.
Ela já sabia os detalhes que ele não adicionou. Ela sabia sobre as finanças desastrosas que o seu irmão Vergil herdou quando o irmão deles mais velho, Milton, morreu. Somente empreendimentos fora da sua classe, no comércio, tinha salvo a família Duclairc. Ainda assim, a mensalidade de Dante poderia ter sido adequada para um tipo diferente de homem. Ele poderia ter se dedicado a algum emprego e não apenas ao prazer.
Ao mesmo tempo, ela o invejava. Aqui estava um homem que tinha realmente vivido para o momento. Que fazendo isso o levou à ruína, era um daqueles contos morais que era suposto acenar em aprovação. Em vez disso, ela não podia deixar de se ressentir. A sua própria história, da caridade e boas obras, deviam brilhar em comparação. Em vez disso, envergonhava-a, ter tão pouca verdadeira alegria para descrever. Em certos aspectos essenciais, ela era a única que tinha vivido uma vida desperdiçada e estéril.
Ela poderia ter dito a ele sobre isso. Sobre a solidão e o vazio. Sobre os seus planos de encontrar alguma satisfação através do seu Grande Projeto. Ela chegou perto de fazê-lo. A facilidade com que eles falaram encorajava confidências. Mas as suas poucas horas de amizade eram muito curtas. Sons na alameda, no meio da tarde anunciou o seu fim.
Dante foi até à janela quando a comoção encheu a clareira lá fora.
— Isto deve ser interessante — disse ele enquanto ele deslizava em seu casaco. — Foi um empate. Ambos, Charl e Farthingstone, chegaram juntos.
A sua paz desapareceu num instante. — Eu vou descer. Por favor, ajude-me.
— Se você insistir em descer, eu vou carregá-la. — Ele levantou-a em seus braços.
Ela começou a protestar, mas sentiu-se muito protegida e segura por ser aninhada em seus braços. Ela percebeu com um sobressalto, que ela não tinha abraçado nenhuma pessoa desde a morte da sua mãe, e nenhum homem há mais de dez anos. Ele a levou pelos degraus. Os seus visitantes tinham acabado de entrar na sala de estar, discutindo.
A sua irmã mais nova, Charlotte, o seu cabelo escuro um pouco desgrenhado e o seu rosto petulante perturbado, irritada ao lado do sombriamente bonito Daniel St. John. O rosto envelhecido e sardento de Gregory ficou rosa de consternação, enquanto ele perguntava sobre a chegada súbita deles.
A bota de Dante no último degrau, pegou Gregory no meio da sua bravata e todos se viraram com surpresa. Mais cavalos estavam chegando lá fora.
— Não há necessidade de pousá-la no chão, Duclairc. Você pode apenas levá-la para o cocheiro. — Farthingstone ordenou.
Dante sentou Fleur com cuidado para baixo numa cadeira.
—Veja lá — Farthingstone começou.
— Não, veja lá você. Charl, agradeço-lhe por ter vindo. Senhorita Monley está ferida, e precisa de cuidados e refúgio. Aconteça o que acontecer, St. John, peço-lhe que prometa que não vai permitir que Farthingstone a leve embora.
St. John fez uma ligeira reverência na direção de Fleur. — Nós nos conhecemos há muitos anos, senhorita Monley, aqui em Laclere Park.
— Eu lembro. Obrigado por interromper sua visita a Brighton.
Charlotte correu para ela. — Fleur, o que você está fazendo aqui? Eu pensei que você estava em turnê no continente. Você está machucada? O que aconteceu?
— Ela foi atingida de raspão por uma bala — disse Dante.
— De raspão... ela levou um tiro? Onde?
— Na verdade, na região inferior traseira.
Charlotte piscou. — Na inferior traseira... Quer dizer que ela levou um tiro na... Oh meu.
O rosto de Gregory ficou vermelho sob o cabelo branco. — Como ela foi ferida necessita de investigação, mas uma coisa é clara. Duclairc a manteve aqui para que ele pudesse comprometê-la.
— Dante, você não fez! Não Fleur também! Vergil terá uma apoplexia.
— Sua trama é óbvia — Zombou Farthingstone. O seu nariz bulboso tornava a expressão mais cômica do que desdenhosa. — No entanto, isso não vai funcionar, senhor. Há homens lá fora querendo vê-lo, e a minha enteada não está em seu juízo perfeito e não pode ser responsabilizada por seu uso desonroso dela. Vou cuidar dela agora.
— Minha honra é meu assunto e não do Sr. Farthingstone — disse Fleur, ignorando Gregory e falando com Charlotte e St. John, que eram as suas únicas esperanças. – O seu irmão veio em minha atenção e me protegeu. Peço-lhe que o ouça, e recuse as exigências de Sr. Farthingstone. Ele não tem direitos legais para mim. Eu não irei com ele por vontade própria.
A porta estava aberta. Dois grandes homens, de aparência rude escureceram o limiar.
— Ah, nosso salão está completo — observou Dante. – Vocês são os oficiais de justiça do Sr. Thompson?
— Sim, — um resmungou. — Você virá conosco, gentil e fácil, Sr. Duclairc. Não quero nenhum problema.
— Nenhum problema de todo, eu prometo. Posso perguntar como você me encontrou?
— A informação surgiu em Londres durante a noite. Nós cavalgamos muito e vai ser um longo caminho de volta, por isso vamos indo.
— Dante, agora o que é isto? — Gritou Charlotte.
— Destino, querida irmã.
Ele virou-se para St. John. — Deixo a senhorita Monley em sua proteção. Ela não deveria estar viajando, e as suas queixas contra Farthingstone são bem fundamentadas. Prometa-me que pelo menos você vai ouvi-la.
— Ela estará segura. — St. John olhou significativamente para os oficiais de justiça que aguardavam. — Permita-me ver este outro assunto para você, Duclairc.
— Não. É uma quantia que eu nunca poderia pagar.
Fleur sabia uma coisa ou duas sobre o destino que Dante enfrentava. — Sr. St. John, Dante não tem cavalo. Eles vão fazê-lo andar todo o caminho até Londres.
— Passe pelos estábulos e obtenha um cavalo para ele, — St. John ordenou aos homens. — Eu vou resolver isso com Laclere.
— Dante — Fleur sussurrou freneticamente, aproximando-se dele.
Ele se inclinou sobre ela. — St. John vai assegurar você agora, Fleur. Ele não é tão rigoroso como aparenta. Diga a ele e Charlotte o que você me disse.
— Não é isso. Aqueles homens... Quanto, Dante? Quanto você deve?
Ele levantou a sua mão aos lábios. — Uma quantidade obscenamente alta. Nem sequer ofereça. Eu nunca pedi a amigos, e eu nunca aceitaria um centavo de uma mulher.
— Mas é minha culpa.
— Não, Fleur, é só minha.
Assumindo a elegância calma pela qual era famoso, ele saiu do chalé.
Capítulo 4
Fleur saiu da carruagem de Daniel St. John e aceitou a escolta do lacaio à porta da frente da prisão. Havia uma grande conveniência em ser uma mulher de vinte e nove anos de idade na prateleira que se dedicava à caridade. Quando você dizia pequenas mentiras, as pessoas acreditavam em você. Sr. St. John e a sua esposa, Diane, pensavam que, hoje, ela estava participando numa reunião para planejar uma nova escola para os filhos dos trabalhadores.
Fleur sabia tudo sobre as prisões de Londres. Ela apoiou os reformadores como Elizabeth Fry que procuraram melhorar a sua condição. Ela observou com desagrado que o Sr. Thompson tinha tratado para que Dante fosse colocado numa das piores. A rua estreita e lotada cheirava a comida podre e miudezas, e um ruído de vozes saia dos edifícios antigos. O gesso em ruínas da prisão, preto com a idade e úmido, deprimiu o seu espírito.
Seria ferir o orgulho de Dante, se qualquer um que o conhecesse o visse em tal lugar. Ela ensaiou mais uma vez o plano que a tinha trazido aqui. A mulher do carcereiro a deixou entrar com uma demonstração de reverência, indicando, que o cuidado que Fleur havia tomado com a sua aparência, fora bem-sucedido. Ela tinha enviado para a casa dela o seu único vestido elegante, com uma saia larga em musselina azul-gelo. Considerando a sua missão hoje, ela não queria parecer muito como uma solteirona, uma maltrapilha.
A mulher levou-a para a sala de estar da pousada fétida que abrigava devedores, enquanto os seus credores tentavam extrair pagamento. As poucas janelas da sala deixavam entrar pouca luz, mas ela podia ver as tentativas insignificantes de proporcionar conforto. Considerando o ambiente sórdido, o bom humor dos homens jogando cartas e apostando com pedaços de palha, a surpreendeu. No meio dela, brincando e rindo, ainda a jogar os jogos que o levara até ali, sentava-se Dante Duclairc.
Em contraste com a má aparência de seus companheiros, Dante parecia impecável. A gravata mostrava vários dias de desgaste e seu fraque precisava de ferro, mas ele tinha se barbeado e vestido para um dia na cidade, embora ele nunca fosse deixar estas paredes.
— Você tem um visitante, o Sr. Duclairc. Uma senhora, — a mulher chamou.
Todos olharam para ela. O sorriso de Dante congelou. Ele atirou as suas cartas e se aproximou.
— Senhorita Monley, isso é surpreendente. – O seu tom transmitia desaprovação. — Vou levá-la de volta, Meg.
— Por dez centavos você pode usar meu quarto, se quiser, — Meg ofereceu com um sorriso obsceno.
— Vamos sair para as traseiras, Meg.
Ele a levou para um jardim. Três porcos grunhiram num curral em uma extremidade e galinhas ciscavam em torno da terra quase nua. Um banco grosseiro encostava-se contra a parede oposta.
— Você não deveria estar aqui.
— Não me repreenda, Dante. Eu já tinha visto estes lugares antes. Eu te trouxe algo de Charlotte.
— Ela já enviou dinheiro suficiente para pagar pela carne. Diga-lhe que não preciso de mais.
— Não é exatamente da Charlotte. — Ela se sentou no banco e tirou uma pequena bolsa do seu retículo. — Uma senhora veio visitar a sua irmã quando chegamos de volta na cidade na semana passada. Ela disse que você lhe tinha dado estas joias recentemente, como um presente de despedida. Tendo ouvido falar das suas circunstâncias, ela não se sentiu bem em mantê-las.
Ela abriu a bolsinha e revelou dois brincos de ametista.
Ele olhou para eles. — Sem dúvida você me acha irresponsável em ter usado os meus últimos guinéus de tal maneira.
— Eu acho que a decisão sobre esses guinéus não faria muita diferença, e era importante para manter os padrões.
— Que mente aberta a sua, Fleur. — Ele pegou a bolsa. — E muito bom coração da senhora. Agora você deve ir. Isto não é lugar para você.
Ela se recusou a ceder. Uma noite de debate e pânico a levara até aqui, e ela iria conseguir. —Eu também vim para visitar você, Dante. É rude me jogar para fora.
— Me desculpe. Claro, Santa Fleur gostaria de trazer conforto para o preso. Eu nem sequer perguntei sobre a sua saúde. Você está melhor agora? Se Charl trouxe você para a cidade, desde Laclere Park, presumo que você está curando corretamente. Você parece adorável hoje. Esse azul realça a cor dos seus olhos.
As cortesias tropeçaram da sua língua com uma voz um pouco sarcástica. A crista escura mostrou-se. Sim, o seu orgulho estava ferido ao ser visto aqui. Ele claramente queria que ela fosse embora.
— Estou bem curada, obrigada. Tenho estado hospedada com os St. John enquanto eu recupero.
— E Farthingstone?
— St. John afastou-o. Por agora.
A sua expressão dura cedeu. O homem que ela se lembrava, o Dante que tinha sido o seu amigo por um dia no chalé, olhou com preocupação. — O que ele está tramando?
— Ele vai até à Chancelaria para pedir que todas as minhas finanças sejam colocadas sob o seu controle, devido ao meu estado emocional errático e a minha incapacidade de fazer julgamentos corretos. O advogado de St. John acha que ele pode ter sucesso. A maneira que eu fugi, e a descoberta de que eu estava com você naquele chalé não vai ajudar o meu caso. Junto com o controle das minhas finanças, ele também vai solicitar a minha tutela.
Ele se sentou ao lado dela. — Dane-se o homem. Se isso chegar a acontecer, talvez você deva solicitar alguém para obter a autoridade. O meu irmão deve estar de volta num mês. Ele vai concordar em fazê-lo.
— Enquanto eu confiaria Laclere com a minha vida, eu não gosto da ideia de colocar essas responsabilidades sobre os seus ombros, ou de ter que responder perante ele. Eu estive pensando numa solução diferente.
— Se eu puder ajudar de qualquer forma, estou ao seu dispor. — Ele se levantou com solícita graça. — Agora, este é um lugar insalubre, e se for descoberto que você veio, Farthingstone só terá um comportamento mais estranho para descrever. Foi agradável da sua parte em me visitar, Fleur. Confesso que tenho me preocupado com você um pouco, durante os meus dias aqui. No entanto, você realmente deve sair.
— Por favor sente-se, Dante. Eu quero dizer-lhe a minha solução e ouvir o que você pensa sobre isso.
Ele obedeceu com um suspiro. Ela virou-se para longe dele, para que pudesse observar as galinhas e os porcos, e não as suas reações. Ela estava muito certa de que não gostaria de vê-las.
— Dante, Laclere alguma vez lhe disse o porquê de eu e ele nunca nos termos casado?
Quietude instantaneamente ocupou o espaço onde ele estava sentado.
— Claro que não — ele finalmente disse. — Eu assumi que foi por causa de Bianca.
Ela tinha conhecido Laclere e jamais ele contaria para Dante, mas, de qualquer maneira, ela tinha esperado que ele tivesse. Tornaria isto mais fácil.
— Não foi por causa de Bianca. Nunca houve um verdadeiro namoro entre Laclere e eu. Foi tudo fingimento. Eu não queria me casar, e agindo como se fôssemos casar um com o outro, me poupou um ano.
— Isso explica muito. Eu sempre pensei que Verg te tratou mal. Amor desculpa muito, mas você e ele eram tudo menos noivos, antes da Bianca vir para a Inglaterra.
— Foi uma farsa desde o início. Eu planejei nunca casar. Desde que eu era uma menina, eu tinha muita certeza disso. — Ela fechou os olhos, respirou fundo e mergulhou para a frente. —Exceto, quando a nossa amizade cresceu, ocorreu-me que poderia haver uma alternativa. Um tipo muito especial de casamento. Eu ofereci a ele e ele recusou.
— O que você está dizendo, Fleur?
Como dizê-lo abertamente? Ela nunca teve que dizer a Laclere. De alguma forma, ele tinha percebido o que ela queria dizer. — Fleur, você ofereceu ao meu irmão um casamento branco? Sem intimidade física?
Ela sentiu o seu rosto queimar. —Eu não fiquei surpresa que ele tenha recusado. Eu acho que a minha fortuna tornava tentador, mas como visconde, ele gostaria de ter um filho.
— Por que você está me contando isso? Você está pensando em se casar?
— Na noite passada, depois de me encontrar com Gregory, comecei a contemplá-lo. Um marido teria a autoridade que Gregory não podia violar. Estou pensando num casamento, como eu ofereci ao seu irmão. Tal entendimento poderia acabar com tudo isso. Estou certa, não estou? Você não acha?
Quietude novamente. Silêncio total para uma longa pausa.
— O que eu acho, é que é melhor você ter muito, muito cuidado com o homem a quem você escolher, Fleur.
A ressonância em seu tom a fez encará-lo. Ele a olhou com um olhar pensativo, especulativo.
— Sim, muito cuidado — disse ela. — Teria de ser alguém em que eu confie. Alguém que aceite que eu não posso ser uma verdadeira mulher para nenhum homem. O entendimento sobre isso teria que ser muito firme.
Ele apenas olhou. Ela quase perdeu a coragem, mas a memória do rosto corado de Gregory exigindo o seu retorno de St. John e do tom untuoso, condescendente que ele tinha falado com ela, como se ela fosse uma criança estúpida, manteve sua resolução forte.
— Teria de ser alguém que já tenha uma vida plena, e os interesses que o casamento lhe permitiria exercer livremente — continuou ela. — Um homem que aceitaria metade da minha renda e viver dentro das suas possibilidades, e que concordaria em me permitir usar o resto como eu escolher. Na realidade, ambos teríamos vidas separadas. Pode-se dizer que não estaríamos realmente casados.
— Você está descrevendo um homem de honra indiscutível, como o meu irmão. Um modelo entre os homens. Há poucos como ele.
— Eu estou descrevendo um homem honrado, mas não um modelo. Talvez eu esteja descrevendo um homem que nunca aceitaria um centavo de uma amiga, mas que poderia aceitar uma quantidade extremamente alta de uma esposa. Um homem, cuja vasta experiência, significa que a vela não queima a menos que ele a acenda. Um homem, que não precisa buscar o prazer com uma mulher, porque ele pode encontrá-lo em qualquer lugar por um sorriso. Um homem como você.
Pronto. Foi dito. A sua expressão tornou-se mais intensamente contemplativa. Ele estudou-a como se tentasse decidir se ela estava falando sério. Pareceu uma eternidade que eles se sentaram lá, com o seu silêncio quebrado pelos sons da vida da cidade e dos animais no quintal. Ela rezou para que a sua reação enigmática não escondesse aversão.
Ela teve que desviar o olhar. — Eu nunca pensei em fazer esta sugestão para outro homem, Dante. Eu sei que você deve pensar em mim como antinatural, de maneiras que fazem as acusações de Gregory empalidecerem.
— Não tão antinatural, Fleur. No entanto, você tem a certeza que não superou o seu medo de infância?
— Não é um medo de infância. O meu sangue se transforma em gelo com o pensamento de... quando ouvi aquele homem negociar por mim... eu não conseguia respirar. — Sua voz soava frenética para os seus próprios ouvidos. O seu peito e mente encheram-se de pânico, como naquela noite.
Ele estendeu a mão e levemente acariciou os seus cabelos. — Acalme-se, linda flor. Se você diz que é assim, eu acredito em você.
O silêncio se esticou novamente. Ela fechou os olhos e rezou para ele não a rejeitar completamente.
— Você mencionou dois acordos, em relação a intimidade e a dinheiro, que são fora do comum, Fleur. Existem outros termos ou detalhes incomuns que eu deveria saber?
A sua disposição para ouvir lhe deu esperança de que a vida que ela conhecia, os planos que tinha feito, não seriam roubados dela. — A renda vem do fundo que o meu pai deixou. Tenho terras e outros fundos, no entanto, a maior parte herdada da minha tia. Eu quero uma promessa que eu possa usar ou dispor dessa propriedade e da renda como eu escolher, se eu quiser. Quero um acordo que você não vai interferir e vai assinar quaisquer documentos, quando se tornar necessário.
A sua reação indicou que ele achou, esses termos particulares, mais incomuns, como de fato eram. Por lei, os maridos deviam ter tudo e controlar quaisquer terras. Reservar a propriedade para o seu próprio uso discricionário era quase desconhecido, mas ela precisava desesperadamente, que ele concordasse com isso. Ela tinha vivido de forma independente por muito tempo, e tinha ido longe demais em seu Grande Projeto, para ser sujeito a qualquer homem em suas decisões, especialmente para um marido que, realmente, não seria um marido.
— Mesmo sem essa fortuna independente, a minha herança é significativa, Dante. Metade da renda do fundo é uma bela quantia.
— Quão bela?
— A sua parte seria de três mil, para usar como quiser. Eu continuaria a manter a casa com a minha parte.
Ele riu. — Isso é certamente bom, Fleur. No entanto, olhe onde estamos. Onde eu estou. Perdoe-me, mas não é muito sensato para você, fazer essa proposta com todos esses entendimentos financeiros privados, para um homem na prisão por dívidas. Não te preocupa, que um dia, eu poderei estar novamente muito endividado, e lhe tire tudo isso?
—Todo o nosso acordo vai ser baseado na sua honra, Dante. Isso é garantia suficiente para mim. Não duvido que você irá manter todas as promessas que fizer. Mesmo se um dia você quiser tudo isso, eu não acredito que você vá tomá-lo. Eu também acho que você nunca vai incorrer em dívidas que possam pôr em causa o que não é seu.
A sua expressão se tornou enigmática novamente. Ela não conseguia decidir se ele estava lisonjeado ou se tentava esconder sua opinião de que ela era uma idiota.
— Você deve estar pensando que é estranho eu não saltar perante essa oferta. É muito generosa, e resolve o meu problema atual, muito habilmente.
— Como resolve o meu. O aspecto, mutuamente benéfico, da proposta é a melhor parte dela, eu acho.
— Você é demasiada otimista, depois de nossa breve amizade. Você não me conhece, Fleur.
— Eu confio em você. Eu sei que você é honesto. Eu também desfrutei da sua companhia, e isso é uma coisa rara para mim com um homem.
— Você pode conseguir melhor.
— Eu acho que não.
Ele se levantou abruptamente e andou para longe, os braços cruzados sobre o peito e uma carranca pensativa no seu rosto bonito. Uma explosão de risadas de dentro da prisão, a lembrou de quão peculiar este lugar fora para uma proposta. Mas, também, a proposta em si era tão estranha que nenhum lugar teria sido realmente apropriado.
Ele voltou para ficar na frente dela. Apoiando um pé ao seu lado no banco, ele se inclinou sobre o joelho e levantou o queixo dela com os seus dedos secos e quentes, forçando-a olhar em seus olhos luminosos.
— É uma ideia surpreendente. Totalmente inesperada. Eu não sou exatamente o tipo de casar, Fleur.
— Este não é exatamente um casamento típico. Eu nunca vou fazer-lhe perguntas sobre as suas amantes, Dante. Eu sei que não terei esse direito. Não haverá cenas de ciúmes.
— A liberdade de ter amantes não é o que me preocupa agora. Falamos de uma vida. Quão separados você espera que sejamos? Levantará questões se nunca estivermos juntos.
— Nós não precisamos ser estranhos. Nós podemos compartilhar uma casa, e entreter os amigos mútuos se nos convém.
— Eu acho que nós teríamos que fazer isso no início, não é? Não seria bom fazer as pessoas desconfiar, especialmente Farthingstone.
— Você pode se mudar para a minha casa em Mayfair após o casamento. Há espaço suficiente para mais um.
Sua expressão ficou séria, e ela sabia que ele estava decidindo o seu futuro naquele momento. O seu olhar caiu sobre os lábios. Por um instante, aquela energia especial brilhou intensamente.
O seu polegar roçou a sua boca. — Vou ser autorizado a beijar a minha esposa, às vezes?
— Amigos beijam, pois não?
Ele tocou, com a sua boca, gentilmente a dela. A suavidade e calor do beijo provocou uma luz brilhante a piscar através dela.
— Para quando você planeja o casamento, senhorita Monley? Por acaso, a minha agenda social está sem compromissos no momento.
Foi o dinheiro que o balançou. Ele teria sido um idiota em não o agarrar. Dante disse a si mesmo, muitas vezes ao longo dos próximos dias, enquanto pensava porque ele tinha aceitado a oferta de Fleur. Ele tinha concordado porque o casamento iria resgatá-lo de apuros, mas ele confessou que o seu apelo o havia tocado de outras maneiras.
Ela confiava nele. Era uma noção nova, e surpreendentemente atraente. Por isso, fora realmente por causa do dinheiro, mas a lisonja da sua confiança pode tê-lo influenciado um pouco.
Era um arranjo incomum, mas em muitos aspectos ideal. A convivência do dia a dia não seria desagradável. Ele teria todas as liberdades que já tivera, mas agora, com a segurança de poder pagar por isso adequadamente. Ele iria finalmente ser livre da dependência da sua família.
Sim, financeiramente falando, ele tinha feito muito bem.
A única nuvem no horizonte brilhante, e era uma nuvem muito pequena certamente, era que, embora Fleur fosse indiferente aos homens, ele não era indiferente a Fleur.
Naquele quintal, enquanto as galinhas ciscavam ao redor das suas botas e ele pesava a sua oferta, essa parte do acordo lhe parecera bastante sombria. Quando ele segurou a mão dela em aceitação, tinha sido necessária alguma força de vontade para não a puxar para um tipo muito diferente de beijo do que ela tinha permitido.
No entanto, isso se resolveria por si próprio. Logo que ele estivesse de volta à sua antiga vida, a sua atração passaria rapidamente. Raramente se estabelecia num só lugar por muito tempo.
Mesmo que fosse tudo sobre o dinheiro dela, ela deixou claro que não era sobre todo o seu dinheiro. Portanto, quando o advogado dos Duclairc, Julian Hampton, chegou à prisão para discutir o acordo, Dante não discutiu sobre os três mil por ano que seriam seus sem encargos, embora num casamento normal, ele teria muito mais.
Ele não piscou quando Hampton explicou que a terra estaria também à disposição de Fleur e que Dante estaria a concordar em permitir que ela a usasse e à sua renda, como ela escolhesse.
Ele ainda permaneceu impassível quando Hampton explicou que ele poderia deixar a prisão. O advogado já tinha falado com Thompson, a pedido de Fleur, e informou o credor que a noiva de Dante estaria pagando a dívida de quinze mil libras na íntegra. Depois de especificar os termos de Fleur, Hampton continuou para uma discussão mais completa da questão.
— Como advogado da sua família, eu aconselho contra este casamento. — Hampton falou em seu tom mais formal. Ele tinha sido um amigo da família há anos, mas sinalizou com a sua voz e comportamento quando assumiu plenamente o seu papel ocupacional.
— Os termos são incomuns, mas não mesquinhos. É improvável que eu faça melhor.
— Você está prometendo concordar com as decisões financeiras, mesmo se elas forem ineficientes. Ela poderia desperdiçar toda a fortuna do fundo, e você não teria autoridade para impedi-la.
— Então vamos viver com o rendimento do fundo. No entanto, acho improvável que ela vá desperdiçar todo o resto.
Hampton se levantou e caminhou até a janela encardida do minúsculo dormitório da prisão. Desta vez, Dante tinha pago a Meg os dez centavos por alguma privacidade. Enquanto Hampton olhava para o quintal, o seu comportamento inteiro era de um alto e escuro pilar de responsabilidade profissional. Ninguém adivinharia que tinham brincado juntos em meninos quando Dante se juntava a ele e ao irmão, durante as visitas de Hampton a Vergil.
— O contrato particular não tem legitimidade na lei, é claro. Se você concluir que ela não está agindo de forma sensata, ou quebrá-lo por outras razões, nenhum juiz vai respeitá-lo. Expliquei isso para ela — disse ele.
— Eu acho que ela já entendeu esse risco.
— Sim. Será uma questão de sua honra. Assim ela o disse. Eu preferiria isso que ser apenas palavras no papel. Aquelas podem ser interpretados e argumentadas. Se você prometer essas disposições sobre a sua honra, não haverá recurso a não ser agir desonrosamente.
Hampton virou-se, o seu rosto impassível, os seus olhos escuros enigmáticos sob o seu cabelo escuro despenteado. Raramente se sabia o que Hampton estava pensando. Ele era uma figura silenciosa para a sagacidade e o excesso verbal dos outros, um observador do mundo. Dante sabia que muitas mulheres achavam Hampton misterioso e romântico, embora os homens eram mais propensos a pensar que ele simplesmente era orgulhoso e reservado.
— Eu continuo a aconselha-lo a não fazer isto, por outras razões. Tenho vindo a fazer perguntas sobre ela.
— Eu não pedi para fazer quaisquer perguntas. — Dante manteve a irritação, perante tal ousadia, sob controle, mas a sua mandíbula apertou.
— St. John e eu pensamos que era melhor descobrir se as acusações de Farthingstone tinham algum fundamento.
Hampton também era advogado de St. John, uma posição adquirida através de sua amizade comum com Laclere. Eles faziam parte de um círculo de amigos que por anos tinham praticado esgrima juntos. Quando jovens, eles se auto intitularam de Hampstead Duelin Society, e Dante tinha sido integrado no grupo, depois que saiu da universidade.
— Que sorte para mim que você e St. John são os meus anjos da guarda.
— Com Laclere na Itália...
— Para o inferno com St. John, e você.
— Nós somos seus amigos, Duclairc. Irai-vos, se quiseres, mas ouvi-me. A Senhorita Monley recusou-se a explicar algumas das questões que eu perguntei, e eu tenho dúvidas se, de qualquer das formas, havia explicações para dar.
— Você falou com ela durante estas investigações? — A imagem de Fleur sendo examinada pelas questões precisas, sondadoras de Hampton, o irritou ainda mais.
— Eu também falei com Farthingstone.
— Maldição.
— Basta ouvir. — Hampton traçou as bordas de pedra bruta do peitoril da janela enquanto falava. — A mudança na sua futura noiva depois que ela rompeu com Laclere é bem conhecida. No entanto, recentemente, ela foi muito mais longe em sua generosidade. Não é mais uma questão de gastar a sua renda. Ela vendeu alguns fundos que não são de confiança e doou o dinheiro para uma variedade de causas. A maioria são instituições de caridade previsíveis. No entanto, no ano passado, ela enviou uma boa quantia, pelo menos mil, para o norte, durante a paralisação das minas de carvão. Foi usado pelos mineiros e os ferreiros para sustentarem as suas famílias.
— Isso só significa que ela não gosta de ver as pessoas morrerem de fome.
— Isso também significa que ela tem conexões com alguns grupos radicais, e não aqueles que trabalham através dos canais normais. O que por sua vez levanta a questão de saber se ela só estava fugindo quando a encontrou, ou estava realmente envolvida no que estava acontecendo nas propriedades naquela noite.
— Eu não acredito nisso.
— Isso também significa, no mínimo, que Farthingstone terá homens muito poderosos que não vão querer que o fluxo de apoio financeiro aconteça novamente.
Este último ponto valeu a pena saber. Sem dúvida, alguns desses homens poderosos tinham influência nos juízes do tribunal da Chancelaria.
— A diminuição de sua herança tem sido significativa nos últimos dois anos. A morte de sua mãe parece ter algo a ver com a crescente generosidade. Farthingstone está em uma posição de saber os detalhes. Ele calcula que cinquenta por cento da terra já foi. Ela vendeu-a.
Por isso é que Farthingstone alegava que ela estava confusa. Ninguém vendia terras. Eles acumulavam-na, vinculavam-na e cobiçavam-na.
— Isso ainda deixa uma grande fortuna.
— Há mais. Quando questionada como decide, qual a propriedade a vender e quando, e que motivos tem, ela alega ter um conselheiro. Ela não aponta o nome do homem, no entanto. Farthingstone acha que não há conselheiro, apenas uma fantasia de sua imaginação.
— Ele afirma agora que ela está ouvindo vozes? Vendo amigos invisíveis? Certamente você não acredita.
— Ela atualmente, está planejando vender a sua maior extensão de terra, uma propriedade significativa em Durham. Ela herdou da sua tia Ophelia. Eu mencionei que a sua tia era bastante original? É de família, parece — Hampton continuou como se a raiva saltando na sua direção, não estivesse lá.
— Existe na minha família também. Não vejo alguém tentando rotular as minhas irmãs de incompetentes.
— Houve outra tia, também falecida. Aquela era estranha o suficiente, que mesmo a excêntrica tia Ophelia a manteve em reclusão. — Hampton só ficava falando com aquela maldita voz monótona, factual. — Senhorita Monley não diz a quem ela pretende vender a propriedade Durham, e nem eu nem St. John conseguimos descobrir o nome do comprador. Tememos que ela está prestes a ser vítima de uma fraude. Sigilo muitas vezes é exigido em tais casos, e sobre esta transação, ela não vai revelar nada.
— Talvez seja porque ela não acha que você tem o direito de exigir os detalhes, assim como Farthingstone também não.
— Não, mas você tem, não importa o que os termos particulares deste casamento sejam. Sugeri que ela anotasse os fatos, selasse a carta e permitisse que eu os levasse até você. Ela se recusou. Não é nem nunca será da sua conta, ela disse.
A sua resposta não chocou Dante. No entanto, ouvir isso, explicado sem rodeios, fez fortemente claro, o que Fleur queria dizer quando ela propôs. A sua ira recuou enquanto ele absorvia as implicações. Vidas separadas, ela tinha dito. Não realmente casados. Ela quis dizer isso.
— Mais uma vez, devo aconselhá-lo a não concordar com este casamento — disse Hampton. ? Ele não usou a voz do advogado desta vez, mas a de amigo.
— Eu já concordei com isso, Julian.
— Ela não está em posição para reivindicar quebra de contrato. St. John vai pagar o que é devido a Thompson, e Laclere irá reembolsá-lo quando voltar.
— Quinze mil é uma soma grande, mesmo para o meu irmão.
— Eu estou em uma posição para saber que ele pode pagar. Só a renda da viscondessa pode cobri-lo.
— Então agora será a esposa do meu irmão a pagar a fiança?
— É uma solução alternativa para o seu dilema atual. Quanto à sua aceitação da proposta, posso cuidar disso.
Exceto que Dante não queria Hampton a cuidar disso, não mais do que ele queria depender de St. John e, em seguida, Laclere para pagar essa dívida. Ele não queria esta solução alternativa.
Ele percebeu que não queria isso, pela simples razão de que não queria deixar Fleur ficar mal.
Ela precisava de ajuda, o tinha procurado, e ele tinha concordado com o seu plano. Talvez ela fosse confusa, ou talvez ela fosse racional como um relógio. Em ambos os casos, ele tinha prometido protegê-la.
— Muito do que você descreve, é apenas a ação de uma mulher com bom coração que pode ser um pouco excêntrica ou excessivamente generosa, Hampton. Se ela diz que tem um conselheiro, tenho certeza que ela tem. Se esse conselheiro está se aproveitando dela, eu vou descobrir e lidar com ele.
— E se ela não se abrir com você? Pode chegar o dia em que ela exija a sua assinatura em documentos dos quais você não sabe nada, ou de que você não aprova. Este acordo pode significar que você, um dia, pode contribuir para um plano para fraudar ela.
— Eu não vou assinar nada que não tenha sido explicado corretamente, como financeiramente sólidos. Na hierarquia de honra, o meu dever de protegê-la vem em primeiro lugar. Não importa o nosso acordo, ela ainda vai ser a minha esposa e eu vou assumir a responsabilidade por ela.
— Você está determinado, então? Se assim for, tanto como seu amigo e advogado eu irei ajudá-lo, mesmo que ache que não seja sensato. Laclere pode querer a minha cabeça, mas isso é um problema para outro dia.
Dante teve que rir. – Quando o meu irmão voltar, vou explicar que você fez o seu melhor para me salvar e que, como sempre, eu sou uma vítima da minha própria imprudência.
Capítulo 5
Farthingstone soube das eminentes núpcias com uma velocidade surpreendente. Rápido o suficiente, para convencer o arcebispo a atrasar em dar a licença especial. Rápido o suficiente para solicitar uma reunião com o chanceler, Lorde Brougham, para que ele pudesse apresentar as suas alegações de que a condição emocional de Fleur Monley a faziam incapaz de assumir um contrato de casamento.
Três dias depois de Dante sair da prisão, Fleur encontrou-se com ele e Julian Hampton no jardim da casa de St. John, recebendo as más notícias.
— Não será uma audiência oficial, — Hampton explicou enquanto passeavam através das plantas despertando para a primavera. — Entretanto, Brougham está suficientemente preocupado, tanto que aconselhou o arcebispo a recusar a licença até que o assunto seja resolvido. Ele tem a certeza de que você vai concordar que é melhor não se casar até a Chancelaria poder avaliar as reivindicações de Farthingstone.
— Eu não concordo em absoluto — disse Fleur.
— Não é com o seu consentimento que ele conta, senhorita Monley, mas com o de Duclairc. Brougham está certo que nenhum homem iria querer que o mundo pensasse que ele se aproveitou da condição fraca de uma mulher.
— Eu não tenho uma condição, muito menos uma fraca.
Ela não estava convencida de que o Sr. Hampton acreditava nisso. Ele era tão enigmático que nunca se conseguia dizer qual era a sua própria opinião. Além disso, ela duvidava que ele tivesse lutado muito contra Gregory sobre isso. Ele não tinha aprovado o acordo privado e fez muitas perguntas impertinentes sobre os seus assuntos.
Dante pareceu menos do que perturbado por este desenvolvimento. Tanto que ela se perguntou se ele o agradeceu. — Quando Farthingstone vai ter a sua reunião? — Perguntou.
— Ele irá apresentar o seu argumento na sala do Alto Chanceler em uma quinzena. Senhorita Monley será convidada a participar. Vou recomendar um advogado para acompanhá-la.
Dante olhou para o Sr. Hampton muito diretamente. — Farthingstone conseguirá?
— Possivelmente. Devo dizer-lhe que, entre suas outras reivindicações, ele está usando sua escolha de marido como mais uma prova de que ela não pode fazer julgamentos adequados.
— Eu esperava que um marido resolvesse o problema, não piorasse — disse Fleur.
— Farthingstone diz que nenhuma mulher sensata se aliaria à reputação de Duclairc. Ele diz que nenhuma mulher responsável iria entregar uma fortuna para um homem que ela teve que socorrer da prisão de devedores. Claro, que ele não sabe do acordo privado, mas se o fizesse, seria apenas para piorar as coisas.
— Então, vou estar à mercê de Chancelaria, afinal de contas. – Irritava-a o fato de sua vida estar sendo interferida por todos esses homens que afirmavam ter o seu bem-estar em mente. Agora parecia que a tentativa de os impedir, apenas tinha acelerado a sua condenação.
Hampton parou para passar os dedos em alguns botões num arbusto. — Eu sou obrigado a aconselhá-la a aguardar a decisão da Chancelaria, é claro.
Dante ainda parecia despreocupado com toda a conversa. – Se nós triunfarmos nessa reunião, daqui a uma quinzena, isto vai acabar?
— Farthingstone ainda será capaz de trazer um relatório. Ele pode persistir em desafiar a sua competência para contrair um casamento, o que significa desafiar o próprio casamento. Tal situação seria longa e tediosa e muito cara, tal como essas coisas são. Além disso, se ela se casar, compromete a sua posição em todos os tipos de formas interessantes.
— Em outras palavras, obedecer ao Alto Chanceler beneficia-nos pouco e deixa Fleur muito vulnerável.
— Pode-se dizer isso.
— Obrigado, Hampton. Eu acho que a senhorita Monley e eu precisamos falar em particular agora.
Com um sorriso vago, Sr. Hampton virou-se e caminhou de volta para a casa. Fleur quase bateu o pé com frustração. — Eu acho que ele não é lá muito inteligente. Ele não nos ajudou muito.
— Ele ajudou enormemente.
— Eu não o ouvi dizer nada, exceto para esperar.
— Ele não podia dar conselhos para desobedecer ao Alto Chanceler, mas ele deu-me a entender que deveríamos. O caminho é claro, Fleur. Temos de fugir.
Dante havia aceitado, anos atrás, que se alguma vez se casasse, bem, seria na ponta de uma espada ou depois de uma fuga secreta. Uma família decente iria aceitá-lo, somente se a virtude da sua menina tivesse sido comprometida ou se confrontados com um fato consumado. Portanto, arrastar Fleur para a Escócia parecia o cumprimento do destino.
No dia seguinte, Fleur voltou para casa e, duas manhãs depois, a carruagem de aluguel parou em frente ao prédio onde Dante alugava os seus aposentos.
Ele se instalou, puxou as cortinas, e eles partiram.
— Eu acho que não devemos ir para Gretna Green — disse ele. — Qualquer lugar na Escócia serve. Quando estivermos fora da cidade eu vou instruir o seu cocheiro a ir para o norte em direção a Newcastle. Isso vai significar outro meio dia de viagem, mas com Farthingstone obrigado a dirigir para o oeste, se ele nos seguir, podemos viajar com calma.
— Vamos fazer da forma que você achar melhor, Dante.
Que coisa de esposa submissa para se dizer. Uma pontada de realidade aguda o atingiu. De esposa. Esposa. O resultado pretendido desta jornada de repente exigiu o reconhecimento a sangue frio. Não há volta agora. As velas foram desdobradas, a âncora foi levantada, e os ventos iriam levá-los para o porto de matrimônio. A viagem foi longa e tediosa. Mesmo com as conversas animadas e paradas relaxadas para as refeições, as horas pesavam muito. Dante lutou contra uma tendência periódica para comtemplar preguiçosamente, as maneiras deliciosas que ele podia passar a longa viagem sozinho com uma mulher, se a mulher fosse qualquer outra mulher, exceto Fleur Monley.
No segundo dia, ele ocasionalmente perdeu a batalha. Imagens eróticas ocupavam a sua cabeça. ... Tirando o vestido cinza simples e as anáguas... Sugando as pontas atrevidas dos seus seios redondos e pequenos... Segurando o seu traseiro macio nu enquanto ela se movia para cima e para baixo sobre ele, enquanto os seus joelhos delgados montavam os seus quadris e os dedos agarraram seus ombros em frenesi... Às vezes, ela o pegava olhando para ela durante esses devaneios. Com o seu sorriso caloroso e confiante ela o derrubava, e ele forçava uma expressão de solicitude e proteção em troca.
Ambas as noites ficaram em pousadas e retiravam-se para quartos separados. É claro que eles fizeram. No entanto, com outra mulher... Na segunda noite a pousada estava deserta. Deitou-se inquieto, imaginando a mulher do outro lado da parede, ouvindo os sons quando ela se virava no seu sono. Ele imaginou o corpo dela espalhado na cama, nua ao luar que entrava pela janela, acolhendo as suas mãos e boca, enquanto a noite arrefecia o suor da sua paixão.
A fantasia proibida deixou-o duro e com fome. Vestiu-se e saiu para uma longa caminhada sob o céu estrelado, a fim de quebrar o feitiço.
Lá se ia a ideia que a chama só queimava se ele acendesse a vela. Tinha sido insano ele concordar com isso. Ele devia encaminhar o cocheiro para Newcastle amanhã, despedir-se dela e saltar para um navio para o continente.
Ele parou debaixo de um carvalho e debateu essa opção. Seria uma violação vergonhosa de confiança, mas se explicasse... explicasse o quê? Que o libertino cansado se encontrou inesperadamente nervoso com a luxúria? Que ele não tinha controle suficiente para ver através dele e dar a ela a proteção que ela havia procurado com esse arranjo? Que mesmo quinze mil libras e três mil por ano não poderiam comprar um pouco de comedimento da parte dele?
A sua abstinência forçada por eventos recentes, provavelmente, tinha muito a ver com essa fome. De volta a Londres, ele iria encontrar a diversão necessária. Ele também deixaria de estar em constante proximidade com ela. Mesmo compartilhando uma casa, eles mal iam se ver um ao outro.
Ele voltou para o seu quarto convencido de que tinha as coisas na perspectiva adequada. A pequena chama que não morria, disse o contrário. Ele se atirou em sua cama, irritantemente consciente de que não queria uma mulher assim em muitos anos, e que a última vez que quis, levou ao desastre. Mas isso tinha sido com uma mulher má e Fleur era toda do bem. Ainda assim, seria melhor voltar para Londres e para fora da sua companhia constante, o mais rápido possível.
— Na nossa viagem de regresso poderíamos parar na minha propriedade em Durham? Passamos perto dela ontem, e não é muito longe da estrada principal. — Fleur fez o pedido à medida que a carruagem cruzava a fronteira nordeste com a Escócia. — Poderíamos ficar lá em casa, em vez de uma pousada.
— Como você preferir — disse Dante. — Você pretende pedir a minha permissão sobre essas pequenas coisas agora? Será uma pretensão absurda, já que não terei autoridade nas grandes.
A sua noite irrequieta o tinha deixado grosseiro, e sua presença renovada só tinha feito aquela maldita chama queimar mais quente.
Ele viu a sua reação de surpresa e lamentou o seu tom. Lá estava ela, inocentemente sentada, vestida com o seu vestido azul, com um xaile de seda lindo a drapejar sobre os ombros delicados. Ele tinha virado a sua frustração sobre ela como se fosse algum rapaz da escola excitado.
Ele percebeu que o xale era provavelmente novo. As luvas brancas pareciam novas também. O chapéu com o seu arco azul perto da sua têmpora direita, salientando o tom rosado das suas bochechas, era o mais elegante dos seus chapéus normais. Ela não tinha tido tempo para ter feito um vestido de casamento adequado, mas nos dois dias antes deles saírem, ela fez o que pôde para vestir-se com nova elegância.
Não seria um grande casamento, mas era tudo o que ela teria. Ele percebeu, que o seu pedido tinha sido a primeira coisa que ela tinha dito desde que entrou na carruagem, esta manhã. Ele percebeu agora a preocupação, brilhando por trás de sua compostura serena. Ela estava perturbada, assim como seria de esperar. Ele desistiu de quase nada com este casamento e ganhou consideravelmente. Ela era a única a correr todos os riscos.
Ele pegou a mão dela. — Claro que podemos parar e permanecer o tempo que você quiser. Mas hoje por que não podemos simplesmente ir para trás e ir para Newcastle e ficar no Versailles? É um dos melhores hotéis em Inglaterra, e contém todas as mais recentes conveniências.
— Isso parece divertido.
Ele segurou a mão dela como garantia até que eles entraram numa grande aldeia. Eles pararam em frente de uma igreja de pedra. Foi bem antes do meio-dia, e ele mandou o cocheiro encontrar o vigário e outra testemunha. Enquanto esperavam, passearam por uma rua de lojas e ele comprou uma rosa de estufa de uma florista. Ele a entregou a Fleur quando eles voltaram para a porta da igreja.
— Não vai ser a flor mais bonita presente. Você hoje parece ainda mais linda do que o habitual.
Ela corou e olhou para baixo, mordendo o lábio inferior.
— Você pode mudar de ideia. Eu vou entender — disse ele.
— Eu não quero mudar de ideia.
Novamente ele experimentou essa sensação de afiada realidade. A imensidão do que eles estavam prestes a fazer o pressionou.
Ele pegou nas mãos dela. – Lá dentro, nós vamos dizer os votos tradicionais, mas eu prometo a você agora, que vou cuidar de você e protege-la. Eu nunca vou levantar a mão para você e nunca vou, conscientemente, te machucar.
Ela olhou para cima. Os seus olhos umedeceram e o seu sorriso tremeu. — E eu vou cuidar de você e ser uma verdadeira amiga e companheira, e ficar ao seu lado nos tempos bons e maus, enquanto você me quiser ao seu lado.
Ele ofereceu o braço. — Pronta, então?
Ela respirou fundo. — Sim.
Eles caminharam no adro da igreja, enquanto esperavam pela carruagem.
— Casado — disse Dante. – Acostumar-me com a ideia vai exigir algum tempo.
— Certamente que vai.
— Você quer jantar antes de irmos?
Ele poderia ser um homem muito atencioso. Era um dos seus atrativos para as mulheres, ela suspeitava. Ele mostrava a mesma consideração quando fazia amor? Isso explicaria muito. Outros homens, igualmente bonitos não foram tão bem sucedidos.
— Eu não conseguiria comer agora. Talvez quando chegarmos a Newcastle.
Eles vaguearam pelo caminho do pequeno jardim. — Você provavelmente sempre pensou que se casasse, teria um grande casamento em St. Martin — disse ele.
— Eu nunca sonhei com isso. Este foi perfeito.
Tinha sido perfeito. Apenas os dois, trocando votos de amizade, numa pequena igreja de pedra num dia brilhante. A privacidade tranquila tinha mexido com as suas emoções. Ela olhou para as mãos dele e lembrou-se de como ele tinha segurado o seu rosto, no final. Mãos fortes e suaves. Ninguém mais existia, apenas os dois nesse momento. Os seus olhos escuros tinham tido uma luminosidade masculina que pareciam olhar em seu coração. Ela se sentiu tão ligada a ele, e sua alma ficado preenchida com o carinho honesto dos seus dois beijos. Um na sua testa, o outro nos seus lábios.
Ela se perguntou se ele beijava as suas amantes assim. Ela imaginou que aquele segundo beijo se aprofundava, e aquelas mão se mexiam. A estranha e apressada emoção que ela tinha conhecido no chalé, correu através dela seguida de um lamento pungente. Parecia que a sua natureza permitiria divagações indefinidas. A fantasia não representava nenhum perigo. A realidade iria deixa-la paralisada.
Ora bem. Ele não a queria desse jeito. Este casamento era lhe conveniente porque o deixava livre. Essa nuvem escura tinha surgido esta manhã, no caminho para a igreja. Sem dúvida, ele tinha contemplado as eventuais restrições aos seus prazeres, se ela não se comportasse como prometido.
Uma dor estranha espetou-a, com o pensamento daquelas mãos no rosto de outra mulher. Em breve, ela não tinha dúvida. Ela afastou o ciúme bobo. Ela não tinha direito a ele, e sucumbir só iria fazê-la ridícula. Ainda assim, ela tinha experimentado algo naquela igreja, que ela não esperava. Ela tinha sentido um gostinho daquilo que algumas outras mulheres conheciam no dia do casamento. Ela sentiu um vislumbre da intimidade consumada que a verdadeira união de dois corações e corpos poderia criar. Ela suspeitava que iria recordar a doce memória desse momento por um tempo muito longo.
Quando chegaram a Newcastle, tomaram um almoço tardio no elegante restaurante do Versailles. Enquanto Fleur mordia a carne fria, ela não parava de olhar, com curiosidade, pelo ombro de Dante.
— Será que aquele homem de cabelo escuro acolá, te conhece? — Ela perguntou. – Ele está sempre a olhar na nossa direção.
Dante virou, para ver um homem da sua idade, lendo um jornal enquanto procurava num prato de bolos. — Esse é Ewan McLean. Nós andávamos juntos na universidade. A sua propriedade fica a norte de Berwick.
— Porque é que ele não cumprimentou você?
Dante sabia o porquê. – Dê-me licença, enquanto eu vou falar com ele.
Ele se aproximou e sentou-se na mesa do seu amigo. — Você me está dando um corte, McLean?
Os olhos negros de McLean brilharam. — Só estou tentando ser discreto, Duclairc. Se você veio de tão longe até ao norte, presumo que a senhora não queira ser reconhecida.
— Não discreto o suficiente. Ela notou que você reparou.
O rosto de McLean abriu um sorriso maroto. — Muito amável. Ela parece familiar, mas não sei de onde.
—Fleur Monley.
O sorriso caiu de espanto. Ele olhou para Fleur mais obviamente. — Não. Diabos me levem. Seu malandro. Se forem descobertos será a sua ruína. Eu deveria censurá-lo por corromper uma inocente, mas ao invés disso, sou movido em admirar a sua audácia.
— Senhorita Monley e eu acabamos de nos casar.
McLean exibiu choque genuíno. — Você está brincando. Você não tem jeito para se casar, e você sabe muito bem isso. Nós simplesmente não somos do tipo, Duclairc. Sem mencionar que se você amarrou o nó, as minhas visitas a Londres prometem ser consideravelmente mais maçantes. Eu tinha planejado uma para daqui a uma semana, mas se você foi domesticado, não há nenhuma razão para ir.
— Os seus sinceros parabéns me comoveram.
— Me perdoe. É claro que estou muito feliz por você. Ela é um bom partido e eu só desejo a sua felicidade. Você deve desculpar-me, se eu ver isto em termos simbólicos que não augura nada de bom para mim, no entanto. É um daqueles momentos decisivos da história, como os Vândalos1 conquistarem Roma. Uma Era de prazer está terminando diante dos meus olhos.
— Bem, componha-se e venha conhecê-la. Você é o primeiro a saber, a propósito.
— Você fugiu? Pergunta estúpida. Claro que você fugiu. Mesmo as mulheres independentes têm alguém olhando por elas que, os como você e eu, teríamos que esquivar.
Ele trouxe McLean até Fleur e apresentou-os. O Escocês mostrou mais tato ao felicitá-la.
— Você está no caminho de volta para Londres? — Perguntou McLean, acomodando-se em uma poltrona sobressalente espalhando os seus bolos. Ele ofereceu um a Fleur.
— Nós tínhamos planejado passar a noite aqui no Versailles primeiro — explicou Dante. — No entanto eles estão cheios, por isso vamos procurar outro hotel.
— Eu diria que é improvável. Você não percebeu como a cidade está cheia? Um enorme casamento será realizado amanhã. A união de duas grandes famílias do carvão. Todo o mundo a norte do país, veio. Duvido que você vai encontrar um estábulo, com espaço para colocar sua cabeça esta noite.
— Eu suponho que poderíamos aguentar até que estejamos fora da cidade — disse Dante. — Você poderia lidar com isso, Fleur? Você tem estado numa carruagem há três dias e eu sei que você deve estar cansada.
McLean tinha estado ocupado alimentando a sua gulodice. — Tenho uma ideia melhor. Por acaso, eu não fui convidado para este grande casamento, dado que fui descoberto numa situação comprometedora com irmã da noiva. — Ele se conteve e fez uma careta para Fleur — Me desculpe.
— Não é necessário, o Sr. McLean.
— Asseguro-lhe que foi apenas, muito ligeiramente, comprometedor. Mais como um mal-entendido.
— A sua ideia melhor — disse Dante.
— Eu mantenho uma suíte aqui. Serve como a minha casa em Newcastle. Porque não eu vou embora, e vocês dois podem fazer uso dela? Eu tinha planejado partir amanhã de qualquer maneira.
Fleur parecia receptiva à sugestão. Dante disparou a McLean um olhar significativo. – Estes quartos são semelhantes aos que você tem em Londres?
— Muito mais elegantes. Você vai encontrá-los aceitáveis, eu acho. – Ele, tardiamente, entendeu o verdadeiro significado da pergunta. — Oh. Você quer dizer... Ele olhou para Fleur. — De modo nenhum. Na sua grande parte, estes são muito tradicionais na sua decoração. E a biblioteca, apesar de pequena, é quase inteiramente composta pelos previsíveis clássicos.
Dante permaneceu cético em relação à maior parte e quase inteiramente. — Os quartos de McLean em Londres continham um parque de jogos sexuais. E a biblioteca. . .
— Você não vai ficar constrangido, Duclairc — McLean murmurou enquanto Fleur estava distraída por um criado. — Nem a sua noiva ficará chocada.
— Eu preferiria atrasar mais viagens até amanhã, se pudéssemos — disse Fleur a sua atenção voltando — Se não o incomodar, Sr. McLean.
— Inconveniência nenhuma. Estou contente por poder ajudar. — Ele se levantou. — Eu mando os servos o prepararem para vocês. Tudo deve estar pronto num par de horas. Duclairc, eu vou informar você quando eu estiver novamente em Londres. Talvez nos encontremos. — Ele se despediu.
— Que homem tão prestativo — disse Fleur — Ele é um bom amigo?
— Sim.
— Ele parecia um pouco triste quando saiu. Ele acha que você vai ter que repudiar os seus amigos de solteiro, agora que você amarrou o nó, não é?
— É muitas vezes o caso.
— Ele vai ficar aliviado em saber que não é o seu caso.
A sua indiferença a isso, inexplicavelmente o irritou. É claro que ela seria indiferente. Ele queria que ela fosse. Ele certamente não queria ela ressentida e exigente. Isso iria transformar este casamento branco, numa farsa digna da ópera mais baixa. Ele sabia porque estava reagindo assim. A pequena cerimônia na igreja de pedra o tinha comovido de forma inesperada. Ela o tinha deixado, tanto surpreendentemente feliz como estranhamente melancólico. Tinha sido a parte mais profunda dele, uma parte que preferiu ignorar, que tinha experimentado o último sentimento. Comovia-o novamente nesse mesmo instante.
— Você já terminou? — Perguntou. — Se sim, porque não damos uma volta e vemos a cidade velha.
A sua bela esposa limpou o último bocado do bolo de McLean dos seus lábios adoráveis e estendeu a sua pequena e feminina mão para ele.
A equipa do Versailles estava esperando por eles. Quando eles chegaram ao anoitecer, foram levados para a suíte de McLean. Dante rapidamente examinou-a completamente, enquanto Fleur foi tirar o chapéu no quarto de dormir. O único quarto de dormir, ele descobriu.
Ele parou no meio da sala de estar e examinou o mobiliário delicado colocado em torno dele. Em Londres, a sala de estar de McLean estava cheia de chaise longues macias e divãs profundos. Cada assento convidava a conforto esparramado e providenciava a conveniência para a sedução.
Ele ficaria feliz, no momento, em trocar esta sala por uma da de Londres. Ele iria encontrar uma maneira de explicar o balanço pendurado no teto, se isso significasse ter uma boa noite de sono.
— Oh, meu, isso é incrível — exclamou voz distante de Fleur.
Ele seguiu o som através do quarto até ao quarto de vestir e um banheiro com azulejos.
— Olha. — Fleur inclinou-se numa grande banheira em forma de sapato e virou uma alça na parede acima dela. — Sai quente. Eles devem aquecê-la no telhado antes de enviá-la através dos tubos. Que novidade. Vou ter que usá-la.
Ela o deixou. Ele olhou para a engenhoca e imaginou uma Fleur nua, lisa com a água, reclinada na mesma.
— Oh, meu Deus — ele a ouviu dizer novamente.
Desta vez, ele a encontrou no quarto, segurando uma vela alta e olhando para cima sob as cortinas. — Que inteligente.
Dante caminhou até a cama vermelha, coberto de cetim. Luxuosa. Enorme. Ele espiou sob o dossel para ver o que fascinou Fleur. Um grande espelho pendurado diretamente sobre a cama e sob as cortinas, suspenso em fios rígidos.
— Você acha que esta é outra das novas conveniências do hotel? — Perguntou Fleur.
— O mais provável é que McLean tenha adicionado ele mesmo.
Ela moveu a vela ao redor. Ela não parecia muito chocada. — Ele é um homem muito inventivo.
— Ele orgulha-se disso.
— Olha como ele reflete a luz desta vela e a faz crescer. Por que, se você acender várias você pode ler toda a noite quase como se fosse dia. Sr. McLean deve ser dedicado aos livros para inventar tal brilhante solução.
— Na sua própria área de investigação, o homem é um renomado estudioso.
Os seus olhares se encontraram em toda a extensão brilhante da cama de cetim. Ela congelou, como se de repente percebesse onde eles estavam. Ou como se ela tivesse lido em seus olhos, as imagens refletidas dos jogos amorosos brincando através de seu cérebro.
— Vamos para a sala de estar e beber um pouco de vinho — disse ele. — McLean providenciou para que algum fosse entregue.
Ela caminhou ao redor da maravilhosa cama. Na sala de estar, ela empoleirou-se numa cadeira pequena. — Foi simpático do seu amigo em fazer isto por nós. Estou mais cansada do que pensava. Estes quartos são perfeitamente bonitos.
— Perfeitamente bonitos, talvez, mas não perfeitamente convenientes, apesar da água quente canalizada. Há apenas um quarto.
Ela direcionou uma pergunta afiada para a porta do outro lado da sala.
Ele balançou a sua cabeça. — Um escritório.
Ele entregou-lhe uma taça de prata de vinho, percebendo tardiamente que continha imagens em relevo de sátiros envolvidos com ninfas. Ela não percebeu. Ela estava examinando os frágeis móveis da sala. — Eu suponho que não haja um divã no escritório?
— Lamento, mas não. Vou pegar em alguns cobertores e tornar-me confortável no tapete aqui fora.
Ela olhou para baixo, para o seu vinho. — Não é realmente necessário você dormir no chão. Você poderia usar a cama também.
Levou uma contagem até cinco, para ele absorver o que ela tinha dito. — Desculpe-me?
Um rubor profundo subiu no seu pescoço. — É uma grande cama, e estamos ambos muito cansados e vamos enfrentar uma longa viagem. Será um pouco estranho, eu admito, mas penso que, ao longo dos anos, esta situação irá ocorrer novamente. Quando visitarmos as pessoas, por exemplo. — O seu corpo anunciou imediatamente que compartilhar a cama com ela seria um erro. A própria ideia o tinha endurecido. Sanidade exigia que ele se contentasse com o tapete.
No entanto, a noção de dormir com ela, mesmo que castamente, o atraia com um apelo inesperado. Ele não conseguia explicar por que ele queria que essa intimidade, mas ele queria. E apenas talvez. . .
— Você está certa? Eu não quero que você tenha medo ou vergonha.
— Você nunca me assustou. Eu confio em você completamente.
Tanto para, apenas talvez. Ele preferiria que ela não confiasse nele. Não havia nenhuma razão para isso, e era um maldito inconveniente que ela o fizesse.
— Isso é muito atencioso da sua parte. Vamos encontrar um servo para ajudá-la com aquele banho. Vou esperar até que você esteja dormindo para voltar.
— Isso é muito atencioso.
Ela se levantou e desapareceu no quarto de dormir. Quando um servo veio até a porta, Dante pediu por uma serva. Ele andou pela sala de estar até que ela chegou e entrou para ajudar Fleur. Logo os sons de respingos de água flutuaram através da suíte. Imagens da sua mulher a lavar o seu corpo enrolaram na sua mente, derrotando as tentativas de permanecer distraído.
Ele de bom grado iria banhá-la ele próprio. E depois levantá-la da água morna e secá-la com a toalha macia, levá-la para a cama de cetim e tomá-la lentamente sob a luz difundida daquele grande espelho... Os sons da água pararam. A serva saiu, fez uma reverência e partiu. Depois de algum movimento, o dormitório ficou em silêncio. Olhou para o relógio de bolso. Ele iria esperar uma sólida meia hora. Isso deveria chegar.
Ele entrou no escritório e examinou a biblioteca de McLean. Quase inteiramente composta com os previsíveis clássicos, mas não completamente. Ele espiou o maior prêmio do seu amigo, a cópia sobrevivente de I Modi, a série de gravuras eróticas do artista renascentista Raimondi. Ele folheou pelas imagens gráficas de posições sexuais. Todas as quais, estavam fora de questão esta noite. Muito bem. Alterar essa parte do acordo alteraria tudo, e ele certamente não queria isso.
A meia hora passou, ele entrou no quarto. Uma vela ardia sobre uma mesa ao lado da cama, e o espelho espalhou a sua luz dourada pálida, vagamente mostrando os cabelos de Fleur escorrendo sobre a colcha de cetim. Ela dormia de costas. Os seus cílios escuros e grossas pousados contra a sua bochecha.
Ele foi para o quarto de vestir e tirou as suas roupas e pôs a camisa de dormir que o seu criado recentemente recontratado, tinha sensivelmente, embalado. Tentando não a acordar, ele entrou calmamente na cama. Ele se deitou de costas e observou-a no espelho. Ela parecia tão calma e bonita. Ele nunca tinha visto o seu cabelo para baixo antes, fluía em ondas grossas sobre as mãos que estavam cruzadas em cima dos lençóis, sobre o seu estômago.
Os seus cílios piscaram e suas pálpebras se levantaram. Eles olharam um para o outro no espelho. A distância de um corpo, os separava na cama, e ambos estavam rigidamente deitados sob luz movente do espelho.
— Eu não queria te acordar.
— Eu não estava dormindo ainda. — Ela olhou para baixo. — Isto é um pouco estranho.
— Sim.
— Mas não de forma desagradável.
— Não, não de forma desagradável.
Ela olhou para ele de novo no espelho. — Obrigado por casar comigo.
Ele não tinha ideia do que dizer a isso. Ela fechou os olhos. A suas mãos apertadas relaxaram e caíram para os lados. Ele a sentiu ficar sonolenta, mas ela olhou para cima novamente. A sua testa franzida em uma carranca pensativa.
— Dante. Este espelho. Você não acha... É um pensamento escandaloso de se ter, mas pode ser que ele o colocou lá para que... — Um rubor aprofundou o brilho rosado das suas bochechas.
Ele estendeu a sua mão e deu uma palmadinha na dela. — O mais provável é que foi apenas para ajudá-lo na sua leitura.
A sua pequena mão virou sob a sua. Ele deixou a sua em cima, apreciando a sensação de palma na palma da mão. Ele freou o impulso de rolar em direção a ela e fazer a conexão de boca na boca e corpo no corpo. Havia um carinho puro e simples, no seu segurar de mãos, e ele gostou mais do que esperava, mas o seu sangue queria mais.
— Boa noite — ela murmurou sonolenta.
— Boa noite, linda flor.
Capítulo 6
? A minha tia Ophelia possuía esta propriedade, — Fleur explicou enquanto a carruagem seguia uma pequena alameda através das terras agrícolas de Durham. Ao longe, atrás deles uma carruagem lenta e pesada, transportava alguns servos que ela tinha contratado na aldeia vizinha.
— O marido dela tinha morrido na guerra, e a sua irmã tinha desaparecido, então ela fez da minha mãe, a sua meia-irmã, a sua única herdeira. Herdei-a através da minha mãe.
— Você tem uma tia que desapareceu?
— Tia Peg não estava mentalmente bem. Ela foi sempre infantil. A Tia Ophelia a pôs a viver numa pequena casa que podia ser vista da casa principal, com uma serva que tomava conta dela. Então um dia ela se afastou por conta própria e não voltou.
Ela estava falando demais, tentando preencher o silêncio. Dante tinha estado muito quieto nesta manhã, como se compartilhar a cama o tivesse deixado desconfortável com ela. A sua maneira tinha se afastado da amizade fácil de ontem.
— Ela nunca foi encontrada? — Disse.
— Gregory e os homens do condado procuraram por dias, mas sem sucesso. Dez anos mais tarde os ossos foram encontrados em uma ravina a milhas de distância. Ela deve ter caído e morrido lá.
— Farthingstone era amigo da sua tia? Foi assim que ele conheceu a sua mãe?
— Ele tem uma propriedade que limita a norte. Tia Ophelia o apresentou aos meus pais, nesta casa, anos atrás, e ele se tornou um assessor em questões financeiras. Depois o pai morreu, a minha mãe e eu passávamos a maior parte do verão aqui e ele e ela ficaram cada vez mais próximos.
O cocheiro os levou para uma impressionante casa de pedra cercada por árvores altas.
— Eu raramente venho aqui, mas deve estar apresentável — disse ela. — Há um casal que cuida dela.
Ela ficou aliviada ao ver que o Sr. e a Sra. Hil, a tivessem mantido muito apresentável. Dante passeavam pelas salas no primeiro andar.
— A casa de uma senhora — ele observou, correndo os dedos pelo tecido levemente axadrezado nas cadeiras da sala de estar. — Trata-se de uma grande propriedade?
— Não tão grande. A renda não é muito significativa.
Ela se perguntou porque disse isso, uma vez que não era verdade.
Ela percebeu que não queria que ele pensasse que as suas decisões sobre a disposição desta propriedade fossem confusas, da maneira que Gregory afirmava. Podia parecer dessa forma, se ela tivesse que explicar para ele. No entanto, uma vez que tudo tivesse organizado e trabalhado, ele iria ver a solidez do Grande Projeto e assinar qualquer documento necessário.
Quando os servos chegaram, ela enviou um para cima, para preparar dois quartos. Dois quartos, duas camas, duas vidas, que era o futuro deles a partir deste dia. A noção a fez um pouco triste. A noite de ontem a surpreendeu. Ela nunca tinha imaginado o conforto de estar deitada ao lado de um homem. Havia uma proximidade especial que ela nunca tinha imaginado que poderia existir.
Esta manhã, eles tinham ficado lá depois de ela acordar e perceber que ele estava alerta. Ela manteve os olhos fechados, querendo que durasse, sem se mover para que pudesse saborear o clima acolhedor um pouco mais. Lamentou que não fosse compartilhar isso de novo.
Depois de uma refeição ligeira eles deram um passeio a pé pela propriedade. O dia estava revigorante e uma agradável brisa movia as nuvens macias no céu azul profundo. Ela levou-o para uma colina a cerca de uma milha da casa, de onde se podia olhar sobre o terreno envolvente. Ela tropeçou no caminho para cima. Ele a segurou e suavemente varreu a grama das suas saias. Ela estava muito consciente da pressão discreta da sua mão, através das suas anáguas. Com qualquer outro homem seria impróprio, mas ele era o seu marido e amigo.
Ele tomou a sua mão para ajudá-la a subir o resto do caminho. A renovação do contato a aqueceu, e ela estava grata por ele não a ter soltado, quando chegaram ao cume. Lá, observaram o campo, de mão na mão, com uma a parceria semelhante à do dia anterior.
— Esse chalé lá em baixo é o lugar onde a tia Peg viveu — explicou ela, apontando para o leste. — Eu estou doando essa construção e dez acres circundantes para uma escola que será construída aqui.
Ela não sabia porque, impulsivamente, confidenciou esta parte essencial do Grande Projeto. Só sabia que se sentia impelida a compartilhar com ele.
— Eu pensei que você estava vendendo esta propriedade, não a doar.
— Eu vou vender algum do resto, para criar um fundo para a escola.
— O rendimento não pode ser tão pequeno, se pode suportar uma escola.
Agora ela se lembrou por que nunca falou disso. Explicações tinham uma maneira de conduzir a partes do projeto que ela não devia revelar, porque elas iriam soar um pouco loucas.
— A venda da terra só vai fornecer parte do fundo, é claro. — Era a verdade, mas ela não gostava de dissimulação.
— É afastado para uma escola. Eu pensei que as que você apoiava estavam nas cidades.
— Esta será especial, é para os filhos dos mineiros.
— Como é que os meninos chegarão aqui?
— Há uma cidade de carvão a cerca de três milhas a norte, e esperamos que alguns venham de lá. Outros vão viver aqui durante a semana e vão para casa aos domingos.
Ele pareceu interessado. —Poderão as suas famílias dar-se ao luxo de permitir isso? Não só o custo da escola, mas a perda dos salários dos meninos que não trabalham?
— Nós esperamos convencer as famílias dos benefícios de educar meninos com talento e vontade de aprender. Esta escola não irá apenas ensinar a religião como a maioria dos lugares para as classes mais baixas, mas coisas práticas como matemática e ciências. Quando os meninos crescerem serão capazes de gerenciar essas minas, e não apenas cavar dentro delas. Se as famílias forem pobres, a escola não vai cobrar nenhuma taxa.
— Nós?
— A Sociedade dos Amigos irá gerenciá-la. As suas escolas são muito respeitadas. Eles concordaram com as minhas ideias sobre o que deve ser ensinado.
Ele riu. — Estou certo de que eles vão incluir uma grande dose de religião, apesar de tudo. Eu aprovo, mesmo que não tenha resultado comigo.
Ela apertou a sua mão. — Você não é o diabo disfarçado.
Ele olhou diretamente para ela. Por um momento, ela experimentou novamente a conexão surpreendente que tinha conhecido na igreja. Ela ficou muito consciente do calor da sua palma e dedos rodeando os dela.
Ele desviou o olhar. — Você não sabe da missa a metade, Fleur. Seria um erro para você, esquecer quem eu sou. — Ele apontou para o norte. — É um dos edifícios da escola que está sendo construído ali?
Ela se levantou, na ponta dos pés, para ver a que é que ele se referia. Uma rocha debaixo do seu sapato a fez perder o equilíbrio. O braço dele a agarrou pela cintura para estabilizá-la.
— Não, isso é terra do Gregory. Ele deve ter uma nova casa a ser construída. A propriedade da nossa escola vai parar bem aqui embaixo, no campo além da sebe, onde esses homens estão cultivando. Eu dei permissão para um inquilino usar a terra e o chalé até que se comece a construir.
Ela pousou os pés no chão. O braço dele ficou em torno dela. Essa emoção corrente vibrou. Ele inspecionou o campo e pareceu não saber que ainda a segurava.
— Diga-me onde você vai colocar os edifícios.
— O edifício principal vai substituir a casa de tia Peg porque já existe lá um poço. As dependências vão ficar lá e ali. — Ela apontou os locais e ele inclinou-se para seguir as direções do seu braço. Ele não pareceu notar na proximidade física deles.
Ela notou. Ele distraiu-a tanto que a sua voz falhou duas vezes. A emoção continuou crescendo, enchendo-a com uma euforia incrível. Ela esperou pelo medo congelante, temendo a sua inevitável reclamação sobre ela.
— Por que não colocar todos os edifícios mais perto da casa? — Sugeriu. — Então você teria muito espaço nas proximidades para um campo de jogo. Os meninos precisam fazer mais do que estudar.
Ela disse algo sobre ser uma boa ideia, mas ela mal se ouviu. O medo ainda não tinha levantado para matar a resposta física agora hipnotizando-a. A excitação despertou os seus sentidos. A brisa se sentia tão fresca contra a sua pele corada, e o dia parecia tão vividamente claro. A força de Dante, perto, mas ainda um pouco afastada, a chamou. O peso leve do seu braço em volta da cintura absorveu a sua atenção.
Ele ainda parecia suavemente alheio. Uma euforia boba a varreu, como se o sangue formigando através dos seus membros, tivesse subido rapidamente para a cabeça. Um sorriso tolo surgiu sem ela querer.
Ela tinha que parar com isso. Se não, ela iria se envergonhar a si mesma e insultá-lo, e ele nem sequer saberia porque isso aconteceu. Ela não queria que ele concluísse que tinha que ficar a dez passos de distância dela, para o resto das suas vidas. Obrigou-se a afastar-se, ainda tonta. O seu sorriso vago a fez se perguntar, se ele sabia o que estava acontecendo, mas tinha estado, educadamente, a ignora-lo.
— Venha, eu vou te mostrar uma pequena queda na próxima colina onde há uma pequena cachoeira — disse ela.
O descer foi mais difícil do que subir. Mais uma vez, a saia interferiu, e ela tropeçou. Desta vez, a sua mão chegou tarde demais. Ela começou a rolar.
Ela poderia ter parado, mas os seus sentidos intoxicados gostaram do giro vertiginoso. A lembrou, de quando era uma menina e tinha deliberadamente subido as colinas, apenas para que pudesse descer assim. Mais e mais ela rolou, rindo com prazer e emoção infantil, observando a grama, o céu, e uma cerca viva.
Ela parou no fundo, perto da cerca. Ela podia ouvir os agricultores que trabalhavam no outro lado do campo. Ela olhou para as montanhas brancas de nuvens enquanto prendia a respiração e saboreava uma gloriosa leveza de espírito. Uma sombra caiu sobre o seu rosto. Dante estava ao seu lado, olhando para baixo.
— Uma vida já passou, desde que eu fiz isso — disse ela, enquanto se levantava para se sentar. — Eu acho que vou incluir esta colina na propriedade da escola para os meninos poderem brincar nela.
Ele tirou o casaco e se sentou. Ele colocou o seu casaco atrás dela.
— Eles podem rolar pela colina e, em seguida, ficar aqui e descobrir animais nas nuvens. Os meus irmãos, irmãs e eu costumávamos fazer isso quando éramos crianças. — Ele esticou e apontou. — Veja, há um cão.
Ela inclinou a cabeça. — O seu nariz está errado. Mais de um gato.
— Nenhum gato tem uma cauda como aquela.
Ela caiu para trás, em seu casaco, e levantou o braço. — Aquela ali poderia ser um cavalo se tivesse mais três pernas.
— Vai ser um unicórnio em breve, se a brisa continuar a esticar a sua cabeça.
Eles jogaram o jogo de criança por um tempo, discutindo e rindo. Eles estavam lado a lado, colocados quase de idêntica forma, como eles tinha estado na cama, na noite passada. A forma fácil de Dante havia retornado, o que a encantou. Um dos agricultores tinha se aproximado da cerca. Ela podia ouvi-lo cantarolando.
— Eu vejo um urso nessa nuvem distante — disse ela.
— Eu vejo uma mulher.
— Tem que ser um animal, Dante.
— Eu vejo uma mulher. Uma mulher muito bonita, feliz e livre.
Ela virou a cabeça para encontra-lo erguido, no seu cotovelo, olhando não para o céu, mas para ela. A sua expressão enviou o seu sangue formigando novamente. O agricultor começou a cantar a canção que ele tinha cantarolado, a sua melodia baixa vagando na brisa.
Dante estendeu a mão e acariciou com as costas dos seus dedos, a sua bochecha. Sensações maravilhosas brilharam do seu toque. Nenhum medo parou o seu caminho.
— Uma linda mulher, de olhos brilhantes com a inocência de uma criança, rindo em melodias lacrimejantes.
Ela não conseguia tirar os olhos do seu belo rosto e olhos luminosos. Os olhos de um homem, olhando-a com intensidade de um homem. Esperando, sem dúvida, para ela dar sinal de que ele estava atravessando uma linha que tinham jurado não se aproximar.
Ela não podia dar-lhe. Ela não queria. O medo milagrosamente não tinha chegado e ela queria que ele olhasse para ela assim, da forma que um homem olha para uma mulher. Ela queria que ele a tocasse e desse a forma física para a conexão que sentia por ele.
Ele se levantou em seu braço e se inclinou sobre ela, a cabeça acima dela, bloqueando as nuvens. Expressão séria e olhos insondáveis, ele assistiu a sua mão descer suavemente e gentilmente rodear o seu pescoço. O seu polegar escovando uma linha ao longo da sua mandíbula e queixo antes dos seus dedos traçarem a pele na parte superior do vestido. A sua respiração ficou presa na força da sua reação à lenta e errante carícia. Ele olhou em seus olhos com um reconhecimento penetrante do que ele estava fazendo com ela.
— Eu vou te beijar, linda flor. Amigos fazem-no, não é?
Ela sabia que não seria um beijo de amigo. As profundidades dos seus olhos avisaram-na disso. Ela não sentiu medo algum, apenas antecipação pulsante. A única coisa que congelou foi o tempo. Foi um beijo maravilhoso, mais bonito do que ela tinha imaginado quando ela se permitia divagar. Caloroso, cuidadoso e comedido. Profundo o suficiente para falar das suas intenções, no entanto, longo o suficiente para fazer o seu corpo se excitar.
Ele olhou para ela enquanto acariciava o seu cabelo e rosto. Ele sabia exatamente o que ela estava passando, ela não tinha dúvida disso. Este era Dante Duclairc. Necessitaria de mais mundanismo, do que ela jamais possuiria, para esconder isso dele. Ele roçou beijos no seu rosto e pescoço. Hálito quente tintilou no seu ouvido. Ele acariciou delicadamente através da faixa do seu vestido, e a sensação da sua mão em seu estômago afetou todo o seu corpo.
— Se eu te assustar, você deve me dizer.
Ela assentiu, mas não iria acontecer. Não aqui, não agora. Ela só sabia disso, e a liberdade a encheu de uma felicidade indescritível. Não poderia haver espaço para o pavor frio quando tal prazer quente e carinho saturava cada polegada dela.
Mais beijos, construindo em demanda, puxou algo selvagem das suas profundezas. Carícias exploradoras, aprendendo o contorno do seu corpo, deixaram-na a tremer. Um poder fluiu dele, como se a sua masculinidade a quisesse dominar.
Sensações surpreendentes raiaram e tremeram, despertando desejos e anseios nas partes mais femininas dela. A sua consciência se estreitou, concentrando-se totalmente sobre esses sentimentos e no seu comando deles. Apenas a canção baixa do agricultor se intrometeu, lembrando-a de que eles não estavam sozinhos.
Ele também ouviu. Ele parou e olhou para a cerca. O seu olhar voltou e caiu em seus lábios. Com os toques mais suaves dos seus dedos, ele persuadiu-os a abrir. Ele abaixou a cabeça e corpo e reclamou-a num beijo mais íntimo e abraço. A pequena invasão a chocou por um instante, e depois um furacão varreu-a. Ela abraçou o homem contra o peito, enchendo os seus braços com ele.
Menos restrição agora. Beijos profundos, habilmente sedutores. Na sua boca. No seu ouvido. No seu pescoço. Arrastando para a pele exposta pela copa do seu corpete. Atormentando-a através do tecido de seu vestido até aos seios tencionarem com uma dor implorante que a deixou choramingando.
Talvez ele ouviu. Certamente ele entendeu. A sua carícia subiu para seu seio com um calor abrangente que a enviou girando. Aqueles dedos começaram a explorar. Prazer ansioso e uma fisicalidade esfomeada pulsavam pelo seu corpo, construindo um foco chocante de necessidade.
Ele subiu em cima dela. Os braços dela tiveram de se esticar para segurá-lo e ela puxou, querendo-o de volta. Ela podia ver em seu rosto e sentir em seu corpo que eles estavam juntos nessa paixão.
Ele olhou mais uma vez para a cobertura por trás da qual o agricultor invisivelmente trabalhava e cantava. Ele escutou por um tempo antes de voltar o seu olhar inflamando de volta para ela.
A sua mão deslizou sob as suas costas. — Não tenha medo. Vou certificar de que você não fique envergonhada. Mas eu quero ver-te. Eu não estive pensando em outra coisa durante todo o dia.
O corpete de seu vestido se soltou. Ele deslizou-o para baixo dos seus ombros, em seguida, puxou para baixo, a sua a camisa também.
A brisa arrepiou os seus seios nus. O calor contrastante da sua mão confortou-a e excitou-a. Ele olhou a sua caricia contornar as curvas dela. Ela nunca tinha imaginado que poderia querer algo tão ferozmente, como ela ansiava por aquele toque para continuar.
Ele continuou, de formas diabólicas e devastadoras. Os sons baixos do seu desejo enlouquecido encheram os seus ouvidos como um ritmo staccato contra o pulso mais profundo da sua respiração.
Ele deitou-se devagar sobre ela, até que o seu comprimento cobria metade do seu e a sua perna estava enterrada em sua saia, entre as suas coxas.
A cabeça dele virou-se e baixou. Cabelo castanho suave roçou o seu rosto. Ele beijou a plenitude do seu seio, e depois a ponta. Prazer insuportável disparou através dela. Ele lambeu e beliscou e puxou, tornando-o maravilhosamente pior. Ela agarrou-o com força, agarrando-se quando o absoluto abandono tomava conta dela. Não pensar ou se preocupar com nada, apenas as reações surpreendentes do seu corpo, ela apertou-se contra a sua perna, instintivamente, tentando aliviar a vaga coceira que a estava levando ao delírio.
Uma nova tensão esticou através dele. Moveu-se completamente para cima dela. — Abra as suas pernas, querida. — A instrução dada em voz baixa a atingiu e ela obedeceu. — Mais.
Ele se acomodou entre suas coxas abertas. As muitas camadas de roupa não poderiam obscurecer a conexão íntima dos seus corpos. Como uma devassa ela aproveitou para aceitar a pressão que proporcionava algum alívio.
Em seu torpor, ela sentiu o seu toque na sua perna. A essência dela se excitou com isso. Se ele não a cobrisse, ela teria arrancado as anáguas fora, tal a excitação em que se encontrava. Ele não precisava da sua ajuda. A sua mão acariciou a sua coxa nua, levantando a saia e anáguas enquanto subia.
Mesmo que seu corpo tenha dado as boas-vindas ao toque e o procurasse, algo da sua essência recuou. Uma única gota do velho medo caiu na sua euforia, criando ondas desconfortáveis de racionalidade. Ela encolheu-se contra a intrusão temida. Ele sentiu isso. Ele parou, e novamente essa tensão passou através dele. O agricultor gritou para alguém do outro lado do campo naquele momento. Dante olhou para o som e brevemente fechou os olhos, como se concentrasse a sua vontade em algo.
Ele rolou de cima dela e alisou a saia. — Você está certa. Perdoe-me por ter ido longe demais. Este não é o lugar.
Alívio encharcou-a. Em seguida, a consternou. Ela percebeu com um choque que tinha contado com isso. Mesmo quando ela se perdia na maravilhosa paixão, ela tinha assumido que ele nunca iria muito longe na grama atrás de uma sebe, enquanto um fazendeiro cantava e trabalhava nas proximidades.
Em segundos ele tinha o vestido preso novamente. Estendendo-se de costas, ele a puxou para ele em um abraço. A gota de medo tinha evaporado tão rapidamente como tinha chegado. Ela descansou feliz no círculo dos seus braços enquanto ambos mais uma vez olhavam para o céu. Ela olhou para as nuvens contra o azul vívido, pensando que era quase uma visão do céu que estava sentindo.
Talvez. Talvez . . .
Ela sabia que ele pretendia fazer amor com ela quando a noite caísse. Durante toda a tarde, era visível em seus olhos e no seu cuidado. Durante os seus passeios casuais e leves discussões, esse algo especial dele, brilhava incessantemente deixando-a tonta, desajeitada e excitada.
Ela nunca tinha imaginado que a atração mútua poderia criar uma união tão palpável e física. Ela se revelou nela, desfrutando de cada momento de antecipação, tanto como tinha saboreado o surpreendente prazer perto da cerca.
Mas depois, enquanto jantavam no terraço do jardim, mais uma gota do medo salpicou na sua euforia. Em seguida, outra e outra, até que uma leve garoa de desconfiança começou a arruinar a sua felicidade.
Ela olhou impotente para algumas flores brancas se transformando em fantasmas na luz tremente. Com toda a sua força de vontade, ela tentou controlar a torção horrível que queria agarrar o seu estômago. Um tremor de repulsa a sacudiu.
Por favor não. Agora não.
Dante aproximou-se através da pequena mesa e pegou na mão dela. — A brisa da noite está a arrefecê-la?
— Não. — Nem, por uma pausa abençoada, estava o medo. O calor na sua expressão reduziu o terror a algo pequeno e fraco. E, talvez, administrável.
Ele se levantou e pegou na mão dela. — De qualquer maneira, vamos para a biblioteca para que os servos possam terminar as suas funções.
Ela foi dentro do seu abraço para a biblioteca. A dança estava começando, na qual ele lideraria e ela só podia esperar ter a coragem de seguir.
Sentaram-se lado a lado num divã, folheando um volume de gravuras arqueológicos. A aguda consciência da sua proximidade obscureceu qualquer estudo real das imagens. Será que ele sentia isso também? Será que ele também sentia a outra coisa feia nela, plantada como uma videira asfixiante no fundo do seu ser, agora expulsando uma gavinha, para depois a lembrar do seu poder?
Não vai me subjugar. Eu não vou deixar.
A porta da biblioteca estava aberta e eles podiam ouvir os funcionários terminando o seu trabalho. Ela tomou conforto nesses barulhos domésticos. Eles ainda não estavam sozinhos. Mas estariam em breve.
Eu consigo fazer isto. Eu quero.
O silêncio desceu lentamente na casa. Saias sibilavam pela porta, à medida que as mulheres iam para os seus quartos no sótão. Uma delas esperaria por ela no andar de cima, para a ajudar a despir-se.
Dante pegou no grande volume do colo dela e o pôs de lado. Ele mexeu-se para encará-la, abraçando os seus ombros com o braço dele.
Um beijo. Um bonito, doce beijo. O medo secou sob a luz do afeto, mas não desapareceu.
Outro beijo. Mais profundo. A agitação do seu corpo quase fez o medo insignificante. Quase.
Por favor por favor . . .
Ele acariciou-lhe o rosto. Ele parecia tão bonito sob o brilho da vela. Belo, fascinante e perigoso.
— Eu quero dormir com você de novo hoje à noite, Fleur. Não como amigos desta vez, mas como marido e mulher. Não é o que concordamos, mas acho que podemos fazer um casamento real fora deste acordo. Eu gostaria de tentar.
A sua força cintilante fluiu para ela e, de repente, nada importava exceto senti-la para sempre. Os seus olhos luminosos a cativaram, como se ele visse dentro da sua alma. Alguma vez uma mulher o recusou? Algo nas profundezas dos seus olhos, disse que não, mas que ele pensava que ela poderia. Ela se congratulou por ter visto outra coisa também. Preocupação, como se a sua resposta importasse. Eu consigo fazer isso.
— Eu gostaria de tentar também.
— Isso me deixa muito feliz, querida. — Ele se levantou e estendeu a mão. — Sobe agora. A sua criada está esperando. Vou seguir em breve.
Pernas balançando e com o coração acelerado, ela subiu as escadas até ao seu quarto. A cada passo, a asfixiante videira expulsava outra gavinha letal.
A criada a ajudou a sair das suas roupas. Ela vestiu uma camisola de noite rosa e, nervosamente, passou os dedos pela sua fina seda. Ela a tinha mandado fazer anos atrás, antes de ficar na prateleira. Por que ela trouxe esta coisa rendada e boba nesta viagem? Para brincar ao jogo de criança de ser a noiva? Ou porque ela, secretamente esperava, que esta noite iria acontecer? Ela vestiu o seu robe a combinar para não se sentir muito tola.
Por favor por favor... A criada escovou o seu cabelo e depois a deixou sozinha no quarto. Sozinha e sem defesas contra si mesma. Como o inimigo monstruoso que era, o medo cresceu abruptamente com vingança cruel, apertando o seu coração e pondo a sua alma em pânico.
Imagens brutais voaram pôr a sua mente frenética. Imagens transparentes de agonia, sangue e desespero. Nenhum som as acompanhava. Os gritos eram silenciosos, formado por bocas torcidas numa forma inaudível.
Ela correu para a janela e a abriu para apanhar ar. Com mais determinação do que já tinha reunido antes, ela forçou algum controle sobre a sua inquietação. O pequeno canto de calma que ela reclamou, encheu instantaneamente de decepção angustiada.
Ele viria em breve. Ele iria entrar por aquela porta, e tudo o que ela poderia lhe dar era a sua rejeição ou a sua loucura. Era melhor se ela tivesse mantido a distância. Melhor não provar uma paixão que ela nunca poderia partilhar plenamente. Melhor nunca ter visto, o que a sua natureza deficiente a impediu de experimentar.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Os arrepios nada tinham a ver com a brisa da noite. O pânico tinha se recolhido, deixando apenas o medo doentio que escravizava o seu corpo. A porta se abriu e ela olhou por cima do ombro. Ele tinha tirado os seus casacos e colarinho. A sua camisa branca brilhava luminosamente como os seus olhos. O seu coração quebrou em pedaços. O medo não conhecia nenhuma misericórdia. Ele permitiu que ela desejasse. Apenas a proibia ter o que o desejo queria.
Ela tentou falar, mas as palavras não surgiram. Ele se aproximou dela e ela se virou para a janela aberta, para que ele não visse as lágrimas. Ele acariciou os seus ombros e braços e deu um beijo no seu pescoço.
O pânico aumentou. Todo o seu corpo involuntariamente endureceu. Ele parou. Nenhum deles se moveu pelo que pareceu uma eternidade. Ela nunca tinha conhecido tal humilhação antes. Ela tinha que dizer alguma coisa.
— Eu não posso fazer isto — ela sussurrou. — Eu pensei que poderia. Eu esperava...
— Você não tem que ter medo. Se lhe foram contadas histórias, quando menina, elas foram, provavelmente, muito exageradas. Eu não vou te machucar.
— Não é isso.
Ele estava atrás dela silenciosamente. Ela não tinha que vê-lo para saber que a borda escura tinha emergido. Ela não podia culpá-lo. Tinha sido insensível dela fazer isto com ele.
— Eu não entendo — disse ele.
— Nem eu. Eu gostaria de ser diferente. Normal. Eu nunca o desejei mais do que neste momento. Depois desta tarde, pensei que talvez poderia ser. Mas eu percebi que por detrás dessa cerca eu poderia estar livre, porque eu sabia que você não iria fazer amor comigo lá.
Ele deu um passo para trás com um suspiro profundo.
Ela encontrou a coragem de virar e encará-lo. — Por favor, não me odeie, Dante. Eu me odeio o suficiente.
— Eu não te odeio. Se é assim que deve ser, então eu o aceito como prometi que faria. Você foi honesta comigo.
— Não inteiramente. Esta tarde eu menti, sem querer. Para nós dois. Sinto muito.
Ele sorriu com tristeza. — Isto é provavelmente melhor para você, Fleur. Eu duvido que seria um bom marido, no sentido normal. Eventualmente, eu só faria você infeliz.
Talvez sim, mas ela teria trocado esse risco pela a chance de saber onde está amizade poderia ter levado. Ele caminhou até à porta. Foi sem dizer que eles não iriam dividir a cama hoje à noite. Ou nunca mais.
Ele começou a sair, mas parou. — Seria melhor voltar a Londres em breve. Gostaria de sair de manhã.
— Claro, Dante.
A porta se fechou atrás dele. O amaldiçoado, medo triunfante, libertou o seu aperto, deixando-a vazia e gasta. Ela caiu de joelhos ao lado da janela e gritou o seu desapontamento para si mesma.