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O PECADOR
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Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.


CONTINUA

Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.


CONTINUA

Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.


CONTINUA

Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.


CONTINUA

Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.


CONTINUA

Capítulo 7


Gregory Farthingstone, andou pelas ruas de uma cidade que despertava para um dia sem sol. Mal conseguindo ver no nevoeiro, seguiu em direção ao seu destino com passos largos.

Ele odiava pôr-se a pé antes do amanhecer para cumprir estes compromissos, para não mencionar ter que andar, para que ninguém soubesse para onde ele fora.

Na verdade, ele odiava todo este negócio. Odiava a preocupação e o subterfúgio. Detestava o vago pressentimento e a sensação de que avançava ao longo de um precipício. Principalmente, porém, ele se ressentia por jogar um jogo em que o outro tinha todas as melhores cartas.

Desceu por uma pequena travessa, em seguida apressou-se ao longo de um beco entre duas fileiras de bonitas casas. Entrando no jardim de uma, caminhou para as escadas que levavam até à porta traseira da cozinha. Como um maldito servo. Era assim que ele visitava esta casa. Não havia escolha. Dificilmente, ele queria ser visto. Ao mesmo tempo isso aumentava a sua irritação. Ele não precisava que fosse tão obviamente humilhante.

A cozinheira foi para cima como sempre ia, quando ele vinha. Ela não lhe prestou nenhuma atenção, enquanto ele se apressava através do seu território. A copeira sentou-se ao lado da lareira, atiçando o fogo. Presumivelmente, elas tinham recebido ordens para ignorá-lo, mas qualquer pessoa com alguns xelins, provavelmente conseguiriam soltar-lhes a língua.

Lá em cima, o mordomo esperava por ele. Enquanto seguia o mordomo até às escadas, ele observou mais uma vez os finos detalhes da casa. O seu proprietário tinha um gosto para o luxo que ultrapassava em muito o de Farthingstone. Ele próprio preferia um ambiente mais sóbrio, como convinha a um administrador de banco e a um homem com quem se podia contar. Ele não escolheria viver entre toda esta cor e textura, mesmo que pudesse pagar por elas.

Um ressentimento forte surgiu na sua mente, de qualquer das formas. Ele sabia muito bem como esses tapetes, cadeiras e pinturas foram comprados. Ele sabia tudo sobre o legado que os pagou. Ele encontrou o seu anfitrião em seu quarto, tomando café enquanto folheava um jornal. O homem ainda usava o seu robe e nem sequer se preocupou em vestir um casaco. Farthingstone se esqueceu de quem possuía as boas cartas. O valete serviu outra xícara do servidor de prata, a ofereceu a Farthingstone, depois saiu.

— Bem, este é um inferno de uma bagunça, Farthingstone — disse Hugh Siddel, batendo o jornal em cima da mesa que sustentava o serviço de café.

Farthingstone não precisa examinar o jornal para entender a referência. Ele reconheceu o aviso o casamento de Fleur e Dante Duclairc, a três metros de distância.

— Você disse que tinha sido tratado — acrescentou Siddel.

— E foi. Brougham instruiu-os claramente para esperar. Eu nunca pensei que fossem tão ousados.

— Se você não tivesse hesitado naquela noite, permitido que o sentimento interferisse

—O que você propôs era ilegal.

—E o que você pretendia não era? Pelo menos com o meu plano, ela teria sido controlada de forma permanente.

Farthingstone afastou-se. O seu coração acelerou desconfortavelmente. Os últimos meses tinham tomado um preço que ele não se preocupava em avaliar. A agitação do espírito causava palpitações em seu corpo, que não eram saudáveis. Ele tentou acalmar-se e enfrentou Siddel.

— Brougham vai ficar zangado por eles terem dado esse passo. Agora, ele estará receptivo em acelerar a minha petição. Uma vez que o tribunal a declare incapaz, a Igreja vai colocar o casamento de lado.

Siddel bufou de escárnio. — Duclairc irá certamente lutar com você. No momento em que tudo estiver resolvido, ele a terá deixado vender todos os bens que possui. Ele é o tipo que prefere dinheiro a terra. Mais fácil de desperdiçar. — Ele fez uma careta e penteou o cabelo escuro para trás com os dedos. — Aqueles malditos Duclairc. O envolvimento dela com Laclere, pelo menos fazia algum sentido, mas esta união com Dante é realmente uma loucura.

Farthingstone não tinha uma opinião elevada de Duclairc, mas ele tinha menos confiança do que Siddel, sobre Dante ser um tolo. Além disso, Duclairc poderia ter alguma afeição por Fleur. O próprio interesse de Siddel nela, sempre pareceu pouco saudável.

— Você vai ter que ser indiscreto, se você quer as coisas resolvidas rapidamente — disse Siddel. — Que fique conhecido que ela era estranha. Você provavelmente, deve afirmar que você viu isso na mãe dela também. Você terá que ter a opinião da sociedade a apoiá-lo. Isso tornará tudo mais fácil na Chancelaria.

O coração de Farthingstone deu um baque novamente. Fleur era uma coisa, mas Hyacinth era outra. Apesar de, dificilmente se ter casado por amor, ele ainda tinha alguma lealdade para com ela.

Ele olhou para o jornal. Ele não aceitava de bom grado fazer o que Siddel sugeria, mas provavelmente não havia escolha agora. Era culpa da própria Fleur. Se ela tivesse dado ouvidos à razão..., mas, não, ela nunca deu, e agora ela tinha ido e se casado com esse homem.

— Se eu conseguir ter o casamento anulado devido à sua incapacidade de fazer julgamentos prefeitos, ela não será capaz de se casar com mais ninguém, é claro. — Ele mencionou isso casualmente, mas ele queria ter certeza que as implicações não tinham sido esquecidas.

— Claro. Desde que você hesitou naquela noite, que agora o plano está fora de questão.

— Então estamos de acordo. Vou tentar corrigir esta situação lamentável. Vou encontrar uma solução para superar a complicação que este casamento cria.

— Eu certamente espero que sim, meu amigo. — Siddel se levantou e se dirigiu para seu quarto de vestir. — Afinal de contas, este problema é só seu e sempre foi. Eu sou apenas um observador interessado, que tem vindo a tentar ajudá-lo a sair do seu dilema.


Uma semana depois do seu casamento ter sido anunciado nos jornais de Londres, Dante entrou no salão de jogos no Gordon’s. Olhares de soslaio e um baixo zumbido seguiram o seu avanço através da sala cavernosa e cheia de fumo.

Ele se dirigiu a um grupo de jovens nas mesas no canto noroeste. Alguém tinha, anos atrás, apelidado o fluido grupo que se reunia lá de Younger Sons Company2. O nome se referia às diminutas expectativas de fortuna e casamento, causadas em grande parte, pela ordem dos seus nascimentos.

Esta era a primeira vez que ele os via, na sua maioria, desde da sua fuga abortada para França. Alguns anunciaram a sua aproximação alertando com socos os seus companheiros. Cada passo mais próximo, trouxe mais os olhos para ele. Ele sentou-se numa cadeira de uma mesa vingt-et-un onde McLean se sentava com Colin Burchard, o amável, de cabelos loiros, segundo filho do conde de Dincaster.

A três mesas de distância um jovem se levantou. Com cerimônia exagerada fez uma vênia para Dante. Em seguida, ele bateu o seu punho em cima da mesa numa série lenta de pancadas.

Outro se levantou e se juntou a ele. Em seguida, mais uma dúzia. Todos eles batiam em suas mesas ao mesmo tempo. Mesmo Colin e McLean ficaram de pé. Logo Dante encontrou-se no centro de uma estrondosa ovação.

O homem que tinha começado ergueu a taça. — Um brinde, senhores, para honrar a grandeza em nosso meio. Que todos nós possamos ser punidos por nossa devassidão e pecado da maneira que ele foi.

— Como você pode ver, eles ficaram tão impressionados como eu fiquei — McLean disse depois que todos voltaram para sua bebida e jogos de azar. — Nós nos gloriamos na admiração de que você, não só escapou à ruína, mas fê-lo ao se casar com a rica e bela Fleur Monley. Apenas o casamento do irmão de Burchard, Adrian com a Duquesa de Everdon supera este triunfo.

— O casamento do meu irmão é um casamento por amor — Colin disse defensivamente.

— Claro que é — disse McLean. — Como é o de Miss Monley com o nosso amigo aqui, tenho a certeza. Mais motivos para comemorar a sua boa fortuna. Estou muito contente de ver você de volta entre nós, Duclairc, e logo depois do seu casamento.

— A minha esposa não é apenas bonita, mas de temperamento doce. Ela não espera que eu fique a atendê-la por várias semanas, como se tivéssemos entrado num período de luto.

Ele não acrescentou que a sua única semana de união foi um exercício de polidez cuidada e tensa, aliviada somente pela distração de se instalar em casa de Fleur. A sua esposa não tinha parecido surpresa ou decepcionada ao vê-lo sair esta noite.

— Muito mente aberta — disse Colin.

— Não é — McLean disse calmamente. — Apesar do marido da mãe dela, poder não o ver dessa forma. Eu ouso dizer que ele vai encher os ouvidos de todos com uma interpretação diferente.

— Farthingstone? Será que ele está espalhando histórias?

— McLean está apenas a ser indiscreto, como de costume — disse Colin.

— O que é que o padrasto da minha esposa anda a dizer?

— Que você se tem aproveitado de uma mulher confusa, em quem você não tem nenhum interesse além da sua fortuna — disse McLean — Não me venha com esse grave olhar, Burchard. Se a cidade inteira está ouvindo isso, ele deve também, para que possa lidar com o homem.

— Farthingstone tem mostrado um interesse tenaz nos assuntos da minha esposa. No entanto, eu esperava fofocas cínicas dele e de outros.

— Ele tem dito —a verdadeira história—, como ele chama. Todo mundo sabe que ele foi até Lorde Chancellor Brougham sobre a condição dela e que vos foi dito para esperar pela Chancelaria antes de se casarem. Todo mundo sabe que Brougham está irritado com a fuga. Todo mundo sabe que ela comprou a sua saída de uma casa de devedores com quinze mil.

—Tenho a certeza de que Duclairc tem o prazer de saber que seu casamento é a fofoca de todos os clubes e salas de estar — disse Colin. — Você se superou na sua falta de tato, McLean.

—É para isso que os amigos servem.

Dante fez um gesto para as mesas em torno deles — Se todo mundo já ouviu as alegações de Farthingstone, esta recepção me surpreende.

— Os homens decentes supõem que você, convenientemente, encontrou a felicidade com uma mulher rica. Os canalhas estão tranquilizados em saber disso, perante uma oportunidade incrível você a agarrou, da mesma forma que teriam feito.

—Apesar do que qualquer um acredite, quero deixar bem claro que a minha mulher não está confusa.

— Claro que não. Qualquer um que o conheça não tem dificuldade para entender, porque uma completamente sã senhorita Monley, casaria com você. As mulheres são atraídas para você como o ferro para um ímã, e parece que até mesmo os anjos não estão imunes. Eu gostaria de saber o seu segredo. As melhores sempre fogem de mim.

—Você não sabe o que fazer com uma das melhores—disse Colin.

Nem eu, Pensou Dante. Ele tentou forçar a sua mente, para longe de pensamentos sobre a boa mulher a quem ele se encontrava, abruptamente e permanentemente, amarrado. Ela tinha sido graciosa e doce na última semana, enquanto reorganizava a sua casa para acomodar a sua intrusão.

Ela tinha entregue o escritório para ele. Ela tinha desistido do grande quarto ao lado do dela que ela usava como uma sala de estar privada, e o tinha remodelado para o novo dono da casa. Mobiliário masculino, escuro e texturas agora preenchiam esse espaço. Durante o dia os operários dias ainda pintavam a madeira.

Uma porta não tinha sido restaurada. A estreita porta branca que se interpunha entre o quarto de vestir de Fleur e o seu. Ela não a tinha fechado à chave. Ele tinha descoberto isso duas noites atrás, depois de uma noite tranquila de leitura em conjunto na biblioteca. Eles mal tinham falado durante essas horas, mas tinha sido surpreendentemente agradável ao mesmo tempo. Talvez isso tenha sucedido porque, olhar para essas páginas, lhes permitiu estar juntos sem olhar um para o outro.

Constrangimento ainda brilhava em sua expressão sempre que os seus olhos se encontravam. Ele suspeitava que tudo o que tentou esconder atrás de um bom humor forçado se refletia no seu próprio olhar. Lendo os livros, os tinha deixado baixar a guarda um pouco. Algo da velha amizade relaxada tinha retornado no amigável silêncio.

No entanto, uma guarda abaixada poderia ser perigosa. O tinha despojado da indiferença que a sua frustração e raiva tinham construído naquela noite em Durham depois que ele deixou o quarto dela. Tarde da noite, cru com desejo, ele se viu diante daquela provocante porta adjacente. A virada fácil da maçaneta implicava um nível de confiança que quase não era merecido, considerando as suas intenções. No entanto, tinha sido o suficiente para mandá-lo de volta para a sua cama sozinho, onde passou as horas seguintes fazendo amor com ela, em sua mente, de todas as formas imagináveis.

McLean interrompeu os seus pensamentos com uma cotovelada e um pormenor. — Parece que a sua chegada tem despertado o interesse de alguém fora do nosso notório círculo.

O olhar de Dante seguiu o gesto para onde Hugh Siddel estava, junto à mesa de roleta no centro da sala. Ele continuou olhando na direção de Dante com olhos escuros vidrados de muita bebida.

— É provável que o seu casamento recente o tenha provocado — disse Colin.

— Outro homem com um interesse peculiar no bem-estar da minha esposa.

— Peculiar apenas na persistência do interesse— disse Colin.

—O que você quer dizer com isso?

— Ele estava obcecado quando ela fez a sua aparição. Ele e eu éramos amigos naquela época, e eu raramente vi um homem tão apaixonado. Ele até parou de beber, enquanto a cortejou. Ele não aceitou bem quando ela inclinou o seu afeto para o seu irmão.

Dante resistiu procurando o caminho de Siddel novamente, mas ele podia sentir aqueles olhos líquidos brilhantes sobre ele. As memórias de Colin explicaram, pelo menos, a ira de Siddel em encontrar Fleur naquela casa de campo.

— Inferno, lá vem ele— McLean murmurou.

A sombra de Siddel ergueu-se sobre a mesa deles, como uma nuvem de tempestade.

— Duclairc, é bom ver você de novo. Meus parabéns pelo seu casamento. Fleur Monley, nada menos. Dizia-se que ela tinha decidido nunca se casar.

— Parece que o que se dizia estava errado.

— A nossa última reunião em Laclere Parque, revelou que muito mais do que isso, foi mal interpretado sobre ela.

Ele sorriu como um homem divertido com o seu próprio humor inteligente. Colin dirigiu-lhe um olhar de advertência que ele alegremente ignorou.

—A santidade, por exemplo. O mundo inteiro acreditou nela.

—A evidência da sua virtude fala por si.

—Nós dois sabemos que a evidência recente diz outra coisa. A sua aliança com você, por exemplo. Dificilmente a escolha de um santo. — Ele inclinou a cabeça em consideração zombadora. — A menos que os rumores estejam corretos, e ela está muito confusa para entender a sua própria mente. Mas, certamente, não. Isso faria de você um canalha insuportável.

— O que faria de mim uma excelente companhia para você. No entanto, garanto-lhe que a sua mente está mais objetiva nos seus julgamentos, do que a sua tem estado em anos.

— Então ficamos com um mal-entendido sobre o seu caráter. A mulher que todos nós pensávamos que ela fosse, dificilmente concordaria em se casar com você, se ela estivesse em seu juízo perfeito. Será que o seu irmão descobriu a verdade sobre ela? É por isso que ele a deixou? Como todos nós sabemos ele nunca foi o paradigma que fingiu ser, eu diria que foi mais provável que ele a tivesse iniciado antes de a deixar...

— Mais uma palavra e eu vou te matar. — Ele ficara furioso antes que percebesse, uma resposta reflexiva aos insultos arremessados a Fleur. A frieza frágil da sua voz revelou a fúria gelada que o tinha agarrado. Ele quis dizer que o que tinha acabado de dizer. Se Siddel pronunciasse mais uma palavra sobre Fleur, ele o mataria.

McLean falou calmamente. — Siddel, quando você está apenas meio bêbado, por vezes, você é meio divertido, mas você não está nenhum dos dois esta noite. Finja que tem algum juízo e saia antes que eu entregue a Duclairc a pistola que tenho sob o meu casaco e o deixe cumprir a sua promessa.

Siddel se manteve firme. Um sorriso rosnado distorcia o seu rosto. — Eu ouvi um desafio?

—Você ouviu uma advertência — disse Dante.

—Ah. Claro. Não um desafio. Você não os emite, não é? Você deixa o seu irmão lutar os seus duelos por você.

Algo estalou. Ressentimentos e agonias rugiram do tempo passado. Calor branco deflagrou, queimando o gelo e obliterando o pensamento. Dante se levantou e agarrou o colarinho de Siddel. No instante seguinte, ele bateu com o punho naquele rosto sorridente. Siddel voou. O seu corpo inteiro foi catapultado para trás por cima de uma mesa de jogo. Dados saltaram, copos foram derrubados e os jogadores amaldiçoaram com espanto quando ele caiu como um peso morto, espalhado inconsciente no meio do jogo.

Um curioso silêncio espalhou-se do canto para todo o salão. Manteve-se por alguns momentos enquanto as cabeças se inclinavam para ver melhor, em seguida todos se voltaram calmamente para os seus jogos. Os homens, cujo jogo tinha sido interrompido, apenas se mudaram para outra mesa.

McLean foi examinar os danos. Ele caminhou de volta, sentou-se e acendeu um charuto.

— Inconsciente. Eu não vi você fazer isso, desde que estávamos em Oxford. E eu aqui a pensar que o seu casamento o podia tornar numa companhia maçante.

Dante fez uma careta para os seus dedos. — Ele estava quase inconsciente quando caminhou até aqui.

— Os diabos que ele estava. Isso é que foi um golpe. Ele certamente merecia, embora — disse Colin. Ele olhou para o corpo. — Eu acho que vou procurar alguns dos rapazes do Gordon para o colocarem em sua carruagem.

Colin foi à procura de ajuda.

McLean olhou para o seu relógio de bolso. — Eu também tenho que ir embora em breve. Tenho um compromisso com Liza, e a sua atuação está quase no fim. — Ele sorriu maliciosamente. — A quão generosa é a sua esposa? Liza tem uma nova amiga ruiva, que é de tirar o fôlego.

Dante imaginou os confortáveis quartos de McLean com o seu mobiliário macio e acolhedor. Ele imaginou algumas horas tomando o seu prazer com a amiga de tirar o fôlego. Ele pensou sobre o calor e o prometido alívio se ele acompanhasse McLean, e se lembrou da cama de pregos e a maldita porta branca esperando em casa, se ele não o fizesse.

— Não tão generosa. Estamos recém-casados

— Claro — McLean disse gravemente. Um brilho nos seus olhos indicou que ele não tinha perdido a possibilidade de um segundo convite.

Colin voltou com três homens rudes. Eles seguiram para transportar Siddel.

McLean assistiu com diversão. —Não é da minha conta, mas era apenas Siddel sendo Siddel.

— Eu perdi a calma. Isso acontece com todos nós.

— Raramente com você. — Ele casualmente sacudiu o seu charuto. —O que ele quis dizer? Logo antes de você o acertar? Essa observação sobre o seu irmão lutar os seus duelos.

—Eu não faço ideia.

McLean pôs-se a pé. — Tenho que ir. Eu quase odeio ter que ir ao meu encontro. Você provavelmente vai começar uma briga de rua e vou perdê-la. Você tem a certeza que não vai me acompanhar?

—Eu vou me juntar a alguns dos outros aqui.

McLean saiu, e Dante levou o seu vinho até aos lábios. Ao passar pelo local onde Siddel recentemente tinha estado, ele sentiu novamente os ossos do homem sob os seus dedos.

Ele gostaria de dizer que foram as insinuações sobre Fleur que o tinham provocado, mas esses só o tinham preparado. Foi a observação sobre o seu irmão, lutando os seus duelos, que fizeram a sua mente ficar ir branca e o seu punho voar.

Ele tinha reagido tão fortemente porque Siddel estava certo. Anos atrás, o seu irmão Vergil de fato lutou um duelo que ele deveria ter lutado. Apenas algumas pessoas sabiam sobre isso, e nenhuma delas, jamais tinham revelado os detalhes desse dia frio na costa francesa. Ou então, foi o que ele sempre pensou.


Fleur olhou para a carta que estava escrevendo. As palavras se transformaram em manchas quando a sua a visão turvou. Ela esfregou os olhos e escrevinhou outra frase. Ela deveria estar na cama, mas já tinha tentado dormir, sem sucesso.

Ela fez uma pausa e olhou ao redor da sua nova e atafulhada sala de estar. Um sofá amarelo damasco quase bloqueava a sua escrivaninha e a cadeira verde-maçã perto da lareira mal cabia. Ela teria que armazenar alguns dos móveis. Este quarto, tinha apenas metade do tamanho daquele que tinha dado a Dante.

Ela retornou à sua carta. A consternava que não tivesse sido capaz de se concentrar nessa missiva a respeito de seu Grande Projeto. Estes planos animavam-na há dois anos. Ela tinha retornado de França para completá-los e tinha escapado de Gregory para segui-los. Naquela noite, porém, ela realmente se ressentia do papel que desempenhavam na sua vida.

Ela se surpreendeu pensado que tais planos eram um triste substituto da verdadeira vida. O Grande Projeto parecia apenas mais uma boa ação da desinteressante e virtuosa Fleur Monley. Pior, estes planos não tinham feito nada para distraí-la das especulações sobre Dante que tinham interferido com o seu sono.

Ele ainda não tinha retornado. Ela tinha passado as últimas horas tentando não imaginar onde ele estava. Não, isso não era verdade. Ela realmente estava tentando não pensar, com quem ele estava. Uma mulher, provavelmente. Talvez não. Muito provavelmente. Quase definitivamente.

Claro que ele estava. A única coisa surpreendente, era que ele tinha esperado tanto tempo. Ela esperava que ele desaparecesse, na primeira noite de volta a Londres. Ele a surpreendeu, ao ficar em casa deles, por uma semana. Ele tinha feito isso por causa dela, para que as pessoas não falassem.

Tinha sido difícil para ambos. A nova intimidade de compartilhar esta casa, só tinha lembrado a ela, e provavelmente a ele também, de outra intimidade que ela tinha terminado. A última semana tinha ensinado, que viver com ele, ia ser muito difícil. Especialmente em noites como esta.

Esperançosamente, com o tempo, ela não se importaria. Eventualmente, ela mal notaria a sua saída. Logo, certamente, ela não se encheria de admiração quando ele descesse do quarto, distintamente vestido, perigosamente bonito como um anjo negro, essa característica cintilante em torno dele como uma auréola invisível. Talvez, da próxima vez, o seu coração não iria cair como um peso de chumbo, quando percebesse, que ele estava indo, finalmente, encontrar o seu prazer noutro lugar.

Ela não tinha sido capaz de se mover depois que ele saiu. Ela apenas ficou lá, lutando contra a dor pungente, tentando racionalizar, afastando o desapontamento, sabendo que estava reagindo estupidamente. Era a troca. O que ela esperava? Nada realmente. Nada mesmo. Apenas, tal não impedia de ter esta horrível sensação.

Ela provavelmente poderia dormir agora. As horas a combater o ciúme, a tinham esgotado. Injustificado, ridículo ciúme. Ela repreendeu-se novamente. Esta era a vida que a sua natureza lhe dera. Era melhor ela se controlar, ou seria um longo inferno. Enquanto ela fechava a secretária, uma imagem indesejada passou pela sua mente. O rosto de Dante, acima dela, olhando para baixo, enquanto acariciava o seu corpo à luz do sol por trás da cerca, baixando-se para a beijar, dessa forma exploratória.

Ela começou a se levantar, mas um som a parou. Passos estavam subindo na escada. Devia ser Dante, porque o resto da casa estava dormindo. Através da sua porta fechada, ela ouviu as botas dele enquanto se aproximava do seu quarto. De repente elas pararam. Ela prendeu a respiração, esperando que ele não notasse a saída de luz desta sala.

As botas soaram novamente, vindo em sua direção. Ela desejou poder voar através da parede para a sua cama, mas a porta que ela planejava abrir, entre as duas salas, ainda não tinha sido construída.

Ela rapidamente se sentou e abriu a secretária novamente. Ela esperava, que ele não concluísse que ela estava esperando para ver, se e quando, ele voltasse. Isso seria muito humilhante. A porta se abriu e ele olhou para dentro. Ao vê-la, ele entrou com a facilidade confiante que sempre marcava os seus movimentos.

— Eu pensei que alguém tinha deixado uma lanterna acesa, mas você ainda está acordada. É muito tarde, Fleur. Bem depois das duas horas.

Olhou-a da cabeça aos pés. Ela ficou extremamente consciente do que ele viu. A santa solteirona, escrevendo cartas nas sombras, vestindo uma velha e simples touca e um funcional robe de algodão rosa sobre uma camisa larga de gola alta. Uma cômica e lamentável imagem. Ele provavelmente tinha acabado de sair de perfume e rendas.

— É tão tarde? Meu Deus, não vi o passar do tempo. — Ela fez uma exibição de fechar a mesa.

Ela esperava que ele saísse. Ele não o fez. Ele andou em volta, entrando na sala. — Nem tudo cabe aqui.

— Eu vou mudar algumas coisas e reorganizar outras.

— Eu perturbei a sua casa e hábitos.

— Mudança não é o mesmo que perturbação.

Ele examinou as figuras de porcelana colocadas sobre a lareira. A coisa educada seria perguntar como ele tinha desfrutado da sua noite. Ela não teve coragem de o fazer. Podia parecer como um interrogatório de uma mulher ciumenta.

Ele se virou com uma expressão pensativa. — Estou contente que você não se importe com a mudança, porque eu decidi que você precisa mudar algumas outras coisas.

O seu coração continuou vibrando, como sempre fazia quando ele estava perto dela. Era uma das coisas desconfortáveis, com a qual ela estava tentando aprender a viver. Hoje à noite, com o silêncio da casa o tornava pior do que o normal. Ou talvez não fosse o silêncio, mas as luzes em seus olhos e a forma como as velas enfatizavam os planos perfeitos do seu rosto.

— Que tipo de mudanças?

— Farthingstone tem falado. Está espalhado pela cidade, incluindo as suas acusações sobre a sua capacidade de decisão. Nós dois sabíamos que ele poderia fazê-lo, mas eu esperava que ele mostrasse alguma discrição.

— Nós o irritamos, eu suponho.

— Eu quero que você saia e seja vista. Fazer uma presença na sociedade novamente. Comprar algumas roupas da moda e assistir a algumas festas. O melhor argumento contra ele será você mesmo, misturar-se e com as pessoas que importam.

Não. Eu acho que você deve ou pode ser melhor se você fizer, mas eu quero que você. Não uma sugestão, mas uma ordem. Ele tinha saído desta casa como um convidado, mas, por alguma mudança inexplicável, tinha voltado um marido. Mesmo a sua entrada neste quarto, o quarto dela, tinha acontecido, como se ele achasse que era o seu direito exigir, a sua companhia quando lhe apetecesse.

—Eu estou há muito tempo afastada da maioria das listas sociais.

—Só porque você, regularmente, declina os convites. Chame a minha irmã Charlotte e deixe-a saber do seu plano. Ela vai garantir que os primeiros convites surjam. Depois disso, vai decorrer por si próprio.

—Se você acha que irá ajudar, eu suponho que poderia tentar. — Na verdade, podia ser bom se mover na sociedade novamente. Ela tinha se retirado, apenas para evitar as atenções dos pretendentes. Agora que ela estava casada, essa razão não existia mais. — Se eu vou me restabelecer, acho que vamos precisar de uma carruagem. Um cocheiro para as noites, no mínimo. Talvez um landau, para podermos abri-lo para passeios no parque, será necessário também. Você resolve essa parte?

—Se você quiser.

—Se isso é tudo, Dante, acho que vou me retirar.

—Não é tudo. Eu vi você voltando para casa esta manhã. Você costuma sair sozinha?

—Eu me acostumei com isso.

—Isso deve acabar também. Parecerá que você é descuidada, tanto com a sua segurança como com a sua reputação, e dar a Farthingstone mais combustível para o fogo.

Ela não tinha nenhuma intenção de obedecer a esta ordem. Ser livre de andar, sem lacaios ou empregadas domésticas atrás, era um dos únicos benefícios de ser uma solteirona. Ninguém reparava quando saía, e ninguém se importava.

Dante levantou uma das figuras da lareira. O movimento chamou a atenção dela.

—Aconteceu alguma coisa com a sua mão? Parece vermelha e magoada.

Ele pousou a porcelana no seu lugar e estendeu os dedos. —Uma pequena briga.

—Você está machucado?

—Não tanto como Siddel.

—Siddel? — A notícia a chocou. Ela passava bem, sem Dante começando brigas com o Sr. Siddel, de todos os homens.

Ele voltou a sua atenção totalmente nela. —Você sabia sobre a afeição dele por você? Durante as suas primeiras temporadas?

—Ele me cortejou, como alguns outros.

—Como muitos outros. Assim você explicou na casa de campo, quando eu perguntei sobre o interesse dele. Mas você sabia que era mais do que isso? Que o homem estava apaixonado por você?

Ela não conseguia afastar a impressão de que estava sendo interrogada. Também não podia ignorar os sinais de que algo negro tinha subido à superfície. Se eles compartilhassem um casamento normal, ela pensaria que ele estava ciumento, mas isso era uma ideia absurda. Ainda assim, toda este dialogo era nitidamente característico de uma conversa entre marido e mulher.

— Se o que você diz é verdade, eu não estava ciente disso. Eu não acolhia as atenções dos pretendentes. Se um homem estava apaixonado por mim, eu não teria prestado atenção ou me importado o suficiente.

Algo mudou em sua expressão. A nitidez. Um escurecimento. Isso brilhou em seus olhos e endireitou a sua boca.

—Espero que isso seja verdade. Você não iria notar ou se importar.

A sua simples declaração a incomodou. —Isso soa a culpa.

— Não culpa sua, mas seria difícil para um homem aceitar quando percebesse isso. Uma aversão aberta é uma coisa. Indiferença é mais ofensivo. Eu não acho que ele lhe perdoou isso.

— Estou muito certa de que ele não pensa mais sobre isso.

— Imagino. — Ele se dirigiu para a porta. — Desejo-lhe uma boa noite. Vou ver sobre as carruagens nos próximos dias para você.

— Obrigada.

No limiar da porta ele parou e olhou para ela. Mais uma vez o seu olhar brilhante tomou-a completamente, descansando um momento sobre o robe rosa. — Eu acho que há algumas outras mudanças que eu quero que você faça, Fleur.

Mais instruções. Para ela, isto não fazia parte do acordo. Ele apontou para a touca e robe. —Você sempre se veste como a minha ama de infância quando se vai deitar?

—As minhas roupas são práticas, e ninguém me vê a não ser a minha criada.

—Eu posso vê-la agora. Quando tivermos uma conversa tarde de novo, por exemplo. Quando você encomendar o novo guarda-roupa, mande fazer algumas coisas mais bonitas.

—Eu duvido que teremos mais conversas tardias.

—Eu acho que teremos. Raramente estou com vontade de dormir imediatamente, quando volto à noite, e parece que você fica acordada também.

Se ele esperava que ela o entretivesse quando ele chegasse em casa do seu cio, era melhor que ele pensasse novamente. —Eu não posso tolerar uma despesa tão frívola.

Ele andou até ela. Com os dedos quentes, áspera sob o queixo dela, ele inclinou o rosto para cima em direção ao seu. Ela olhou nos olhos, perturbadoramente semelhantes em seu calor, aos que ela tinha acabado de ver em sua memória. O seu pulsante coração deu um enorme e tremente pulo.

—Você pode acomodar a despesa, e você vai fazê-la porque eu exijo isso de você. Me desagrada vê-la coberta como uma mulher pobre e velha. Eu sou o seu marido, Fleur e a sua beleza é minha para desfrutar, mesmo que o resto de você não.

A mão dele caiu e ele voltou para a porta. A sua reação ao toque dele a consternou, mas uma irritação espinhosa cresceu também. O que é que lhe importava se ela se vestia para a cama como uma ama idosa? As suas amantes, certamente iriam mostrar beleza feminina o suficiente, para satisfazê-lo.

— Mais alguma coisa? Mais alterações? — Ela atirou as perguntas para as suas costas e ouviu-as estalar com ressentimento.

— Mais uma. Eu quero que você tranque a porta entre os nossos quartos. Uma santa devia saber melhor, do que tentar o diabo.


Capítulo 8


Gregory Farthingstone evitou olhar para o homem que estava a manchar a cadeira da biblioteca. Não era a roupa do homem que manchava o estofamento. Aliás, surpreendentemente, as roupas eram de boa qualidade, e o homem estava bem vestido. Somente a sua dura expressão insinuava o seu caráter. Mesmo com todas as elegantes roupas, não havia dúvida que tipo de homem era.

Bem, o que ele esperava? Ele tinha ido à procura de um criminoso, e agora ele estava enfrentando um na sua própria casa. Um criminoso muito bem sucedido, aparentemente.

A facilidade com que ele tinha encontrado este homem era chocante. Umas vagas questões feitas a um penhorista que negociava com algumas joias da sociedade levaram a um agiota que esvaziou alguns dos filhos da sociedade. Um pedido de referências lá, resultou neste homem de cabelos escuros que se chamava Smith que chegou com um cartão na mão, como se fosse um amigo. A nota rabiscada no verso do cartão, a palavra secreta que Farthingstone tinha dito que devia ser usada, assegurando que ele fosse recebido.

— Você faz uma oferta estranha, Sr. Farthingstone, e não o que eu esperava — disse o homem. — O que você precisa não é a minha ocupação habitual, por assim dizer. Há os que fazem isso o tempo todo para homens do seu estatuto. Por que não contratar um?

Farthingstone forçou a sua atenção sobre o seu convidado. Eram os olhos que ele não gostava. Afiados e manhosos, eles exibiam uma ousadia que era desconcertante, como se vissem algo familiar no homem que examinavam.

— Eu não preciso de um detetive. Eu apenas quero que ela seja seguida e que o seu comportamento seja comunicado a mim. Quaisquer comportamentos incomuns, isto é.

—Bem, agora, o que você quer dizer com incomum? Há algumas coisas que são mais usuais do que alguns homens querem acreditar, quando se trata de mulheres. — Um sorriso torcido acompanhou a observação.

—Eu não estou procurando evidências, escusado será dizer que você não vai descobrir que ela tem um amante. Falo de comportamento estranho. Atividades excêntricas. Se o seu descuido a põe em perigo, por exemplo. Se ela parece caminhar pelas ruas sem rumo. Eu não sei o que você pode descobrir, diabos. Se eu soubesse, eu não precisava de você para fazer isso.

—Não há necessidade de ficar zangado. Como eu disse, é uma coisa estranha o que você pede, então você não pode se importar que eu queira entender exatamente o que você espera.

O problema, era que ele próprio não sabia o que esperava. Ele só sabia, que precisava dos máximos de evidências de hábitos peculiares de Fleur, que pudesse obter. Ele tinha que ir à Chancelaria bem armado. Todas as histórias que ele tinha deixado escapar sobre o seu comportamento errático, podiam não ser suficientes.

Apesar das suas garantias a Siddel, as coisas não pareciam boas. Ele precisava de novas provas para o seu caso. No mínimo, ele precisava que o tribunal a impedisse de dispor dos bens, enquanto o assunto era examinado. Caso contrário, ela podia convencer Duclairc para lhe permitir continuar com a sua intenção de vender a propriedade de sua tia em Durham e construir essa maldita escola. A própria ideia fez o suor umedecer a testa.

—Você não pode deixar que ela o veja ou descobrir que está sendo seguida — disse ele rispidamente. — Nem pode interferir, de modo algum, com ela.

—Eu nunca sou visto se eu não quiser.

—Há mais uma coisa. Ela tem um marido. Eles não estão muito juntos, mas se ela estiver com ele, fique mais afastado. Ele é o pior canalha e pode estar mais atento a estar sendo observado do que ela.

—Como ele é?

—Ele tem cabelos castanhos, veste-se bem e tem um rosto que faz com que as mulheres façam figuras idiotas.

—Você fala dele com alguma emoção. Você não gosta do homem?

—Eu odeio o homem. Ele é a fonte de todos os problemas. Se não fosse por ele eu não precisaria dos seus serviços. Se não fosse por ele, eu não iria ser — Ele se conteve, lembrando que falava com um desconhecido, e um sem honra.

Aqueles olhos manhosos estreitaram. — Se ele é o incomoda tanto, por que não o remover?

Farthingstone olhou horrorizado para o visitante. Para ter uma coisa dessas dita tão suavemente em sua biblioteca..., mas o choque não veio apenas a partir do espanto. Ele também derivava de um instante de uma horrível epifania como, numa fração de segundo, ele viu que a remoção de Duclairc seria perfeito para resolver todo o problema.

—Você nunca sugira que eu precise de uma coisa dessas. Quando eu passei a palavra que precisava de um homem, eu falei de alguém que pudesse se mover silenciosamente e invisivelmente. Eu não procurava... o que você sugeriu.

O homem deu de ombros. Ele estendeu a mão. — Eu quero o primeiro pagamento agora. Os meus relatórios vão para esse estabelecimento de impressão, como você quer, e você pode deixar notas para mim lá também. Não há muito motivo para uma senhora fazer coisas estranhas, é a maneira que eu vejo. Não será difícil perceber se esta pisa fora da linha. Eu vou deixar você saber se ela o fizer.

Farthingstone ignorou a mão aberta e colocou as libras sobre uma mesa. Ele caminhou até a porta, para estar longe de toda a situação desagradável.

—Se você mudar de ideia sobre a forma de resolver o seu problema, é só me avisar — o homem disse nas suas costas. — O mesmo dinheiro para você e menos espreitadelas para mim também. E obviamente o seu problema fica resolvido com rapidez.


Fleur leu uma carta que tinha chegado para ela no correio do dia anterior. Tinha vindo em resposta a uma carta sua, aquela que tinha começado há duas noites, enquanto esperava por Dante.

Ela precisava encontrar uma maneira de acomodar os planos que tinha organizado através desta correspondência. Ela tinha regressado a Londres há mais de uma semana e era hora de cuidar de alguns assuntos. Este definitivamente, era um deles.

Pronta e vestida, ela desceu para a sala de pequeno almoço. Suavemente iluminada por janelas viradas a norte, era um de seus espaços favoritos na casa. O novo dia sempre parecia fresco e acolhedor através dessas janelas, e as proporções da sala formavam um cubo perfeito que incutia um clima harmonioso.

Dante estava terminando a sua refeição quando ela entrou. Ela viu que ele estava vestido para cavalgar.

—Eu estou saindo para Hampstead, — explicou. — Além disso, vou começar a procurar as carruagens e cavalos como você pediu. Você tem alguma preferência? Algumas mulheres são muito exigentes com as cores, quer das carruagens quer dos cavalos.

—Dado que a sua irmã vai me levar para encomendar um novo guarda-roupa, acho que terei cores suficientes para me preocupar por um longo tempo. Escolha como você preferir, Dante.

—É assim que você vai passar o dia? Nas compras com Charlotte?

Ela desejou que ele não tivesse perguntado, e mentalmente se bateu por abrir caminho para a pergunta. — Começamos amanhã. Hoje, tenho que planejar uma reunião, que vai se realizar na próxima semana, sobre a nova escola. — Era a verdade, mas não toda a verdade.

— Estamos a ser invadida pelos Amigos? Eu deverei me afastar nesse dia também.

Sim, isso seria conveniente. Em vez de dizer isso, ela riu levemente, como se ele tivesse feito uma alusão bem-humorada ao seu pecado de ofender a sua bondade. Talvez ele tivesse

No entanto, não era por isso que ela preferia que ele não estivesse aqui. Ela não tinha nenhuma vergonha dele. Simplesmente, não queria que nada provocasse perguntas dele, sobre a escola. Ela já havia contornado muito perto essa curiosidade em Durham.

Ela o observou a sair, com outras memórias de Durham flutuando em torno dela, fazendo-a triste. Ela pensou sobre a carta lá em cima. Ela estava feliz que tinha chegado. Pegar os fios da sua vida iria parar este suspirar sobre o que não poderia ter. Além disso, era hora de começar a fazer o que ela tinha destinado, quando voltou de França.


— Você vai sair, senhora?

Fleur apertou os lábios com a pergunta do seu mordomo. É claro que ela estava saindo. Ela estava vestindo uma capa com capuz, não estava? — Durante uma hora ou assim.

— Posso mandar um homem para alugar uma carruagem?

— Não, eu vou a pé.

— Muito bem, madame. Vou mandar Abigail consigo.

— Se eu quisesse a minha criada comigo, eu já lhe teria dito. Eu não vou precisar de nenhuma escolta ou carruagem, Williams.

— Claro, madame. É só porque o Sr. Duclairc, a viu voltando sozinha da sua caminhada, dias atrás e expressou a preferência de que não lhe falte uma escolta no futuro.

Oh, ele tinha, não tinha?

Williams parecia resoluto. Os servos não sabiam dos detalhes do casamento e assumiriam que, Dante era agora dono da casa. E dela.

— Se o Sr. Duclairc souber da minha desobediência, ele pode expressar o seu desagrado para mim. No entanto, não vejo qualquer razão para ele tomar conhecimento disto, você vê, Williams? Sobre este assunto, acho que podemos continuar como nos cinco anos que você tem estado comigo, não é?

Williams não tinha resposta para isso. Satisfeita por ter frustrado a inclinação do mordomo em mudar de lealdade num piscar de olhos, ela deixou a casa.

Meia hora depois, ela entrou na igreja de St. Martin’s-in-the-Fields. Alguns peticionários pontilhavam na nave, perdidos em suas orações e alheios ao mundo. Ela puxou um pouco o capuz para frente sobre sua cabeça, para que esconder o seu rosto e foi até a um banco ao longo do sombrio lado norte.

Um homem sentava-se ali.

Ele levantou-se e abriu espaço para ela se sentar ao lado dele, próximo da coxia. — Tem sido um longo tempo desde que eu vi você —, disse ele. — Penso que a sua visita a França foi agradável.

Ela notou a descoloração e o inchaço no rosto, abaixo do olho esquerdo. Ela esperava que o seu ressentimento sobre esse golpe não afetasse as suas relações com ela.

— A minha visita foi muito agradável. No entanto, não foi há tanto tempo assim que me viu, e nós dois sabemos disso. — Ela tinha decidido que seria inútil fingir, que Hugh Siddel não a vira naquela cama, na casa de campo. — Penso que você compreendeu, que na última vez que você me viu, eu estava indisposta.

— Claro que estava. Não houve outra explicação para mim ou para qualquer outra pessoa.

— Se todo mundo tivesse sido tão cavalheiresco nas suas discrições, como nas suas interpretações, a minha reputação teria sido salva. Infelizmente, alguém falou sobre isso, porque a minha presença lá, se tornou conhecida para meu padrasto.

— Dez homens cavalgaram até essa casa de campo. É possível que Jameson tenha confidenciado o que vimos a um dos outros. Foi uma situação infeliz, e lamento que tenha sido embaraçada por ela.

— Uma vez que, no final tudo acabou bem, não posso dizer que tudo foi mal.

Ela pensou ter visto um sinal de aborrecimento em seu rosto, com a alusão ao seu casamento. A lembrou da conversa tensa com Dante, quando este afirmou que Siddel já tinha estado apaixonado por ela.

A sua mente retomou para sua primeira temporada. Lembrou-se de dançar com Hugh Siddel algumas vezes e de algumas conversas quando ele a visitou. As senhoras avisaram a sua mãe de que ele bebia muito, mas nunca houve evidências disso. Nem tinha notado qualquer indicação de que ele estivesse apaixonado.

Ela examinou os seus olhos para detectar quaisquer sinais de que ele era um admirador ressentido e desprezado. Nenhum era evidente. Ele sempre foi educado e agradável quando se encontravam.

— Ofereço as minhas felicitações sinceras sobre o seu casamento — disse ele. — Embora eu deva confidenciar que alguns dos parceiros manifestaram apreensão. O seu casamento não era de todo esperado, e o envolvimento do seu marido não fazia parte do plano.

— O meu marido não estará envolvido.

— Você agora não pode vender sem a sua aprovação.

— Nós temos um entendimento sobre o assunto. Tranquilize os investidores de que a propriedade permanece sob meu controle total. O meu marido não irá interferir. Nem o meu padrasto, agora que eu estou casada. Sem dúvida você já ouviu as suas reivindicações ultrajantes sobre mim. Disseram-me que se fala disso em toda a cidade.

— Eu posso refutar as acusações de Farthingstone, e os investidores estão satisfeitos com esse resultado. Afinal, ninguém está em melhor posição para testemunhar o seu bom julgamento do que eu.

— Agora você pode explicar que não haverá interferência de Mr. Duclairc. Nós iremos avançar. No entanto, devo expressar as minhas próprias preocupações. Quando nos encontramos pela primeira vez e eu concordei que você encontrasse compradores para a minha terra, você me disse que poderia ser resolvido em poucos meses. Isso foi há meio ano atrás. Eu esperava receber informações em França, que estava tudo a decorrer bem. Em vez disso, as minhas cartas para você ficaram sem resposta.

— Eu garanto a você que respondi às suas cartas e forneci detalhes completos sobre o meu progresso. Talvez elas se tenham perdido enquanto você viajava?

— Possivelmente. Então, você concordou com esta reunião para que me pudesse dizer que o processo está terminado?

— Não é bem assim. Compreendo a sua impaciência, mas a necessidade de sigilo significa que a aproximação a investidores leva tempo e exige discrição. Estou confiante, no entanto, que...

— Sr. Siddel, onde estamos exatamente? Quão perto estamos do nosso objetivo?

— Eu necessito de mais dois parceiros. Há vários candidatos prováveis e estou a deliberar a melhor maneira de os solicitar.

Era como ela suspeitava. Ele não se estava a aplicar com a determinação adequada. Ele, sem dúvida, tinha muitos desses assuntos para cuidar, e tinha deixado este de lado.

— Eu gostaria de saber os nomes dos investidores que já encontrou, Sr. Siddel.

— Minha cara senhora, eu lhes prometi anonimato até que todo o assunto seja organizado. Eles nem sequer sabem os nomes uns dos outros. Só eu sei.

— Dado que meu papel é integral, eu acho que deveria saber também.

— Eu tenho que recusar. Só uma palavra no ouvido errado teria consequências graves. O que nos traz de volta à razão de que alguns dos investidores estão preocupados com o seu casamento.

As suas pálpebras semicerradas e o tom sério apanharam-na desprevenida. — Eu não entendo.

— O seu marido não é um homem famoso pela prudência. Além disso, estes homens acham difícil acreditar que uma mulher possa manter um segredo de um marido, ou que queira manter.

— Então eles não sabem muito sobre as mulheres.

— Posso lhes dar a sua palavra, de que você não vai dizer nada deste assunto a Sr. Duclairc? Que você vai resistir a contar-lhe?

O pedido a surpreendeu. Ela havia retornado da França desconfiada e descontente. Ela tinha pedido esta reunião para que pudesse expressar o seu descontentamento, e agora, de repente se via na defensiva. Pior, ela sentia, que se não fizesse esta promessa, todo o Grande Projeto iria desfazer-se.

Ela já tinha concluído que não iria informar Dante desses planos, até que tudo estivesse no lugar. A surpreendeu então, que fazer essa promessa, era mais difícil do que esperava. Na realidade, ela se sentia um pouco desconfortável em esconder as coisas de Dante. Esquivar-se à verdade nesta manhã a fizera desconfortável. Isso implicava uma falta de confiança. Além disso, ele era o seu marido.

Mas, não realmente um marido. Não no sentido normal. Esta era a outra metade do seu acordo, não era? Ele tinha a sua vida e as suas amantes, e ela não perguntou sobre nada disso e não era suposto importar. Por sua vez, ela tinha a sua vida e os seus planos, e ele não estava a questioná-los. Era assim que deveria funcionar, pelo menos.

Mr. Siddel aguardava a sua resposta. Considerando que, ele ainda usava as marcas do punho de Dante em seu rosto, ela duvidava que pudesse convencê-lo de que a reputação do seu marido de imprudência, era exagerada.

— Sr. Siddel, você concordou em me ver hoje para que pudesse levar a minha promessa de volta para os investidores?

— Temo que sim. Sem ela creio que vários vão se retirar. Vamos sofrer um retrocesso de meses e continuar poderá ser impossível.

Se as preocupações eram tão extremas, ela realmente não tinha escolha.

— Você tem a minha promessa. Se o meu marido souber disto, não será porque eu lhe disse.


Capítulo 9


Dante cavalgou até à antiga casa senhorial em Hampstead. Gesso brilhava entre as vigas, branco vivo de uma recente limpeza. As gramíneas que cresciam lá, tinham sido recentemente cortadas. O Chevalier Corbet, cuja academia de esgrima ocupava as instalações, mantinha a propriedade de uma forma que transmitia um efeito pitoresco e elegante.

Reconhecendo os outros três cavalos amarrados aos postes da frente, Dante inclinou a cabeça e ouviu as evidências dos seus proprietários. Os sons de metal batendo em metal chegaram até ele.

Quando Hampton tinha enviado a nota, sugerindo que se encontrassem aqui para algum exercício, não tinha mencionado que os outros membros da Sociedade Duelo iriam se juntar a eles.

Dentro da casa, Dante entrou na pequena sala usada para vestir. Apesar do frio no prédio, ele tirou o seu casaco e a sua camisa. A primeira vez que ele tinha vindo aqui para ter lições, ele era a sombra do seu irmão, um garoto ainda na universidade espantado por ter sido aceite nesta fraternidade de homens do mundo. Ninguém tinha questionado o direito de Vergil em incluí-lo. De muitas maneiras, Vergil era o eixo desta roda e todos os raios, tinham sido adicionados por causa dele.

Nu da cintura para cima, ele caminhou a curta distância para o grande salão que servia de sala de exercício. No interior, dois pares de homens disputavam com sabres militares. Todos eles estavam nus como ele, uma exigência do Chevalier que insistia que aprender a usar uma espada, vestindo amortecedores, significava aprender nada de nada. O resultado era que, a maioria dos corpos, exibiam algumas cicatrizes.

A pior marcava o lado de Julian Hampton, o advogado. Ele tinha arranjado aquela ferida durante um treino muito parecido com este, enquanto disputava com um amigo, que agora estava morto. Eles estavam aqui sozinhos; nem o Chevalier estava presente. Só fora meses depois, que alguém viu essa cicatriz ou soube que ela existia.

Dante assistiu Hampton conduzir a sua dança mortal com Daniel St. John, pensando sobre aquela cicatriz e o exercício privado que a tinha causado. Ninguém jamais pedira a Hampton detalhes, embora a cicatriz sugerisse mistérios em uma história que todos acreditavam ser completamente conhecida. Ninguém nunca falou sobre o homem que havia infligido aquela ferida ou sobre os eventos em torno dele, envolvendo todas as pessoas reunidas naquela casa em Hampstead. Dante duvidava que ele agradecesse quando, hoje, ele quebrasse esse silêncio.

Ele não tinha trazido o seu próprio sabre, então pegou um da parede perto da entrada. O som da remoção da sua bainha parou o ruído do metal colidindo atrás dele.

O Chevalier mais antigo o saudou — Bon, estou feliz que você está aqui. Tome o meu lugar. Adrian está me esgotando. Este velho já não pode igualar tais habilidades por muito tempo.

— Este jovem é incapaz de igualar tais habilidades nem por um minuto — Dante disse enquanto tomava o lugar do Chevalier. —Tente não me matar, Burchard. Nós dois sabemos que esta não é a minha arma.

—Pelo que ouvi, sua melhor arma agora é o seu punho— disse Adrian.

Adrian tinha, sem nenhuma dúvida, obtido uma descrição detalhada dos danos que o punho tinha feito em Gordon. Ele era o irmão mais novo de Colin Burchard e o terceiro filho do conde de Dincaster. Só que todos sabiam que ele realmente não era filho do conde e era apenas meio-irmão de Colin. As suas escuras características mediterrânicas e cabelos lhe tinham marcado como um bastardo, desde o dia em que nasceu. Desde o seu casamento, no ano passado, com a duquesa de Everdon, Adrian tinha deixado de fingir que os fatos eram diferentes do que eram.

Não pela primeira vez, Dante pensou sobre as maneiras em que os temperamentos forjavam amizades. Dos dois Burchard, ele era mais propenso a estar com o mais velho, Colin, do que com Adrian. Ele estava mais confortável com a forma despreocupada de Colin do que com a do misterioso Adrian.

Talvez isso era porque ele sabia que, apesar de toda a sua elegância e bom humor, Adrian Burchard era um homem perigoso. Dante não estava a lisonjear Adrian, em pedir para ser poupado de danos. Adrian tinha realmente matado homens com seu sabre, mais recentemente, num duelo há dezoito meses.

—Colin provavelmente exagerou na habilidade do meu punho. Foi uma pequena briga.

—Siddel ainda está usando a marca em seu rosto e lança punhais a quem pergunta sobre isso.

—Então é melhor eu treinar, caso ele pretenda lançar armas apontadas em minha direção

—Como eu tenho a vantagem aqui, vamos praticar tiro mais tarde, onde você aprendeu a se destacar. Assim, iremos igualar o placar.

Dante estava no processo de tomar a sua posição quando essa abertura veio. Ele prosseguiu com a sua saudação. Nesse momento, porém, ele percebeu que a Sociedade Duelo tinha organizado isso. Eles já sabiam as perguntas que ele iria fazer e tinham designado Adrian Burchard como a pessoa para as responder.


Água salpicou em bacias, à medida que os quatro homens se lavavam e se vestiam. Dante jogou de lado a sua toalha e pegou a sua camisa. Julian Hampton se aproximou para amarrar a gravata no espelho pregado na parede rústica. Ele parecia alheio ao resto do reflexo do espelho. Para um homem bonito, ele não mostrava nenhuma vaidade, e sem consciência da maneira como as mulheres flertavam com ele. Do que Dante sabia, Hampton passeava calmamente sobre as luvas que as senhoras continuavam a atirar, aparentemente alheio à maneira como elas cobriam o seu caminho.

— O nosso advogado enviou um apelo à Chancelaria, argumentando contra o direito de Farthingstone ser envolvido no assunto da sua esposa — ele disse calmamente. — Ele está também a levantar toda a questão da jurisdição.

—Não há necessidade de sussurrar. Estou certo de que todos aqui sabem o que está acontecendo. St. John certamente o faz.

—Não as especificidades das minhas ações. St. John respeita a minha discrição em seu nome, assim como ele exige isso quando eu agir no dele.

Dante olhou para onde St. John abotoava o seu colete, e, em seguida, para onde Adrian Burchard olhava pela janela. —Vocês todos pensam que eu a seduzi, não é?

—É perdoável. Ela é muito linda e, se assim posso dizer, muito interessante.

—Eu prefiro ouvir isso, em vez do que você deu a entender durante a nossa conversa na prisão de devedores.

—Você se comportou honrosamente ao se casar com ela, e isso é tudo que importa para qualquer um de nós— Ele pegou no seu chapéu e chicote. — Eu tenho que voltar para a cidade. Vou mantê-lo informado sobre a evolução.

A sua partida deixou Adrian e St. John. Este último não parecia pronto para seguir Hampton até aos cavalos.

—St. John, Duclairc e eu estávamos planejando ir atirar antes de irmos embora. Por que você não se junta a nós? — Adrian fez a oferta como se já não tivesse sido planejada.

—Talvez eu faça isso.

— Esplêndido — disse Dante. Ele tinha a intenção de questionar todos eles. Dois seria suficiente, no entanto.


Dante não tinha sido sempre bom com uma pistola. Quando jovem, ele tinha sido tão indiferente a esta arma como para com o sabre. Ambos não tinham sido nada mais do que um desporto para a sua mente. Fora por isso que, quando a situação surgiu em que a habilidade importava, o seu irmão tomou o seu lugar no duelo que ele deveria ter lutado.

Ele disparou o seu quarto tiro no alvo pregado a árvore no fundo da floresta, atrás da casa do Chevalier. Enquanto ele recarregava, os seus companheiros ocuparam os seus lugares.

St. John tinha mira perfeita e Adrian tinha melhorado ao longo dos anos. Não tanto quanto o próprio Dante, no entanto. Depois desse episódio, ele nunca tinha tratado este ou a esgrima como meros desportos novamente. Por dois anos ele tinha praticado incansavelmente em ambos. Ninguém na Sociedade Duelo comentou sobre o seu novo compromisso.

— O que Colin lhe contou sobre a briga com Siddel? — Perguntou a Adrian.

St. John ocupou-se de recarregar a sua pistola, mas virou-se para fazer parte da conversa.

— Que ele estava insultando a sua esposa e o seu casamento.

— Eu o deveria ter desafiado, mas ele estava bêbado.

— Colin também indicou que o seu punho realmente voou, após Siddel fazer uma alusão a Laclere lutando os seus duelos para você.

— Será que Colin entendeu a alusão?

Adrian pôs a sua pistola para baixo. — Ele não entendeu, nem mesmo percebeu que foi esse comentário que o fez agir. No entanto, você está querendo saber se algum de nós falou sobre esse dia, não é?

— Alguém o faça.

— Poderia ter sido apenas uma metáfora — disse St. John.

— Ele sabia. Estava em seus olhos e no seu sorriso de escárnio. Não foi nenhuma alusão ao apoio do meu irmão.

— Ele não soube de qualquer um de nós — disse Adrian. — Eu não falei para ninguém, nem mesmo para o meu irmão. Nem St. John. Desnecessário será dizer que Laclere nunca iria divulgar o que aconteceu, e eu acho que é seguro dizer, que Hampton guarda segredos maiores em sua cabeça do que isso. Ele mal fala, muito menos de fofocas.

Dante sabia de tudo isso. No entanto, ele quase esperava que um deles tivesse sido indiscreto. Isso teria fornecido uma explicação simples, embora enfurecedora.

— Havia outras pessoas lá naquele dia — disse St. John.

Ninguém falou por um tempo. Todos sabiam que estavam abordando um assunto, que todos esperavam, tinha ficado no passado.

—Wellington nunca iria falar sobre isso — disse Adrian.

Não, o Duque de Ferro nunca falaria, pensou Dante. Se esse duelo se tornou conhecido, ele provocaria questões que seriam prejudiciais a homens importantes.

— Nem seria Bianca — disse St. John.

Certamente não. Seria mais fácil imaginar Vergil quebrar o silêncio do que a sua esposa, Bianca.

— Nigel Kenwood tem as suas próprias razões para manter o silêncio — disse Dante.

— Bem — disse St. John. — Isso deixa a mulher.

A mulher.

Dante sentiu seu o rosto apertar na referência. Uma raiva feia entrou na sua mente.

A mulher que tinha usado a sua presunção e arrogância para os seus próprios fins. A sereia que estava sempre a recuar, atraindo-o a seguir, até que ela o tinha destruído nas rochas da sua própria luxúria. A única mulher que ele quis demasiado, principalmente porque ela não se entregou. Ele era jovem e estúpido e vaidoso. O custo da vitória quando ela o deixou pegá-la tinha sido devastador.

—Alguém sabe o que lhe aconteceu? — Perguntou.

—Ela permaneceu na França por alguns anos. Eu a vi uma vez, de longe, quando Diane e eu estávamos em Paris há seis anos — disse St. John. — Ouvi dizer que ela, em seguida, foi para a Rússia.

—Estou certo de que ela não voltou para a Grã-Bretanha — disse Adrian. — Wellington ameaçou enforcá-la com a sua própria corda se ela voltasse. Ela não é tola.

Não, não é uma tola. Uma cadela do inferno, mas não uma tola.

—É possível que ela tenha falado com alguém, que por sua vez viajou para aqui e falou com Siddel, mas acho improvável — disse St. John. — Nenhuma palavra do que ela sabia, alguma vez saiu. Se ela quisesse fazer mal, descrever esse duelo era o de menos.

—Eu acho que ela entende, que dizer uma palavra de qualquer dessas coisas, poderia ser perigoso para ela — disse Adrian.

Dante, de repente lembrou-se de Adrian entrar numa casa de campo na costa francesa e sair com uma mulher algum tempo depois. Ele recordou o olhar duro no rosto de Adrian enquanto seguia a beleza para o quintal, onde o seu parceiro no crime tinha acabado de negociar a liberdade dela.

—Há uma outra maneira de que Siddel poderia saber disso — disse Dante. —Se ele estava envolvido nesses crimes, ela teria tido uma razão muito boa para enviar uma carta diretamente para ele, dizendo-lhe o que aconteceu.

—Possivelmente — disse St. John. —Infelizmente, não há nenhuma maneira de saber ao certo.

Talvez não, mas Dante sabia que ele teria que tentar agora. Se Siddel tinha estado envolvido nos eventos que levaram a esse dia, ele queria saber. Ele se adiantou e levantou a pistola. Hugh Siddel estava, de repente, complicando a sua vida em todos os tipos de formas. Com nenhum planejamento ou intenção, as suas vidas tinham se tornado entrelaçadas.

Fleur fazia parte desse nó também. O interesse de Siddel nela era preocupante. Teria sido ele a informar Farthingstone, que ela estava na casa de campo em Laclere Park? Se assim for, Siddel sabia que Farthingstone estava por perto, no condado naquela noite.

— Será que algum de vocês viu alguma coisa que sugira que Siddel tem uma amizade com Farthingstone? — Perguntou.

— Não me lembro de alguma vez os ter visto na conversa — disse St. John. Adrian concordou com a cabeça.

— Quem você vê na conversa com Siddel?

St. John pensou sobre isso. —Ele está muitas vezes no Union Club quando eu vou lá, sem dúvida a operar os seus esquemas entre os homens de comércio e finanças que são membros. A única associação que eu observei foi com um John Cavanaugh, que é um faz-tudo para a família Broughton da Grande Aliança. Eles estão, por vezes, muito próximos em conversas tranquilas.

A Grande Aliança era um grupo de famílias que ficaram ricas com o carvão dos condados do norte. Os Broughton eram uma das poucas famílias aristocráticas, que enriqueceram junto com os homens de nascimento inferior. Dante levantou a pistola. Ele conhecia Cavanaugh dos seus tempos juntos na universidade. Talvez ele fosse usar a sua própria adesão ao Uniou Club e renovar esse conhecimento. Ele mirou o seu alvo com precisão cuidadosa.


Capítulo 10


Hugh Siddel se moveu através do nó de compradores, enquanto um cavalo castrado ficava em exposição no Tattersall. Licitações saltavam para fora do telhado de madeira do abrigo ao ar livre, quando o leilão começou. Hugh se aproximou de um homem em pé, na borda da pequena multidão. As roupas do homem e o seu comportamento o identificavam como um cavalheiro. Um cabelo loiro cuidadosamente arranjado surgia debaixo do seu chapéu, e uma pequena e efeminada boca franziu em seu rosto comprido e sem graça. Quando viu a aproximação de Hugh, recuou mais alguns passos.

— Tudo está tratado — disse Hugh, olhando para o cavalo castrado e não para o seu companheiro. — Eu me encontrei com ela há dois dias. Os nossos planos permanecem em privado, e ela entende a necessidade de sigilo para continuar. Ela não contou nada ao seu marido, nem vai até que tudo esteja organizado. Uma vez que nada, alguma vez, irá ser organizado, isso não será um problema.

— Uma promessa estranha de uma noiva recente.

— Não é. — Hugh tinha ficado surpreso e encantado, com o quão fácil tinha sido, extrair essa promessa. Isso abria possibilidades sobre todos os tipos de outros enganos.

— E o atraso?

— Ela entende que estas coisas levam tempo. — A notícia do casamento de Fleur tinha desagradado este parceiro em particular. Não seria bom admitir a impaciência de Fleur.

Ele pensou sobre a reunião em St. Martin, e em quão bonitos os seus olhos tinha parecido, à medida que olhavam por debaixo da borda do seu capuz. A pobrezinha tinha casado com Duclairc para evitar o escândalo. Ela, obviamente, não tinha nenhum verdadeiro afeto por ele.

Se Farthingstone não tivesse sido tão covarde, bem, não havia nenhuma vantagem em pensar sobre isso. No mínimo, no entanto, Farthingstone deveria ter ido logo para a casa de campo e a trazido de volta. Mas não, Farthingstone teve de solicitar, em Londres, os oficiais de justiça e depois esperar. Por causa disso Fleur estava onde estava.

Ele lutou para bloquear as imagens de Fleur na cama de Duclairc, mas elas apareciam na sua cabeça de qualquer maneira, incitando a raiva lívida que sempre traziam. Era irritante que ela estivesse amarrada a esse vagabundo para sempre. Ou até Duclairc morrer, pelo menos.

—E sobre Farthingstone? — Perguntou o seu companheiro.

— Ele permanece ignorante e útil. Ele não sabe nada do meu relacionamento com ela sobre este assunto, nem o meu com você.

— Eu não quero que eles se reconciliem. Se o fizerem e ela ficar impaciente, ela pode voltar-se para ele. Ele pode efetuar num mês o que ela quer. Graças a Deus ela não foi até ele para começar.

—Tenha a certeza de que ele também não quer essas terras vendidas. Farthingstone não representa nenhum desafio ou perigo. Ele busca o controle da terra dela por suas próprias razões. Se ele tiver sucesso com a Chancelaria, estamos seguros. Se ele não tiver, nós continuamos como estamos. Ela confia em mim sobre este assunto, Cavanaugh. Posso mantê-la pendurada indefinidamente.

— Assumindo que Duclairc não fique desconfiado.

— Ele também não representa nenhum desafio ou perigo.

Cavanaugh inclinou a cabeça e chamou a atenção de Siddel. Hugh desviou a sua atenção da licitação quando viu o sorriso sutil na face examinando-o.

— Eu não desvalorizaria o homem, Siddel. Ele e eu andávamos na universidade juntos. Duclairc era muito divertido, sempre em apuros, bem-humorada e despretensioso.

— Parece que nada mudou.

— Sim, bem, a coisa é, quando tudo acabou, parece que ele se saiu muito bem nos seus estudos. Ele foi o melhor estudante de matemática enquanto eu estava lá.

— Então, ele pode somar. O seu ponto é?

— O meu ponto é que ele está longe de ser estúpido. Além disso, parece que quando ele define a sua mente para fazer alguma coisa, ele a consegue.

—Enquanto ele não virar a sua mente para interferir com a gente, o que você se importa?

— Pelo que me parece, eu me pergunto se ele voltou a sua mente para isso.

A sugestão assustou Hugh. —O que te faz dizer isso?

— Ele é um membro do Union Club, mas raramente vai. Eu não acho que eu o vi lá em anos. Imagine então a minha surpresa, ao encontrá-lo lá sentado comigo, na noite passada.

— Ele é amigo de St. John e alguns outros que frequentam o clube. Sem dúvida, ele foi encontrá-los e fez uma pausa para falar com você por causa do vosso velho conhecimento.

— Possivelmente. Principalmente nós falamos das coisas habituais, política, cavalos e todo o resto. No entanto, no final, ele habilmente me levou para um outro tópico.

— Qual tópico?

— Você.

Hugh forçou uma expressão sem graça e entediada, embora esta revelação o irritasse. — Ele perdeu uma grande soma para mim algumas semanas atrás, e então ele e eu tivemos uma discussão na semana passada. Se ele está curioso sobre mim, é uma questão pessoal, e não, de alguma forma, relacionado com o meu negócio com você.

— Eu vejo que você ainda usa os restos dessa discussão em seu rosto. Espero que você esteja certo. Estou num limbo com você e, ambos estamos agora, em dívida para com homens poderosos. Você não receberá mais pagamentos se eu achar que você perdeu o controle da questão. Além disso, terei de considerar outras soluções se a sua cair por terra.

— Não vai cair por terra. Ela confia em mim.


Ela não confiava nele. Fleur admitiu para si própria, após vários dias de ruminar sobre o seu encontro com Hugh Siddel. Ele a tinha distraído ao levantar essas preocupações sobre o seu casamento. Ela deveria tê-lo pressionado sobre os nomes dos investidores antes de terminarem. Se ela soubesse as suas identidades, ela poderia usar a sua reputação para encontrar o resto dos participantes ela mesma. A afligia que eles estivessem tão perto, mas que o Sr. Siddel esperasse que ela, simplesmente aguardasse enquanto ele fazia as coisas no seu modo lento e arrastado.

Ela não podia deixar tudo para ele, isso era claro. Ela precisava saber quem já estava dentro e fazer ela própria, um pouco de cortejo. Ela tinha alguns conhecidos ricos. Mesmo alguns dos Amigos tinham investido em tais parcerias no passado...

Uma mão feminina mexeu-se na frente do seu rosto, virando uma folha de moda colorida. O gesto a sacudiu para fora de um transe de contemplação sobre o problema.

—Agora eu sei por que as mães apreciam tanto quando suas filhas são apresentadas — Charlotte disse enquanto empurrava uma imagem de um vestido na frente do nariz de Fleur. —Ajudar alguém comprar um novo guarda-roupa inteiro é quase tão maravilhoso como comprá-lo para si mesmo. Isto é ainda melhor do que fazê-lo por uma filha, já que não terei que enfrentar o pagamento das contas.

Contas grandes, e ficando cada vez maiores, pensou Fleur. Ela se sentou numa mesa em frente a Charlotte, sob os olhos expectantes da terceira modista que tinham visitado, escolhendo desenhos para novos vestidos. As roupas de dia tinham sido caras o suficiente, mas Madame Tissot tinha acabado de a convencer a encomendar três vestidos noite que seriam exorbitantes.

Ela sempre amou roupas bonitas, mas tinham passado anos, desde que ela tinha se divertido com este passatempo feminino. Ela estava sem prática na defesa da sua bolsa contra a sedução das cores e texturas.

Todas as modistas cheiravam a sua vulnerabilidade. Um olhar para o seu vestido simples também as informou do trabalho a ser feito. Eles não tinham mostrado nenhuma piedade.

— Esse vestido é perfeito — disse Charlotte. Ela tinha aceitado a missão para relançar Fleur na sociedade com entusiasmo, e tinha planejado as excursões de compras com cuidado meticuloso. — Você deve escolhê-lo.

Ela estudou a folha que Charlotte preferia. Mostrava um luxuoso vestido de baile, num profundo violeta. Madame Tissot inclinou a cabeça de cabelos avermelhados em questão. Fleur segurou na folha. Extravagante. Excessivo. Lindo. — Sim, este, eu acho.

—Bon, madame. Uma excelente escolha. Quatro conjuntos de beleza insuperável que você escolheu. Agora, talvez você gostaria de ver as folhas para roupas mais íntimas? Os vestidos mais importantes são os que são usados em privacidade com um marido, não é?

O modista andou até à prateleira, segurando nas folhas.

—Eu acho que já é suficiente, obrigada.

—Oh, você tem que vê-los — Charlotte sussurrou. — Alguns são bastante chocantes, mas de forma elegante. Eu sempre encomendava um quando tinha excedido a minha mesada. Eu o usava na mesma noite que confessava a Mardenford que tinha exagerado. Feitas para um muito curto raspanete.

Fleur invejava a maneira que Charlotte falava do seu falecido marido, Lorde Mardenford. Eles eram jovens quando se casaram, e todo mundo poderia dizer que eles estavam muito apaixonados. Depois de três anos felizes, no entanto, o jovem barão sucumbiu a uma febre. Charlotte tinha lamentado intensamente e depois continuou com a sua vida. Ela sempre falava dele livremente, como fez agora e nunca parecia que a sua memória era dolorosa para ela. Três anos perfeitos. Três anos de amor consumado e unidade. Charlotte agia como se tivessem sido suficientes para sustentá-la por toda uma vida.

— De repente fiquei exausta e não poderia enfrentar outra pilha de folhas. Como estou, eu não vou ter a presença de espírito para escolher os tecidos.

A modista devolveu, pesarosamente os desenhos para a sua prateleira. — Talvez outro dia, quando você vir para as suas provas.

—Possivelmente.

Fleur agendou essas provas, depois ela e Charlotte caminharam até Oxford Street. Depois de uma hora na loja a escolher tecidos, a maior parte da tarde estava passada.

—Se você está cansada, devemos visitar esse último armazém noutro dia — disse Charlotte. —Vamos ao Gunter’s para um gelado e conferir a nossa lista para ver como as coisas estão.

O cocheiro de Charlotte as levou para Berkeley Square, e o seu lacaio entrou na confeitaria para encontrar um criado. Rapidamente dois sorvetes chegaram à carruagem para se refrescarem.

— Diane St. John me contou tudo sobre a briga — Charl confidenciou depois de desfrutar de algumas colheradas. — Bem, não foi realmente uma briga, uma vez que Siddel não teve a chance de responder ao golpe. St. John ouviu falar sobre isso em seu clube e disse a Diane na manhã seguinte. Estou orgulhosa do meu irmão por debulhar Siddel, após o homem espalhar calúnias do seu casamento. Muito arrojado, eu digo.

Fleur não tinha percebido que a luta com o Sr. Siddel não tivesse algo a ver com ela.

Charlotte entregou o seu prato vazio e uma colher para o lacaio, em seguida, tirou o papel que listava o guarda-roupa que ela tinha decidido que Fleur precisava. Juntas, elas enumeraram as numerosas compras feitas nos últimos dias. Vestidos de baile, vestidos de dia, luvas, lenços, gorros, anáguas e sapatos.

— Eu acho que exageramos —disse Fleur.

— Absurdo. A sua contenção era irritante. Se a autonegação se tornou enraizada, diga a si própria que você faz isto pelo meu irmão. Refletiria sobre ele se você parecer fora de moda.

Charlotte meteu o seu nariz na lista novamente. — Os seus sentimentos estão feridos, porque ele tem saído todas as noites? — Ela perguntou muito casualmente.

—Você sabe sobre isso também?

Charl olhou com desgosto. E simpatia. Fleur engoliu o seu constrangimento. Ela teria que aprender a ignorar olhares como esse. Ela nunca devia deixar ninguém saber que o seu coração se quebrava todas as noites, quando Dante saía pela porta. O vazio familiar rastejou através dela, arruinando o seu humor.

— É muito normal, Charlotte. Estou certa que Mardenford saía à noite também.

A expressão de Charl disse tudo. É claro que Mardenford tinha feito isso, mas a visita de um homem ao seu clube ou o teatro era uma coisa, e as longas horas de Dante na cidade eram outra. Que a companhia de Mardenford tenha mudado com o casamento, a de Dante não. Que Dante estava, sem dúvida, em coisas que não se poderia esperar que uma esposa sofresse estoicamente.

A menos que ela tivesse um acordo especial com ele, isto é. Ela perguntou-se se Charlotte tinha ouvido algumas especificidades, como se seu irmão já tinha tomado uma amante. Ela até podia mesmo saber o nome da mulher.

Fleur esperava ser poupada de confidências sobre isso. Uma indulgência casual com mulheres anônimas seria suportável. Uma ligação permanente com uma mulher em particular, seria torturante saber. Apenas admitir a possibilidade provocava uma tristeza desolada.

— Isso é muito compreensivo da sua parte — disse Charlotte com os lábios franzidos. — Eu esperava...

— Não se aflija por minha causa.

— Bem, é melhor que ele seja discreto ou eu vou lhe dar uma boa bronca. E quando Vergil regressar, ele vai fazer mais do que isso, eu diria.

Vergil. Fleur estava tentando não pensar no inevitável regresso do Visconde Laclere.

— Ele regressará em breve?

— Eles vão se atrasar uma semana ou assim. Recebi uma carta ontem. Penélope ficou doente, e eles vão ficar em Nápoles até que ela fique bem. Vergil escreveu que não devemos nos preocupar. Não é grave, mas não quis arriscar numa viagem marítima. Quando eles voltarem, apanharão uma surpresa maravilhosa, porque Dante pediu para eu não escrever e dizer-lhes sobre o seu casamento.

— Dar a novidade numa carta podia ser a escolha mais sábia.

— Você não espera que ele desaprove, não é? Certamente que não. — Charlotte afagou-lhe a mão. — Isso ficou no passado, e ele e você ficaram bons amigos. Ele vai ficar feliz por Dante ter encontrado alguém tão bom quanto você.

Aprovação e felicidade não eram as emoções que Fleur antecipava ver em Laclere quando chegasse a hora de enfrentá-lo. Ele, e só ele, iria suspeitar imediatamente o quão profundamente o casamento era uma fraude.

— Agora — disse Charl. — Conte-me sobre suas joias para que possamos decidir se você precisa comprar ou alugar mais algumas.


Capítulo 11


A reunião para planejar a escola dos meninos terminara às duas horas. Fleur escoltou os seus dez convidados até a porta, a fim de ter algumas palavras privadas com alguns deles.

Eles se despediram com a mesma graciosidade que havia marcado o seu comportamento desde que chegaram. Todo mundo estava fingindo não perceber, que o vestido que Fleur estava vestindo hoje, contrastava fortemente com seus modelos normais. Ninguém tinha comentado sobre o fato de que o seu rubor, a sua saia ampla em musselina a diferenciava dos seus próprios tons escuros e práticos. As mulheres tinham se abstido de perguntar o que tinha provocado esta mudança nela.

Isso era porque elas não precisavam. Enquanto elas iam para a rua, a razão surgiu num Landau aberto e elegante. Os seus olhos críticos absorveram a elegante carruagem e o arrojado e bonito homem que segurava as rédeas. Fleur leu as suas mentes. O consenso tácito neste círculo da sociedade era evidente. Dante Duclairc, o perdulário e libertino, tinha virado a cabeça de Fleur Monley e estava no processo de arruiná-la completamente. As implicações para o seu trabalho de caridade tinham lhes coagido a desenvolver um cronograma para a construção da escola. Elas queriam-na feita antes que Dante gastasse todo o dinheiro.

Fleur deu as boas-vindas à nova determinação para escola. Infelizmente, tinha passado uma semana desde o seu encontro com o Sr. Siddel, e ela não tinha recebido nenhuma indicação de que ele já tinha encontrado os dois parceiros adicionais. A sua mente considerou as suas opções enquanto ela despachava os seus convidados.

Dante pulou e cumprimentou os Amigos e vigários que partiam e as senhoras da reforma.

—Você se move em círculos elevados com o seu trabalho de caridade, Fleur— ele disse quando eles se foram. — Eu não sabia que você contava com a famosa Sra. Fry entre os seus conspiradores.

— As suas opiniões são respeitadas, e eu nunca tive motivos para me arrepender de apoiar as suas causas. Ela teve a gentileza de concordar em ser uma curadora da escola.

— Os membros do Parlamento a quem ela faz petições sobre os seus projetos de reforma, pensam que ela é um incômodo excêntrico.

— Não mais do que eu sou, Dante.

Ele riu, e virou-a para a carruagem. — O que você acha disto? Old Timothy conseguiu-a na cidade, junto com o par a combinar. Trouxe-a de Hastings, há dois dias, e é tão elegante como tinha prometido. Os cavalos são melhores do que eu esperava, e mais dois estão chegando. Eles também vão servir para a carruagem quando estiver concluída.

A carruagem e os seus acessórios de latão tinham sido limpos e polidos até que pareciam novos. Dois fortes jovens cavalos reluziam na frente.

Um jovem, não mais de dezoito anos, segurava os cavalos. Ele tinha vindo no Landau com Dante e agora observava a casa com uma curiosidade aberta. Ele tinha um olhar meio faminto nele. Um velho casaco castanho de uniforme dependurava-se no seu corpo magro. Tufos de cabelo de palha cutucavam por baixo de um disforme chapéu de feltro.

— Esse é Luke — Dante explicou calmamente — Ele vagueia pelo quintal de Timothy, apanhando trabalhos esquisitos. Ele tem me acompanhado em torno da cidade nos últimos dias, quando soube que eu estava comprando uma carruagem. Ele se ofereceu para servir como cocheiro e cavalariço por um quarto e comida.

—Tem certeza que ele pode aguentar? Ele parece quase frágil.

— Ele é mais forte do que parece. Ele trabalhou nas minas no Norte quando rapaz. Eu decidi testá-lo por algumas semanas, enquanto nós decidimos se queremos mais servos para a carruagem. Ele vai ficar apresentável quando eu o limpar.

Luke notou que ela o examinava e desviou o olhar. Ele tentou parecer como se não se importasse com o que ela decidia, mas o seu rosto e os seus olhos cautelosos traíram o seu desespero.

Comoveu-a que Dante tenha tido pena do jovem. —Ele pode viver no quarto em cima da casa da carruagem, é claro. No entanto, devemos pagar um salário, mesmo se ele for jovem e inexperiente.

— Mais experiente do que você imagina. Ele tem vadiado ao redor de estábulos toda a sua vida. Ele tem uma mão natural com os animais e tem segurado um par antes. Entre e vamos ver como ele faz. Ele pode nos conduzir.

Ele chamou Luke e, em seguida levou-a para a carruagem.

— Para onde estamos indo? — Perguntou ela, enquanto Luke moveu os cavalos para um passeio lento.

— Eu pensei em darmos uma volta no parque em primeiro lugar, em seguida, ir para a cidade. Hampton quer uma reunião e eu mandei dizer que iríamos visitá-lo em seus aposentos.

Luke dirigiu pelas ruas estreitas com muita cautela. Ele fez a primeira curva demasiado ampla e se recusou a permitir que os cavalos andassem mais do que a um ritmo fúnebre. Dante sentou-se ao lado dela, mantendo um olho no progresso do novo cocheiro. Quando chegaram ao parque ele instruiu Luke a passar o par de cavalos para um trote. Os cavalos aceitaram o sinal com gosto. Uma guinada inesperada para a esquerda enviou Fleur contra Dante. Ele moveu o braço ao redor dela e calmamente deu ao seu novo cocheiro algumas indicações.

— Ele nunca lidou com um landau antes, pois não? — Perguntou ela.

— Ele está fazendo muito bem. Não se preocupe. Se ele perder o controle, eu assumo — Ele pegou a mão dela para garantia —Eu não vou deixar você se machucar. Pegue o caminho à esquerda, Luke e mantenha-os nele. Olhe o cavalo à direita. É ele que tenta quebrar o passo.

A entrada no caminho esmagou Fleur para mais perto de Dante. O seu abraço apertou. Se sentia muito confortável e segura em seu braço e não tentou se afastar. Ele continuou dando instruções Luke.

— O seu dia foi agradável? — Ele perguntou suavemente, como se cada curva no caminho não os aproximasse ainda mais. A proximidade, mesmo por razões de segurança, tinha começado um formigamento bobo por toda ela. Ele começou, distraidamente, a acariciar o seu pulso interno com o polegar, de uma maneira lenta que sugeria que ele não estava mesmo ciente da sua ação. Ela estava. Uma parte significativa dela não estava ciente de mais nada. Os movimentos lentos e aveludados, a hipnotizavam.

Ela lutou para encontrar a sua voz. — A reunião foi muito produtiva. Normalmente falamos por horas e concluímos pouco, mas hoje todos pareciam decididos a avançar. Se vamos manter o cronograma que estabelecemos para a abertura da escola, eu vou ter que transferir essa terra para os curadores e também vender alguma propriedade nos próximos meses para pagar o edifício.

— Talvez você deva mencionar isso a Hampton quando o vermos. Ele pode ajudar.

Para cima e para baixo, circulando, circulando, o toque em seu pulso causava arrepios pelo seu braço para o seu corpo. —Eu preciso decidir em primeiro lugar a terra. No fim pretendo vender essas fazendas ao redor para a própria escola, mas por agora, eu acho que as de Surrey que o meu pai me deixou, seria mais fácil. O que você acha?

— Sou incapaz de dar conselhos, já que eu não estava ciente de que você tinha terras em Surrey e não sei nada sobre a sua qualidade ou rendimento. Diferentemente da maioria dos novos maridos, eu nunca recebi informações sobre as suas propriedades e valor.

— Isso foi um descuido. As coisas aconteceram tão rapidamente. Peço desculpas. Claro que você tem o direito de saber.

—Na verdade não. São suas para controlar. Mais uma maneira em que a nossa união é fora do comum, e garanto-vos que não me importo. — Algo em seu tom sugeriu que ele realmente se importava um pouco.

A errante carícia a deixou completamente afobada agora. Tinha a certeza de que o seu rosto estava corando. Ela devia libertar o seu pulso deste pequeno assalto, mas ela mal conseguia se mexer. Nem ela queria realmente que isso acabasse.

Ela tentou distrair-se. —Você vai ficar feliz em saber que estava certo sobre a ajuda de Charlotte. Há dois dias atrás eu a acompanhei numa visita a Lady Rossimare e ela indicou que nos iria convidar para o seu baile daqui a duas semanas. Você acha que eu deveria aceitar?

— Certamente. Você vai comparecer, parecendo bonita, divinal e completamente estonteante. Vai demonstrar como as afirmações de Farthingstone são absurdas.

Ela pensou sobre a entrada num salão de baile pela primeira vez em dez anos e enfrentar esses olhos curiosos. Teriam todos ouvido as histórias de Gregory. O seu padrasto até podia mesmo estar lá. A sua aparência, as suas maneiras e mesmo a sua conversa seria examinada. Ela instintivamente se encolheu um pouco mais para perto de Dante. Ele tinha estado ocupado a dar orientações a Luke para as ruas, mas ele se virou para o movimento sutil e olhou para ela

O seu rosto, tão perto que ela podia sentir a sua respiração em sua bochecha, apagou o seu senso de todo o resto. A sua vitalidade sensual deslizou ao redor dela como se ele envolvesse os dois numa capa. Ela engoliu em seco, muito consciente de seu braço em torno dela. E o corpo pressionado, encostado ao lado do seu peito. E o leve e delicioso toque em seu pulso. Uma diversão suave reluziu em seus olhos, como se reconhecesse a sua tola e feminina reação. É claro que ele percebia. Ele tinha visto isso muitas vezes em sua vida.

No entanto, ela viu algo mais em seu longo olhar. Uma luz perigosa e calculadora. Como um teste ocasional do seu efeito, ele tinha lançado deliberadamente o seu poder masculino. Ela só podia olhar para ele, tão espantada como um cervo hipnotizado por uma tocha brilhante.

Ele levantou a mão dela e gentilmente beijou o seu pulso interno. Isso enviou um choque através de todo o seu corpo. — Você vai comparecer bonita e eu vou com você. Você não vai enfrentá-los sozinha. Estamos juntos nisto, Fleur.

Ele beijou os lábios dela, e demorou um longo momento. O seu poder agitou-se para ela através da conexão e espalhou-se sem piedade, fazendo-a tremer. Era tudo o que podia fazer para não ficar mole. Ela olhou para ele quando ele finalmente deixou a sua boca e recuou.

— Você não tem que parecer tão horrorizada. Nós concordamos que me é permitido o ocasional beijo casto. — Os seus olhos ardentes revelaram que ele sabia que o beijo não tinha sido muito casto, nem a reação dela especialmente horrorizada. Este último lhe agradou sombriamente, por razões que ela não conseguia entender.

O seu abraço relaxou um pouco, como um sinal de que ela podia se afastar, se quisesse. Ela trocou para que eles não estivessem pressionados um contra o outro. Apesar de todos os seus instintos gritarem para ela ir embora, ela se recusou a fugir para o refúgio do canto mais distante do Landau, como um ganso assustado. Ela realmente queria. A sua feminilidade tinha saboreado a proximidade, o toque e o beijo, mesmo que ele tenha jogado com ela cruelmente.


— Está se revelando como eu esperava — disse Hampton. — Ninguém tem qualquer ideia do que fazer, então uma audiência sobre a capacidade da sua esposa para fazer julgamentos sensatos é adiada indefinidamente.

—E Farthingstone? — Perguntou Dante. Ele ficou atrás da cadeira de Fleur na câmara interna do Hampton, no Lincoln's Inn. O advogado estava sentado do outro lado da mesa, brincando com o cálamo3 da pena.

—O padrasto de sua esposa teve uma reação tão violenta ao anúncio de Brougham que temíamos que ele sofresse uma apoplexia.

—Só que ele não sofreu. Isso o deixaria mudo, e ele quase não parou de falar. No entanto, com a minha pergunta, queria saber se ele irá desistir agora.

—Eu duvido disso. Eu tenho uma boa vida porque a maioria dos homens se recusam a recuar. Sua intenção, tenho certeza, é primeiro estabelecer a incapacidade da sua esposa de fazer contratos, e, em seguida, levar isso para a Igreja para pedir a anulação do casamento.

—Ele pode ter sucesso? — Perguntou Fleur.

—Possivelmente. Eventualmente. Lentamente.

—Quão lentamente?

—Vou explicar como as coisas estão. A audiência foi adiada para que a confusão jurisdicional possa ser desfeita. O tribunal tem de decidir se Farthingstone tem legitimidade em tudo e se este caso deve ir direto para a Igreja. Normalmente, com você casada, ele não iria e deveria, mas uma vez que ele está afirmando que não poderia razoavelmente entrar num contrato desse tipo, bem, você vê o argumento que ele está usando. Haverá uma busca de precedentes, etc. Como você fazer algo escandaloso, algo que prove explicitamente a sua falta de julgamento, espero que todos demorem um bom tempo para deliberar sobre essa situação.

— Então, o argumento de que o próprio casamento é prova de uma falta de juízo não vai aguentar? — Ela perguntou.

—Eu duvido que vá significar muito — Hampton fixou o olhar para ela. —Seria bom se você não fizesse nada para provocar as preocupações do Farthingstone. Nós não o queremos importunando a Chancelaria ao ponto de que eles realmente façam algo, apenas para se livrar do incômodo. Você deverá se comportar de maneira muito sensata.

— Dante acha que ajudaria se eu me restabelecesse na sociedade. Então todos podem ver como sou normal.

— Isso é o mesmo conselho que eu pretendia dar-lhe hoje. Com Farthingstone espalhando boatos, você precisa estar presente entre aqueles que são importantes para combater o efeito dos rumores. Além disso, você deve controlar os seus presentes para a caridade. Reduza a generosidade por um tempo.

— Isso não será possível. Estou empenhada em construir uma escola. Na verdade, eu vou querer o seu conselho sobre a venda de propriedade.

— Será essa a propriedade de Durham que discutimos? O seu comprador está pronto para agir?

Ela não gostou do olhar penetrante que ele lhe deu, juntamente com a questão. O Sr. Hampton suspeitara muito da venda, quando eles falaram sobre isso enquanto Dante estava na prisão. Ela não queria que a sua curiosidade infectasse Dante. —Eu estou me referindo a outras propriedades.

— Portanto, mais vendas de terra? Eu não aconselho isso. Agora não. Se houver outra disposição significativa de terra, só vai dar Farthingstone munição perigosa.

— Mas os planos para a escola estão definidos.

— Eu não posso impedi-la, madame, mas é o meu conselho para colocá-lo de lado temporariamente. — Desta vez, o olhar penetrante passou por ela, para Dante. Ela é sua esposa. Você deve certificar-se de que ela ouve a razão, disse esse olhar.

— Quanto tempo? — Perguntou Dante.

— Gostaria de pensar que, salvo surpresas, o tribunal terá este assunto completamente enterrado em um ano, dezoito meses no máximo.

—Um ano! Esperamos ter a escola quase concluída até então.

—A lentidão dos tribunais trabalha a nosso favor. Claro, há uma maneira dos assuntos serem resolvidos de uma só vez. Se você for abençoado com uma criança, isso vai acabar imediatamente. A questão do seu julgamento torna-se discutível então. A Igreja nunca deixará de lado um casamento por tal razão se houver crianças.

—Eu espero que isso seja verdade — disse Dante.

—Definitivamente.

Dante ofereceu a mão para ajudá-la a subir. —Então nós devemos dobrar as nossas orações por uma criança, não é assim, minha querida?


Dante conduziu Fleur para longe da carruagem quando eles saíram do edifício.

—Vamos dar uma volta antes de retornarmos. Desejo falar com você e não quero que Luke escute.

Ele a guiou com firmeza pela Chancery Lane para que ela não pudesse discordar. Ela parecia como se quisesse. O seu olhar correu para onde ele colocou o braço dela contra o corpo dele. Cautela brilhou em seus olhos quando ela lhe deu um olhar de soslaio. Ela estava pensando sobre aquele beijo. Ele sabia.

Uma brisa suave passou em torno deles. Continha o frescor da primavera, e até mesmo os cheiros da cidade velha não poderia contaminá-la. A sua ascensão e queda agitava as fitas sobre o chapéu de Fleur. Era um dos seus novos, com um bonito design em forma de coração que assentava na sua cabeça e amarrava-se sob o queixo. O chapéu era parte do novo guarda-roupa que estava chegando à casa. O vestido que ela usava, com o seu baixo, largo decote e mangas compridas e uma saia, complementava a sua forma de maneira como os seus antigos conjuntos nunca fizeram. A sua beleza floresceu novamente, enquanto se preparava para reentrar na sociedade. Ela usava as roupas novas, mesmo em casa, e agora usava o cabelo em um estilo elegante. Ela estava apreciando a indulgência mais do que jamais iria admitir.

Ele também. Às vezes, quando ele voltava dos seus afazeres, ele se aproximava inesperadamente dela e ficava sem fôlego. Alguns detalhes o hipnotizavam, uma mecha de cabelo escuro roçando a sua bochecha ou o brilho de sua pele marfim acima do corpete. Enquanto conversavam, ele iria queimar implacavelmente, a chama ficando maior e mais quente até que tudo o que ele queria fazer era pegá-la e levá-la para a cama.

Ela lançou-lhe um outro olhar de soslaio e o seu próprio olhar encontrou o dela. Durante os próximos cinco passos do seu passeio, todo um caso de amor se desenrolou em sua mente. Em fantasias reluzentes de clareza surpreendente, ele esfregava e beliscava a adorável e rubra orelha apenas visível dentro da forma do seu chapéu. Ele lambia os mamilos intumescidos dos seios pressionando contra aquela musselina. Ele baixava as suas anáguas e a saia e a deitava de costas numa cama para poder beijar seu corpo nu, afastar as coxas e usar a língua para reivindicar a sua mais profunda paixão. Ela não resistia a nada disso no mundo secreto da sua mente. Ela aceitou e se juntou e implorou. O grito de um vendedor ambulante que passava o tirou de seu devaneio. Ou talvez fosse o enrijecimento do braço de Fleur, como se ela adivinhasse o que ele estava pensando.

— Vale a pena dar atenção ao conselho de Hampton. Não há mais nada a fazer, Fleur. Você deve atrasar os planos para a escola.

— Eu não posso fazer isso. Há um cronograma.

— Explique que o cronograma deve mudar porque você não deve vender qualquer propriedade neste momento. Os pobres sempre estarão conosco. A sua escola continuará a ser necessária um ano mais tarde.

— Eu não quero mudar a programação.

— Eu devo insistir que você faça.

— Você está tão confiante no julgamento do Sr. Hampton?

— Estou confiante em mim mesmo. Ele simplesmente concorda com o meu.

— Só que é o meu julgamento que governa neste assunto. Você concordou que eu teria total controle sobre a gestão desta parte da minha herança.

Ele estava começando a odiar muito o que ele tinha concordado e a sua referência direta fez seu humor afiar. —Estou plenamente ciente das limitações impostas por esse acordo, garanto-lhe. No entanto, você procurou o casamento por uma razão. É imperativo que Farthingstone não tenha nenhum motivo para construir um caso que justifique uma anulação. Quanto à minha interferência, não negociei o dever de protegê-la. Volte a sua atenção para outras instituições de caridade. É a venda de terras que está em questão, não as suas outras contribuições.

Ela puxou a sua mão e se afastou dele. Os seus corpos de repente parados, formaram duas pedras obstruindo o fluxo da multidão. Os transeuntes se empurravam batiam e xingavam, mas Fleur estava alheia a eles. Ela o encarou com os olhos brilhando com lágrimas de frustração. —Você não entende nada. Isto não é como outras instituições de caridade.

— O objetivo final de todos eles, é o mesmo. Assim, é a satisfação.

— Eu nunca senti qualquer satisfação no resto deles. Eu só me envolvi com essas coisas porque eu tinha que fazer algo uma vez que eu não iria ter uma família. Eu pensei que o trabalho de caridade me faria sentir que minha vida tinha algum significado, mas na verdade não. Não até que eu pensasse nessa escola.

—Colocar comida em mesas certamente tem tanto significado como a construção de uma escola. Há tanta necessidade de que você pode encontrar muitas boas causas.

—Isso será meu. Será algo que eu concebi e consegui. Esses meninos não serão sem nome, sem rosto, serão merecedores. Vou vê-los aprender e crescer. Eles serão os únicos filhos que eu vou ter. Apenas o planejamento para isso me faz sentir viva e jovem em vez de velha e monótona. Você pode imaginar como é viver anos sem propósito e depois encontrar um que é emocionante e vital?

—Sim, eu posso.

—Então você sabe que a noção de possivelmente perdê-lo por causa de um atraso é impensável. Eu devo ir em frente.

—Eu devo proibi-la de fazer isso, por enquanto.

Seu queixo se inclinou para cima. —Você não tem direito de proibir.

—Eu sou o seu marido.

—Na verdade não.

Então, lá estava, a parte deste arranjo que definitivamente precisava de esclarecimento. Em breve.

—Se você enviar dinheiro para os radicais, se você usar a sua renda para comprar um elefante, não vou dizer uma palavra. No entanto, se os seus planos ameaçarem a segurança que você procurou de mim, então exercerei os meus direitos como seu marido. Estou fazendo isso agora. Eu digo-o novamente. Eu proíbo você de vender qualquer propriedade no futuro próximo, e se isso significa que a escola deve ser adiada, que assim seja.

Ela olhou para ele. Lágrimas faziam a sua raiva brilhar.

Ela girou nos calcanhares e marchou de volta para a carruagem. Quando ele deu um passo ao lado, ele olhou para sua expressão irritada e perturbada. Ele pensou em seus longos anos de ser a santa Fleur Monley que se colocara na prateleira. O mundo pensou que ela tinha respondido a um chamado especial. Tal vida era suposto trazer enorme contentamento. Pelo que Fleur tinha acabado de dizer, mal a sustentava. Ela não permitiu que ele a ajudasse a entrar na carruagem. Ela se recusou a olhar para ele quando ele se juntou a ela.

— Eu entendo que você está decepcionada, mas não há escolha neste momento — disse ele — Eu sinto muito, mas você deve obedecer-me nisto.


Capítulo 12


Fleur inclinou a cabeça e examinou Luke. Ele ficou no meio da sua sala da manhã. Em vez da farda de segunda mão que usara desde que ele chegou, um casaco marrom novinho em folha e calças brancas envolviam o seu corpo magro. A aba de um chapéu alto sombreava os seus olhos cinzentos. Luke moveu os braços e olhou para baixo do corpo. — Parece um pouco apertado.

— Você está acostumado a roupas que são grandes demais para você. É por isso que este casaco parece apertado em comparação.

Misturado com o ceticismo de Luke havia uma forte dose de espanto. Fleur percebeu que ele nunca tivera uma única peça nova para ele antes. Como a maioria das pessoas em seu mundo, ele viveu das rejeições dos outros.

— Eu vou ficar bem segurando as rédeas, não vou? Estou melhorando com a carruagem de quatro cavalos também. O Sr. Duclairc tem me ajudado a aprender e diz que estou me tornando especialista nisso rapidamente.

Ele examinou as suas roupas novas, o garoto meio desajeitado e o homem meio arrogante, alternando entre entusiasmo e cautela. De repente, ele olhou para cima e o seu olhar encontrou o dela. Gratidão nua cruzou o espaço para onde ela estava sentada.

—Há outra camisa naquele pacote e algumas outras coisas —, disse ela, apontando para um pacote embrulhado na mesa.

Ele sentiu o pacote, franzindo a testa. — Uma camisa é o suficiente. Preciso mandar o meu salário para o norte, sabe, e posso lavar a camisa e depois ...

— O custo das camisetas não virá do seu salário. Tudo isso é um presente do Sr. Duclairc. Você ainda terá salário para mandar para casa.

Ele ponderou isso, ruborizando e franzindo a testa. — Eles dizem que você é um anjo, eles dizem. Eu acho que eles estão certos.

—Você está aqui através da generosidade do meu marido, não minha.

—Se você tivesse se oposto, ele não teria feito isso. Você sabia que eu não estava realmente apto para o trabalho.

—Você vai ficar bem no trabalho.

—Eu espero que sim, uma vez que eu não estava apto para as minas. Continuava tossindo quando entrava, como se a poeira sugasse direto para dentro de mim. Outros não, mas eu tossi tanto que não conseguia respirar. — Ele balançou a cabeça. —Não é uma vida ruim, mesmo que fosse suja e longa. Coisa boa quando um filho de um mineiro não é apto para as minas.

—Bem, você estará apto para este trabalho. Agora, nada mais sobre eu ser um anjo. Os servos são tolos de falar de mim dessa forma, e eu não quero ouvir isso de você.

—Não são os servos daqui que dizem isso. São os servos do norte. As mulheres, principalmente. A minha mãe me contou sobre isso no verão passado, quando eu a visitei, como o dinheiro que você enviou mantinha comida na mesa quando os homens saíam e não trabalhavam. Um anjo lhes mandou comida, ela disse. Ele sorriu timidamente. — Imagine a minha surpresa ao saber que eu estava ao serviço do próprio. Poderia ter me derrubado com uma brisa quando o cozinheiro me disse o seu nome de solteira.

Fleur nunca conheceu ninguém ligado às famílias que receberam esse dinheiro. —Ajudou, então, um pouco? Fico muito feliz em saber disso.

—Ninguém estava comendo carne, mas ninguém em minha aldeia morreu de fome. — Ele bateu no torso, orgulhosamente sentindo o novo casaco. — Vou parecer muito bem quando eu levar o Sr. Duclairc hoje à noite, isso é certo. Ele disse que vai usar a carruagem.

A sua referência à noite fez o seu coração afundar. Se Dante queria a carruagem, ele devia ter alguns planos muito especiais. Levava mais tempo para superar esse ciúme idiota do que ela esperava.

—Ele vai se orgulhar de tê-lo nas rédeas—, disse ela ao sair. — O seu amigo ficará impressionado.


—Lá está ela. O terceiro camponês da direita. Cabelos como chamas — disse McLean. — O nome dela é Helen. Veio de Bath há dois meses, onde fez alguns pequenos papéis. Liza tornou-a na sua protegida.

A amante de McLean, Liza, tinha o papel principal, mas a ruiva Helen quase a ofuscava. A sua beleza de olhos esbeltos, pele leitosa e ossos finos brilhava no meio do povo anônimo da aldeia que povoava o último ato da peça.

— Dois meses e nenhum protetor? —, Perguntou Dante. Ele sentou-se ao lado de McLean num camarote favorecido pela boa visão das mulheres exibidas no palco.

— Liza a encorajou a estabelecer padrões elevados e evitar qualquer namoro casual que a possa baratear. Bom conselho. Ela tem o potencial para ser a amante de um duque.

— Se Liza está cuidando dela para ser amante de um duque, ela vai tentar ser muito cara.

McLean riu. — Ela vai pensar que o seu rosto é tão bom quanto duzentos por mês. Nem ela está pronta para duques ainda. Com a sua mudança de sorte, você pode pagar por ela agora.

Provavelmente. Ele nunca tinha arranjado um caso tão formal antes. Ele se perguntou o que Fleur diria se descobrisse que ele estava pensando em algo assim. Nada. Nada mesmo. Ela assumiu que ele teria amantes. Ela contava que ele fizesse isso. Se ele a beijasse novamente como na carruagem três dias atrás, ela poderia até mesmo exigir que ele seguisse em frente. Não que ela não tenha gostado desse beijo. O que tornou a situação toda apenas mais infernal.

— O que você acha? —, Perguntou McLean. — Ela está bem disposta em conhecê-lo.

— Vamos ver.

— Você não parece muito entusiasmado. O que mais há para ver? Ela é uma joia.

— Eu posso não a agradar.

— Agradar? Você vai ficar com ela. Se ela tiver um bom caráter, não o deixará. ? Ele ergueu as mãos, exasperado. — Isto deve ser a influência de sua esposa a funcionar.

— Não critique Fleur se você valoriza nossa amizade.

— O quê oh! Eu ouço raiva? Proteção cavalheiresca? Uma estranha reação em relação a uma esposa que você passa toda noite fingindo que não existe. Não é da minha conta, mas ...

— Você está certo. Não é da sua conta.

Um silêncio tenso pulsou entre eles. No palco, a peça começou a desenrolar em direção ao seu desenlace.

— Não é da minha conta —, McLean finalmente disse num tom estranhamente gentil. — No entanto, se você está aqui hoje à noite, não é difícil deduzir qual é o problema. Não posso oferecer conselhos, exceto para dizer que sempre assumi que mulheres decentes, especialmente donzelas de certa maturidade, exigem muita paciência.

— Você não sabe do que está falando.

— Claro que não. Eu nunca me preocupei com mulheres decentes ou donzelas. No entanto, uma senhora que o assumiu como marido, merece toda a paciência que seja necessária.

— Eu não preciso da sua orientação sobre as mulheres, especialmente sobre a minha esposa.

— Algumas horas atrás eu teria concordado. No entanto, você está tão mal-humorado que se pode pensar que você está sentindo dores de culpa. Sinto-me obrigado a dizer-lhe, e garanto-lhe que o impulso me surpreende, para ir para casa, para a doce senhora que está esperando por você.

— É divertido você me ensinar o dever conjugal como um bispo.

— Bem, este bispo ficará muito irritado se a sua amante ficar com raiva esta noite porque o seu amigo insultar uma certa beleza ruiva. Agora, a cortina desce em breve. Você está vindo? Então afaste o seu humor insuportável. Eu não quero ter que dar desculpas para você como se você fosse um garoto do campo inexperiente.

McLean liderou o caminho descendo a escada e o corredor atrás do palco. Ele os empurrou através do grupo de homens que esperavam para dar uma lisonja esperançosa nas atrizes. Ele entrou no camarim de Liza como se fosse seu dono, e Dante o seguiu.

Eles ouviram o rugido quando a peça terminou e depois a comoção no corredor. Liza e Helen demoraram a chegar. McLean ocupou-se cutucando potes de tinta.

A porta se abriu e Liza e Helen entraram. Ambas carregavam vários buquês de flores concedidos por admiradores. Liza largou os seus na cadeira e correu para os braços de McLean. Os olhos inclinados de Helen examinaram Dante por trás das suas flores coloridas.

O seu próprio olhar mediu-a rapidamente. O seu rosto finamente moldado se tornaria mais bonito ou tristemente duro à medida que envelhecesse. Ela exalava uma consciência da sua beleza e uma cautelosa reserva sobre conceder os seus encantos. Ela era mais refinada e inexperiente do que Dante esperava.

Liza interrompeu o beijo de McLean. — Estamos sendo rudes, McLean. Este é o Sr. Duclairc, Helen. O cavalheiro que eu queria que você conhecesse.

Dante disse as coisas certas e sorriu o sorriso certo. Helen olhou em seus olhos e a sua cautela se derreteu. Aquilo era o que era. As decisões eram todas dele agora.

— Precisamos nos vestir, senhores. As coisas de Helen estão aqui também, McLean, então você não pode ficar. Fora vocês dois, vão.

O corredor estava esvaziando de admiradores. — Você parece mais consigo mesmo de repente — disse McLean.

Definitivamente. No entanto, as Helens do mundo eram brincadeira de criança. Não havia desafio se você soubesse que não falharia. E não havia ilusões sobre o que você ganhava. Ele gostaria de receber a clareza do custo e benefício que marcaria esse arranjo. Alguma sensualidade grosseira seria um alívio.

— Eu tenho um jantar esperando em meus aposentos. Você vai se juntar a Liza e a mim? — McLean ofereceu.

— Helen já viu os seus aposentos? Eu acho que não. Melhor não, então. Ela ainda é capaz de ficar chocada.

— Você acha? Mesmo de você em perceber as nuances. É provavelmente por isso que Liza achou que você se adequaria a ela.

A porta se abriu e Liza emergiu. — Helen ainda está se vestindo. Ela vai se juntar a nós em breve.

McLean pegou o braço dela. — Eu acho que não. Duclairc tem outros planos. Vamos jantar sozinhos.

Eles saíram e Dante se virou para a porta. Ele olhou para os painéis e imaginou a mulher atrás dela. Ele preferia que ela fosse grosseira e vulgar. Ou pelo menos experiente e calculista.

Você deve ir para casa para a doce senhora que está esperando por você.

Ele imaginou Fleur em sua nova sala de estar, escrevendo suas cartas. Não esperando por ele, mas sim aliviada por ele não estar em casa. Feliz em estar livre da fome que ele mal podia esconder.

Se ela estivesse completamente fria, ele poderia aguentar. Se ela não tremesse quando ele a beijasse, ele deixaria de fazê-lo. Mas a sua sensualidade não estava morta. Estava muito viva, apenas incompleta. O conhecimento disso, estava lentamente deixando-o louco.

Ele sentiu o corpo dela ao lado dele naquela cama. Ele se lembrou de suas exclamações de prazer por trás da sebe. Ele viu o seu desalento depois daquele último beijo na carruagem.

Ele empurrou a porta com painéis. A empregada de Liza acabava de terminar com o fecho do vestido amarelo-claro de Helen. Helen jogou o cabelo flamejante sobre um ombro leitoso enquanto virava a cabeça para a sua entrada. Ele gesticulou para a empregada e terminou o fecho. Helen corou, mas não objetou.

— Liza saiu com o McLean. Vou levá-la para casa na minha carruagem, se isso for conveniente para você.

Ela pegou um longo xale de seda azul e colocou-o sobre os braços. — Obrigada.

Ele a acompanhou até a carruagem. Ela se encharcara de perfume, e o seu odor almiscarado e exótico flutuou em direção a ele como uma brisa quente. Fleur raramente usava perfume e, quando o fazia, era um leve floral que o lembrava daquela tarde fresca na grama junto à sebe.

— Você está apreciando Londres? — ele perguntou.

Ela respondeu longamente. A sua explicação sobre aprender a administrar o tamanho e a complexidade da cidade encheu a sua caminhada até onde ele tinha dito a Luke que esperasse com a nova carruagem.

Luke ficou boquiaberto quando viu a linda Helena. Ele mal escondeu o seu desconforto em ajudar na infidelidade do seu mestre. Bem, o rapaz deveria se acostumar com isso. Dante deu instruções a Luke para a casa de Helen, depois subiu na carruagem fechada e sentou-se ao lado da convidada.

— Liza disse que o seu irmão é um nobre — disse ela.

— Ele é um visconde.

— Ela disse que ele se casou com uma cantora de ópera.

— A sua esposa só começou a se apresentar, depois de alguns anos de eles se terem casado.

Ela riu.

— Mas, claro, Sr. Duclairc. Isso nunca poderia acontecer de outra maneira. Foi muito generoso da parte dele permitir isso, no entanto. Muito entendimento.

— Muitos acham que foi insano e escandaloso.

— Um homem raro, ter permitido isso, sabendo que muitos pensariam isso. Você não concorda?

— Ela vai se apresentar em Londres antes do Natal. Talvez você seja capaz de ouvi-la.

Helen deixou o xale cair em seus ombros leitosos. — Esta é uma carruagem maravilhosa— disse ela com admiração. — O meu pai tinha uma carruagem. Não tão boa como esta, mas poderia levar um par.

— Ele não tem mais?

— Ele e a minha mãe morreram há vários anos.

Inferno.

— Eu não deveria ter dito isso, deveria? — Ela disse.

— Estou interessado em conhecer você.

— Não sobre coisas assim. Agora você tem medo de eu contar uma história sobre ficar sem nada com três irmãzinhas e afirmar que eu realmente não teria aceitado a sua companhia, a não ser pelas minhas dificuldades.

— Essa é a sua situação?

Ela riu novamente. Isso fez com que seu perfume enchesse a carruagem. — Eu era filha única e saí com uma renda modesta, mas habitável. A renda me deu a liberdade de entrar no palco, que é o que eu queria fazer. Fique descansado, Sr. Duclairc, você não está se aproveitando de mim. Eu sei do que estou falando. — A mão dela deslizou pelo peito dele até o pescoço dele. Ela se inclinou para frente até que seus seios pressionaram o braço dele. — Eu vou te mostrar.

Ela o beijou e acariciou. Não com grande arte, mas foi o suficiente. A sua excitação rapidamente percorreu uma trilha bem desgastada. O prazer o inundou, tão familiar quanto uma casa de infância. No entanto, como um lugar bem conhecido que se visita de novo depois de uma ausência, ele viu os seus encantos e as suas piores falhas. Vazio. Nenhuma intimidade real. Ele nunca tinha notado isso antes, ou nunca se importou, pelo menos. O calor era apenas físico e a excitação quase... solitária.

Ele sentiu mais do que pensava. A fome crua martelando por ele permitia pouca consciência. Ele simplesmente possuía uma nova consciência. Não foi por causa do que ela era ou planejava ser. Era o mesmo com todas elas. Houve pouca emoção em tudo isso, todos esses anos. Aquilo era uma escolha. Uma escolha calma e deliberada. Ele sentiu o vazio por outro motivo. Ele sabia o que faltava porque provara o que poderia ser. Com Fleur. Não apenas atrás da sebe, embora isso tenha sido glorioso. Mesmo andando na carruagem, segurando a mão dela. Deitado ao lado dela naquela cama. Lendo um livro do outro lado da biblioteca. Em comparação com aqueles prazeres, este antigo parecia quase desolador.

As coisas estavam se movendo rapidamente e Helen não demonstrou hesitação. Quando ele instintivamente parou as mãos e esfriou os beijos, ela ficou surpresa.

— Nós estaremos em sua rua em breve — disse ele.

Isso a apaziguou. Ela descansou em seu abraço, bicando pequenos beijos em sua bochecha.

— Bath era a sua casa quando você era menina?

— Uma aldeia perto.

— Você tem um amante lá?

— Eu não sou virgem, se é isso que você quer saber. Você não terá surpresas agradáveis.

— Surpresas desagradáveis, você quer dizer. Eu não arrebato inocentes.

— Você não o faz? Isso é bastante doce.

— O seu amante se ofereceu para se casar com você?

— Claro. Ele achou que precisava.

— Talvez ele quisesse se casar.

— Bem, eu não. — Ela o beijou novamente, agressivamente. O seu cabelo emplumava o seu rosto e o seu perfume saturava a sua respiração, incitando necessidades negadas por muito tempo. O seu corpo pressionado, oferecendo o esquecimento do prazer.

A carruagem parou em frente a uma casa atraente em uma rua atrás do Leicester Square. Ele supôs que Helen pagasse um alto preço por morar nesse endereço, mas era dinheiro bem gasto. Permitia que os homens soubessem que ela era uma mulher a ser levada a sério e uma amante com certas ambições e expectativas.

Luke abriu a porta e desceu os degraus. Dante ignorou a expressão de pedra do seu cocheiro e auxiliou Helen para fora. Ele a acompanhou até a casa.

— Você não pretende ficar, não é? — Ela perguntou, levando-o para o hall de entrada. Ela o decorara com bom gosto, com gravuras emolduradas e uma boa mesa.

— O que te faz pensar isso?

— Você não deu instruções ao seu cocheiro. Ele mal consegue segurar os cavalos lá fora a noite toda. — Ela o encarou, a sua beleza aumentada pelo brilho vindo das velas acesas na mesa. Ele não mentiu para si mesmo. Ele a queria. Pelo menos parte dele queria. Mas não a parte que importava.

— Não, eu não vou ficar.

Por um instante, ela parecia muito jovem e vulnerável. Então, ela se endireitou e olhou para ele corajosamente. — Você acha que eu sou muito inexperiente.

— Sim, mas isso é facilmente remediado, não é? Realmente não tem nada a ver com você.

Ela se aproximou e colocou a mão em seu peito. — Eu gostaria de estar com você. Eu farei qualquer coisa que você queira.

— Você acha que o meu rosto e o meu nascimento fazem diferença? Que você pode fingir que é diferente do que é? Pergunte a Liza o que realmente é e o que os homens às vezes querem.

— Eu já sei.

Ele tirou a mão do peito. — Você deveria voltar para a sua aldeia perto de Bath.

Ela afastou a sua mão. — O famoso amante se tornou num reformador?

Ele se virou para a porta. — Volte para a sua aldeia e case-se com o homem a quem você deu sua inocência com amor, se é que foi assim. Se você sabe disso, isto só poderia ser sórdido.

Ele estava cruzando o limiar quando ouviu a sua resposta. — Não com você, acho que não. Se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

A porta dela não era a que ele queria deixar aberta, mas ele não tinha forças para fechá-la. A sua frustração o tentou como um inferno, todo o caminho até à carruagem. Luke esperou ali, com um sorriso de alívio. Dante queria dar um soco no jovem cocheiro de dentes brilhantes.

— Casa — ele rosnou, pulando na carruagem antes que seu corpo pudesse ficar com vontade própria e corresse de volta.

Ele fechou os olhos e forçou as suas reações para uma trégua. Ele começou a rir sozinho. Porra, ele estava se tornando uma figura ridícula. Ali estava ele, deixando uma mulher que lhe oferecia tudo o que queria, para voltar a uma mulher que não lhe dava nada. A sua liberdade se tornara um fardo indesejável e a sua vida era uma piada maravilhosa.

Ao se casar com a sua santa, ele fez uma barganha com o diabo. Provar paraíso levou-o ao inferno. E o pior, a pior parte, era que ele não podia esperar para vê-la amanhã.

 


CONTINUA