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Julian Hampton é o quinto membro da série londrina, o enigmático e reservado advogado da família Laclere. Durante toda sua vida esteve apaixonado por Penelope, agora Condessa de Glasbury. E, quando soube dos horrores que ela havia suportado nas mãos de seu cruel marido, Julian foi o incentivador de sua fuga para Itália. Mas jamais se esqueceu do amor de sua infância, da menina que resgatou anos atrás quando era somente uma criança e que floresceu, transformando-se em uma bela mulher. Quando Penélope retorna em segredo para Londres, é a Julian que ela recorre... Entretanto, sua confiança nele colocará tanto suas reputações, como suas vidas em perigo.
Penelope, Pen, Condessa de Glasbury passou os últimos anos de sua vida, fugindo de seu depravado marido. Incapaz de conseguir o divórcio, não só porque seria repudiada pela sociedade, mas sim porque seu marido se nega a conceder finalmente decidiu fugir da Inglaterra. Mas agora tem que retornar ao seu lar, esperando a ajuda de sua amada família e do homem que sempre esteve a seu lado, quando precisou dele.
Julian Hampton, o solícito advogado de muitas das famílias ricas de Londres, não está interessado em nenhuma das jovens casadouras da sociedade. É que o frio e reservado Julian tem um segredo que ninguém conhece: passou a maior parte de sua vida adulta apaixonado pela única mulher, que está convencido que jamais poderá ter, uma mulher que roubou seu coração quando era somente um rapaz, uma mulher a quem esteve escrevendo cartas e poemas de amor que nunca enviou...
Portanto, não é surpreendente que Julian fique atordoado quando essa mulher aparece na soleira de sua casa pedindo sua ajuda... Outra vez.
Tempos atrás, Pen procurou-o para ajudá-la a libertar-se de seu casamento não desejado. Casada muito jovem com o Conde de Glasbury, por ordem de sua mãe, a vida de Pen muito rapidamente se transformou em um autêntico pesadelo. As berrantes tendências sexuais de seu marido foram desviando-se de suas escravas sexuais para sua jovem esposa e, depois de algum tempo de constantes humilhações, Pen recorreu a Julian em busca de ajuda. Este chantageou sutilmente o Conde para que aceitasse a separação de fato; em troca, Pen poderia estabelecer-se em outro país levando uma vida discreta que não manchasse o nome e a reputação de seu marido.
Entretanto, nas últimas semanas o Conde fez contato com Pen, que até nesse momento viveu em Nápoles, para lhe reclamar seu ansiado herdeiro. As cartas do Conde se tornaram cada vez mais ameaçadoras; a jovem teme por sua vida. Ela não está disposta a voltar e submeter-se às humilhações e abusos de seu marido, mas tem medo de envolver nesse assunto seus irmãos, e que aconteça um derramamento de sangue... Assim decide pedir, outra vez, a Julian para que a ajude a fugir para América.
Julian aceita, como sempre fez, e novamente mascara seus verdadeiros sentimentos, sob uma atitude de frieza. Agora se encontra em uma autêntica encruzilhada, se a ajuda a fugir ao novo continente nunca voltará a ver o amor de sua vida, e isso é o que mais teme neste mundo. Por outro lado, as leis inglesas são muito restritas quanto às causas do divórcio. O adultério nos homens sempre foi permitido... Mas com as mulheres é diferente. Se uma mulher casada comete adultério, o marido pode divorciar-se dela. Com esta premissa, Julian decide tentar convencer o Conde para que se divorcie de Pen... E iniciar uma farsa pública como amantes para que essa possa divorciar-se. Entretanto, um assassinato em estranhas circunstâncias, colocará Pen e Julian no centro das atenções ameaçando suas próprias vidas…
CAPÍTULO 01
Para um homem solteiro, não havia uma pessoa no mundo mais perigosa que uma mulher felizmente casada.
Para essas mulheres, um homem sem compromisso, de posição e com propriedades era uma pedra em bruta que sai das paredes da vida.
A sorte de sua própria união, dá-lhes a certeza de que essa pedra bruta deseja ser suavizada.
A mulher casada felizmente, está certa que essa pedra será muito mais feliz se estiver cuidadosamente esculpida em um morteiro como seu marido.
Foi assim, que Julián Hampton encontrou a si mesmo sentado ao lado da faladora viúva Senhora Morrison, quando participava do banquete da Viscondessa Laclere.
Ele não percebeu a forma especial, que a Viscondessa continuava progredindo em sua conversa, mas tampouco perdeu o fio da mesma.
— Sua ocupação deve ser fascinante Sr. Hampton,— disse a bela viúva, quando terminou a descrição muito detalhada de suas férias de verão em Brighton.
— Ser advogado é uma profissão muito aborrecida, na verdade. — Na verdade não era, mas o mundo de lady Morrison nunca entenderia o porquê.
Ela riu e seus olhos brilharam. Virou-se e foi visível totalmente o rosto brilhante.
— Não posso acreditar, que qualquer coisa que se trate de você seja aborrecido, Sr. Hampton.
— Garanto que sou um homem completamente irrelevante. Aborreço tanto a mim mesmo, que apenas consigo permanecer acordado.
— Bem, você não se aborrecendo de mim— disse ela com um sorriso significativo.
Ele se perguntou, sobre as razões que a viscondessa teria ao colocar em seu caminho a esta jovem de cabelos dourados de pouca inteligência, de caráter submisso e loquacidade chata. Já que ele não tinha perseguido às mulheres mais atraentes apresentadas até o momento, a Viscondessa e seus amigos provavelmente acham que não se interessaria por uma companhia interessante em sua casa.
Já que a senhora Laclere abriu seu círculo, para uma mulher que provavelmente não gostava de muito e só para o benefício dele, obedientemente submeteu à senhora Morrison a sua séria consideração.
Ela era atraente mais que suficiente e suspeitava que fosse agradável tê-la na cama. Tinha uma fortuna respeitável e belos seios, revelados em parte pelo seu decote. Suas formas indicavam que era o tipo de mulher que à maioria dos homens os gostaria. Ela era a imagem da esposa perfeita, para um homem que procurasse assegurar a tranquilidade doméstica.
Infelizmente, ele não era esse homem.
Fez a ela, uma pergunta sobre seu filho e ela abordou o assunto com o entusiasmo, que toda boa mãe devia mostrar. Embora, a maior parte de sua cabeça escutasse os contos das travessuras do menino, em um canto renegado de sua mente escrevia uma carta à viscondessa Laclere.
Minha querida Senhora Laclere,
Estou muito agradecido pela preocupação que mostra por minha futura felicidade. O desfile de mulheres qualificadas que você escolheu para que eu inspecionar durante os últimos meses foi impressionante em sua variedade. Fiquei comovido, mais comovido profundamente, por sua amabilidade. Eu infelizmente devo informá-la, entretanto, que sua busca é em vão, como é o da duquesa de Everdon e os esforços mais sutis da senhora de St. John. Eu não me casarei. Portanto, respeitosamente lhe peço ser liberado do jugo social que vocês colocaram para mim.
Seu servidor.
A senhora Pérez era a esposa de Raúl Pérez, um diplomático do jovem país da Venezuela, quem vivia em Londres para promover os interesses econômicos de seu país. Eles estavam presentes no banquete, já que estava sendo organizada pelo visconde Laclere, para celebrar a recente aprovação da lei que aboliu a escravidão do Império Britânico, um evento de simbolismo transcendental para todos os povos das Américas.
Julián tentou ignorar o fato, de que esta mulher casada tinha dado a entender de forma íntima, que encontrava as pedras brutas das paredes muito atraentes e desafiantes.
Desejou esquecer esse comentário, mas logo chegou o momento de prestar atenção a outra mulher, quando a conversa mudou para a direita.
— Seu inglês é excepcional, levando em consideração que recentemente se casou com seu marido aqui em Londres,— disse a dama da direita.
— Estive estudando o idioma e seus costumes por anos. Disse a Raúl que não viria até que, eu pudesse fazer com que se sentisse orgulhoso, e não parecer uma roda solta camponesa nas festas deste tipo.
— Você obteve admiravelmente.
Enquanto ela explicava seus estudos, esse canto rebelde de sua mente divagava. Viu as cores brilhantes e contraste nítidos de sua terra em sua cabeça. Águas cristalinas que se estendiam ao longo das praias. Barcos piratas que se balançavam na superfície do mar, assim como homens atrevidos em terra levando seus espólios, e a pele marrom das mulheres, vestidas de vermelho, laranja e azul. Observava as discussões masculinas, por um pouco de ouro, pesadas espadas de metal enfrentando umas as outras, via as tempestades e como o sopro do mar batia no navio com fúria sublime e...
— Você não é um homem muito dado às relações sociais, não é verdade senhor Hampton?
Sua voz gutural tinha uma tintura espanhol e as nuances de outras culturas mais primitivas. Seus olhos escuros brilhavam de humor e sua pele, era da cor das amêndoas sem casca, parecia muito exótica com seu vestido de noite tão britânico.
— Lamento não ter sido abençoado com facilidade natural nesse tipo de situação que muitos outros desfrutam.
— Isso não é certo. Eu estive o observando no salão, não é falta de vontade. Simplesmente você não se preocupa com isso, não duvido que você saiba que sua reserva é sempre mal-entendida, mas você não se importa com isso de todas as formas.
— É mal interpretado? Gostaria de acreditar que não fosse perceptível em absoluto.— Disse ele.
— Os homens acham que você é orgulhoso, o mesmo que aborrecido como você diz.
— Talvez tenha razão em ambos os casos.
— As mulheres, em dúvida também, se perguntam o que passa nessa cabeça, e o que se esconde debaixo dessa armadura de indiferença, e o que pensa enquanto observa o jogo da nossa comédia humana na fase desta vida.
Ela emanava uma sensualidade que nada podia passar por alto, sem se importar com sua armadura. Usava sua própria falta de reserva como uma bandeira, como uma forma de sua cultura mais expressiva.
— É apenas isso que você deseja saber, senhora?
— Sim.
— Agradaria se confirmasse tudo isso? Revelando a verdade? Admitir as observações que surgem com meu silencio?
— Ficaria encantada de saber.
Ele inclinou a cabeça com cumplicidade.— Eu acredito que...
— Sim? – Se animou ela.
— Acredito que vou deixar para um o próximo jantar.
Ela colocou seus olhos negros nele.
— Considero um grande triunfo, que você tenha se dignado a zombar de mim. Eu compreendo muito bem os homens igual a você. Sua reserva é mais parecida com a de meu povo, do que você imagina. O silêncio queima por dentro. Embora acredite que com o tempo, você poderá manifestar o que pensa, com as palavras certas. Claro, que com o devido estímulo.
Ela estava mostrando de que estímulo se tratava. Sua perna pressionava a dele debaixo da mesa. Julián tomou um gole de vinho e olhou fixamente para as velas chamejantes de Lady Laclere.
Minha querida Viscondessa…
Sua hospitalidade no banquete me afligiu. Raramente um homem deixa sua casa a noite e encontra a si mesmo, durante horas sentado entre uma potencial esposa de considerável riqueza, beleza e comportamento doce e também, com uma potencial amante de indubitável sensualidade de outro lado. As oportunidades oferecidas foram verdadeiramente generosas.
Infelizmente, uma vida de tédio me esperara com a primeira e um marido zangado exigindo a satisfação com a outra. Portanto, acho melhor me retirar de qualquer perseguição e com alguma dor, devo rejeitar ambos os presentes.
Meus sinceros agradecimentos pela honra do convite, etc etc.
Julián Hampton
Naquela noite, de volta a sua casa em Russel Square, Julián se sentou em sua mesa de trabalho e escreveu outra carta. Dessa vez, utilizou pluma e tinta.
Os acontecimentos daquela noite, fizeram com que as palavras fluíssem em uma corrente de arranhões. Era uma corrida para aliviar a agitação do seu espírito que precisava se libertar, antes que provocasse nele amargura e resentimento.
Meu incomparável amor,
Sete meses passaram, e temo que você nunca volte. Espero suas breves e incomuns cartas, como um menino, desesperado por qualquer pequena indicação que se lembre de que eu existo, esperando provas de que está cansada de viver, nessa terra estrangeira onde vive agora. Tenho lido suas cartas cem vezes, procurando o menor indício de que voltará para casa. Uma parte de minha cabeça, não faz mais que esperar diariamente, e logo não ficará nada dela que me sirva para atender meus deveres diários.
Uma palavra meu amor, é tudo o que procuro. Uma palavra que me permita conhecer que não estará longe para sempre e que pelo menos terei sua presença e amizade em minha vida, mesmo se jamais poderei ter sua paixão e seu amor.
A última frase ele escreveu mais lentamente. Era essencial escrever sua confissão. Tinha jurado a si mesmo, na metade de sua vida atrás, que não faria ilusões com esta mulher.
Não se incomodou em assinar. Mais calmo agora, por estranho que parecesse, ele olhou para a carta por um longo momento, depois cuidadosamente a dobrou.
Ao abrir a gaveta da mesa, olhou para a grossa pilha de papéis dobrados de maneira similar. Algumas cartas eram assim, escritas em suas inquietações melancólicas ou em suas fúrias explosivas. Outras tinham poemas ou histórias nas quais o amor florescia em mundos muito mais gentis, onde os sentimentos eram mais profundos que nesse prático e pouco romântico costume da Grã Bretanha.
As que estavam no fundo, eram as mais antigas, já mostravam mudanças na cor da tinta como um marco de sua idade.
Havia passado um longo tempo da última vez, que tinha acrescentado qualquer coisa na gaveta. Por que nessa noite? Por que nesse estado de ânimo se apoderou dele lavando-o às seguintes horas de escuridão?
Talvez por causa das duas mulheres. Normalmente, não se importava de negar o que cada uma oferecia, mas nessa noite, à medida que a noite avançava, se importava muito. O incomodava como um inferno, fazer aquele papel de amante obcecado, pois era um papel que já não podia realizar. Durante anos, achou que poderia ser, mas finalmente, sua desonestidade ao fingir que não esperava retribuição e seu afeto havia o desagradado.
Então, provavelmente teve a ver com as mulheres. Cada uma o tentava a sua maneira. Era muito tentador, no caso da senhora Pérez. Ele havia passado a noite, em um leve estado de excitação, mais o agravante e que, só tinha alimentado a tormenta que crescia dentro dele.
Amanhã se ocuparia dessa parte da tempestade com um trabalhe eficaz e do caminho sem volta, com alguma mulher profissional que não procurasse amor ou revelações.
Olhou para a carta que estava entre seus dedos. Uma decisão fria se apoderou dele. A queimaria? Também as outras. Destruiria tudo, casaria com lady Morrison, teria uma aventura com a senhora Pérez e viveria uma vida normal. Ele estava muito velho para ficar escrevendo cartas e poemas que jamais seriam enviadas.
Olhou a pilha de papéis e depois às chamas na lareira.
— Senhor!
Julián apenas ouviu a saudação e quase não sentiu o empurrão em sua porta.
Saiu de um sonho, onde estava fazendo coisas escandalosas a doce viúva lady Morrison.
Entretanto, em seu sonho ela continuava falando através dele, assim não estava com pesar que o tivessem interrompido suas fantasias.
— Senhor, lamento ter que despertá-lo, mas ela não irá...— O rosto de seu valete se abatia sobre sua cabeça, tristemente angustiado, como se fosse um fantasma sob o brilho de abajur de noite.
— Batkin, de que demônios está falando?
— Eu só escutei as batidas na porta, porque meu quarto dá para a rua e minha janela estava aberta, e como não durmo bem. Lá estava, aquele som. Sequer era forte. Bem, eu expiei com a cabeça e lá estava essa pessoa na porta, então desci e vi que era uma mulher, uma senhora, e agora está aqui dentro e não deseja ir embora.
Julián se sentou e seu ajudante de quarto ficou em plena vista. Apesar de ser tirado de sua cama, Batkin parecia apresentável e perfeito, mas se um valete não podia estar apresentável rapidamente, quem poderia?
— Qual é seu nome?
— Não quis dizer. Só insiste que ela deve falar com você imediatamente.
— Ela tem algum sotaque? Não acreditava que lady Pérez pudesse vir aqui na escuridão da noite, com sua pequena coragem, mas nunca sabe. Levando em conta, que seu corpo estava levando um tempo para recuperar-se de seu sonho, um lado escuro seu, esperava que ela tivesse se atrevido a fazer algo tão ousado.
— Não, sua voz é de uma senhora Inglesa. Seu chapéu tem um véu que esconde seu rosto, assim estou em desvantagem para descrevê-lo. Ela alega que é uma de suas clientes.
Julián virou seu corpo e se sentou na beira da cama. Duvidava que qualquer de seus clientes tivesse negócios tão importantes, que não poderiam esperar até amanhã, mas nesta situação não tinha mais escolha que reunir-se com ela.
— A envie para a biblioteca. Vou me vestir e estarei lá embaixo.
Meia hora mais tarde, desceu para a biblioteca um pouco irritado e intrigado pelo mistério dessa invasão.
A dama em questão, estava sentada no sofá frente à lareira, com apenas seu chapéu visível quando ele entrou. Só podia ver a coroa do chapéu verde com penugens de plumas azuis e a aba onde estava pendurado o véu.
Mas ele sabia quem era.
As preocupações da noite anterior voltaram, só que agora como uma gloriosa profusão de euforia.
A condessa de Glasbury tinha retornado para a Inglaterra. Penélope voltou para casa.
Emoções contrastantes assaltavam a Penélope, enquanto estava sentada na biblioteca.
Fortes reações fortes a invadiram, sentia-se tão bem, que parecia que sua alma exalava um profundo suspiro – era de alivio e segurança. Ela chegou ao porto depois de uma perigosa viagem pelo mar.
Debaixo dessa paz, no entanto, se escondia uma dificuldade diferente, uma preocupação crescente que o Sr. Hampton pudesse ficar aborrecido por sua presença em sua casa.
Penélope não podia ignorar que havia invadido a casa de um homem solteiro na escuridão da noite. Era escandaloso. Mesmo senhor Hampton sendo seu confidente e conselheiro, continuava sendo um homem solteiro.
Nunca viu onde morava antes. Havia se mudado para esta casa grande fazia cinco anos, mas ele não convidava ninguém e ela nunca entrou tampouco, da mesma forma que ela nunca viu a casa onde vivia, antes de comprar essa bela casa.
Nessa noite, tudo parecia há ela muito estranho. Afinal, ela o tinha conhecido desde quando eram crianças. Ele era um bom amigo de seus irmãos e advogado da família, muitas vezes se viram nas festas familiares. Sem dúvida, sua vida particular continuava sendo um mistério, tal como era em muitos outros aspectos, ele era um enigma.
Uma grande aquarela na parede à esquerda, chamou sua atenção. Apesar da luz fraca, reconheceu como obra de Turner. Era uma aquarela, suas românticas pinceladas se perdiam no mais amorfo de seus óleos.
Não era o tipo de pintura, que pudesse esperar que o Sr. Hampton gostaria de ter. Sua clara reserva implicava que, preferiria algo mais claro e trabalhos mais clássicos. Entretanto, ela sempre sentiu que havia outras coisas mais escondidas nele, e essa aquarela aparentemente confirmava.
Ela sempre suspeitou que com Julián Hampton, as águas não só corriam profundamente, mas também possuíam correntes invisíveis.
A atração potencialmente perigosa, por volta dessas profundidades à fez sentir-se sempre um pouco incomoda com ele.
Encontrou outros pequenos toques que a fascinaram. Algumas almofadas Turcas e um grande vaso pintado, que parecia Chinês. Teria escolhido o Sr. Hampton essas coisas ele mesmo? Ou seus amigos Adrian Burchard e Daniel St. John, que viajaram para essas terras exóticas e teriam trazido para ele como presentes?
A biblioteca a tinha distraído tanto, que se surpreendeu ao perceber que já não estava sozinha. Ela sentia uma presença vital, como se um poder invisível começasse a afetar o ar.
Seu espírito reagiu da forma mais estranha, como fez há anos com esse conselheiro e amigo. Uma calma indescritível passou através dela, mas outras emoções cravavam em seus instintos também. Felicidade. Medo. Melancolia. Também havia essa coisa inquietante que não tinha nome, mas que a deixava vagamente sem fôlego e em desvantagem. Ela virou seu corpo no sofá para olhar para a porta. Ele estava ali, alto, moreno e forte, vestido como se acabasse de retornar de um jantar, embora suspeitasse que o tivesse despertado de seu sono.
Havia passado muito tempo, desde que observou especificamente de como era bonito, mas o fez novamente nessa noite. Talvez, porque ela não o tinha visto pela metade do ano. Seu cabelo escuro, seus olhos ardentes e suas características nítidas criavam uma imagem muito romântica. Sua querida amiga Diane St Jonh havia dito uma vez, que ele parecia como se fosse falar de poesia, se é que alguma vez se dignasse a falar. Sua expressão era de curiosidade e expectativa. Percebeu que o véu continuava escondendo sua identidade. Equilibrou seu quadril na almofada do respaldo do sofá e dobrou o véu do rosto.
— Condessa.
A saudação não tinha nenhum tintura de surpresa. Ele reconheceu sua presença e deu boas vindas como se eles tivessem planejado essa reunião previamente.
Ele se adiantou. Ainda retorcida no sofá, meia ajoelhada, ela estendeu sua mão. Ele se inclinou para beijá-la.
Ela podia sentir seus lábios quentes através de sua luva. Pequenas ondas de prazer dançaram acima de seu braço.
— Peço desculpas por aparecer a essa hora, Sr. Hampton. Sei que fiz algo imprudente, mas os acontecimentos não me deixaram outra opção e eu não sabia para onde ir, ou a quem consultar. Ele não era um homem que sorria com facilidade, mas fez agora. Era um sorriso bonito, mais que deslumbrante era moderado e muito masculino.
Era um milagre que não usasse com mais mulheres, considerando a agitação juvenil que inspirou nela.
— Ficaria ofendido se você tivesse considerado ir a outro lugar. Fez um pequeno gesto com seu dedo sugerindo que se endireitasse no sofá. Enquanto ela fazia, caminhou em volta e se sentou confortavelmente em uma cadeira acolchoada de cor de vinho, formando um ângulo de frente a ela.
Esses olhos penetrantes lentamente se fixaram nela.
— Solicitei um chá, mas você parece tão angustiada, que me pergunto se deveria tomar algo mais forte.
— Um líquido mais forte que o chá, seria bem-vindo algumas horas atrás, mas agora já não é mais necessário, disse.
O intenso olhar que recebeu a cravava incomodamente. Ela se perguntava, que conclusões estaria tirando com sua inspeção. Talvez, que ela revelasse sua idade? Que já não mais bonita? Ele não a tinha visto por meio ano e sem dúvida, ele estava percebendo essas mudanças que aconteceram.
— Não sabia que tinha retornado a Inglaterra. — Sua voz tinha um timbre maravilhoso. Sempre teve.
Inclusive, quando era uma garota sempre amou escutá-lo.
— Laclere não me disse nada.
— Meu irmão não sabe que estou aqui. Ninguém de minha família sabe. Eu estou sozinha há poucos dias aqui e estive hospedada no Hotel Mivert'S. Pensei que poderia me esconder ali, enquanto planejava o que fazer, mas estava errada. Estou bastante certa, que fui reconhecida hoje apesar do véu. Essa é a razão pela qual vim vê-lo nessa noite. Uma vez, que seja de conhecimento que retornei a Inglaterra, tenho medo que minha situação se torne perigosa. Ela escutava sua própria voz, não tão tranquila como a dele.
Ele baixou as pálpebras, de uma maneira que ela já conhecia. A cabeça que a tinha protegido melhor que uma espada, estava afiando-se para assumir este desafio.
— Já que você arriscou nossa reputação e sua própria independência me visitando como fez, eu presumo que você tem uma grande necessidade de ajuda milady. Diga o que é que está acontecendo.
Medo e frustração se ramificavam por dentro dela. Assim também como a culpa, pois ela precisava tanto de ajuda, que tinha arriscado de verdade a reputação dele, por sua própria necessidade.
— Glasbury está tentando de me sequestrar, depois de todos esses anos, ele deseja que eu volte e está exigindo que eu lhe dê seu herdeiro.
CAPÍTULO 02
O criado chegou com o chá. Penélope se sentia abatida por estar causando tal inconveniente ao pobre homem, que teve que descer para cumprir tais deveres.
Depois de estarem servidos, o Sr. Hampton o dispensou.
Na qual significava, que eles poderiam falar livremente e sem ser ouvidos ou interrompidos. Estavam sozinhos. De novo o desconforto pressionava por dentro. Era uma tolice.
Como um de seus clientes, ela teve muitas conversas em particular com o Sr. Hampton. Entretanto, esta intimidade era sutilmente diferente. A sala e o estado de espírito geravam uma intimidade que a atraiam e a confundiam. Ela não se sentia completamente como uma cliente procurando um conselho, mas sim como uma mulher ousada que visitava um homem na noite.
A consciência de sua situação, era um fogo que queimava particularmente por dentro.
Nada na atitude dele fomentava essa sensação. Esse não era um homem que mostrava suas opiniões em seu rosto. Se ele estava tão consciente, como ela de como isto era impróprio, nunca a permitiria saber.
— O conde escreveu para Nápoles, enquanto estive lá com meu irmão e Bianca, — disse ela — Possivelmente Vergil contou para você.
— Só de passagem. Ele não disse às razões que você teve para ficar lá, depois que ele e lady Laclere voltaram.
— Que motivos lhe deu?
— Ele disse que você encontrou lá, uma sociedade mais amigável para uma mulher em suas circunstâncias.
Ela sentiu que se ruborizava.
Essa era uma forma gentil de dizer. Ela suspeitava que seu irmão Vergil, visconde Laclere, aludiu os homens que a rondavam em Nápoles, lhe oferecendo diversão e adulações.
— Foi mais do seu agrado?— Ele fez a pergunta casualmente, mas seu olhar se encontrou com o dela diretamente.
— Sim.
— Então por que retornou?
— Eu comecei a acreditar que o conde enviou homens atrás de mim. Senti que estava sendo seguida. Pensei que não era seguro permanecer ali.
Ele absorveu isso pensativamente. — O que havia nas cartas que escreveu para você?
— As duas primeiras chegaram ao inicio da minha visita. Eram as típicas notas desagradáveis, com suas ameaças de cortar o apoio financeiro, se eu fizesse algo que pudesse desprestigiar seu nome.
— E as outras?
Só uma mais chegou, justo antes de voltarmos para casa. Essa era diferente. Ele exigia minha volta ao casamento. Dizia que a lei estava do seu lado e que ele poderia forçar meu retorno, se eu não entendesse as razões.
Dizia que queria o herdeiro que eu estou devendo. — Essas palavras saíram precipitadamente, cada uma era tão repulsiva como o homem que as escreveu.
O Sr. Hampton se inclinou para frente, seus antebraços descansavam em seus joelhos e seu corpo inclinado em um ângulo para ela. Por um momento, ela pensou que ele abraçá-la ou tocar em um gesto para tranquilizá-la.
Ele fez isso uma vez antes, em outra reunião particular, quando ela estava tão angustiada que tinha perdido a compostura.
Para sua surpresa ele se aproximou. Não tocou seu braço, entretanto. Mas sua mão cobriu a dela onde descansava no joelho com um punho.
Deu-lhe um apertão tranquilizador, antes de quebrar o contato. O corpo dela reagiu como se não pudesse deixá-lo ir. A quente pressão de sua palma e do aperto firme daqueles dedos continuavam ali, invisíveis.
— Eu gostaria que tivesse me escrito contando tudo isso.
— Você disse que ele nunca se atreveria a fazer tal coisa, — disse ela com um pouco de ressentimento. — Você disse que ele tinha muito a perder.
— E é assim. — respondeu ele.
É muito óbvio, que ele está considerando que era um blefe o que disse de expor publicamente tudo o que eu sei.
— Não era um blefe e ele sabe.
— Então, ele está tão desesperado para ter um herdeiro, que está disposto a submeter-se ao desprezo e ao escândalo?
A inquietação das últimas semanas voltaram. Ela se levantou e se afastou das janelas. — Assim que cheguei a Nápoles, pensei que poderia estar mais segura ali. Então, faz um mês comecei a sentir que estava sendo vigiada. Seguida. Eu vi um homem, napolitano ou árabe, sempre nas sombras quando saía.
— Poderia ter se confundido? Eu duvido que mesmo o conde, seja tão ousado para tentar sequestrá-la.
— Você me disse há alguns anos, quando fizemos nossos planos, que era juridicamente impossível que um marido fosse acusado de sequestrar sua esposa, pelo fato de ele ter direito sobre ela.
Ele havia dito muito mais do que isso, mas o restante parou no ar e não falaram. Havia explicado que era também, legalmente impossível que um marido fosse acusado de violar sua mulher...
— Possivelmente tenha errado, mas já não existia paz lá. Não podia permanecer ali mais tempo, depois disso. Reservei uma passagem e voltei para casa.
Instintivamente, ela afastou as cortinas e desceu seu olhar para a rua. Tornou-se um hábito, uma precaução de presa. A rua estava silenciosa e vazia.
— Está você pensando voltar para ele?
Ela se virou, surpresa pela pergunta.
— Nunca! Eu não voltarei por essa razão. Na verdade, esse é somente um intervalo em minha viagem. Decidi ir para a América. Lá nunca me encontrará. Desaparecerei nessa vasta terra e...
— Não. — A interrupção foi abrupta, firme e resolvida.
— Eu acho que é o melhor plano de ação. De fato, não posso pensar em outro.
— Eu não a aconselho. — disse ele.
— Não me importa seu conselho. Nós estamos além disso. A menos que você diga, que a lei me protegerá dele, se não penso deixar a Inglaterra para sempre.
Ele não respondeu. Sabia melhor que ela, que a lei não poderia protegê-la. Era justamente ao contrário. Somente a ameaça de expô-lo a um escândalo, tinha mantido o conde a raia, e evidentemente ele decidiu que isso já não lhe importava.
— Eu desejo que você vá com meu irmão e consiga algum dinheiro, que de tal maneira eu possa viver com isso, quando estiver na América.
— Já que você está em Londres, você mesma pode pedir.
— Não desejo que ele saiba onde estou. Se souber, o conde o confrontará e não quero que ele tenha que mentir. Faça ele acreditar que eu continuo em Nápoles e que lhe pedi para que falasse por mim. Assim, que eu tiver esses recursos, eu poderei...
— Laclere não é nenhum estúpido — Se dirigiu para ela. — Sei que suspeitará que algo está errado. E exigirá saber a verdade.
— Você não deve lhe dizer o que Anthony está tentando fazer. Vergil poderia brigar com ele e isso poderia criar um terrível escândalo e…
— Não acho que seu irmão se importe com os escândalos. Suas próprias opções na vida o demonstraram.
—Não desejo que tenha brigas por mim. Não quero vê-lo lutando em duelo pela irmã quem fez um desastre na sua vida, ao casar com um homem malvado por todas as razões erradas. Assim é como desejo fazer. Simplesmente vá com ele e consiga o dinheiro.
Ele estava mais perto dela agora, olhava para baixo com aqueles olhos indecifráveis. Seu rosto raramente mostrava seus pensamentos, mas em seus olhos poderia espiar sua cabeça. As mulheres o achavam intrigante.
Havia acontecido muita discussão entre as damas, sobre Julián Hampton durante anos. As profundidades ferviam como no inferno, ou era frio como o gelo?
Olhando agora em seus olhos viu alguma coisa, que fez com que seu coração caísse.
— Não vai me ajudar. --— Afirmou ela
— Não vou mentir a meu melhor amigo por você. Entretanto posso ajudá-la.
— Você conhece alguma outra maneira de conseguir esse dinheiro?
— Você não irá para a América.
— Eu acredito que essa decisão é minha, senhor.
— Você não tem família lá. Não tem amigos e nenhuma proteção.
— Mas eu escaparei dele lá.
— Se o Conde estiver tão seguro de que você está em suas mãos, deve ter uma razão. Eu investigarei do que se trata e a eliminarei.
Ela se virou para ele.
— E enquanto você descobre isso, ele me encontrará. Não posso me arriscar a isso. Eu não voltarei para ele. — A veemência de suas palavras ecoou ao redor deles.
— Eu descobrirei como estão às coisas e então, você poderá tomar suas decisões. Se realmente estiver em uma situação de risco, avaliaremos quais são as opções.
Então você me ajudará a ir se for necessário?
— Vou fazer o que for necessário para assegurar que Glasbury jamais a forçará voltar para ele. Agora, até que se entenda o que ele traz nas mãos, devemos encontrar um lugar mais seguro para escondê-la, do que esse Hotel Mivert'S.
— Esse não é um lugar seguro. Não há nenhum lugar, que seja realmente seguro para mim.
— Sim, existe. Pelos próximos dias, você permanecerá justamente aqui, em minha casa.
A sugestão a deixou atônita. O Sr. Hampton a deixou aturdida com sua declaração. Ele se desculpou e saiu da biblioteca. Assim que retornasse, ela deveria negar a ficar. Ela não podia ficar nessa casa. Se alguém soubesse, se Anthony descobrisse que ela morava ali, seria a ruína para o Sr. Hampton. Não deveria ser ela quem lhe mostrasse esse fato. Normalmente era o Sr. Hampton, quem avaliava todas as eventualidades e seus custos.
Ele tinha aquele tipo de cabeça que instantaneamente calculava os fatos e cuidadosamente pesava os riscos.
Ele retornou em poucos minutos.
— Se eu encontrar outro lugar mais seguro, levarei-a para lá, — disse ele adiantando-se a seus argumentos — Nessa noite, esse é o único lugar.
— Diane me receberá.
— Com a família St. John, o tamanho de sua casa e a quantidade de empregados que possuem, sua presença não será um segredo um só dia. Além disso, St. John poderia insistir em que seus irmãos soubessem também, que você está com eles.
Ela tocou o véu que usava. — Eu poderia vestir isto, por todo o tempo de todo jeito. Além disso, você também tem pessoal de serviço em sua casa.
— A Sra. Tuttle a governanta, a atenderá. Somente ela e Balkin saberão de sua presença nesta casa. Há vários aposentos nessa casa que não são usados. Os criados não os abrem. Balkin está preparando um agora mesmo. Você permanecerá secretamente nele até que eu descubra o que o Conde está tramando e porquê.
Ela estava dividida entre a vergonha e uma profunda gratidão, que a deixava com vontade de chorar. Esse último a inundava, lhe fazendo perceber o quanto estava cansada de ter medo e do bem que se sentia, por estar aqui com um amigo.
— Permanecerá aqui e tudo ficará bem. — Ele estendeu sua mão. — Agora, por favor, enquanto isso, senta e toma um pouco de chá.
— Vamos esperar até que Batkin termine. Conte-me tudo a respeito de Nápoles.
Não contou tudo a respeito de Nápoles. Descreveu a beleza da baía, suas colinas e suas saídas para o Capri e Sicilia. Falou das pessoas que ficavam ao redor da corte do Rei e dos bailes e da ópera. Contou muitas coisas, mas não tudo.
Percebeu o que ela evitava. Por exemplo, não mencionou nenhum homem sequer por uma vez. Não havia indícios de que ela favorecesse a alguém. Sabia pela forma cuidadosa em que ela não indicava.
Bem, não ia dizer lhe nada a respeito de Witherby, de todas as formas. Ele aprendeu a conhecer seu humor e suas maneiras, somente ao vê-la. Tinha visto, como as intenções de seu bom amigo davam frutos. Tinha adivinhado na mesma semana, em que eles se tornaram amantes.
Esse amor foi outra decepção para ela, possivelmente pior que a do conde. Possivelmente, porque tinha maturidade suficiente para apaixonar-se por Witherby. Quando soube de sua traição ficou arrasada.
—Então, como você pode notar eu gostaria de ter ficado, — disse ela, concluindo seu relato. — O clima, a paisagem e a sociedade eram mais relacionáveis, a minha pessoa.
Ele jamais conheceu uma mulher madura que tivesse uma expressão tão natural, suave e aberta. Ela era incapaz de dissimular ou mostrar arrogância. Seu grande coração não admitia a distância e a frieza, que tais estratégias exigiam.
Seu rosto era suave em sua forma também, um pouco redondo mas graças a seus maçãs do rosto altas não parecia tanto. Tinha faiscantes olhos azuis que inclusive agora, brilhavam como pequenas estrelas brilhantes sob a noite negra de seu cabelo.
— Se está pensando ir para América, deve ter doído profundamente saber que tinha que deixar Nápoles para sempre.
— Foi duro partir, mas sempre soube que isso poderia passar.
— Alguma vez pensou em fazer sua vida ali?
Ela deu de ombros.
— Nunca considerei que fosse definitivo. Com o tempo, esperava voltar provavelmente, antes que chegasse o inverno. Há alguns projetos que tinha começado antes de partir da Inglaterra, que agora requerem atenção.
Não deveria pressioná-la mais, mas desejava muito saber.
— Não tem nenhum amigo que lamenta deixar?
Ela tentou assumir uma atitude mundana e aborrecida, mas não pôde esconder com êxito que sentia uma profunda tristeza.
— Jamais chorarei por um homem novamente, Sr Hampton.
Batkin apareceu na porta a tempo de lhe jogar um olhar significativo.
O aposento está preparado, Condessa. — Julián ofereceu sua mão, para que ela se levantasse.
Mostrarei-lhe onde fica se você me permitir isso.
— Confesso que prefiro que você faça isso. Envergonharia-me ter seu valete me escoltando, estou certa que ele desaprova toda essa situação.
— Ele sabe que você é uma dama em perigo, assim como à Sra. Tuttle. Não haverá nenhuma rejeição. Entretanto, evitarei sua vergonha totalmente dessa forma.
A ampla saia do seu vestido de sarja azul e branco roçou nas pernas dele, enquanto a acompanhava. Era um vestido de cintura baixa, com um corpete justo e de mangas longas que adulavam sua figura. Um lenço de linho cru, protegia a parte superior dos seus seios de seus olhos, mas não de sua mente.
Seus belos olhos, tocavam tudo o que via, enquanto caminhava para a escada.
— É uma casa muito grande, Sr. Hampton. Surpreendeu a todo mundo, quando você se mudou para cá.
— Acho que Russell Square é uma parte muito conveniente da cidade e está perto da associação dos advogados.
Começaram a subir as escadas. Os abajures mostravam mechas de seu cabelo negro, escapando de seu elaborado penteado e posando sobre seu rosto branco. Seu rosto mostrava sinais de fadiga por sua preocupação e pela longa viagem, mas no entanto, sua expressão continuava sendo tão doce como sempre.
— Com uma casa deste tamanho, penso que você deveria casar e começar uma família, — disse ela.
— Receio que Lady Laclere está de acordo com você.
Ela riu. Era um som maravilhoso, um que o tinha encantado de escutar desde que era um garoto. De repente, apesar de suas preocupações, ela era a Penélope que ele conhecia.
—Bianca esteve tentado lhe encontrar uma esposa?
— Depois que seu irmão Dante se casou, eu suspeito que fiquei condenado. Ela deve ter chegado à conclusão que, se ele pôde ser induzido ao casamento, qualquer homem poderia.
— Está ela liderando essa batalha sozinha? Não tem tropas de apoio?
— Suspeito que a estratégia foi idealizada pela Duquesa de Everdon e pela Sra. St. John. E acho que a esposa de Dante, desistiu por estar esperando um filho.
— OH, querido. Sofía e Diane também estão atrás de você. Definitivamente está condenado. Fui parte desse exército e sei como poderoso pode chegar a ser. Deve alegrar-se de que não esteja “oficialmente” na Inglaterra, pois se me unisse a elas, você não teria a menor chance.
— Minha querida senhora, sua participação só poderia me beneficiar. Se fato alguma vez, pensar em me casar, sua aprovação será essencial para mim.
Ela parou nas escadas. — De verdade? Você valoriza tanto minha opinião?
— É obvio.
— Está me dizendo uma coisa muito agradável, Julián.
Julián.
Ela não se dirigia a ele assim, há anos. Duvidava que tivesse percebido o que acabou de fazer. Ele lembrava com precisão do dia em que ela começou a dirigir-se a ele como Sr. Hampton. Foi na mesma tarde, que ela foi a seu escritório procurando conselho sobre o conde. Ao escutar seu sórdido relato e ver seu rosto de vergonha, soube que jamais voltaria a chamá-lo Julián novamente. As revelações que lhe fez nesse dia, exigiam certa formalidade em suas relações futuras.
Ele a conduziu à porta do aposento no terceiro andar. Seu próprio aposento estava do outro lado da casa no jardim, precisava dizer que ela estaria usando o melhor quarto privado da casa, já que ficava conectado com o seu e era o único, que jamais seria usado por uma senhora nessa casa.
Afastou-se para que ela pudesse entrar. Ele ficou na soleira, enquanto ela percorria o quarto.
— Amarelo, verde e branco, — disse ela com admiração. — Parece um jardim de narcisos.
A decoração deste aposento e de todos os outros, havia sido fácil felizmente. Quando se enfrentou com a decisão de como os decorar, simplesmente pensou no Penélope poderia gostar.
Ela passeava ao redor, inspecionando o tipo de móveis e outros detalhes. Percebeu que havia uma camisola sobre a colcha da cama.
— Seu valete deve ter despertado a sua governanta, se pôde encontrar uma camisola para mim. Já me transformei em um incômodo.
— Você não será nenhum incômodo. Eles estarão felizes de servi-la. Enviarei Batkin para buscar seus pertences no hotel. Ele se assegurará de que ninguém saiba para onde foi.
Seus claros olhos azuis pareciam úmidos e sua expressão parecia um pouco preocupado. Desejava tranquilizá-la de qualquer forma, mesmo não sendo para ele. Ao invés disso, permaneceu parado na soleira da porta.
— Obrigada por fazer isso, — disse ela. — É imprudentemente generoso de sua parte.
Ele não achava que estivesse sendo generoso, se ela ficasse aqui pelo menos uma noite, sua presença permaneceria ali para sempre. Assim, poderia senti-la sempre no ar e em todos os espaços de sua casa.
A parte que dizia sobre sua imprudência era verdadeira. Permitir que ela permanecesse aqui era totalmente arriscado para ambos.
— Será um escândalo se alguém souber, — disse ela, ecoando seus pensamentos.
— Não é tão escandaloso. Não é pior, por exemplo, que o assunto de Nápoles onde você e outras senhoras no barco pescando.
Um rubor subiu do pescoço até seu rosto. Ela fez uma careta de desgosto.
OH. Soube que...
Embora os oficiais do navio que as resgataram mostraram a discrição de cavalheiros, vários dos marinheiros que retornaram a Inglaterra, não foram.
– Todo mundo sabe?
– Se eu sei…, acredito que sim.
– Quero que saiba que isso foi algo bastante inocente. Fomos vítimas das circunstâncias. Quem adivinharia que aquele barco de pesca, iria embora com todas as nossas roupas nele e nos deixaria encalhadas, naquela enseada dessa forma?
— Foi assim como lhe disse.
— Usando apenas camisas, mais ou menos essa foi a história. Camisas úmidas, já que a mulher que tinha se encarregado do barco de pesca, levou-as até a enseada para que pudéssemos tomar banho de mar.
Pen saindo das águas frias do mar. Gotas de água deslizando pelo seu corpo e seus cílios molhados brilhando no sol como pequenos diamantes. A roupa úmida colada em suas suaves curvas como um véu transparente, e…
Se você for honesto, senhor Hampton, admitirá que a excursão à enseada pode ser considerada no pior dos casos descritos como um pouco imprudente, um pouco teimoso, um pouco descuidado, procurando mais palavras.
Um pouco travesso?— Continuou ele.
Mas não escandaloso,— disse Pen
Isso será um escândalo se outros o averiguarem. Asseguraremo-nos de que isso não aconteça.
Ela se ruborizou novamente e fez um gesto um pouco torpe com as mãos, como se tentasse pôr fim à conversa.
Ele memorizava a imagem dela parada em sua casa.
— Boa noite, milady.
— Boa noite, Senhor Hampton.
— Julián! Sir Julián, me salve!
O grito veio da torre. Julián levantou o olhar para ver a pele pálida que saía por uma fresta, no alto dos aposentos dos guardas.
— Estou aqui, Sir Julián. Ajude-me
Julián pegou sua estreita espada de madeira. — Já vou minha lady!
No topo das muralhas medievais em ruínas de Laclere Park, Vergil golpeou sua espada contra a de Dante, enquanto lutavam pelo controle do castelo. O plano era que Julián se unisse a Vergil, para vencer Dante e juntos resgatar à donzela presa por seu malvado tutor Sir Milton. Mas Vergil podia derrotar Dante sozinho, e a lady chamava Julián em busca de ajuda.
Julián atravessava o pátio murado, pulando pelas pedras que tinham caído da fortaleza em decomposição. Teve que se esquivar da pequena Charlotte, que tinha sido autorizada a juntar-se a eles, mas só brincava de escudeiro de Vergil.
Ele ficou de pé em segurança no pátio, sustentando um cavalo invisível, gritando estímulos traidores a Dante por cima de Vergil. Dentro da porta da torre dos guardas, Julián se apoiou na parede e escutou. Vamos, lady Penélope chamou novamente, sua voz de menina ganhando maturidade na acústica das pedras. Outro som lhe chamou também a atenção. Passos de botas nas escadas. O guardião do mal estava descendo. As botas pararam. Preparou a si mesmo, Julián começou a subir a curva da escada de pedra. Milton esperava na meio, com sua própria espada e um escudo na mão. Julián considerava em sua posição, um ataque de desvantagem.
— Isso é o que acontece nessas escadas em curvas, disse Milton com um sorriso confiante.— O invasor não pode usar sua espada, a menos que exponha seu corpo virando. — Arriscarei com golpes.— Os Olhos escuros de Milton ficaram sérios. Era o mais velho dos filhos do visconde Laclere, era também o mais bonito, mais ainda que Dante.
Ele e Julián tinham uma afinidade especial, já que ambos eram tranquilos e mais dados a jogos de observação, que de participar das conversas estridentes dos outros. Milton havia deixado claro, que enquanto que Julián ia a Laclere Park como amigo do Vergil, Milton o considerava como uma alma gêmea.
— Sempre deve considerar se qualquer prêmio vale receber os golpes, Julián.
— Eu não procuro meu próprio prêmio, a não ser a liberdade de minha lady,— disse Julián, assumindo o papel de um cavalheiro medieval. Apesar da vantagem das escadas, Milton não podia defender-se bem. Nunca esteve especialmente interessado nas atuais batalhas de seus jogos, mas sim, nas estratégias. Golpeando a sua maneira Milton, Julián se aproximou correndo à torre dos guardas. Jogando seu papel com entusiasmo, Penélope correu para sua proteção. Sua gratidão foi interrompida. Milton apareceu na soleira. Julián colocou Penélope atrás dele, disposto a lutar novamente. Ela se encolheu perto de seu corpo, escondida em suas costas e suas mãos em seus ombros. Seu contato o surpreendeu e o incitou uma calidez agradável por todo seu corpo. O tempo se congelou por um momento, enquanto que ele dava capacidade às poderosas sensações. Ele olhou para Penélope. Ela também havia ficado congelada. Ela o olhou nos olhos com uma surpreendida e curiosa expressão.
Esqueceu-se de Milton, da espada e da própria torre. Deu a volta levemente, incapaz de deixar de olhá-la, incapaz de quebrar a conversa silenciosa e surpreendente que estavam tendo e que nenhum dos dois poderia reconhecer com palavras. Por último, Pen se afastou. Olhou atrás dele. Ele olhou na mesma direção, para encontrar Milton observando-os. A própria expressão de Milton era tanto insondável como de compreensão.— A torre é dela, Julián. A lady foi resgatada. Muito bem. Milton olhou para sua espada. Com um pequeno sorriso, deixou-a cair no chão junto com seu escudo.— Acho que estou muito velho, para continuar brincando esses jogos.
A lembrança veio a Julián, enquanto estava deitado em sua cama, sentindo a presença de Penélope com tanta segurança, como se dormisse a seu lado. Um ano antes desse dia, nenhum deles havia sequer notado esse toque. Poderia ter sido um de muitos, como as histórias que Julián criava para brincar na fazenda. Nesse momento tudo mudou. Aos quatorze anos ele já tinha despertado antes, mas não dessa maneira, não por uma mulher específica a quem conhecia e honrava. Aconteceu também, em um momento crucial da amizade. Milton nunca mais brincou com eles novamente. Levou anos para Julián perceber que seu longo olhar com Penélope tinha sido o motivo. Agora Milton estava morto e ela estava casada. E aqui estava ele, deitado na cama, desejando que a mulher de outro homem, que dormia em um quarto próximo. Ele ponderou sobre os acontecimentos da noite. Pen estava certa que as leis não a protegeriam. Somente a combinação de sua coragem e a astúcia de Julián poderiam protegê-la.
Não sabia o que esperar na curva da escada que começou a subir. Mas como sempre, sua posição no assunto poderia inibir a espada no braço que a sustentava, tão certo como essa parede que havia na velha torre. Só sabia que uma coisa era certa. Glasbury nunca faria mal a Penélope novamente, enquanto Julián Hampton vivesse e respirasse.
CAPITULO 03
Anthony, o décimo conde de Glasbury, tratou de ignorar o som na porta de seu vestiário. Não gostava de ter seu prazer interrompido por nenhum tipo de distração, pelo menos uma de todas as complicações que anunciaram em seus bem calculados planos. Agora simplesmente essa interrupção aconteceu. César jamais interromperia com esse forte golpe. Sabia que não deveria provocar a ira de seu amo. Apertando os dentes, engolindo a saliva, Glasbury se afastou do bonito e redondo traseiro, que estava levantado para ser castigado. A excitação mais deliciosa nadava em suas entranhas, exigindo uma maior estimulação. A submissão do corpo nu para obrigá-lo a obedecer a seus comandos o atraiu a passar por cima da interrupção. Os golpes fortes continuaram na porta. Alguma coisa errada aconteceu. Não podia haver outra explicação para esse barulho. Procurou provas através da névoa embriagadora para poder achar certa claridade nos pensamentos. Olhou para bengala em sua mão e os vergões vermelhos nas nádegas de sua escrava de prazer. Deveria deixá-la nesse estado esperando? Ela era nova e ele ainda não tinha decidido se já fora o suficiente.
– Olha-me, ordenou ele. O cabelo negro levantou. O rosto se virou. Os olhos molhados lhe devolviam o olhar. Não havia medo suficiente neles para despertar novamente sua paixão. Não via nenhum sinal, de que ela tinha desfrutado disso. Bom. Ele não queria que suas parceiras tivessem prazer. Fazia a submissão menos completa. Pegou um guinéu de seu bolso e jogou no chão. – Se vista e saía. Volte na quinta-feira e haverá mais.
Ela pegou o guinéu quando se levantou sobre seus joelhos. Não havia dúvida de que ela o compreendeu, mas apenas significava que haveria mais dinheiro. Ela parecia insegura de desejar retornar, mas ele sabia que voltaria. Ela era uma puta e o pagamento era bom. Não era exatamente o mesmo quando outros lhe pagavam é obvio. O controle se via comprometido se eles tinham mais opções. Mas poderia fazer por um tempo. Ele a conduziria pouco a pouco e ela aprenderia o suficiente. Ele se afastou. Em pouco momento, a mulher e o prazer estavam fora de sua cabeça e de seu corpo. Saiu do quarto para encontrar César esperando no corredor.
César não usava seu uniforme, por isso deve ter sido levantado de sua cama por outro servo. César era um escuro mulato, obedecia todas as ordens com precisão. Não mostrava nenhum medo às represálias por esta interrupção. Ele permanecia impassível como sempre, uma atitude que reflete os pensamentos torpes em sua escura cabeça. Era também, um reflexo das mudanças que vinte anos podiam fazer na sensatez de um país de direitos e privilégios. Houve uma época, que César teria uma boa razão para ter medo, mas agora esses dias ficaram para trás, a melhor época da vida de Glasbury, tinham terminado para sempre. Os novos costumes eram terríveis.
Ele voltou, disse César. – O cavalariço chamou do jardim e me despertou.
— Veio sozinho?
– Sim.
– Maldito seja.— Onde está?
– Na biblioteca.
— Você volta para seu aposento. Eu não preciso mais você. Glasbury voltou a seu quarto e ali encontrou sua escrava de prazer lutando para fechar seu vestido.
Não ajudou-a. – Desça em pouco minutos. Ele fez seu próprio caminho pela casa em silencio em direção à biblioteca, onde o homem o esperava. O visitante se sentou em um sofá.
Seu rosto redondo, de expressão suave e insignificante em presença e tamanho. Ele tinha que olhar de perto, para sequer perceber que este homem existia. A capacidade de ser invisível era um de seus grandes talentos. Ele o olhou com olhos que revelavam uma astúcia profunda sem máscara anônima.
— Ela não estava lá, simplesmente disse.
Tinha que estar. A pessoa que a viu a conhece bem. Com véu ou não, a identificação não era suscetível a engano.
— Disseram-me que não estava, quando procurei por ela.
— Eu não disse que nunca esteve ali. Encontrei-me com um empregado que trabalha a noite, que diz que uma dama de sua descrição, sempre encoberta, esteve hospedada ali por alguns dias. Mas ela foi embora e seus pertences foram recolhidos nessa noite. Eu devo ter perdido ela por uma hora, não mais.
Glasbury mal continha sua raiva. A cadela escapou outra vez. Mas entretanto, ele a encontraria. Ele não toleraria mais a forma em que havia repudiado seus direitos. Ele não suportará mais a humilhação, que havia se acumulado sobre ele com sua obstinação. Certamente, ela não pararia, enquanto utilizasse seu nome para promover ideias repugnantes que diretamente o insultavam. Não toleraria mais isso.
– Para onde levaram seus pertences?
— O gerente disse que não sabe. Não gostou muito que eu o despertasse, para perguntar a esse respeito e expressou seu descontentamento por não me dar o que queria. Poderia tentar fazê-lo falar se…
— Não, não podemos fazer isso. A polícia estaria envolta se as coisas ficarem difíceis.
— Então, o que quer que eu faça?
— Faça que seu colega mantenha a vigilância em sua casa, no caso de reabri-la. Farei você saber quando o necessitar novamente.
Glasbury não esperava que a casa de Penélope reabrisse. Se ela não estava mais no hotel, ele sabia provavelmente para a onde ela foi. Ela teria ido provavelmente se esconder atrás de seu irmão Laclere. Bom, ele saberia como dirigir isso. Seus direitos de posse tinham sido comprometidos, de todas as formas nestes últimos anos, mas não quando concernia a ela. Seria complicado brigar com sua família, mas seus direitos prevaleceriam. Afinal, ela era de sua propriedade.
CAPÍTULO 04
Julián ficou surpreso quando recebeu pela manhã uma convocação a Laclere’s House. Deixou à senhora Turtle encarregada da comodidade de Penélope, montou seu cavalo e chegou na hora marcada.
Ele foi levado ao escritório do visconde. A cabeça escura de Laclere subiu imediatamente da contemplação de alguns documentos sobre a mesa, quando Julián entrou.— Estou esperando uma visita inesperada. Pensei que deveria estar presente quando ele chegasse,— disse Laclere sem formalidade.
— Escrevi-lhe logo que recebi sua carta no correio da manhã.
— Alguém tão grosseiro para exigir uma audiência? É generoso de sua parte receber, quando se trata de Glasbury.
Os olhos azuis de Laclere mostravam um brilho de preocupação.
– Eu não posso imaginar o que ele quer, já que ele e eu não falamos há anos. Suponho que se trata de Pen obviamente.
Conversaram sobre o banquete, enquanto esperavam, evitando cuidadosamente o assunto das intenções de lady de Laclere, no que concernia a certo solteiro. O visitante não demorou em chegar, mas não era o conde de Glasbury. Tratava-se de Dante o irmão de Laclere que entrou no escritório e saudou Julián.
Seu tipo físico e estatura, Dante era uma versão mais refinada de seu irmão. Onde as características do visconde eram mais toscas, as de Dante eram suaves e perfeitas, como se o escultor tivesse polido todas as arestas para dar tal efeito.
Dante passou os dedos pelo seu cabelo castanho, em um gesto que falava de seu desconcerto.
— Recebi uma carta de Glasbury nessa manhã. Disse que ia se encontrar com você e sugeriu que eu participasse.
— O mistério é cada vez maior, disse Laclere.
— Mais do que você imagina. Encontrei com o transportador do correio entrando, quando cheguei a minha casa.
— Se ele queria reunir-se com toda a família, deve ter planejado um anúncio espetacular. Disse Laclere.
— Talvez tenha intenção de conceder o divórcio,— disse Dante.
— Um pouco tarde para isso, eu acho.
Julián não disse uma palavra. Ambos os homens aceitaram há muito tempo seus silêncios e hoje era mais que conveniente. Charlotte entrou, olhando de forma muito similar a sua irmã mais velha, com seu cabelo escuro, pele clara e estatura mediana. Ela sempre foi mais magra que Penélope e seus olhos eram mais mundanos e sagazes. Não que Charlotte fosse dura em sua aparência e atitude, mas Penélope era mais suave. Ela explicou que tinha recebido uma carta similar a de Dante.
— Considerei ignorá-la, já que não posso imaginar o porque quer que eu esteja aqui. Não se supõe que estas coisas são muito importantes, para a participação de uma mulher?
— O conde quase fez eu me interessar por esse assunto— disse Laclere.
— Glasbury é muitas coisas, querido irmão, mas interessante, não é uma delas. – disse Charlotte.
— Voltou sua atenção para Dante.— Como está Fleur?
Dante sorriu daquele jeito fazia desmaiar às mulheres.
— Bonita. Serena. Eu é que vou perder dez anos antes que essa criança nascer.
— Não estará nesse estado por muito tempo. Porém, ainda falte muitos meses para isso,— disse Laclere.
Depois deu uma olhada no relógio da estante atrás dele.
— É tarde. Não duvido, que Glasbury prefira caminhar como forma de exercício.
— Espero que seja o divórcio,— disse Dante. – Gostaria de ver Pen completamente livre dele.
A atenção de Charlotte deslizou pelo escritório e parou em Julián.
— Sabe do que se trata?
– Estou de acordo com seu irmão, é provável que tenha a ver com sua irmã.
— Isso é obvio. Sabes exatamente o que tem a ver com ela? Ela escreveu algo de Nápoles, que se esqueceu de contar para um de nós?
— Se ela fez, é correspondência particular Charl, — Disse Laclere. — Você se beneficiaria com a discrição de Hampton, assim também permita o mesmo para Pen.
Estou certo, que nenhum de nós, quer que toda nossa família saiba de todos os nossos assuntos jurídicos.
Charl se retirou, não sem antes lançar um olhar firme e suspeito para Julián.
Glasbury chegou suficientemente tarde, para acentuar a ideia de que outros deveriam esperar por ele e não o contrário.
Ele foi entrou no escritório uma hora e meia depois.
Não estava sozinho. Um homem de aparência elegante, mas comum o acompanhava. Esse outro homem, ficou perto da porta como um servo e não avançou na festa armada pelo conde.
Julián apenas recebeu um reconhecimento por parte do conde, durante as saudações. No entanto, não perdeu o aceno de cabeça em sua direção acompanhado por um sorriso petulante, que torceu por um momento a boca flácida do conde.
Julián não deixou se intimidar, mas uma pequena fúria rodopiava em sua cabeça. Odiava Glasbury e não apenas por Penélope. O homem encarnava toda a decadência e insensibilidade de quem herdava privilégios. Ele exercia o poder de forma irresponsável e egoísta.
Recentemente, o conde tinha sido um dos poucos senhores que foram contra a abolição dos escravos em um projeto de lei das colônias, porque era proprietário de algumas plantações nas Índias Ocidentais e que serão afetadas economicamente.
Poucos homens no Parlamento, tiveram a ousadia de ficarem a favor a venda de seres humanos, mas ele não se incomodou absolutamente.
Pior, era aquele sorriso que refletia triunfo. Era a expressão de um homem que sabia que tinha ganhado um jogo. A preocupação de Julián por Penélope se aprofundou ainda mais.
Glasbury se posicionou ao lado da cadeira Laclere, para ter a oportunidade de olhar para baixo da cabeça escura do homem sentado nela. Julian considerou que provavelmente, era a única chance do conde fazer isso, já que Laclere era muito mais alto que Glasbury, quando ambos estavam de pé.
O corpo magro do conde assumiu uma rigidez militar. Com seu cabelo grisalho e rosto cheio de rugas, parecia mais velho que eles, embora tivesse apenas mais dez anos do que Laclere.
— Não tenho tempo a perder com este assunto, por isso serei breve,— disse com toda a pompa possível.
— Exijo saber onde ela está.
— Ela, devo presumir que se refere a nossa irmã. Penélope está em Nápoles, como você sabe. Você escreveu para ela lá.
— Ela já não está em Nápoles. Foi vista ontem em Londres. Ouvir dizer que ocupou uma das acomodações do hotel Mivert em sua volta, mas ela já não estava no hotel nessa amanhã.
— Estou certo que, aquele que a viu se enganou. Se minha irmã voltasse para Londres, ela não precisaria ficar em um hotel, já que ela tem uma casa. Tentou procurá-la lá?
— A casa permanece fechada. Não houve nenhuma atividade que indique que está vivendo ali.
— Glasbury, garanto-lhe que ela está em Nápoles, mas se não estivesse, o que importa para você?
— Ela é minha esposa.
— De nome.
— Pela lei.
— Na verdade, não é sua esposa há mais de uma década.
— A lei é a única verdade que importa, como Hampton aqui pode explicar a você. Estou farto de seus caprichos sobre o assunto.
— O que se supõe que isso significa? – perguntou-lhe Dante. — Tem planos para mudar a realidade legal divorciando-se dela?
— Na verdade não. Eu decidi que nosso longo afastamento já não é mais aceitável. Laclere, exijo que você a entregue.
Os olhos de Laclere refletiam surpresa. Julián pode ver com consternação que depois de todos esses anos, o conde queria Penélope de volta.
— Não posso devolver o que não tenho.
— Se você está escondendo-a…
— Minha casa sempre estará aberta para ela e quando a visita não tem por que esconder-se. Mas ela não está nessa casa, em Laclere Park, ou mesmo na Inglaterra.
— Eu exijo que prove. O homem na porta, o senhor Lovejoy é um inspetor da
da Polícia Metropolitana. Ele irá verificar essa casa, para ver se minha esposa está aqui.
— O inferno que vai,— disse Dante.
Laclere nivelou um olhar penetrante no senhor Lovejoy.— Trouxe a policia para minha casa, Glasbury?
— Era necessário.
— Duvido que o Sr. Lovejoy está de acordo. Você não está procurando um criminoso. Um inspetor da autoridade em uma situação ambígua, nas melhor das hipóteses. Não é mesmo, Hampton?
Julián se colocou em uma atitude profissional mais severa.
— Mais que ambígua. Suponho, senhor Lovejoy, que o superintendente é consciente de suas intenções?
O senhor Lovejoy murmurou algo, sem se comprometer.
— Em qualquer caso, a palavra de um cavalheiro como Laclere é bom o suficientemente para a policia, não é assim senhor?
Outro murmúrio foi acompanhado por um gesto vago.
— Não. Que se resolva agora – Disse Laclere, secamente.
Lovejoy, reconheceu a destituição quando o ouviu e se retirou do escritório.
Glasbury estava com o rosto vermelho.
— Quando eu descobrir que você está mentindo, eu ...
— Tenha cuidado Glasbury. A voz de Laclere se tornou feroz.— O insulto de trazer Lovejoy até aqui não se justifica e não levo bem as acusações, de que sou um mentiroso.
O conde se virou para incluir Dante e Charlotte em seu pronunciamento final.
— Se algum de vocês a receber, não se esqueçam de mim. Se souber, que ela está vivendo em qualquer uma de suas propriedades, farei lamentarem por terem interferido. Não tenham dúvidas, que vou usar toda a força de meus direitos e minha influência sobre esse assunto.
Ele saiu do escritório.
— Vergil, temos que fazer alguma coisa,— disse Charlotte, com uma expressão mal recuperada do choque.
— Pelo amor de Deus, espera de verdade obrigá-la a voltar.
— É pelo herdeiro,— disse Dante.
— Tem que ser, porque já tem quarenta e cinco anos. Como está sem filho, não tem como consegui-lo com uma esposa que o deixou. Sempre achei estranho, ele a deixar ir antes de lhe dar um filho.
Laclere lançou um olhar a Julián.
— Sim, bom, acho que ele teve suas razões para tanta generosidade.
Charlotte não perdeu o tema levantado.
— Sabe quais foram essas razões, senhor Hampton?. Você negociou a separação. Foi um acordo particular e você era o mediador.
Isso, atraiu também, a atenção espectadora de Dante nele. Julián tentou usar seu silêncio habitual, mas suas expressões indicavam que não iria funcionar dessa vez.
— Senhora, fiz o que sua irmã me disse que fizesse. Tivemos sorte que o conde viu a retidão de suas preferências e não a obrigou a permanecer em sua casa.
— OH, não venha com essa atitude de advogado para nós agora Hampton,— disse Dante.
– Você conseguiu uma atribuição e a sua liberdade. Existiu um fato de peso, pela qual o conde concordou. O que foi?
Julián se negou a responder.
Charlotte lhe deu um olhar crítico.
— Bom, se você tiver alguma comunicação com a minha irmã, por favor diga a ela que é bem-vinda em minha casa, e que Glasbury pode fazer o que quiser. Esse sapo não me assusta. Se trouxer o Sr. Lovejoy em minha casa, direi aos criados para que joguem ambos para fora.
Partindo como um guarda do palácio, com a sombrinha como se fosse uma bengala, foi para a porta.
— Se não tiver ido quando eu sair na rua, penso em lhe dizer eu mesmo. Homem insuportável.
O escritório ecoou suas palavras, pulsando com o oco do silêncio.
Dante riu.
— Parece que fui eclipsado por Charlotte. Sobra-me apenas repetir suas palavras. Hampton, se Pen escrever para você, lhe diga que estará a salvo conosco. Glasbury necessitará de um exército para tirá-la.
Dante se despediu. Julián começou a segui-lo.
— Ainda não,— disse Laclere, parando-o.
Laclere continuava sentado na mesa, seu olhar em uma pena de escrever que manejava distraidamente. Julián esperou, contando com sua amizade para economizá-lo de um interrogatório que seria muito difícil.
— Não perdi o olhar que Glasbury deu à você quando entrou,— disse Laclere.
— Tampouco eu.
— Ela não está mais em Nápoles, não é verdade?
Julián não respondeu.
Laclere se encostou-se a sua cadeira.
— Você me disse anos atrás, que conseguiu a liberdade de Pen porque tinha grandes segredos, mais que a maioria dos homens. Segredos que, suponho, não queira expor se ele ou ela procuravam o divórcio.
— Eu disse isso? Que indiscreto de minha parte.
— Parece que os anos entorpeceram seu apreço, pela consideração de minha irmã por sua reputação.
— Parece que alguma coisa aconteceu.
— Entretanto, você ficou em silêncio, enquanto ele esteve aqui. Não apontou que ela tem essas cartas.
— Trato de não ameaçar os homens quando há testemunhas presentes.
— Espero que você encontre uma maneira particular, para lembrá-lo o custo que ele terá, quando o mundo souber que Pen sabe dele.
— Penso fazer isso muito em breve.
Julián começou a sair, para poder atender a esse assunto imediatamente.
A voz de Laclere lhe chamou na porta.
— Se tiver qualquer contato com minha irmã, por favor, lhe diga que sempre estarei aqui para ela. Todos estamos. Que não se preocupe e que nos importa um pepino as ameaças de Glasbury. Deixe-a saber que o conde realmente precisará de um exército para tirá-la de nós.
— Estou certo que ela sabe de tudo isso.
Laclere o olhou. Em uma pausa que se prolongava em um silêncio eloquente. Julián esperava que nada acontecesse entre eles, por não dizer o que sabia.
— Julián, se por alguma razão, minha irmã não pode ou não quer recorrer por nossa ajuda, confio que você fará tudo o que pode por ela.
— Eu sempre farei Vergil.
A casa do senhor Hampton estava demonstrando ser um santuário muito confortável. Penélope não se importava com sua reclusão. A senhora Tuttle garantiu sua comodidade pela manhã e depois, aparecia mais ou menos a cada hora para perguntar se precisava de alguma coisa. Além de alguns livros da biblioteca, Pen não pediu mais nada.
Seus baús haviam chegado durante a noite e ela deu um pequeno destinado a suas cartas e documentos.
Sentada perto da janela que dava para um bonito jardim, estudou um documento longo que chegou a Nápoles antes de ir embora.
Era para ser um panfleto criticando a situação jurídica das mulheres casadas. Ela e várias outras mulheres, haviam contribuído com esse trabalho durante o último ano. Agora, com a recente aprovação do projeto de lei para acabar com a escravidão nas colônias, havia chegado o momento, de pressionarem seus pleitos. O país e o parlamento estavam em um estado de ânimo propício as reformas. Era o momento da emancipação dos últimos humanos, que eram pouco mais que bens e imóveis em terras britânicas.
As mulheres casadas.
Lia atentamente esse projeto mais recente, escrevendo algumas mudanças. Precisariam esperar até o próximo ano, antes de publicá-lo. Elas queriam que o país terminasse de digerir o recente projeto de lei contra a escravidão, antes de considerar essa nova proposta, por isso, tinha a intenção de retornar no final do outono e ficar atenta a sua elaboração final. Agora, poderia garantir a realização mais rapidamente.
A não ser que tivesse que fugir do país, obviamente. Esperava que o Sr. Hampton estivesse certo e que isso não fosse necessário. Ela estava ansiosa para ver concluído este projeto. Seu nome como autora lhe daria peso. Também seria a única coisa que fez em sua vida, que valeria a pena.
Uma batida na porta na parte tarde, a distraiu de seu trabalho. Ela guardou o documento e abriu a porta para encontrar o Sr. Hampton.
— Tem notícias? perguntou ela.
— Sim. Posso entrar?
— Desculpe, mas não podemos ir a biblioteca ou a sala de estar para termos nossa conversa?
— Não, não podemos.
Ela permitiu sua entrada e se sentaram em duas cadeiras estampadas na cor verde, perto da janela.
Ele parecia indiferente, ao local onde se desenvolveria essa conversa, mas ela não podia ignorar completamente, que estava em seu quarto com a porta fechada.
Ele estava de costas para sua cama, mas ela podia ver claramente atrás dele, brilhante e arejada com suas cortinas de flores. Havia dormido nessa cama na noite anterior e agora este homem estava aqui. Era uma reação tola, mas assim que se lembrou da sensação de sua mão na sua na última noite. A vitalidade que ela sentiu, quando ele beijou sua mão através da luva, voltou e dançou dentro dela.
— Noticias? Obrigou a si mesma a olhar para ele e não só ver cama. O que provocou algumas curiosidades alarmantes sobre o senhor Hampton, de como faria amor, ou se não fazia em absoluto.
Fazer isso com quem? E se não, era uma lástima, porque ela não podia negar que havia algo interessante, sobre seu lado escuro e seu misterioso silêncio e…
— Glasbury visitou Laclere, disse ele, interrompendo sua repentina especulação sobre como seria sem camisa.
— Também fez com que Dante e a baronesa viúva de Mardenford estivessem presentes. Ele exigiu saber qual deles a tem como convidada. Se atreveu a forçar, em procurá-la na casa de Laclere.
— Vergil deve ter estado a ponto de jogá-lo para fora. E a pobre Charlotte. Foi muito desprezível de sua parte tentar intimidá-la.
— Acho que Lady Mardenford está bem equipada para lidar com o conde, milady. Teve sorte de que ela não o intimidasse, mas literalmente com sua sombrinha.
Ela riu imaginando isso.
— Viu, eu estava certa. Assim, eles não precisam mentir por mim, porque não sabem que estou na Inglaterra.
— Isso é certo. Eles não precisam mentir.
— Sério?
— Não chegará a isso.
— Mas chegará, quando o conde souber que estou aqui. Finalmente, se perguntará onde me encontrar.
— Como sue advogado, não tenho nenhuma obrigação de responder. Justamente o contrário.
Seu tom de voz fez seu coração pesar. Ele parecia muito sério. Muito sério e pensativo.
A cama desapareceu, assim como seus pensamentos tolos, sem sentido.
— Ele me encontrará. Se foi tão ousado para tentar procurar-me na casa de meu irmão, não se renderá facilmente. Mesmo se eu me esconder para sempre nesse quarto, eventualmente saberá que estou aqui.
— Eu procurei-o para lembrá-lo de algumas coisas que parece ter esquecido. Bom, ou não estava em casa ou não quis me receber. No entanto, vou conversar com ele em breve. Isso vai colocar fim em sua busca.
— Não vai fazer diferença. Já se esqueceu de tudo. Ele simplesmente não se preocupa mais por sua exposição.
Ela se levantou bruscamente e virou-se para a janela. Percorreu pelo espaço abaixo, apesar de sua cabeça saber que era jardim particular, que não implicava em nenhum perigo para ela. As lembranças voltaram com força em sua cabeça. Os feios e antigos pensamentos, que havia aprendido há muito tempo a negar. Cenas explícitas que mostravam a queda na degradação, em que havia vivido nos primeiros anos de seu casamento. Ela foi tão ignorante, que sequer sabia que não era normal, mesmo que a chocassem. Depois, o conde foi longe demais e percebeu o inferno que havia negociado. Mas, não foi o prazer que o conde obtinha com a perversidade, o motivo que a fez conseguir sua liberdade.
Quando recorreu ao senhor Hampton para procurar seu conselho, ele fez várias perguntas que revelaram grandes segredos, mais imperdoáveis que qualquer coisa que Glasbury fizesse com sua esposa.
O senhor Hampton ficou tão enigmático nessa reunião. Ela se dirigiu a ele, porque era um velho amigo da família, porque sabia das leis e porque se ela confiasse a seus irmãos, um deles poderia ter matado Anthony. O senhor Hampton foi tudo o que ela esperava, firme, sóbrio e carente de emoções, mas ela não tinha deixado de perceber o fogo em seus olhos, que falava de seu desgosto sobre o que ouviu.
Felizmente, ele compreendeu a importância de seu testemunho, de maneira que ela não conhecia. Suspeitava que ele tinha usado implacavelmente, essa informação para conseguir sua liberdade.
Agora sentia que essa liberdade estava escapando de suas mãos. O conde a queria de volta e dessa vez, não haveria escapatória. Ela estaria a sua mercê e a raiva contida por anos, usará contra ela.
Ela começou a tremer por dentro. O tremor afetava sua alma, seu coração e com o tempo seu corpo. Ela estava tão debilitada, que sua calma se rompeu.
Virou-se para que o senhor Hampton não visse suas lágrimas. Ela tinha dado ao pobre homem problemas suficientes, sem esperar que também tivesse que lidar com isso. Ela lutou para acalmar o pânico que ameaçava com deixá-la histérica.
De repente o sentiu de pé atrás dela. Podia sentir seu calor. Sua proximidade a distraiu o suficiente, para que suas emoções não se apoderassem dela totalmente. Suas mãos posaram em seus ombros. Devia ficar assombrada por isso, entretanto saboreou sua força e a forma em que a segurou.
Ela virou para olhá-lo no rosto. Ele apenas tocou seu rosto, mas daria no mesmo, ele inclinou sua cabeça para cima para vê-la diretamente nos olhos.
— Disse que não vou permitir que o conde a leve de volta a força, querida senhora.
A expressão de seu rosto havia a hipnotizado. Enquanto olhava para baixo, fez sua promessa e por um momento, viu a jovem que conheceu anos atrás. O garoto que tinha brincado com eles, estava falando com a garota que ela foi antes. Ambos perderam-se no mundo quando amadureceram, assim como a amizade fácil.
Agora, por um breve momento, tudo estava ali de novo e as razões para que ela confiasse nele, estavam vivas entre eles.
A compreensão disso a comoveu tanto, que não pôde conter sua emoção. Fechou os olhos, mas as lágrimas caíram de qualquer maneira, serpenteando por suas faces.
De repente, ela estava dentro de seu abraço reconfortante. Ela deu boas-vindas a essa intimidade. Eram velhos amigos, depois de tudo.
Era uma sensação maravilhosa, que sentia. Seus braços a tranquilizaram tanto como suas palavras.
— O conde advertiu sua família. É bem possível que ele, por sua vez centre sua atenção em mim. Você não estará a salvo aqui. Acho que seria melhor você sair de Londres— disse, enquanto se aconchegava nele e ela via seu apoio e seu calor.
— Tenho uma propriedade na costa de Essex e quero levá-la cedo amanhã. Está isolada, mas tenho que lhe advertir que é também bastante rústica. Por um dia ou dois, vai estar sozinha, até que eu possa fazer outros arranjos. Você acha que pode fazer isso, ficar sem criados e sem comodidades?
Ela assentiu com a cabeça. Era capaz de suportar qualquer coisa, que significasse não viver sentindo o conde atrás de cada um de seus movimentos.
Ela encontrou seus olhos e foi totalmente consciente de seus corpos tocando-se. Ficou ruborizada e deu um passo para trás, fora de seus braços.
Ele não ficou desconcertado por isso, mas o senhor Hampton nunca ficava.
— Tenho que ficar em meu escritório por algumas horas. Eu despertarei antes do amanhecer, para que possamos isso sair. Tudo bem, senhora?
— Sim, senhor Hampton. Estou de acordo.
CAPÍTULO 05
Rústica era a palavra adequada para descrever muito bem a casa de campo. A frente tinha uma elevação baixa de terra, Julián conduziu a carruagem para uma pequena casa de pedra isolada. Nada mais que o céu estava atrás dela e só algumas dependências e o som das ondas a cercavam.
Saíram de Russell Square em silêncio, na escura hora da manhã, muito antes que os criados de Julián despertassem. Inclusive, à senhora Tuttle ou Batkin sabiam para onde eles foram.
— Você é proprietário desta casa— perguntou, enquanto a ajudava a descer da carruagem.
— Comprei-a faz alguns anos quando me estabeleci pela primeira vez.
— Procurou um refúgio da sua vida na cidade e das obrigações sociais?
— Eu só pensava nela como uma casa na costa. Sempre gostei do mar.
— Talvez, o leve no sangue. Afinal, um de seus tios foi um oficial da marinha e inclusive, chegou a pensar em uma carreira para você mesmo. Alguma vez se arrependeu de não ter feito?
— Eu não gosto de pensar no passado. É muito inútil. As poucas coisas que faço no porto não têm nada a ver com meu trabalho.
A casa era simples, mas atraente. Uma sala de estar e uma pequena biblioteca, fortemente equipada de frente para o mar, entraram através de um jardim pela porta da cozinha. Uma pequena sala de jantar e um dormitório completavam o restante do andar térreo.
Enquanto Julián voltava trazendo algumas das coisas que ela havia levado, ela caminhou pelas salas com teto com vigas de madeira e paredes de gesso brancas. Os móveis eram simples e de bom gosto.
— É muito encantadora, chamou-o quando ouviu seus passos na cozinha. – Trouxe alguma vez os criados aqui?
— Não.
— Nem sequer Batkin?
— Nem sequer Batkin.
Ele então ficou em silêncio. Só o som do mar e o vento se escutavam. A casa não estava fechada, por isso, não tinha vindo aqui somente no verão. Não seria surpresa se soubesse que ele viajava até aqui deliberadamente, quando alguma tormenta estava gerando, para assim experimentar a natureza em sua máxima expressão primitiva.
Refez os passos até a sala onde o senhor Hampton acendia o fogo na lareira. Enquanto o observava, ela considera por que ele sentia tanta atração por essa casa.
Essa atração vinha do passado. Lembrou-se de um verão, em que estava de visita a Laclere Park e uma terrível tormenta aconteceu. Ela o encontrou na biblioteca de frente à janela, observando-a quase em transe. Ele abruptamente a tinha deixado ali e depois o viu caminhar sob a tormenta como se a emoção daquela fúria, o tivesse atraído sobre si mesmo.
— Isso deve isolar a dos efeitos da umidade,— disse, tirando o pó de suas mãos, enquanto se levantava do lado da lareira.
— Vou fazer um na cozinha também e no dormitório, depois que você escolher o que prefere. Deseja dormir aqui embaixo, ou acima? Os aposentos de cima são muito melhores.
— Eu esperava descarregar, não escolher aposentos. Vou subir e ver qual é mais cômodo.
— Vou acender o fogo na cozinha, enquanto você faz isso.
Ela subiu as escadas estreitas e encontrou três dormitórios. O que ficava de frente para o mar era bastante grande e ela imaginou que deveria ser do senhor Hampton. Os outros dois ficavam na parte de trás da casa e davam para uma pequena horta escondida dentro de seu muro de pedra.
Parou em um deles, examinando sua colcha limpa e cortinas brancas simples e o armário de pinho.
Era um dormitório para uma mulher.
Havia algo nele, um refinamento sutil, que o definia como feminino.
Ou talvez fosse o perfume do quarto o que lhe fez supor isso.
Ela sentiu seu rosto corar. Claro. Que estúpida era ela. Existia outra razão muito boa, para que um homem da cidade tivesse um refúgio isolado, não muito longe de Londres. Um muito prático. E uma excelente razão, para também não ter criados aqui.
Ela não sabia muito sobre o senhor Hampton, no que se referia a mulheres, salvo que havia muitas especulações a respeito dele e muitas paqueras improdutivas, dos quais nunca pareceu perceber.
Parecia que as paqueras não tinham sido em vão depois de tudo. Pelo visto, tinha sido a discrição, não a abstinência, o que manteve essa parte de sua vida oculta do mundo.
Ela passeava pelo dormitório e se perguntou, que mulheres teriam visitado esta casa e se conhecia alguma delas.
Possivelmente, na atualidade havia uma senhora que usasse este quarto e o considerava seu.
— Você quer ficar aqui?
O Sr. Hampton ficou na soleira com seu grande baú em seus braços. Em seu pensamento, viu ele entrar neste quarto para um propósito diferente. Era uma imagem emocionante e perigosa, uma imagem alarmantemente e fácil se desenhou em sua cabeça. Seu coração subiu à garganta.
Quando ela não respondeu ele foi para dentro e colocou seu baú no piso perto do armário.
— Talvez não,— disse ela.
Ele se agachou para levantar o baú novamente.
— O quarto com vista para o mar é muito mais cômodo.— disse ele.
— Sim. Quero dizer, não. Esse é o seu, não é?
— Quando estou aqui sim, mas não vou estar, por isso pode ficar nele. Vai gostar. Você pode ouvir as ondas claramente a noite, é como se estivesse dormindo sobre elas.
— Não acredito que ficaria cômoda em seu quarto, senhor Hampton.
— Como você preferir.— Colocou de novo seu baú no chão.
— Na verdade, estava pensando no quarto ao lado que é menor. Eu estaria mais cômoda ali.
Ele começou a recolher o baú, mas parou. Ele se endireitou.
— Por que é mais cômodo do que este?
— Acho muito encantador e acolhedor.
Uma profunda compreensão, piscou em seus olhos. Ele compreendeu as conclusões que ela havia chegado. Era sua imaginação ou via um pequeno esboço de um sorriso neles, como se tivesse descoberto algo divertido?
— Eu preferiria que usasse esse aposento, tem mais encanto que o menor.
Foi para a porta, deixando o baú onde estava.
– Você pode ver o caminho por esta janela. Quando estiver sozinha, pode achar reconfortante ser capaz de ver que ninguém se aproxima.
Julián trouxe também seu pequeno baú e um pouco de água, deixou Penélope sozinha para que pudesse se refrescar.
Julián se aproximou da sala de estar e olhou pela porta, do pequeno terraço de pedra que dava para o mar.
O dia não estava frio, mas a forte brisa levava o vento salgado. Que soprou ao seu redor, fazendo eco da energia das ondas do mar.
Ele amava a forma, que o som do ritmo do mar tirava os pensamentos de sua cabeça e provocava um profundo conhecimento de si mesmo. Essas reflexões nem sempre continham palavras, mas as conclusões surgiam da mesma forma. Não só pensava em Penélope quando visitava esta casa. De fato, quase nunca fazia, embora ela jamais ter ficado ausente de sua alma. Provavelmente, pensaria nela durante todo tempo a partir de agora, desde que ela caminhou de verdade por estes pisos e que depois que apareceu neste terraço.
Ele imaginou à mulher no quarto acima, estabelecendo-se no dormitório onde tinha chegado à conclusão, que era utilizado por suas amantes.
Não podia decidir se queria sentir sua eterna presença, neste canto de sua vida ou não.
O dia estava claro e podia ver muito longe ao sul, onde os mastros dos navios que se dirigiam pelo Tamisa apareciam no céu. Ele esteve a bordo de navios, para saber se teria desfrutado de uma vida no mar. Mas ele quis dizer o que falou para Pen. Não tinha remorsos, sobre o caminho que havia escolhido em seu lugar.
Havia presumido isso, mesmo que isso significasse transformar-se em um advogado. Seu pai foi um cavalheiro pobre, mas um cavalheiro de todas as formas e os filhos dos cavalheiros que ingressavam na lei, presumisse que se transformassem em procuradores (advogados). Os procuradores não trabalhavam por dinheiro, embora de forma indireta faziam realmente. Embora, o mundo permitisse essa pequena mentira, assim os procuradores fingiam não manchar as mãos com o comércio. Os advogados, no entanto, eram pagos diretamente e isso marcava a diferença para a maioria das pessoas.
Essa escolha tinha significado uma existência mais segura e suspeitava, que uma mais interessante. Os procuradores entravam levianamente na vida de uma pessoa, depois saíam. Os advogados ficavam ao lado de seus clientes até o dia que morressem.
O não teria sido útil absolutamente para Penélope, se não tivesse se transformado em um advogado.
Sua mãe teve alguma ideia sobre o que poderia acontecer? Seria por isso, que lady Laclere o tinha levado a um lado, no dia em que ele completou quinze anos para lhe propor esse rumo para sua vida?
Ela então, pediu a seu marido que pagasse sua matrícula universitária por dois anos e depois conseguisse uma colocação como estagiário nas câmaras de seu antigo advogado.
Ela tinha falado nesse dia, devido sua preocupação com seu filho mais velho Milton e, sua necessidade de um bom conselheiro, uma influência prática quando assumisse o título. Mas então, ela já estava encaminhando sua atraente filha para o conde de Glasbury. Julián sempre se perguntou, se ela suspeitava que sua filha também necessitaria de seu conselho nos anos seguintes.
Se fosse assim, casar Pen com Glasbury teria sido imperdoável.
— Quer comer antes de sair? Eu servirei alguns dos alimentos que trouxe para mim. Ele voltou-se para ouvir a voz de Pen.
Ele estava na porta. Por um instante viu a menina – a mulher que teve a primeira temporada, correndo para ele em outro terraço, emocionada por seu recente compromisso com um grande conde. Ela ficou tão feliz, tão cheia de sorrisos brilhantes, que teve que sorrir com ela, apesar de ter sido o dia mais solitário de sua vida.
Parecia ainda mais bonita hoje. Seu coque simples no cabelo, a fazia parecer mais jovem. Suas curvas inclusive, pareciam as de uma garota inocente.
Voltou para a casa. Pen tinha colocado um pouco de presunto, queijo e pão sobre a pequena mesa perto da sala que dava para a janela.
— Pensei que poderíamos ver o mar daqui, a sala de jantar na parte de trás é escura, disse.
Sentaram ambos ao lado da mesa. Julián sentiu a distração e o desconforto nela. — Ficará bem aqui sozinha nessa noite?— perguntou-lhe.
— Claro. Eu sou uma mulher adulta. Não necessito de atenção como uma menina.
Seu tom era quase um desafio. Não era capaz de imaginar a resposta que esperava, assim não disse nada.
— Estou achando que não foi prudente vir aqui. Eu deveria ter procurado outra solução, disse.
— Você precisava de um santuário.
— Não acho que esta casa deveria ser este santuário.
— Por que não?
— Estou preocupada com sua reputação. Se isso cair ao conhecimento, irão supor que sou sua amante. Glasbury pensará isso e o arruinará.
Ela estava mentindo. Oh, claro que se preocupava realmente com ele, mas não era a razão deste mau humor e dessa resistência agora.
— Entretanto,— continuou,— considerando as possíveis consequências de vir aqui me fez perceber que tenho outra opção, no que respeita ao conde, além de fugir.
— Qual seria?
— Posso ter uma aventura e ser muito indiscreta. Acho então, que se divorciará. Poderia funcionar, não acha? Ele sempre disse, que se eu fizesse isso nosso acordo acabaria, mas já que está tentando acabar com ele de todas as formas…
— Você está bem? Percebo algo estranho. Você está sufocando ou…
— Estou bem.
— O que você acha? Funcionaria?
Tentou chamar seu desinteresse profissional.
— Eu acredito que seria induzi-lo a que se divorcie de você. Ter uma aventura que poderia pôr em perigo a sucessão de seu título e o também o humilharia.
— Você acha que ele iria ao Parlamento? Eu gostaria de nada menos que minha total liberdade.
— Ele desejará voltar a casar-se e ter seu herdeiro, por isso iria ao Parlamento.
— Isso poderia funcionar. Não acha?
— É uma solução ao seu dilema. Eu o teria proposto anos atrás, se você tivesse mais idade e tivesse sido menos meticulosa em sua honestidade.
Ela deixou de comer. Deixou o garfo.
— Você contemplou então essa possibilidade, que eu lhe desse provas de adultério para poder divorciar-se de mim?
— Sim.
Suas pálpebras baixaram.
— Não foi só minha juventude e a honestidade o que o mantiveram em silêncio, acredito. Seu tom definitivamente era uma provocação nesta ocasião.
— Você pensou que eu nunca seria capaz de fazer isso, não é? Por isso, nunca me expôs essa opção.
— Você não queria divorciar-se dele usando o que conhecia dele, por isso julguei que não queria um escândalo.
— Não só o escândalo, mas também o custo de ir ao Parlamento. As finanças de minha família não podiam me apoiar nisso.
— Você poderia ter ido aos tribunais da igreja. Não precisava ser o Parlamento.
— A igreja era uma meia medida, e eu me salvei da humilhação e no final obteria o mesmo acordo, que você sugeriu negociar. Melhor ainda, já que recebi algum apoio e não fui uma carga para minha família.
— Não são os mesmos termos, senhora. Se tivesse ido à igreja, poderia estar divorciada agora e o conde não poderia tocá-la.
Seu tom era firme, estaria condenada se aceitasse a responsabilidade da derrota, pelo curso das decisões que ela havia tomado.
Ele a tinha aconselhado a pôr fim ao casamento. Esteve malditamente perto de lhe suplicar que o fizesse.
O olhar dela caiu em seu colo e a atmosfera ficou pesada. Quando levantou o olhar novamente, seus olhos tinham uma expressão de determinação.
— De todos os modos, esta opção de dar uma razão ao conde para divorciar-se de mim, não estava dentro dos que enumerou naquele dia em seu escritório. Eu sei a verdadeira razão, e não é nenhuma das que você admite.
— Asseguro a você que…
— Você concluiu que eu não poderia suportar estar com um homem, depois do que aconteceu com Glasbury, você supôs que eu estava arruinada para sempre dessas intimidades.
Ela ruborizou profundamente. Ficou espantada por poder falar de assuntos tão delicados, quase como estava surpresa por ouvir semelhante acusação.
Ela fingiu voltar a atenção para sua comida. Sua formação lhe impedia de dar uma resposta.
Menos mal, porque a réplica em sua cabeça, não era própria do tipo medido e profissional, que se esperaria de seu velho amigo e advogado.
— Você aconselha o divórcio agora? Se divorciar-se dele significa fazer com que ele se divorcie de mim— perguntou ela.
— Se não puder dissuadir ele de sua intenção, pode ser que seja a única opção.
— Eu vejo outras. Poderia partir para longe como pretendia desde o princípio.
— Ofuscando sua vida adulta como faz no momento. Vai dar a ele a vitória da destruição de seu futuro?
— Eu ouvi dizer que a América é muito agradável. Viver ali não será minha destruição.
— Para desaparecer, terá que ir para dentro da fronteira, isso comparativamente verá uma cabana como um Palácio. -
— Acho que você exagera. Suspirou.
— Bom, essas são todas as opções, suponho. A exceção de matá-lo, mas isso jamais faria é obvio.
Julián não disse nada.
Ele se levantou.
— Não há necessidade de tomar nenhuma decisão, até eu falar com Glasbury. Vou embora agora, se estiver segura de que pode administrar-se por sua conta. Tenho compromissos em Londres que não posso fugir, e além disso, pode aumentar a curiosidade deles. Entretanto, a visitarei amanhã.
— É uma viagem muita longa para fazer a cavalo, senhor Hampton. Não é necessário que viaje até aqui todos os dias. Criará muitos inconvenientes para você. Inclusive a cavalo, levará muitas horas de ida e volta.
— Voltarei amanhã pela tarde, senhora.
Ela o acompanhou à cozinha e saiu no jardim com ele. Não gostava de sair e deixá-la isolada e sozinha. Não lhe importava a solidão e com frequência a buscava, mas sabia que isso era incomum.
Ela percebeu sua vacilação.
— Vou ficar bem. Agradeço por fazer isso para mim. Por ajudar. Tenho medo de ter soado muito ingrata, enquanto conversávamos. Não sou e quero que saiba.
— Até manhã.
Aproximou-se da carruagem com sua acusação ainda na cabeça.
Ao invés de entrar, virou-se e voltou para onde ela estava.
— Nunca pensei que você estivesse arruinada. Nesse dia, vi que estava assustada, triste e chocada. Sugerir que tivesse um romance naquele momento, teria sido inapropriado e sobre tudo insensível e cruel de minha parte. Mas nunca pensei, que estivesse arruinada para sempre.
Ele virou para a porta.
— Bem, eu achei que seria assim, mesmo você não fazendo isso.
CAPÍTULO 06
Penélope estava lendo uma história dos antigos etruscos na biblioteca, depois que o senhor Hampton foi embora. Quando o sol se moveu o suficiente para deixar em seu lugar a sombra, colocou de lado seu livro e o debate sobre como preencher a solidão diante dela.
A tentação de procurar alguma evidência nesta casa da amante do senhor Hampton era muito grande.
Sentia um desconforto estranho por dentro, queimando lentamente cada vez que olhava o dormitório feminino acima. Sabia que era estúpido de sua parte. Era uma tolice supor, que sua vida estava em branco nas áreas das quais não sabia nada. Se fosse assim, teriam sido meses e anos de abstinência, quando ele não fazia mais que exercer a advocacia, participar das festas dos clientes e de vez em quando, assessorar à condessa de Glasbury.
Aproximou-se da escrivaninha da biblioteca e olhou nas gavetas que definitivamente não deveria ter aberto.
Pelo menos, se ela soubesse que não tinha uma amante atualmente, não se sentiria tão estranha. A ideia de que uma pessoa invisível, jantou com ele a deixou de mau humor na sala de estar. Seria uma amante encantadora, que o Sr. Hampton jamais veria como arruinada para os homens.
Ele tinha mentido sobre isso. Ao invés disso, optou por escutar suas palavras de outra maneira. Talvez, ele realmente não achou que ela seria incapaz de tais intimidades novamente. Mas, não duvidava que, seus olhos refletiam que sua vida estava em ruínas, que se sentia irremediavelmente suja, no que se referia aos homens. É claro, que cada homem de seu mundo era ignorante dos sórdidos detalhes de sua separação, por isso, não lhes importava muito.
Exceto o senhor Hampton, que não ignorava nada em absoluto.
Ela impulsivamente abriu uma gaveta. Uma pilha de papéis estavam ali. Lutando contra a culpa, imaginando ouvir seus passos atrás dela, levantou a tampa e desdobrou um.
Ela leu as duas primeiras linhas e rapidamente a devolveu à gaveta e a fechou imediatamente.
Era um poema de amor escrito pela mão do senhor Hampton. Um rascunho, estava cheio de alterações, antes da versão final que certamente teria enviado.
Bem, isso era tudo. Definitivamente havia tido amantes. Provavelmente estaria em Londres nesse momento com alguma delas.
Pouco a pouco, enquanto passeava pelas salas, se obrigou a pensar na escolha que discutiu hoje. Se ela praticasse o adultério e não mostrasse nenhuma discrição, o conde divorciaria-se dela?
Sua independência foi condicionada a não ter amantes. Se o escândalo judicial, de nenhuma maneira envergonhar a Glasbury, todo o apoio financeiro terminaria e procuraria sua volta.
Ele não disse, mas entendia, que se houvesse provas de adultério as acusações dela ao contrário não seriam um perigo para ele.
Agora, entretanto, o conde tinha quebrado o acordo de todos os modos, por isso outro assunto só poderia forçar sua mão.
Sentou-se na mesa e pegou uma folha de papel em branco. Ela faria uma lista dos homens que poderiam servir para realização desse papel. Ela escreveu o primeiro nome da lista.
Colin Burcbard.
— Ele é suficientemente atraente,— disse para si mesma. Sua voz soou forte na casa vazia.
—Posso pensar que gostará da diversão de um grande escândalo, já que não se preocupa muito com que a sociedade diz. Ele desfruta de ser renomado em correspondência criminal. Todo ano comentavam de sua notoriedade por isso.
— Ewan McLean.
Um escocês perigoso. Bonito e cheio de atrativos, como uma fruta proibida. Nada discreto absolutamente. Já havia realizado um divórcio e tinha algo a dizer a respeito da experiência.
Entretanto, houve rumores a respeito dos fatos acontecidos em seus aposentos em Londres.
— Pode ser que seja muito aventureiro.
Ela claramente escreveu mais alguns nomes dos homens que tinham possibilidades. Ela olhou à última.
Archibold Abernathy.
— Sim, Archie ficaria muito feliz por essa proposta. Ele esteve insinuando constantemente cada ano.
Só que tinha dificuldades ao imaginar-se, fazendo coisas de adultera com qualquer destes homens e mais ainda com ele.
Estudou a lista de seis nomes, perguntando-se como poderia explicar o plano claramente. Teria que ser exposto como um assunto de conveniência.
Tentou imaginar como iria propor uma coisa assim.
— Senhor, poderia estar interessado em participar de um assunto sofisticado, onde exista a intimidade física com afeto, mas não com amor? Você não teria absolutamente, nenhuma obrigação comigo e você seria suficiente, uma evidência de meu jogo de adultério.
Infelizmente, a mulher em sua cabeça que praticava seu discurso, era muito mais mundana que a Condessa de Glasbury. Una mulher adúltera era uma dessas mulheres inteligentes, seguras de si mesmas, que se penduravam em três homens ao mesmo tempo.
Suspirando, molhou a pena novamente. Um ponto pairou sobre o papel, preparado para escrever mais nomes.
Julián Hampton.
Ela na verdade não escreveu. Sua consciência e o bom senso pararam o impulso. Então, sentiu-se surpreendida, pela forma em que seus instintos se aguçaram considerando essa ideia.
Imaginar a si mesma com ele não era difícil em absoluto. As imagens e as sensações através de seu vestido, o calor e a emoção que provocava. Ela na verdade, o viu olhando para ela e sentiu suas mãos acariciando-a.
Ela se levantou bruscamente e foi procurar seu livro. Foi para longe dessa lista, na sala de jantar, onde encontrou um pouco de luz do oeste. Situada perto da janela, ela tratou de continuar lendo sobre os etruscos.
Mas a imagem de Julián não iria deixá-la. Ela riu de si mesma.
Pobre senhor Hampton, ter que lidar com uma mulher cujo medo e solidão traziam para ela tolas e inadequadas especulações.
No final da tarde, Julián bateu na casa de Glasbury em Londres.
Um homem alto e negro pegou seu cartão. Julián reconheceu o criado, da peruca branca, apesar dos anos que passaram. Seu nome é César, um nome comum para escravos das plantações Inglesas. Era um dos criados que Glasbury importou anos atrás de suas propriedades nas Índias Ocidentais.
César retornou e o acompanhou, até onde o conde estava no salão de Glasbury.
Pouca coisa havia mudado no ambiente, já que fazia muito tempo, das muitas vezes que Julián veio chantagear o conde para a libertar Pen. Não foi uma chantagem real, ou penal, mas o efeito tinha sido o mesmo. Se a permitisse sair de sua casa, de sua cama e lhe desse um subsídio, caso contrário ela o arruinaria.
A atribuição do conde não foi generosa, mas calculada para assegurar-se de que sentiria com as privações de sua decisão. A separação não foi sem custo algum para Penélope de outras formas também. No entanto, Julián sabia que inclusive, se sua queda tivesse sido completa, ela teria insistido em afastar-se desse homem.
De cabelo grisalho bem penteado, de terno e gravata representava a perfeição, o conde estava sentado em um sofá pequeno, que o fazia parecer maior do que realmente era. Ele ofereceu uma cadeira próxima para Julián.
— Lamento, não poder ter recebido você da última vez aqui,— disse o conde. – Fico contente por ter voltado.
Sorriu. Charlotte tinha chamado ele de sapo no escritório de Laclere e havia alguma coisa em sua boca frouxa, que o lembrou de uma rã.
— Seu desempenho na casa de Laclere fez necessário que eu comparecesse. Seu desejo que a condessa volte para sua casa me surpreendeu.
— Verdade? Eu esperava que ela confiasse muito mais em você. Afinal, ela contou-lhe tudo.
— O que me surpreende, é que você acha que uma mudança de parecer tem algum significado. Duvido que seus sentimentos tenham se suavizado, por isso a situação continua como estava onde ela o deixou.
— Em minha opinião, a situação mudou consideravelmente. Suficiente, para que esse distanciamento já não seja possível.
— Você pode escrever para ela ou comunicar pessoalmente.
— Já não sei onde está, não posso. Não me diga que ela está em Nápoles, já que estou certo que retornou a Inglaterra. Você também sabe onde está. Afinal, você é seu confidente especial. Seu criado. Seu correio negro de chantagens. A senhora chama e você corre igual a um cachorro bem treinado. Pode ser que não tenha contato com seus irmãos, mas sem dúvida está em contato com você.
Glasbury ficou rígido e parou perto à lareira, como se permanecendo próximo a seu interlocutor fosse desagradável.
— Ela tinha assuntos em Nápoles. Vários assuntos. Que compromete nosso acordo, como você bem deve saber.
— Você tem provas disso?
— Recebi cartas suficientes, que descrevem seus amantes para encher a adega.
— Uma mulher em companhia de um homem em uma função pública não é uma prova.
— Eu sei que ela estava jogando de puta, maldita seja, não vou permitir. É intolerável. Ela é minha esposa. Ela me pertence.
Ali estava. Então, Glasbury queria o casamento. Via Pen como uma propriedade.
A lei atual também, infelizmente.
— Não esqueça do que ela sabe sobre você,— disse Julián.
Glasbury virou e o olhou. Um brilho perigoso passou em seus olhos.
— E o que você sabe, é obvio. Só que você não tem estômago para usá-lo, apesar de ter ameaçado que faria. Invertendo quando o custo pesou para você.
Julián recebeu esta alusão com silêncio. Ele sabia que anos atrás, alguém tentou chantagear Glasbury com dinheiro usando esses segredos. Glasbury acusou Julián de ser essa pessoa e reiterou suas ameaças. Quando a chantagem parou abruptamente, tudo parecia indicar que a interpretação de Glasbury estava correta.
Só que não foi Julián absolutamente.
— A condessa tem a vontade de usá-lo, mesmo você achando que não,— disse finalmente. Repito o que disse, quando entrei pela primeira vez: não mudou nada.
Glasbury caminhou de volta com passo seguro. E se sentou no sofá.
— Acredito que muitas coisas mudaram. O tempo por um lado. Ela tem uma história, mas quem vai acreditar agora? Quem vai acreditar nas fantásticas acusações de uma mulher tão vaidosa e mimada, que quebrou seus votos de casamento e negou a seu marido, um herdeiro? Uma mulher que viaja por toda a Europa, como se ela não tivesse deveres aqui na Inglaterra? Una mulher que espera mais de uma década, para revelar a fonte de sua grande infelicidade? Aos olhos do mundo Hampton, os anos têm feito na sua história de dor muito pouco acreditável. Seu comportamento, tem feito que sua veracidade seja suspeita.
Havia algo em Glasbury, enquanto explicava sua invulnerabilidade. Criava uma aura escura, até que Julián sentiu que estava vendo a alma nua e verdadeira do homem. Não era um espetáculo agradável.
Uma visão antiga e recorrente se introduziu no canto da cabeça de Julián. Ele enfrentando Glasbury em um campo em Hampstead, com o sol avançando por cima das copas das árvores ao redor. Outro homem se unia a eles e abria uma caixa, deixando a vista duas pistolas. O silêncio reinou até que uma voz o tirou de seus pensamentos.
— Ela jogou muito, como você sabe.
— Eu sei o suficiente para ficar aborrecido com você.
— Ah, sim. Agora posso ver derramando sua infelicidade e suas palavras acusando-me. Não há dúvida, de que não mencionou que ela é uma sócia bem disposta, em meus jogos. Que desfrutávamos deles.
O corpo do conde dobrou sobre si mesmo e Julián imaginou suas pernas cedendo e caindo no chão.
— Vou ter ela de volta. Glasbury cravou em Julián um olhar muito confiante.— E finalmente, me dará o herdeiro que negou. Se eu fosse você, não ficaria em meu caminho. Derrubar Laclere requer algum esforço, mas sua destruição vai ser fácil.
— Já fui ameaçado por homens melhores que você Glasbury, assim não espere meu suor. Se seu objetivo é um filho, lembre que a condessa já não é uma garota. Ela já tem quase trinta anos, e seu primeiro filho pode colocá-la em perigo nessa idade.
— Sempre e quando a criança nasça vivo, o que me importa. A resposta plana e insensível congelou Julián.
— E se essa criança não for um menino?
— Então vou querer mais, como outros homens.
— E se não conseguir um menino? Julián não esperou uma resposta à pergunta, mas ele não podia ignorar as respostas obvias. Ao menos a pior delas, parecia muito possível do homem no sofá.
Julián se levantou para ir embora.
— Como já disse, deve escrever para ela com uma explicação de seus planos. Talvez, olhe sua posição de uma forma mais amável do que eu. No entanto, não assuma que a história que ela conhece de você, não acreditem. Se trata de uma história muito sórdida e convincente, além disso, nesses tempos muitas coisas mudaram, incluindo a tolerância da sociedade com os homens iguais a você.
O nevoeiro pairava no período da tarde. A costa se transformou em um véu, pelo tipo de clima que a chuva anunciava.
O céu estava tão baixo que parecia fundir-se com o mar. Somente a altura das ondas pareciam romper a suave extensão.
Pen se sentou na mesa e tratou de trabalhar em seu projeto. Seu olhar se manteve à deriva olhando a lista dos possíveis amantes que tinha feito.
Por último, para distrair-se durante a tarde, trouxe seu manto azul e saiu para o terraço de pedra.
Ela olhou pela extensão infinita, sem horizonte que marca a margem do mar ou do céu. O mar soava abafado e o vento parecia quebrar-se com a atmosfera.
Viu que uma escada de pedra levava até o penhasco da praia. Uma pequena embarcação se balançava nos redemoinhos a vinte metros mais abaixo.
Ela desceu as escadas estreitas e caminhou rumo ao sul na areia úmida, respirou fundo tomando um pouco de ar e fazendo exercício. Quando uma grande onda salpicou seus pés, tirou os sapatos e continuou em seu caminho com os pés descalços.
A areia sob seus pés lembrava a Nápoles. Havia caminhado tanto na costa com o jovem Paolo.
Filho mais jovem de um conde, Paolo dedicava sua vida a compor óperas medíocres e a entreter damas estrangeiras com seu encanto. Sentia a areia e o calor no rosto. Sentir a água fria banhando sua pele em um glorioso contraste.
A lembrança de Paolo a fez sorrir. Ele fazia adulações frívolas e dizia palavras de amor facilmente, que não sentia de verdade. Mas eram divertidas de escutar. Nápoles estava cheia de homens como Paolo. Ela esteve livre de preocupações, passeando com jovens à luz do dia e gozando da felicidade que oferecia Nápoles.
A luz do teatro. A felicidade era superficial. Ela esteve representando um papel, como o que brincava quando era uma menina com seus irmãos e representavam um épico medieval com o Julián sobre as ruínas de Laclere Park.
Não. As brincadeiras da infância foram mais honestas.
O fio de uma onda trouxe frio aos seus pés e ela teve que brincar de correr perto do escarpado para evitá-la. Olhou ao seu redor e percebeu que tinha caminhado muito mais do que achava.
Seu isolamento sua consciência soava como um sino. Nenhuma outra alma podia vê-la. A casa inclusive, não estava a vista. Outra onda anunciou a maré cheia. E havia faixas da praia que ameaçavam ser inundadas.
Girando nos calcanhares, rapidamente se dirigiu para a cabana.
Esteve a ponto de não ver o homem. O dia era tão cinza e não era mais que um borrão de uma figura, no céu nublado. Estava no caminho acima do escarpado, de costas para ela, sem mover-se como se olhasse para algo.
A casa era a única coisa visível da costa. Era a única coisa que o homem estaria olhando de lá.
O medo a puxou de volta. Disse a si mesma, que estava sendo muito paranoica. Certo, sem dúvida, teria que caminhar e aparecer normalmente e não como se fosse uma fugitiva também.
Finalmente, ele se mexeu. Simplesmente desapareceu.
O medo outra vez a estremeceu. Alguém que acaba de caminhar de um lugar para outro ao longo desse caminho, não poderia desaparecer. Continuaria seu caminho.
Olhou para cima e para baixo na praia. Muito mais ao sul, podia ver as casas de um povoado de pescadores.
Talvez, ele tivesse saído dali, mas ela não acreditava. Parecia que ele usava um casaco e não é como um pescador gosta de se vestir.
Ela chegou mais perto das rochas que salpicavam a margem de dentro da praia, longe das ondas por isso, qualquer pessoa que procurasse abaixo do caminho do escarpado ou da casa, não poderia vê-la.
Ela deslizou pela parede do escarpado para a casa. A cem metros da casa, tinha um ponto. Escondida atrás dessa barreira superficial, ela olhou a seu redor e olhou para seu santuário.
Um movimento atraiu seu olhar. Na escuridão, como uma sombra movia-se ao passar na beira do terraço. Alguém estava dentro da casa.
Seu coração pulsava tão forte, que sentiu ele em seus ouvidos. Pensamentos de pânico derramaram em sua cabeça, em uma confusão.
Ela e Julián deveriam ter ido embora naquela manhã. Esse homem era o conde. Ele estava procurando ela, estava certa disso. Talvez, tenha entrado na casa e visto seus baús. Talvez, agora iria utilizar o barco para procurá-la na praia.
A água fria verteu em seus tornozelos. O impacto da sensação, restaurou alguns de seus sentidos. Segurando a saia e as anáguas, virou-se e correu de volta pela costa, procurando desesperadamente, um lugar para se esconder.
Ela ficou perto da superfície da rocha, rezando para que não a tivessem visto do terraço.
O vento a seu redor, trazia o frio da noite. Penetrava direito em seus ossos, com a ajuda do frio do terror.
Sentia a bílis que ameaçava deixá-la doente, lançou um olhar ao longo das rochas, enquanto corria. Duas grandes rochas se projetavam.
Ela se apertou entre elas. Envolveu em seu manto com força ao redor dela e se sentou sobre uma cama de areia atrás delas.
Os dentes apertados e o coração pulsando com histeria terrível de um animal encurralado, enquanto esperava ser descoberta a qualquer momento, inclusive enquanto rezava por sua salvação.
—Não é de seu agrado, acredito.
A voz suave e feminina apenas penetrava nos pensamentos de Julián. Seu corpo poderia estar nessa reunião, mas sua cabeça estava em uma casa de campo na costa, sentada perto do fogo com Penélope.
A revelação das palavras em sua despedida, continuavam repetindo-se em sua cabeça.
Ela havia pensado que estava arruinada por culpa de Glasbury. Durante anos acreditou.
Mas isso havia mudado. Finalmente, um homem tinha ressuscitado o que o conde havia matado. Um homem que não sabia nada, do porque tinha abandonado o conde, que não tinha escrúpulos sobre o adultério e que achava que nada poderia colocar em risco sua independência, que não havia nenhum escândalo em volta dela.
Por que lembrava daquele assunto agora? Lembrar do seu amante, apesar do que tinha passado?
Provavelmente, ainda amava o homem. Se ela voltasse a esse assunto, provavelmente poderia perdoar Witherby.
— A senhora Morrison. Não foi de seu agrado?— Diane St. John repetiu.
Ele virou-se para sua anfitriã. Tinha cabelos castanhos abundantes, olhos quentes e sentimentais, possuía uma espécie de delicada beleza que se tornou mais interessante com os anos. Sua graça natural conquistava o tempo, não importava como seu rosto fosse na batalha contra o mesmo.
Normalmente, ficava contente por participar das reuniões dos St. Johns. Nesta entretanto, transformou-se em um fardo. Se não fizessem perguntas mais tarde, teria se desculpado e não participaria.
— Ela é muito bonita e encantadora,— disse Julián. Lady Morrison estava próxima. Sua boca se mantém em movimento.
— Foi sua escolha, ou tenho que agradecer à lady Laclere pela apresentação?
Diane voltou a sorrir.— Eu disse que você reconheceria o jogo rapidamente. Fomos tão óbvias?
— Cheguei à conclusão, há um mês que certas damas dirigiram sua atenção à procura de uma esposa para mim.
— Não necessariamente uma esposa. Existe certa preocupação de que possa estar sozinho, isso é tudo.
Não, não era necessariamente uma esposa. Olhou para um canto da sala, onde lady Pérez estava sentada em um sofá, rodeada de homens que riam e se abatiam sobre ela. Duas vezes lhe tinha chamado a atenção e jogou um olhar longo e quente.
Ele não acreditava, que o tinha incluído essa noite em sua causa. Sua personalidade vivaz tinha assegurado muitos convites, porque animava qualquer um nas reuniões. Havia causado sensação na sociedade e pelo começo da temporada, sem dúvida, seria um acessório inclusive, da maioria das festas da alta sociedade.
Diane percebeu sua atenção.— Daniel não acredita que ela seja da Venezuela,— confiou-lhe secretamente. – Ele diz que seu sotaque é muito diferente do senhor Pérez. Ele acha que talvez, ela seja da Guyana.
— Desde que seu marido passou algum tempo nessa zona do mundo, ele deve estar certo.
— Ainda assim, não está convencido de que ela seja a esposa oficial de Raúl Pérez. Que não acredita que o senhor Pérez, permita sua mulher paquerar com essa liberdade, como tem feito. Além disso, é óbvio que tem um pouco de ascendência europeia. Raúl é filho da elite crioula e muito meticuloso com a linhagem de sangue de sua legítima ascendência.
— Uma amante?
— É possível. O que você acha? Está correto meu marido?
— Acredito, que as festas em Londres prometem ser muito teatral nos próximos meses se ela for, mas acho que os dramas reais serão disputados em privado.
O olhar de Diana fez uma exploração lenta, como anfitriã do salão, para assegurar-se de que ela não fosse necessária.
— É muito indiscreto que, nos perguntemos a respeito de sua felicidade e também por tentarmos exercer influência?
— Sinto-me honrado. Se não cooperar, não é por falta de compreensão de sua bondade. Não desejo procurar uma esposa, mas estou agradecido por ter tão bons amigos.
— Disse a Bianca e a Sofía que eu não acreditava que cooperaria,— confiou.— Eu disse que acho que é um homem, que espera algo diferente do que possamos organizar.
Julián não tinha ideia de como responder a isso, assim não disse nada. Tampouco fez a proprietária da casa. Ela ficou perto dele, entretanto, esperou um tempo para continuar a conversa. Essa era uma das coisas que viu Diane sobre o St. John desde o inicio. Nem sempre se sentia obrigada a quebrar o silêncio.
Desta vez, entretanto, sentiu uma agitação nela, como se quisesse falar, mas se reprimia.
Finalmente, deu um passo mais perto.— Charlotte me falou de Glasbury. Nunca gostei desse homem. Lembro a primeira vez, que vim a este país e Penélope se tornou minha amiga. Recentemente o havia deixado e ele fez tudo o que pode, para que seus antigos círculos a deixassem de lado. Inclusive, insinuou entre os novos amigos o que ela fez, por isso, sua presença seria inaceitável.
— A condessa sabia o que iria acontecer.
— Pen é uma das minhas mais queridas amigas. Ficaria muito tranquila, se soubesse que está sã e salva e que Glasbury não a encontrou.
— Não tenho nenhuma razão para acreditar que não está segura.
Sua expressão se borrou.
— Por favor, então venha comigo. Tenho algo para lhe dar.
Julián a seguiu do salão, para o silêncio da ampla biblioteca. Se aproximou da mesa e pegou uma carta selada de sua gaveta.
— Por favor, pegue isso senhor Hampton. Daniel possui propriedades na Inglaterra e na Escócia. Esta carta contém informação sobre algumas de suas localidades e instruções às pessoas que cuidam delas, para lhe dar boas-vindas, se por a caso for alguma vez de visita. Estas são casas preciosas, isoladas que é possível que deseje visitar algum dia.
Julián aceitou a carta.— Não antecipo a visita, mas estou muito agradecido pelo convite.
— Você pode decidir que, um pouco de ar pelo país seja atraente algum dia. Com esta carta você poderá desfrutar de um impulso.
— Você é muito generosa.
Naquele momento, a porta da biblioteca se abriu e o proprietário da casa entrou por ela, Daniel St. John normalmente era ou muito distraído ou muito intenso. Nessa noite parecia o último. Seus olhos escuros, afiados e sua boca dura sorriam a sua maneira, naturalmente sarcástica.
Ele era armeiro e financista de imensas riquezas, St. John era francês de nascimento, embora tenha percorrido a maior parte do mundo. Seu passado era um mistério para todos, exceto para seus amigos mais próximos. Bastava olhar seu rosto e concentrar a atenção, para ter a esperança para que nunca fosse seu inimigo. Inclusive, sendo distraído não era indiferente, seu rosto parecendo um pouco cruel, advertia que não podia jogar com um homem como ele. Julián suspeitava que seu êxito nos negócios, se devia a sua inteligência com os números e o brilhantismo de suas estratégias. Só um parvo, conhecendo St John, poderia considerar que seria parte de uma mentira ou fraude.
— Aqui está, Hampton. Os outros se juntarão a nós em breve. Desculpe-nos, Diane. Essa reunião com Dante sobre o projeto de Fleur Durham será breve, prometo. Nossos hóspedes não saberão.
Diane foi embora. Julián deslizou a carta em seu casaco.
— É bom saber que é um bom amigo Hampton, e que confio em minha esposa totalmente. Outro marido ficaria muito curioso sobre essa carta e seu conteúdo.
— Suspeito, que vou encontrar sua escrita nela quando abrir e não a dela.
— Sim. Bem, ela se preocupa com a condessa. Agora que fizemos uma tentativa para ajudar, vai ter menos dificuldades.
St. John se aproximou da mesa e tirou um pacote selado.
— Ela não sabe nada disso, no entanto, preciso de sua discrição. Se ela for consciente de que senti a necessidade de dar esse passo, só vai preocupá-la mais.
Julián pegou o pacote.— O que é isso?
— Uma lista de meus navios, portos de escala com a Grã-Bretanha e França, e as datas previstas das saídas. Também tem uma carta minha, que poderá entregar a qualquer dos capitães, com as ordens de proporcionar passagem à pessoa que o apresente.
Julián tocou a beira do pacote, pensativo.
— O que você sabe?
— Não muito mais do que os outros. No entanto, a condessa é uma mulher com um grande senso de dever. Se ela abandonou a Glasbury, deve ter tido boas razões. Não é muito difícil supor quais poderiam ser.
Ouviam passos cada vez mais perto da porta da biblioteca.
— Espero que você saiba que estou disponível, se alguma vez necessitarem de minha ajuda de algum jeito.
Julián sabia. Tornou-se evidente, entretanto, que seus amigos mais próximos estavam convencidos que Penélope estava de fato na Inglaterra e que Julián estava ajudando a escondê-la.
Infelizmente, Glasbury teria concluído a mesma coisa.
CAPÍTULO 07
Julián se dirigiu à costa antes do amanhecer do dia seguinte. Ele foi montando seu cavalo. A noite era chuvosa, mas o tempo foi melhorando assim que amanheceu.
Quando se aproximou da casa de campo, se permitiu fantasiar um pouco, a saudação de Pen ao ver que voltou. Levou seu cavalo ao estábulo, mas não viu o rosto de Pen na porta ou na janela. Não saiu para saudá-lo. É obvio que não. Ela tinha mais coisas na cabeça, que o retorno de seu fiel advogado.
Ele cuidou de seu cavalo e foi para a casa. Seu silêncio parecia crescer à medida que se aproximava. O clima era familiar, mas deslocado no dia de hoje. Agora, alguém morava na casa.
Assim que entrou, sabia que não estava certo.
Ela foi embora. Os aposentos ecoavam o vazio. Olhou no terraço, esperando encontrá-la. Subiu as escadas, sabendo que não estaria ali.
Porém, seus baús estavam ali. Sua presença o gelou por um momento. O medo que ela tivesse sido sequestrada durante sua ausência, fez seu sangue gelar.
Não, não acontecido isso. Ela havia se mudado. Levou escondido suas coisas de valor, deixando seus baús e desapareceu. Não havia outra opção, que garantisse sua liberdade, por isso, foi pela escuridão onde se sentisse segura.
Levando em conta seu encontro com Glasbury, não estava muito seguro, de que ela tomou uma decisão ruim.
A alma dele se esvaziaria de todos os modos, como se fosse uma casa de quarto vago. Voltou a descer, ressentindo o silêncio da casa como jamais fez antes.
Solitário. Que tipo de homem dava boas-vindas a uma coisa assim?
No terraço, olhava para a água abaixo.
Foi sem dizer uma palavra. Sem aviso prévio e sem despedir-se.
A maré da manhã estava baixa, o barco balançava no mar. Tirou seu casaco, cachecol, a camisa e desceu os degraus de pedra. Ele se derramou através da espuma rompendo na areia e subiu no barco. Pegou os remos e remou para o mar.
Com o exercício se sentia bem. Assim fez o sol com sua pele. Que ainda continha o restante do calor do verão, mesmo com o vento tendo uma amostra da mordida do inverno. A tensão dos braços e das costas, a luta contra as ondas aliviaram algumas das turbulências nele.
Talvez, ela só tenha tomado essa decisão, depois de sua partida ontem. Talvez, ela não se atreveu a dizer-lhe, porque pensou que poderia interferir.
O mais provável é que não confiasse em sua decisão, porque ela não sentia necessidade. Era só seu advogado. Seu servo. Seu correio escuro, como havia chamado Glasbury.
Tornou-se mais difícil levar os remos. Desejou estar em um dia de tempestade, com onda maiores. Desejava a fuga que o exercício lhe dava, assim, sua cabeça estaria muito cansada para absorver a verdade desoladora que cortava sua alma em pedaços.
Jamais voltaria a vê-la.
Uma onda grande capturou o barco e o levantou. Ele parou de remar e deixou que o levasse em frente, voando e cambaleando nessa parede de água. Ele deu uma olhada na casa.
Seu olhar parou e correu de volta a esquerda. Uma mancha de cor azul chamou sua atenção. Azul safira e não a cor do mar, as rochas cobriam embaixo de uma queda acentuada, pela trilha do penhasco.
A onda o levou para baixo e virou o barco. Remou para o sul pela costa com toda sua força, rezando para que a capa azul não cobrisse uma tragédia.
Pen entrecerrou os olhos para o brilho mar. Ela achou que era um barco que remava para o horizonte.
É obvio que não. Não fazia nenhum sentido. Uma pessoa sã não remava mar adentro.
A menos que a pessoa procurasse examinar toda a costa...
Esses homens esperaram até agora para ir procurá-la? Apesar do cansaço que tinha rasgado seu espírito, o velho terrível pânico começou novamente.
Olhou para trás para a parte da areia, que tinha procurado na noite anterior. Que foi submersa durante a maré alta.
Ontem a noite, se viu obrigada a subir nesta grande rocha, quando a maré ficou cheia. Ficou escuro então, mas agora não estava escuro e ela estava visível e vulnerável.
O mar quis reclamar seu lugar, mas aparentemente já não aumentaria. Pelo menos, a maré ficou baixa. Em poucas horas teria a praia para caminhar de volta à casa de campo, correndo o risco. O vento úmido e frio tinha molhado sua roupa e seu manto úmido não oferecia muito conforto. Tirou ele de qualquer maneira e tentou ignorar o frio que fazia bater seus dentes.
Procurou o barco novamente. Talvez, estivesse errada. Se não, não havia nada que pudesse fazer agora, para não ser detectada. Estava tão cansada e se sentia tão miserável que sequer estava certa, que já a importaria de ser encontrada.
De repente, o barco ficou à vista, muito claramente. Longo e escuro, movendo-se paralelo à costa, vindo em sua direção.
O pânico aumentou.
Um grito a chamava pelo seu nome.
Seu coração deu um pulo. Lágrimas de alívio nublaram sua visão.
Era Julián. Ele havia dito que voltaria de tarde e aqui estava nessa manhã, tinha vindo procurá-la.
— Julián, — virou para chamar.— Eu estou aqui, Julián me salve.
O barco se aproximou. Podia ver seus braços tensos puxando os remos, os cabelos negros flutuando no vento e seus fortes ombros resplandecentes de gotas de água. Pareceu tão magnífico que esqueceu de seu risco.
Remava direto para ela, depois largou o remo e permitiu que o mar lhe trouxesse navegando sobre as rochas submersas.
Chegou a três metros de dela. Se jogou na água, que ficou por cima de sua cintura, colocou o barco entre as duas rochas e caminhou para ela.
Estava seminu, parecendo ser um Deus do mar caminhando através de seus domínios. Os músculos dos ombros e do peito pareciam esculpidos, certamente muito bom para o papel.
— Como chegou até aqui?
— Tinha um homem e não me atrevi a voltar, escondi-me e depois, a maré subiu e fiquei presa.
Ele a levantou em seus braços, sem esforço. Braços fortes, lhe davam as boas-vindas e a reconfortaram.
— Explique mais tarde. Seu vestido está molhado e você está gelada. Temos que estar perto do fogo.
Nos poucos passos que ele deu, seu corpo foi se afrouxando tanto, que seu perigo e alívio minaram os restos de seu espírito. Colocou sua cabeça em seu ombro.
O calor de sua pele e a segurança de sua força quase a derreteram.
Fez uma pausa e a olhou, seu rosto apenas a centímetros do dele, tinha tanto uma expressão severa como de alívio.
Ele a colocou no barco como se fosse feita de porcelana e depois subiu empurrando de novo pelo mar. Se sentou frente a ele, tremendo em sua capa molhada, enquanto ele remava para a casa.
Ela admirava, o movimento de seus músculos nus por este esforço. Provavelmente, devia olhar para a água ou para o chão da embarcação, mas seus braços e o torso a tinham hipnotizado.
— Você veio me procurar, depois que não me encontrou na casa?
— Se estivesse feito, teria vestido uma camisa. Não era um repreensão, somente uma declaração que dizia que não estava procurando por ela.
— Eu gosto de remar como exercício. Quando estou em Londres, frequentemente faço no Tamisa pela manhã.
Ela estava muito cansada para sentir vergonha, mas conseguiu não olhá-lo tão descaradamente.
— Não achou estranho que não estivesse ali?
— Achei que tinha decidido abandonar a casa.
Que ela o pudesse ter deixado, não parecia lhe dar surpresa ou espanto para ele. Ele havia simplesmente voltado para as atividades, que normalmente fazia ali.
— Tenho muita sorte, por ter me visto e que tenha percebido que estava presa pela maré.
— Vi o azul de seu manto. Não sabia como tinha chegado ali.
Não soava, como se estivesse ficado muito preocupado. Saiu para remar, viu o azul de seu manto e foi investigar por curiosidade.
— Era minha esperança obviamente, de encontrá-la viva.
Um incômodo em sua voz, chamou sua atenção. Ela olhou em seus olhos e desviou sua atenção para os remos.
Se havia se preocupado de fato, foi da pior maneira. Remou por volta pensando que poderia encontrá-la morta, afogada no mar ou de uma queda. Talvez, não uma queda acidental.
— Eu jamais me feriria por causa dele, Julián.
Ele os levou às escadas de pedra, empurrou o barco na água rasa e o amarrou. Ajudou-a descer e ela cambaleou pela rigidez que sentia nas pernas e pelo cansaço que havia roubado suas forças. Seus braços a seguraram novamente. A levou pelas escadas à biblioteca.
Sentou-a em uma cadeira e se inclinou ao mesmo tempo, para acender o fogo.
— Ele morreu,— disse.— O fogo. Talvez, não tenha ficado aqui por toda a noite, depois de tudo.
— Quem?
Ela contou sobre o homem na casa.— Não me atrevia a voltar aqui, para não encontrá-lo me esperando.
Acendeu o fogo com um rugido agradável e depois, a aproximou para que se esquentasse perto dele. Se sentia tão bem que ficou sonolenta.
Escutava-o vagamente em seu estupor, enquanto se movia pela casa.
Uma mão em seu braço a tirou da névoa.
— Fiz um banho na cozinha perto do fogo. Uma tina quente. Você se sentirá melhor com isso.
Ela realmente não queria mexer-se. Roupa molhada ou não, sentia que chegava o alívio da dor profunda e implacável do frio.
— Veem, Pen. Estou preocupado com você saúde.
Ela suspirou.— Se você insisti, senhor Hampton.
Obrigou-se a levantar. E encontrou seu nariz a uma polegada de seu peito. Ele tinha vestido uma camisa. Que lástima.
Seu olhar foi para seu rosto. Um de seus raros sorrisos a saudou. Não era um completamente suave.
— Então, eu sou o senhor Hampton de novo. Parece que só sou Julián, quando esquece de si mesma.
— Eu sei que...
— Nos conhecemos mais da metade de nossas vidas Pen.
Ela não percebia que às vezes, lhe chamava de Julián.
— Não quero que me chame senhor Hampton, em uma conversa particular nunca mais.
Ele deu passo para o lado.— Desci algumas roupas secas para você. Estão perto da banheira. Se precisar de outra coisa qualquer, simplesmente me chame.
Julián colocou a tina de metal perto do fogo e a tinha cheio com água quente. O fogo imediatamente começou a filtrar o frio de fora dela.
Não podia ignorar o fato de que, um homem estava muito perto. Sabendo que estava ali, sentiu uma lânguida excitação travessa. Quando se inundou para enxaguar o cabelo, imaginou que ouvia seus passos se aproximando dela. Um alarme emocionante lhe atravessou.
— Não encontrei evidência de intrusos na casa.
Assustou-se ao ouvir sua voz e rapidamente, olhou por cima do ombro para a porta. Não estava ali. Ele devia estar no outro lado.
— Você está certo?— perguntou ela.
— Do mesmo modo, não há marcas de rodas ou de um cavalo ou as impressões de pegadas que não sejam as minhas.
— Não imaginei esse homem Julián.
— Não estou dizendo que você fez isso. No entanto, é comum que as pessoas que utilizem o caminho do escarpado e cruzem o terraço, ao invés de caminhar em volta da propriedade. Isso acontece inclusive, quando eu estou aqui.
— Então fiquei em perigo por nada mais que uma imaginação extrema.
Se viu alguém na casa, você teve uma boa cautela. Se o medo a manteve nas rochas toda a noite, deveria ter esperado que eu aparecesse.
Essa conversa que acontecia, enquanto tomava banho nua a somente dez metros dele, criava uma intimidade sedutora. Ela não deixava de olhar à porta, esperando ver que se movesse.
— Vou controlar meu medo no futuro Julián. Terei que aprender a fazer isso, não é?
— Acho que será mais fácil, eu ter certeza de que você não tenha medo Pen.
Ouviu um pequeno ruído. Fechou os olhos e esperou, que a mudança no ar lhe dissesse que ele estava na cozinha.
Não chegou ninguém. Ela olhou para trás. A porta permanecia firmemente fechada. Provavelmente se afastou, voltando de novo para a biblioteca.
É obvio que tinha feito.
Ela olhou seu corpo nu, avaliando o que um homem veria se entrasse enquanto se banhava.
Seus seios estavam cheios e firmes, sua estreita cintura era satisfatória para o estilo atual, apesar de ter ganhado um pouco de peso, jamais foi capaz de perdê-los.
No entanto, não havia nada especial nela. Nada surpreendente, fisicamente ou de outra maneira. Nunca foi o tipo de mulher, que fez os homens perderem a voz. A única coisa notável nela foi ter abandonado um conde recém-casada e que não era o tipo de coisa, que provocava admiração.
Ela terminou de lavar a si mesma, consciente de que o homem na sala ao lado, poderia ouvir tudo, mas com certeza não levava em conta. Havia se retirado, provavelmente naquele lugar privado onde seu cérebro vivia a maior parte do tempo. Desnecessário dizer que, o senhor Hampton ou Julián, tinha se perguntado alguma vez, de como seria sem roupa.
Passando o tempo, a água começou a esfriar-se e precisava sair. Ao pisar no chão, com o som da água e das toalhas esfregando sua pele, ruborizou-se do muito que desfrutava sua consciência, de que ele ouvia tudo, inclusive se ele não se importasse com ela. Foi o banho mais gostoso que havia tomado.
Pegou suas roupas. O vestido era um dos que se ajustavam ao corpo e agora ficava um pouco grande, por isso não ficaria muito ridículo. Vestiu a camisa, saia, meias e conseguiu prender o vestido. Em seguida, foi para a biblioteca.
Ele não estava ali. A sala estava vazia e começou a rir. Não só não havia escutado como também, não ficou sequer na casa.
Uma manta estava no sofá. Ela entendeu o gesto. Ele concluiu, que ela queria descansar.
Se reclinou e colocou a manta em volta dela. Ele ficaria até que ela despertasse, estava certa. Ela estava a salvo.
Ele ouviu cada movimento. Cada apresentação. Cada respiração.
Em sua cabeça, viu ela tirar a roupa, peça por peça, até que ficou nua com sua pele suave e de cor rosa. Imaginou a plenitude de seus seios e a forma de suas curvas elegantemente esticadas quando entrou na banheira.
De pé na biblioteca viu e ouviu tudo. O despertar de toda uma vida reclamava. Apertando os dentes, obrigou-se a ter certo controle, mas a vontade de entrar na cozinha esteve a ponto de ganhar o jogo.
Finalmente, para evitar que ela presenciasse esse furioso impulso, saiu da casa. Ele passeava ao longo do caminho, observando novamente a evidência de uma visita ontem a noite.
Não havia dúvida, que alguém esteve ali. Pen não era o tipo de mulher que o medo a faria imaginar uma coisa assim. Era óbvio que era uma pessoa da localidade, que usava o caminho do penhasco. Não usava transporte ou cavalo e não havia indícios, de que se aproximou da casa pelo caminho.
Ele voltou novamente pelo jardim. A janela da cozinha lhe acenou. A tentação de olhar seu corpo o tinha apertado novamente.
Ele riu de si mesmo. Ali estava ele, um homem adulto, estabelecido e respeitado, que queria jogar uma olhada em uma janela, em uma mulher nua, igual a um colegial.
Ele não se aproximou da janela, mas sua cabeça viu lá dentro da cozinha de todo jeito. Pen submersa em uma banheira, com seus ombros suaves, cabelos escuros e com os seios visíveis encantadoramente. O calor da água tinham transformado sua pele brilhante e vermelha, e os bicos de seus seios se endureciam com o ar fresco.
Tratou de lutar contra a imagem que provocava nele, mas não conseguiu. Durante anos lutou contra a fome que o provocava. Havia aprendido se retirar para controlá-lo. Suas vitórias foram privadas e sem sentido, sempre reconstruiu os muros de um jeito seguro em seu lugar.
Ele conseguiu se manter dono de sua vida. Agora, o perigo de Pen o fez vulnerável às reações mais primitivas e já não conseguia dominá-las.
Perto do muro do jardim, fechou os olhos com uma fúria selvagem, enlouquecida. O desejo de possuir e proteger se transformou em um impulso violento e sem sentido.
Ele sabia que jamais seria capaz de conter totalmente a paixão novamente.
O que significava que, no futuro, sua vida seria um inferno.
Ele estava lendo em uma poltrona perto da lareira, quando ela abriu os olhos. Usava calças e casaco secos. Parecia relaxado e confortável. E muito bonito. O fogo brincava em seu rosto, por isso, seus olhos pareciam mais profundos e escuros do que o normal. Os esculpidos planos de seu rosto, estava lindo com as luzes e as sombras nítidas sobre ele.
Julián. Estava contente por ele ter insistido, que deixassem as formalidades. Ela não lembrava a partir de quando tinham adotado.
Deixou o livro ao lado.— Sente-se melhor?
Ela se levantou e colocou a manta de lado. Olhou para as sombras da sala.
— Sim. Receio que dormi muito tempo. Parece que esta entardecendo e você deve iniciar a viagem de volta, se quer chegar antes do anoitecer.
— Não tenho intenção de voltar hoje.— Disse com tanta naturalidade, como se isso não implicasse em algo impróprio. Provavelmente, porque não era, pelo menos para ele.
— Acho que é melhor eu ficar aqui, até que decidas o que fazer e assim, poderei organizar o que precise,— disse.— Do contrário, essa noite você poderá escutar que homem voltou e correr até o mar tentando fugir.
— Não sou tão tola Julián.
— Não, você não é. Mas tem muito medo. Se eu ficar aqui, acredito que terá menos.
O que era verdade.
— Tem um quarto em cima dos estábulos. Vou usar esse.— disse ele.
Estava segura que seu bom julgamento, lhe falaria com mais claridade se não o visse ali, sentado tão insuportavelmente bonito. Em vez disso, parecia um pouco tolo manter as aparências dadas as circunstâncias. Eles estavam sozinhos aqui e onde ele dormisse, na verdade não faria nenhuma diferença no mundo que conhecia. Tampouco representava algum perigo para sua virtude.
— Não sou uma colegial ruborizada. Se for ficar, deve estar confortável também. Enquanto, a decisão a respeito de minha situação, pensei em tomar uma decisão amanhã.
— Bom, eu esperarei até que decida. Disse para meu secretário que dirigisse as coisas, em minha ausência e organizei que outro advogado, trate de qualquer assunto que não possa esperar.
Levantou-se e devolveu o livro para sua estante. Enquanto caminhava de volta, passou perto da mesa.
Seu olhar caiu sobre a superfície. Ele parou.
Estendeu a mão e endireitou o documento que estava na mesa.
— O que é isso?
— Um folheto. Estive usando o tempo aqui para trabalhar nele. Ele examinou a primeira página.
— Você está prevendo publicar uma declaração sobre as leis do casamento?
— É necessário que alguém iniciasse uma discussão a respeito.
Levantou o documento e o leu.
— Está bem escrito Pen.
Os olhos dela brilharam com o elogio.
— Não é só meu. Estive trabalhando nisso com algumas outras damas. A senhora Levaram e algumas outras, em uma situação similar à minha.
— Tem a voz, de Pen. O mesmo tom das cartas que enviava para mim. A mesma música. Tem a intenção de colocar seu nome nisso?
— Levarão mais a sério se o fizer. O nome da condessa lhe dará mais influência.
— Glasbury sabe algo disso?
— Não posso imaginar como poderia saber.
— Suspeito que o projeto é bastante bem conhecido em certos círculos de mulheres. Só precisa de uma pessoa para espalhar o rumor até que chegue em seus ouvidos.
— Está insinuando que, minha participação nesse ensaio pode ser a razão pela qual está se mexendo contra a mim?
— Levando em conta parte de sua linguagem, sim poderia ser a razão. Vamos a ver, como estava dizendo uma frase por aqui? Ah, sim, aqui está “Leis que permitam às mulheres se protegerem de estarem condenadas a uma vida de escravidão miserável, quando descobrem que seus maridos não são cavalheiros decentes, a não ser vis e violentos fetos do demônio”. Uma passagem muito impressionante Pen, muito poderosa.
— Não é como se na verdade o estivesse chamando em particular de vil e violento feto do demônio. Está muito claro, que estava falando em termos gerais.
— É o motivo pela qual está dando às mulheres para que sejam capazes de deixarem seus maridos. Você deixou seu marido. Por enquanto, supõe-se que era pelo seu jeito de ser. Portanto, está chamando-o de vil e de malvado.
Ela bateu na almofada do sofá com tristeza.— Bom, ele é vil e malvado. Não espere que eu modere minhas palavras Julián. As mulheres são escravas no casamento e isso deve mudar.
Ele deu um olhar novamente para os papéis, mas estava claro que não terminaria de lê-los.
— Suas experiências endureceram seu ponto de vista. Não são todas as mulheres escravas. As mulheres de seus irmãos parecem muito felizes.
Esta foi uma das razões pela qual, nunca contou a seus irmãos a respeito desse projeto. Nunca poderiam entender.
— Se uma mulher casada não é como uma escrava em um casamento, é só porque seu proprietário é gentil. Seu estado está totalmente sujeito ao capricho de seu marido. Esse folheto será publicado, querido amigo. Aconteça o que acontecer com Glasbury, esse ponto não será negociável.
Sem mais comentários ele se virou para deixar o documento sobre a mesa. Enquanto fazia, outra folha que havia estava debaixo dessa chamou sua atenção.
Ela gemeu por dentro. Era sua lista de nomes, para sua relação de conveniência.
Ele a olhou.— Parece que você não cuidou só de levantar as armas, para libertar as mulheres casadas da servidão.
— Sobre a possibilidade, de ficar na Inglaterra penso em planejar uma festa.
Ela não sabia por que tinha mentido, mas algo nos olhos dele provocou o impulso.
— Uma festa muito interessante. Somente convidados varões.
Isso era realmente muito embaraçoso.— Se você quer saber, eu estava considerando a opção de uma aventura. Pensei que deveria considerar se tal coisa era possível ou sequer se vale a pena contemplá-lo a sério.
— Então, esta é uma lista de candidatos prováveis.
Ele levou o papel perto do fogo, onde tinha mais luz para ler.
— Colin Burchard se sentirá honrado em saber que é um candidato.
— Na verdade, eu realmente não acho que ele seria conveniente.
Olhou o papel de novo.— Ewan McLean? -
— Bom, na verdade.
— Ewan McLean?
— Só foi uma...
— Nápoles deve ter sido mais agradável para você colocar McLean na lista.
— Não sei por que tanta desaprovação. Disse que era uma ideia digna de consideração.
— Eu disse que a ideia era algo que valeria a pena considerar, não que fosse com Ewan McLean. Em primeiro lugar, eu não lhe permitirei a isso Pen. Ele definitivamente não é para você.
— Acho que sou eu quem deve decidir, quem é para mim e quem não.
— Ao inferno com isso.
Não tinha ideia do que isso significava, mas sua atitude e o tom de sua voz a irritou.
— É muito difícil escrever fazer lista. Principalmente, porque não será mais que um assunto de conveniência. Eu não quero as complicações de um homem me professando um grande amor ou, que Deus não queira, com vontade de casar-se depois do meu divórcio.
— Parece que planejou tudo, até no mínimo detalhe.
— Essa parte, sim. Se eu me livrar com este jogo, não tenho a intenção de me transformar em um móvel novamente. Seria uma idiota para me casar de novo. E quanto a essa lista, é surpreendente como poucos nomes pude juntar, sem submetê-los a prova primeiro.
— Submetê-los a prova?
Era quase um grito o que proferiu Julián. Fez com que ela mantivesse os ombros no encosto do sofá.
— Bom, não realmente, literalmente “prová-los.”
— Talvez, deveria colocar um anúncio nos jornais. Podes colocá-lo em cima das fotos dos animais. Solicitando um garanhão ou algo um pouco parecido.
Agora, ele estava fora da casinha e além disso, estava sendo muito grosseiro.
— Que esplêndida ideia,— respondeu ela— Mas porque sair com metáforas? A abordagem direta é sempre melhor. Pode ouvir isso? Precisa-se de um cavalheiro, para um assunto de conveniência temporário. Com boas referências de suas amantes anteriores. Deve estar disposto a ser nomeado em um processo de divórcio. Deve ser apresentável, com experiência e ter um belo traseiro.
Seu olhar, disse-lhe que não achava nem um pouco engraçado.
— Não entendo porque está reagindo desta maneira Julián. Você concordou que este assunto era uma solução simples. Ontem soava uma solução muito promissora.
Ele leu a lista uma vez mais com aparência irritada.
— Percebo que meu nome não está aqui.
— É um homem honrado, é obvio, e…
— Você se preocupa com minha reputação? Que generoso de sua parte. Caminhou para ela. Sua expressão escura a deixou sem respiração.
— Entretanto, já que sou o único homem que, mostrou a vontade de arriscar-se sem ter medo do risco, parece-me uma estranha razão para me omitir.
Estava agora na frente dela.
— Na verdade, demonstrei que estou disposto a arriscar tudo, inclusive sem obter o prêmio do prazer. Se você decidiu conceder seus favores, acho que deveria pelo menos estar na competição, mesmo que seja apenas por cortesia e nada mais.
Ele olhou para baixo. Ela não podia falar.
Eu também sou o único homem, que entende totalmente o que pede e o porquê Pen. O único que sabe por que é necessário este assunto de conveniência e o que isso não significa.
Não era o velho amigo Julián quem a olhava, com esses olhos cheios de fúria, nem era o senhor Hampton seu fiel conselheiro. Era um homem diferente, que estava a poucos centímetros dela, obscuramente aborrecido, projetando uma aura que roubava seu ar e fazia acelerar o coração.
Ele colocou a mão em seu rosto. Ela o olhou em silêncio com assombro. Esse toque a fazia se sentir muito bem. Masculino, quente e seguro.
— Talvez, não me incluiu porque não achou que poderia me desembrulhar bastante bem. Afinal, nunca me submeteu a provas desse tipo.
Sua mão lhe ordenou a manter a cabeça firme. Uma antecipação sensual corria através dela.
A cabeça dele desceu e pressionou sua boca.
Não foi um beijo longo, mas a surpreendeu. Ela respondeu como se uma brisa sexual tivesse entrado dentro dela. O beijo foi o suficientemente firme e o tempo suficiente para deixar claro, que não era um beijo de amizade, tampouco um pedido.
Ele parou e se endireitou. Seu olhar lhe afetou mais que o beijo. Sequer podia piscar.
Em seguida, ele foi caminhando com calma até a porta do terraço como um homem que, de repente, percebe que tem outros assuntos para resolver.
CONTINUA
Julian Hampton é o quinto membro da série londrina, o enigmático e reservado advogado da família Laclere. Durante toda sua vida esteve apaixonado por Penelope, agora Condessa de Glasbury. E, quando soube dos horrores que ela havia suportado nas mãos de seu cruel marido, Julian foi o incentivador de sua fuga para Itália. Mas jamais se esqueceu do amor de sua infância, da menina que resgatou anos atrás quando era somente uma criança e que floresceu, transformando-se em uma bela mulher. Quando Penélope retorna em segredo para Londres, é a Julian que ela recorre... Entretanto, sua confiança nele colocará tanto suas reputações, como suas vidas em perigo.
Penelope, Pen, Condessa de Glasbury passou os últimos anos de sua vida, fugindo de seu depravado marido. Incapaz de conseguir o divórcio, não só porque seria repudiada pela sociedade, mas sim porque seu marido se nega a conceder finalmente decidiu fugir da Inglaterra. Mas agora tem que retornar ao seu lar, esperando a ajuda de sua amada família e do homem que sempre esteve a seu lado, quando precisou dele.
Julian Hampton, o solícito advogado de muitas das famílias ricas de Londres, não está interessado em nenhuma das jovens casadouras da sociedade. É que o frio e reservado Julian tem um segredo que ninguém conhece: passou a maior parte de sua vida adulta apaixonado pela única mulher, que está convencido que jamais poderá ter, uma mulher que roubou seu coração quando era somente um rapaz, uma mulher a quem esteve escrevendo cartas e poemas de amor que nunca enviou...
Portanto, não é surpreendente que Julian fique atordoado quando essa mulher aparece na soleira de sua casa pedindo sua ajuda... Outra vez.
Tempos atrás, Pen procurou-o para ajudá-la a libertar-se de seu casamento não desejado. Casada muito jovem com o Conde de Glasbury, por ordem de sua mãe, a vida de Pen muito rapidamente se transformou em um autêntico pesadelo. As berrantes tendências sexuais de seu marido foram desviando-se de suas escravas sexuais para sua jovem esposa e, depois de algum tempo de constantes humilhações, Pen recorreu a Julian em busca de ajuda. Este chantageou sutilmente o Conde para que aceitasse a separação de fato; em troca, Pen poderia estabelecer-se em outro país levando uma vida discreta que não manchasse o nome e a reputação de seu marido.
Entretanto, nas últimas semanas o Conde fez contato com Pen, que até nesse momento viveu em Nápoles, para lhe reclamar seu ansiado herdeiro. As cartas do Conde se tornaram cada vez mais ameaçadoras; a jovem teme por sua vida. Ela não está disposta a voltar e submeter-se às humilhações e abusos de seu marido, mas tem medo de envolver nesse assunto seus irmãos, e que aconteça um derramamento de sangue... Assim decide pedir, outra vez, a Julian para que a ajude a fugir para América.
Julian aceita, como sempre fez, e novamente mascara seus verdadeiros sentimentos, sob uma atitude de frieza. Agora se encontra em uma autêntica encruzilhada, se a ajuda a fugir ao novo continente nunca voltará a ver o amor de sua vida, e isso é o que mais teme neste mundo. Por outro lado, as leis inglesas são muito restritas quanto às causas do divórcio. O adultério nos homens sempre foi permitido... Mas com as mulheres é diferente. Se uma mulher casada comete adultério, o marido pode divorciar-se dela. Com esta premissa, Julian decide tentar convencer o Conde para que se divorcie de Pen... E iniciar uma farsa pública como amantes para que essa possa divorciar-se. Entretanto, um assassinato em estranhas circunstâncias, colocará Pen e Julian no centro das atenções ameaçando suas próprias vidas…
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CAPÍTULO 01
Para um homem solteiro, não havia uma pessoa no mundo mais perigosa que uma mulher felizmente casada.
Para essas mulheres, um homem sem compromisso, de posição e com propriedades era uma pedra em bruta que sai das paredes da vida.
A sorte de sua própria união, dá-lhes a certeza de que essa pedra bruta deseja ser suavizada.
A mulher casada felizmente, está certa que essa pedra será muito mais feliz se estiver cuidadosamente esculpida em um morteiro como seu marido.
Foi assim, que Julián Hampton encontrou a si mesmo sentado ao lado da faladora viúva Senhora Morrison, quando participava do banquete da Viscondessa Laclere.
Ele não percebeu a forma especial, que a Viscondessa continuava progredindo em sua conversa, mas tampouco perdeu o fio da mesma.
— Sua ocupação deve ser fascinante Sr. Hampton,— disse a bela viúva, quando terminou a descrição muito detalhada de suas férias de verão em Brighton.
— Ser advogado é uma profissão muito aborrecida, na verdade. — Na verdade não era, mas o mundo de lady Morrison nunca entenderia o porquê.
Ela riu e seus olhos brilharam. Virou-se e foi visível totalmente o rosto brilhante.
— Não posso acreditar, que qualquer coisa que se trate de você seja aborrecido, Sr. Hampton.
— Garanto que sou um homem completamente irrelevante. Aborreço tanto a mim mesmo, que apenas consigo permanecer acordado.
— Bem, você não se aborrecendo de mim— disse ela com um sorriso significativo.
Ele se perguntou, sobre as razões que a viscondessa teria ao colocar em seu caminho a esta jovem de cabelos dourados de pouca inteligência, de caráter submisso e loquacidade chata. Já que ele não tinha perseguido às mulheres mais atraentes apresentadas até o momento, a Viscondessa e seus amigos provavelmente acham que não se interessaria por uma companhia interessante em sua casa.
Já que a senhora Laclere abriu seu círculo, para uma mulher que provavelmente não gostava de muito e só para o benefício dele, obedientemente submeteu à senhora Morrison a sua séria consideração.
Ela era atraente mais que suficiente e suspeitava que fosse agradável tê-la na cama. Tinha uma fortuna respeitável e belos seios, revelados em parte pelo seu decote. Suas formas indicavam que era o tipo de mulher que à maioria dos homens os gostaria. Ela era a imagem da esposa perfeita, para um homem que procurasse assegurar a tranquilidade doméstica.
Infelizmente, ele não era esse homem.
Fez a ela, uma pergunta sobre seu filho e ela abordou o assunto com o entusiasmo, que toda boa mãe devia mostrar. Embora, a maior parte de sua cabeça escutasse os contos das travessuras do menino, em um canto renegado de sua mente escrevia uma carta à viscondessa Laclere.
Minha querida Senhora Laclere,
Estou muito agradecido pela preocupação que mostra por minha futura felicidade. O desfile de mulheres qualificadas que você escolheu para que eu inspecionar durante os últimos meses foi impressionante em sua variedade. Fiquei comovido, mais comovido profundamente, por sua amabilidade. Eu infelizmente devo informá-la, entretanto, que sua busca é em vão, como é o da duquesa de Everdon e os esforços mais sutis da senhora de St. John. Eu não me casarei. Portanto, respeitosamente lhe peço ser liberado do jugo social que vocês colocaram para mim.
Seu servidor.
A senhora Pérez era a esposa de Raúl Pérez, um diplomático do jovem país da Venezuela, quem vivia em Londres para promover os interesses econômicos de seu país. Eles estavam presentes no banquete, já que estava sendo organizada pelo visconde Laclere, para celebrar a recente aprovação da lei que aboliu a escravidão do Império Britânico, um evento de simbolismo transcendental para todos os povos das Américas.
Julián tentou ignorar o fato, de que esta mulher casada tinha dado a entender de forma íntima, que encontrava as pedras brutas das paredes muito atraentes e desafiantes.
Desejou esquecer esse comentário, mas logo chegou o momento de prestar atenção a outra mulher, quando a conversa mudou para a direita.
— Seu inglês é excepcional, levando em consideração que recentemente se casou com seu marido aqui em Londres,— disse a dama da direita.
— Estive estudando o idioma e seus costumes por anos. Disse a Raúl que não viria até que, eu pudesse fazer com que se sentisse orgulhoso, e não parecer uma roda solta camponesa nas festas deste tipo.
— Você obteve admiravelmente.
Enquanto ela explicava seus estudos, esse canto rebelde de sua mente divagava. Viu as cores brilhantes e contraste nítidos de sua terra em sua cabeça. Águas cristalinas que se estendiam ao longo das praias. Barcos piratas que se balançavam na superfície do mar, assim como homens atrevidos em terra levando seus espólios, e a pele marrom das mulheres, vestidas de vermelho, laranja e azul. Observava as discussões masculinas, por um pouco de ouro, pesadas espadas de metal enfrentando umas as outras, via as tempestades e como o sopro do mar batia no navio com fúria sublime e...
— Você não é um homem muito dado às relações sociais, não é verdade senhor Hampton?
Sua voz gutural tinha uma tintura espanhol e as nuances de outras culturas mais primitivas. Seus olhos escuros brilhavam de humor e sua pele, era da cor das amêndoas sem casca, parecia muito exótica com seu vestido de noite tão britânico.
— Lamento não ter sido abençoado com facilidade natural nesse tipo de situação que muitos outros desfrutam.
— Isso não é certo. Eu estive o observando no salão, não é falta de vontade. Simplesmente você não se preocupa com isso, não duvido que você saiba que sua reserva é sempre mal-entendida, mas você não se importa com isso de todas as formas.
— É mal interpretado? Gostaria de acreditar que não fosse perceptível em absoluto.— Disse ele.
— Os homens acham que você é orgulhoso, o mesmo que aborrecido como você diz.
— Talvez tenha razão em ambos os casos.
— As mulheres, em dúvida também, se perguntam o que passa nessa cabeça, e o que se esconde debaixo dessa armadura de indiferença, e o que pensa enquanto observa o jogo da nossa comédia humana na fase desta vida.
Ela emanava uma sensualidade que nada podia passar por alto, sem se importar com sua armadura. Usava sua própria falta de reserva como uma bandeira, como uma forma de sua cultura mais expressiva.
— É apenas isso que você deseja saber, senhora?
— Sim.
— Agradaria se confirmasse tudo isso? Revelando a verdade? Admitir as observações que surgem com meu silencio?
— Ficaria encantada de saber.
Ele inclinou a cabeça com cumplicidade.— Eu acredito que...
— Sim? – Se animou ela.
— Acredito que vou deixar para um o próximo jantar.
Ela colocou seus olhos negros nele.
— Considero um grande triunfo, que você tenha se dignado a zombar de mim. Eu compreendo muito bem os homens igual a você. Sua reserva é mais parecida com a de meu povo, do que você imagina. O silêncio queima por dentro. Embora acredite que com o tempo, você poderá manifestar o que pensa, com as palavras certas. Claro, que com o devido estímulo.
Ela estava mostrando de que estímulo se tratava. Sua perna pressionava a dele debaixo da mesa. Julián tomou um gole de vinho e olhou fixamente para as velas chamejantes de Lady Laclere.
Minha querida Viscondessa…
Sua hospitalidade no banquete me afligiu. Raramente um homem deixa sua casa a noite e encontra a si mesmo, durante horas sentado entre uma potencial esposa de considerável riqueza, beleza e comportamento doce e também, com uma potencial amante de indubitável sensualidade de outro lado. As oportunidades oferecidas foram verdadeiramente generosas.
Infelizmente, uma vida de tédio me esperara com a primeira e um marido zangado exigindo a satisfação com a outra. Portanto, acho melhor me retirar de qualquer perseguição e com alguma dor, devo rejeitar ambos os presentes.
Meus sinceros agradecimentos pela honra do convite, etc etc.
Julián Hampton
Naquela noite, de volta a sua casa em Russel Square, Julián se sentou em sua mesa de trabalho e escreveu outra carta. Dessa vez, utilizou pluma e tinta.
Os acontecimentos daquela noite, fizeram com que as palavras fluíssem em uma corrente de arranhões. Era uma corrida para aliviar a agitação do seu espírito que precisava se libertar, antes que provocasse nele amargura e resentimento.
Meu incomparável amor,
Sete meses passaram, e temo que você nunca volte. Espero suas breves e incomuns cartas, como um menino, desesperado por qualquer pequena indicação que se lembre de que eu existo, esperando provas de que está cansada de viver, nessa terra estrangeira onde vive agora. Tenho lido suas cartas cem vezes, procurando o menor indício de que voltará para casa. Uma parte de minha cabeça, não faz mais que esperar diariamente, e logo não ficará nada dela que me sirva para atender meus deveres diários.
Uma palavra meu amor, é tudo o que procuro. Uma palavra que me permita conhecer que não estará longe para sempre e que pelo menos terei sua presença e amizade em minha vida, mesmo se jamais poderei ter sua paixão e seu amor.
A última frase ele escreveu mais lentamente. Era essencial escrever sua confissão. Tinha jurado a si mesmo, na metade de sua vida atrás, que não faria ilusões com esta mulher.
Não se incomodou em assinar. Mais calmo agora, por estranho que parecesse, ele olhou para a carta por um longo momento, depois cuidadosamente a dobrou.
Ao abrir a gaveta da mesa, olhou para a grossa pilha de papéis dobrados de maneira similar. Algumas cartas eram assim, escritas em suas inquietações melancólicas ou em suas fúrias explosivas. Outras tinham poemas ou histórias nas quais o amor florescia em mundos muito mais gentis, onde os sentimentos eram mais profundos que nesse prático e pouco romântico costume da Grã Bretanha.
As que estavam no fundo, eram as mais antigas, já mostravam mudanças na cor da tinta como um marco de sua idade.
Havia passado um longo tempo da última vez, que tinha acrescentado qualquer coisa na gaveta. Por que nessa noite? Por que nesse estado de ânimo se apoderou dele lavando-o às seguintes horas de escuridão?
Talvez por causa das duas mulheres. Normalmente, não se importava de negar o que cada uma oferecia, mas nessa noite, à medida que a noite avançava, se importava muito. O incomodava como um inferno, fazer aquele papel de amante obcecado, pois era um papel que já não podia realizar. Durante anos, achou que poderia ser, mas finalmente, sua desonestidade ao fingir que não esperava retribuição e seu afeto havia o desagradado.
Então, provavelmente teve a ver com as mulheres. Cada uma o tentava a sua maneira. Era muito tentador, no caso da senhora Pérez. Ele havia passado a noite, em um leve estado de excitação, mais o agravante e que, só tinha alimentado a tormenta que crescia dentro dele.
Amanhã se ocuparia dessa parte da tempestade com um trabalhe eficaz e do caminho sem volta, com alguma mulher profissional que não procurasse amor ou revelações.
Olhou para a carta que estava entre seus dedos. Uma decisão fria se apoderou dele. A queimaria? Também as outras. Destruiria tudo, casaria com lady Morrison, teria uma aventura com a senhora Pérez e viveria uma vida normal. Ele estava muito velho para ficar escrevendo cartas e poemas que jamais seriam enviadas.
Olhou a pilha de papéis e depois às chamas na lareira.
— Senhor!
Julián apenas ouviu a saudação e quase não sentiu o empurrão em sua porta.
Saiu de um sonho, onde estava fazendo coisas escandalosas a doce viúva lady Morrison.
Entretanto, em seu sonho ela continuava falando através dele, assim não estava com pesar que o tivessem interrompido suas fantasias.
— Senhor, lamento ter que despertá-lo, mas ela não irá...— O rosto de seu valete se abatia sobre sua cabeça, tristemente angustiado, como se fosse um fantasma sob o brilho de abajur de noite.
— Batkin, de que demônios está falando?
— Eu só escutei as batidas na porta, porque meu quarto dá para a rua e minha janela estava aberta, e como não durmo bem. Lá estava, aquele som. Sequer era forte. Bem, eu expiei com a cabeça e lá estava essa pessoa na porta, então desci e vi que era uma mulher, uma senhora, e agora está aqui dentro e não deseja ir embora.
Julián se sentou e seu ajudante de quarto ficou em plena vista. Apesar de ser tirado de sua cama, Batkin parecia apresentável e perfeito, mas se um valete não podia estar apresentável rapidamente, quem poderia?
— Qual é seu nome?
— Não quis dizer. Só insiste que ela deve falar com você imediatamente.
— Ela tem algum sotaque? Não acreditava que lady Pérez pudesse vir aqui na escuridão da noite, com sua pequena coragem, mas nunca sabe. Levando em conta, que seu corpo estava levando um tempo para recuperar-se de seu sonho, um lado escuro seu, esperava que ela tivesse se atrevido a fazer algo tão ousado.
— Não, sua voz é de uma senhora Inglesa. Seu chapéu tem um véu que esconde seu rosto, assim estou em desvantagem para descrevê-lo. Ela alega que é uma de suas clientes.
Julián virou seu corpo e se sentou na beira da cama. Duvidava que qualquer de seus clientes tivesse negócios tão importantes, que não poderiam esperar até amanhã, mas nesta situação não tinha mais escolha que reunir-se com ela.
— A envie para a biblioteca. Vou me vestir e estarei lá embaixo.
Meia hora mais tarde, desceu para a biblioteca um pouco irritado e intrigado pelo mistério dessa invasão.
A dama em questão, estava sentada no sofá frente à lareira, com apenas seu chapéu visível quando ele entrou. Só podia ver a coroa do chapéu verde com penugens de plumas azuis e a aba onde estava pendurado o véu.
Mas ele sabia quem era.
As preocupações da noite anterior voltaram, só que agora como uma gloriosa profusão de euforia.
A condessa de Glasbury tinha retornado para a Inglaterra. Penélope voltou para casa.
Emoções contrastantes assaltavam a Penélope, enquanto estava sentada na biblioteca.
Fortes reações fortes a invadiram, sentia-se tão bem, que parecia que sua alma exalava um profundo suspiro – era de alivio e segurança. Ela chegou ao porto depois de uma perigosa viagem pelo mar.
Debaixo dessa paz, no entanto, se escondia uma dificuldade diferente, uma preocupação crescente que o Sr. Hampton pudesse ficar aborrecido por sua presença em sua casa.
Penélope não podia ignorar que havia invadido a casa de um homem solteiro na escuridão da noite. Era escandaloso. Mesmo senhor Hampton sendo seu confidente e conselheiro, continuava sendo um homem solteiro.
Nunca viu onde morava antes. Havia se mudado para esta casa grande fazia cinco anos, mas ele não convidava ninguém e ela nunca entrou tampouco, da mesma forma que ela nunca viu a casa onde vivia, antes de comprar essa bela casa.
Nessa noite, tudo parecia há ela muito estranho. Afinal, ela o tinha conhecido desde quando eram crianças. Ele era um bom amigo de seus irmãos e advogado da família, muitas vezes se viram nas festas familiares. Sem dúvida, sua vida particular continuava sendo um mistério, tal como era em muitos outros aspectos, ele era um enigma.
Uma grande aquarela na parede à esquerda, chamou sua atenção. Apesar da luz fraca, reconheceu como obra de Turner. Era uma aquarela, suas românticas pinceladas se perdiam no mais amorfo de seus óleos.
Não era o tipo de pintura, que pudesse esperar que o Sr. Hampton gostaria de ter. Sua clara reserva implicava que, preferiria algo mais claro e trabalhos mais clássicos. Entretanto, ela sempre sentiu que havia outras coisas mais escondidas nele, e essa aquarela aparentemente confirmava.
Ela sempre suspeitou que com Julián Hampton, as águas não só corriam profundamente, mas também possuíam correntes invisíveis.
A atração potencialmente perigosa, por volta dessas profundidades à fez sentir-se sempre um pouco incomoda com ele.
Encontrou outros pequenos toques que a fascinaram. Algumas almofadas Turcas e um grande vaso pintado, que parecia Chinês. Teria escolhido o Sr. Hampton essas coisas ele mesmo? Ou seus amigos Adrian Burchard e Daniel St. John, que viajaram para essas terras exóticas e teriam trazido para ele como presentes?
A biblioteca a tinha distraído tanto, que se surpreendeu ao perceber que já não estava sozinha. Ela sentia uma presença vital, como se um poder invisível começasse a afetar o ar.
Seu espírito reagiu da forma mais estranha, como fez há anos com esse conselheiro e amigo. Uma calma indescritível passou através dela, mas outras emoções cravavam em seus instintos também. Felicidade. Medo. Melancolia. Também havia essa coisa inquietante que não tinha nome, mas que a deixava vagamente sem fôlego e em desvantagem. Ela virou seu corpo no sofá para olhar para a porta. Ele estava ali, alto, moreno e forte, vestido como se acabasse de retornar de um jantar, embora suspeitasse que o tivesse despertado de seu sono.
Havia passado muito tempo, desde que observou especificamente de como era bonito, mas o fez novamente nessa noite. Talvez, porque ela não o tinha visto pela metade do ano. Seu cabelo escuro, seus olhos ardentes e suas características nítidas criavam uma imagem muito romântica. Sua querida amiga Diane St Jonh havia dito uma vez, que ele parecia como se fosse falar de poesia, se é que alguma vez se dignasse a falar. Sua expressão era de curiosidade e expectativa. Percebeu que o véu continuava escondendo sua identidade. Equilibrou seu quadril na almofada do respaldo do sofá e dobrou o véu do rosto.
— Condessa.
A saudação não tinha nenhum tintura de surpresa. Ele reconheceu sua presença e deu boas vindas como se eles tivessem planejado essa reunião previamente.
Ele se adiantou. Ainda retorcida no sofá, meia ajoelhada, ela estendeu sua mão. Ele se inclinou para beijá-la.
Ela podia sentir seus lábios quentes através de sua luva. Pequenas ondas de prazer dançaram acima de seu braço.
— Peço desculpas por aparecer a essa hora, Sr. Hampton. Sei que fiz algo imprudente, mas os acontecimentos não me deixaram outra opção e eu não sabia para onde ir, ou a quem consultar. Ele não era um homem que sorria com facilidade, mas fez agora. Era um sorriso bonito, mais que deslumbrante era moderado e muito masculino.
Era um milagre que não usasse com mais mulheres, considerando a agitação juvenil que inspirou nela.
— Ficaria ofendido se você tivesse considerado ir a outro lugar. Fez um pequeno gesto com seu dedo sugerindo que se endireitasse no sofá. Enquanto ela fazia, caminhou em volta e se sentou confortavelmente em uma cadeira acolchoada de cor de vinho, formando um ângulo de frente a ela.
Esses olhos penetrantes lentamente se fixaram nela.
— Solicitei um chá, mas você parece tão angustiada, que me pergunto se deveria tomar algo mais forte.
— Um líquido mais forte que o chá, seria bem-vindo algumas horas atrás, mas agora já não é mais necessário, disse.
O intenso olhar que recebeu a cravava incomodamente. Ela se perguntava, que conclusões estaria tirando com sua inspeção. Talvez, que ela revelasse sua idade? Que já não mais bonita? Ele não a tinha visto por meio ano e sem dúvida, ele estava percebendo essas mudanças que aconteceram.
— Não sabia que tinha retornado a Inglaterra. — Sua voz tinha um timbre maravilhoso. Sempre teve.
Inclusive, quando era uma garota sempre amou escutá-lo.
— Laclere não me disse nada.
— Meu irmão não sabe que estou aqui. Ninguém de minha família sabe. Eu estou sozinha há poucos dias aqui e estive hospedada no Hotel Mivert'S. Pensei que poderia me esconder ali, enquanto planejava o que fazer, mas estava errada. Estou bastante certa, que fui reconhecida hoje apesar do véu. Essa é a razão pela qual vim vê-lo nessa noite. Uma vez, que seja de conhecimento que retornei a Inglaterra, tenho medo que minha situação se torne perigosa. Ela escutava sua própria voz, não tão tranquila como a dele.
Ele baixou as pálpebras, de uma maneira que ela já conhecia. A cabeça que a tinha protegido melhor que uma espada, estava afiando-se para assumir este desafio.
— Já que você arriscou nossa reputação e sua própria independência me visitando como fez, eu presumo que você tem uma grande necessidade de ajuda milady. Diga o que é que está acontecendo.
Medo e frustração se ramificavam por dentro dela. Assim também como a culpa, pois ela precisava tanto de ajuda, que tinha arriscado de verdade a reputação dele, por sua própria necessidade.
— Glasbury está tentando de me sequestrar, depois de todos esses anos, ele deseja que eu volte e está exigindo que eu lhe dê seu herdeiro.
CAPÍTULO 02
O criado chegou com o chá. Penélope se sentia abatida por estar causando tal inconveniente ao pobre homem, que teve que descer para cumprir tais deveres.
Depois de estarem servidos, o Sr. Hampton o dispensou.
Na qual significava, que eles poderiam falar livremente e sem ser ouvidos ou interrompidos. Estavam sozinhos. De novo o desconforto pressionava por dentro. Era uma tolice.
Como um de seus clientes, ela teve muitas conversas em particular com o Sr. Hampton. Entretanto, esta intimidade era sutilmente diferente. A sala e o estado de espírito geravam uma intimidade que a atraiam e a confundiam. Ela não se sentia completamente como uma cliente procurando um conselho, mas sim como uma mulher ousada que visitava um homem na noite.
A consciência de sua situação, era um fogo que queimava particularmente por dentro.
Nada na atitude dele fomentava essa sensação. Esse não era um homem que mostrava suas opiniões em seu rosto. Se ele estava tão consciente, como ela de como isto era impróprio, nunca a permitiria saber.
— O conde escreveu para Nápoles, enquanto estive lá com meu irmão e Bianca, — disse ela — Possivelmente Vergil contou para você.
— Só de passagem. Ele não disse às razões que você teve para ficar lá, depois que ele e lady Laclere voltaram.
— Que motivos lhe deu?
— Ele disse que você encontrou lá, uma sociedade mais amigável para uma mulher em suas circunstâncias.
Ela sentiu que se ruborizava.
Essa era uma forma gentil de dizer. Ela suspeitava que seu irmão Vergil, visconde Laclere, aludiu os homens que a rondavam em Nápoles, lhe oferecendo diversão e adulações.
— Foi mais do seu agrado?— Ele fez a pergunta casualmente, mas seu olhar se encontrou com o dela diretamente.
— Sim.
— Então por que retornou?
— Eu comecei a acreditar que o conde enviou homens atrás de mim. Senti que estava sendo seguida. Pensei que não era seguro permanecer ali.
Ele absorveu isso pensativamente. — O que havia nas cartas que escreveu para você?
— As duas primeiras chegaram ao inicio da minha visita. Eram as típicas notas desagradáveis, com suas ameaças de cortar o apoio financeiro, se eu fizesse algo que pudesse desprestigiar seu nome.
— E as outras?
Só uma mais chegou, justo antes de voltarmos para casa. Essa era diferente. Ele exigia minha volta ao casamento. Dizia que a lei estava do seu lado e que ele poderia forçar meu retorno, se eu não entendesse as razões.
Dizia que queria o herdeiro que eu estou devendo. — Essas palavras saíram precipitadamente, cada uma era tão repulsiva como o homem que as escreveu.
O Sr. Hampton se inclinou para frente, seus antebraços descansavam em seus joelhos e seu corpo inclinado em um ângulo para ela. Por um momento, ela pensou que ele abraçá-la ou tocar em um gesto para tranquilizá-la.
Ele fez isso uma vez antes, em outra reunião particular, quando ela estava tão angustiada que tinha perdido a compostura.
Para sua surpresa ele se aproximou. Não tocou seu braço, entretanto. Mas sua mão cobriu a dela onde descansava no joelho com um punho.
Deu-lhe um apertão tranquilizador, antes de quebrar o contato. O corpo dela reagiu como se não pudesse deixá-lo ir. A quente pressão de sua palma e do aperto firme daqueles dedos continuavam ali, invisíveis.
— Eu gostaria que tivesse me escrito contando tudo isso.
— Você disse que ele nunca se atreveria a fazer tal coisa, — disse ela com um pouco de ressentimento. — Você disse que ele tinha muito a perder.
— E é assim. — respondeu ele.
É muito óbvio, que ele está considerando que era um blefe o que disse de expor publicamente tudo o que eu sei.
— Não era um blefe e ele sabe.
— Então, ele está tão desesperado para ter um herdeiro, que está disposto a submeter-se ao desprezo e ao escândalo?
A inquietação das últimas semanas voltaram. Ela se levantou e se afastou das janelas. — Assim que cheguei a Nápoles, pensei que poderia estar mais segura ali. Então, faz um mês comecei a sentir que estava sendo vigiada. Seguida. Eu vi um homem, napolitano ou árabe, sempre nas sombras quando saía.
— Poderia ter se confundido? Eu duvido que mesmo o conde, seja tão ousado para tentar sequestrá-la.
— Você me disse há alguns anos, quando fizemos nossos planos, que era juridicamente impossível que um marido fosse acusado de sequestrar sua esposa, pelo fato de ele ter direito sobre ela.
Ele havia dito muito mais do que isso, mas o restante parou no ar e não falaram. Havia explicado que era também, legalmente impossível que um marido fosse acusado de violar sua mulher...
— Possivelmente tenha errado, mas já não existia paz lá. Não podia permanecer ali mais tempo, depois disso. Reservei uma passagem e voltei para casa.
Instintivamente, ela afastou as cortinas e desceu seu olhar para a rua. Tornou-se um hábito, uma precaução de presa. A rua estava silenciosa e vazia.
— Está você pensando voltar para ele?
Ela se virou, surpresa pela pergunta.
— Nunca! Eu não voltarei por essa razão. Na verdade, esse é somente um intervalo em minha viagem. Decidi ir para a América. Lá nunca me encontrará. Desaparecerei nessa vasta terra e...
— Não. — A interrupção foi abrupta, firme e resolvida.
— Eu acho que é o melhor plano de ação. De fato, não posso pensar em outro.
— Eu não a aconselho. — disse ele.
— Não me importa seu conselho. Nós estamos além disso. A menos que você diga, que a lei me protegerá dele, se não penso deixar a Inglaterra para sempre.
Ele não respondeu. Sabia melhor que ela, que a lei não poderia protegê-la. Era justamente ao contrário. Somente a ameaça de expô-lo a um escândalo, tinha mantido o conde a raia, e evidentemente ele decidiu que isso já não lhe importava.
— Eu desejo que você vá com meu irmão e consiga algum dinheiro, que de tal maneira eu possa viver com isso, quando estiver na América.
— Já que você está em Londres, você mesma pode pedir.
— Não desejo que ele saiba onde estou. Se souber, o conde o confrontará e não quero que ele tenha que mentir. Faça ele acreditar que eu continuo em Nápoles e que lhe pedi para que falasse por mim. Assim, que eu tiver esses recursos, eu poderei...
— Laclere não é nenhum estúpido — Se dirigiu para ela. — Sei que suspeitará que algo está errado. E exigirá saber a verdade.
— Você não deve lhe dizer o que Anthony está tentando fazer. Vergil poderia brigar com ele e isso poderia criar um terrível escândalo e…
— Não acho que seu irmão se importe com os escândalos. Suas próprias opções na vida o demonstraram.
—Não desejo que tenha brigas por mim. Não quero vê-lo lutando em duelo pela irmã quem fez um desastre na sua vida, ao casar com um homem malvado por todas as razões erradas. Assim é como desejo fazer. Simplesmente vá com ele e consiga o dinheiro.
Ele estava mais perto dela agora, olhava para baixo com aqueles olhos indecifráveis. Seu rosto raramente mostrava seus pensamentos, mas em seus olhos poderia espiar sua cabeça. As mulheres o achavam intrigante.
Havia acontecido muita discussão entre as damas, sobre Julián Hampton durante anos. As profundidades ferviam como no inferno, ou era frio como o gelo?
Olhando agora em seus olhos viu alguma coisa, que fez com que seu coração caísse.
— Não vai me ajudar. --— Afirmou ela
— Não vou mentir a meu melhor amigo por você. Entretanto posso ajudá-la.
— Você conhece alguma outra maneira de conseguir esse dinheiro?
— Você não irá para a América.
— Eu acredito que essa decisão é minha, senhor.
— Você não tem família lá. Não tem amigos e nenhuma proteção.
— Mas eu escaparei dele lá.
— Se o Conde estiver tão seguro de que você está em suas mãos, deve ter uma razão. Eu investigarei do que se trata e a eliminarei.
Ela se virou para ele.
— E enquanto você descobre isso, ele me encontrará. Não posso me arriscar a isso. Eu não voltarei para ele. — A veemência de suas palavras ecoou ao redor deles.
— Eu descobrirei como estão às coisas e então, você poderá tomar suas decisões. Se realmente estiver em uma situação de risco, avaliaremos quais são as opções.
Então você me ajudará a ir se for necessário?
— Vou fazer o que for necessário para assegurar que Glasbury jamais a forçará voltar para ele. Agora, até que se entenda o que ele traz nas mãos, devemos encontrar um lugar mais seguro para escondê-la, do que esse Hotel Mivert'S.
— Esse não é um lugar seguro. Não há nenhum lugar, que seja realmente seguro para mim.
— Sim, existe. Pelos próximos dias, você permanecerá justamente aqui, em minha casa.
A sugestão a deixou atônita. O Sr. Hampton a deixou aturdida com sua declaração. Ele se desculpou e saiu da biblioteca. Assim que retornasse, ela deveria negar a ficar. Ela não podia ficar nessa casa. Se alguém soubesse, se Anthony descobrisse que ela morava ali, seria a ruína para o Sr. Hampton. Não deveria ser ela quem lhe mostrasse esse fato. Normalmente era o Sr. Hampton, quem avaliava todas as eventualidades e seus custos.
Ele tinha aquele tipo de cabeça que instantaneamente calculava os fatos e cuidadosamente pesava os riscos.
Ele retornou em poucos minutos.
— Se eu encontrar outro lugar mais seguro, levarei-a para lá, — disse ele adiantando-se a seus argumentos — Nessa noite, esse é o único lugar.
— Diane me receberá.
— Com a família St. John, o tamanho de sua casa e a quantidade de empregados que possuem, sua presença não será um segredo um só dia. Além disso, St. John poderia insistir em que seus irmãos soubessem também, que você está com eles.
Ela tocou o véu que usava. — Eu poderia vestir isto, por todo o tempo de todo jeito. Além disso, você também tem pessoal de serviço em sua casa.
— A Sra. Tuttle a governanta, a atenderá. Somente ela e Balkin saberão de sua presença nesta casa. Há vários aposentos nessa casa que não são usados. Os criados não os abrem. Balkin está preparando um agora mesmo. Você permanecerá secretamente nele até que eu descubra o que o Conde está tramando e porquê.
Ela estava dividida entre a vergonha e uma profunda gratidão, que a deixava com vontade de chorar. Esse último a inundava, lhe fazendo perceber o quanto estava cansada de ter medo e do bem que se sentia, por estar aqui com um amigo.
— Permanecerá aqui e tudo ficará bem. — Ele estendeu sua mão. — Agora, por favor, enquanto isso, senta e toma um pouco de chá.
— Vamos esperar até que Batkin termine. Conte-me tudo a respeito de Nápoles.
Não contou tudo a respeito de Nápoles. Descreveu a beleza da baía, suas colinas e suas saídas para o Capri e Sicilia. Falou das pessoas que ficavam ao redor da corte do Rei e dos bailes e da ópera. Contou muitas coisas, mas não tudo.
Percebeu o que ela evitava. Por exemplo, não mencionou nenhum homem sequer por uma vez. Não havia indícios de que ela favorecesse a alguém. Sabia pela forma cuidadosa em que ela não indicava.
Bem, não ia dizer lhe nada a respeito de Witherby, de todas as formas. Ele aprendeu a conhecer seu humor e suas maneiras, somente ao vê-la. Tinha visto, como as intenções de seu bom amigo davam frutos. Tinha adivinhado na mesma semana, em que eles se tornaram amantes.
Esse amor foi outra decepção para ela, possivelmente pior que a do conde. Possivelmente, porque tinha maturidade suficiente para apaixonar-se por Witherby. Quando soube de sua traição ficou arrasada.
—Então, como você pode notar eu gostaria de ter ficado, — disse ela, concluindo seu relato. — O clima, a paisagem e a sociedade eram mais relacionáveis, a minha pessoa.
Ele jamais conheceu uma mulher madura que tivesse uma expressão tão natural, suave e aberta. Ela era incapaz de dissimular ou mostrar arrogância. Seu grande coração não admitia a distância e a frieza, que tais estratégias exigiam.
Seu rosto era suave em sua forma também, um pouco redondo mas graças a seus maçãs do rosto altas não parecia tanto. Tinha faiscantes olhos azuis que inclusive agora, brilhavam como pequenas estrelas brilhantes sob a noite negra de seu cabelo.
— Se está pensando ir para América, deve ter doído profundamente saber que tinha que deixar Nápoles para sempre.
— Foi duro partir, mas sempre soube que isso poderia passar.
— Alguma vez pensou em fazer sua vida ali?
Ela deu de ombros.
— Nunca considerei que fosse definitivo. Com o tempo, esperava voltar provavelmente, antes que chegasse o inverno. Há alguns projetos que tinha começado antes de partir da Inglaterra, que agora requerem atenção.
Não deveria pressioná-la mais, mas desejava muito saber.
— Não tem nenhum amigo que lamenta deixar?
Ela tentou assumir uma atitude mundana e aborrecida, mas não pôde esconder com êxito que sentia uma profunda tristeza.
— Jamais chorarei por um homem novamente, Sr Hampton.
Batkin apareceu na porta a tempo de lhe jogar um olhar significativo.
O aposento está preparado, Condessa. — Julián ofereceu sua mão, para que ela se levantasse.
Mostrarei-lhe onde fica se você me permitir isso.
— Confesso que prefiro que você faça isso. Envergonharia-me ter seu valete me escoltando, estou certa que ele desaprova toda essa situação.
— Ele sabe que você é uma dama em perigo, assim como à Sra. Tuttle. Não haverá nenhuma rejeição. Entretanto, evitarei sua vergonha totalmente dessa forma.
A ampla saia do seu vestido de sarja azul e branco roçou nas pernas dele, enquanto a acompanhava. Era um vestido de cintura baixa, com um corpete justo e de mangas longas que adulavam sua figura. Um lenço de linho cru, protegia a parte superior dos seus seios de seus olhos, mas não de sua mente.
Seus belos olhos, tocavam tudo o que via, enquanto caminhava para a escada.
— É uma casa muito grande, Sr. Hampton. Surpreendeu a todo mundo, quando você se mudou para cá.
— Acho que Russell Square é uma parte muito conveniente da cidade e está perto da associação dos advogados.
Começaram a subir as escadas. Os abajures mostravam mechas de seu cabelo negro, escapando de seu elaborado penteado e posando sobre seu rosto branco. Seu rosto mostrava sinais de fadiga por sua preocupação e pela longa viagem, mas no entanto, sua expressão continuava sendo tão doce como sempre.
— Com uma casa deste tamanho, penso que você deveria casar e começar uma família, — disse ela.
— Receio que Lady Laclere está de acordo com você.
Ela riu. Era um som maravilhoso, um que o tinha encantado de escutar desde que era um garoto. De repente, apesar de suas preocupações, ela era a Penélope que ele conhecia.
—Bianca esteve tentado lhe encontrar uma esposa?
— Depois que seu irmão Dante se casou, eu suspeito que fiquei condenado. Ela deve ter chegado à conclusão que, se ele pôde ser induzido ao casamento, qualquer homem poderia.
— Está ela liderando essa batalha sozinha? Não tem tropas de apoio?
— Suspeito que a estratégia foi idealizada pela Duquesa de Everdon e pela Sra. St. John. E acho que a esposa de Dante, desistiu por estar esperando um filho.
— OH, querido. Sofía e Diane também estão atrás de você. Definitivamente está condenado. Fui parte desse exército e sei como poderoso pode chegar a ser. Deve alegrar-se de que não esteja “oficialmente” na Inglaterra, pois se me unisse a elas, você não teria a menor chance.
— Minha querida senhora, sua participação só poderia me beneficiar. Se fato alguma vez, pensar em me casar, sua aprovação será essencial para mim.
Ela parou nas escadas. — De verdade? Você valoriza tanto minha opinião?
— É obvio.
— Está me dizendo uma coisa muito agradável, Julián.
Julián.
Ela não se dirigia a ele assim, há anos. Duvidava que tivesse percebido o que acabou de fazer. Ele lembrava com precisão do dia em que ela começou a dirigir-se a ele como Sr. Hampton. Foi na mesma tarde, que ela foi a seu escritório procurando conselho sobre o conde. Ao escutar seu sórdido relato e ver seu rosto de vergonha, soube que jamais voltaria a chamá-lo Julián novamente. As revelações que lhe fez nesse dia, exigiam certa formalidade em suas relações futuras.
Ele a conduziu à porta do aposento no terceiro andar. Seu próprio aposento estava do outro lado da casa no jardim, precisava dizer que ela estaria usando o melhor quarto privado da casa, já que ficava conectado com o seu e era o único, que jamais seria usado por uma senhora nessa casa.
Afastou-se para que ela pudesse entrar. Ele ficou na soleira, enquanto ela percorria o quarto.
— Amarelo, verde e branco, — disse ela com admiração. — Parece um jardim de narcisos.
A decoração deste aposento e de todos os outros, havia sido fácil felizmente. Quando se enfrentou com a decisão de como os decorar, simplesmente pensou no Penélope poderia gostar.
Ela passeava ao redor, inspecionando o tipo de móveis e outros detalhes. Percebeu que havia uma camisola sobre a colcha da cama.
— Seu valete deve ter despertado a sua governanta, se pôde encontrar uma camisola para mim. Já me transformei em um incômodo.
— Você não será nenhum incômodo. Eles estarão felizes de servi-la. Enviarei Batkin para buscar seus pertences no hotel. Ele se assegurará de que ninguém saiba para onde foi.
Seus claros olhos azuis pareciam úmidos e sua expressão parecia um pouco preocupado. Desejava tranquilizá-la de qualquer forma, mesmo não sendo para ele. Ao invés disso, permaneceu parado na soleira da porta.
— Obrigada por fazer isso, — disse ela. — É imprudentemente generoso de sua parte.
Ele não achava que estivesse sendo generoso, se ela ficasse aqui pelo menos uma noite, sua presença permaneceria ali para sempre. Assim, poderia senti-la sempre no ar e em todos os espaços de sua casa.
A parte que dizia sobre sua imprudência era verdadeira. Permitir que ela permanecesse aqui era totalmente arriscado para ambos.
— Será um escândalo se alguém souber, — disse ela, ecoando seus pensamentos.
— Não é tão escandaloso. Não é pior, por exemplo, que o assunto de Nápoles onde você e outras senhoras no barco pescando.
Um rubor subiu do pescoço até seu rosto. Ela fez uma careta de desgosto.
OH. Soube que...
Embora os oficiais do navio que as resgataram mostraram a discrição de cavalheiros, vários dos marinheiros que retornaram a Inglaterra, não foram.
– Todo mundo sabe?
– Se eu sei…, acredito que sim.
– Quero que saiba que isso foi algo bastante inocente. Fomos vítimas das circunstâncias. Quem adivinharia que aquele barco de pesca, iria embora com todas as nossas roupas nele e nos deixaria encalhadas, naquela enseada dessa forma?
— Foi assim como lhe disse.
— Usando apenas camisas, mais ou menos essa foi a história. Camisas úmidas, já que a mulher que tinha se encarregado do barco de pesca, levou-as até a enseada para que pudéssemos tomar banho de mar.
Pen saindo das águas frias do mar. Gotas de água deslizando pelo seu corpo e seus cílios molhados brilhando no sol como pequenos diamantes. A roupa úmida colada em suas suaves curvas como um véu transparente, e…
Se você for honesto, senhor Hampton, admitirá que a excursão à enseada pode ser considerada no pior dos casos descritos como um pouco imprudente, um pouco teimoso, um pouco descuidado, procurando mais palavras.
Um pouco travesso?— Continuou ele.
Mas não escandaloso,— disse Pen
Isso será um escândalo se outros o averiguarem. Asseguraremo-nos de que isso não aconteça.
Ela se ruborizou novamente e fez um gesto um pouco torpe com as mãos, como se tentasse pôr fim à conversa.
Ele memorizava a imagem dela parada em sua casa.
— Boa noite, milady.
— Boa noite, Senhor Hampton.
— Julián! Sir Julián, me salve!
O grito veio da torre. Julián levantou o olhar para ver a pele pálida que saía por uma fresta, no alto dos aposentos dos guardas.
— Estou aqui, Sir Julián. Ajude-me
Julián pegou sua estreita espada de madeira. — Já vou minha lady!
No topo das muralhas medievais em ruínas de Laclere Park, Vergil golpeou sua espada contra a de Dante, enquanto lutavam pelo controle do castelo. O plano era que Julián se unisse a Vergil, para vencer Dante e juntos resgatar à donzela presa por seu malvado tutor Sir Milton. Mas Vergil podia derrotar Dante sozinho, e a lady chamava Julián em busca de ajuda.
Julián atravessava o pátio murado, pulando pelas pedras que tinham caído da fortaleza em decomposição. Teve que se esquivar da pequena Charlotte, que tinha sido autorizada a juntar-se a eles, mas só brincava de escudeiro de Vergil.
Ele ficou de pé em segurança no pátio, sustentando um cavalo invisível, gritando estímulos traidores a Dante por cima de Vergil. Dentro da porta da torre dos guardas, Julián se apoiou na parede e escutou. Vamos, lady Penélope chamou novamente, sua voz de menina ganhando maturidade na acústica das pedras. Outro som lhe chamou também a atenção. Passos de botas nas escadas. O guardião do mal estava descendo. As botas pararam. Preparou a si mesmo, Julián começou a subir a curva da escada de pedra. Milton esperava na meio, com sua própria espada e um escudo na mão. Julián considerava em sua posição, um ataque de desvantagem.
— Isso é o que acontece nessas escadas em curvas, disse Milton com um sorriso confiante.— O invasor não pode usar sua espada, a menos que exponha seu corpo virando. — Arriscarei com golpes.— Os Olhos escuros de Milton ficaram sérios. Era o mais velho dos filhos do visconde Laclere, era também o mais bonito, mais ainda que Dante.
Ele e Julián tinham uma afinidade especial, já que ambos eram tranquilos e mais dados a jogos de observação, que de participar das conversas estridentes dos outros. Milton havia deixado claro, que enquanto que Julián ia a Laclere Park como amigo do Vergil, Milton o considerava como uma alma gêmea.
— Sempre deve considerar se qualquer prêmio vale receber os golpes, Julián.
— Eu não procuro meu próprio prêmio, a não ser a liberdade de minha lady,— disse Julián, assumindo o papel de um cavalheiro medieval. Apesar da vantagem das escadas, Milton não podia defender-se bem. Nunca esteve especialmente interessado nas atuais batalhas de seus jogos, mas sim, nas estratégias. Golpeando a sua maneira Milton, Julián se aproximou correndo à torre dos guardas. Jogando seu papel com entusiasmo, Penélope correu para sua proteção. Sua gratidão foi interrompida. Milton apareceu na soleira. Julián colocou Penélope atrás dele, disposto a lutar novamente. Ela se encolheu perto de seu corpo, escondida em suas costas e suas mãos em seus ombros. Seu contato o surpreendeu e o incitou uma calidez agradável por todo seu corpo. O tempo se congelou por um momento, enquanto que ele dava capacidade às poderosas sensações. Ele olhou para Penélope. Ela também havia ficado congelada. Ela o olhou nos olhos com uma surpreendida e curiosa expressão.
Esqueceu-se de Milton, da espada e da própria torre. Deu a volta levemente, incapaz de deixar de olhá-la, incapaz de quebrar a conversa silenciosa e surpreendente que estavam tendo e que nenhum dos dois poderia reconhecer com palavras. Por último, Pen se afastou. Olhou atrás dele. Ele olhou na mesma direção, para encontrar Milton observando-os. A própria expressão de Milton era tanto insondável como de compreensão.— A torre é dela, Julián. A lady foi resgatada. Muito bem. Milton olhou para sua espada. Com um pequeno sorriso, deixou-a cair no chão junto com seu escudo.— Acho que estou muito velho, para continuar brincando esses jogos.
A lembrança veio a Julián, enquanto estava deitado em sua cama, sentindo a presença de Penélope com tanta segurança, como se dormisse a seu lado. Um ano antes desse dia, nenhum deles havia sequer notado esse toque. Poderia ter sido um de muitos, como as histórias que Julián criava para brincar na fazenda. Nesse momento tudo mudou. Aos quatorze anos ele já tinha despertado antes, mas não dessa maneira, não por uma mulher específica a quem conhecia e honrava. Aconteceu também, em um momento crucial da amizade. Milton nunca mais brincou com eles novamente. Levou anos para Julián perceber que seu longo olhar com Penélope tinha sido o motivo. Agora Milton estava morto e ela estava casada. E aqui estava ele, deitado na cama, desejando que a mulher de outro homem, que dormia em um quarto próximo. Ele ponderou sobre os acontecimentos da noite. Pen estava certa que as leis não a protegeriam. Somente a combinação de sua coragem e a astúcia de Julián poderiam protegê-la.
Não sabia o que esperar na curva da escada que começou a subir. Mas como sempre, sua posição no assunto poderia inibir a espada no braço que a sustentava, tão certo como essa parede que havia na velha torre. Só sabia que uma coisa era certa. Glasbury nunca faria mal a Penélope novamente, enquanto Julián Hampton vivesse e respirasse.
CAPITULO 03
Anthony, o décimo conde de Glasbury, tratou de ignorar o som na porta de seu vestiário. Não gostava de ter seu prazer interrompido por nenhum tipo de distração, pelo menos uma de todas as complicações que anunciaram em seus bem calculados planos. Agora simplesmente essa interrupção aconteceu. César jamais interromperia com esse forte golpe. Sabia que não deveria provocar a ira de seu amo. Apertando os dentes, engolindo a saliva, Glasbury se afastou do bonito e redondo traseiro, que estava levantado para ser castigado. A excitação mais deliciosa nadava em suas entranhas, exigindo uma maior estimulação. A submissão do corpo nu para obrigá-lo a obedecer a seus comandos o atraiu a passar por cima da interrupção. Os golpes fortes continuaram na porta. Alguma coisa errada aconteceu. Não podia haver outra explicação para esse barulho. Procurou provas através da névoa embriagadora para poder achar certa claridade nos pensamentos. Olhou para bengala em sua mão e os vergões vermelhos nas nádegas de sua escrava de prazer. Deveria deixá-la nesse estado esperando? Ela era nova e ele ainda não tinha decidido se já fora o suficiente.
– Olha-me, ordenou ele. O cabelo negro levantou. O rosto se virou. Os olhos molhados lhe devolviam o olhar. Não havia medo suficiente neles para despertar novamente sua paixão. Não via nenhum sinal, de que ela tinha desfrutado disso. Bom. Ele não queria que suas parceiras tivessem prazer. Fazia a submissão menos completa. Pegou um guinéu de seu bolso e jogou no chão. – Se vista e saía. Volte na quinta-feira e haverá mais.
Ela pegou o guinéu quando se levantou sobre seus joelhos. Não havia dúvida de que ela o compreendeu, mas apenas significava que haveria mais dinheiro. Ela parecia insegura de desejar retornar, mas ele sabia que voltaria. Ela era uma puta e o pagamento era bom. Não era exatamente o mesmo quando outros lhe pagavam é obvio. O controle se via comprometido se eles tinham mais opções. Mas poderia fazer por um tempo. Ele a conduziria pouco a pouco e ela aprenderia o suficiente. Ele se afastou. Em pouco momento, a mulher e o prazer estavam fora de sua cabeça e de seu corpo. Saiu do quarto para encontrar César esperando no corredor.
César não usava seu uniforme, por isso deve ter sido levantado de sua cama por outro servo. César era um escuro mulato, obedecia todas as ordens com precisão. Não mostrava nenhum medo às represálias por esta interrupção. Ele permanecia impassível como sempre, uma atitude que reflete os pensamentos torpes em sua escura cabeça. Era também, um reflexo das mudanças que vinte anos podiam fazer na sensatez de um país de direitos e privilégios. Houve uma época, que César teria uma boa razão para ter medo, mas agora esses dias ficaram para trás, a melhor época da vida de Glasbury, tinham terminado para sempre. Os novos costumes eram terríveis.
Ele voltou, disse César. – O cavalariço chamou do jardim e me despertou.
— Veio sozinho?
– Sim.
– Maldito seja.— Onde está?
– Na biblioteca.
— Você volta para seu aposento. Eu não preciso mais você. Glasbury voltou a seu quarto e ali encontrou sua escrava de prazer lutando para fechar seu vestido.
Não ajudou-a. – Desça em pouco minutos. Ele fez seu próprio caminho pela casa em silencio em direção à biblioteca, onde o homem o esperava. O visitante se sentou em um sofá.
Seu rosto redondo, de expressão suave e insignificante em presença e tamanho. Ele tinha que olhar de perto, para sequer perceber que este homem existia. A capacidade de ser invisível era um de seus grandes talentos. Ele o olhou com olhos que revelavam uma astúcia profunda sem máscara anônima.
— Ela não estava lá, simplesmente disse.
Tinha que estar. A pessoa que a viu a conhece bem. Com véu ou não, a identificação não era suscetível a engano.
— Disseram-me que não estava, quando procurei por ela.
— Eu não disse que nunca esteve ali. Encontrei-me com um empregado que trabalha a noite, que diz que uma dama de sua descrição, sempre encoberta, esteve hospedada ali por alguns dias. Mas ela foi embora e seus pertences foram recolhidos nessa noite. Eu devo ter perdido ela por uma hora, não mais.
Glasbury mal continha sua raiva. A cadela escapou outra vez. Mas entretanto, ele a encontraria. Ele não toleraria mais a forma em que havia repudiado seus direitos. Ele não suportará mais a humilhação, que havia se acumulado sobre ele com sua obstinação. Certamente, ela não pararia, enquanto utilizasse seu nome para promover ideias repugnantes que diretamente o insultavam. Não toleraria mais isso.
– Para onde levaram seus pertences?
— O gerente disse que não sabe. Não gostou muito que eu o despertasse, para perguntar a esse respeito e expressou seu descontentamento por não me dar o que queria. Poderia tentar fazê-lo falar se…
— Não, não podemos fazer isso. A polícia estaria envolta se as coisas ficarem difíceis.
— Então, o que quer que eu faça?
— Faça que seu colega mantenha a vigilância em sua casa, no caso de reabri-la. Farei você saber quando o necessitar novamente.
Glasbury não esperava que a casa de Penélope reabrisse. Se ela não estava mais no hotel, ele sabia provavelmente para a onde ela foi. Ela teria ido provavelmente se esconder atrás de seu irmão Laclere. Bom, ele saberia como dirigir isso. Seus direitos de posse tinham sido comprometidos, de todas as formas nestes últimos anos, mas não quando concernia a ela. Seria complicado brigar com sua família, mas seus direitos prevaleceriam. Afinal, ela era de sua propriedade.
CAPÍTULO 04
Julián ficou surpreso quando recebeu pela manhã uma convocação a Laclere’s House. Deixou à senhora Turtle encarregada da comodidade de Penélope, montou seu cavalo e chegou na hora marcada.
Ele foi levado ao escritório do visconde. A cabeça escura de Laclere subiu imediatamente da contemplação de alguns documentos sobre a mesa, quando Julián entrou.— Estou esperando uma visita inesperada. Pensei que deveria estar presente quando ele chegasse,— disse Laclere sem formalidade.
— Escrevi-lhe logo que recebi sua carta no correio da manhã.
— Alguém tão grosseiro para exigir uma audiência? É generoso de sua parte receber, quando se trata de Glasbury.
Os olhos azuis de Laclere mostravam um brilho de preocupação.
– Eu não posso imaginar o que ele quer, já que ele e eu não falamos há anos. Suponho que se trata de Pen obviamente.
Conversaram sobre o banquete, enquanto esperavam, evitando cuidadosamente o assunto das intenções de lady de Laclere, no que concernia a certo solteiro. O visitante não demorou em chegar, mas não era o conde de Glasbury. Tratava-se de Dante o irmão de Laclere que entrou no escritório e saudou Julián.
Seu tipo físico e estatura, Dante era uma versão mais refinada de seu irmão. Onde as características do visconde eram mais toscas, as de Dante eram suaves e perfeitas, como se o escultor tivesse polido todas as arestas para dar tal efeito.
Dante passou os dedos pelo seu cabelo castanho, em um gesto que falava de seu desconcerto.
— Recebi uma carta de Glasbury nessa manhã. Disse que ia se encontrar com você e sugeriu que eu participasse.
— O mistério é cada vez maior, disse Laclere.
— Mais do que você imagina. Encontrei com o transportador do correio entrando, quando cheguei a minha casa.
— Se ele queria reunir-se com toda a família, deve ter planejado um anúncio espetacular. Disse Laclere.
— Talvez tenha intenção de conceder o divórcio,— disse Dante.
— Um pouco tarde para isso, eu acho.
Julián não disse uma palavra. Ambos os homens aceitaram há muito tempo seus silêncios e hoje era mais que conveniente. Charlotte entrou, olhando de forma muito similar a sua irmã mais velha, com seu cabelo escuro, pele clara e estatura mediana. Ela sempre foi mais magra que Penélope e seus olhos eram mais mundanos e sagazes. Não que Charlotte fosse dura em sua aparência e atitude, mas Penélope era mais suave. Ela explicou que tinha recebido uma carta similar a de Dante.
— Considerei ignorá-la, já que não posso imaginar o porque quer que eu esteja aqui. Não se supõe que estas coisas são muito importantes, para a participação de uma mulher?
— O conde quase fez eu me interessar por esse assunto— disse Laclere.
— Glasbury é muitas coisas, querido irmão, mas interessante, não é uma delas. – disse Charlotte.
— Voltou sua atenção para Dante.— Como está Fleur?
Dante sorriu daquele jeito fazia desmaiar às mulheres.
— Bonita. Serena. Eu é que vou perder dez anos antes que essa criança nascer.
— Não estará nesse estado por muito tempo. Porém, ainda falte muitos meses para isso,— disse Laclere.
Depois deu uma olhada no relógio da estante atrás dele.
— É tarde. Não duvido, que Glasbury prefira caminhar como forma de exercício.
— Espero que seja o divórcio,— disse Dante. – Gostaria de ver Pen completamente livre dele.
A atenção de Charlotte deslizou pelo escritório e parou em Julián.
— Sabe do que se trata?
– Estou de acordo com seu irmão, é provável que tenha a ver com sua irmã.
— Isso é obvio. Sabes exatamente o que tem a ver com ela? Ela escreveu algo de Nápoles, que se esqueceu de contar para um de nós?
— Se ela fez, é correspondência particular Charl, — Disse Laclere. — Você se beneficiaria com a discrição de Hampton, assim também permita o mesmo para Pen.
Estou certo, que nenhum de nós, quer que toda nossa família saiba de todos os nossos assuntos jurídicos.
Charl se retirou, não sem antes lançar um olhar firme e suspeito para Julián.
Glasbury chegou suficientemente tarde, para acentuar a ideia de que outros deveriam esperar por ele e não o contrário.
Ele foi entrou no escritório uma hora e meia depois.
Não estava sozinho. Um homem de aparência elegante, mas comum o acompanhava. Esse outro homem, ficou perto da porta como um servo e não avançou na festa armada pelo conde.
Julián apenas recebeu um reconhecimento por parte do conde, durante as saudações. No entanto, não perdeu o aceno de cabeça em sua direção acompanhado por um sorriso petulante, que torceu por um momento a boca flácida do conde.
Julián não deixou se intimidar, mas uma pequena fúria rodopiava em sua cabeça. Odiava Glasbury e não apenas por Penélope. O homem encarnava toda a decadência e insensibilidade de quem herdava privilégios. Ele exercia o poder de forma irresponsável e egoísta.
Recentemente, o conde tinha sido um dos poucos senhores que foram contra a abolição dos escravos em um projeto de lei das colônias, porque era proprietário de algumas plantações nas Índias Ocidentais e que serão afetadas economicamente.
Poucos homens no Parlamento, tiveram a ousadia de ficarem a favor a venda de seres humanos, mas ele não se incomodou absolutamente.
Pior, era aquele sorriso que refletia triunfo. Era a expressão de um homem que sabia que tinha ganhado um jogo. A preocupação de Julián por Penélope se aprofundou ainda mais.
Glasbury se posicionou ao lado da cadeira Laclere, para ter a oportunidade de olhar para baixo da cabeça escura do homem sentado nela. Julian considerou que provavelmente, era a única chance do conde fazer isso, já que Laclere era muito mais alto que Glasbury, quando ambos estavam de pé.
O corpo magro do conde assumiu uma rigidez militar. Com seu cabelo grisalho e rosto cheio de rugas, parecia mais velho que eles, embora tivesse apenas mais dez anos do que Laclere.
— Não tenho tempo a perder com este assunto, por isso serei breve,— disse com toda a pompa possível.
— Exijo saber onde ela está.
— Ela, devo presumir que se refere a nossa irmã. Penélope está em Nápoles, como você sabe. Você escreveu para ela lá.
— Ela já não está em Nápoles. Foi vista ontem em Londres. Ouvir dizer que ocupou uma das acomodações do hotel Mivert em sua volta, mas ela já não estava no hotel nessa amanhã.
— Estou certo que, aquele que a viu se enganou. Se minha irmã voltasse para Londres, ela não precisaria ficar em um hotel, já que ela tem uma casa. Tentou procurá-la lá?
— A casa permanece fechada. Não houve nenhuma atividade que indique que está vivendo ali.
— Glasbury, garanto-lhe que ela está em Nápoles, mas se não estivesse, o que importa para você?
— Ela é minha esposa.
— De nome.
— Pela lei.
— Na verdade, não é sua esposa há mais de uma década.
— A lei é a única verdade que importa, como Hampton aqui pode explicar a você. Estou farto de seus caprichos sobre o assunto.
— O que se supõe que isso significa? – perguntou-lhe Dante. — Tem planos para mudar a realidade legal divorciando-se dela?
— Na verdade não. Eu decidi que nosso longo afastamento já não é mais aceitável. Laclere, exijo que você a entregue.
Os olhos de Laclere refletiam surpresa. Julián pode ver com consternação que depois de todos esses anos, o conde queria Penélope de volta.
— Não posso devolver o que não tenho.
— Se você está escondendo-a…
— Minha casa sempre estará aberta para ela e quando a visita não tem por que esconder-se. Mas ela não está nessa casa, em Laclere Park, ou mesmo na Inglaterra.
— Eu exijo que prove. O homem na porta, o senhor Lovejoy é um inspetor da
da Polícia Metropolitana. Ele irá verificar essa casa, para ver se minha esposa está aqui.
— O inferno que vai,— disse Dante.
Laclere nivelou um olhar penetrante no senhor Lovejoy.— Trouxe a policia para minha casa, Glasbury?
— Era necessário.
— Duvido que o Sr. Lovejoy está de acordo. Você não está procurando um criminoso. Um inspetor da autoridade em uma situação ambígua, nas melhor das hipóteses. Não é mesmo, Hampton?
Julián se colocou em uma atitude profissional mais severa.
— Mais que ambígua. Suponho, senhor Lovejoy, que o superintendente é consciente de suas intenções?
O senhor Lovejoy murmurou algo, sem se comprometer.
— Em qualquer caso, a palavra de um cavalheiro como Laclere é bom o suficientemente para a policia, não é assim senhor?
Outro murmúrio foi acompanhado por um gesto vago.
— Não. Que se resolva agora – Disse Laclere, secamente.
Lovejoy, reconheceu a destituição quando o ouviu e se retirou do escritório.
Glasbury estava com o rosto vermelho.
— Quando eu descobrir que você está mentindo, eu ...
— Tenha cuidado Glasbury. A voz de Laclere se tornou feroz.— O insulto de trazer Lovejoy até aqui não se justifica e não levo bem as acusações, de que sou um mentiroso.
O conde se virou para incluir Dante e Charlotte em seu pronunciamento final.
— Se algum de vocês a receber, não se esqueçam de mim. Se souber, que ela está vivendo em qualquer uma de suas propriedades, farei lamentarem por terem interferido. Não tenham dúvidas, que vou usar toda a força de meus direitos e minha influência sobre esse assunto.
Ele saiu do escritório.
— Vergil, temos que fazer alguma coisa,— disse Charlotte, com uma expressão mal recuperada do choque.
— Pelo amor de Deus, espera de verdade obrigá-la a voltar.
— É pelo herdeiro,— disse Dante.
— Tem que ser, porque já tem quarenta e cinco anos. Como está sem filho, não tem como consegui-lo com uma esposa que o deixou. Sempre achei estranho, ele a deixar ir antes de lhe dar um filho.
Laclere lançou um olhar a Julián.
— Sim, bom, acho que ele teve suas razões para tanta generosidade.
Charlotte não perdeu o tema levantado.
— Sabe quais foram essas razões, senhor Hampton?. Você negociou a separação. Foi um acordo particular e você era o mediador.
Isso, atraiu também, a atenção espectadora de Dante nele. Julián tentou usar seu silêncio habitual, mas suas expressões indicavam que não iria funcionar dessa vez.
— Senhora, fiz o que sua irmã me disse que fizesse. Tivemos sorte que o conde viu a retidão de suas preferências e não a obrigou a permanecer em sua casa.
— OH, não venha com essa atitude de advogado para nós agora Hampton,— disse Dante.
– Você conseguiu uma atribuição e a sua liberdade. Existiu um fato de peso, pela qual o conde concordou. O que foi?
Julián se negou a responder.
Charlotte lhe deu um olhar crítico.
— Bom, se você tiver alguma comunicação com a minha irmã, por favor diga a ela que é bem-vinda em minha casa, e que Glasbury pode fazer o que quiser. Esse sapo não me assusta. Se trouxer o Sr. Lovejoy em minha casa, direi aos criados para que joguem ambos para fora.
Partindo como um guarda do palácio, com a sombrinha como se fosse uma bengala, foi para a porta.
— Se não tiver ido quando eu sair na rua, penso em lhe dizer eu mesmo. Homem insuportável.
O escritório ecoou suas palavras, pulsando com o oco do silêncio.
Dante riu.
— Parece que fui eclipsado por Charlotte. Sobra-me apenas repetir suas palavras. Hampton, se Pen escrever para você, lhe diga que estará a salvo conosco. Glasbury necessitará de um exército para tirá-la.
Dante se despediu. Julián começou a segui-lo.
— Ainda não,— disse Laclere, parando-o.
Laclere continuava sentado na mesa, seu olhar em uma pena de escrever que manejava distraidamente. Julián esperou, contando com sua amizade para economizá-lo de um interrogatório que seria muito difícil.
— Não perdi o olhar que Glasbury deu à você quando entrou,— disse Laclere.
— Tampouco eu.
— Ela não está mais em Nápoles, não é verdade?
Julián não respondeu.
Laclere se encostou-se a sua cadeira.
— Você me disse anos atrás, que conseguiu a liberdade de Pen porque tinha grandes segredos, mais que a maioria dos homens. Segredos que, suponho, não queira expor se ele ou ela procuravam o divórcio.
— Eu disse isso? Que indiscreto de minha parte.
— Parece que os anos entorpeceram seu apreço, pela consideração de minha irmã por sua reputação.
— Parece que alguma coisa aconteceu.
— Entretanto, você ficou em silêncio, enquanto ele esteve aqui. Não apontou que ela tem essas cartas.
— Trato de não ameaçar os homens quando há testemunhas presentes.
— Espero que você encontre uma maneira particular, para lembrá-lo o custo que ele terá, quando o mundo souber que Pen sabe dele.
— Penso fazer isso muito em breve.
Julián começou a sair, para poder atender a esse assunto imediatamente.
A voz de Laclere lhe chamou na porta.
— Se tiver qualquer contato com minha irmã, por favor, lhe diga que sempre estarei aqui para ela. Todos estamos. Que não se preocupe e que nos importa um pepino as ameaças de Glasbury. Deixe-a saber que o conde realmente precisará de um exército para tirá-la de nós.
— Estou certo que ela sabe de tudo isso.
Laclere o olhou. Em uma pausa que se prolongava em um silêncio eloquente. Julián esperava que nada acontecesse entre eles, por não dizer o que sabia.
— Julián, se por alguma razão, minha irmã não pode ou não quer recorrer por nossa ajuda, confio que você fará tudo o que pode por ela.
— Eu sempre farei Vergil.
A casa do senhor Hampton estava demonstrando ser um santuário muito confortável. Penélope não se importava com sua reclusão. A senhora Tuttle garantiu sua comodidade pela manhã e depois, aparecia mais ou menos a cada hora para perguntar se precisava de alguma coisa. Além de alguns livros da biblioteca, Pen não pediu mais nada.
Seus baús haviam chegado durante a noite e ela deu um pequeno destinado a suas cartas e documentos.
Sentada perto da janela que dava para um bonito jardim, estudou um documento longo que chegou a Nápoles antes de ir embora.
Era para ser um panfleto criticando a situação jurídica das mulheres casadas. Ela e várias outras mulheres, haviam contribuído com esse trabalho durante o último ano. Agora, com a recente aprovação do projeto de lei para acabar com a escravidão nas colônias, havia chegado o momento, de pressionarem seus pleitos. O país e o parlamento estavam em um estado de ânimo propício as reformas. Era o momento da emancipação dos últimos humanos, que eram pouco mais que bens e imóveis em terras britânicas.
As mulheres casadas.
Lia atentamente esse projeto mais recente, escrevendo algumas mudanças. Precisariam esperar até o próximo ano, antes de publicá-lo. Elas queriam que o país terminasse de digerir o recente projeto de lei contra a escravidão, antes de considerar essa nova proposta, por isso, tinha a intenção de retornar no final do outono e ficar atenta a sua elaboração final. Agora, poderia garantir a realização mais rapidamente.
A não ser que tivesse que fugir do país, obviamente. Esperava que o Sr. Hampton estivesse certo e que isso não fosse necessário. Ela estava ansiosa para ver concluído este projeto. Seu nome como autora lhe daria peso. Também seria a única coisa que fez em sua vida, que valeria a pena.
Uma batida na porta na parte tarde, a distraiu de seu trabalho. Ela guardou o documento e abriu a porta para encontrar o Sr. Hampton.
— Tem notícias? perguntou ela.
— Sim. Posso entrar?
— Desculpe, mas não podemos ir a biblioteca ou a sala de estar para termos nossa conversa?
— Não, não podemos.
Ela permitiu sua entrada e se sentaram em duas cadeiras estampadas na cor verde, perto da janela.
Ele parecia indiferente, ao local onde se desenvolveria essa conversa, mas ela não podia ignorar completamente, que estava em seu quarto com a porta fechada.
Ele estava de costas para sua cama, mas ela podia ver claramente atrás dele, brilhante e arejada com suas cortinas de flores. Havia dormido nessa cama na noite anterior e agora este homem estava aqui. Era uma reação tola, mas assim que se lembrou da sensação de sua mão na sua na última noite. A vitalidade que ela sentiu, quando ele beijou sua mão através da luva, voltou e dançou dentro dela.
— Noticias? Obrigou a si mesma a olhar para ele e não só ver cama. O que provocou algumas curiosidades alarmantes sobre o senhor Hampton, de como faria amor, ou se não fazia em absoluto.
Fazer isso com quem? E se não, era uma lástima, porque ela não podia negar que havia algo interessante, sobre seu lado escuro e seu misterioso silêncio e…
— Glasbury visitou Laclere, disse ele, interrompendo sua repentina especulação sobre como seria sem camisa.
— Também fez com que Dante e a baronesa viúva de Mardenford estivessem presentes. Ele exigiu saber qual deles a tem como convidada. Se atreveu a forçar, em procurá-la na casa de Laclere.
— Vergil deve ter estado a ponto de jogá-lo para fora. E a pobre Charlotte. Foi muito desprezível de sua parte tentar intimidá-la.
— Acho que Lady Mardenford está bem equipada para lidar com o conde, milady. Teve sorte de que ela não o intimidasse, mas literalmente com sua sombrinha.
Ela riu imaginando isso.
— Viu, eu estava certa. Assim, eles não precisam mentir por mim, porque não sabem que estou na Inglaterra.
— Isso é certo. Eles não precisam mentir.
— Sério?
— Não chegará a isso.
— Mas chegará, quando o conde souber que estou aqui. Finalmente, se perguntará onde me encontrar.
— Como sue advogado, não tenho nenhuma obrigação de responder. Justamente o contrário.
Seu tom de voz fez seu coração pesar. Ele parecia muito sério. Muito sério e pensativo.
A cama desapareceu, assim como seus pensamentos tolos, sem sentido.
— Ele me encontrará. Se foi tão ousado para tentar procurar-me na casa de meu irmão, não se renderá facilmente. Mesmo se eu me esconder para sempre nesse quarto, eventualmente saberá que estou aqui.
— Eu procurei-o para lembrá-lo de algumas coisas que parece ter esquecido. Bom, ou não estava em casa ou não quis me receber. No entanto, vou conversar com ele em breve. Isso vai colocar fim em sua busca.
— Não vai fazer diferença. Já se esqueceu de tudo. Ele simplesmente não se preocupa mais por sua exposição.
Ela se levantou bruscamente e virou-se para a janela. Percorreu pelo espaço abaixo, apesar de sua cabeça saber que era jardim particular, que não implicava em nenhum perigo para ela. As lembranças voltaram com força em sua cabeça. Os feios e antigos pensamentos, que havia aprendido há muito tempo a negar. Cenas explícitas que mostravam a queda na degradação, em que havia vivido nos primeiros anos de seu casamento. Ela foi tão ignorante, que sequer sabia que não era normal, mesmo que a chocassem. Depois, o conde foi longe demais e percebeu o inferno que havia negociado. Mas, não foi o prazer que o conde obtinha com a perversidade, o motivo que a fez conseguir sua liberdade.
Quando recorreu ao senhor Hampton para procurar seu conselho, ele fez várias perguntas que revelaram grandes segredos, mais imperdoáveis que qualquer coisa que Glasbury fizesse com sua esposa.
O senhor Hampton ficou tão enigmático nessa reunião. Ela se dirigiu a ele, porque era um velho amigo da família, porque sabia das leis e porque se ela confiasse a seus irmãos, um deles poderia ter matado Anthony. O senhor Hampton foi tudo o que ela esperava, firme, sóbrio e carente de emoções, mas ela não tinha deixado de perceber o fogo em seus olhos, que falava de seu desgosto sobre o que ouviu.
Felizmente, ele compreendeu a importância de seu testemunho, de maneira que ela não conhecia. Suspeitava que ele tinha usado implacavelmente, essa informação para conseguir sua liberdade.
Agora sentia que essa liberdade estava escapando de suas mãos. O conde a queria de volta e dessa vez, não haveria escapatória. Ela estaria a sua mercê e a raiva contida por anos, usará contra ela.
Ela começou a tremer por dentro. O tremor afetava sua alma, seu coração e com o tempo seu corpo. Ela estava tão debilitada, que sua calma se rompeu.
Virou-se para que o senhor Hampton não visse suas lágrimas. Ela tinha dado ao pobre homem problemas suficientes, sem esperar que também tivesse que lidar com isso. Ela lutou para acalmar o pânico que ameaçava com deixá-la histérica.
De repente o sentiu de pé atrás dela. Podia sentir seu calor. Sua proximidade a distraiu o suficiente, para que suas emoções não se apoderassem dela totalmente. Suas mãos posaram em seus ombros. Devia ficar assombrada por isso, entretanto saboreou sua força e a forma em que a segurou.
Ela virou para olhá-lo no rosto. Ele apenas tocou seu rosto, mas daria no mesmo, ele inclinou sua cabeça para cima para vê-la diretamente nos olhos.
— Disse que não vou permitir que o conde a leve de volta a força, querida senhora.
A expressão de seu rosto havia a hipnotizado. Enquanto olhava para baixo, fez sua promessa e por um momento, viu a jovem que conheceu anos atrás. O garoto que tinha brincado com eles, estava falando com a garota que ela foi antes. Ambos perderam-se no mundo quando amadureceram, assim como a amizade fácil.
Agora, por um breve momento, tudo estava ali de novo e as razões para que ela confiasse nele, estavam vivas entre eles.
A compreensão disso a comoveu tanto, que não pôde conter sua emoção. Fechou os olhos, mas as lágrimas caíram de qualquer maneira, serpenteando por suas faces.
De repente, ela estava dentro de seu abraço reconfortante. Ela deu boas-vindas a essa intimidade. Eram velhos amigos, depois de tudo.
Era uma sensação maravilhosa, que sentia. Seus braços a tranquilizaram tanto como suas palavras.
— O conde advertiu sua família. É bem possível que ele, por sua vez centre sua atenção em mim. Você não estará a salvo aqui. Acho que seria melhor você sair de Londres— disse, enquanto se aconchegava nele e ela via seu apoio e seu calor.
— Tenho uma propriedade na costa de Essex e quero levá-la cedo amanhã. Está isolada, mas tenho que lhe advertir que é também bastante rústica. Por um dia ou dois, vai estar sozinha, até que eu possa fazer outros arranjos. Você acha que pode fazer isso, ficar sem criados e sem comodidades?
Ela assentiu com a cabeça. Era capaz de suportar qualquer coisa, que significasse não viver sentindo o conde atrás de cada um de seus movimentos.
Ela encontrou seus olhos e foi totalmente consciente de seus corpos tocando-se. Ficou ruborizada e deu um passo para trás, fora de seus braços.
Ele não ficou desconcertado por isso, mas o senhor Hampton nunca ficava.
— Tenho que ficar em meu escritório por algumas horas. Eu despertarei antes do amanhecer, para que possamos isso sair. Tudo bem, senhora?
— Sim, senhor Hampton. Estou de acordo.
CAPÍTULO 05
Rústica era a palavra adequada para descrever muito bem a casa de campo. A frente tinha uma elevação baixa de terra, Julián conduziu a carruagem para uma pequena casa de pedra isolada. Nada mais que o céu estava atrás dela e só algumas dependências e o som das ondas a cercavam.
Saíram de Russell Square em silêncio, na escura hora da manhã, muito antes que os criados de Julián despertassem. Inclusive, à senhora Tuttle ou Batkin sabiam para onde eles foram.
— Você é proprietário desta casa— perguntou, enquanto a ajudava a descer da carruagem.
— Comprei-a faz alguns anos quando me estabeleci pela primeira vez.
— Procurou um refúgio da sua vida na cidade e das obrigações sociais?
— Eu só pensava nela como uma casa na costa. Sempre gostei do mar.
— Talvez, o leve no sangue. Afinal, um de seus tios foi um oficial da marinha e inclusive, chegou a pensar em uma carreira para você mesmo. Alguma vez se arrependeu de não ter feito?
— Eu não gosto de pensar no passado. É muito inútil. As poucas coisas que faço no porto não têm nada a ver com meu trabalho.
A casa era simples, mas atraente. Uma sala de estar e uma pequena biblioteca, fortemente equipada de frente para o mar, entraram através de um jardim pela porta da cozinha. Uma pequena sala de jantar e um dormitório completavam o restante do andar térreo.
Enquanto Julián voltava trazendo algumas das coisas que ela havia levado, ela caminhou pelas salas com teto com vigas de madeira e paredes de gesso brancas. Os móveis eram simples e de bom gosto.
— É muito encantadora, chamou-o quando ouviu seus passos na cozinha. – Trouxe alguma vez os criados aqui?
— Não.
— Nem sequer Batkin?
— Nem sequer Batkin.
Ele então ficou em silêncio. Só o som do mar e o vento se escutavam. A casa não estava fechada, por isso, não tinha vindo aqui somente no verão. Não seria surpresa se soubesse que ele viajava até aqui deliberadamente, quando alguma tormenta estava gerando, para assim experimentar a natureza em sua máxima expressão primitiva.
Refez os passos até a sala onde o senhor Hampton acendia o fogo na lareira. Enquanto o observava, ela considera por que ele sentia tanta atração por essa casa.
Essa atração vinha do passado. Lembrou-se de um verão, em que estava de visita a Laclere Park e uma terrível tormenta aconteceu. Ela o encontrou na biblioteca de frente à janela, observando-a quase em transe. Ele abruptamente a tinha deixado ali e depois o viu caminhar sob a tormenta como se a emoção daquela fúria, o tivesse atraído sobre si mesmo.
— Isso deve isolar a dos efeitos da umidade,— disse, tirando o pó de suas mãos, enquanto se levantava do lado da lareira.
— Vou fazer um na cozinha também e no dormitório, depois que você escolher o que prefere. Deseja dormir aqui embaixo, ou acima? Os aposentos de cima são muito melhores.
— Eu esperava descarregar, não escolher aposentos. Vou subir e ver qual é mais cômodo.
— Vou acender o fogo na cozinha, enquanto você faz isso.
Ela subiu as escadas estreitas e encontrou três dormitórios. O que ficava de frente para o mar era bastante grande e ela imaginou que deveria ser do senhor Hampton. Os outros dois ficavam na parte de trás da casa e davam para uma pequena horta escondida dentro de seu muro de pedra.
Parou em um deles, examinando sua colcha limpa e cortinas brancas simples e o armário de pinho.
Era um dormitório para uma mulher.
Havia algo nele, um refinamento sutil, que o definia como feminino.
Ou talvez fosse o perfume do quarto o que lhe fez supor isso.
Ela sentiu seu rosto corar. Claro. Que estúpida era ela. Existia outra razão muito boa, para que um homem da cidade tivesse um refúgio isolado, não muito longe de Londres. Um muito prático. E uma excelente razão, para também não ter criados aqui.
Ela não sabia muito sobre o senhor Hampton, no que se referia a mulheres, salvo que havia muitas especulações a respeito dele e muitas paqueras improdutivas, dos quais nunca pareceu perceber.
Parecia que as paqueras não tinham sido em vão depois de tudo. Pelo visto, tinha sido a discrição, não a abstinência, o que manteve essa parte de sua vida oculta do mundo.
Ela passeava pelo dormitório e se perguntou, que mulheres teriam visitado esta casa e se conhecia alguma delas.
Possivelmente, na atualidade havia uma senhora que usasse este quarto e o considerava seu.
— Você quer ficar aqui?
O Sr. Hampton ficou na soleira com seu grande baú em seus braços. Em seu pensamento, viu ele entrar neste quarto para um propósito diferente. Era uma imagem emocionante e perigosa, uma imagem alarmantemente e fácil se desenhou em sua cabeça. Seu coração subiu à garganta.
Quando ela não respondeu ele foi para dentro e colocou seu baú no piso perto do armário.
— Talvez não,— disse ela.
Ele se agachou para levantar o baú novamente.
— O quarto com vista para o mar é muito mais cômodo.— disse ele.
— Sim. Quero dizer, não. Esse é o seu, não é?
— Quando estou aqui sim, mas não vou estar, por isso pode ficar nele. Vai gostar. Você pode ouvir as ondas claramente a noite, é como se estivesse dormindo sobre elas.
— Não acredito que ficaria cômoda em seu quarto, senhor Hampton.
— Como você preferir.— Colocou de novo seu baú no chão.
— Na verdade, estava pensando no quarto ao lado que é menor. Eu estaria mais cômoda ali.
Ele começou a recolher o baú, mas parou. Ele se endireitou.
— Por que é mais cômodo do que este?
— Acho muito encantador e acolhedor.
Uma profunda compreensão, piscou em seus olhos. Ele compreendeu as conclusões que ela havia chegado. Era sua imaginação ou via um pequeno esboço de um sorriso neles, como se tivesse descoberto algo divertido?
— Eu preferiria que usasse esse aposento, tem mais encanto que o menor.
Foi para a porta, deixando o baú onde estava.
– Você pode ver o caminho por esta janela. Quando estiver sozinha, pode achar reconfortante ser capaz de ver que ninguém se aproxima.
Julián trouxe também seu pequeno baú e um pouco de água, deixou Penélope sozinha para que pudesse se refrescar.
Julián se aproximou da sala de estar e olhou pela porta, do pequeno terraço de pedra que dava para o mar.
O dia não estava frio, mas a forte brisa levava o vento salgado. Que soprou ao seu redor, fazendo eco da energia das ondas do mar.
Ele amava a forma, que o som do ritmo do mar tirava os pensamentos de sua cabeça e provocava um profundo conhecimento de si mesmo. Essas reflexões nem sempre continham palavras, mas as conclusões surgiam da mesma forma. Não só pensava em Penélope quando visitava esta casa. De fato, quase nunca fazia, embora ela jamais ter ficado ausente de sua alma. Provavelmente, pensaria nela durante todo tempo a partir de agora, desde que ela caminhou de verdade por estes pisos e que depois que apareceu neste terraço.
Ele imaginou à mulher no quarto acima, estabelecendo-se no dormitório onde tinha chegado à conclusão, que era utilizado por suas amantes.
Não podia decidir se queria sentir sua eterna presença, neste canto de sua vida ou não.
O dia estava claro e podia ver muito longe ao sul, onde os mastros dos navios que se dirigiam pelo Tamisa apareciam no céu. Ele esteve a bordo de navios, para saber se teria desfrutado de uma vida no mar. Mas ele quis dizer o que falou para Pen. Não tinha remorsos, sobre o caminho que havia escolhido em seu lugar.
Havia presumido isso, mesmo que isso significasse transformar-se em um advogado. Seu pai foi um cavalheiro pobre, mas um cavalheiro de todas as formas e os filhos dos cavalheiros que ingressavam na lei, presumisse que se transformassem em procuradores (advogados). Os procuradores não trabalhavam por dinheiro, embora de forma indireta faziam realmente. Embora, o mundo permitisse essa pequena mentira, assim os procuradores fingiam não manchar as mãos com o comércio. Os advogados, no entanto, eram pagos diretamente e isso marcava a diferença para a maioria das pessoas.
Essa escolha tinha significado uma existência mais segura e suspeitava, que uma mais interessante. Os procuradores entravam levianamente na vida de uma pessoa, depois saíam. Os advogados ficavam ao lado de seus clientes até o dia que morressem.
O não teria sido útil absolutamente para Penélope, se não tivesse se transformado em um advogado.
Sua mãe teve alguma ideia sobre o que poderia acontecer? Seria por isso, que lady Laclere o tinha levado a um lado, no dia em que ele completou quinze anos para lhe propor esse rumo para sua vida?
Ela então, pediu a seu marido que pagasse sua matrícula universitária por dois anos e depois conseguisse uma colocação como estagiário nas câmaras de seu antigo advogado.
Ela tinha falado nesse dia, devido sua preocupação com seu filho mais velho Milton e, sua necessidade de um bom conselheiro, uma influência prática quando assumisse o título. Mas então, ela já estava encaminhando sua atraente filha para o conde de Glasbury. Julián sempre se perguntou, se ela suspeitava que sua filha também necessitaria de seu conselho nos anos seguintes.
Se fosse assim, casar Pen com Glasbury teria sido imperdoável.
— Quer comer antes de sair? Eu servirei alguns dos alimentos que trouxe para mim. Ele voltou-se para ouvir a voz de Pen.
Ele estava na porta. Por um instante viu a menina – a mulher que teve a primeira temporada, correndo para ele em outro terraço, emocionada por seu recente compromisso com um grande conde. Ela ficou tão feliz, tão cheia de sorrisos brilhantes, que teve que sorrir com ela, apesar de ter sido o dia mais solitário de sua vida.
Parecia ainda mais bonita hoje. Seu coque simples no cabelo, a fazia parecer mais jovem. Suas curvas inclusive, pareciam as de uma garota inocente.
Voltou para a casa. Pen tinha colocado um pouco de presunto, queijo e pão sobre a pequena mesa perto da sala que dava para a janela.
— Pensei que poderíamos ver o mar daqui, a sala de jantar na parte de trás é escura, disse.
Sentaram ambos ao lado da mesa. Julián sentiu a distração e o desconforto nela. — Ficará bem aqui sozinha nessa noite?— perguntou-lhe.
— Claro. Eu sou uma mulher adulta. Não necessito de atenção como uma menina.
Seu tom era quase um desafio. Não era capaz de imaginar a resposta que esperava, assim não disse nada.
— Estou achando que não foi prudente vir aqui. Eu deveria ter procurado outra solução, disse.
— Você precisava de um santuário.
— Não acho que esta casa deveria ser este santuário.
— Por que não?
— Estou preocupada com sua reputação. Se isso cair ao conhecimento, irão supor que sou sua amante. Glasbury pensará isso e o arruinará.
Ela estava mentindo. Oh, claro que se preocupava realmente com ele, mas não era a razão deste mau humor e dessa resistência agora.
— Entretanto,— continuou,— considerando as possíveis consequências de vir aqui me fez perceber que tenho outra opção, no que respeita ao conde, além de fugir.
— Qual seria?
— Posso ter uma aventura e ser muito indiscreta. Acho então, que se divorciará. Poderia funcionar, não acha? Ele sempre disse, que se eu fizesse isso nosso acordo acabaria, mas já que está tentando acabar com ele de todas as formas…
— Você está bem? Percebo algo estranho. Você está sufocando ou…
— Estou bem.
— O que você acha? Funcionaria?
Tentou chamar seu desinteresse profissional.
— Eu acredito que seria induzi-lo a que se divorcie de você. Ter uma aventura que poderia pôr em perigo a sucessão de seu título e o também o humilharia.
— Você acha que ele iria ao Parlamento? Eu gostaria de nada menos que minha total liberdade.
— Ele desejará voltar a casar-se e ter seu herdeiro, por isso iria ao Parlamento.
— Isso poderia funcionar. Não acha?
— É uma solução ao seu dilema. Eu o teria proposto anos atrás, se você tivesse mais idade e tivesse sido menos meticulosa em sua honestidade.
Ela deixou de comer. Deixou o garfo.
— Você contemplou então essa possibilidade, que eu lhe desse provas de adultério para poder divorciar-se de mim?
— Sim.
Suas pálpebras baixaram.
— Não foi só minha juventude e a honestidade o que o mantiveram em silêncio, acredito. Seu tom definitivamente era uma provocação nesta ocasião.
— Você pensou que eu nunca seria capaz de fazer isso, não é? Por isso, nunca me expôs essa opção.
— Você não queria divorciar-se dele usando o que conhecia dele, por isso julguei que não queria um escândalo.
— Não só o escândalo, mas também o custo de ir ao Parlamento. As finanças de minha família não podiam me apoiar nisso.
— Você poderia ter ido aos tribunais da igreja. Não precisava ser o Parlamento.
— A igreja era uma meia medida, e eu me salvei da humilhação e no final obteria o mesmo acordo, que você sugeriu negociar. Melhor ainda, já que recebi algum apoio e não fui uma carga para minha família.
— Não são os mesmos termos, senhora. Se tivesse ido à igreja, poderia estar divorciada agora e o conde não poderia tocá-la.
Seu tom era firme, estaria condenada se aceitasse a responsabilidade da derrota, pelo curso das decisões que ela havia tomado.
Ele a tinha aconselhado a pôr fim ao casamento. Esteve malditamente perto de lhe suplicar que o fizesse.
O olhar dela caiu em seu colo e a atmosfera ficou pesada. Quando levantou o olhar novamente, seus olhos tinham uma expressão de determinação.
— De todos os modos, esta opção de dar uma razão ao conde para divorciar-se de mim, não estava dentro dos que enumerou naquele dia em seu escritório. Eu sei a verdadeira razão, e não é nenhuma das que você admite.
— Asseguro a você que…
— Você concluiu que eu não poderia suportar estar com um homem, depois do que aconteceu com Glasbury, você supôs que eu estava arruinada para sempre dessas intimidades.
Ela ruborizou profundamente. Ficou espantada por poder falar de assuntos tão delicados, quase como estava surpresa por ouvir semelhante acusação.
Ela fingiu voltar a atenção para sua comida. Sua formação lhe impedia de dar uma resposta.
Menos mal, porque a réplica em sua cabeça, não era própria do tipo medido e profissional, que se esperaria de seu velho amigo e advogado.
— Você aconselha o divórcio agora? Se divorciar-se dele significa fazer com que ele se divorcie de mim— perguntou ela.
— Se não puder dissuadir ele de sua intenção, pode ser que seja a única opção.
— Eu vejo outras. Poderia partir para longe como pretendia desde o princípio.
— Ofuscando sua vida adulta como faz no momento. Vai dar a ele a vitória da destruição de seu futuro?
— Eu ouvi dizer que a América é muito agradável. Viver ali não será minha destruição.
— Para desaparecer, terá que ir para dentro da fronteira, isso comparativamente verá uma cabana como um Palácio. -
— Acho que você exagera. Suspirou.
— Bom, essas são todas as opções, suponho. A exceção de matá-lo, mas isso jamais faria é obvio.
Julián não disse nada.
Ele se levantou.
— Não há necessidade de tomar nenhuma decisão, até eu falar com Glasbury. Vou embora agora, se estiver segura de que pode administrar-se por sua conta. Tenho compromissos em Londres que não posso fugir, e além disso, pode aumentar a curiosidade deles. Entretanto, a visitarei amanhã.
— É uma viagem muita longa para fazer a cavalo, senhor Hampton. Não é necessário que viaje até aqui todos os dias. Criará muitos inconvenientes para você. Inclusive a cavalo, levará muitas horas de ida e volta.
— Voltarei amanhã pela tarde, senhora.
Ela o acompanhou à cozinha e saiu no jardim com ele. Não gostava de sair e deixá-la isolada e sozinha. Não lhe importava a solidão e com frequência a buscava, mas sabia que isso era incomum.
Ela percebeu sua vacilação.
— Vou ficar bem. Agradeço por fazer isso para mim. Por ajudar. Tenho medo de ter soado muito ingrata, enquanto conversávamos. Não sou e quero que saiba.
— Até manhã.
Aproximou-se da carruagem com sua acusação ainda na cabeça.
Ao invés de entrar, virou-se e voltou para onde ela estava.
— Nunca pensei que você estivesse arruinada. Nesse dia, vi que estava assustada, triste e chocada. Sugerir que tivesse um romance naquele momento, teria sido inapropriado e sobre tudo insensível e cruel de minha parte. Mas nunca pensei, que estivesse arruinada para sempre.
Ele virou para a porta.
— Bem, eu achei que seria assim, mesmo você não fazendo isso.
CAPÍTULO 06
Penélope estava lendo uma história dos antigos etruscos na biblioteca, depois que o senhor Hampton foi embora. Quando o sol se moveu o suficiente para deixar em seu lugar a sombra, colocou de lado seu livro e o debate sobre como preencher a solidão diante dela.
A tentação de procurar alguma evidência nesta casa da amante do senhor Hampton era muito grande.
Sentia um desconforto estranho por dentro, queimando lentamente cada vez que olhava o dormitório feminino acima. Sabia que era estúpido de sua parte. Era uma tolice supor, que sua vida estava em branco nas áreas das quais não sabia nada. Se fosse assim, teriam sido meses e anos de abstinência, quando ele não fazia mais que exercer a advocacia, participar das festas dos clientes e de vez em quando, assessorar à condessa de Glasbury.
Aproximou-se da escrivaninha da biblioteca e olhou nas gavetas que definitivamente não deveria ter aberto.
Pelo menos, se ela soubesse que não tinha uma amante atualmente, não se sentiria tão estranha. A ideia de que uma pessoa invisível, jantou com ele a deixou de mau humor na sala de estar. Seria uma amante encantadora, que o Sr. Hampton jamais veria como arruinada para os homens.
Ele tinha mentido sobre isso. Ao invés disso, optou por escutar suas palavras de outra maneira. Talvez, ele realmente não achou que ela seria incapaz de tais intimidades novamente. Mas, não duvidava que, seus olhos refletiam que sua vida estava em ruínas, que se sentia irremediavelmente suja, no que se referia aos homens. É claro, que cada homem de seu mundo era ignorante dos sórdidos detalhes de sua separação, por isso, não lhes importava muito.
Exceto o senhor Hampton, que não ignorava nada em absoluto.
Ela impulsivamente abriu uma gaveta. Uma pilha de papéis estavam ali. Lutando contra a culpa, imaginando ouvir seus passos atrás dela, levantou a tampa e desdobrou um.
Ela leu as duas primeiras linhas e rapidamente a devolveu à gaveta e a fechou imediatamente.
Era um poema de amor escrito pela mão do senhor Hampton. Um rascunho, estava cheio de alterações, antes da versão final que certamente teria enviado.
Bem, isso era tudo. Definitivamente havia tido amantes. Provavelmente estaria em Londres nesse momento com alguma delas.
Pouco a pouco, enquanto passeava pelas salas, se obrigou a pensar na escolha que discutiu hoje. Se ela praticasse o adultério e não mostrasse nenhuma discrição, o conde divorciaria-se dela?
Sua independência foi condicionada a não ter amantes. Se o escândalo judicial, de nenhuma maneira envergonhar a Glasbury, todo o apoio financeiro terminaria e procuraria sua volta.
Ele não disse, mas entendia, que se houvesse provas de adultério as acusações dela ao contrário não seriam um perigo para ele.
Agora, entretanto, o conde tinha quebrado o acordo de todos os modos, por isso outro assunto só poderia forçar sua mão.
Sentou-se na mesa e pegou uma folha de papel em branco. Ela faria uma lista dos homens que poderiam servir para realização desse papel. Ela escreveu o primeiro nome da lista.
Colin Burcbard.
— Ele é suficientemente atraente,— disse para si mesma. Sua voz soou forte na casa vazia.
—Posso pensar que gostará da diversão de um grande escândalo, já que não se preocupa muito com que a sociedade diz. Ele desfruta de ser renomado em correspondência criminal. Todo ano comentavam de sua notoriedade por isso.
— Ewan McLean.
Um escocês perigoso. Bonito e cheio de atrativos, como uma fruta proibida. Nada discreto absolutamente. Já havia realizado um divórcio e tinha algo a dizer a respeito da experiência.
Entretanto, houve rumores a respeito dos fatos acontecidos em seus aposentos em Londres.
— Pode ser que seja muito aventureiro.
Ela claramente escreveu mais alguns nomes dos homens que tinham possibilidades. Ela olhou à última.
Archibold Abernathy.
— Sim, Archie ficaria muito feliz por essa proposta. Ele esteve insinuando constantemente cada ano.
Só que tinha dificuldades ao imaginar-se, fazendo coisas de adultera com qualquer destes homens e mais ainda com ele.
Estudou a lista de seis nomes, perguntando-se como poderia explicar o plano claramente. Teria que ser exposto como um assunto de conveniência.
Tentou imaginar como iria propor uma coisa assim.
— Senhor, poderia estar interessado em participar de um assunto sofisticado, onde exista a intimidade física com afeto, mas não com amor? Você não teria absolutamente, nenhuma obrigação comigo e você seria suficiente, uma evidência de meu jogo de adultério.
Infelizmente, a mulher em sua cabeça que praticava seu discurso, era muito mais mundana que a Condessa de Glasbury. Una mulher adúltera era uma dessas mulheres inteligentes, seguras de si mesmas, que se penduravam em três homens ao mesmo tempo.
Suspirando, molhou a pena novamente. Um ponto pairou sobre o papel, preparado para escrever mais nomes.
Julián Hampton.
Ela na verdade não escreveu. Sua consciência e o bom senso pararam o impulso. Então, sentiu-se surpreendida, pela forma em que seus instintos se aguçaram considerando essa ideia.
Imaginar a si mesma com ele não era difícil em absoluto. As imagens e as sensações através de seu vestido, o calor e a emoção que provocava. Ela na verdade, o viu olhando para ela e sentiu suas mãos acariciando-a.
Ela se levantou bruscamente e foi procurar seu livro. Foi para longe dessa lista, na sala de jantar, onde encontrou um pouco de luz do oeste. Situada perto da janela, ela tratou de continuar lendo sobre os etruscos.
Mas a imagem de Julián não iria deixá-la. Ela riu de si mesma.
Pobre senhor Hampton, ter que lidar com uma mulher cujo medo e solidão traziam para ela tolas e inadequadas especulações.
No final da tarde, Julián bateu na casa de Glasbury em Londres.
Um homem alto e negro pegou seu cartão. Julián reconheceu o criado, da peruca branca, apesar dos anos que passaram. Seu nome é César, um nome comum para escravos das plantações Inglesas. Era um dos criados que Glasbury importou anos atrás de suas propriedades nas Índias Ocidentais.
César retornou e o acompanhou, até onde o conde estava no salão de Glasbury.
Pouca coisa havia mudado no ambiente, já que fazia muito tempo, das muitas vezes que Julián veio chantagear o conde para a libertar Pen. Não foi uma chantagem real, ou penal, mas o efeito tinha sido o mesmo. Se a permitisse sair de sua casa, de sua cama e lhe desse um subsídio, caso contrário ela o arruinaria.
A atribuição do conde não foi generosa, mas calculada para assegurar-se de que sentiria com as privações de sua decisão. A separação não foi sem custo algum para Penélope de outras formas também. No entanto, Julián sabia que inclusive, se sua queda tivesse sido completa, ela teria insistido em afastar-se desse homem.
De cabelo grisalho bem penteado, de terno e gravata representava a perfeição, o conde estava sentado em um sofá pequeno, que o fazia parecer maior do que realmente era. Ele ofereceu uma cadeira próxima para Julián.
— Lamento, não poder ter recebido você da última vez aqui,— disse o conde. – Fico contente por ter voltado.
Sorriu. Charlotte tinha chamado ele de sapo no escritório de Laclere e havia alguma coisa em sua boca frouxa, que o lembrou de uma rã.
— Seu desempenho na casa de Laclere fez necessário que eu comparecesse. Seu desejo que a condessa volte para sua casa me surpreendeu.
— Verdade? Eu esperava que ela confiasse muito mais em você. Afinal, ela contou-lhe tudo.
— O que me surpreende, é que você acha que uma mudança de parecer tem algum significado. Duvido que seus sentimentos tenham se suavizado, por isso a situação continua como estava onde ela o deixou.
— Em minha opinião, a situação mudou consideravelmente. Suficiente, para que esse distanciamento já não seja possível.
— Você pode escrever para ela ou comunicar pessoalmente.
— Já não sei onde está, não posso. Não me diga que ela está em Nápoles, já que estou certo que retornou a Inglaterra. Você também sabe onde está. Afinal, você é seu confidente especial. Seu criado. Seu correio negro de chantagens. A senhora chama e você corre igual a um cachorro bem treinado. Pode ser que não tenha contato com seus irmãos, mas sem dúvida está em contato com você.
Glasbury ficou rígido e parou perto à lareira, como se permanecendo próximo a seu interlocutor fosse desagradável.
— Ela tinha assuntos em Nápoles. Vários assuntos. Que compromete nosso acordo, como você bem deve saber.
— Você tem provas disso?
— Recebi cartas suficientes, que descrevem seus amantes para encher a adega.
— Uma mulher em companhia de um homem em uma função pública não é uma prova.
— Eu sei que ela estava jogando de puta, maldita seja, não vou permitir. É intolerável. Ela é minha esposa. Ela me pertence.
Ali estava. Então, Glasbury queria o casamento. Via Pen como uma propriedade.
A lei atual também, infelizmente.
— Não esqueça do que ela sabe sobre você,— disse Julián.
Glasbury virou e o olhou. Um brilho perigoso passou em seus olhos.
— E o que você sabe, é obvio. Só que você não tem estômago para usá-lo, apesar de ter ameaçado que faria. Invertendo quando o custo pesou para você.
Julián recebeu esta alusão com silêncio. Ele sabia que anos atrás, alguém tentou chantagear Glasbury com dinheiro usando esses segredos. Glasbury acusou Julián de ser essa pessoa e reiterou suas ameaças. Quando a chantagem parou abruptamente, tudo parecia indicar que a interpretação de Glasbury estava correta.
Só que não foi Julián absolutamente.
— A condessa tem a vontade de usá-lo, mesmo você achando que não,— disse finalmente. Repito o que disse, quando entrei pela primeira vez: não mudou nada.
Glasbury caminhou de volta com passo seguro. E se sentou no sofá.
— Acredito que muitas coisas mudaram. O tempo por um lado. Ela tem uma história, mas quem vai acreditar agora? Quem vai acreditar nas fantásticas acusações de uma mulher tão vaidosa e mimada, que quebrou seus votos de casamento e negou a seu marido, um herdeiro? Uma mulher que viaja por toda a Europa, como se ela não tivesse deveres aqui na Inglaterra? Una mulher que espera mais de uma década, para revelar a fonte de sua grande infelicidade? Aos olhos do mundo Hampton, os anos têm feito na sua história de dor muito pouco acreditável. Seu comportamento, tem feito que sua veracidade seja suspeita.
Havia algo em Glasbury, enquanto explicava sua invulnerabilidade. Criava uma aura escura, até que Julián sentiu que estava vendo a alma nua e verdadeira do homem. Não era um espetáculo agradável.
Uma visão antiga e recorrente se introduziu no canto da cabeça de Julián. Ele enfrentando Glasbury em um campo em Hampstead, com o sol avançando por cima das copas das árvores ao redor. Outro homem se unia a eles e abria uma caixa, deixando a vista duas pistolas. O silêncio reinou até que uma voz o tirou de seus pensamentos.
— Ela jogou muito, como você sabe.
— Eu sei o suficiente para ficar aborrecido com você.
— Ah, sim. Agora posso ver derramando sua infelicidade e suas palavras acusando-me. Não há dúvida, de que não mencionou que ela é uma sócia bem disposta, em meus jogos. Que desfrutávamos deles.
O corpo do conde dobrou sobre si mesmo e Julián imaginou suas pernas cedendo e caindo no chão.
— Vou ter ela de volta. Glasbury cravou em Julián um olhar muito confiante.— E finalmente, me dará o herdeiro que negou. Se eu fosse você, não ficaria em meu caminho. Derrubar Laclere requer algum esforço, mas sua destruição vai ser fácil.
— Já fui ameaçado por homens melhores que você Glasbury, assim não espere meu suor. Se seu objetivo é um filho, lembre que a condessa já não é uma garota. Ela já tem quase trinta anos, e seu primeiro filho pode colocá-la em perigo nessa idade.
— Sempre e quando a criança nasça vivo, o que me importa. A resposta plana e insensível congelou Julián.
— E se essa criança não for um menino?
— Então vou querer mais, como outros homens.
— E se não conseguir um menino? Julián não esperou uma resposta à pergunta, mas ele não podia ignorar as respostas obvias. Ao menos a pior delas, parecia muito possível do homem no sofá.
Julián se levantou para ir embora.
— Como já disse, deve escrever para ela com uma explicação de seus planos. Talvez, olhe sua posição de uma forma mais amável do que eu. No entanto, não assuma que a história que ela conhece de você, não acreditem. Se trata de uma história muito sórdida e convincente, além disso, nesses tempos muitas coisas mudaram, incluindo a tolerância da sociedade com os homens iguais a você.
O nevoeiro pairava no período da tarde. A costa se transformou em um véu, pelo tipo de clima que a chuva anunciava.
O céu estava tão baixo que parecia fundir-se com o mar. Somente a altura das ondas pareciam romper a suave extensão.
Pen se sentou na mesa e tratou de trabalhar em seu projeto. Seu olhar se manteve à deriva olhando a lista dos possíveis amantes que tinha feito.
Por último, para distrair-se durante a tarde, trouxe seu manto azul e saiu para o terraço de pedra.
Ela olhou pela extensão infinita, sem horizonte que marca a margem do mar ou do céu. O mar soava abafado e o vento parecia quebrar-se com a atmosfera.
Viu que uma escada de pedra levava até o penhasco da praia. Uma pequena embarcação se balançava nos redemoinhos a vinte metros mais abaixo.
Ela desceu as escadas estreitas e caminhou rumo ao sul na areia úmida, respirou fundo tomando um pouco de ar e fazendo exercício. Quando uma grande onda salpicou seus pés, tirou os sapatos e continuou em seu caminho com os pés descalços.
A areia sob seus pés lembrava a Nápoles. Havia caminhado tanto na costa com o jovem Paolo.
Filho mais jovem de um conde, Paolo dedicava sua vida a compor óperas medíocres e a entreter damas estrangeiras com seu encanto. Sentia a areia e o calor no rosto. Sentir a água fria banhando sua pele em um glorioso contraste.
A lembrança de Paolo a fez sorrir. Ele fazia adulações frívolas e dizia palavras de amor facilmente, que não sentia de verdade. Mas eram divertidas de escutar. Nápoles estava cheia de homens como Paolo. Ela esteve livre de preocupações, passeando com jovens à luz do dia e gozando da felicidade que oferecia Nápoles.
A luz do teatro. A felicidade era superficial. Ela esteve representando um papel, como o que brincava quando era uma menina com seus irmãos e representavam um épico medieval com o Julián sobre as ruínas de Laclere Park.
Não. As brincadeiras da infância foram mais honestas.
O fio de uma onda trouxe frio aos seus pés e ela teve que brincar de correr perto do escarpado para evitá-la. Olhou ao seu redor e percebeu que tinha caminhado muito mais do que achava.
Seu isolamento sua consciência soava como um sino. Nenhuma outra alma podia vê-la. A casa inclusive, não estava a vista. Outra onda anunciou a maré cheia. E havia faixas da praia que ameaçavam ser inundadas.
Girando nos calcanhares, rapidamente se dirigiu para a cabana.
Esteve a ponto de não ver o homem. O dia era tão cinza e não era mais que um borrão de uma figura, no céu nublado. Estava no caminho acima do escarpado, de costas para ela, sem mover-se como se olhasse para algo.
A casa era a única coisa visível da costa. Era a única coisa que o homem estaria olhando de lá.
O medo a puxou de volta. Disse a si mesma, que estava sendo muito paranoica. Certo, sem dúvida, teria que caminhar e aparecer normalmente e não como se fosse uma fugitiva também.
Finalmente, ele se mexeu. Simplesmente desapareceu.
O medo outra vez a estremeceu. Alguém que acaba de caminhar de um lugar para outro ao longo desse caminho, não poderia desaparecer. Continuaria seu caminho.
Olhou para cima e para baixo na praia. Muito mais ao sul, podia ver as casas de um povoado de pescadores.
Talvez, ele tivesse saído dali, mas ela não acreditava. Parecia que ele usava um casaco e não é como um pescador gosta de se vestir.
Ela chegou mais perto das rochas que salpicavam a margem de dentro da praia, longe das ondas por isso, qualquer pessoa que procurasse abaixo do caminho do escarpado ou da casa, não poderia vê-la.
Ela deslizou pela parede do escarpado para a casa. A cem metros da casa, tinha um ponto. Escondida atrás dessa barreira superficial, ela olhou a seu redor e olhou para seu santuário.
Um movimento atraiu seu olhar. Na escuridão, como uma sombra movia-se ao passar na beira do terraço. Alguém estava dentro da casa.
Seu coração pulsava tão forte, que sentiu ele em seus ouvidos. Pensamentos de pânico derramaram em sua cabeça, em uma confusão.
Ela e Julián deveriam ter ido embora naquela manhã. Esse homem era o conde. Ele estava procurando ela, estava certa disso. Talvez, tenha entrado na casa e visto seus baús. Talvez, agora iria utilizar o barco para procurá-la na praia.
A água fria verteu em seus tornozelos. O impacto da sensação, restaurou alguns de seus sentidos. Segurando a saia e as anáguas, virou-se e correu de volta pela costa, procurando desesperadamente, um lugar para se esconder.
Ela ficou perto da superfície da rocha, rezando para que não a tivessem visto do terraço.
O vento a seu redor, trazia o frio da noite. Penetrava direito em seus ossos, com a ajuda do frio do terror.
Sentia a bílis que ameaçava deixá-la doente, lançou um olhar ao longo das rochas, enquanto corria. Duas grandes rochas se projetavam.
Ela se apertou entre elas. Envolveu em seu manto com força ao redor dela e se sentou sobre uma cama de areia atrás delas.
Os dentes apertados e o coração pulsando com histeria terrível de um animal encurralado, enquanto esperava ser descoberta a qualquer momento, inclusive enquanto rezava por sua salvação.
—Não é de seu agrado, acredito.
A voz suave e feminina apenas penetrava nos pensamentos de Julián. Seu corpo poderia estar nessa reunião, mas sua cabeça estava em uma casa de campo na costa, sentada perto do fogo com Penélope.
A revelação das palavras em sua despedida, continuavam repetindo-se em sua cabeça.
Ela havia pensado que estava arruinada por culpa de Glasbury. Durante anos acreditou.
Mas isso havia mudado. Finalmente, um homem tinha ressuscitado o que o conde havia matado. Um homem que não sabia nada, do porque tinha abandonado o conde, que não tinha escrúpulos sobre o adultério e que achava que nada poderia colocar em risco sua independência, que não havia nenhum escândalo em volta dela.
Por que lembrava daquele assunto agora? Lembrar do seu amante, apesar do que tinha passado?
Provavelmente, ainda amava o homem. Se ela voltasse a esse assunto, provavelmente poderia perdoar Witherby.
— A senhora Morrison. Não foi de seu agrado?— Diane St. John repetiu.
Ele virou-se para sua anfitriã. Tinha cabelos castanhos abundantes, olhos quentes e sentimentais, possuía uma espécie de delicada beleza que se tornou mais interessante com os anos. Sua graça natural conquistava o tempo, não importava como seu rosto fosse na batalha contra o mesmo.
Normalmente, ficava contente por participar das reuniões dos St. Johns. Nesta entretanto, transformou-se em um fardo. Se não fizessem perguntas mais tarde, teria se desculpado e não participaria.
— Ela é muito bonita e encantadora,— disse Julián. Lady Morrison estava próxima. Sua boca se mantém em movimento.
— Foi sua escolha, ou tenho que agradecer à lady Laclere pela apresentação?
Diane voltou a sorrir.— Eu disse que você reconheceria o jogo rapidamente. Fomos tão óbvias?
— Cheguei à conclusão, há um mês que certas damas dirigiram sua atenção à procura de uma esposa para mim.
— Não necessariamente uma esposa. Existe certa preocupação de que possa estar sozinho, isso é tudo.
Não, não era necessariamente uma esposa. Olhou para um canto da sala, onde lady Pérez estava sentada em um sofá, rodeada de homens que riam e se abatiam sobre ela. Duas vezes lhe tinha chamado a atenção e jogou um olhar longo e quente.
Ele não acreditava, que o tinha incluído essa noite em sua causa. Sua personalidade vivaz tinha assegurado muitos convites, porque animava qualquer um nas reuniões. Havia causado sensação na sociedade e pelo começo da temporada, sem dúvida, seria um acessório inclusive, da maioria das festas da alta sociedade.
Diane percebeu sua atenção.— Daniel não acredita que ela seja da Venezuela,— confiou-lhe secretamente. – Ele diz que seu sotaque é muito diferente do senhor Pérez. Ele acha que talvez, ela seja da Guyana.
— Desde que seu marido passou algum tempo nessa zona do mundo, ele deve estar certo.
— Ainda assim, não está convencido de que ela seja a esposa oficial de Raúl Pérez. Que não acredita que o senhor Pérez, permita sua mulher paquerar com essa liberdade, como tem feito. Além disso, é óbvio que tem um pouco de ascendência europeia. Raúl é filho da elite crioula e muito meticuloso com a linhagem de sangue de sua legítima ascendência.
— Uma amante?
— É possível. O que você acha? Está correto meu marido?
— Acredito, que as festas em Londres prometem ser muito teatral nos próximos meses se ela for, mas acho que os dramas reais serão disputados em privado.
O olhar de Diana fez uma exploração lenta, como anfitriã do salão, para assegurar-se de que ela não fosse necessária.
— É muito indiscreto que, nos perguntemos a respeito de sua felicidade e também por tentarmos exercer influência?
— Sinto-me honrado. Se não cooperar, não é por falta de compreensão de sua bondade. Não desejo procurar uma esposa, mas estou agradecido por ter tão bons amigos.
— Disse a Bianca e a Sofía que eu não acreditava que cooperaria,— confiou.— Eu disse que acho que é um homem, que espera algo diferente do que possamos organizar.
Julián não tinha ideia de como responder a isso, assim não disse nada. Tampouco fez a proprietária da casa. Ela ficou perto dele, entretanto, esperou um tempo para continuar a conversa. Essa era uma das coisas que viu Diane sobre o St. John desde o inicio. Nem sempre se sentia obrigada a quebrar o silêncio.
Desta vez, entretanto, sentiu uma agitação nela, como se quisesse falar, mas se reprimia.
Finalmente, deu um passo mais perto.— Charlotte me falou de Glasbury. Nunca gostei desse homem. Lembro a primeira vez, que vim a este país e Penélope se tornou minha amiga. Recentemente o havia deixado e ele fez tudo o que pode, para que seus antigos círculos a deixassem de lado. Inclusive, insinuou entre os novos amigos o que ela fez, por isso, sua presença seria inaceitável.
— A condessa sabia o que iria acontecer.
— Pen é uma das minhas mais queridas amigas. Ficaria muito tranquila, se soubesse que está sã e salva e que Glasbury não a encontrou.
— Não tenho nenhuma razão para acreditar que não está segura.
Sua expressão se borrou.
— Por favor, então venha comigo. Tenho algo para lhe dar.
Julián a seguiu do salão, para o silêncio da ampla biblioteca. Se aproximou da mesa e pegou uma carta selada de sua gaveta.
— Por favor, pegue isso senhor Hampton. Daniel possui propriedades na Inglaterra e na Escócia. Esta carta contém informação sobre algumas de suas localidades e instruções às pessoas que cuidam delas, para lhe dar boas-vindas, se por a caso for alguma vez de visita. Estas são casas preciosas, isoladas que é possível que deseje visitar algum dia.
Julián aceitou a carta.— Não antecipo a visita, mas estou muito agradecido pelo convite.
— Você pode decidir que, um pouco de ar pelo país seja atraente algum dia. Com esta carta você poderá desfrutar de um impulso.
— Você é muito generosa.
Naquele momento, a porta da biblioteca se abriu e o proprietário da casa entrou por ela, Daniel St. John normalmente era ou muito distraído ou muito intenso. Nessa noite parecia o último. Seus olhos escuros, afiados e sua boca dura sorriam a sua maneira, naturalmente sarcástica.
Ele era armeiro e financista de imensas riquezas, St. John era francês de nascimento, embora tenha percorrido a maior parte do mundo. Seu passado era um mistério para todos, exceto para seus amigos mais próximos. Bastava olhar seu rosto e concentrar a atenção, para ter a esperança para que nunca fosse seu inimigo. Inclusive, sendo distraído não era indiferente, seu rosto parecendo um pouco cruel, advertia que não podia jogar com um homem como ele. Julián suspeitava que seu êxito nos negócios, se devia a sua inteligência com os números e o brilhantismo de suas estratégias. Só um parvo, conhecendo St John, poderia considerar que seria parte de uma mentira ou fraude.
— Aqui está, Hampton. Os outros se juntarão a nós em breve. Desculpe-nos, Diane. Essa reunião com Dante sobre o projeto de Fleur Durham será breve, prometo. Nossos hóspedes não saberão.
Diane foi embora. Julián deslizou a carta em seu casaco.
— É bom saber que é um bom amigo Hampton, e que confio em minha esposa totalmente. Outro marido ficaria muito curioso sobre essa carta e seu conteúdo.
— Suspeito, que vou encontrar sua escrita nela quando abrir e não a dela.
— Sim. Bem, ela se preocupa com a condessa. Agora que fizemos uma tentativa para ajudar, vai ter menos dificuldades.
St. John se aproximou da mesa e tirou um pacote selado.
— Ela não sabe nada disso, no entanto, preciso de sua discrição. Se ela for consciente de que senti a necessidade de dar esse passo, só vai preocupá-la mais.
Julián pegou o pacote.— O que é isso?
— Uma lista de meus navios, portos de escala com a Grã-Bretanha e França, e as datas previstas das saídas. Também tem uma carta minha, que poderá entregar a qualquer dos capitães, com as ordens de proporcionar passagem à pessoa que o apresente.
Julián tocou a beira do pacote, pensativo.
— O que você sabe?
— Não muito mais do que os outros. No entanto, a condessa é uma mulher com um grande senso de dever. Se ela abandonou a Glasbury, deve ter tido boas razões. Não é muito difícil supor quais poderiam ser.
Ouviam passos cada vez mais perto da porta da biblioteca.
— Espero que você saiba que estou disponível, se alguma vez necessitarem de minha ajuda de algum jeito.
Julián sabia. Tornou-se evidente, entretanto, que seus amigos mais próximos estavam convencidos que Penélope estava de fato na Inglaterra e que Julián estava ajudando a escondê-la.
Infelizmente, Glasbury teria concluído a mesma coisa.
CAPÍTULO 07
Julián se dirigiu à costa antes do amanhecer do dia seguinte. Ele foi montando seu cavalo. A noite era chuvosa, mas o tempo foi melhorando assim que amanheceu.
Quando se aproximou da casa de campo, se permitiu fantasiar um pouco, a saudação de Pen ao ver que voltou. Levou seu cavalo ao estábulo, mas não viu o rosto de Pen na porta ou na janela. Não saiu para saudá-lo. É obvio que não. Ela tinha mais coisas na cabeça, que o retorno de seu fiel advogado.
Ele cuidou de seu cavalo e foi para a casa. Seu silêncio parecia crescer à medida que se aproximava. O clima era familiar, mas deslocado no dia de hoje. Agora, alguém morava na casa.
Assim que entrou, sabia que não estava certo.
Ela foi embora. Os aposentos ecoavam o vazio. Olhou no terraço, esperando encontrá-la. Subiu as escadas, sabendo que não estaria ali.
Porém, seus baús estavam ali. Sua presença o gelou por um momento. O medo que ela tivesse sido sequestrada durante sua ausência, fez seu sangue gelar.
Não, não acontecido isso. Ela havia se mudado. Levou escondido suas coisas de valor, deixando seus baús e desapareceu. Não havia outra opção, que garantisse sua liberdade, por isso, foi pela escuridão onde se sentisse segura.
Levando em conta seu encontro com Glasbury, não estava muito seguro, de que ela tomou uma decisão ruim.
A alma dele se esvaziaria de todos os modos, como se fosse uma casa de quarto vago. Voltou a descer, ressentindo o silêncio da casa como jamais fez antes.
Solitário. Que tipo de homem dava boas-vindas a uma coisa assim?
No terraço, olhava para a água abaixo.
Foi sem dizer uma palavra. Sem aviso prévio e sem despedir-se.
A maré da manhã estava baixa, o barco balançava no mar. Tirou seu casaco, cachecol, a camisa e desceu os degraus de pedra. Ele se derramou através da espuma rompendo na areia e subiu no barco. Pegou os remos e remou para o mar.
Com o exercício se sentia bem. Assim fez o sol com sua pele. Que ainda continha o restante do calor do verão, mesmo com o vento tendo uma amostra da mordida do inverno. A tensão dos braços e das costas, a luta contra as ondas aliviaram algumas das turbulências nele.
Talvez, ela só tenha tomado essa decisão, depois de sua partida ontem. Talvez, ela não se atreveu a dizer-lhe, porque pensou que poderia interferir.
O mais provável é que não confiasse em sua decisão, porque ela não sentia necessidade. Era só seu advogado. Seu servo. Seu correio escuro, como havia chamado Glasbury.
Tornou-se mais difícil levar os remos. Desejou estar em um dia de tempestade, com onda maiores. Desejava a fuga que o exercício lhe dava, assim, sua cabeça estaria muito cansada para absorver a verdade desoladora que cortava sua alma em pedaços.
Jamais voltaria a vê-la.
Uma onda grande capturou o barco e o levantou. Ele parou de remar e deixou que o levasse em frente, voando e cambaleando nessa parede de água. Ele deu uma olhada na casa.
Seu olhar parou e correu de volta a esquerda. Uma mancha de cor azul chamou sua atenção. Azul safira e não a cor do mar, as rochas cobriam embaixo de uma queda acentuada, pela trilha do penhasco.
A onda o levou para baixo e virou o barco. Remou para o sul pela costa com toda sua força, rezando para que a capa azul não cobrisse uma tragédia.
Pen entrecerrou os olhos para o brilho mar. Ela achou que era um barco que remava para o horizonte.
É obvio que não. Não fazia nenhum sentido. Uma pessoa sã não remava mar adentro.
A menos que a pessoa procurasse examinar toda a costa...
Esses homens esperaram até agora para ir procurá-la? Apesar do cansaço que tinha rasgado seu espírito, o velho terrível pânico começou novamente.
Olhou para trás para a parte da areia, que tinha procurado na noite anterior. Que foi submersa durante a maré alta.
Ontem a noite, se viu obrigada a subir nesta grande rocha, quando a maré ficou cheia. Ficou escuro então, mas agora não estava escuro e ela estava visível e vulnerável.
O mar quis reclamar seu lugar, mas aparentemente já não aumentaria. Pelo menos, a maré ficou baixa. Em poucas horas teria a praia para caminhar de volta à casa de campo, correndo o risco. O vento úmido e frio tinha molhado sua roupa e seu manto úmido não oferecia muito conforto. Tirou ele de qualquer maneira e tentou ignorar o frio que fazia bater seus dentes.
Procurou o barco novamente. Talvez, estivesse errada. Se não, não havia nada que pudesse fazer agora, para não ser detectada. Estava tão cansada e se sentia tão miserável que sequer estava certa, que já a importaria de ser encontrada.
De repente, o barco ficou à vista, muito claramente. Longo e escuro, movendo-se paralelo à costa, vindo em sua direção.
O pânico aumentou.
Um grito a chamava pelo seu nome.
Seu coração deu um pulo. Lágrimas de alívio nublaram sua visão.
Era Julián. Ele havia dito que voltaria de tarde e aqui estava nessa manhã, tinha vindo procurá-la.
— Julián, — virou para chamar.— Eu estou aqui, Julián me salve.
O barco se aproximou. Podia ver seus braços tensos puxando os remos, os cabelos negros flutuando no vento e seus fortes ombros resplandecentes de gotas de água. Pareceu tão magnífico que esqueceu de seu risco.
Remava direto para ela, depois largou o remo e permitiu que o mar lhe trouxesse navegando sobre as rochas submersas.
Chegou a três metros de dela. Se jogou na água, que ficou por cima de sua cintura, colocou o barco entre as duas rochas e caminhou para ela.
Estava seminu, parecendo ser um Deus do mar caminhando através de seus domínios. Os músculos dos ombros e do peito pareciam esculpidos, certamente muito bom para o papel.
— Como chegou até aqui?
— Tinha um homem e não me atrevi a voltar, escondi-me e depois, a maré subiu e fiquei presa.
Ele a levantou em seus braços, sem esforço. Braços fortes, lhe davam as boas-vindas e a reconfortaram.
— Explique mais tarde. Seu vestido está molhado e você está gelada. Temos que estar perto do fogo.
Nos poucos passos que ele deu, seu corpo foi se afrouxando tanto, que seu perigo e alívio minaram os restos de seu espírito. Colocou sua cabeça em seu ombro.
O calor de sua pele e a segurança de sua força quase a derreteram.
Fez uma pausa e a olhou, seu rosto apenas a centímetros do dele, tinha tanto uma expressão severa como de alívio.
Ele a colocou no barco como se fosse feita de porcelana e depois subiu empurrando de novo pelo mar. Se sentou frente a ele, tremendo em sua capa molhada, enquanto ele remava para a casa.
Ela admirava, o movimento de seus músculos nus por este esforço. Provavelmente, devia olhar para a água ou para o chão da embarcação, mas seus braços e o torso a tinham hipnotizado.
— Você veio me procurar, depois que não me encontrou na casa?
— Se estivesse feito, teria vestido uma camisa. Não era um repreensão, somente uma declaração que dizia que não estava procurando por ela.
— Eu gosto de remar como exercício. Quando estou em Londres, frequentemente faço no Tamisa pela manhã.
Ela estava muito cansada para sentir vergonha, mas conseguiu não olhá-lo tão descaradamente.
— Não achou estranho que não estivesse ali?
— Achei que tinha decidido abandonar a casa.
Que ela o pudesse ter deixado, não parecia lhe dar surpresa ou espanto para ele. Ele havia simplesmente voltado para as atividades, que normalmente fazia ali.
— Tenho muita sorte, por ter me visto e que tenha percebido que estava presa pela maré.
— Vi o azul de seu manto. Não sabia como tinha chegado ali.
Não soava, como se estivesse ficado muito preocupado. Saiu para remar, viu o azul de seu manto e foi investigar por curiosidade.
— Era minha esperança obviamente, de encontrá-la viva.
Um incômodo em sua voz, chamou sua atenção. Ela olhou em seus olhos e desviou sua atenção para os remos.
Se havia se preocupado de fato, foi da pior maneira. Remou por volta pensando que poderia encontrá-la morta, afogada no mar ou de uma queda. Talvez, não uma queda acidental.
— Eu jamais me feriria por causa dele, Julián.
Ele os levou às escadas de pedra, empurrou o barco na água rasa e o amarrou. Ajudou-a descer e ela cambaleou pela rigidez que sentia nas pernas e pelo cansaço que havia roubado suas forças. Seus braços a seguraram novamente. A levou pelas escadas à biblioteca.
Sentou-a em uma cadeira e se inclinou ao mesmo tempo, para acender o fogo.
— Ele morreu,— disse.— O fogo. Talvez, não tenha ficado aqui por toda a noite, depois de tudo.
— Quem?
Ela contou sobre o homem na casa.— Não me atrevia a voltar aqui, para não encontrá-lo me esperando.
Acendeu o fogo com um rugido agradável e depois, a aproximou para que se esquentasse perto dele. Se sentia tão bem que ficou sonolenta.
Escutava-o vagamente em seu estupor, enquanto se movia pela casa.
Uma mão em seu braço a tirou da névoa.
— Fiz um banho na cozinha perto do fogo. Uma tina quente. Você se sentirá melhor com isso.
Ela realmente não queria mexer-se. Roupa molhada ou não, sentia que chegava o alívio da dor profunda e implacável do frio.
— Veem, Pen. Estou preocupado com você saúde.
Ela suspirou.— Se você insisti, senhor Hampton.
Obrigou-se a levantar. E encontrou seu nariz a uma polegada de seu peito. Ele tinha vestido uma camisa. Que lástima.
Seu olhar foi para seu rosto. Um de seus raros sorrisos a saudou. Não era um completamente suave.
— Então, eu sou o senhor Hampton de novo. Parece que só sou Julián, quando esquece de si mesma.
— Eu sei que...
— Nos conhecemos mais da metade de nossas vidas Pen.
Ela não percebia que às vezes, lhe chamava de Julián.
— Não quero que me chame senhor Hampton, em uma conversa particular nunca mais.
Ele deu passo para o lado.— Desci algumas roupas secas para você. Estão perto da banheira. Se precisar de outra coisa qualquer, simplesmente me chame.
Julián colocou a tina de metal perto do fogo e a tinha cheio com água quente. O fogo imediatamente começou a filtrar o frio de fora dela.
Não podia ignorar o fato de que, um homem estava muito perto. Sabendo que estava ali, sentiu uma lânguida excitação travessa. Quando se inundou para enxaguar o cabelo, imaginou que ouvia seus passos se aproximando dela. Um alarme emocionante lhe atravessou.
— Não encontrei evidência de intrusos na casa.
Assustou-se ao ouvir sua voz e rapidamente, olhou por cima do ombro para a porta. Não estava ali. Ele devia estar no outro lado.
— Você está certo?— perguntou ela.
— Do mesmo modo, não há marcas de rodas ou de um cavalo ou as impressões de pegadas que não sejam as minhas.
— Não imaginei esse homem Julián.
— Não estou dizendo que você fez isso. No entanto, é comum que as pessoas que utilizem o caminho do escarpado e cruzem o terraço, ao invés de caminhar em volta da propriedade. Isso acontece inclusive, quando eu estou aqui.
— Então fiquei em perigo por nada mais que uma imaginação extrema.
Se viu alguém na casa, você teve uma boa cautela. Se o medo a manteve nas rochas toda a noite, deveria ter esperado que eu aparecesse.
Essa conversa que acontecia, enquanto tomava banho nua a somente dez metros dele, criava uma intimidade sedutora. Ela não deixava de olhar à porta, esperando ver que se movesse.
— Vou controlar meu medo no futuro Julián. Terei que aprender a fazer isso, não é?
— Acho que será mais fácil, eu ter certeza de que você não tenha medo Pen.
Ouviu um pequeno ruído. Fechou os olhos e esperou, que a mudança no ar lhe dissesse que ele estava na cozinha.
Não chegou ninguém. Ela olhou para trás. A porta permanecia firmemente fechada. Provavelmente se afastou, voltando de novo para a biblioteca.
É obvio que tinha feito.
Ela olhou seu corpo nu, avaliando o que um homem veria se entrasse enquanto se banhava.
Seus seios estavam cheios e firmes, sua estreita cintura era satisfatória para o estilo atual, apesar de ter ganhado um pouco de peso, jamais foi capaz de perdê-los.
No entanto, não havia nada especial nela. Nada surpreendente, fisicamente ou de outra maneira. Nunca foi o tipo de mulher, que fez os homens perderem a voz. A única coisa notável nela foi ter abandonado um conde recém-casada e que não era o tipo de coisa, que provocava admiração.
Ela terminou de lavar a si mesma, consciente de que o homem na sala ao lado, poderia ouvir tudo, mas com certeza não levava em conta. Havia se retirado, provavelmente naquele lugar privado onde seu cérebro vivia a maior parte do tempo. Desnecessário dizer que, o senhor Hampton ou Julián, tinha se perguntado alguma vez, de como seria sem roupa.
Passando o tempo, a água começou a esfriar-se e precisava sair. Ao pisar no chão, com o som da água e das toalhas esfregando sua pele, ruborizou-se do muito que desfrutava sua consciência, de que ele ouvia tudo, inclusive se ele não se importasse com ela. Foi o banho mais gostoso que havia tomado.
Pegou suas roupas. O vestido era um dos que se ajustavam ao corpo e agora ficava um pouco grande, por isso não ficaria muito ridículo. Vestiu a camisa, saia, meias e conseguiu prender o vestido. Em seguida, foi para a biblioteca.
Ele não estava ali. A sala estava vazia e começou a rir. Não só não havia escutado como também, não ficou sequer na casa.
Uma manta estava no sofá. Ela entendeu o gesto. Ele concluiu, que ela queria descansar.
Se reclinou e colocou a manta em volta dela. Ele ficaria até que ela despertasse, estava certa. Ela estava a salvo.
Ele ouviu cada movimento. Cada apresentação. Cada respiração.
Em sua cabeça, viu ela tirar a roupa, peça por peça, até que ficou nua com sua pele suave e de cor rosa. Imaginou a plenitude de seus seios e a forma de suas curvas elegantemente esticadas quando entrou na banheira.
De pé na biblioteca viu e ouviu tudo. O despertar de toda uma vida reclamava. Apertando os dentes, obrigou-se a ter certo controle, mas a vontade de entrar na cozinha esteve a ponto de ganhar o jogo.
Finalmente, para evitar que ela presenciasse esse furioso impulso, saiu da casa. Ele passeava ao longo do caminho, observando novamente a evidência de uma visita ontem a noite.
Não havia dúvida, que alguém esteve ali. Pen não era o tipo de mulher que o medo a faria imaginar uma coisa assim. Era óbvio que era uma pessoa da localidade, que usava o caminho do penhasco. Não usava transporte ou cavalo e não havia indícios, de que se aproximou da casa pelo caminho.
Ele voltou novamente pelo jardim. A janela da cozinha lhe acenou. A tentação de olhar seu corpo o tinha apertado novamente.
Ele riu de si mesmo. Ali estava ele, um homem adulto, estabelecido e respeitado, que queria jogar uma olhada em uma janela, em uma mulher nua, igual a um colegial.
Ele não se aproximou da janela, mas sua cabeça viu lá dentro da cozinha de todo jeito. Pen submersa em uma banheira, com seus ombros suaves, cabelos escuros e com os seios visíveis encantadoramente. O calor da água tinham transformado sua pele brilhante e vermelha, e os bicos de seus seios se endureciam com o ar fresco.
Tratou de lutar contra a imagem que provocava nele, mas não conseguiu. Durante anos lutou contra a fome que o provocava. Havia aprendido se retirar para controlá-lo. Suas vitórias foram privadas e sem sentido, sempre reconstruiu os muros de um jeito seguro em seu lugar.
Ele conseguiu se manter dono de sua vida. Agora, o perigo de Pen o fez vulnerável às reações mais primitivas e já não conseguia dominá-las.
Perto do muro do jardim, fechou os olhos com uma fúria selvagem, enlouquecida. O desejo de possuir e proteger se transformou em um impulso violento e sem sentido.
Ele sabia que jamais seria capaz de conter totalmente a paixão novamente.
O que significava que, no futuro, sua vida seria um inferno.
Ele estava lendo em uma poltrona perto da lareira, quando ela abriu os olhos. Usava calças e casaco secos. Parecia relaxado e confortável. E muito bonito. O fogo brincava em seu rosto, por isso, seus olhos pareciam mais profundos e escuros do que o normal. Os esculpidos planos de seu rosto, estava lindo com as luzes e as sombras nítidas sobre ele.
Julián. Estava contente por ele ter insistido, que deixassem as formalidades. Ela não lembrava a partir de quando tinham adotado.
Deixou o livro ao lado.— Sente-se melhor?
Ela se levantou e colocou a manta de lado. Olhou para as sombras da sala.
— Sim. Receio que dormi muito tempo. Parece que esta entardecendo e você deve iniciar a viagem de volta, se quer chegar antes do anoitecer.
— Não tenho intenção de voltar hoje.— Disse com tanta naturalidade, como se isso não implicasse em algo impróprio. Provavelmente, porque não era, pelo menos para ele.
— Acho que é melhor eu ficar aqui, até que decidas o que fazer e assim, poderei organizar o que precise,— disse.— Do contrário, essa noite você poderá escutar que homem voltou e correr até o mar tentando fugir.
— Não sou tão tola Julián.
— Não, você não é. Mas tem muito medo. Se eu ficar aqui, acredito que terá menos.
O que era verdade.
— Tem um quarto em cima dos estábulos. Vou usar esse.— disse ele.
Estava segura que seu bom julgamento, lhe falaria com mais claridade se não o visse ali, sentado tão insuportavelmente bonito. Em vez disso, parecia um pouco tolo manter as aparências dadas as circunstâncias. Eles estavam sozinhos aqui e onde ele dormisse, na verdade não faria nenhuma diferença no mundo que conhecia. Tampouco representava algum perigo para sua virtude.
— Não sou uma colegial ruborizada. Se for ficar, deve estar confortável também. Enquanto, a decisão a respeito de minha situação, pensei em tomar uma decisão amanhã.
— Bom, eu esperarei até que decida. Disse para meu secretário que dirigisse as coisas, em minha ausência e organizei que outro advogado, trate de qualquer assunto que não possa esperar.
Levantou-se e devolveu o livro para sua estante. Enquanto caminhava de volta, passou perto da mesa.
Seu olhar caiu sobre a superfície. Ele parou.
Estendeu a mão e endireitou o documento que estava na mesa.
— O que é isso?
— Um folheto. Estive usando o tempo aqui para trabalhar nele. Ele examinou a primeira página.
— Você está prevendo publicar uma declaração sobre as leis do casamento?
— É necessário que alguém iniciasse uma discussão a respeito.
Levantou o documento e o leu.
— Está bem escrito Pen.
Os olhos dela brilharam com o elogio.
— Não é só meu. Estive trabalhando nisso com algumas outras damas. A senhora Levaram e algumas outras, em uma situação similar à minha.
— Tem a voz, de Pen. O mesmo tom das cartas que enviava para mim. A mesma música. Tem a intenção de colocar seu nome nisso?
— Levarão mais a sério se o fizer. O nome da condessa lhe dará mais influência.
— Glasbury sabe algo disso?
— Não posso imaginar como poderia saber.
— Suspeito que o projeto é bastante bem conhecido em certos círculos de mulheres. Só precisa de uma pessoa para espalhar o rumor até que chegue em seus ouvidos.
— Está insinuando que, minha participação nesse ensaio pode ser a razão pela qual está se mexendo contra a mim?
— Levando em conta parte de sua linguagem, sim poderia ser a razão. Vamos a ver, como estava dizendo uma frase por aqui? Ah, sim, aqui está “Leis que permitam às mulheres se protegerem de estarem condenadas a uma vida de escravidão miserável, quando descobrem que seus maridos não são cavalheiros decentes, a não ser vis e violentos fetos do demônio”. Uma passagem muito impressionante Pen, muito poderosa.
— Não é como se na verdade o estivesse chamando em particular de vil e violento feto do demônio. Está muito claro, que estava falando em termos gerais.
— É o motivo pela qual está dando às mulheres para que sejam capazes de deixarem seus maridos. Você deixou seu marido. Por enquanto, supõe-se que era pelo seu jeito de ser. Portanto, está chamando-o de vil e de malvado.
Ela bateu na almofada do sofá com tristeza.— Bom, ele é vil e malvado. Não espere que eu modere minhas palavras Julián. As mulheres são escravas no casamento e isso deve mudar.
Ele deu um olhar novamente para os papéis, mas estava claro que não terminaria de lê-los.
— Suas experiências endureceram seu ponto de vista. Não são todas as mulheres escravas. As mulheres de seus irmãos parecem muito felizes.
Esta foi uma das razões pela qual, nunca contou a seus irmãos a respeito desse projeto. Nunca poderiam entender.
— Se uma mulher casada não é como uma escrava em um casamento, é só porque seu proprietário é gentil. Seu estado está totalmente sujeito ao capricho de seu marido. Esse folheto será publicado, querido amigo. Aconteça o que acontecer com Glasbury, esse ponto não será negociável.
Sem mais comentários ele se virou para deixar o documento sobre a mesa. Enquanto fazia, outra folha que havia estava debaixo dessa chamou sua atenção.
Ela gemeu por dentro. Era sua lista de nomes, para sua relação de conveniência.
Ele a olhou.— Parece que você não cuidou só de levantar as armas, para libertar as mulheres casadas da servidão.
— Sobre a possibilidade, de ficar na Inglaterra penso em planejar uma festa.
Ela não sabia por que tinha mentido, mas algo nos olhos dele provocou o impulso.
— Uma festa muito interessante. Somente convidados varões.
Isso era realmente muito embaraçoso.— Se você quer saber, eu estava considerando a opção de uma aventura. Pensei que deveria considerar se tal coisa era possível ou sequer se vale a pena contemplá-lo a sério.
— Então, esta é uma lista de candidatos prováveis.
Ele levou o papel perto do fogo, onde tinha mais luz para ler.
— Colin Burchard se sentirá honrado em saber que é um candidato.
— Na verdade, eu realmente não acho que ele seria conveniente.
Olhou o papel de novo.— Ewan McLean? -
— Bom, na verdade.
— Ewan McLean?
— Só foi uma...
— Nápoles deve ter sido mais agradável para você colocar McLean na lista.
— Não sei por que tanta desaprovação. Disse que era uma ideia digna de consideração.
— Eu disse que a ideia era algo que valeria a pena considerar, não que fosse com Ewan McLean. Em primeiro lugar, eu não lhe permitirei a isso Pen. Ele definitivamente não é para você.
— Acho que sou eu quem deve decidir, quem é para mim e quem não.
— Ao inferno com isso.
Não tinha ideia do que isso significava, mas sua atitude e o tom de sua voz a irritou.
— É muito difícil escrever fazer lista. Principalmente, porque não será mais que um assunto de conveniência. Eu não quero as complicações de um homem me professando um grande amor ou, que Deus não queira, com vontade de casar-se depois do meu divórcio.
— Parece que planejou tudo, até no mínimo detalhe.
— Essa parte, sim. Se eu me livrar com este jogo, não tenho a intenção de me transformar em um móvel novamente. Seria uma idiota para me casar de novo. E quanto a essa lista, é surpreendente como poucos nomes pude juntar, sem submetê-los a prova primeiro.
— Submetê-los a prova?
Era quase um grito o que proferiu Julián. Fez com que ela mantivesse os ombros no encosto do sofá.
— Bom, não realmente, literalmente “prová-los.”
— Talvez, deveria colocar um anúncio nos jornais. Podes colocá-lo em cima das fotos dos animais. Solicitando um garanhão ou algo um pouco parecido.
Agora, ele estava fora da casinha e além disso, estava sendo muito grosseiro.
— Que esplêndida ideia,— respondeu ela— Mas porque sair com metáforas? A abordagem direta é sempre melhor. Pode ouvir isso? Precisa-se de um cavalheiro, para um assunto de conveniência temporário. Com boas referências de suas amantes anteriores. Deve estar disposto a ser nomeado em um processo de divórcio. Deve ser apresentável, com experiência e ter um belo traseiro.
Seu olhar, disse-lhe que não achava nem um pouco engraçado.
— Não entendo porque está reagindo desta maneira Julián. Você concordou que este assunto era uma solução simples. Ontem soava uma solução muito promissora.
Ele leu a lista uma vez mais com aparência irritada.
— Percebo que meu nome não está aqui.
— É um homem honrado, é obvio, e…
— Você se preocupa com minha reputação? Que generoso de sua parte. Caminhou para ela. Sua expressão escura a deixou sem respiração.
— Entretanto, já que sou o único homem que, mostrou a vontade de arriscar-se sem ter medo do risco, parece-me uma estranha razão para me omitir.
Estava agora na frente dela.
— Na verdade, demonstrei que estou disposto a arriscar tudo, inclusive sem obter o prêmio do prazer. Se você decidiu conceder seus favores, acho que deveria pelo menos estar na competição, mesmo que seja apenas por cortesia e nada mais.
Ele olhou para baixo. Ela não podia falar.
Eu também sou o único homem, que entende totalmente o que pede e o porquê Pen. O único que sabe por que é necessário este assunto de conveniência e o que isso não significa.
Não era o velho amigo Julián quem a olhava, com esses olhos cheios de fúria, nem era o senhor Hampton seu fiel conselheiro. Era um homem diferente, que estava a poucos centímetros dela, obscuramente aborrecido, projetando uma aura que roubava seu ar e fazia acelerar o coração.
Ele colocou a mão em seu rosto. Ela o olhou em silêncio com assombro. Esse toque a fazia se sentir muito bem. Masculino, quente e seguro.
— Talvez, não me incluiu porque não achou que poderia me desembrulhar bastante bem. Afinal, nunca me submeteu a provas desse tipo.
Sua mão lhe ordenou a manter a cabeça firme. Uma antecipação sensual corria através dela.
A cabeça dele desceu e pressionou sua boca.
Não foi um beijo longo, mas a surpreendeu. Ela respondeu como se uma brisa sexual tivesse entrado dentro dela. O beijo foi o suficientemente firme e o tempo suficiente para deixar claro, que não era um beijo de amizade, tampouco um pedido.
Ele parou e se endireitou. Seu olhar lhe afetou mais que o beijo. Sequer podia piscar.
Em seguida, ele foi caminhando com calma até a porta do terraço como um homem que, de repente, percebe que tem outros assuntos para resolver.