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CAPÍTULO 08
Se o beijo era uma indicação de sua habilidade, Julián Hampton poderia muito bem ser absolvido.
Esse foi o primeiro pensamento lúcido que aconteceu na cabeça de Pen, quando recuperou certo controle sobre sua agitada condição.
Sentou-se no sofá, tentando encontrar alguma explicação a essa repentina mudança em sua amizade.
Não tinha ideia do que deveria fazer agora.
Levantou-se e olhou pela janela. Não estava no terraço.
Poderia pensar que se sentia insultada por aquele beijo, ou que agora ela suspeitava de suas intenções. Aquele beijo poderia mudar tudo a respeito, de como ela via as motivações para sua ajuda e proteção.
Ela não desejava perguntar se esse foi o caso dela.
Seu casaco estava à vista, assim pegou a manta e a envolveu ao redor de seus ombros. Ela foi ao terraço para ver onde ele estava.
Julián não estava longe do último degrau da escada de pedra, em uma saliente faixa de areia da praia, lançada pela maré. Era uma bela imagem em pé, cercado pelo mar, seu cabelo escuro em contraste com seu casaco de cor clara. Seu corpo tinha uma postura casual, como se meditasse sobre os elementos e como se as forças da natureza fluíssem através dele.
Ele não parecia ser alguém que nesse momento, desejasse a intromissão em sua solidão.
De qualquer forma, ela foi para as escadas e parou perto dele.
Ele não olhou para ela. – Devia ter ficado na casa de Pen.
— Eu não vou ofendê-lo. Estou bastante recuperada de meu teste.
— Isso não é o que eu tentava dizer. Olhou-a brevemente e depois voltou sua atenção para o mar.
— Não tenho a intenção de me desculpar, se for isso que você espera.
— Não há necessidade de fazer isso. Foi um impulso. Todos agimos muitas vezes sem pensar.
— Sim, pode ter sido um impulso. Também, pode ter sido a coisa mais intencional que eu tenho feito em toda minha vida. Eu ainda não decidi qual foi.
Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas se sentiu obrigada a dizer algo.
— Estou surpresa e isso é tudo. Lisonjeia-me também, sem dúvida, mas sobre tudo me surpreende. Não fazia ideia de que, alguma vez pensasse em mim dessa maneira.
— Por que não poderia? Você é uma mulher atraente e os homens, habitualmente pensam nas mulheres dessa maneira em todo caso.
Isso sem dúvida dava ao episódio uma cor diferente. Também explicava o motivo real para aquele beijo. Algo comum que não tinha nada a ver com os impulsos, ou mesmo com o fato de que pensasse nela dessa maneira.
O orgulho dele estava ferido. Sua masculinidade tinha sido insultada, porque a condessa de Glasbury não o incluiu na tola lista de possíveis amantes, não lhe importava qual amante ela finalmente escolhesse.
Bom, o que ela esperava? Podia ser um velho amigo, mas no final continuava sendo um homem.
— Julián , eu quis dizer quando se referia que não estava em minha lista, é que é um homem honrável e o risco que seria para você esse escândalo. Quase escrevi seu nome, na verdade. Minha pluma estava disposta a fazer, mas considerando tudo o que perderia, foi o que me fez parar. Claro, que a ideia veio em minha cabeça, mas dadas as circunstâncias achei melhor não considerá-lo.
Ele parou na frente dela, entre ela e o mar, escutando com diversão. Estendeu a mão e brandamente colocou dois dedos em seus lábios, parando sua intenção de acalmar seu orgulho.
— É muito amável de sua parte tentar explicar Pen. Também é um erro. Teria sido melhor, que não falasse isso.
Ela pegou sua mão entre as suas.
— Eu achei que devia lhe dizer isso Julián. Eu não quero insultar ou machucá-lo por causa de uma estúpida lista.
O olhar dele se fixou em suas mãos unidas. Seus olhos tinham pequenos relâmpagos que os iluminavam.
— Tocar-me agora foi outro erro Pen. Um muito grande.
Ela sentiu como se estivesse dentro de uma névoa imprecisa, quando ele a puxou em seus braços e a capturou em um abraço que a cobria.
Beijou-a de novo, mas foi diferente dessa vez. Definitivamente impulsivo. Perigosamente furioso. Ela poderia ter controlado suas reações no último beijo, se tivesse realmente desejado. Esse beijo lhe dava uma pequena escolha para a submissão.
A manta a envolvia, mas a força dele também cercava. Seu abraço apertado a mantinha tão próxima, que ela podia sentir tudo dele. O peito de Julián pressionava seus seios e ele compreendia que, ela estava desfrutando dos beijos em sua boca e em seu pescoço.
Ele parou e a olhou, não havia equívoco na forma em que a olhava. Não havia dúvida, da fúria sensual de seus olhos. Tampouco podia ignorar a forma em que seus lábios se incharam e pulsavam por seus beijos, como seu pulso batia frenético em seu peito e sob seu pescoço para seus seios. Essa pulsação emocionante, transformou sua inicial surpresa em um sedutor alarme de êxtase.
Seu corpo inteiro reagiu, diante seu olhar audacioso. Os batimentos do coração, se transformaram indubitavelmente em sexuais e seu ritmo batia seu sangue, sua cabeça e fisicamente em seus seios além do estômago.
Ele sabia. Novas luzes dançavam em seus olhos com esse conhecimento. Não importava o atordoamento que seu rosto pudesse mostrar, poderia dizer que seu corpo atuaria imprudentemente se ele a beijasse novamente.
E ele fez, sem piedade. Despertou como se soubesse exatamente o que fazer. Cada beijo estava calculado, para deixá-la impotente à escalada do prazer que prometia.
Um incrível prazer. Como um vento quente de prazer. Suaves correntes de fome fluíam sem compaixão inundando-a em uma piscina de desejo. Seus seios cresceram fortes, cheios e sensíveis. A umidade começou a grudar em suas apertadas coxas. Ela logo notou, que seus passos retrocediam para a seca areia na base do muro do terraço. Ele olhou para baixo, como se a areia fosse a única opção que ela teria para escapar.
Ele desdobrou a manta na areia e tirou o casaco. Ela abraçou seu calor durante o seguinte beijo. Sentia-se muito bem enquanto ele a segurava, a felicidade que invadiu seu espírito a deixava sem defesas. Os beijos a acalmaram. Eram doces, lentos e muito ternos. Seu corpo estava desfrutando tanto desse lento prazer, que se arqueava pedindo mais. Ele se apoiou em um braço e a olhou, a imagem que ela viu dele permaneceria em sua memória até seu último dia. O vento despenteava seu cabelo escuro e as mangas de sua camisa. Seu olhar seguia as carícias de sua mão em seu rosto e pescoço.
— Deseja voltar à casa ?— perguntou ele.
Ela não pôde resistir de tocá-lo também. Acariciou o rosto que a olhava e os lábios que a tinham beijado. Adorava a sensação de sua pele sob seus dedos. Suas intensas reações a confundiam, aterravam-na e outra parte dela tremia com antecipação, reconhecendo exatamente o que desejava, mas a consciência gritava dizendo que devia se retirar, antes de arriscar e complicar as coisas arruinando sua amizade.
— Eu não sei exatamente o que é que desejo. — finalmente respondeu.
—Eu sim. — Suas carícias desceram por seu pescoço. Ela sentia brilhos de calor em sua pele.
— Melhor, você deveria ficar Pen e desfrutaremos do mar e de outras coisas também...
O beijo seguinte lhe disse o que poderia acontecer e o que não, mais que uma promessa era um pedido e ela sabia que no fundo de seu ser, sempre seriam amigos. Ela não sabia o que desejava e ele não tentaria tomar vantagem disso.
Não estava confusa, a não ser absorta nas sensações e nas mudanças. Quando perguntou se desejava mais, ela não pôde negar.
As intimas carícias em sua boca, enviavam incríveis tremores por todo seu ser, incentivando seu corpo, fazendo-a sentir impaciente por mais proximidade.
Suas carícias foram descendo ao lado e sentiu sua mão claramente. Sua mão se moveu de novo, sobre a plenitude de seus seios com a mesma confiança, como se ele tivesse desempenhado assim, milhares de vezes antes.
Só que nunca aconteceu e o inesperado poder do prazer que enviou ao seu corpo, a fez estremecer. Desejava desesperadamente que continuasse tocando-a. Seu corpo se moveu instintivamente para animá-lo. Inclusive, sua respiração soava a um ritmo que suplicava por mais.
O que sua mão fazia agora a estava matando, seus dedos encontraram seu mamilo através do tecido e o acariciou enviando correntes de excitação para baixo de seu ser. Ela fechou os olhos tentando controlar a loucura, que ameaçava destruir sua compostura. Devolveu o beijo, pedindo para aliviar o aterrador desejo, que se construía dentro dela.
A mão dele se moveu para seu ombro, gentilmente a fez virar de lado. Sua decepção só durou um momento, antes de sentir como ele desabotoava seu vestido.
Ele acomodou novamente a manta em suas costas, então lentamente foi baixando seu vestido e sua camisa. Deslizou o tecido para baixo revelando seu corpo. Ela deu uma olhada, no que ele estava vendo. Seus seios subiam nus em cima das roupas reviradas. Seu corpo estava completamente nu até a cintura. Ele se apoiou em um cotovelo deixando-a totalmente vulnerável a seu olhar. A sensação de estar nua e exposta era incrivelmente erótica.
Sua mão descansava no estômago dela e seu olhar escuro para sua pele branca.
— Você é muito bonita Pen. Perfeita e suave.
Baixou as pálpebras e viu a mão dele sobre ela. Seus seios cresciam sensíveis devido a sua proximidade. Inclusive, o vento parecia despertá-los.
— Muito suaves, — murmurou ela. — Esse vestido precisa permanecer em cima, pois você esqueceu de me levar o espartilho.
Ele acariciou onde deveria estar o vestido.
Não esqueci nada. Aqui não há mais ninguém além de mim. Não precisa de uma armadura antinatural. — Fica bonita neste vestido e mais bonita com ele fora de seu corpo...
Tranquilamente, quase vagarosamente, ele traçou um caminho com seus dedos entre seus seios e ao redor de seus mamilos. Eles se endureceram em resposta e uma coceira de antecipação ao que viria, começou a deixá-la louca outra vez.
Acariciava-a como se tivesse todo o tempo do mundo. Ela apertou os dentes e tentou conter o que estava acontecendo dentro dela.
Seus dedos roçaram gentilmente um mamilo. Ela teve que engolir um soluço. Ele o rodeou suavemente e efetivamente até que ela pensou que começaria a gritar.
— Faz quanto tempo Pen? — Ele olhava sua mão, enquanto desenhava padrões nela e via como seu corpo reagia.
— Quanto tempo faz que não a tocam? — Seu polegar esfregou a ponta de seu mamilo. A sensação derrotou seu controle e ela se mexeu arqueando suas costas.
— Não faz muito tempo. — surpreendeu-se de poder falar, pois mal conseguia respirar. — Mas… — Seus dedos continuavam com a suave tortura. — Mas o que?
— Eu precisava ser cuidadosa, certo? Ficar em guarda. Não podia confiar, ou correr riscos de perder o controle.
Ele estava absorto em seus pensamentos, enquanto continuava lentamente despertando seu corpo. Sua cabeça se inclinou sobre seu outro seio.
— Há quanto tempo não faz amor?
Ela podia tocar nele agora e deslizar seus dedos dentro de seu cabelo, enquanto ele dava beijos suaves em seu seio.
— Quer dizer completamente?
— Sim. Completamente.
— Nunca. Desde que deixei o conde.
— Nem mesmo com Witherby?
Esse nome liberou uma corrente de tristeza, dentro de sua felicidade. Uma antiga humilhação e uma decepção se deslizou através de seu coração. Estava surpresa de Julián mencionar Witherby agora, entre todos os momentos.
Ninguém lhe havia mencionado ter conhecimento desse antigo amor. Nem Julián ou seus irmãos, ninguém deveria saber.
— Não podia me arriscar a ter um filho. Glasbury poderia reclamá-lo como dele e tirá-lo de meu lado e meu filho estaria condenado ao poder desse homem.
Ele parecia surpreso por sua resposta. Tinha concluído, que havia sido uma relação completa. Ela esperou que todos tivessem acreditado nisso.
— Não, eu suponho que não se arriscaria a isso, — disse ele — Fazendo amor de forma incompleta, não abandonar a si mesma, porque não confia nos homens. — Sua mão retomou o caminho sinuoso.
— Confia em mim Pen?
Confiava? Seu corpo parecia que sim. Do contrário, estava traindo ela da pior maneira.
— Parece que sim.
— Fico feliz. — Ele beijou de novo seu seio. Dessa vez sobre a ponta do mamilo. Sua língua a sacudiu fazendo-a gritar.
— Agora, não quero mais conversa, não desejo ouvir outro som que não seja o mar, o vento e seus gritos de prazer.
Estava muito seguro de que ela gritaria. Usava sua boca e sua mão para derrubar qualquer controle que ela ainda tivesse.
Seus seios ficaram cada vez mais sensíveis e ele provava cada um com sua língua e dentes. O abandono fazia gestos em sua consciência, alimentada pelos prazeres que sugeriam que desse o controle total para ele, para obter algo que não podia ter e que furiosamente desejava. Ela não podia lutar contra isso, não queria lutar. Seu coração sabia que não precisa, não dessa vez. Seu corpo inteiro e sua cabeça renunciavam neste momento o controle. Entrou em um lugar, onde somente as sensações mais puras existiam, em um estado de prazer e desejo, de maravilhosas respostas físicas. Não ouvia o mar ou o vento. Somente a pulsação de sua necessidade e seus próprios gemidos entravam em sua cabeça. Escutou sua voz lhe perguntando mais uma vez, — Confia em mim Pen?
Uma nova carícia explicou sua pergunta. Descendo em seu quadril e coxas, pressionando sua anágua. Seu corpo respondeu por ela, levantando-se para receber seu toque, se omitindo dos riscos, esquecendo do perigo.
Ele pressionou seu centro quente entre suas pernas e ela quase desmaiou de alívio. Nada mais importava agora, exceto que estava sendo tocada ali.
Cada sensação, cada emoção estava nesse lugar e gemeu mais de prazer. Sentiu uma nova nudez, vulnerável, maravilhosa e uma mão quente e suave sobre suas pernas. Ela abriu seus olhos para ver a queda de sua saia amassada e sua anágua em sua cintura.
Levantou-se de seu abraço e olhou onde ela poderia ver. Acariciava suas coxas mais lentamente como fez com seus seios. Ele se virou para ela e ela o aproximou para beijá-lo loucamente, lhe dando livre acesso a todo seu desejo sexual.
Ele continuou sua carícia para cima até que seus dedos tocaram o único lugar, onde se focava toda sua essência. Um traço, um toque suave e lento, fez seus soluços ficarem presos em sua garganta. A intensidade do prazer que sentiu, a impactaram. Ele beijava suas faces suavemente.
— Não perca a coragem agora. Se você se arriscar a se abandonar, poderá conhecer o que isso realmente significa.
Tocou-a novamente, mais profundo. Ela se segurou nele com mais força, apertando suas costas para conter essas pequenas sensações que agora a abandonavam.
— Abre as pernas Pen.
Seu corpo obedeceu. Desejava fazer isso. Inclusive, a impressão estava muito delicioso para recusar. Ele derramou beijos lentos em seu rosto, nos seios, enquanto sua mão criava calafrios que subiam através de seu sangue e depois desciam outra, vez para o mesmo lugar. A carne que ele acariciava pulsava tão fortemente, que parecia o ritmo de sua própria vida. Agora, ela ouvia as ondas em sua cabeça, misturadas com as lágrimas que já não conseguia conter. Chorava de prazer e frustração. Seu corpo gritava por algo. A intensidade era cada vez maior e sua loucura mais envolvente.
Seu espírito entrou em um lugar sem sentido e perigoso. Mesmo assim, o prazer crescia pressionando cada vez mais alto, até que ela cambaleou na beira da sensação mais poderosa e mais dolorosa. Ele a beijou forte, como se seu toque forçasse a última etapa. Seu grito saiu como a sensação de ele tê-la penetrado, explodindo.
Depois desse raio impressionante, seguiu uma linda chuva de prazer e a paz fluía através dela, pulverizando sua magia.
Ela estava tão adorável, que seu coração não podia suportar. O assombro dela correspondia ao seu próprio. A praia parecia um lugar místico, separado do mundo real, um ponto pendurando entre os sonhos e a realidade, entre o céu e a terra.
Seus suspiros e os suaves movimentos de sua pulsação pareciam as ondas do mar ao vento. Ele percorreu com seus dedos a superfície de seu rosto, desfrutando da sensação de sua pele suave. Ele a olhou como sempre desejou, devagar e cuidadosamente, seus olhos memorizaram cada detalhe para não esquecer de nada. Tocou-a como tantas vezes imaginou fazer. Em seu rosto, ao redor da sua testa, sua mandíbula e queixo. As pequenas rugas ao redor de seus olhos. Beijou-as também, elas eram o símbolo de suas risadas, de sua doce disposição e de sua habilidade para ver o bem e ter esperança, sem se importar com seus próprios problemas. Também, representavam as vezes que a tinha desejado. As festas, os jantares, a solidão de seu quarto. Desejando-a como uma parte de sua própria existência, era algo que ele não se lamentaria ou se arrependeria. Agora, que finalmente ele tinha provado o que tanto desejou. Sabia que não deveria ter feito, mas não se importava com nada agora. Ela não disse nada, enquanto estava deitada entre seus braços, era um abraço tão sereno que poderia ter ficado assim para sempre.
O pôr do sol e o vento frio, entretanto, lembrava-lhe que não deviam continuar ali.
Ela deixou-o colocar suas roupas e a cobrisse com a manta. Não fez objeção, quando apoiou suas costas contra a parede e a atraiu novamente em um abraço ao seu lado. Juntos olharam as sombras da tarde sobre as rochas e o oceano. Os olhos dele veriam essas imagens diferentes a partir de hoje em sua cabeça, pela paixão de Pen.
Nunca escutaria o mar novamente sem escutar seus suspiros e seus soluços de paixão.
E a admissão de que não teve amantes, pelo menos não totalmente. Por ser o homem que a desejava, ficou encantado de ter escutado, mas o amigo que conhecia suas desilusões não ficou. Com o passar dos anos, esteve com muitos ciúmes das pequenas evidências dos amantes, mas ele não desejava sua solidão e muito menos sua infelicidade.
— No que está pensando ? Não lhe incomodava seu silêncio, mas se perguntou por que estava tão calada.
Ela se aconchegou para mais perto e apoiou sua cabeça em seu ombro. — Estava pensando em eu que, realmente devo lembrar-me de colocá-lo em minha lista agora...
Ela tinha levado tudo muito bem.
— Perdemos completamente a cabeça, não é Julián? Penso que foi muito bom e acredito que a intimidade com um bom amigo é melhor que com um grande amor. Por um lado há mais confiança.
Não ficou surpreso, de ela ter decidido que isso foi um impulso entre dois velhos amigos. Possivelmente, assim era melhor.
— Também estive pensando, se fazendo uso dessa lista seria o melhor, ou deveria se encontrar seguir outro caminho. O que acontecerá comigo se ele não reagir como nós esperamos que faça? Se depois, de um romance público e embaraçoso ele não se divorciar de mim?
— Ele não será capaz de ignorá-lo. Não é um homem que gosta de aceitar tais coisas.
— Não, mas poderia decidir tratar o assunto de outra forma — Sua tranquila voz dizia como profundamente esteve pensando em tudo isso.
Sim, ele é capaz de fazer isso. A indignação de Glasbury o levaria a tomar um passo definitivo, para cortar essa relação.
Ela se liberou de seu abraço e ficou de pé. Sacudiu a manta — Tenho que decidir algo logo, não posso fugir mais...
Não, ela não podia e não só pelo o que havia acontecido nessa areia.
Seu humor havia mudado. Ela saiu sutilmente, mais que fisicamente.
Ele ficou onde estava. – Eu vou dormir em cima do estábulo.
Com à luz da noite, ela o viu um pouco triste.
— Continuas sendo meu amigo, não é Julián? Vamos continuar como antes, não é verdade? Não vamos permitir que o que aconteceu aqui mudo isso, certo?
— Claro que não.
Sua postura pareceu relaxar. – Então, não precisa dormir no estábulo.
— Então, vou a usar o quarto debaixo.
Ela riu um pouco.— Sim, será melhor.
Ele a viu subir pelas escadas de pedra. Dormir em baixo não era somente o melhor. Era essencial. Ele nunca descansaria se utilizasse o quarto ao lado do seu nessa noite. Inclusive, duvidava de que fosse capaz de permanecer em sua própria cama. Esta não era a noite, para pôr mais ainda a prova de sua confiabilidade.
Voltou a olhar o mar ficando negro pela noite.
Ele tinha mentido para ela, quando disse que não havia mudado sua amizade.
Na verdade, mudou absolutamente.
CAPÍTULO 09
Pen se ajeitou em sua cama. Tentou dar um nome, ao que aconteceu com Julián.
Ela sabia que havia mulheres que, tinham romances com propósito de também obter prazer físico.
Seus breves encontros íntimos, foram apenas pequenos jogos e nada mais. Seus romances incompletos, foram somente isso e nada mais, com exceção de Witherby. Ela teve experiência suficiente, brincado com carícias roubadas e pequenos flertes. Mas isso, foi mais diferente que um entusiasmo superficial. Sua relação de amizade com Julián tinha ido além disso. Agradável, mais íntima, ela acreditou nele, mas isso tinha mudado tudo. Essa amizade estava confundindo suas reações de outras maneiras. Se ela não o conhecesse há muito tempo, se sua história não fosse tão próxima há anos, a sensação de ter sido beijada por ele, não seria tão assombrosa.
Afinal de contas, ele era um homem e ela uma mulher. Como ele dizia, porque teria que pensar nela de outra forma?
Por que não deveria reagir a seus beijos? Se ela não fosse tão estúpida, ela deveria ter percebido que, sua contínua proximidade nesses últimos dias poderia levar a esse comportamento. Todo mundo sabia que os homens, se inclinavam para seus impulsos sexuais com a menor provocação.
Virou-se de costas e escutou o silêncio. Julián deveria estar dormindo profundamente, em seu quarto no primeiro andar, diretamente abaixo do dela. Tentou escutar se roncava ou se mexia.
As lembranças dos seus abraços permaneciam em sua cabeça. Eram tão reais, que sentia suas carícias novamente. A fantasia despertou. Seu corpo voltou a desejar suas carícias.
Não duvidava que a abstinência teve um papel muito importante também nessa noite. Possivelmente, quando uma mulher passava muitos anos sendo adulada e tendo relações incompletas, ficaria disposta a abandonar-se e baixar a guarda.
A beleza e a paz que ela tinha encontrado nessa paixão, tinha sido mais sedutora que do que prazerosa. Ela foi tão inocente. Como se Glasbury não existisse. Jamais havia se sentido tão completa, esquecendo todos esses anos passados.
Julián estava certo quando a repreendeu por não tê-lo incluído nessa lista. Se ela tivesse um romance com ele, não precisaria lhe explicar nada. Sabia por que ela estava fazendo. Ele podia entender o risco que teria com essa relação.
Poderia ter um romance carinhoso com um bom amigo e não uma relação superficial de simples conveniência. Não seria humilhante e barato. Quando chegasse ao fim, eles poderiam continuar sendo amigos.
Ela imaginou essa relação amorosa explicitamente. Imaginou caminhando através de sua porta com seu peito nu como esteve no barco. Ela o sentia deitado ao seu lado na cama e tocando seus seios. Via-o em cima dela e seu corpo imaginava ele entrando nela. A fantasia era tão intensa que sentiu uma excitação que a transpassava. Ela pegou seu casaco. Desceria e o encontraria acordado, esperando-a. Só sabia que ele estava pensando nela, tal como ela pensava nele. Até a casa de campo estava gemendo com o desejo de completar que tinham começado na areia.
Poderiam ter esse romance e o conde se divorciaria dela. Seria livre.
Ela abriu sua porta. Novas imagens entraram em sua cabeça. Matando-a de antecipação. Congelou sua mão no trinco da porta. Imaginou Julián sendo interrogado, na Casa dos Lordes quando o pedido de divórcio fosse proposto. As acusações do pedido de Glasbury poderiam ser desumanas e cruéis, tratando seu amante como um delinquente.
Os motivos de Julián poderiam ser impugnados. Sua falta de honra ficaria explícita. Os periódicos imprimiriam também cada palavra e todos poderiam ler. Todo mundo. O escândalo se tornaria público e o desprezo implacável. Muitos de seus clientes também o abandonariam. Outros advogados poderiam evitar de fazer negócios com ele. Inclusive, o uso de seus serviços, por parte de seus irmãos se veriam comprometidos. Se ele fosse chamado por um conde, por um comportamento criminoso com uma condessa, seria sua ruína.
Era pedir demais, não importava a extensão do prazer que ele receberia com sua negociação. Ele já tinha sido muito nobre e amável. Assim, como foram seus beijos. Ele estava oferecendo um resgate a uma donzela em apuros, embora o malvado dragão pudesse queimá-lo horrivelmente, enquanto a salvava.
Esse era um problema seu e não dele. Seu erro juvenil e de sua vida desperdiçada. Era indesculpável que ela o arrastasse em sua queda.
Retornou para a cama com uma tristeza em seu coração, que não entendia ou esperava.
Tentou concentrar-se em suas outras opções menos egoístas.
— Não sabia que cozinhava também.
Julián se virou ao escutar o som da voz de Pen. Não ouviu ela descer. Seus olhos olhavam os peixes assando na frigideira, enquanto ele estava imaginando como Glasbury reagiria seu pedido de divórcio.
No caso de que, realmente chegasse ter um divórcio. Ele não pensava que poderia ter. Se Pen tivesse um romance com Julián Hampton, de todos os homens, Glasbury desejaria fazer muito mais coisas, que simplesmente destruir o amante de sua esposa.
Ela olhou por cima de seu ombro, sua presença próxima, fez com que seu sangue queimasse novamente.
— Pescou-os nessa manhã? Deve ter se levantado muito cedo.
Muito cedo realmente, já que ele não tinha dormido quase nada. Ela tampouco o tinha feito. Ele escutou seus passos no quarto de cima, durante toda a noite. Ouviu como passeava pelo seu quarto. Silenciosamente o impulsionava a fazer isso. Seus dentes apertavam com a intensidade de seu desejo. Sua cabeça estava exausta, pela batalha que levava contra o impulso de subir as escadas.
Cada um de seus passos acima dele, tinha enviado fragmentos nervosos através de seu crânio e de seu sangue. Sua longa pausa o havia enlouquecido. Amaldiçoou energicamente, quando ela se deitou.
Ele deslizou os peixes em dois pratos e os levou a sala de jantar. Pen chegou trazendo o chá e o pão.
Ela estava muito bonita na luz suave que entrava pela janela do norte. Seu vestido nessa manhã era mais da moda que o de ontem, verde com rendas marfim no pescoço e um trançado preto no corpo da saia, que se ajustava em sua cintura estreita e depois se abria em uma saia cheia no quadril feminino, que conhecia graças às carícias de ontem. Mangas com punhos bem fechados por uma longa fila de botões.
Ela conseguiu entrar em seu espartilho e nas anáguas hoje. Havia sentido a necessidade de usá-los como armadura.
Quando os passos acima pararam na porta, ele imaginou o que ela o faria.
— Decidi o que fazer Julián.
— Decidiu o que fazer ou o que não fazer?
— Eu não sei o que significa essa pergunta.
Sim, sim, maldita seja.
— Por favor, diga seu plano.
Ela colocou toda sua atenção em servir o chá para os dois.
— Não é realmente um plano. Só decidi qual vai ser meu próximo passo.
Não farei amor com Julián Hampton; isso era o que ele realmente já sabia.
Ele comeu o café da manhã, lhe permitindo decidir como daria uma explicação sobre o que tinha a ver com ele. Esperou o turno dos eventos com silêncio, porque a reação dentro dele estava a ponto de explodir com palavras não muito gentis.
— Eu não gostaria que Glasbury controlasse essa situação, disse ela. — Se ele ficar mal humorado, eu serei obrigada a escolher entre a miséria ou o escândalo. Não é justo. Não comigo e tampouco com quem eu escolha criar esse escândalo.
— O mundo não é justo. A lei do casamento certamente também não é. O ressentimento não soluciona seu dilema.
— Não, mas na noite passada estava tão furiosa, que pude ver outra opção. Ele pensa que tem tudo a seu favor, para estar seguro. Eu não acredito. O acha que seria minha palavra contra a dele. Não é necessário. — Ela o olhou de frente — Cleo poderia apoiar minhas acusações.
Ele recostou em sua cadeira surpreso. — Não deseja me usar, mas deseja usar uma menina?
— Ela já não é uma menina.
— Ela estava meio louca quando a tiramos de lá.
— Isso faz anos que aconteceu. O tempo cura bastante. Possivelmente já esteja curada.
— Estou atônito com o que você considera a fazer.
— Ela pode desejar fazer isso. Pode ser que queira denunciá-lo. Você considerou isso? Eu acho que ela deve lembrar daqueles anos com uma visão diferente agora. Se eu fosse ela, o odiaria e não teria medo dele. Desejaria um pouco de justiça.
—Está pedindo por justiça Pen? Você vai se divorciar e o contará tudo? Ou só usará este testemunho para que você e Glasbury continuem com o acordo, como foi todos estes anos?
Sua expressão disse tudo. Ela tinha pensado que com esta ameaça, Glasbury se retiraria e a deixaria em paz.
Havia concluído que, mantendo a chantagem era a melhor solução.
A irritação estava em seus olhos. — Pensa que gosto de viver nesse limbo no qual eu vivo? Que dou boas-vindas?
— Estou certo que não. Entretanto, também acho que se Glasbury não tivesse feito esse movimento, você o aceitaria para sempre.
— Por que sou uma covarde?
— Não, porque isso significaria que ninguém mais seria ferido, exceto você. Mas acredito que ele fará qualquer coisa para assegurar-se que você volte para ele, ou que fique livre para ter outra esposa. Assim sendo, você deve pensar muito, antes de dar o próximo passo e ter certeza para continuar nesse curso.
Ela se levantou.
— Meu próximo passo não requer que mantenha o curso, porque eu não o escolhi ainda. Só desejo saber se esse caminho está aberto. Se Cleo tiver um preço, se poderia e deseja fazer.
Saiu da sala para garantir que não discutisse nada mais com ela.
Ele a deixou ir, porque uma tempestade estava se formando em sua cabeça.
Julián caminhou para o jardim, seu sangue fervia de raiva.
Ela ia fazer novamente. Voltaria para as meias medidas. Depois de tudo que fez antes, ela achava que poderia funcionar novamente.
Ele foi ao estábulo e começou a trabalhar para se livrar do explosivo ressentimento que queimava nele. Raramente se zangava. Podia contar a vezes com uma mão. A maioria dessas vezes estavam relacionadas com Penélope.
Uma delas tinha sido o dia que soube que ela iria se casar. E o dia que confrontou
Witherby.
Mas a pior vez, entretanto, foi quando ela o visitou em seu escritório e lhe havia confiado a verdade de seu casamento.
Ele era muito jovem na época, só tinha vinte e um anos e estava no processo de assumir o cargo de um advogado mais velho, que tinha dirigido os negócios da família Duclairc por décadas. Entretanto, fazia três anos que estava em seu estágio e faltavam mais dois e já cuidava da maioria dos assuntos legais do trabalho nesse escritório e todos ali sabiam. Seu futuro parecia feliz e próspero.
Então, em uma tarde de inverno, a doce e boa Penélope entrou em seu escritório, sentou-se e se dirigiu a ele como senhor Hampton e contou sua história.
Penélope estava envergonhada e assustada pelo que contava. Ele ficou atônito e o único que fez foi escutar. Brigou duro consigo mesmo, para permanecer impassível, mas com cada palavra dela, ele desejava mais e mais encontrar Glasbury e lhe dar uma surra sangrenta.
Eventualmente sua compostura se quebrava. Assim como seu coração, o lembrava ter tocado seu braço com impotente tranquilidade, batalhando contra o impulso de tomá-la em seus braços e lhe jurar que lhe daria a salvação.
Enquanto, ela chorava tirando tudo o que tinha em seu coração, as imagens finalmente entravam em sua cabeça mostrando tudo o que ela descrevia e todos os detalhes que evitava dizer. Uma terrível fúria fez estragos nele, quase saiu para pegar uma arma e ir matá-lo.
Ao invés disso, escondeu sua indignação e lhe enumerou suas opções como um maldito, lógico e imparcial servo que se supunha que ele era. Certificou-se que ela entendesse que nada justificava viver no inferno, um inferno que poderia ser pior.
— Agora que você sabe que isso não é normal, pode tratar de se divorciar, — explicou a ela.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu acho que nenhuma corte, acreditaria que alguma mulher poderia cooperar com isso livremente senhor Hampton.
— Há muitas mulheres que desfrutam de tais coisas madame.
— Seriamente? Você não pensa que Anthony poderia alegar que eu faço isso?
— Indubitavelmente ele faria.
Ela chorou de novo, entretanto, havia uma nova resolução em seus olhos.
— Então, eu tenho que ir embora, não é?
—Acho que isso está claro. Permita-me considerar suas opções nesse sentido.
Havia bem poucas malditas opções. Ela poderia tentar divorciar-se dele, alegando adultério e crueldade. Um divórcio através do Parlamento poderia deixá-la livre para voltar a casar-se, mas as mulheres quase nunca tinham êxito tentando obter.
O pior que para uma ação parlamentar procedia somente por duas provas: a primeira o divórcio pela igreja e então se procede o divórcio civil contra Glasbury.
O Divorcio, através da igreja não permitiria nenhum dos dois casar novamente, mas ela tinha mais chance ali, pois os juízes eram cada vez mais flexíveis em assuntos de crueldade. Uma mulher já não precisava provar, que seu marido lhe oferecia uma vida de violência. Mas um divórcio deixando um conde sem um filho, um detalhe que poderia afetá-lo negativamente.
De qualquer maneira seria muito público,— disse. – Eu li os depoimentos impressos em todos os jornais. Não importa o quanto seja sórdido. Inclusive, no Times não encanta o espetáculo e o lucro que generosamente oferecem.
— Acho que as circunstâncias, justificam a aceitação da vergonha condessa.
— Minha família vai sofrer por ela. Não importa quais sejam minhas justificativas, eles serão afetados.
— Seus irmãos não se importarão.
— Mas Charlotte ainda é uma garota. Vai afetar todas as possibilidades de um bom casamento para ela, quando for apresentada na sociedade.
As finanças familiares não estão boas e se for manchada, por um escândalo estará arruinada.
Não podia mentir como ele queria. Ele não podia prometer que sua irmã mais nova não sairia machucada. Mas seu coração gritava em rebeldia, porque deixava de lado suas objeções e a proteção que somente o divórcio lhe poderia dar.
— Para que fique segura, deve se divorciar dele. Se só o deixar, continuará a sua mercê.— Disse com mais seriedade do que pretendia.
— A qualquer momento, pode apresentar um pedido para que seus direitos conjugais sejam restaurados. Ele sequer precisa pedir. Ele pode obrigá-la a retornar ao seu lar, a sua cama e ninguém o deterá.— Deve haver uma maneira de garantir que ele nunca faça isso. Não existe?
– Sim existia.
Ele tinha negociado duramente quando se reuniu com Glasbury. Tinha empurrado o homem sob ameaças de um escândalo, para que a deixasse partir. Quando terminou a reunião tinha entregado a Pen a metade da vitória que era o que ela havia escolhido. Não a liberdade, mas finalmente seu santuário. Um santuário que agora estava ameaçado. Ele saiu do estábulo, limpou suas botas e lavou as mãos. Caminhou pela casa. Foi ao terraço de onde se via a praia. Um ponto azul estava parado em um banco de areia. Sua ira não tinha sido tão altruísta. Era em parte, possivelmente em grande medida, pela frustração de um homem que queria tanto uma mulher, que faria qualquer coisa para poder tê-la. Ele viveu durante muito tempo na torre de que tinham construído anos atrás, a que lhe tinha servido bem para sentir-se protegida. Não podia culpá-la de querer tentar reparar essas paredes, ao invés de andar ao encontro do inimigo. Em comparação com a segurança que tinha encontrado na fortaleza, a oportunidade de ter uma relação de conveniência com seu amigo e advogado, não a atraía muito em absoluto. Desceu para à praia e se juntou a ela.
Cleo ainda está em Yorkshire com a senhora Kenworthy,— disse. – Levarei você a ela.
CAPÍTULO 10
Depois que decidiram fazer a viagem, ficaram prontos ao mesmo tempo.
Julián cavalgou em seu cavalo até o povoado mais próximo Billings, para contratar um cocheiro que fosse levar Pen e transportar seus baús.
O plano era alugar um quarto para passar a noite, em um lugar seguro na cidade, enquanto ele voltava para Londres. Lá ele encontraria uma mulher para que viajasse como acompanhante de Pen, a fim de preservar a sua respeitabilidade.
Decidiram ficar em um hotel pequeno, até chegar a Yorkshire e viajariam com nomes falsos. Ela seria a senhora Thompson e Julián seu primo, sua escolta para um casamento no Distrito Lake.
Depois que Julián partiu, Pen caminhou pela casa e percebeu que se sentia um pouco triste ao deixá-la. Ela havia redescoberto uma antiga amizade ali, que havia se escurecido nos últimos anos. Tinha saído com o senhor Hampton e voltava com o Julián e ela sempre se lembraria desse retiro, como o lugar mais belo que havia conhecido em de sua vida.
Ela recolheu seu tratado da mesa. Quando chegasse a Billericay o enviaria à Sra. Levanham. Posteriormente, seus comentários se comparariam com os que as outras fizeram e o projeto final, ficaria pronto. As lições que aprendeu no desastre de sua vida poderiam marcar uma diferença para outras mulheres algum dia.
Em seu quarto, começou a guardar suas coisas em seus baús. Ela estava terminando com o grande, quando ouviu Julián voltar. O som das rodas vinham pelo caminho, então uma batida na porta da cozinha ouviu depois.
Colocou seus últimos pertences no baú e se aproximou da porta.
Na metade da escada, parou abruptamente. O alarme a deixou imobilizada.
Já podia ver as pernas do homem que a esperava. As roupas não eram de Julián.
As botas se dirigiram para ela e o restante do homem ficou à vista. Seu estômago adoeceu.
Glasbury lhe sorriu.— Bem-vinda de volta a Inglaterra, minha querida.
O pânico cresceu em sua cabeça. Ela deu meia volta para correr e esconder-se, apesar de saber que não havia lugar para ir.
— Desce, Penélope.
Ela lutou para esconder seu terror. Ele desfrutaria vendo, mas não lhe daria essa satisfação de saber o que sentia. Parou bem na base das escadas. Ele não se moveu, enquanto descia. Isso a forçou tocá-lo, enquanto descia seu último degrau e fazia a volta ao redor dele. Ele a agarrou pelo braço.
— Nenhum beijo? Depois de todo esse tempo?
— Eu prefiro que não.
— Eu gostaria de um beijo querida. Ela olhou pela janela. Ele não havia trazido sua carruagem. Não havia símbolos marcados nesta. Só um cocheiro que a dirigia e ele não usava as cores do conde...
— Peça para que um dos cavalos lhe beije. Se negarem, você pode fazer usar seus direitos com a impunidade.
— Não só os cavalos Penélope. Tudo o que eu tenho.— Atraiu-a para mais perto e lhe deu um beijo nos lábios.
Seu estômago se revoltou pela bílis e puxou o braço para livrar-se. Ele a deixou ir, mas sua expressão disse que era sua escolha não dela.
Passeava pela cozinha, vendo tudo com desgosto.
— Então, Hampton a escondeu nesse casebre. Foi muito irritante ter que segui-lo. Teria sido mais simples, se ele tivesse dito onde encontrá-la.
— Eu insisti para que não o fizesse. Como encontrou este lugar?
— Eu simplesmente mandei investigar as propriedades que possuía e depois quando me informaram que tinham visto uma mulher ontem à noite aqui, soube que era você.— Olhou a próxima sala.
— Esteve vivendo aqui com você?
— Ele estava em Londres. Não há dúvida, que muitas pessoas podem testemunhar isso.
Ele se dirigiu à porta do jardim e fez um gesto para o cocheiro, para que subisse pelos baús, enquanto isso Glasbury entrou na biblioteca.
Pen seguia o conde, desesperada olhando ao seu redor, todo tipo de provas que delatassem que Julián esteve ali recentemente, com a esperança de poder esconder as provas do olhar do conde. Ela não tinha ficado a sós com Glasbury desde que ela o deixou e estava apavorada. Um tremor visceral passou através dela.
— Esse é um lugar tão rústico. Não há criados. Não tem conforto. Tenho certeza, que ficará aliviada de poder estar de volta a Grosvenor Square.
— Não vou voltar para Grosvenor Square.
— É obvio que sim.
— Não de boa vontade.
— Sua vontade não me preocupa. Só meus direitos importam. Se você mostrar graça e obediência para o qual foi criada, serei bom. Se me obrigar, a ter que arrastar você pelos cabelos, vou castigá-la.
Castigar. Ele gostava dessa palavra. Acariciou o som de sua voz, enquanto falava. Ele a olhou com a boca frouxa em um sorriso cruel. Seus olhos refletiam lembranças dos castigos do passado.
— Por que agora Anthony? Depois de tantos anos, porque está tão decidido que eu volte agora?
— Você quebrou o acordo.
— Eu não quebrei.
— O mundo pensa que você fez. Assim, eu também. Além disso, recebi uma carta na primavera passada. Um relatório anônimo. Que incluía uma cópia de um tratado estrangeiro, escrito por uma mulher demente e delirante contra o casamento. Ele a olhou como se fosse uma menina estúpida.
— Achou de verdade, que eu ia cruzar os braços e permitir que minha esposa condenasse publicamente, meu direito de controlar minha família e meu lar?
— Não há nenhuma só palavra nesse documento a seu respeito.
Cada maldita palavra diz respeito a mim.
— Dobrará minhas costas e eu ainda o publicarei.
— Asseguro a você que jamais fará.
Soava como uma ameaça. Um calafrio deslizou pela sua espinha dorsal.
Tornou-se mais difícil nos últimos anos. Mais cruel. As tentativas de esconder suas inclinações pareciam ter sido abandonadas. Foi um erro ignorá-lo todo esse tempo. Fingir que não existia, ter perdido de vista no que havia se transformado.
— Nego-me a acreditar, que correrá o risco do escândalo que simplesmente posso criar, porque não deseja que o tratado seja publicado.
Ele sorriu de novo. Nunca gostou de seu sorriso. Inclusive, quando era jovem e estava entusiasmada pela proposta de um conde, mas não se preocupou pelos sorrisos do conde.
— Eu não quero sua volta só por essa razão. Tem outras. A mais importante, é que meu sobrinho está agora em sua terceira esposa e nenhuma delas deu a luz a um filho, tampouco nenhuma das escravas das plantações.
Acredito, que o problema não é das as mulheres, mas o mais correto, que é dele.
— Deve estar furioso ao reconhecer que a nova lei obrigará a que todos os escravos agora sejam libertados e que já não estão disponíveis, para pôr a prova as habilidades de reprodução dos homens de sua família. Gostava de ir visitar a Jamaica. Arrumou uma viagem no ano passado, não é? Talvez, pense em sustentar a escravidão por um tempo.
Haverá compensações para a situação das fazendas. Entretanto, não vão resolver as insuficiências de meu sobrinho. Quando foi embora, convenci-me de que através dele a sucessão seria uma maneira aceitável. Agora novamente, esse dever me corresponde . E a você.
Sua expressão se suavizou. Por um momento parecia suplicante, inclusive triste.
— Volte comigo e me dê meu herdeiro Penélope. Dê-me o filho que prometeu em seus votos.
— Estou assombrada de que jogue os votos diante de mim, como se sua posição fosse de uma moral superior. Fui embora, porque não tinha a mínima decência humana. Se me quiser de volta, de verdade, vais ter que me arrastar pelos cabelos. Mas deve ficar preparado, porque vou deixar que o mundo inteiro saiba tudo o que tem feito.
Ele riu e negou com a cabeça. Suspirou.— É uma vaca estúpida. Como expliquei a seu representante de chantagens, poucos lhe acreditarão, inclusive se tivesse a oportunidade de falar disso. A ninguém importará agora de todos os modos. Tudo isso aconteceu há muito tempo no passado.
— Há outros que sabem. Não vai ser só minha voz.
— Ninguém da minha gente falará ao meu contrário. Meu controle sobre eles é total, sem importar o que as novas leis digam.
Foi para ela. Ela se assustou e retrocedeu até ficar presa contra a janela.
— Seus baús já estão na carruagem.
— Vamos querida, é hora de voltar para casa.
— Não.
Ele estendeu a mão para ela. Ela tentou escapar, mas ele a agarrou seu pulso. Seu domínio se fechou energicamente.
— Tinha a esperança, que poderíamos fazer isso com um pouco de dignidade, mas vejo que não podemos. Teria sido melhor fazer isso em nossa casa, mas esta casa servirá. É o suficientemente privada.
Seus dedos a seguraram com tanta força, que seus olhos umedeceram. Ele parecia indiferente a sua dor. Quase aborrecido.
Fazia muito tempo que ela tinha aprendido a reconhecer os sinais que dissessem o contrário, entretanto, ela os via agora.
O rubor vagou em seu pescoço. As pálpebras de seus olhos ficaram pesadas. Gostava de machucar às pessoas.
Apertou os dentes e se negou a gritar. Seu aperto ficou pior e pior até que seu braço ficou em chamas.
— Os anos lhe fizeram rebelde. Muita liberdade deixam desastradas às pessoas de natureza inferior, mas entretanto, isso será fácil de remediar. Sua vontade é uma coisa frágil. Nós dois já sabemos, o quanto pode ser rapidamente dobrada e quebrada.
— Para uma mulher torpe, que estava dobrada e quebrada, pode se superar. Cuspiu as palavras à direita de seu rosto.
Ele se ruborizou.
— Acho que estou contente de que tenha resistido tão estupidamente. Quanto antes aprenda qual é seu lugar outra vez, melhor.
Seu apertão no braço se transformou em um tormento. Flechas saíram disparadas por suas veias devido à pressão que exercia. Manchas negras ficavam à vista.
– Você se ajoelhará hoje em minha presença querida. Lembra-se de como fazer, não é?
As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas ela não fez nenhum som. A dor tinha reclamado seu braço inteiro e o ombro. Parecia estar invadindo seu peito e bloqueava a respiração.
Glasbury não repetiu seu comando. Continuou segurando seu braço, aumentando a dor, esperando que sucumbisse a sua ordem para que mostrasse humildade.
Seria um erro se fizesse. Ela entendia o que ele realmente queria. Não a mera obediência. Queria o controle que supusesse o medo. Seu prazer na degradação dos outros era complexo e escuro.
Seu corpo queria tanto alívio, que implorou que cedesse até sua alma, entretanto, sabia que cederia assim que começasse a percorrer o caminho para a impotência novamente.
Julián quase não viu as marcas na estrada. Tinha conduzido vários metros pelo caminho até à casa, antes que o significado das marcas penetrassem em sua consciência.
De repente, apareceram. Todo pensamento abandonou sua cabeça. Um estado de alerta, frente ao perigo pulsava nele.
Parou o cavalo e olhou para baixo as marcas que havia no barro da rua.
As marcas estavam frescas, o que indicava que uma carruagem tinha passado por aqui faz algumas horas. Quando montou em seu cavalo para Billericay, foi cuidadoso mais uma vez, em busca de sinais que pudessem indicar que o homem que Pen tinha visto, havia chegado de carreta ou a cavalo. A falta dessas provas foi a única razão pela qual a tinha deixado sozinha.
Soube imediatamente que tinha sido um erro. Alguém passou por aqui desde que partiu.
Ele amaldiçoou a si mesmo, desceu imediatamente e amarrou o cavalo em um arbusto baixo. Depois da curva do caminho em frente, podia ver o telhado da casa.
Rezando para que não fosse muito tarde, com a esperança de que Glasbury não tivesse descoberto essa propriedade, saiu do caminho e voltou à direita. Olhou para casa de campo, através dos arbustos e das árvores finas.
Um movimento, chamou sua atenção ao passar atrás da curva do caminho. Um homem estava sentado, apoiado em um tronco de uma árvore fina. Estava de costas para Julián e parecia decidido a olhar para a estrada.
Julián olhou para a casa de campo. Podia ver agora, a parte superior de uma carruagem escura. O recém-chegado não foi embora ainda. Se tinha deixado um guarda no caminho, sem dúvida Pen estava em perigo.
O medo e a ira o cegaram por um momento. Medo por Penélope e raiva contra si mesmo. Então sua cabeça limpou e só ficou uma determinação de gelo. Jogou uma olhada para o chão em seus pés e levantou uma pedra de bom tamanho.
Dirigiu-se para o homem sentado de costas.
O cavalo relinchou e sua presa ficou rígida. O chapéu do homem virou em um ângulo para cima, como se farejasse o ar como um cão. Ficou de joelhos e uma pistola apareceu em sua mão direita.
Não ouviu Julián até que foi muito tarde. Virou-se com surpresa e levantou a pistola antes que a pedra caísse sobre sua cabeça. Não teve tempo de gritar, antes de cair de cara no mato.
Julián pegou a pistola. Encontrou outra pistola colocada na cintura das calças do homem.
Levou uma em cada mão, voltou para a estrada e foi para a casa.
Ele viu indícios de que outra pessoa entrou recentemente através deste caminho. Várias vestígios de barro estavam no chão. A grama e os ramos do jardim estavam pisoteadas.
A auto-recriminação fazia estragos em sua cabeça. Pen tinha razão sobre o homem de ontem. Não houve provas, porque o intruso fez o mesmo que ele nesse momento. Não se ouvia vozes vindo da casa. Não havia gritos ou desordens. A carruagem apareceu abandonada, mas podia ver os baús de Pen amarrados na parte de trás.
Atravessou o pátio para o transporte e olhou para dentro. O cocheiro descansava no assento, ele bebia de novo de uma pequena garrafa. Ele era um homem gordo com cabelos brancos e ralos que saíam por baixo de seu chapéu.
Viu Julián quando foi dar um gole. A princípio só franziu o cenho com curiosidade. Então viu o canhão da pistola apoiada na beira da janela, apontando para seu estômago.
Os olhos do homem se arregalaram em choque e o líquido começou a cair por um lado de sua boca.
— Qual é seu nome. Perguntou Julián
— Harry. Harry Dardly. — balbuciou sem deixar de olhar a pistola.
Além de seu passageiro, você está sozinho?
— Havia outro homem, mas voltou para a estrada.
— Quem alugou essa carruagem?
Harry engoliu em seco.
— Não disse seu nome. É um homem elegante. Um cavalheiro que paga muito bem.
Isso soava como se Glasbury tivesse vindo pessoalmente. Possivelmente, alugou essa carruagem anonimamente e sem usar seus criados e sua bagagem, não teria testemunhas.
O silêncio da casa deixou de ser tranquilizador.
Julián abriu a porta da carruagem. — Venha comigo.
— Agora Senhor? Você não precisa fazer isso. Eu ficarei aqui sozinho cuidando dos cavalos. Tem minha palavra.
— Para fora.
Harry saiu pesadamente, afastando a distância entre ele e a pistola. Ficou lívido quando viu a outra pistola, em sua mão esquerda.
Julián fez um gesto para que caminhasse para a casa. O olhar do homem era como se fosse levado para a forca. Harry abriu o caminho.
— Harry, seu passageiro é o conde de Glasbury.
— Glasbury! OH, que inferno. Não quero ter problemas com um conde.
— Ali dentro, também está uma mulher. Se Glasbury a machucou de alguma forma, preciso de uma testemunha.
— Testemunha!— Harry parou em seus calcanhares. — Não, não serei. Não desejo me colocar em problemas, por falar contra um conde. Minha mulher me mataria se me arriscasse fazendo tal coisa.
Julián tocou o homem com a pistola. — Eu preciso que venha comigo, tenha coragem homem.
Com um olhar cada vez mais miserável com cada passo que dava, Harry entrou na cozinha.
Nenhum som os recebeu. Quando Julián olhou para a cozinha, viu que a mesma e as outras salas atrás estavam vazias, apontou a Harry que seguisse para a Biblioteca.
O cocheiro entrou primeiro e ficou parado como pedra na entrada.
— OH, meu Deus, murmurou.
—O que você está fazendo aqui? Disse que esperasse até que o chamasse. A afiada voz era de Glasbury.
Julián empurrou Harry para frente alguns passos e entrou na sala.
Uma fúria explosiva estalou em sua cabeça, quando viu o que estava acontecendo na biblioteca.
O bastardo tinha agarrado Pen pelo braço, em um aperto tão forte que os nódulos dos dedos estavam brancos. Com o braço estendido estava tentando obrigá-la a se ajoelhar. O corpo de Pen se inclinava de forma antinatural, resistindo à queda e para aliviar seu sofrimento.
E certamente ela estava sofrendo muito. Seu rosto perdeu toda a cor e seus olhos estavam vidrados. Parecia a ponto de desmaiar. Entretanto, tinha uma forte determinação em sua expressão. Não saíam sons por sua boca, não havia gritos ou suplicas.
Ela viu primeiro Julián . O conde estava tão interessado em sua vítima, que não percebeu que Harry não tinha entrado sozinho.
Julián apontou sua pistola, para o coração do conde e a engatilhou. Apenas teve que se controlar para não apertar o gatilho.
— Solte-a. — Sua voz soava estranhamente calma para seus próprios ouvidos. Seu cérebro foi o que gritou a ordem.
Sua alma implorava para que Glasbury resistisse. O olhar deste se quebrou e por um momento, pareceu estar muito assustado. Então fez uma careta de desprezo.
— Você não se atreveria...
— Não só me atreverei, mas como terei êxito. Liberte-a.
Glasbury vacilou. Os dedos de Julián acariciavam o gatilho.
Com uma expressão de desgosto e repugnância, Glasbury a soltou. Pen cambaleou para longe dele.
Glasbury olhou para o cocheiro.
— Essa é minha esposa e este homem está interferindo, afaste-o...
— Que o afaste? Eu?
— Pagarei você muito bem, pagarei agora.
— Ele tem duas armas, se por acaso vossa senhoria não notou.
— Ele não as usará.
— Que me crucifiquem se acha que vou averiguar. Harry cruzou seus braços em seu amplo peito, deixando claro que não se moveria.
Julián estava olhando para Penélope. Um pouco de cor tinha retornado a sua aparência e parecia mais estável.
— Condessa, ali fora há uma carruagem com seus baús amarrados, vá e me espere lá.
Os olhos de Glasbury brilhavam — Se você a levar de meu lado, estará interferindo em meus direitos.
— Você perdeu todos seus direitos quando abusou deles. — disse Pen em voz baixa.
Quando passou pelo lado de Julián , lhe estendeu uma das pistolas.
— Pega isso, no caso de ele ter trazido outro homem, que acredito que está perdido.
Ela fez uma pausa e jogou um olhar sobre suas costas e de seu marido. Uma expressão profana em seus olhos revelavam a tentação que sentia.
— Espere lá fora madame, — Julián disse firmemente.
Ela recuperou sua compostura. Passou pelo lado de Harry, com seu braço pendurando limpamente ao lado. Harry viu a expressão de dor em seu rosto.
— Se estou correto milorde, você roubará minha carruagem e meus cavalos?
— Se você estiver de acordo com meu plano, terá a ambos hoje a noite e também seu pagamento pelo uso.
— Bem, agora você pinta um quadro diferente.
— Isto é intolerável, — disse Glasbury — Eu aluguei essa carreta para o dia e…
— Vou deixar a carruagem no final do caminho. Os cavalos irão comigo um pouco mais longe, a meio do caminho de Billericay. Pelo uso de sua propriedade, vou deixar cinco guinéus dentro da carruagem.
— Isto é um roubo, se levar a carruagem vou fazer que o persigam como ladrão.
— Acredito, milorde, que me corresponde decidir se fui roubado. Nunca vi um ladrão que deixasse cinco guinéus. — disse Harry.
— Ficaremos presos aqui idiota!
Somente por um dia. Harry será capaz de caminhar para buscar os cavalos e retornar aqui antes que anoitecer. Julián saiu da biblioteca.
Agora, cavalheiros não quero vê-los deixar essa casa, quando for pelo caminho. A dama que está me esperando, suspeito que está muito disposta a usar a pistola que lhe entreguei. Se não, não duvidarei em usar a minha.
— Pare-o, idiota inútil — gritou Glasbury a Harry.
— Faça você. Ou os condes só são valentes quando se trata de mulheres? Burlou-se Harry com desgosto. — Só lhe digo uma coisa, deve ficar feliz, por minha esposa não estar aqui presente.
Julián deixou Glasbury com a censura de Harry. Pen conseguiu subir no assento do cocheiro, enquanto ele voltava à carruagem.
— Estamos roubando? Não parecia que lhe afetasse muito.
Ele subiu ao seu lado e pegou as rédeas.
— Estamos tomando emprestado, com o consentimento de seu proprietário.
Depois ele virou a carruagem e foi para o caminho, seu olhar caiu sobre ela, seu braço descansava inerte em seu colo. Sua expressão era uma máscara estoica. Suas pálpebras escondiam a maior parte de seus olhos.
— Lamento muito Pen. Culpo a mim mesmo.
— Aqui o único homem culpado não é você. Agradeço por ter vindo e pelo que fez. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse chegado.
Nada bom certamente. Se o conde quisesse somente levar sua esposa, poderia ter feito em sua carruagem com toda a pompa e estilo, que gostava de demonstrar para chamar a atenção de todo reino.
O conde não foi capaz de resistir a oportunidade de ter Pen sozinha e isolada, entretanto, tentaria lhe prejudicar de algum jeito desde o começo. O que significava, o quanto longe poderia ir, esse pensamento se enrolava na cabeça de Julián. A imagem dela brigando contra a dor, se abatia em seus pensamentos como um véu. Fogo e gelo enfrentavam uma batalha dentro de seu corpo. O impulso de devolver e matar o canalha não o abandonava.
Ela tocou seu braço.— Sobreviverei, Julián. Mas dirija rapidamente, assim que chegarmos à estrada, eu gostaria de colocar distância entre mim e o que aconteceu.
Não havia dúvida, que agora eles atuariam com rapidamente. Não só precisavam colocar distância entre Pen e o que tinha acontecido. Tinha que levá-la para longe do conde de Glasbury.
CAPÍTULO 11
Eles mudaram de carruagem quando chegaram. Julián desenganchou os cavalos de marcha e amarrou um na calesa, deixando a carruagem maior no caminho. Pen testou seu braço. Já não estava insensível. O lugar onde Glasbury segurou palpitava. Entretanto, uma dor profunda estava em toda a extremidade. Ela suspeitava que um enorme hematoma estava escondido pela manga. Julián parecia ter se acalmado um pouco. Ela nunca o tinha visto tão zangado, como quando entrou na biblioteca. Ele parecia muito perigoso e escuro, tanto que esperou que ele disparasse em Glasbury. Em sua dor e desespero, ela esperou que de verdade o fizesse. Depois que colocou a arma em sua mão, estive tentada a fazer ela mesma.
— Ainda quer ver Cleo? Perguntou Julián.
— Sim. OH, sim. É claro que sim.
Ela superou Glasbury antes e agora faria novamente. O mundo poderia não acreditar, mas poderia escutar a história de Cleo: diante essa possibilidade, o conde se retiraria e nunca mais a tocaria de novo:
— Não pode permanecer em Billericay. Devemos fazer isso de outra forma. Vou ter que procurar um lugar seguro para passar essa noite, onde eu tenha certeza absoluta que estará protegida. Enquanto não estivermos bem longe de Glasbury, não ficará sozinha novamente.
— Não acredito que exista um lugar assim. Estamos ficando sem santuários.
— Há mais um.
Nessa noite, enquanto a luz desaparecia, a calesa rodava por um caminho cercado de árvores, eles deixaram em liberdade os cavalos na metade do caminho a Billericay.
Tinha sido uma viagem exaustiva na calesa. O cavalo precisava descansar frequentemente e o longo caminho estava cheio de pequenos buracos. Somente o conhecimento de que Glasbury estava separado pela costa, fez com que Pen conseguisse ficar mais calma e com menos medo, embora muito impaciente com seu progresso. Eles se aproximaram de uma velha cruz de madeira, situada pitorescamente perto de uma casa.
— Acha que ele concordará com isto?
— Ficará adulado pela pergunta. Não duvidará em enfrentar a qualquer homem, que tente interferir.
— É velho para isso.
Julián riu baixinho — Sua espada continua sendo insuperável Pen. Também cedeu e aprendeu a usar uma pistola.
O homem de que falavam saiu pela porta de entrada, para vê-los melhor. Cabelos grisalhos, ossos magros, estatura mediana, não dava indícios de uma força de aço. Entretanto, Pen o tinha visto treinar com sabre e florete, sabia que a concentração e a precisão mortal, lhe davam essa forma de combater.
O senhor Corbet caminhava para a calesa. Saudou Pen com uma inclinação de cabeça.
— Condessa, sinto-me honrado. Julián, trouxeste a dama para mostrar suas habilidades? É um pouco tarde, mas não importa.
— Não é uma visita social Louis. Tenho que deixar à condessa sob sua proteção até manhã. Não espero nenhum problema, mas entretanto, talvez você possa mostrar suas habilidades se for necessário.
Os olhos de Chevalier brilharam com um sorriso contido e suave, enquanto ajudava Pen descer da calesa.
— Pelo bem estar da dama, espero que não. Mas por minha própria diversão, não duvidaria. Faz tanto tempo desde a última vez que o fiz, que agora não faço mais que dividir instruções para outros.
— Espero que não tenha lições para amanhã cedo, — Disse Pen.
— Não espero ninguém. Se alguém chegar inesperadamente, despacharei-o de volta. Sua pessoa e sua reputação estão completamente a salvo.
Julián levou seus baús, para dentro da casa e os deixou no quarto indicado por Corbet. Pen recebeu um pouco de vinho na sala, que ficava ao lado do grande salão de aulas pelo qual, Chevalier era famoso.
Louis a fez sentir-se bem-vinda e acolhida. Ela o conhecia há muitos anos, porque seus irmãos Vergil e Dante eram seus alunos, assim como Julián, St. John e alguns outros conhecidos, ainda hoje se reuniam para praticar com a espada.
Quando Julián se uniu a eles, Chevalier saiu discretamente, Julián pegou uma vela e a colocou em cima da mesa que estava perto de sua cadeira.
Ele não parece muito curioso por essa intrusão — disse ela.
— Ele não pedirá explicações, ou dará conselhos a menos que o pergunte. Cuidará de você com sua vida. Não tenho dúvida disso.
Ele pegou sua mão esquerda. Ela pensou que era um gesto de consolo. Gentilmente trouxe seu braço e começou a desabotoar sua manga.
— Não estou certa se gostarei de ver isso, — disse ela.
— Eu sei — seus dedos desabotoavam cuidadosamente os botões menores. — Você me disse que Glasbury não era violento com você.
Ela estremeceu quando ele chegou nos botões em cima da ferida. O aperto de Glasbury tinha deixado pequenas protuberâncias em sua pele. — Não foi no passado. Isso foi minha culpa. Recusei-me a fingir e o incitei a fazer isso, para ser honesta.
— Nunca mais diga isso novamente.— A culpa é só dele e não sua. Separou a manga aberta para revelar o dano. Sua pele mostrava um hematoma escuro, como uma faixa grossa ao redor de seu antebraço. A imagem dos dedos do conde eram claramente visíveis.
— Maldito bastardo. Julián contemplou o abuso apoiando em sua mão. – Você deve sentir uma dor terrível.
— Não é tão doloroso. — Era uma mentira, embora a sensação do contato de Julián a distraísse de sua dor. Um calor diferente, mais agradável subia por sua pele, enquanto sentia a firme palma de sua mão.
— Vou comprar algo para aliviar o inchaço.
— Não Julián , deve sair logo de Londres, eu posso cuidar disso e se precisar de ajuda pedirei a Chevalier, atrevo-me a dizer, que ele sabe mais a respeito dessas feridas e lesões do que nós.
Ele se mostrava relutante. — Retornarei na alvorada com o que precisamos, para continuar a viagem, — disse ele. — Espere-me algumas horas antes do amanhecer.
— Estarei preparada.
Ele beijou suavemente a feia ferida. — Aconteça o que acontecer Pen, prometo que ele nunca mais fará mal à você de novo. Nunca.
— Glasbury me pegou de surpresa, sigilosamente por trás. — contou ela.
— Se um advogado é melhor que você Jones, o quanto bom você é?
Glasbury passeava pelo pequeno quarto ridículo, que lhe tinham dado na estalagem de Billings. Esperar na casa de campo, enquanto Dardly recuperava os cavalos foi intolerável. Depois o cocheiro insistiu que esperassem até manhã, para retornar a Londres. Agora estava preso nessa pocilga de estalagem, sem seu valete ou roupa limpa. Os olhos de Jones pareciam duas pequenas fendas em seu rosto de lua cheia.
– Eu vou encontrá-lo, assim retorne a Londres. Não duvide. Também, tenho uma dívida para cobrar de Hampton. – Disse Jones, esfregando o cabelo com sangue seco em sua cabeça.
— É um idiota, acha que a levaria para Londres agora? Hampton não é a cabeça mais brilhante da criação, mas não totalmente idiota.
— Se não vai para Londres, então para onde vai?—
— Ao diabo se soubesse. Também têm um dia de vantagem, por causa de sua negligência, poderá segui-los não é?
Glasbury mal conseguia conter sua frustração. Ter ficado tão perto, de finalmente acabar com essa alienação ilegal e humilhante, para que somente a incompetência de Jones e do cocheiro arruinassem. Tomou mais do insípido vinho, que a estalagem tinha enviado com sua comida. Bebeu um longo gole.
O encontro com Penélope ocupava sua cabeça todo o dia, enfurecendo-o. Durante anos, foi impotente por causa de suas ameaças, mas agora não. Muito em breve, ela compreenderia isso. Claro que havia outras pessoas que sabiam. Sim, mas nenhum eram dos que falavam. O melhor do poder e da riqueza, é que poderia comprar o silêncio com o medo e com o dinheiro. E comprar homens como Jones, se fosse necessário.
— Bom, se ele não está a levando para Londres, precisamos esperar até que ela se mostre,— disse Jones.— Não existe uma maneira, de varrer a terra com todos os caminhos, canais e aldeias da Inglaterra, não é?
Glasbury tomou outro gole de vinho. Imaginou o rosto de Penélope na casa. Agressivo.
Uma provocação. Ela tinha mudado com os anos. Mas assim, gostava mais. Já não lhe atraía a fragilidade, não existe vitória se seu oponente for fraco.
Sua resistência foi muito emocionante. “Existem outros que sabem. Minha voz não será a única.” Lembrou de suas palavras. Viu sua expressão de confiança, quando o ameaçou.
Deixou seu copo na mesa e de repente, entendeu o significado de suas palavras. Claro, certamente, ela não falava de suas escravas da Jamaica ou da Inglaterra. Não, esses ainda estavam sob seu domínio. Riu entre dentes, já não se preocuparia com os incômodos de uma noite nessa estalagem.
— Eu sei para onde foram. Sei onde encontrá-la. Pode ser que inclusive, a pegue na estrada. Eu lhe darei instruções amanhã. Você terá outro homem que lhe acompanhe. Isso deve acontecer sem incidentes, sem notoriedade.
Jones se retirou e Glasbury se sentou na mesa. O vinho estava com melhor sabor e serviu-se um pouco mais.
Quando disse que uma mulher nos acompanharia, pensei que significava certa maturidade,— disse Pen.
Ficou de pé ao lado de Julián em frente a Casa de Cavalier, enquanto seus baús eram levados até a parte de cima da carruagem contratada, que Julián havia trazido.
Liderando Chevalier e o cocheiro, havia uma jovem dama chamada Catherine Langton. Tinha os cabelos loiros e pele branca, com uma constituição robusta tanto em sua aparência física, como em seu comportamento e era uma cabeça mais alta que Penélope. Sua postura e as fortes ordens, mostravam que não tolerava os tolos.
Chevalier desceu da carruagem e sacudiu suas mãos com firmeza. Os férreos olhos azuis de Catherine, examinavam os laços no peito. Chevalier respondeu com uma expressão, que indicava que uma só mais uma crítica implicaria em riscos.
Ela é uma mulher amadurecida,— disse Julián.
— Sabe o que quer dizer amadurecida? Pelo menos, não muito mais velha do que eu. Ela não deve ter mais de vinte e cinco anos.
Catherine caminhou para a porta da carruagem, subiu, arrumou as cortinas a seu agrado e esperou.
— Onde a encontrou?
— Chamei uma amiga sua a senhora Levanham ontem de noite e pedi uma recomendação. Sua fama como mulher que abandonou seu marido, atrai outras mulheres em uma situação semelhante.
— Igual a mim.
— E igual a Catherine. Eu pensei que outra esposa infeliz do nosso lado, seria bem-vinda. Entretanto, o marido de Catherine é um capitão de navio e estará de volta a Inglaterra algum dia, a oportunidade de fazer uma viagem longe de Londres a atraiu muito.
— Ela é muito dominante.
— Não há dúvida de que é, devido suas circunstâncias. Ela agora faz seu próprio caminho.
Sua voz soava como se ele a admirasse. Por alguma razão, isso fez com que gostasse ainda menos de Catherine.
— Sabe quem sou?
— Vamos utilizar nossos nomes falsos nos hotéis, mas não podia manter a farsa por muito tempo com ela. Ela deve fazer isso esplendidamente Pen. Ela está disposta a atuar como donzela, mas é educada e bem falada. A senhora Levanham me informou, que também tem um talento muito incomum.
— E qual é?
— É perita em armas de fogo. É uma excelente atiradora.
Guiou Pen para o transporte e a entregou à mulher formidavelmente jovem, a que esperava dentro.
Catherine imediatamente, tirou uma manta e colocou nos pés de Pen. – O Senhor Hampton ficará em cima?
— Parece que sim.
— Por que será? Tem espaço suficiente aqui.—
— Não sei.
— Não o conhece? É um estranho para você?
— Conheço o senhor Hampton desde que era menina. Ele é um velho amigo, entretanto não posso ler seus pensamentos.
— Não precisa ler o pensamento de um homem, para conhecer seus hábitos e preferências. Catherine falou bruscamente, sem rodeios, com o tom que Pen se aborreceria sempre.
– Ele gosta ficar fora das portas. Talvez, queira ver o campo e sentir o vento.
Após se despedirem de Cavalier, a carruagem tomou o caminho e foi para o noroeste. O dia nublado aparecia como um pano úmido e amargo, Pen estava agradecida pela manta que envolvia seus pés.
Olhou para baixo e reparou nos sapatos velhos de Catherine, aparecendo por baixo da saia e anáguas. Ela se inclinou e arrumou a manta para que cobrisse seus pés e também as pernas de Catherine.
A expressão de Catherine caiu como se o gesto a surpreendesse. De repente, pareceu muito jovem sem a expressão tão severa. Com algumas sardas no nariz e nas faces, na verdade parecia um pouco menina.
Nivelou seus olhos azuis com os de Pen. Não se transformaram em gelo, entretanto, em alguns poucos anos a mais poderia acontecer.
— Eu sei que você,— disse.— estranho você fugir de um conde. Deve ser difícil renunciar essa vida de luxos.
— Não mais difícil ou mais audaz, que sua própria decisão. Pelo menos, eu tenho uma família e recursos que você não tem.
— Batia em você?
Ela balançou a cabeça. O conde não tinha utilizava seus punhos nela, antes de ontem, nunca lhe tinha feito mal dessa maneira. Os golpes foram de outras maneiras, mais perversos.
— Meu Jacob. Embebedava-se e me batia. Primeiro o aceitei porque era meu marido. Depois porque eu tinha uma filha. Então um dia fui embora, mesmo que isso significasse perder minha preciosa filha, porque era muito perigoso permanecer ali.
— Tinha medo por sua vida?–
— Medo pela dele. Levantei-me uma manhã roxa e ferida, com ódio em meu coração. Soube que se voltasse a me ferir o mataria primeiro. Assim o deixei.
Ela contou sua história tão calmamente, que alguém poderia pensar que descrevia uma velha história em sua vaga memória. Mas seus olhos a traíam, mostravam suas verdadeiras emoções. A tristeza e a raiva brilhavam neles como chamas sem extingui-las.
— Não viu sua filha desde então?
— Ele a enviou para o norte com sua família, perto de Carlisle. Pensou que meu grande amor por ela me obrigaria a voltar, ou possivelmente, me forçar a fazer ele mesmo. Estou segura enquanto estiver no mar. Mas quando seu navio retornar a Inglaterra, vou desaparecer se puder.
— Deve ser difícil conservar um emprego.
Apenas mantenho-me. Entretanto, ainda não precisei vender meu corpo. Embora poderia fazê-lo se precisasse. Afinal, vendi eu mesma para Jacob, não é? Se fiz com um homem que fez crescer meu o medo e o ódio, suspeito que não me custaria fazer com um estranho.
Pen sabia que podia dizer algo moral sobre a virtude e o pecado, mas quem era ela para julgar uma jovem mulher, pelas escolhas que fosse obrigada a tomar, especialmente quando ela mesma, havia feito uma lista de homens com os quais ela poderia fazer “isso” com a intenção de achar uma saída para sua liberdade.
Passaram por fazendas cinzas e inóspitas como o céu. Em poucos dias estariam em Grossington e ela poderia ver Cleo. Perguntava-se em que tipo de mulher havia se transformado agora, com o passar dos anos a temerosa menina que tinha sido.
Seria covarde por não ter escolhido um movimento audaz? Desejava ser totalmente livre. Invejava a grande liberdade de Catherine, embora as duas permanecem unidas a seus maridos pela lei, Catherine podia fugir do alcance de Jacob, podia desaparecer dentro da Grã-Bretanha. Enquanto que a condessa de Glasbury não poderia. Para ela fugir e se esconder, significava deixar para trás tudo o que ela conhecia e amava. E se parasse de brigar, significava também ferir sua família e amigos.
— O senhor Hampton é muito atraente, — disse Catherine.
— De fato.
— Toda mulher deve pensar. Embora silencioso. Acho que poucos homens podem permanecer tão silenciosos. Geralmente eles falam, mas dizem coisas insignificantes.
— Acho que o senhor Hampton estaria de acordo com você.
Catherine alisou a manta sobre seus joelhos. Ela olhava seus longos dedos, para brincar com eles.
— Estão indo para uma festa? É esse o motivo dessa viagem?
Parece que Julián não explicou nada. — Tenho que fazer uma visita e o senhor Hampton está me escoltando.
— Ah. Estou vendo. Estranho que usem diferentes nomes, mas isso não me corresponde comentar. — Seus dedos continuavam fazendo traços e alisando a manta. — Você e eu compartilharemos o quarto nas estalagens?
— Acredito que sim.
— O Sr. Hampton também ficará conosco nas estalagens?
— Acho que será necessário. Não deve se preocupar, se Jacob a encontrar não estará desprotegida.
— Posso cuidar de mim mesma milady. Entretanto, ter o Sr. Hampton por perto será muito útil, pois durmo profundamente. Principalmente, depois de uma viagem e precisam trazer um canhão para me despertar. É bom saber que ele estará por perto, se por acaso houver algum problema. Se alguém entrar em nosso quarto durante a noite, eu ficaria completamente inconsciente disso. Pen entendeu o que Catherine estava insinuando.
— Estou certa que ninguém entrará ou deixará o quarto durante a noite.
— Sim, milady. Entretanto, pensei que deveria saber o quanto profundamente eu durmo. Ela se inclinou e pegou outra manta debaixo do assento. —Permita que lhe dê outra manta milady, na luz você está muito pálida.
Estava muito óbvio, que Catherine Langton havia tirado muitas conclusões a respeito dela e Julián.
Primeiro, Catherine achava que sua presença, servia para prover respeitabilidade à escapada entre um casal de amantes.
Segundo, ela havia decidido que não tinha interesse de interferir nessa escapada.
Ela possuía um admirável talento para se fazer invisível. Chegava tarde aos jantares e se retirava cedo, assim ele e Pen poderiam ter tempo a sós. Quando descia da carruagem, antes de todos, encontrava desculpas para deixar Pen no quarto por regulares intervalos de tempo na noite. Se ela e Julián tivessem mesmo um romance, ele ficaria fascinado por lady Catherine.
Entretanto, desejava que ficasse bem claro que não era, embora adorasse a privacidade que podia ter com Penélope de todas as maneiras.
Na terceira noite, quando eles jantavam no quarto de Pen na estalagem dos York, assim que terminou de comer, Catherine se desculpou para sair.
Acho que vou tomar um pouco de ar, se não se importa milady.
— Está chovendo Catherine.
— Não me importo com um pouco de chuva. Tenho minha capa e ficarei debaixo do teto, sinto necessidade de tomar um ar depois de ter viajado de carruagem todo o dia. —
Ela deixou o quarto e Julián se perguntava, se estava levando sua pistola com ela. Ele olhava através da velas a perfeita pele de Pen, seus suaves lábios e sua expressão doce.
A vontade de se aproximar e acariciar seu rosto, estava a ponto de contrariar seu bom senso. Ele amava a suavidade de seu rosto, seu corpo e seu grande coração.
Talvez, ela fosse uma mulher que precisasse de uma asa protetora, podia ver como agora ela era muito cálida com o Catherine. Pen poderia nunca usar uma arma, mas podia realmente ser muito desinteressada defendendo aos que mais precisavam.
— Vejo que fui muito rápida ao julgar Catherine. Estava certo senhor Hampton, ela é uma companhia muito agradável para mim. Escolheu muito bem.
— Entristece-me ver que volta a se dirigir a mim, novamente com formalidade. Considerando o que aconteceu na casa de campo, é um absurdo voltar a essa direção de novo.
Ela se ruborizou encantadoramente. O reflexo do fogo a iluminavam aumentando sua beleza. Seus olhos também refletiam a verdadeira razão, pela qual havia sido tão formal. À medida que seu olhar baixava, olhava ao redor do quarto com a consciência de que estavam sozinhos em seu dormitório. Ela mexia nervosamente em sua mão, o cabo do garfo que estava perto. Ele sabia que tinha que ir, ou dizer algo para fazer que se sentisse cômoda.
Mas as lembranças de seu corpo, seus seios firmes, os suaves lábios sob seus e seus quadris levantando para receber suas carícias, invadiam seus pensamentos. A luz do fogo das velas, a cama escondida atrás das cortinas, as mútuas lembranças do que haviam compartilhado, criavam um ambiente que não tinha nenhum interesse em dissipar.
— Se aproximar da senhora Levanham pedindo ajuda, foi também muito inteligente. Ela sabia que estava me ajudando?
— Eu não contei que a dama que precisava de uma companheira era a condessa de Glasbury, mas acho que ela entendeu facilmente. Afinal, eu a conheci quando me enviou para aconselhá-la sobre a lei.
— Se eu soubesse que iria vê-la, teria aproveitado para entregar a ela meu ensaio com as revisões. Enviarei amanhã antes de sairmos dos York.
— Prefiro que não Pen. Isso pode esperar até que tenha terminado essa viagem. -
— Não vejo a razão para atrasá-lo.
Julián olhou para seu braço esquerdo, que ainda não estava bom. — Quando falou com Glasbury ontem, mencionou algo sobre esse projeto?
— Sim.
— Suponho que está aborrecido.
— Muito aborrecido. Eu lhe disse que o publicaria de todas as formas. Disse que essa era uma das razões para me fazer voltar, além da necessidade de um herdeiro, mas não acho que tudo isso se deva só por essas duas coisas, não realmente.
— O que é que você acha?
A expressão de Pen se tornou pensativa.
— Disse-lhe sobre suas terras na Jamaica e de como a nova lei o obrigaria a libertar seus escravos. Um pouco parecido ao medo que passou por seus olhos, quando lhe disse isso. Uma raiva, talvez uma faísca de ressentimento.
— A lei terá consequências econômicas. Mesmo com as compensações garantidas pelo Parlamento, custará-lhe muito caro.
— Não acredito que sejam os efeitos financeiros, que o motivou reagir assim. Julián ele adora ter escravos. Adorava ser dono dos direitos dos seres humanos e os ter submetidos a ele. O tentou recriar esse mundo aqui na Inglaterra e depois que fui, ele visitava a Jamaica de vez em quando, para poder desfrutar desse poder de novamente por um tempo. Agora, com a nova lei, isso terminou. Legalmente, nunca poderá fazer de novo.
— Exceto comigo.
O quarto parecia sussurrar as palavras. Julián virtualmente ouvia em seu pensamento, essa frase final que não expressou com palavras.
Ela estava certa, Glasbury poderia estar muito perto dos direitos sobre as vidas alheias que tanto gostava, com sua esposa e filhos. Todos os homens podiam, mas muitos deles não exploravam esse poder.
Ela se levantou e caminhou para a janela. Olhava através das cortinas, como certamente fez quando discutiu com Glasbury.
Até ontem, não tinha entendido realmente o que o motivava, não compreendia realmente o quanto ele é malvado. Entretanto, em dois dias enfrentaríamos à evidência que deveria esclarecer.
— Pen tenho a sensação, que está um pouco perturbada por ter que ver Cleo. Ela inclinou a cabeça para um lado e outro, olhando através da escuridão, seu fôlego embaçou um pouco o vidro.
— É que vê-la me faz ter lembranças, isso é tudo. Não é uma coisa, que algum dia possa esquecer de verdade.
Sua voz era suave, mas seus olhos pareciam fantasmas. Estava agora mesmo lembrando, levantou e se aproximou dela. Ele queria que ela nunca mais lembrasse. Cuidadosamente colocou suas mãos sobre seus ombros e com gesto obrigou-se a ser tranquilizador e não possessivo. Queria abraçá-la e desterrar suas preocupações. Queria lhe fazer o amor. Esteve pensando nisso há pouco mais de três dias.
— Vou falar com Cleo sozinho Pen. Não precisa vê-la.
Ela o olhou. Via-a vacilante, tentada. Ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu era responsável por ela. Deveria ter compreendido isso antes. Se for mexer no passado, não devo evitar presenciar o que significa para ela. Preciso saber se ela tem coragem de permanecer ao meu lado, se houver necessidade.
Parecia tão preocupada e triste. Ele reagiu instintivamente e acariciou para baixo seus braços em um impulso, de que? Conforto? Sedução? O corpo dela se flexionou em consequência e não se mexeu. Uma preciosa cor percorria seu elegante pescoço até seus deliciosos lábios. Ele esperou um sinal, qualquer sinal que lhe indicasse que suas carícias seriam bem-vindas. Ele era indiferente ao que era certo e ao que não o era e estava tão faminto por ela, que as razões já não importavam.
Ela não se mexeu. Não se afastou de seu carinho. Seu belo pescoço o tinha hipnotizado. Estava convencendo a si mesmo, que era uma sedução que não devia ser desonrosa, quando uma pequena tumulto fora o interrompeu. Fora da porta, uma voz feminina chamava pedindo água. Os sapatos pisavam na madeira em meio aos fortes murmúrios, a respeito da chuva fria e das ruas enlameadas.
Catherine tinha voltado e estava assegurando-se de que eles a notassem. Pen saiu de suas mãos e correu para o outro lado do quarto.
CAPÍTULO 12
— O Sr. Hampton está esperando para partir agora?
Típico de sua irritante eficiência, querer saber tudo, Catherine estava ocupada planejando a manhã até o último minuto, enquanto ela e Pen tomavam o café da manhã em seu quarto.
— Não falei com o senhor Hampton, desde que nos deixou ontem a tarde, assim não sei seu plano. Depois da estupidez com que recebeu Catherine ao voltar ontem a noite, Pen sentia certa obrigação de esclarecer que ela e Julián não tinham uma aventura, ou intenção de começar uma.
— O Sr. Hampton falou de um curto trajeto para o dia de hoje. Estamos perto de seu destino?
Pen passou uma má noite e uma manhã incerta. Sua conversa com Julián na noite anterior, provocou reações nela que não podia classificar. Uma tristeza dilaceradora escurecia toda essa confusão e não somente por Cleo. Suas carícias, sua proximidade, a maneira entristecedora em que seu espírito havia esperado que abraçasse sua necessidade de consolo e a distração foi atraindo-a a abusar de sua amizade da forma mais desprezível. Catherine se referia, à conclusão que tinha tirado que aconteceria uma festa ao terminar a viagem.
— Devemos chegar hoje. Ficaremos um dia ou dois. Depois disso, não sei aonde vou. — Possivelmente, para a América. Pode vir comigo também. Talvez, Julián aprove essa viagem se você for abrindo o caminho para mim através do deserto.
Prepararam-se para a viagem, só para descobrir que a capa de Catherine se encharcada pela caminhada da noite anterior na chuva.
— Use a minha azul e eu usarei a marrom, — Disse Penélope. Abaixou-se para procurar a roupa dobrada em seu baú menor. Catherine a alisou com a palma da mão, a lã superfina e luminosa da cor safira.
— Essa capa é muito bonita.
— Meu irmão me deu de presente.
— Não foi o Sr. Hampton e nem o conde, Pen queria acrescentar. Jamais o conde. Sua atribuição sequer pagava sua casa de Londres se não fosse pela ajuda adicional de Laclere. Ajuda que foi concedida quando deixou o conde.
O manto foi um presente, mas houve outros presentes menos evidentes que havia ganhado. Depois que Laclere se casou e que suas finanças melhoraram, sua esposa Bianca tinha o costume de convidar Pen para unir-se a ela a visitas às costureiras. As faturas dos vestidos de Pen chegavam a Laclere junto com os de Bianca, coisa que ela não esperava era ficar na miséria, mas não foi fácil. Teve que se humilhar. Fui reduzida a viver de caridade, não importa que outro nome bonito lhe deem para isso, mas era. Estava sendo estúpida e ela sabia. Não existia concorrência com Catherine, para saber quem era mais miserável. Catherine daria as mãos somente para recuperar sua filha.
A presença de Catherine se transformava em fastidiosa e irritante. Por um lado, Pen se deu conta que, sua capa azul a deixava impressionante. Fazia ela parecer mais fresca e bonita e lhe deu cor em suas faces. Se Julián já admirava Catherine por sua independência, perceberia também, do quanto era preciosa.
— A outra capa não está aqui. Por favor, peça para os criados trazerem de volta meu baú da carruagem. Quando Catherine se foi, seus olhos azuis olharam brevemente para a parede ao lado do quarto de Julián. O olhar não parecia cúmplice desta vez. Pen imaginava o homem que estava naquele quarto, bonito, escuro, frio e magistral. Se ele tinha beijado a jovem, da mesma forma que beijou ela, provavelmente estava apaixonada. Para Catherine a única preocupação seria a mudança de proteção.
Pen prestou atenção na desordem que tinha feito em seu pequeno baú, preocupada todo o tempo e com uma tristeza latente. Ela não sabia a razão, mas estava amargo e desagradável nessa amanhã.
— Estará pronta para partir em uma hora? -
Olhou para a porta, Julián estava ali. Sim, bonito, obscuro e frio.
— Catherine deixou a porta aberta? Perguntou ela.
— Parece que sim.
— Bom, por favor, feche-a e vai embora. Não sou boa companhia para ninguém hoje.
— Por que?
— Não sei porque Julián. Só desejo que meu outro baú esteja aqui. Desejo dar um passeio e tomar ar fresco. Talvez então, sentirei-me melhor. Fechou a tampa de seu pequeno baú.
— Quando encontraremos Cleo?
Ele apoiou um ombro no batente da porta, sem entrar ou sair.— Chegaremos a Grossington nessa tarde. Pensei ir visitar a senhora Kenwortu amanhã, a menos que você prefira fazer de outra forma.
— Não há outra forma. Pela primeira vez, no que se refere a Cleo, não devo ser uma covarde.
Ela ficou em pé. – Vou buscar baú se não, minha alternativa é esperar um ano para que volte para mim.
Ela lembrava coisas que não desejava lembrar. Admitiu isso, enquanto caminhava por um jardim escondido atrás da posada. Cada quilometro mais perto de Cleo, trazia imagens que engendravam mais culpa e humilhação.
Ela foi tão ignorante. Tão incrivelmente ingênua. Quando ela viu a casa de campo isolada em Wiltshire, cheia de servos de pele escura, nunca suspeitou que viviam na Inglaterra como escravos, assim como eram na Jamaica.
Não imaginava que Glasbury mantinha a propriedade isolada, para ele poder desfrutar dos criados de um jeito, que não seria permitido a um criado Inglês.
Ela passou bem por um tempo, até que um ano depois começou a tratá-la como se fosse uma escrava também.
A princípio o conde ditava ordens leves, mas sua raiva era mordaz e a atemorizava quando algo ela fazia ele não gostava. Quando ele mandava ela trocar o vestido para o jantar, e depois não gostava sua nova escolha, a fazia mudar uma e outra vez acompanhando de críticas sobre sua incompetência para ser uma condessa. Ele encontrava defeitos em tudo e ela começou a ter medo de sua presença, se encolhendo quando era foco de sua mira.
Isolou-a de seus amigos, dizia coisas terríveis sobre sua família e ficou furioso quando ela teve a ousadia de contrariá-lo. Ao não ficar grávida, ele usava isso como um chicote contra ela também. Seu medo crescia e sua alegria morreu. Ele desfrutava do que fazia. Finalmente, quando a tinha intimidado tanto como a uma menina, começaram os castigos.
Ela parou de caminhar e ficou ali imóvel, vendo como as lembranças rompiam as barreiras que havia construído a seu redor. Os castigos físicos tinham sido os menores dos males. Os rituais que exigia eram os desagradáveis.
Ele não se limitava de bater simplesmente, mas sim a fazia esperar como uma menina preparando-se para uma surra. Assim que chegava em seu quarto a obrigava a despir-se e caminhar para ele, deitava-a em seu colo e usava sua mão em seu traseiro. Isso o excitava, levou muito tempo para entender. E depois, os rituais se tornaram mais criativos e mais sexuais. Estremeceu-se diante a lembrança da primeira noite, que a fez arrastasse até ele e por sua vez, pegou seu cinto e com a fivela a golpeou até fazê-la gritar. Quando ele a teve implorando para que parasse, tomou-a como se fosse um animal submisso em que a tinha transformado.
Ela tirou essas imagens de sua cabeça e se forçou a colocá-las nas sombras onde havia guardado. Ela se saiu melhor que Cleo, pelo menos tinha fugido antes que o conde fosse mais longe, assim como fez com a garota.
Um manto azul apareceu na porta do jardim, Catherine fez gestos para lhe indicar que a carruagem estava pronta para partir.
Pen estava consumida, pela raiva que sentia contra ela mesma por ter sido tão dócil, deveria ter confiado em alguém, sem se importar com a humilhação que teria sido para ela confessá-lo. Deveria ter visto antes, que ela não era a única mulher nessa casa que se encolhia de medo.
Voltou caminhando preocupada com seus pensamentos, como quando ela partiu quando deixou o conde.
Mesmo na carruagem ao lado do condutor, Julián podia sentir que ela estava inquieta.
Nessa noite ficou parado frente à janela, olhando para fora em silêncio. Do outro lado da rua podia ouvir os ruídos das outras carruagens. O chão soava com um ritmo regular de pisadas que iam e vinham. Havia dito a ele que tinha lembrando “ de coisas”.
Ele também estava acompanhando sua insônia, embora ela jamais soubesse. Durante duas horas, escutou o ritmo de seus passos. “Ele sente prazer dando esses castigos” foram as palavras que ela usou nesse dia, enquanto olhava decididamente um canto de seus aposentos para que não pudesse ver sua reação. Supôs que ela passou semanas, tentando encontrar uma maneira de dizer isso sem ter que dizer muito realmente. Entretanto, tinha sido eloquente a sua maneira. Ela não havia dito "ele me bate quando está bêbado". Sua simples declaração se referiu a muito mais.
Parecia que o ritmo de seus passos que iam e vinham, nunca parariam. Finalmente, não conseguia mais suportar. Saiu de seu quarto e brandamente tocou em sua porta que estava a poucos passos do seu.
A porta se entreabriu. Pen estava ali com sua camisola branca de renda e com sua bata em cima, um xale azul envolvendo seus ombros e seios. Ele olhou em seus olhos e soube que ela caminhou pelo seu quarto intranquila toda a noite.
Pressionou mais a porta com a palma de sua mão. Na escuridão do quarto, podia ver Catherine dormindo em uma cama pequena contra a parede. Pegou a mão de Pen e a tirou do quarto e fechou a porta. Ignorando sua resistência, arrastou-a para seu quarto.
CAPÍTULO 13
Ela cruzou seus braços sobre seu xale e pressionava suas costas contra a porta.
— Catherine diz que se um homem a assediasse, mandaria seu joelho em um local onde ele não têm armadura.
— Se eu lhe perseguir espero o mesmo.
Ele caminhou afastando-se dela, porque desejava muito tocá-la. Estava tão adorável e tão feminina em sua roupa de dormir. Imaginava tirando seu gorro de dormir e ver seu cabelo cair livremente sobre suas costas.
— Ainda não dormiu Pen. Já é meia noite.
— Você tampouco está.
—Estive escutando você caminhar.
— Isso acontece algumas vezes quando eu não consigo dormir. — Continuava encostada na porta, como se tivesse medo dele. — Tenho um motivo dessa vez é que ficarei sozinha manhã. Não pode me afastar disso Julián. Não pode me proteger com escudo deste dragão. Afastou-se da porta. Sua expressão ficou triste como se caminhasse sem rumo pelo quarto.
— Eu era a senhora dessa casa. Era a responsável, mas estava cega.
— Ele estava convencido que você estava aterrorizada.
— Não, Julián, eu cobri meus próprios olhos porque o que existia na frente deles, não fazia sentido e era tão alheio ao mundo que eu conhecia. Lançou um olhar desafiante.
— Ele não queria que eu perdesse de nada. Assim em uma noite, quando castigou Cleo, ele me obrigou a ser testemunha. Fiquei horrorizada. Chocada. Tremendo e insensível ao mesmo tempo. Eu não compreendia tudo isso ainda, mas não podia mentir a mim mesma depois disso. Assim fui a você.
Ele sempre suspeitou que algo específico, havia acontecido para que ela fosse a ele e lhe confiasse tudo o que contou em seu escritório. Uma noite de iniciação. Uma noite em que o conde mostrou a Pen o tipo de prazer que ele queria. Não duvidava que ele havia pensado que ela já estava quebrada então. Mas ele estava errado. A suave e inocente esposa tinha tirado uma força que o conde não esperava.
— Foi desagradável, — murmurou ela, falando mais para si mesma do que para ele. — Acho que nesse dia desci para o próprio inferno.
— Você foi.
— Meu coração estava quebrado por ela. Mas um pensamento permanecia em minha cabeça e não saía. Um muito egoísta. Que poderia ser sua. Que algum dia seria.
Ela se virou. Ele sabia que estava chorando. O coração dele estava fechado. Foi atrás dela e pôs suas mãos em seus ombros. — Você a tirou dali Pen.
— Foi você quem fez Julián. — Deu a volta, mas não saiu de seu toque. — Adivinhou tudo isso, não é? Sua imaginação pode ver tudo, não é assim? Seus olhos cheios de lágrimas presas. — Sempre soube de tudo que ele fez para mim e para ela.
— Eu não insistirei em saber o que ele fez para você. Ele limpou com seu dedo uma lágrima que descia por sua face. — Você foi só uma vítima. Uma doce e adorável menina que foi raptada pelo demônio. Eu sinto desejo de matá-lo por isso, mas jamais mudei meus pensamentos sobre você. A reação dela quase quebrou seu coração. Parecia agradecida, cética e terrivelmente vulnerável. As velhas imagens de entrar com Glasbury em um campo de honra, retornaram em sua memória. Graças a Deus, ela tinha sido forte. Graças a Deus, ela encontrou coragem para deixá-lo. E graças a Deus, essas experiências não a arruinaram, ou a transformado em uma sombra, como transformou a pequena Cleo.
Seu dedo ainda descansava no rosto de Pen. Os olhos dela ainda cheios de confusão e de tristeza. O quarto pulsava pela intimidade provocada por suas emoções. — Devo ir, — disse ela.
— Poderá dormir agora?
— Possivelmente não. —
— Então fique aqui. Esperaremos o amanhecer juntos.
— Não devo.
Ele não desejava que voltasse para seu quarto e continuasse com seus pensamentos e lembranças.
— Se não estiver sozinha, possivelmente o dragão ficará em sua guarida. Ele pegou sua mão e a beijou. — Descansa aqui, em meus braços. Você retornará para seu quarto antes que Catherine desperte.
Ela não aceitou, mas tampouco negou. Quando ele deu um passo atrás para a cama, não houve resistência real no corpo que ele guiava pela mão. Olhou à cama por um longo tempo.
— Se eu lhe assediar, ainda pode seguir as instruções de Catherine sobre joelhos em lugares desarmados, — disse ele. Ela riu. O som musical quebrou através da tristeza e levantou a escuridão. Ela tirou seu xale, dobrou cuidadosamente e o colocou em uma cadeira. A domesticidade dessa ação o deixou em transe.
— Tem certeza que me levará para fora, antes que mesmo que os criados levantem?
— Prometo. Ela levantou a roupa de cama e subiu.
— Continuamos fazendo as coisas que não deveríamos, mas tem razão, não quero ficar sozinha com meus pensamentos nessa noite. Havia uma confiança implícita em seus movimentos, enquanto ela se acomodava na cama. Era de uma vez aduladora e divertida. As imagens que passavam por sua imaginação, não eram nada confiáveis, mas esperava poder sobreviver nessa noite. Depois de uma vida de contenção, algumas horas mais deveriam ser manejáveis.
Ela o olhou do travesseiro. — Não pensa ficar sentado na cama como uma enfermeira?
— Não.
— Não pensará descansar com casaco e com o lenço?
— Não. Ele tirou seu casaco e desamarrou o lenço.
— Não. Ele deslizou seu casaco para fora e foi começou a trabalhar com sua gravata. Depois apagou a vela. O fogo se reduziu a cinzas, mas ainda dava um pouco de calor e toques de luz.
— Acho que deve tirar a camisa.
— Agora? Poderia ser conveniente se um de nós não estivesse vestido na cama. Há limites ao cavalheirismo de qualquer homem.
— Sim. É obvio. Perdoe-me. Sempre é mais sensato do que eu Julián.
— Sensato, Ah sim? Tirou a maldita camisa. E se virou para encontrar seu olhar. Pelo menos ela não parecia estar mais pensando em Glasbury. Sentou-se na cama e tirou as botas. Decidido não ser nem mais um pouco sensato, tirou a calça, jogou na cadeira e se juntou a ela debaixo da manta. Seu corpo já estava na condição de fazer sua noite uma tortura.
— Suponho que isso é muito arriscado e perigoso, — disse ela.
— Não corre perigo comigo. Isso não era muito verdadeiro.
— Isso não é o que eu queria dizer.
— Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão.
— Isso ajuda a não ficar sozinha. Estou contente também, por estar comigo manhã. Não acho que eu poderia fazer de outra maneira.
— Você pode fazer algo se decidir que é importante. Já demonstrou.
— Não acredito que seja verdade. Se pensar nisso nunca atuei sozinha. Sempre há alguém para me ajudar. Mas não desejo pensar ou falar mais disso nessa noite.
— Do que prefere falar então ?
Ela se levantou sobre seu cotovelo. — Que a mágica luz do fogo, dá um brilho especial aos contornos de seu rosto, como se fosse uma pintura. Estendeu sua mão e riscou uma linha ao longo de seu nariz, sobre seus lábios e desceu pelo queixo. O desejo começou a percorrer através dele. O toque de Pen riscava linhas sobre seus ombros e nos músculos de seu peito. Moveu a manta para baixo com sua mão.
— O que está fazendo Pen?— disse ele com voz contida.
— Você me olhou, eu desejo olhar você. É mais atlético do que esperava. Não duvido que os remos podem explicá-lo. — Seus dedos percorreram em cima de uma linha áspera em seu lado esquerdo. — Como fez essa cicatriz? — É muito longa.
— Fiz isso alguns anos atrás em Hampstead.
— Não compreendo como um jogo de espadas na Sociedade do Duelo, pode ser tão perigoso.
Ela se referia ao grupo de amigos de Laclere, que se reuniam na casa de Chevalier para praticar com espadas e pistolas. Julián fez parte deste grupo da universidade e ainda se reunia com eles ocasionalmente, para continuar com sua velha camaradagem.
— Todos temos alguns arranhões. As espadas fazem isso.
— Isso é mais que um pequeno arranhão. — Sua mão traçou a cicatriz até o final sobre seu quadril. Seu corpo reagiu proeminente. Ele moveu as mãos dela para trás e suprimiu as surpreendentes imagens que conquistavam sua cabeça nesse momento.
— Está fazendo isso perigoso, apesar de minhas boas intenções. Inclusive, os velhos amigos não são de pedra. Não sou todo o tempo completamente sensato.
— Não, não é. O que é um descobrimento muito interessante. Seus dedos e seu olhar se moveram em cima de seu abdômen.
Ele pegou sua mão, segurando. — Está tentando me seduzir Pen?
— Não completamente, sussurrou. — Suponho que estou devolvendo o dragão para sua guarida Julián. E estou lembrando, que também há bons momentos, bons amigos e que não estou arruinada para tais coisas.
Bons momentos, mas não com ele. Outro lhe tinha mostrado que não estava em ruínas, muito antes que Julián Hampton a beijasse.
Ele sabia muito bem, como fazer que todos os dragões se retirassem. Ponderava se ele se atreveria a fazer isso e se teria a contenção que ela esperava. Não desejava mais jogos sexuais incompletos. Fazer amor na praia tinha sido precioso, mas não desejava ser um mais dos homens que roubavam carícias e beijos através dos anos. Homens que podia esquecer facilmente e ser relegado de uma lista frívola de jogos de flertes, sem consequências e sem significado.
Se ela tivesse permanecido ali tranquilamente, poderia ter continuado com seu bom senso. Mas ela se virou um pouco e seu quente fôlego caiu sobre seu peito e de repente, ele queria o que poderia obter se não o fizesse.
Uma antecipação sensual alagava o silêncio entre eles. Sua mão ainda descansava sobre sua pele debaixo da sua. Levantou-a e a beijou na palma da mão e sobre o pulso.
— Vamos pôr os dragões para dormir nessa noite se quiser.
Ela virou a cabeça e o olhou.— Não é justo para você, certo? Como disse antes, inclusive os velhos amigos não são de pedra.
— Não é única coisa que quero. Não vou mentir a respeito disso. Mas será suficiente.
Levantou-a e moveu sobre suas costas, que de tal forma era a única recebia os brilhos do fogo moribundo brilhando em cima dela. Deslizou seu gorro e seu cabelo caiu livremente para baixo. Ele tentou lembrar quando tinha sido a última vez, que a tinha visto com o cabelo solto. Anos atrás quando ela era uma menina, estava certo. Entretanto, frequentemente a via desta maneira em seu pensamento. Percorreu seus cabelos até que se dispersaram no travesseiro. Tirou os laços dos arcos que mantinham a camisola fechada. Ela olhou seus dedos por debaixo dos grossos cílios com as pálpebras abaixadas.
— Você me deixa sem fôlego Julián e sequer me deu um beijo ainda.
— Então você vai ficar sem fôlego quando eu tirar isso.
— Totalmente?
— Sim. Afinal de contas, havia esperança que isso pudesse acontecer completamente nessa noite, pensou ele.
Ele levantou seu ombro para que pudesse deslizar para fora a roupa ver algumas polegadas mais de seu corpo. Seu aroma lhe disse que havia despertado sua libido ao despi-la, pois sua expressão era de uma mulher que estava na metade do caminho para o êxtase. Ela estava certa sobre o fogo. Tinha desenhado uma linha brilhante em seu corpo. Ele fez como ela tinha feito com ele, traçou seu rosto, pescoço e depois ao longo de seu peito e a curva de seus seios. Seus mamilos rosados se ergueram quando seus dedos os cercaram e suas costas se arquearam sutilmente. Sua respiração era mais audível agora.
Suavemente circulou um mamilo com os dedos. – Você é muito bonita Pen. Não posso imaginar paixão mais bonita que a sua. A mão dela pressionou sua nuca para baixo para aproximá-lo de seu rosto.
Não só o dragão dorme quando fazemos isso Julián. Morrer por um tempo. É como se eu fosse uma garota outra vez em Laclere Park e nada feio e triste tivesse acontecido.
Suas palavras o tocaram.
– Então voltaremos a Laclere Park Pen. Para quando eras uma garota e eu um rapaz. – Ele beijou seu rosto.— É primavera, voltei ao lago e encontrei você ali sozinha, sentada no meio das flores.
Ela riu baixinho e fechou os olhos.— Sim, é primavera. É um dia quente, com céu azul e grandes nuvens brancas. Há juncos em baixo das árvores. As folhas de carvalho, não estão no entanto. Onde estão meus irmãos? Por que você está sozinho?
— Eles se foram com o mordomo comprar um cavalo. Eu escolhi ficar para trás.
— Para me ver sozinho?
— Possivelmente. Se você quiser.
— Acho que foi por a caso. Um impulso. Nós somos jovens a final. Não acredito que devemos falar de uma sedução calculada.
— Atualmente, em minha história você me seduz.
Ela reagiu assombrada, mas um pequeno sorriso se derreteu em seus lábios. — Sou muito travessa…
— Bom, não é nada novo. Quando conheci você, estava subindo o vestido à cintura para poder entrar no lago e tentar pegar peixes com as mãos, assim foi em um verão em que eu e Vergil lhe encontramos.
— Minha preceptora me fez permanecer em casa por uma semana, quando cheguei em casa com os pés enlameados. Se eu levantar minha saia para entrar no lago, você vai ver muito das minhas pernas, não acha?
— Ele deslizou a manta, para ver todo seu lado esquerdo até os dedos de pé. Observava enquanto acariciava sua pele sedosa a até o joelho.— Muito. As pernas mais belas. Estou encantado.
— Então, depois de brincarmos no lago, nos beijamos. — ela sussurrou. — É meu primeiro beijo de verdade. Ele a beijou.
Ela levantou o olhar e passou seus dedos no rosto dele.
– E para você? É seu primeiro beijo de verdade Julián?
— Sim, Pen. É minha primeira vez.
— Fico feliz. Beija-me outra vez Julián.
Ele já não era tão jovem, mas poderia fazer. Ela não era realmente sua primeira vez, mas ele a acariciava com sua mão, como se nunca tivesse tocado outra mulher. A diferença estava em seu coração. Cada beijo era novo e perfeito, uma revelação de emoções enterradas há muito tempo, assim como não poderia ter futuro para eles, no passado tampouco houve. Ela só desejava matar os dragões por uma noite, mas a alma de Julián se sacudia com o que estava acontecendo.
Seu corpo rugiu com impaciência, mas seu coração desejava um passo à eternidade. Ele controlava sua fome e a beijava lentamente, escutando cada pausa e cada resposta que lhe dava. Pequenos mordidas em sua orelha a fizeram estremecer. Beijos no pescoço a fez ofegar. Durante um longo e profundo beijo ela se uniu a ele, aventurando-se a fazer sua própria invasão, pouco a pouco dentro de sua boca, lhe fazendo saber que ela não era tão passiva. Ele beijou um seio e acariciou o outro, em transe por sua suavidade. Memorizando a sensação de sua pele entre seus dedos, sua boca e um lado de sua loucura estava cada vez maior. Um sonho de êxtase marcava sua expressão e seu respiração ofegante fluía em seus ouvidos.
Ele se levantou sobre ela, para poder ver seu rosto e para lembrá-la sempre. Acariciou seus duros e eróticos mamilos, enquanto observava com alegria seu prazer. Ela abriu seus olhos. Parecia envergonhada por ele ver suas reações, mas depois pode ver como o calor entrou em seus olhos.
— Você gosta de ver o que me produz?
— Sim.
O olhar dela baixou lentamente sobre seu peito. — Então não se importará se eu jogar também. O justo é justo.
Suas palavras infantis, o lembraram a fantasia que tinham compartilhado. Entretanto, não era a mão de uma menina, que se movia para baixo de seus ombros acariciando seu corpo. Sua carícia o fez apertar os dentes. Chamas ardentes atravessaram seu sangue e queimavam sua cabeça. Ela foi se aventurando cada vez mais abaixo e sua cabeça começou a estalar. Em seguida ela tocou seu membro ereto em sua cueca e deslizou suas mãos para dentro para acariciá-lo. A excitação dele se transformou selvagem e perigosa, mas ela se manteve lírica e luxuriosa. Ele baixou sua cabeça para lamber e chupar seus apertados mamilos de veludo. Firmou o corpo dela com sua mão, acariciando suas suaves curvas para deliberadamente obrigá-la ao abandono.
Ela mordeu seu lábio inferior e ele pôde ver como uma poderosa tensão pulsava através dela, como se cedesse ao controle de suas reações.
— Talvez, possivelmente não tenha que ser só “o suficiente” esta noite Julián. Só que dessa vez, talvez...
Ele a olhou aos olhos, mal se atrevia a respirar, muito menos a falar. Entretanto, seu corpo não ficou em silêncio. Gritou com ânsias caóticas que o liberasse de suas tênues ataduras.
— Possivelmente, se formos cuidadosos afinal não tem que ser tão injusto, — disse ela.
Um bom amigo não deveria lhe permitir decidir isso agora, aqui, enquanto ele sentia um atraente prazer. Um homem honrado não podia lhe permitir abandonar o cuidado de toda uma vida, especialmente em uma noite, quando as lembranças a tinham deixado tão vulnerável.
Mas seu próprio desejo o empurrava para muito longe de ser bom e honrado.
— Posso assegurar que seremos cuidadosos. — De algum jeito encontraria força para cumprir essa promessa
— Tem certeza Pen?
— Acho que vou morrer se não fazemos. — foi toda sua resposta.
Ele a levou mais à frente do pensamento, além de todo julgamento. Afogou-a no prazer para assegurar-se que não pudesse mudar de opinião. Seus gritos se fizeram frenéticos. Quando ele a acariciou mais acima, entre suas pernas e a tocou intimamente, ela se uniu a ele em um estado de paixão onde não havia nada cuidadoso, lento ou contido. Compartilhavam e negociavam, agarravam e mordiam entre beijos e carícias mais eróticas.
— Sim, — sussurrava ela uma e outra vez até transformar-se em uma desesperada melodia de assentimento e desejo. Ele se moveu em cima dela. Outro “Sim” fluiu em seu fôlego, mas de repente se tornou envergonhada estranha, como se não soubesse o que fazer agora. Uma nota diferente soava em seus suspiros.
Ele a desejava tanto que mal podia pensar, mas sua sutil vacilação restaurou um ponto de calma em meio de sua fúria.
Com seus corpos apertados, de coração a coração, ele a olhou aos olhos, mais à frente do desejo e viu a vulnerabilidade que quase tinha esquecido no calor da paixão.
— Está assustada Pen?
Ela o olhou.
— Não precisa ficar. Eu nunca a machucaria. Ele abriu suavemente suas pernas. Entrou devagar, como se fosse realmente uma virgem na pequena fantasia que havia começado tempo atrás.
Ela reagiu como se fosse, com surpresa e mal estar inicial. Na continuação, seu corpo se relaxou e ela o aceitou profundamente.
Era sua vez de ser surpreendido. A sensualidade era o de menos. Uma profunda alegria impregnava seu ser e o intimidava. Fechou os olhos e saboreou todas as sensações, sem se mover. Nunca esteve tão totalmente vivo em um momento de sua existência.
Quando levantou suas pálpebras, Pen o olhava com uma expressão preocupada que tocou seu coração.
— Estou bem agora,— sussurrou. – Ficou quieto tanto tempo, que pensei que você não conseguia seguir adiante com isso, com medo de mim.
— Eu não sou tão cavalheiro para fazer isso. Só estava desfrutando da sensação de sentir você.
— Oh. Igual o olho na tempestade, quis dizer.
— Suponho que sim.— Ele sabia disso. Como os ventos começavam a uivar de novo.
Se manteve a raia da loucura, tanto como podia. Se retirou e empurrou lentamente, desfrutando da deliciosa sensação e dos suaves suspiros de suas respostas. Se ajoelhou e se apoiou sobre seus braços para poder ver seu rosto, seu corpo e olhar abaixo como eles se uniam. Seu corpo não o deixaria continuar assim por muito tempo. A urgência por terminar forçava suas demandas. Equilibrou seu peso em um braço, agachou-se e deslizou seu dedo em sua fenda para acariciar seus clitóris. Foi a tormenta dela que guiou o restante. Seus gemidos falavam de como o prazer a desenquadrava. Seus movimentos o apertavam mais a cada vez. Seus quadris subiam e desciam procurando ansiosamente o alívio. A própria paixão dele se tornou tão intensa e selvagem na resposta, que começou a levantar em um pico. Ele endireitou suas pernas e as apertou juntas debaixo das suas.
– Não se mexa – quando empurrou a outra vez, os dedos dela se cravaram em seus ombros encontrando a pressão que o acariciava mais eficientemente por dentro.
–Sim, sussurrou ela, começando seu transe musical de novo. Ela gemeu com prazer surpreendo outra vez. Logo pequenos assentimentos exalavam com cada respiração.
Sua ascensão lhe disse o perto que ela estava e ele encontrou o controle para continuar. Quando ela amorteceu seus gritos contra seu ombro e se estremeceu com seu orgasmo, ele finalmente cedeu às demandas de seu corpo. Inclusive no meio do clímax, jamais esqueceu que era Pen quem segurava entre seus braços. Sua presença só o embriagou de felicidade da mesma forma, que fizeram suas carícias e todo o prazer que lhe acabava de dar. De algum jeito, nesse glorioso cataclismo de prazer, ele manteve sua promessa e renunciou a sua união física derramando-se fora de seu corpo.
CAPÍTULO 14
Os dragões se retiraram para suas celas durante toda a noite. Embora Pen tenha deixado os braços de Julián e voltado para seu quarto, ela não se incomodou. Somente começou a agitá-la quando o amanhecer despertou. Mesmo assim, o passado permanecia vago e distante. As más lembranças não podiam penetrar em seus pensamentos da noite.
Entretanto, quando estava colocando sua capa lembrou. Caminhando pelas escadas para unir-se a Julián na carruagem a tirou de seu estupor.
Ela estava um pouco envergonhada quando viu Julián à luz do dia. Sua saudação foi formal e correta, mas seus olhos mostravam calidez e um toque de conspiração brincalhão. Reuniu-se com ela na carruagem e saíram da cidade. Sentou-se de frente a ela, sem dizer nada, como era sua forma habitual. Ela foi quem se sentiu obrigada a falar da noite anterior.
— Não sei como me comportar hoje contigo Julián. A única coisa que posso fazer é não rir bobamente.
— Sempre pensei que era um som encantador.
— Estou surpreendida comigo mesma. Parece que sou mais sofisticada do que pensava. Suponho que minha longa abstinência teve a ver com perda de minha cabeça na noite passada.
— Não se necessita de uma longa seca para desfrutar de uma chuva de verão.
—Estou tendo dificuldades ao lembrar o quanto fui atrevida. Não acha? Alguma vez teve uma relação sofisticada antes?
— Eu sozinho tive relações sofisticadas Pen.
— Bem. Pelo menos um de nós sabe o que fazer e que dizer no dia seguinte.
Ela esperou. Depois de uma conta de cinco, uma expressão um pouco desconcertada passou por seu rosto. Então com diversão, percebeu que ela esperava que a guiasse.
— Bem Pen, normalmente, em algum momento dos próximos dias, se expressa alguma gratidão.
— Certamente, como vejo. Pois bem, então obrigada Julián.
Ele coçou sua testa, enquanto um sorriso dançava nos cantos de sua boca.
— Estou falando de expressar gratidão Pen, não isso.
— Eu assumi que ambos.
— Não normalmente.
Isso não ajudou muito a sua situação. Estava certa que havia também expectativas para a mulher. Possivelmente, ela deveria esclarecer o assunto e lhe assegurar que não haveria cenas. Ela conheceu mulheres que entendiam mal as coisas e construíam enormes expectativas sobre os romances casuais que mantinham com outros homens.
— Julián quero que saiba que, não me comportarei infantilmente, ou que ficarei implorando ou insistindo que continue com suas atenções. Não convencerei a mim mesma, de que foi outra coisa mais do que realmente aconteceu.
Seu sorriso não mudou, mas em seus olhos brilhavam luzes penetrantes.
— E que foi que “aconteceu” realmente Pen?
A pergunta a desconcertou, mas ele estava certo, era necessário esclarecer. Ela pensou no que experimentou com essa paixão antes e depois. Deixou algumas dessas reações de lado, porque não eram nada adequadas.
— Acho que foi uma noite muito especial compartilhada entre dois amigos Julián. Um momento de abandono a uma intimidade segura e sem reservas, para que eu pudesse ignorar o passado por um tempo mais. Suspeito que tais coisas sejam estranhas acontecer entre um homem e uma mulher, possivelmente aconteceu graças a nossa longa e antiga história.
Ele estendeu sua mão, levantou-a pela cintura e a colocou em seu colo.
— Extremamente estranho. Mas não tão momentânea, para que hoje eu não queira abraçá-la e desfrutar do que compartilhamos, por um pouco mais de tempo.
Ele a segurou por quase todo o caminho até seu destino. Ela se sentia grata por estar em seus seguros e solidários braços.
Essa sensação de tranquilidade acalmou a agitação que tinha pelo encontro que a esperava. Quando a carruagem deixou a estrada e foi para um caminho através de algumas castanhos, ele a deslizou de seu colo. Pararam em frente a uma modesta casa cercada por extensas plantações.
— Que bela deve ser aqui na temporada — disse Pen.
Julián pegou sua mão e a ajudou a descer da carruagem.
— A Sra. Kenworthy cuida pessoalmente. Os livros e isso, são suas grandes paixões.
— É uma mulher sábia?
— Ela era uma amiga de meu tio que o vigário e conversava com ele sobre qualquer assunto de igual para igual.
— É por isso que acha que necessitaria de Cleo?
— Não, disse.
A razão pela qual estavam ali, não podia ser ignorada por mais tempo. Seu coração começou a acelerar em um ritmo incômodo.
— Eu sabia que ela era uma mulher de bom coração e achei que podia ajudar à menina.
A criada aceitou o cartão de Julián e depois retornou para levá-los ao jardim dos fundos. Encontraram à senhora Kenworthy flexionada cortando os caules mortos de um jardim herbáceo. Ela usava um chapéu de homem feito de palha, com laço simples e um vestido largo verde sem enfeites.
Quando se aproximaram da mulher, ela se endireitou com cuidado, como se seu corpo se rebelasse contra sua atividade.
— Isso realmente é uma surpresa maravilhosa. — Seus olhos claros foram para Julián com uma cálida inspeção, como se fosse uma velha enfermeira — Julián , raramente vem por esses lugares, talvez já faça oito anos desde a última vez, que veio com seu tio.
— Se você está dizendo que fui negligente com os velhos amigos, aceito a recriminação.
Apresentou Pen e a curiosidade da Sra. Kenworthy se viu obviamente picada.
— A condessa deseja falar com Cleo, — explicou Julián.
A Sra. Kenworthy piscou com força. — Você não recebeu minha carta?
— Em primeiro de janeiro? — Sim, eu respondi.
— Mas não a seguinte? Quatro meses atrás?
— Não recebi nada, madame.
A Sra. Kenworthy de repente, não parecia rígida ou velha para nada. Uma clara nitidez se via em seus olhos.
Vamos para dentro, precisamos conversar, se você não recebeu minha carta, algo muito suspeito está acontecendo.
— O que dizia a carta?
— Cleo está morta Julián. Ela se enforcou. — Sempre soubemos que estava em perigo certamente.
A Sra. Kenworthy passou para Pen uma xícara de café. Estavam sentados em um balde na biblioteca abarrotada de livros e panfletos.
— Ela nunca esteve bem depois que chegou. Possuía uma profunda depressão. Mesmo depois de viver comigo todos esses anos, ela agia como um cachorrinho que foi chutado e expulso.
Pen lembrava a forma que Cleo tentava parecer, pequena e invisível. Podia vê-la na casa do conde em Wiltshire deslizando-se fora de uma sala, com a cabeça e os ombros encurvados.
As notícias de que Cleo estava morta a deixaram dormente. — Quanto tempo faz que aconteceu?
— Ela simplesmente se afastou desta propriedade, procurou uma árvore, a grande e velha castanha que há na próxima curva da estrada, amarrou uma corda e saltou de um tronco. Eu escrevi para Julián a respeito deste triste acontecimento. Enviei a carta através de um agente como requereu. Agora me pergunto, se realmente seria seu agente afinal.
— Não era. Não tenho nenhum agente que pudesse tê-la contatado.
A Sra. Kenworthy suspirou profundamente. — OH, querido, acho que fui muito negligente. Receio que a pobre mulher tenha morrido por minha culpa.
— Você não foi mais que generosa com ela e não foi nenhuma negligência. Entretanto, por favor me fale a respeito, desse suposto meu agente.
— Ele veio na primavera passada. Disse que trabalhava para você, que você estava muito ocupado em seus deveres, assim que o contratou para tratar de certos assuntos em seu nome. Assuntos tais como este. Você havia enviado ele para falar com Cleo, para ver como estava passando. Disse que você continuaria enviando dinheiro para sua pensão, mas que seria mais fácil se qualquer pedido ou notícia enviasse a ele primeiro no futuro.
Pen não tinha se dado conta, que Julián mantinha Cleo. Havia dito que a Sra. Kenworthy a tinha contratado em sua equipe de serviço.
— Ele se encontrou com ela? — perguntou Julián.
A Sra. Kenworthy ficou inquieta. — Sim. Permiti eles conversarem a sós. Ela era uma mulher madura e era de índole pessoal. Obviamente eu podia vê-los da janela de meu jardim. Ela não mostrou nenhuma reação a qualquer coisa que ele disse.
— Seu julgamento não pode ser criticado — disse Julián.
— Receio que você está errado. Foi na semana seguinte, que ela se suicidou. Pergunto-me agora, se foi o que esse homem lhe disse, que a levou a fazer isso.
Um sentimento sinistro se espalhou através de Pen. Tinha muito medo que a Sra. Kenworthy estivesse certa. O homem que tinha vindo foi enviado por Glasbury, sem dúvida nenhuma. Cleo poderia muito bem, ter procurado refúgio na morte se tinha medo de cair nas mãos de Glasbury novamente.
Eu gostaria de ver o lugar onde a encontraram. — disse Pen.
Julian negou com a cabeça e levantou a mão em um gesto imperioso.
— Não, milady isso somente a angustiará mais.
— Exijo ver onde aconteceu senhor Hampton.
Ela parou debaixo da velha árvore, imaginando Cleo mais velha agora, mas ainda como uma jovem vestida com roupa infantil. Ela se identificava com o desespero, que a tinha levado tomar essa decisão. Suas horríveis suspeitas se cristalizaram em palavras.
— Glasbury sabia que ela poderia apoiar minhas acusações Julián. Escreveu a Nápoles me dizendo que o acerto estava concretizado, depois do que tinha acontecido. Ele sabia que ela era uma ameaça, antes que eu percebesse isso e compreendeu, como sua morte desamarraria suas mãos.
Julián parecia perdido em seus pensamentos. Não examinava a árvore da mesma forma que ela fazia. Ele não olhava nada absolutamente.
— Meu Deus Julián, nós pensamos que o tínhamos derrotado e ele esteve observando ela a todo o tempo. Possivelmente, desde que ela foi embora. Talvez, desde que eu fui.
O senhor Hampton, o advogado estava parado aqui, mas ela sabia que não estava desativado a respeito disso. Suas reservas escondiam contemplações, que ela não podia ver, mas sabia muito bem, que não era porque ele não estivesse afetado por esta tragédia. De sua parte, ela não podia ser tão silenciosa, seu coração chorava com raiva e frustração.
— Esse homem certamente lhe disse que voltaria e ela era muito ignorante para entender que Glasbury não tinha nenhum poder sobre ela. Isso a levou a tomar essa atitude. E o conde contava com isso. Ela nasceu escrava e ainda pensava como tal. Depois de provar a liberdade e a segurança, certamente desejava morrer antes de aceitar as algemas de novo. Eu teria feito isso também.
— Não acho que foi isso que aconteceu. — Seu tom de voz a fez virar para ele. Ele estava muito aborrecido. Perigosamente furioso. — Esse homem não lhe disse que veio a pedido de Glasbury Pen. Disse que veio de minha parte. A inconsistência pode ter vindo quando Cleo falou com a Sra. Kenworthy, algo que havia lhe dito e fez em meu nome.
Ela temia que ele estivesse correto. Se Julián tinha enviado uma mensagem a Cleo lhe dizendo que retornaria, ela não teve mais nenhuma esperança. A não ser olhar para o velho castanho em volta do caminho. Não qualquer árvore. Uma muito grande e antiga, conhecida por toda as pessoas da região. Por que escolheu esta árvore? Um calafrio percorreu Pen pela espinha dorsal. Cleo não foi ali para suicidar-se, a não ser encontrar-se com o agente do Senhor Hampton, quem a levaria dali para outro lugar seguro. Por isso, a Sra. Kenworthy não tinha visto nenhum gesto de tristeza naquela conversa.
Pen estava errada em suas suposições, Glasbury não tinha visto Cleo todos esses anos, entretanto ele esteve procurando ela e na primavera passada, a encontrou finalmente. Pen pensou a respeito, do que ela conhecia do caráter verdadeiro de Glasbury. Viu sua casa com os servos escravos e viu sua expressão, enquanto a feria na casa de praia. Ele poderia ter feito isso? Contratar alguém para matá-la? Sua cabeça desejava desprezar essa ideia, mas seu coração conhecia a verdade.
— Julián, quando negociou minha liberdade com Glasbury o que ele lhe disse?
— Falei-lhe de seu abuso com os servos, especialmente da garota. Disse a ele que se não a libertasse, você se divorciaria dele e isso tiraria a luz tudo o que acontecia ali e os crimes que ele havia cometido.
— Especificou que esses crimes foram além do uso de Cleo?
— Não foi necessário. Ele entendeu. Sabia que um homem não podia ter escravos na Grã-Bretanha, nem legalmente ou na prática. Ele sabia que seria desprezado publicamente, se soubessem sobre a pequena plantação que tinha em Wiltshire.
Teria sido suficiente? Que soubessem que praticou outros crimes, alguns maiores que provocariam uma queda maior de escândalo e desprezo, se caísse ao conhecimento? E se Cleo havia visto muito mais que ela a condessa de Glasbury ? Ela afastou-se para que Julián não visse o horror que seus pensamentos lhe estavam provocando.
Glasbury havia matado Cleo. Ela estava certa disso. Ele pode ter estado procurando por anos, desde que tudo começou para poder eliminá-la. Cleo havia mudado para lá em nome de Julián e foi assassinada.
Pen de repente, se sentia terrivelmente vulnerável, inclusive com a presença de Julián , não podia se sentir protegida. Mas ela não experimentou o pânico. Nem o terror. Com certa calma, percebeu o que realmente agora enfrentaria.
Glasbury poderia ter êxito e forçá-la a voltar ou também poderia matá-la, assim não haveria continuação de seu acordo. Ela não ganharia nenhum divórcio com sua história, mesmo se o provocasse a divorciar-se dela. Ela se virou para olhar a Julián, mas com medo visceral. Se Glasbury descobrisse o que aconteceu na noite anterior, o que poderia fazer? Uma queda do penhasco, enquanto Julián visitava sua casa de campo? Um acidente a cavalo, enquanto galopava para Hampstead?
Ela esteve preocupada com a reputação de Julián e seu sustento.
Teria que ter se preocupado com sua vida.
CONTINUA
CAPÍTULO 08
Se o beijo era uma indicação de sua habilidade, Julián Hampton poderia muito bem ser absolvido.
Esse foi o primeiro pensamento lúcido que aconteceu na cabeça de Pen, quando recuperou certo controle sobre sua agitada condição.
Sentou-se no sofá, tentando encontrar alguma explicação a essa repentina mudança em sua amizade.
Não tinha ideia do que deveria fazer agora.
Levantou-se e olhou pela janela. Não estava no terraço.
Poderia pensar que se sentia insultada por aquele beijo, ou que agora ela suspeitava de suas intenções. Aquele beijo poderia mudar tudo a respeito, de como ela via as motivações para sua ajuda e proteção.
Ela não desejava perguntar se esse foi o caso dela.
Seu casaco estava à vista, assim pegou a manta e a envolveu ao redor de seus ombros. Ela foi ao terraço para ver onde ele estava.
Julián não estava longe do último degrau da escada de pedra, em uma saliente faixa de areia da praia, lançada pela maré. Era uma bela imagem em pé, cercado pelo mar, seu cabelo escuro em contraste com seu casaco de cor clara. Seu corpo tinha uma postura casual, como se meditasse sobre os elementos e como se as forças da natureza fluíssem através dele.
Ele não parecia ser alguém que nesse momento, desejasse a intromissão em sua solidão.
De qualquer forma, ela foi para as escadas e parou perto dele.
Ele não olhou para ela. – Devia ter ficado na casa de Pen.
— Eu não vou ofendê-lo. Estou bastante recuperada de meu teste.
— Isso não é o que eu tentava dizer. Olhou-a brevemente e depois voltou sua atenção para o mar.
— Não tenho a intenção de me desculpar, se for isso que você espera.
— Não há necessidade de fazer isso. Foi um impulso. Todos agimos muitas vezes sem pensar.
— Sim, pode ter sido um impulso. Também, pode ter sido a coisa mais intencional que eu tenho feito em toda minha vida. Eu ainda não decidi qual foi.
Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas se sentiu obrigada a dizer algo.
— Estou surpresa e isso é tudo. Lisonjeia-me também, sem dúvida, mas sobre tudo me surpreende. Não fazia ideia de que, alguma vez pensasse em mim dessa maneira.
— Por que não poderia? Você é uma mulher atraente e os homens, habitualmente pensam nas mulheres dessa maneira em todo caso.
Isso sem dúvida dava ao episódio uma cor diferente. Também explicava o motivo real para aquele beijo. Algo comum que não tinha nada a ver com os impulsos, ou mesmo com o fato de que pensasse nela dessa maneira.
O orgulho dele estava ferido. Sua masculinidade tinha sido insultada, porque a condessa de Glasbury não o incluiu na tola lista de possíveis amantes, não lhe importava qual amante ela finalmente escolhesse.
Bom, o que ela esperava? Podia ser um velho amigo, mas no final continuava sendo um homem.
— Julián , eu quis dizer quando se referia que não estava em minha lista, é que é um homem honrável e o risco que seria para você esse escândalo. Quase escrevi seu nome, na verdade. Minha pluma estava disposta a fazer, mas considerando tudo o que perderia, foi o que me fez parar. Claro, que a ideia veio em minha cabeça, mas dadas as circunstâncias achei melhor não considerá-lo.
Ele parou na frente dela, entre ela e o mar, escutando com diversão. Estendeu a mão e brandamente colocou dois dedos em seus lábios, parando sua intenção de acalmar seu orgulho.
— É muito amável de sua parte tentar explicar Pen. Também é um erro. Teria sido melhor, que não falasse isso.
Ela pegou sua mão entre as suas.
— Eu achei que devia lhe dizer isso Julián. Eu não quero insultar ou machucá-lo por causa de uma estúpida lista.
O olhar dele se fixou em suas mãos unidas. Seus olhos tinham pequenos relâmpagos que os iluminavam.
— Tocar-me agora foi outro erro Pen. Um muito grande.
Ela sentiu como se estivesse dentro de uma névoa imprecisa, quando ele a puxou em seus braços e a capturou em um abraço que a cobria.
Beijou-a de novo, mas foi diferente dessa vez. Definitivamente impulsivo. Perigosamente furioso. Ela poderia ter controlado suas reações no último beijo, se tivesse realmente desejado. Esse beijo lhe dava uma pequena escolha para a submissão.
A manta a envolvia, mas a força dele também cercava. Seu abraço apertado a mantinha tão próxima, que ela podia sentir tudo dele. O peito de Julián pressionava seus seios e ele compreendia que, ela estava desfrutando dos beijos em sua boca e em seu pescoço.
Ele parou e a olhou, não havia equívoco na forma em que a olhava. Não havia dúvida, da fúria sensual de seus olhos. Tampouco podia ignorar a forma em que seus lábios se incharam e pulsavam por seus beijos, como seu pulso batia frenético em seu peito e sob seu pescoço para seus seios. Essa pulsação emocionante, transformou sua inicial surpresa em um sedutor alarme de êxtase.
Seu corpo inteiro reagiu, diante seu olhar audacioso. Os batimentos do coração, se transformaram indubitavelmente em sexuais e seu ritmo batia seu sangue, sua cabeça e fisicamente em seus seios além do estômago.
Ele sabia. Novas luzes dançavam em seus olhos com esse conhecimento. Não importava o atordoamento que seu rosto pudesse mostrar, poderia dizer que seu corpo atuaria imprudentemente se ele a beijasse novamente.
E ele fez, sem piedade. Despertou como se soubesse exatamente o que fazer. Cada beijo estava calculado, para deixá-la impotente à escalada do prazer que prometia.
Um incrível prazer. Como um vento quente de prazer. Suaves correntes de fome fluíam sem compaixão inundando-a em uma piscina de desejo. Seus seios cresceram fortes, cheios e sensíveis. A umidade começou a grudar em suas apertadas coxas. Ela logo notou, que seus passos retrocediam para a seca areia na base do muro do terraço. Ele olhou para baixo, como se a areia fosse a única opção que ela teria para escapar.
Ele desdobrou a manta na areia e tirou o casaco. Ela abraçou seu calor durante o seguinte beijo. Sentia-se muito bem enquanto ele a segurava, a felicidade que invadiu seu espírito a deixava sem defesas. Os beijos a acalmaram. Eram doces, lentos e muito ternos. Seu corpo estava desfrutando tanto desse lento prazer, que se arqueava pedindo mais. Ele se apoiou em um braço e a olhou, a imagem que ela viu dele permaneceria em sua memória até seu último dia. O vento despenteava seu cabelo escuro e as mangas de sua camisa. Seu olhar seguia as carícias de sua mão em seu rosto e pescoço.
— Deseja voltar à casa ?— perguntou ele.
Ela não pôde resistir de tocá-lo também. Acariciou o rosto que a olhava e os lábios que a tinham beijado. Adorava a sensação de sua pele sob seus dedos. Suas intensas reações a confundiam, aterravam-na e outra parte dela tremia com antecipação, reconhecendo exatamente o que desejava, mas a consciência gritava dizendo que devia se retirar, antes de arriscar e complicar as coisas arruinando sua amizade.
— Eu não sei exatamente o que é que desejo. — finalmente respondeu.
—Eu sim. — Suas carícias desceram por seu pescoço. Ela sentia brilhos de calor em sua pele.
— Melhor, você deveria ficar Pen e desfrutaremos do mar e de outras coisas também...
O beijo seguinte lhe disse o que poderia acontecer e o que não, mais que uma promessa era um pedido e ela sabia que no fundo de seu ser, sempre seriam amigos. Ela não sabia o que desejava e ele não tentaria tomar vantagem disso.
Não estava confusa, a não ser absorta nas sensações e nas mudanças. Quando perguntou se desejava mais, ela não pôde negar.
As intimas carícias em sua boca, enviavam incríveis tremores por todo seu ser, incentivando seu corpo, fazendo-a sentir impaciente por mais proximidade.
Suas carícias foram descendo ao lado e sentiu sua mão claramente. Sua mão se moveu de novo, sobre a plenitude de seus seios com a mesma confiança, como se ele tivesse desempenhado assim, milhares de vezes antes.
Só que nunca aconteceu e o inesperado poder do prazer que enviou ao seu corpo, a fez estremecer. Desejava desesperadamente que continuasse tocando-a. Seu corpo se moveu instintivamente para animá-lo. Inclusive, sua respiração soava a um ritmo que suplicava por mais.
O que sua mão fazia agora a estava matando, seus dedos encontraram seu mamilo através do tecido e o acariciou enviando correntes de excitação para baixo de seu ser. Ela fechou os olhos tentando controlar a loucura, que ameaçava destruir sua compostura. Devolveu o beijo, pedindo para aliviar o aterrador desejo, que se construía dentro dela.
A mão dele se moveu para seu ombro, gentilmente a fez virar de lado. Sua decepção só durou um momento, antes de sentir como ele desabotoava seu vestido.
Ele acomodou novamente a manta em suas costas, então lentamente foi baixando seu vestido e sua camisa. Deslizou o tecido para baixo revelando seu corpo. Ela deu uma olhada, no que ele estava vendo. Seus seios subiam nus em cima das roupas reviradas. Seu corpo estava completamente nu até a cintura. Ele se apoiou em um cotovelo deixando-a totalmente vulnerável a seu olhar. A sensação de estar nua e exposta era incrivelmente erótica.
Sua mão descansava no estômago dela e seu olhar escuro para sua pele branca.
— Você é muito bonita Pen. Perfeita e suave.
Baixou as pálpebras e viu a mão dele sobre ela. Seus seios cresciam sensíveis devido a sua proximidade. Inclusive, o vento parecia despertá-los.
— Muito suaves, — murmurou ela. — Esse vestido precisa permanecer em cima, pois você esqueceu de me levar o espartilho.
Ele acariciou onde deveria estar o vestido.
Não esqueci nada. Aqui não há mais ninguém além de mim. Não precisa de uma armadura antinatural. — Fica bonita neste vestido e mais bonita com ele fora de seu corpo...
Tranquilamente, quase vagarosamente, ele traçou um caminho com seus dedos entre seus seios e ao redor de seus mamilos. Eles se endureceram em resposta e uma coceira de antecipação ao que viria, começou a deixá-la louca outra vez.
Acariciava-a como se tivesse todo o tempo do mundo. Ela apertou os dentes e tentou conter o que estava acontecendo dentro dela.
Seus dedos roçaram gentilmente um mamilo. Ela teve que engolir um soluço. Ele o rodeou suavemente e efetivamente até que ela pensou que começaria a gritar.
— Faz quanto tempo Pen? — Ele olhava sua mão, enquanto desenhava padrões nela e via como seu corpo reagia.
— Quanto tempo faz que não a tocam? — Seu polegar esfregou a ponta de seu mamilo. A sensação derrotou seu controle e ela se mexeu arqueando suas costas.
— Não faz muito tempo. — surpreendeu-se de poder falar, pois mal conseguia respirar. — Mas… — Seus dedos continuavam com a suave tortura. — Mas o que?
— Eu precisava ser cuidadosa, certo? Ficar em guarda. Não podia confiar, ou correr riscos de perder o controle.
Ele estava absorto em seus pensamentos, enquanto continuava lentamente despertando seu corpo. Sua cabeça se inclinou sobre seu outro seio.
— Há quanto tempo não faz amor?
Ela podia tocar nele agora e deslizar seus dedos dentro de seu cabelo, enquanto ele dava beijos suaves em seu seio.
— Quer dizer completamente?
— Sim. Completamente.
— Nunca. Desde que deixei o conde.
— Nem mesmo com Witherby?
Esse nome liberou uma corrente de tristeza, dentro de sua felicidade. Uma antiga humilhação e uma decepção se deslizou através de seu coração. Estava surpresa de Julián mencionar Witherby agora, entre todos os momentos.
Ninguém lhe havia mencionado ter conhecimento desse antigo amor. Nem Julián ou seus irmãos, ninguém deveria saber.
— Não podia me arriscar a ter um filho. Glasbury poderia reclamá-lo como dele e tirá-lo de meu lado e meu filho estaria condenado ao poder desse homem.
Ele parecia surpreso por sua resposta. Tinha concluído, que havia sido uma relação completa. Ela esperou que todos tivessem acreditado nisso.
— Não, eu suponho que não se arriscaria a isso, — disse ele — Fazendo amor de forma incompleta, não abandonar a si mesma, porque não confia nos homens. — Sua mão retomou o caminho sinuoso.
— Confia em mim Pen?
Confiava? Seu corpo parecia que sim. Do contrário, estava traindo ela da pior maneira.
— Parece que sim.
— Fico feliz. — Ele beijou de novo seu seio. Dessa vez sobre a ponta do mamilo. Sua língua a sacudiu fazendo-a gritar.
— Agora, não quero mais conversa, não desejo ouvir outro som que não seja o mar, o vento e seus gritos de prazer.
Estava muito seguro de que ela gritaria. Usava sua boca e sua mão para derrubar qualquer controle que ela ainda tivesse.
Seus seios ficaram cada vez mais sensíveis e ele provava cada um com sua língua e dentes. O abandono fazia gestos em sua consciência, alimentada pelos prazeres que sugeriam que desse o controle total para ele, para obter algo que não podia ter e que furiosamente desejava. Ela não podia lutar contra isso, não queria lutar. Seu coração sabia que não precisa, não dessa vez. Seu corpo inteiro e sua cabeça renunciavam neste momento o controle. Entrou em um lugar, onde somente as sensações mais puras existiam, em um estado de prazer e desejo, de maravilhosas respostas físicas. Não ouvia o mar ou o vento. Somente a pulsação de sua necessidade e seus próprios gemidos entravam em sua cabeça. Escutou sua voz lhe perguntando mais uma vez, — Confia em mim Pen?
Uma nova carícia explicou sua pergunta. Descendo em seu quadril e coxas, pressionando sua anágua. Seu corpo respondeu por ela, levantando-se para receber seu toque, se omitindo dos riscos, esquecendo do perigo.
Ele pressionou seu centro quente entre suas pernas e ela quase desmaiou de alívio. Nada mais importava agora, exceto que estava sendo tocada ali.
Cada sensação, cada emoção estava nesse lugar e gemeu mais de prazer. Sentiu uma nova nudez, vulnerável, maravilhosa e uma mão quente e suave sobre suas pernas. Ela abriu seus olhos para ver a queda de sua saia amassada e sua anágua em sua cintura.
Levantou-se de seu abraço e olhou onde ela poderia ver. Acariciava suas coxas mais lentamente como fez com seus seios. Ele se virou para ela e ela o aproximou para beijá-lo loucamente, lhe dando livre acesso a todo seu desejo sexual.
Ele continuou sua carícia para cima até que seus dedos tocaram o único lugar, onde se focava toda sua essência. Um traço, um toque suave e lento, fez seus soluços ficarem presos em sua garganta. A intensidade do prazer que sentiu, a impactaram. Ele beijava suas faces suavemente.
— Não perca a coragem agora. Se você se arriscar a se abandonar, poderá conhecer o que isso realmente significa.
Tocou-a novamente, mais profundo. Ela se segurou nele com mais força, apertando suas costas para conter essas pequenas sensações que agora a abandonavam.
— Abre as pernas Pen.
Seu corpo obedeceu. Desejava fazer isso. Inclusive, a impressão estava muito delicioso para recusar. Ele derramou beijos lentos em seu rosto, nos seios, enquanto sua mão criava calafrios que subiam através de seu sangue e depois desciam outra, vez para o mesmo lugar. A carne que ele acariciava pulsava tão fortemente, que parecia o ritmo de sua própria vida. Agora, ela ouvia as ondas em sua cabeça, misturadas com as lágrimas que já não conseguia conter. Chorava de prazer e frustração. Seu corpo gritava por algo. A intensidade era cada vez maior e sua loucura mais envolvente.
Seu espírito entrou em um lugar sem sentido e perigoso. Mesmo assim, o prazer crescia pressionando cada vez mais alto, até que ela cambaleou na beira da sensação mais poderosa e mais dolorosa. Ele a beijou forte, como se seu toque forçasse a última etapa. Seu grito saiu como a sensação de ele tê-la penetrado, explodindo.
Depois desse raio impressionante, seguiu uma linda chuva de prazer e a paz fluía através dela, pulverizando sua magia.
Ela estava tão adorável, que seu coração não podia suportar. O assombro dela correspondia ao seu próprio. A praia parecia um lugar místico, separado do mundo real, um ponto pendurando entre os sonhos e a realidade, entre o céu e a terra.
Seus suspiros e os suaves movimentos de sua pulsação pareciam as ondas do mar ao vento. Ele percorreu com seus dedos a superfície de seu rosto, desfrutando da sensação de sua pele suave. Ele a olhou como sempre desejou, devagar e cuidadosamente, seus olhos memorizaram cada detalhe para não esquecer de nada. Tocou-a como tantas vezes imaginou fazer. Em seu rosto, ao redor da sua testa, sua mandíbula e queixo. As pequenas rugas ao redor de seus olhos. Beijou-as também, elas eram o símbolo de suas risadas, de sua doce disposição e de sua habilidade para ver o bem e ter esperança, sem se importar com seus próprios problemas. Também, representavam as vezes que a tinha desejado. As festas, os jantares, a solidão de seu quarto. Desejando-a como uma parte de sua própria existência, era algo que ele não se lamentaria ou se arrependeria. Agora, que finalmente ele tinha provado o que tanto desejou. Sabia que não deveria ter feito, mas não se importava com nada agora. Ela não disse nada, enquanto estava deitada entre seus braços, era um abraço tão sereno que poderia ter ficado assim para sempre.
O pôr do sol e o vento frio, entretanto, lembrava-lhe que não deviam continuar ali.
Ela deixou-o colocar suas roupas e a cobrisse com a manta. Não fez objeção, quando apoiou suas costas contra a parede e a atraiu novamente em um abraço ao seu lado. Juntos olharam as sombras da tarde sobre as rochas e o oceano. Os olhos dele veriam essas imagens diferentes a partir de hoje em sua cabeça, pela paixão de Pen.
Nunca escutaria o mar novamente sem escutar seus suspiros e seus soluços de paixão.
E a admissão de que não teve amantes, pelo menos não totalmente. Por ser o homem que a desejava, ficou encantado de ter escutado, mas o amigo que conhecia suas desilusões não ficou. Com o passar dos anos, esteve com muitos ciúmes das pequenas evidências dos amantes, mas ele não desejava sua solidão e muito menos sua infelicidade.
— No que está pensando ? Não lhe incomodava seu silêncio, mas se perguntou por que estava tão calada.
Ela se aconchegou para mais perto e apoiou sua cabeça em seu ombro. — Estava pensando em eu que, realmente devo lembrar-me de colocá-lo em minha lista agora...
Ela tinha levado tudo muito bem.
— Perdemos completamente a cabeça, não é Julián? Penso que foi muito bom e acredito que a intimidade com um bom amigo é melhor que com um grande amor. Por um lado há mais confiança.
Não ficou surpreso, de ela ter decidido que isso foi um impulso entre dois velhos amigos. Possivelmente, assim era melhor.
— Também estive pensando, se fazendo uso dessa lista seria o melhor, ou deveria se encontrar seguir outro caminho. O que acontecerá comigo se ele não reagir como nós esperamos que faça? Se depois, de um romance público e embaraçoso ele não se divorciar de mim?
— Ele não será capaz de ignorá-lo. Não é um homem que gosta de aceitar tais coisas.
— Não, mas poderia decidir tratar o assunto de outra forma — Sua tranquila voz dizia como profundamente esteve pensando em tudo isso.
Sim, ele é capaz de fazer isso. A indignação de Glasbury o levaria a tomar um passo definitivo, para cortar essa relação.
Ela se liberou de seu abraço e ficou de pé. Sacudiu a manta — Tenho que decidir algo logo, não posso fugir mais...
Não, ela não podia e não só pelo o que havia acontecido nessa areia.
Seu humor havia mudado. Ela saiu sutilmente, mais que fisicamente.
Ele ficou onde estava. – Eu vou dormir em cima do estábulo.
Com à luz da noite, ela o viu um pouco triste.
— Continuas sendo meu amigo, não é Julián? Vamos continuar como antes, não é verdade? Não vamos permitir que o que aconteceu aqui mudo isso, certo?
— Claro que não.
Sua postura pareceu relaxar. – Então, não precisa dormir no estábulo.
— Então, vou a usar o quarto debaixo.
Ela riu um pouco.— Sim, será melhor.
Ele a viu subir pelas escadas de pedra. Dormir em baixo não era somente o melhor. Era essencial. Ele nunca descansaria se utilizasse o quarto ao lado do seu nessa noite. Inclusive, duvidava de que fosse capaz de permanecer em sua própria cama. Esta não era a noite, para pôr mais ainda a prova de sua confiabilidade.
Voltou a olhar o mar ficando negro pela noite.
Ele tinha mentido para ela, quando disse que não havia mudado sua amizade.
Na verdade, mudou absolutamente.
CAPÍTULO 09
Pen se ajeitou em sua cama. Tentou dar um nome, ao que aconteceu com Julián.
Ela sabia que havia mulheres que, tinham romances com propósito de também obter prazer físico.
Seus breves encontros íntimos, foram apenas pequenos jogos e nada mais. Seus romances incompletos, foram somente isso e nada mais, com exceção de Witherby. Ela teve experiência suficiente, brincado com carícias roubadas e pequenos flertes. Mas isso, foi mais diferente que um entusiasmo superficial. Sua relação de amizade com Julián tinha ido além disso. Agradável, mais íntima, ela acreditou nele, mas isso tinha mudado tudo. Essa amizade estava confundindo suas reações de outras maneiras. Se ela não o conhecesse há muito tempo, se sua história não fosse tão próxima há anos, a sensação de ter sido beijada por ele, não seria tão assombrosa.
Afinal de contas, ele era um homem e ela uma mulher. Como ele dizia, porque teria que pensar nela de outra forma?
Por que não deveria reagir a seus beijos? Se ela não fosse tão estúpida, ela deveria ter percebido que, sua contínua proximidade nesses últimos dias poderia levar a esse comportamento. Todo mundo sabia que os homens, se inclinavam para seus impulsos sexuais com a menor provocação.
Virou-se de costas e escutou o silêncio. Julián deveria estar dormindo profundamente, em seu quarto no primeiro andar, diretamente abaixo do dela. Tentou escutar se roncava ou se mexia.
As lembranças dos seus abraços permaneciam em sua cabeça. Eram tão reais, que sentia suas carícias novamente. A fantasia despertou. Seu corpo voltou a desejar suas carícias.
Não duvidava que a abstinência teve um papel muito importante também nessa noite. Possivelmente, quando uma mulher passava muitos anos sendo adulada e tendo relações incompletas, ficaria disposta a abandonar-se e baixar a guarda.
A beleza e a paz que ela tinha encontrado nessa paixão, tinha sido mais sedutora que do que prazerosa. Ela foi tão inocente. Como se Glasbury não existisse. Jamais havia se sentido tão completa, esquecendo todos esses anos passados.
Julián estava certo quando a repreendeu por não tê-lo incluído nessa lista. Se ela tivesse um romance com ele, não precisaria lhe explicar nada. Sabia por que ela estava fazendo. Ele podia entender o risco que teria com essa relação.
Poderia ter um romance carinhoso com um bom amigo e não uma relação superficial de simples conveniência. Não seria humilhante e barato. Quando chegasse ao fim, eles poderiam continuar sendo amigos.
Ela imaginou essa relação amorosa explicitamente. Imaginou caminhando através de sua porta com seu peito nu como esteve no barco. Ela o sentia deitado ao seu lado na cama e tocando seus seios. Via-o em cima dela e seu corpo imaginava ele entrando nela. A fantasia era tão intensa que sentiu uma excitação que a transpassava. Ela pegou seu casaco. Desceria e o encontraria acordado, esperando-a. Só sabia que ele estava pensando nela, tal como ela pensava nele. Até a casa de campo estava gemendo com o desejo de completar que tinham começado na areia.
Poderiam ter esse romance e o conde se divorciaria dela. Seria livre.
Ela abriu sua porta. Novas imagens entraram em sua cabeça. Matando-a de antecipação. Congelou sua mão no trinco da porta. Imaginou Julián sendo interrogado, na Casa dos Lordes quando o pedido de divórcio fosse proposto. As acusações do pedido de Glasbury poderiam ser desumanas e cruéis, tratando seu amante como um delinquente.
Os motivos de Julián poderiam ser impugnados. Sua falta de honra ficaria explícita. Os periódicos imprimiriam também cada palavra e todos poderiam ler. Todo mundo. O escândalo se tornaria público e o desprezo implacável. Muitos de seus clientes também o abandonariam. Outros advogados poderiam evitar de fazer negócios com ele. Inclusive, o uso de seus serviços, por parte de seus irmãos se veriam comprometidos. Se ele fosse chamado por um conde, por um comportamento criminoso com uma condessa, seria sua ruína.
Era pedir demais, não importava a extensão do prazer que ele receberia com sua negociação. Ele já tinha sido muito nobre e amável. Assim, como foram seus beijos. Ele estava oferecendo um resgate a uma donzela em apuros, embora o malvado dragão pudesse queimá-lo horrivelmente, enquanto a salvava.
Esse era um problema seu e não dele. Seu erro juvenil e de sua vida desperdiçada. Era indesculpável que ela o arrastasse em sua queda.
Retornou para a cama com uma tristeza em seu coração, que não entendia ou esperava.
Tentou concentrar-se em suas outras opções menos egoístas.
— Não sabia que cozinhava também.
Julián se virou ao escutar o som da voz de Pen. Não ouviu ela descer. Seus olhos olhavam os peixes assando na frigideira, enquanto ele estava imaginando como Glasbury reagiria seu pedido de divórcio.
No caso de que, realmente chegasse ter um divórcio. Ele não pensava que poderia ter. Se Pen tivesse um romance com Julián Hampton, de todos os homens, Glasbury desejaria fazer muito mais coisas, que simplesmente destruir o amante de sua esposa.
Ela olhou por cima de seu ombro, sua presença próxima, fez com que seu sangue queimasse novamente.
— Pescou-os nessa manhã? Deve ter se levantado muito cedo.
Muito cedo realmente, já que ele não tinha dormido quase nada. Ela tampouco o tinha feito. Ele escutou seus passos no quarto de cima, durante toda a noite. Ouviu como passeava pelo seu quarto. Silenciosamente o impulsionava a fazer isso. Seus dentes apertavam com a intensidade de seu desejo. Sua cabeça estava exausta, pela batalha que levava contra o impulso de subir as escadas.
Cada um de seus passos acima dele, tinha enviado fragmentos nervosos através de seu crânio e de seu sangue. Sua longa pausa o havia enlouquecido. Amaldiçoou energicamente, quando ela se deitou.
Ele deslizou os peixes em dois pratos e os levou a sala de jantar. Pen chegou trazendo o chá e o pão.
Ela estava muito bonita na luz suave que entrava pela janela do norte. Seu vestido nessa manhã era mais da moda que o de ontem, verde com rendas marfim no pescoço e um trançado preto no corpo da saia, que se ajustava em sua cintura estreita e depois se abria em uma saia cheia no quadril feminino, que conhecia graças às carícias de ontem. Mangas com punhos bem fechados por uma longa fila de botões.
Ela conseguiu entrar em seu espartilho e nas anáguas hoje. Havia sentido a necessidade de usá-los como armadura.
Quando os passos acima pararam na porta, ele imaginou o que ela o faria.
— Decidi o que fazer Julián.
— Decidiu o que fazer ou o que não fazer?
— Eu não sei o que significa essa pergunta.
Sim, sim, maldita seja.
— Por favor, diga seu plano.
Ela colocou toda sua atenção em servir o chá para os dois.
— Não é realmente um plano. Só decidi qual vai ser meu próximo passo.
Não farei amor com Julián Hampton; isso era o que ele realmente já sabia.
Ele comeu o café da manhã, lhe permitindo decidir como daria uma explicação sobre o que tinha a ver com ele. Esperou o turno dos eventos com silêncio, porque a reação dentro dele estava a ponto de explodir com palavras não muito gentis.
— Eu não gostaria que Glasbury controlasse essa situação, disse ela. — Se ele ficar mal humorado, eu serei obrigada a escolher entre a miséria ou o escândalo. Não é justo. Não comigo e tampouco com quem eu escolha criar esse escândalo.
— O mundo não é justo. A lei do casamento certamente também não é. O ressentimento não soluciona seu dilema.
— Não, mas na noite passada estava tão furiosa, que pude ver outra opção. Ele pensa que tem tudo a seu favor, para estar seguro. Eu não acredito. O acha que seria minha palavra contra a dele. Não é necessário. — Ela o olhou de frente — Cleo poderia apoiar minhas acusações.
Ele recostou em sua cadeira surpreso. — Não deseja me usar, mas deseja usar uma menina?
— Ela já não é uma menina.
— Ela estava meio louca quando a tiramos de lá.
— Isso faz anos que aconteceu. O tempo cura bastante. Possivelmente já esteja curada.
— Estou atônito com o que você considera a fazer.
— Ela pode desejar fazer isso. Pode ser que queira denunciá-lo. Você considerou isso? Eu acho que ela deve lembrar daqueles anos com uma visão diferente agora. Se eu fosse ela, o odiaria e não teria medo dele. Desejaria um pouco de justiça.
—Está pedindo por justiça Pen? Você vai se divorciar e o contará tudo? Ou só usará este testemunho para que você e Glasbury continuem com o acordo, como foi todos estes anos?
Sua expressão disse tudo. Ela tinha pensado que com esta ameaça, Glasbury se retiraria e a deixaria em paz.
Havia concluído que, mantendo a chantagem era a melhor solução.
A irritação estava em seus olhos. — Pensa que gosto de viver nesse limbo no qual eu vivo? Que dou boas-vindas?
— Estou certo que não. Entretanto, também acho que se Glasbury não tivesse feito esse movimento, você o aceitaria para sempre.
— Por que sou uma covarde?
— Não, porque isso significaria que ninguém mais seria ferido, exceto você. Mas acredito que ele fará qualquer coisa para assegurar-se que você volte para ele, ou que fique livre para ter outra esposa. Assim sendo, você deve pensar muito, antes de dar o próximo passo e ter certeza para continuar nesse curso.
Ela se levantou.
— Meu próximo passo não requer que mantenha o curso, porque eu não o escolhi ainda. Só desejo saber se esse caminho está aberto. Se Cleo tiver um preço, se poderia e deseja fazer.
Saiu da sala para garantir que não discutisse nada mais com ela.
Ele a deixou ir, porque uma tempestade estava se formando em sua cabeça.
Julián caminhou para o jardim, seu sangue fervia de raiva.
Ela ia fazer novamente. Voltaria para as meias medidas. Depois de tudo que fez antes, ela achava que poderia funcionar novamente.
Ele foi ao estábulo e começou a trabalhar para se livrar do explosivo ressentimento que queimava nele. Raramente se zangava. Podia contar a vezes com uma mão. A maioria dessas vezes estavam relacionadas com Penélope.
Uma delas tinha sido o dia que soube que ela iria se casar. E o dia que confrontou
Witherby.
Mas a pior vez, entretanto, foi quando ela o visitou em seu escritório e lhe havia confiado a verdade de seu casamento.
Ele era muito jovem na época, só tinha vinte e um anos e estava no processo de assumir o cargo de um advogado mais velho, que tinha dirigido os negócios da família Duclairc por décadas. Entretanto, fazia três anos que estava em seu estágio e faltavam mais dois e já cuidava da maioria dos assuntos legais do trabalho nesse escritório e todos ali sabiam. Seu futuro parecia feliz e próspero.
Então, em uma tarde de inverno, a doce e boa Penélope entrou em seu escritório, sentou-se e se dirigiu a ele como senhor Hampton e contou sua história.
Penélope estava envergonhada e assustada pelo que contava. Ele ficou atônito e o único que fez foi escutar. Brigou duro consigo mesmo, para permanecer impassível, mas com cada palavra dela, ele desejava mais e mais encontrar Glasbury e lhe dar uma surra sangrenta.
Eventualmente sua compostura se quebrava. Assim como seu coração, o lembrava ter tocado seu braço com impotente tranquilidade, batalhando contra o impulso de tomá-la em seus braços e lhe jurar que lhe daria a salvação.
Enquanto, ela chorava tirando tudo o que tinha em seu coração, as imagens finalmente entravam em sua cabeça mostrando tudo o que ela descrevia e todos os detalhes que evitava dizer. Uma terrível fúria fez estragos nele, quase saiu para pegar uma arma e ir matá-lo.
Ao invés disso, escondeu sua indignação e lhe enumerou suas opções como um maldito, lógico e imparcial servo que se supunha que ele era. Certificou-se que ela entendesse que nada justificava viver no inferno, um inferno que poderia ser pior.
— Agora que você sabe que isso não é normal, pode tratar de se divorciar, — explicou a ela.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu acho que nenhuma corte, acreditaria que alguma mulher poderia cooperar com isso livremente senhor Hampton.
— Há muitas mulheres que desfrutam de tais coisas madame.
— Seriamente? Você não pensa que Anthony poderia alegar que eu faço isso?
— Indubitavelmente ele faria.
Ela chorou de novo, entretanto, havia uma nova resolução em seus olhos.
— Então, eu tenho que ir embora, não é?
—Acho que isso está claro. Permita-me considerar suas opções nesse sentido.
Havia bem poucas malditas opções. Ela poderia tentar divorciar-se dele, alegando adultério e crueldade. Um divórcio através do Parlamento poderia deixá-la livre para voltar a casar-se, mas as mulheres quase nunca tinham êxito tentando obter.
O pior que para uma ação parlamentar procedia somente por duas provas: a primeira o divórcio pela igreja e então se procede o divórcio civil contra Glasbury.
O Divorcio, através da igreja não permitiria nenhum dos dois casar novamente, mas ela tinha mais chance ali, pois os juízes eram cada vez mais flexíveis em assuntos de crueldade. Uma mulher já não precisava provar, que seu marido lhe oferecia uma vida de violência. Mas um divórcio deixando um conde sem um filho, um detalhe que poderia afetá-lo negativamente.
De qualquer maneira seria muito público,— disse. – Eu li os depoimentos impressos em todos os jornais. Não importa o quanto seja sórdido. Inclusive, no Times não encanta o espetáculo e o lucro que generosamente oferecem.
— Acho que as circunstâncias, justificam a aceitação da vergonha condessa.
— Minha família vai sofrer por ela. Não importa quais sejam minhas justificativas, eles serão afetados.
— Seus irmãos não se importarão.
— Mas Charlotte ainda é uma garota. Vai afetar todas as possibilidades de um bom casamento para ela, quando for apresentada na sociedade.
As finanças familiares não estão boas e se for manchada, por um escândalo estará arruinada.
Não podia mentir como ele queria. Ele não podia prometer que sua irmã mais nova não sairia machucada. Mas seu coração gritava em rebeldia, porque deixava de lado suas objeções e a proteção que somente o divórcio lhe poderia dar.
— Para que fique segura, deve se divorciar dele. Se só o deixar, continuará a sua mercê.— Disse com mais seriedade do que pretendia.
— A qualquer momento, pode apresentar um pedido para que seus direitos conjugais sejam restaurados. Ele sequer precisa pedir. Ele pode obrigá-la a retornar ao seu lar, a sua cama e ninguém o deterá.— Deve haver uma maneira de garantir que ele nunca faça isso. Não existe?
– Sim existia.
Ele tinha negociado duramente quando se reuniu com Glasbury. Tinha empurrado o homem sob ameaças de um escândalo, para que a deixasse partir. Quando terminou a reunião tinha entregado a Pen a metade da vitória que era o que ela havia escolhido. Não a liberdade, mas finalmente seu santuário. Um santuário que agora estava ameaçado. Ele saiu do estábulo, limpou suas botas e lavou as mãos. Caminhou pela casa. Foi ao terraço de onde se via a praia. Um ponto azul estava parado em um banco de areia. Sua ira não tinha sido tão altruísta. Era em parte, possivelmente em grande medida, pela frustração de um homem que queria tanto uma mulher, que faria qualquer coisa para poder tê-la. Ele viveu durante muito tempo na torre de que tinham construído anos atrás, a que lhe tinha servido bem para sentir-se protegida. Não podia culpá-la de querer tentar reparar essas paredes, ao invés de andar ao encontro do inimigo. Em comparação com a segurança que tinha encontrado na fortaleza, a oportunidade de ter uma relação de conveniência com seu amigo e advogado, não a atraía muito em absoluto. Desceu para à praia e se juntou a ela.
Cleo ainda está em Yorkshire com a senhora Kenworthy,— disse. – Levarei você a ela.
CAPÍTULO 10
Depois que decidiram fazer a viagem, ficaram prontos ao mesmo tempo.
Julián cavalgou em seu cavalo até o povoado mais próximo Billings, para contratar um cocheiro que fosse levar Pen e transportar seus baús.
O plano era alugar um quarto para passar a noite, em um lugar seguro na cidade, enquanto ele voltava para Londres. Lá ele encontraria uma mulher para que viajasse como acompanhante de Pen, a fim de preservar a sua respeitabilidade.
Decidiram ficar em um hotel pequeno, até chegar a Yorkshire e viajariam com nomes falsos. Ela seria a senhora Thompson e Julián seu primo, sua escolta para um casamento no Distrito Lake.
Depois que Julián partiu, Pen caminhou pela casa e percebeu que se sentia um pouco triste ao deixá-la. Ela havia redescoberto uma antiga amizade ali, que havia se escurecido nos últimos anos. Tinha saído com o senhor Hampton e voltava com o Julián e ela sempre se lembraria desse retiro, como o lugar mais belo que havia conhecido em de sua vida.
Ela recolheu seu tratado da mesa. Quando chegasse a Billericay o enviaria à Sra. Levanham. Posteriormente, seus comentários se comparariam com os que as outras fizeram e o projeto final, ficaria pronto. As lições que aprendeu no desastre de sua vida poderiam marcar uma diferença para outras mulheres algum dia.
Em seu quarto, começou a guardar suas coisas em seus baús. Ela estava terminando com o grande, quando ouviu Julián voltar. O som das rodas vinham pelo caminho, então uma batida na porta da cozinha ouviu depois.
Colocou seus últimos pertences no baú e se aproximou da porta.
Na metade da escada, parou abruptamente. O alarme a deixou imobilizada.
Já podia ver as pernas do homem que a esperava. As roupas não eram de Julián.
As botas se dirigiram para ela e o restante do homem ficou à vista. Seu estômago adoeceu.
Glasbury lhe sorriu.— Bem-vinda de volta a Inglaterra, minha querida.
O pânico cresceu em sua cabeça. Ela deu meia volta para correr e esconder-se, apesar de saber que não havia lugar para ir.
— Desce, Penélope.
Ela lutou para esconder seu terror. Ele desfrutaria vendo, mas não lhe daria essa satisfação de saber o que sentia. Parou bem na base das escadas. Ele não se moveu, enquanto descia. Isso a forçou tocá-lo, enquanto descia seu último degrau e fazia a volta ao redor dele. Ele a agarrou pelo braço.
— Nenhum beijo? Depois de todo esse tempo?
— Eu prefiro que não.
— Eu gostaria de um beijo querida. Ela olhou pela janela. Ele não havia trazido sua carruagem. Não havia símbolos marcados nesta. Só um cocheiro que a dirigia e ele não usava as cores do conde...
— Peça para que um dos cavalos lhe beije. Se negarem, você pode fazer usar seus direitos com a impunidade.
— Não só os cavalos Penélope. Tudo o que eu tenho.— Atraiu-a para mais perto e lhe deu um beijo nos lábios.
Seu estômago se revoltou pela bílis e puxou o braço para livrar-se. Ele a deixou ir, mas sua expressão disse que era sua escolha não dela.
Passeava pela cozinha, vendo tudo com desgosto.
— Então, Hampton a escondeu nesse casebre. Foi muito irritante ter que segui-lo. Teria sido mais simples, se ele tivesse dito onde encontrá-la.
— Eu insisti para que não o fizesse. Como encontrou este lugar?
— Eu simplesmente mandei investigar as propriedades que possuía e depois quando me informaram que tinham visto uma mulher ontem à noite aqui, soube que era você.— Olhou a próxima sala.
— Esteve vivendo aqui com você?
— Ele estava em Londres. Não há dúvida, que muitas pessoas podem testemunhar isso.
Ele se dirigiu à porta do jardim e fez um gesto para o cocheiro, para que subisse pelos baús, enquanto isso Glasbury entrou na biblioteca.
Pen seguia o conde, desesperada olhando ao seu redor, todo tipo de provas que delatassem que Julián esteve ali recentemente, com a esperança de poder esconder as provas do olhar do conde. Ela não tinha ficado a sós com Glasbury desde que ela o deixou e estava apavorada. Um tremor visceral passou através dela.
— Esse é um lugar tão rústico. Não há criados. Não tem conforto. Tenho certeza, que ficará aliviada de poder estar de volta a Grosvenor Square.
— Não vou voltar para Grosvenor Square.
— É obvio que sim.
— Não de boa vontade.
— Sua vontade não me preocupa. Só meus direitos importam. Se você mostrar graça e obediência para o qual foi criada, serei bom. Se me obrigar, a ter que arrastar você pelos cabelos, vou castigá-la.
Castigar. Ele gostava dessa palavra. Acariciou o som de sua voz, enquanto falava. Ele a olhou com a boca frouxa em um sorriso cruel. Seus olhos refletiam lembranças dos castigos do passado.
— Por que agora Anthony? Depois de tantos anos, porque está tão decidido que eu volte agora?
— Você quebrou o acordo.
— Eu não quebrei.
— O mundo pensa que você fez. Assim, eu também. Além disso, recebi uma carta na primavera passada. Um relatório anônimo. Que incluía uma cópia de um tratado estrangeiro, escrito por uma mulher demente e delirante contra o casamento. Ele a olhou como se fosse uma menina estúpida.
— Achou de verdade, que eu ia cruzar os braços e permitir que minha esposa condenasse publicamente, meu direito de controlar minha família e meu lar?
— Não há nenhuma só palavra nesse documento a seu respeito.
Cada maldita palavra diz respeito a mim.
— Dobrará minhas costas e eu ainda o publicarei.
— Asseguro a você que jamais fará.
Soava como uma ameaça. Um calafrio deslizou pela sua espinha dorsal.
Tornou-se mais difícil nos últimos anos. Mais cruel. As tentativas de esconder suas inclinações pareciam ter sido abandonadas. Foi um erro ignorá-lo todo esse tempo. Fingir que não existia, ter perdido de vista no que havia se transformado.
— Nego-me a acreditar, que correrá o risco do escândalo que simplesmente posso criar, porque não deseja que o tratado seja publicado.
Ele sorriu de novo. Nunca gostou de seu sorriso. Inclusive, quando era jovem e estava entusiasmada pela proposta de um conde, mas não se preocupou pelos sorrisos do conde.
— Eu não quero sua volta só por essa razão. Tem outras. A mais importante, é que meu sobrinho está agora em sua terceira esposa e nenhuma delas deu a luz a um filho, tampouco nenhuma das escravas das plantações.
Acredito, que o problema não é das as mulheres, mas o mais correto, que é dele.
— Deve estar furioso ao reconhecer que a nova lei obrigará a que todos os escravos agora sejam libertados e que já não estão disponíveis, para pôr a prova as habilidades de reprodução dos homens de sua família. Gostava de ir visitar a Jamaica. Arrumou uma viagem no ano passado, não é? Talvez, pense em sustentar a escravidão por um tempo.
Haverá compensações para a situação das fazendas. Entretanto, não vão resolver as insuficiências de meu sobrinho. Quando foi embora, convenci-me de que através dele a sucessão seria uma maneira aceitável. Agora novamente, esse dever me corresponde . E a você.
Sua expressão se suavizou. Por um momento parecia suplicante, inclusive triste.
— Volte comigo e me dê meu herdeiro Penélope. Dê-me o filho que prometeu em seus votos.
— Estou assombrada de que jogue os votos diante de mim, como se sua posição fosse de uma moral superior. Fui embora, porque não tinha a mínima decência humana. Se me quiser de volta, de verdade, vais ter que me arrastar pelos cabelos. Mas deve ficar preparado, porque vou deixar que o mundo inteiro saiba tudo o que tem feito.
Ele riu e negou com a cabeça. Suspirou.— É uma vaca estúpida. Como expliquei a seu representante de chantagens, poucos lhe acreditarão, inclusive se tivesse a oportunidade de falar disso. A ninguém importará agora de todos os modos. Tudo isso aconteceu há muito tempo no passado.
— Há outros que sabem. Não vai ser só minha voz.
— Ninguém da minha gente falará ao meu contrário. Meu controle sobre eles é total, sem importar o que as novas leis digam.
Foi para ela. Ela se assustou e retrocedeu até ficar presa contra a janela.
— Seus baús já estão na carruagem.
— Vamos querida, é hora de voltar para casa.
— Não.
Ele estendeu a mão para ela. Ela tentou escapar, mas ele a agarrou seu pulso. Seu domínio se fechou energicamente.
— Tinha a esperança, que poderíamos fazer isso com um pouco de dignidade, mas vejo que não podemos. Teria sido melhor fazer isso em nossa casa, mas esta casa servirá. É o suficientemente privada.
Seus dedos a seguraram com tanta força, que seus olhos umedeceram. Ele parecia indiferente a sua dor. Quase aborrecido.
Fazia muito tempo que ela tinha aprendido a reconhecer os sinais que dissessem o contrário, entretanto, ela os via agora.
O rubor vagou em seu pescoço. As pálpebras de seus olhos ficaram pesadas. Gostava de machucar às pessoas.
Apertou os dentes e se negou a gritar. Seu aperto ficou pior e pior até que seu braço ficou em chamas.
— Os anos lhe fizeram rebelde. Muita liberdade deixam desastradas às pessoas de natureza inferior, mas entretanto, isso será fácil de remediar. Sua vontade é uma coisa frágil. Nós dois já sabemos, o quanto pode ser rapidamente dobrada e quebrada.
— Para uma mulher torpe, que estava dobrada e quebrada, pode se superar. Cuspiu as palavras à direita de seu rosto.
Ele se ruborizou.
— Acho que estou contente de que tenha resistido tão estupidamente. Quanto antes aprenda qual é seu lugar outra vez, melhor.
Seu apertão no braço se transformou em um tormento. Flechas saíram disparadas por suas veias devido à pressão que exercia. Manchas negras ficavam à vista.
– Você se ajoelhará hoje em minha presença querida. Lembra-se de como fazer, não é?
As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas ela não fez nenhum som. A dor tinha reclamado seu braço inteiro e o ombro. Parecia estar invadindo seu peito e bloqueava a respiração.
Glasbury não repetiu seu comando. Continuou segurando seu braço, aumentando a dor, esperando que sucumbisse a sua ordem para que mostrasse humildade.
Seria um erro se fizesse. Ela entendia o que ele realmente queria. Não a mera obediência. Queria o controle que supusesse o medo. Seu prazer na degradação dos outros era complexo e escuro.
Seu corpo queria tanto alívio, que implorou que cedesse até sua alma, entretanto, sabia que cederia assim que começasse a percorrer o caminho para a impotência novamente.
Julián quase não viu as marcas na estrada. Tinha conduzido vários metros pelo caminho até à casa, antes que o significado das marcas penetrassem em sua consciência.
De repente, apareceram. Todo pensamento abandonou sua cabeça. Um estado de alerta, frente ao perigo pulsava nele.
Parou o cavalo e olhou para baixo as marcas que havia no barro da rua.
As marcas estavam frescas, o que indicava que uma carruagem tinha passado por aqui faz algumas horas. Quando montou em seu cavalo para Billericay, foi cuidadoso mais uma vez, em busca de sinais que pudessem indicar que o homem que Pen tinha visto, havia chegado de carreta ou a cavalo. A falta dessas provas foi a única razão pela qual a tinha deixado sozinha.
Soube imediatamente que tinha sido um erro. Alguém passou por aqui desde que partiu.
Ele amaldiçoou a si mesmo, desceu imediatamente e amarrou o cavalo em um arbusto baixo. Depois da curva do caminho em frente, podia ver o telhado da casa.
Rezando para que não fosse muito tarde, com a esperança de que Glasbury não tivesse descoberto essa propriedade, saiu do caminho e voltou à direita. Olhou para casa de campo, através dos arbustos e das árvores finas.
Um movimento, chamou sua atenção ao passar atrás da curva do caminho. Um homem estava sentado, apoiado em um tronco de uma árvore fina. Estava de costas para Julián e parecia decidido a olhar para a estrada.
Julián olhou para a casa de campo. Podia ver agora, a parte superior de uma carruagem escura. O recém-chegado não foi embora ainda. Se tinha deixado um guarda no caminho, sem dúvida Pen estava em perigo.
O medo e a ira o cegaram por um momento. Medo por Penélope e raiva contra si mesmo. Então sua cabeça limpou e só ficou uma determinação de gelo. Jogou uma olhada para o chão em seus pés e levantou uma pedra de bom tamanho.
Dirigiu-se para o homem sentado de costas.
O cavalo relinchou e sua presa ficou rígida. O chapéu do homem virou em um ângulo para cima, como se farejasse o ar como um cão. Ficou de joelhos e uma pistola apareceu em sua mão direita.
Não ouviu Julián até que foi muito tarde. Virou-se com surpresa e levantou a pistola antes que a pedra caísse sobre sua cabeça. Não teve tempo de gritar, antes de cair de cara no mato.
Julián pegou a pistola. Encontrou outra pistola colocada na cintura das calças do homem.
Levou uma em cada mão, voltou para a estrada e foi para a casa.
Ele viu indícios de que outra pessoa entrou recentemente através deste caminho. Várias vestígios de barro estavam no chão. A grama e os ramos do jardim estavam pisoteadas.
A auto-recriminação fazia estragos em sua cabeça. Pen tinha razão sobre o homem de ontem. Não houve provas, porque o intruso fez o mesmo que ele nesse momento. Não se ouvia vozes vindo da casa. Não havia gritos ou desordens. A carruagem apareceu abandonada, mas podia ver os baús de Pen amarrados na parte de trás.
Atravessou o pátio para o transporte e olhou para dentro. O cocheiro descansava no assento, ele bebia de novo de uma pequena garrafa. Ele era um homem gordo com cabelos brancos e ralos que saíam por baixo de seu chapéu.
Viu Julián quando foi dar um gole. A princípio só franziu o cenho com curiosidade. Então viu o canhão da pistola apoiada na beira da janela, apontando para seu estômago.
Os olhos do homem se arregalaram em choque e o líquido começou a cair por um lado de sua boca.
— Qual é seu nome. Perguntou Julián
— Harry. Harry Dardly. — balbuciou sem deixar de olhar a pistola.
Além de seu passageiro, você está sozinho?
— Havia outro homem, mas voltou para a estrada.
— Quem alugou essa carruagem?
Harry engoliu em seco.
— Não disse seu nome. É um homem elegante. Um cavalheiro que paga muito bem.
Isso soava como se Glasbury tivesse vindo pessoalmente. Possivelmente, alugou essa carruagem anonimamente e sem usar seus criados e sua bagagem, não teria testemunhas.
O silêncio da casa deixou de ser tranquilizador.
Julián abriu a porta da carruagem. — Venha comigo.
— Agora Senhor? Você não precisa fazer isso. Eu ficarei aqui sozinho cuidando dos cavalos. Tem minha palavra.
— Para fora.
Harry saiu pesadamente, afastando a distância entre ele e a pistola. Ficou lívido quando viu a outra pistola, em sua mão esquerda.
Julián fez um gesto para que caminhasse para a casa. O olhar do homem era como se fosse levado para a forca. Harry abriu o caminho.
— Harry, seu passageiro é o conde de Glasbury.
— Glasbury! OH, que inferno. Não quero ter problemas com um conde.
— Ali dentro, também está uma mulher. Se Glasbury a machucou de alguma forma, preciso de uma testemunha.
— Testemunha!— Harry parou em seus calcanhares. — Não, não serei. Não desejo me colocar em problemas, por falar contra um conde. Minha mulher me mataria se me arriscasse fazendo tal coisa.
Julián tocou o homem com a pistola. — Eu preciso que venha comigo, tenha coragem homem.
Com um olhar cada vez mais miserável com cada passo que dava, Harry entrou na cozinha.
Nenhum som os recebeu. Quando Julián olhou para a cozinha, viu que a mesma e as outras salas atrás estavam vazias, apontou a Harry que seguisse para a Biblioteca.
O cocheiro entrou primeiro e ficou parado como pedra na entrada.
— OH, meu Deus, murmurou.
—O que você está fazendo aqui? Disse que esperasse até que o chamasse. A afiada voz era de Glasbury.
Julián empurrou Harry para frente alguns passos e entrou na sala.
Uma fúria explosiva estalou em sua cabeça, quando viu o que estava acontecendo na biblioteca.
O bastardo tinha agarrado Pen pelo braço, em um aperto tão forte que os nódulos dos dedos estavam brancos. Com o braço estendido estava tentando obrigá-la a se ajoelhar. O corpo de Pen se inclinava de forma antinatural, resistindo à queda e para aliviar seu sofrimento.
E certamente ela estava sofrendo muito. Seu rosto perdeu toda a cor e seus olhos estavam vidrados. Parecia a ponto de desmaiar. Entretanto, tinha uma forte determinação em sua expressão. Não saíam sons por sua boca, não havia gritos ou suplicas.
Ela viu primeiro Julián . O conde estava tão interessado em sua vítima, que não percebeu que Harry não tinha entrado sozinho.
Julián apontou sua pistola, para o coração do conde e a engatilhou. Apenas teve que se controlar para não apertar o gatilho.
— Solte-a. — Sua voz soava estranhamente calma para seus próprios ouvidos. Seu cérebro foi o que gritou a ordem.
Sua alma implorava para que Glasbury resistisse. O olhar deste se quebrou e por um momento, pareceu estar muito assustado. Então fez uma careta de desprezo.
— Você não se atreveria...
— Não só me atreverei, mas como terei êxito. Liberte-a.
Glasbury vacilou. Os dedos de Julián acariciavam o gatilho.
Com uma expressão de desgosto e repugnância, Glasbury a soltou. Pen cambaleou para longe dele.
Glasbury olhou para o cocheiro.
— Essa é minha esposa e este homem está interferindo, afaste-o...
— Que o afaste? Eu?
— Pagarei você muito bem, pagarei agora.
— Ele tem duas armas, se por acaso vossa senhoria não notou.
— Ele não as usará.
— Que me crucifiquem se acha que vou averiguar. Harry cruzou seus braços em seu amplo peito, deixando claro que não se moveria.
Julián estava olhando para Penélope. Um pouco de cor tinha retornado a sua aparência e parecia mais estável.
— Condessa, ali fora há uma carruagem com seus baús amarrados, vá e me espere lá.
Os olhos de Glasbury brilhavam — Se você a levar de meu lado, estará interferindo em meus direitos.
— Você perdeu todos seus direitos quando abusou deles. — disse Pen em voz baixa.
Quando passou pelo lado de Julián , lhe estendeu uma das pistolas.
— Pega isso, no caso de ele ter trazido outro homem, que acredito que está perdido.
Ela fez uma pausa e jogou um olhar sobre suas costas e de seu marido. Uma expressão profana em seus olhos revelavam a tentação que sentia.
— Espere lá fora madame, — Julián disse firmemente.
Ela recuperou sua compostura. Passou pelo lado de Harry, com seu braço pendurando limpamente ao lado. Harry viu a expressão de dor em seu rosto.
— Se estou correto milorde, você roubará minha carruagem e meus cavalos?
— Se você estiver de acordo com meu plano, terá a ambos hoje a noite e também seu pagamento pelo uso.
— Bem, agora você pinta um quadro diferente.
— Isto é intolerável, — disse Glasbury — Eu aluguei essa carreta para o dia e…
— Vou deixar a carruagem no final do caminho. Os cavalos irão comigo um pouco mais longe, a meio do caminho de Billericay. Pelo uso de sua propriedade, vou deixar cinco guinéus dentro da carruagem.
— Isto é um roubo, se levar a carruagem vou fazer que o persigam como ladrão.
— Acredito, milorde, que me corresponde decidir se fui roubado. Nunca vi um ladrão que deixasse cinco guinéus. — disse Harry.
— Ficaremos presos aqui idiota!
Somente por um dia. Harry será capaz de caminhar para buscar os cavalos e retornar aqui antes que anoitecer. Julián saiu da biblioteca.
Agora, cavalheiros não quero vê-los deixar essa casa, quando for pelo caminho. A dama que está me esperando, suspeito que está muito disposta a usar a pistola que lhe entreguei. Se não, não duvidarei em usar a minha.
— Pare-o, idiota inútil — gritou Glasbury a Harry.
— Faça você. Ou os condes só são valentes quando se trata de mulheres? Burlou-se Harry com desgosto. — Só lhe digo uma coisa, deve ficar feliz, por minha esposa não estar aqui presente.
Julián deixou Glasbury com a censura de Harry. Pen conseguiu subir no assento do cocheiro, enquanto ele voltava à carruagem.
— Estamos roubando? Não parecia que lhe afetasse muito.
Ele subiu ao seu lado e pegou as rédeas.
— Estamos tomando emprestado, com o consentimento de seu proprietário.
Depois ele virou a carruagem e foi para o caminho, seu olhar caiu sobre ela, seu braço descansava inerte em seu colo. Sua expressão era uma máscara estoica. Suas pálpebras escondiam a maior parte de seus olhos.
— Lamento muito Pen. Culpo a mim mesmo.
— Aqui o único homem culpado não é você. Agradeço por ter vindo e pelo que fez. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse chegado.
Nada bom certamente. Se o conde quisesse somente levar sua esposa, poderia ter feito em sua carruagem com toda a pompa e estilo, que gostava de demonstrar para chamar a atenção de todo reino.
O conde não foi capaz de resistir a oportunidade de ter Pen sozinha e isolada, entretanto, tentaria lhe prejudicar de algum jeito desde o começo. O que significava, o quanto longe poderia ir, esse pensamento se enrolava na cabeça de Julián. A imagem dela brigando contra a dor, se abatia em seus pensamentos como um véu. Fogo e gelo enfrentavam uma batalha dentro de seu corpo. O impulso de devolver e matar o canalha não o abandonava.
Ela tocou seu braço.— Sobreviverei, Julián. Mas dirija rapidamente, assim que chegarmos à estrada, eu gostaria de colocar distância entre mim e o que aconteceu.
Não havia dúvida, que agora eles atuariam com rapidamente. Não só precisavam colocar distância entre Pen e o que tinha acontecido. Tinha que levá-la para longe do conde de Glasbury.
CAPÍTULO 11
Eles mudaram de carruagem quando chegaram. Julián desenganchou os cavalos de marcha e amarrou um na calesa, deixando a carruagem maior no caminho. Pen testou seu braço. Já não estava insensível. O lugar onde Glasbury segurou palpitava. Entretanto, uma dor profunda estava em toda a extremidade. Ela suspeitava que um enorme hematoma estava escondido pela manga. Julián parecia ter se acalmado um pouco. Ela nunca o tinha visto tão zangado, como quando entrou na biblioteca. Ele parecia muito perigoso e escuro, tanto que esperou que ele disparasse em Glasbury. Em sua dor e desespero, ela esperou que de verdade o fizesse. Depois que colocou a arma em sua mão, estive tentada a fazer ela mesma.
— Ainda quer ver Cleo? Perguntou Julián.
— Sim. OH, sim. É claro que sim.
Ela superou Glasbury antes e agora faria novamente. O mundo poderia não acreditar, mas poderia escutar a história de Cleo: diante essa possibilidade, o conde se retiraria e nunca mais a tocaria de novo:
— Não pode permanecer em Billericay. Devemos fazer isso de outra forma. Vou ter que procurar um lugar seguro para passar essa noite, onde eu tenha certeza absoluta que estará protegida. Enquanto não estivermos bem longe de Glasbury, não ficará sozinha novamente.
— Não acredito que exista um lugar assim. Estamos ficando sem santuários.
— Há mais um.
Nessa noite, enquanto a luz desaparecia, a calesa rodava por um caminho cercado de árvores, eles deixaram em liberdade os cavalos na metade do caminho a Billericay.
Tinha sido uma viagem exaustiva na calesa. O cavalo precisava descansar frequentemente e o longo caminho estava cheio de pequenos buracos. Somente o conhecimento de que Glasbury estava separado pela costa, fez com que Pen conseguisse ficar mais calma e com menos medo, embora muito impaciente com seu progresso. Eles se aproximaram de uma velha cruz de madeira, situada pitorescamente perto de uma casa.
— Acha que ele concordará com isto?
— Ficará adulado pela pergunta. Não duvidará em enfrentar a qualquer homem, que tente interferir.
— É velho para isso.
Julián riu baixinho — Sua espada continua sendo insuperável Pen. Também cedeu e aprendeu a usar uma pistola.
O homem de que falavam saiu pela porta de entrada, para vê-los melhor. Cabelos grisalhos, ossos magros, estatura mediana, não dava indícios de uma força de aço. Entretanto, Pen o tinha visto treinar com sabre e florete, sabia que a concentração e a precisão mortal, lhe davam essa forma de combater.
O senhor Corbet caminhava para a calesa. Saudou Pen com uma inclinação de cabeça.
— Condessa, sinto-me honrado. Julián, trouxeste a dama para mostrar suas habilidades? É um pouco tarde, mas não importa.
— Não é uma visita social Louis. Tenho que deixar à condessa sob sua proteção até manhã. Não espero nenhum problema, mas entretanto, talvez você possa mostrar suas habilidades se for necessário.
Os olhos de Chevalier brilharam com um sorriso contido e suave, enquanto ajudava Pen descer da calesa.
— Pelo bem estar da dama, espero que não. Mas por minha própria diversão, não duvidaria. Faz tanto tempo desde a última vez que o fiz, que agora não faço mais que dividir instruções para outros.
— Espero que não tenha lições para amanhã cedo, — Disse Pen.
— Não espero ninguém. Se alguém chegar inesperadamente, despacharei-o de volta. Sua pessoa e sua reputação estão completamente a salvo.
Julián levou seus baús, para dentro da casa e os deixou no quarto indicado por Corbet. Pen recebeu um pouco de vinho na sala, que ficava ao lado do grande salão de aulas pelo qual, Chevalier era famoso.
Louis a fez sentir-se bem-vinda e acolhida. Ela o conhecia há muitos anos, porque seus irmãos Vergil e Dante eram seus alunos, assim como Julián, St. John e alguns outros conhecidos, ainda hoje se reuniam para praticar com a espada.
Quando Julián se uniu a eles, Chevalier saiu discretamente, Julián pegou uma vela e a colocou em cima da mesa que estava perto de sua cadeira.
Ele não parece muito curioso por essa intrusão — disse ela.
— Ele não pedirá explicações, ou dará conselhos a menos que o pergunte. Cuidará de você com sua vida. Não tenho dúvida disso.
Ele pegou sua mão esquerda. Ela pensou que era um gesto de consolo. Gentilmente trouxe seu braço e começou a desabotoar sua manga.
— Não estou certa se gostarei de ver isso, — disse ela.
— Eu sei — seus dedos desabotoavam cuidadosamente os botões menores. — Você me disse que Glasbury não era violento com você.
Ela estremeceu quando ele chegou nos botões em cima da ferida. O aperto de Glasbury tinha deixado pequenas protuberâncias em sua pele. — Não foi no passado. Isso foi minha culpa. Recusei-me a fingir e o incitei a fazer isso, para ser honesta.
— Nunca mais diga isso novamente.— A culpa é só dele e não sua. Separou a manga aberta para revelar o dano. Sua pele mostrava um hematoma escuro, como uma faixa grossa ao redor de seu antebraço. A imagem dos dedos do conde eram claramente visíveis.
— Maldito bastardo. Julián contemplou o abuso apoiando em sua mão. – Você deve sentir uma dor terrível.
— Não é tão doloroso. — Era uma mentira, embora a sensação do contato de Julián a distraísse de sua dor. Um calor diferente, mais agradável subia por sua pele, enquanto sentia a firme palma de sua mão.
— Vou comprar algo para aliviar o inchaço.
— Não Julián , deve sair logo de Londres, eu posso cuidar disso e se precisar de ajuda pedirei a Chevalier, atrevo-me a dizer, que ele sabe mais a respeito dessas feridas e lesões do que nós.
Ele se mostrava relutante. — Retornarei na alvorada com o que precisamos, para continuar a viagem, — disse ele. — Espere-me algumas horas antes do amanhecer.
— Estarei preparada.
Ele beijou suavemente a feia ferida. — Aconteça o que acontecer Pen, prometo que ele nunca mais fará mal à você de novo. Nunca.
— Glasbury me pegou de surpresa, sigilosamente por trás. — contou ela.
— Se um advogado é melhor que você Jones, o quanto bom você é?
Glasbury passeava pelo pequeno quarto ridículo, que lhe tinham dado na estalagem de Billings. Esperar na casa de campo, enquanto Dardly recuperava os cavalos foi intolerável. Depois o cocheiro insistiu que esperassem até manhã, para retornar a Londres. Agora estava preso nessa pocilga de estalagem, sem seu valete ou roupa limpa. Os olhos de Jones pareciam duas pequenas fendas em seu rosto de lua cheia.
– Eu vou encontrá-lo, assim retorne a Londres. Não duvide. Também, tenho uma dívida para cobrar de Hampton. – Disse Jones, esfregando o cabelo com sangue seco em sua cabeça.
— É um idiota, acha que a levaria para Londres agora? Hampton não é a cabeça mais brilhante da criação, mas não totalmente idiota.
— Se não vai para Londres, então para onde vai?—
— Ao diabo se soubesse. Também têm um dia de vantagem, por causa de sua negligência, poderá segui-los não é?
Glasbury mal conseguia conter sua frustração. Ter ficado tão perto, de finalmente acabar com essa alienação ilegal e humilhante, para que somente a incompetência de Jones e do cocheiro arruinassem. Tomou mais do insípido vinho, que a estalagem tinha enviado com sua comida. Bebeu um longo gole.
O encontro com Penélope ocupava sua cabeça todo o dia, enfurecendo-o. Durante anos, foi impotente por causa de suas ameaças, mas agora não. Muito em breve, ela compreenderia isso. Claro que havia outras pessoas que sabiam. Sim, mas nenhum eram dos que falavam. O melhor do poder e da riqueza, é que poderia comprar o silêncio com o medo e com o dinheiro. E comprar homens como Jones, se fosse necessário.
— Bom, se ele não está a levando para Londres, precisamos esperar até que ela se mostre,— disse Jones.— Não existe uma maneira, de varrer a terra com todos os caminhos, canais e aldeias da Inglaterra, não é?
Glasbury tomou outro gole de vinho. Imaginou o rosto de Penélope na casa. Agressivo.
Uma provocação. Ela tinha mudado com os anos. Mas assim, gostava mais. Já não lhe atraía a fragilidade, não existe vitória se seu oponente for fraco.
Sua resistência foi muito emocionante. “Existem outros que sabem. Minha voz não será a única.” Lembrou de suas palavras. Viu sua expressão de confiança, quando o ameaçou.
Deixou seu copo na mesa e de repente, entendeu o significado de suas palavras. Claro, certamente, ela não falava de suas escravas da Jamaica ou da Inglaterra. Não, esses ainda estavam sob seu domínio. Riu entre dentes, já não se preocuparia com os incômodos de uma noite nessa estalagem.
— Eu sei para onde foram. Sei onde encontrá-la. Pode ser que inclusive, a pegue na estrada. Eu lhe darei instruções amanhã. Você terá outro homem que lhe acompanhe. Isso deve acontecer sem incidentes, sem notoriedade.
Jones se retirou e Glasbury se sentou na mesa. O vinho estava com melhor sabor e serviu-se um pouco mais.
Quando disse que uma mulher nos acompanharia, pensei que significava certa maturidade,— disse Pen.
Ficou de pé ao lado de Julián em frente a Casa de Cavalier, enquanto seus baús eram levados até a parte de cima da carruagem contratada, que Julián havia trazido.
Liderando Chevalier e o cocheiro, havia uma jovem dama chamada Catherine Langton. Tinha os cabelos loiros e pele branca, com uma constituição robusta tanto em sua aparência física, como em seu comportamento e era uma cabeça mais alta que Penélope. Sua postura e as fortes ordens, mostravam que não tolerava os tolos.
Chevalier desceu da carruagem e sacudiu suas mãos com firmeza. Os férreos olhos azuis de Catherine, examinavam os laços no peito. Chevalier respondeu com uma expressão, que indicava que uma só mais uma crítica implicaria em riscos.
Ela é uma mulher amadurecida,— disse Julián.
— Sabe o que quer dizer amadurecida? Pelo menos, não muito mais velha do que eu. Ela não deve ter mais de vinte e cinco anos.
Catherine caminhou para a porta da carruagem, subiu, arrumou as cortinas a seu agrado e esperou.
— Onde a encontrou?
— Chamei uma amiga sua a senhora Levanham ontem de noite e pedi uma recomendação. Sua fama como mulher que abandonou seu marido, atrai outras mulheres em uma situação semelhante.
— Igual a mim.
— E igual a Catherine. Eu pensei que outra esposa infeliz do nosso lado, seria bem-vinda. Entretanto, o marido de Catherine é um capitão de navio e estará de volta a Inglaterra algum dia, a oportunidade de fazer uma viagem longe de Londres a atraiu muito.
— Ela é muito dominante.
— Não há dúvida de que é, devido suas circunstâncias. Ela agora faz seu próprio caminho.
Sua voz soava como se ele a admirasse. Por alguma razão, isso fez com que gostasse ainda menos de Catherine.
— Sabe quem sou?
— Vamos utilizar nossos nomes falsos nos hotéis, mas não podia manter a farsa por muito tempo com ela. Ela deve fazer isso esplendidamente Pen. Ela está disposta a atuar como donzela, mas é educada e bem falada. A senhora Levanham me informou, que também tem um talento muito incomum.
— E qual é?
— É perita em armas de fogo. É uma excelente atiradora.
Guiou Pen para o transporte e a entregou à mulher formidavelmente jovem, a que esperava dentro.
Catherine imediatamente, tirou uma manta e colocou nos pés de Pen. – O Senhor Hampton ficará em cima?
— Parece que sim.
— Por que será? Tem espaço suficiente aqui.—
— Não sei.
— Não o conhece? É um estranho para você?
— Conheço o senhor Hampton desde que era menina. Ele é um velho amigo, entretanto não posso ler seus pensamentos.
— Não precisa ler o pensamento de um homem, para conhecer seus hábitos e preferências. Catherine falou bruscamente, sem rodeios, com o tom que Pen se aborreceria sempre.
– Ele gosta ficar fora das portas. Talvez, queira ver o campo e sentir o vento.
Após se despedirem de Cavalier, a carruagem tomou o caminho e foi para o noroeste. O dia nublado aparecia como um pano úmido e amargo, Pen estava agradecida pela manta que envolvia seus pés.
Olhou para baixo e reparou nos sapatos velhos de Catherine, aparecendo por baixo da saia e anáguas. Ela se inclinou e arrumou a manta para que cobrisse seus pés e também as pernas de Catherine.
A expressão de Catherine caiu como se o gesto a surpreendesse. De repente, pareceu muito jovem sem a expressão tão severa. Com algumas sardas no nariz e nas faces, na verdade parecia um pouco menina.
Nivelou seus olhos azuis com os de Pen. Não se transformaram em gelo, entretanto, em alguns poucos anos a mais poderia acontecer.
— Eu sei que você,— disse.— estranho você fugir de um conde. Deve ser difícil renunciar essa vida de luxos.
— Não mais difícil ou mais audaz, que sua própria decisão. Pelo menos, eu tenho uma família e recursos que você não tem.
— Batia em você?
Ela balançou a cabeça. O conde não tinha utilizava seus punhos nela, antes de ontem, nunca lhe tinha feito mal dessa maneira. Os golpes foram de outras maneiras, mais perversos.
— Meu Jacob. Embebedava-se e me batia. Primeiro o aceitei porque era meu marido. Depois porque eu tinha uma filha. Então um dia fui embora, mesmo que isso significasse perder minha preciosa filha, porque era muito perigoso permanecer ali.
— Tinha medo por sua vida?–
— Medo pela dele. Levantei-me uma manhã roxa e ferida, com ódio em meu coração. Soube que se voltasse a me ferir o mataria primeiro. Assim o deixei.
Ela contou sua história tão calmamente, que alguém poderia pensar que descrevia uma velha história em sua vaga memória. Mas seus olhos a traíam, mostravam suas verdadeiras emoções. A tristeza e a raiva brilhavam neles como chamas sem extingui-las.
— Não viu sua filha desde então?
— Ele a enviou para o norte com sua família, perto de Carlisle. Pensou que meu grande amor por ela me obrigaria a voltar, ou possivelmente, me forçar a fazer ele mesmo. Estou segura enquanto estiver no mar. Mas quando seu navio retornar a Inglaterra, vou desaparecer se puder.
— Deve ser difícil conservar um emprego.
Apenas mantenho-me. Entretanto, ainda não precisei vender meu corpo. Embora poderia fazê-lo se precisasse. Afinal, vendi eu mesma para Jacob, não é? Se fiz com um homem que fez crescer meu o medo e o ódio, suspeito que não me custaria fazer com um estranho.
Pen sabia que podia dizer algo moral sobre a virtude e o pecado, mas quem era ela para julgar uma jovem mulher, pelas escolhas que fosse obrigada a tomar, especialmente quando ela mesma, havia feito uma lista de homens com os quais ela poderia fazer “isso” com a intenção de achar uma saída para sua liberdade.
Passaram por fazendas cinzas e inóspitas como o céu. Em poucos dias estariam em Grossington e ela poderia ver Cleo. Perguntava-se em que tipo de mulher havia se transformado agora, com o passar dos anos a temerosa menina que tinha sido.
Seria covarde por não ter escolhido um movimento audaz? Desejava ser totalmente livre. Invejava a grande liberdade de Catherine, embora as duas permanecem unidas a seus maridos pela lei, Catherine podia fugir do alcance de Jacob, podia desaparecer dentro da Grã-Bretanha. Enquanto que a condessa de Glasbury não poderia. Para ela fugir e se esconder, significava deixar para trás tudo o que ela conhecia e amava. E se parasse de brigar, significava também ferir sua família e amigos.
— O senhor Hampton é muito atraente, — disse Catherine.
— De fato.
— Toda mulher deve pensar. Embora silencioso. Acho que poucos homens podem permanecer tão silenciosos. Geralmente eles falam, mas dizem coisas insignificantes.
— Acho que o senhor Hampton estaria de acordo com você.
Catherine alisou a manta sobre seus joelhos. Ela olhava seus longos dedos, para brincar com eles.
— Estão indo para uma festa? É esse o motivo dessa viagem?
Parece que Julián não explicou nada. — Tenho que fazer uma visita e o senhor Hampton está me escoltando.
— Ah. Estou vendo. Estranho que usem diferentes nomes, mas isso não me corresponde comentar. — Seus dedos continuavam fazendo traços e alisando a manta. — Você e eu compartilharemos o quarto nas estalagens?
— Acredito que sim.
— O Sr. Hampton também ficará conosco nas estalagens?
— Acho que será necessário. Não deve se preocupar, se Jacob a encontrar não estará desprotegida.
— Posso cuidar de mim mesma milady. Entretanto, ter o Sr. Hampton por perto será muito útil, pois durmo profundamente. Principalmente, depois de uma viagem e precisam trazer um canhão para me despertar. É bom saber que ele estará por perto, se por acaso houver algum problema. Se alguém entrar em nosso quarto durante a noite, eu ficaria completamente inconsciente disso. Pen entendeu o que Catherine estava insinuando.
— Estou certa que ninguém entrará ou deixará o quarto durante a noite.
— Sim, milady. Entretanto, pensei que deveria saber o quanto profundamente eu durmo. Ela se inclinou e pegou outra manta debaixo do assento. —Permita que lhe dê outra manta milady, na luz você está muito pálida.
Estava muito óbvio, que Catherine Langton havia tirado muitas conclusões a respeito dela e Julián.
Primeiro, Catherine achava que sua presença, servia para prover respeitabilidade à escapada entre um casal de amantes.
Segundo, ela havia decidido que não tinha interesse de interferir nessa escapada.
Ela possuía um admirável talento para se fazer invisível. Chegava tarde aos jantares e se retirava cedo, assim ele e Pen poderiam ter tempo a sós. Quando descia da carruagem, antes de todos, encontrava desculpas para deixar Pen no quarto por regulares intervalos de tempo na noite. Se ela e Julián tivessem mesmo um romance, ele ficaria fascinado por lady Catherine.
Entretanto, desejava que ficasse bem claro que não era, embora adorasse a privacidade que podia ter com Penélope de todas as maneiras.
Na terceira noite, quando eles jantavam no quarto de Pen na estalagem dos York, assim que terminou de comer, Catherine se desculpou para sair.
Acho que vou tomar um pouco de ar, se não se importa milady.
— Está chovendo Catherine.
— Não me importo com um pouco de chuva. Tenho minha capa e ficarei debaixo do teto, sinto necessidade de tomar um ar depois de ter viajado de carruagem todo o dia. —
Ela deixou o quarto e Julián se perguntava, se estava levando sua pistola com ela. Ele olhava através da velas a perfeita pele de Pen, seus suaves lábios e sua expressão doce.
A vontade de se aproximar e acariciar seu rosto, estava a ponto de contrariar seu bom senso. Ele amava a suavidade de seu rosto, seu corpo e seu grande coração.
Talvez, ela fosse uma mulher que precisasse de uma asa protetora, podia ver como agora ela era muito cálida com o Catherine. Pen poderia nunca usar uma arma, mas podia realmente ser muito desinteressada defendendo aos que mais precisavam.
— Vejo que fui muito rápida ao julgar Catherine. Estava certo senhor Hampton, ela é uma companhia muito agradável para mim. Escolheu muito bem.
— Entristece-me ver que volta a se dirigir a mim, novamente com formalidade. Considerando o que aconteceu na casa de campo, é um absurdo voltar a essa direção de novo.
Ela se ruborizou encantadoramente. O reflexo do fogo a iluminavam aumentando sua beleza. Seus olhos também refletiam a verdadeira razão, pela qual havia sido tão formal. À medida que seu olhar baixava, olhava ao redor do quarto com a consciência de que estavam sozinhos em seu dormitório. Ela mexia nervosamente em sua mão, o cabo do garfo que estava perto. Ele sabia que tinha que ir, ou dizer algo para fazer que se sentisse cômoda.
Mas as lembranças de seu corpo, seus seios firmes, os suaves lábios sob seus e seus quadris levantando para receber suas carícias, invadiam seus pensamentos. A luz do fogo das velas, a cama escondida atrás das cortinas, as mútuas lembranças do que haviam compartilhado, criavam um ambiente que não tinha nenhum interesse em dissipar.
— Se aproximar da senhora Levanham pedindo ajuda, foi também muito inteligente. Ela sabia que estava me ajudando?
— Eu não contei que a dama que precisava de uma companheira era a condessa de Glasbury, mas acho que ela entendeu facilmente. Afinal, eu a conheci quando me enviou para aconselhá-la sobre a lei.
— Se eu soubesse que iria vê-la, teria aproveitado para entregar a ela meu ensaio com as revisões. Enviarei amanhã antes de sairmos dos York.
— Prefiro que não Pen. Isso pode esperar até que tenha terminado essa viagem. -
— Não vejo a razão para atrasá-lo.
Julián olhou para seu braço esquerdo, que ainda não estava bom. — Quando falou com Glasbury ontem, mencionou algo sobre esse projeto?
— Sim.
— Suponho que está aborrecido.
— Muito aborrecido. Eu lhe disse que o publicaria de todas as formas. Disse que essa era uma das razões para me fazer voltar, além da necessidade de um herdeiro, mas não acho que tudo isso se deva só por essas duas coisas, não realmente.
— O que é que você acha?
A expressão de Pen se tornou pensativa.
— Disse-lhe sobre suas terras na Jamaica e de como a nova lei o obrigaria a libertar seus escravos. Um pouco parecido ao medo que passou por seus olhos, quando lhe disse isso. Uma raiva, talvez uma faísca de ressentimento.
— A lei terá consequências econômicas. Mesmo com as compensações garantidas pelo Parlamento, custará-lhe muito caro.
— Não acredito que sejam os efeitos financeiros, que o motivou reagir assim. Julián ele adora ter escravos. Adorava ser dono dos direitos dos seres humanos e os ter submetidos a ele. O tentou recriar esse mundo aqui na Inglaterra e depois que fui, ele visitava a Jamaica de vez em quando, para poder desfrutar desse poder de novamente por um tempo. Agora, com a nova lei, isso terminou. Legalmente, nunca poderá fazer de novo.
— Exceto comigo.
O quarto parecia sussurrar as palavras. Julián virtualmente ouvia em seu pensamento, essa frase final que não expressou com palavras.
Ela estava certa, Glasbury poderia estar muito perto dos direitos sobre as vidas alheias que tanto gostava, com sua esposa e filhos. Todos os homens podiam, mas muitos deles não exploravam esse poder.
Ela se levantou e caminhou para a janela. Olhava através das cortinas, como certamente fez quando discutiu com Glasbury.
Até ontem, não tinha entendido realmente o que o motivava, não compreendia realmente o quanto ele é malvado. Entretanto, em dois dias enfrentaríamos à evidência que deveria esclarecer.
— Pen tenho a sensação, que está um pouco perturbada por ter que ver Cleo. Ela inclinou a cabeça para um lado e outro, olhando através da escuridão, seu fôlego embaçou um pouco o vidro.
— É que vê-la me faz ter lembranças, isso é tudo. Não é uma coisa, que algum dia possa esquecer de verdade.
Sua voz era suave, mas seus olhos pareciam fantasmas. Estava agora mesmo lembrando, levantou e se aproximou dela. Ele queria que ela nunca mais lembrasse. Cuidadosamente colocou suas mãos sobre seus ombros e com gesto obrigou-se a ser tranquilizador e não possessivo. Queria abraçá-la e desterrar suas preocupações. Queria lhe fazer o amor. Esteve pensando nisso há pouco mais de três dias.
— Vou falar com Cleo sozinho Pen. Não precisa vê-la.
Ela o olhou. Via-a vacilante, tentada. Ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu era responsável por ela. Deveria ter compreendido isso antes. Se for mexer no passado, não devo evitar presenciar o que significa para ela. Preciso saber se ela tem coragem de permanecer ao meu lado, se houver necessidade.
Parecia tão preocupada e triste. Ele reagiu instintivamente e acariciou para baixo seus braços em um impulso, de que? Conforto? Sedução? O corpo dela se flexionou em consequência e não se mexeu. Uma preciosa cor percorria seu elegante pescoço até seus deliciosos lábios. Ele esperou um sinal, qualquer sinal que lhe indicasse que suas carícias seriam bem-vindas. Ele era indiferente ao que era certo e ao que não o era e estava tão faminto por ela, que as razões já não importavam.
Ela não se mexeu. Não se afastou de seu carinho. Seu belo pescoço o tinha hipnotizado. Estava convencendo a si mesmo, que era uma sedução que não devia ser desonrosa, quando uma pequena tumulto fora o interrompeu. Fora da porta, uma voz feminina chamava pedindo água. Os sapatos pisavam na madeira em meio aos fortes murmúrios, a respeito da chuva fria e das ruas enlameadas.
Catherine tinha voltado e estava assegurando-se de que eles a notassem. Pen saiu de suas mãos e correu para o outro lado do quarto.
CAPÍTULO 12
— O Sr. Hampton está esperando para partir agora?
Típico de sua irritante eficiência, querer saber tudo, Catherine estava ocupada planejando a manhã até o último minuto, enquanto ela e Pen tomavam o café da manhã em seu quarto.
— Não falei com o senhor Hampton, desde que nos deixou ontem a tarde, assim não sei seu plano. Depois da estupidez com que recebeu Catherine ao voltar ontem a noite, Pen sentia certa obrigação de esclarecer que ela e Julián não tinham uma aventura, ou intenção de começar uma.
— O Sr. Hampton falou de um curto trajeto para o dia de hoje. Estamos perto de seu destino?
Pen passou uma má noite e uma manhã incerta. Sua conversa com Julián na noite anterior, provocou reações nela que não podia classificar. Uma tristeza dilaceradora escurecia toda essa confusão e não somente por Cleo. Suas carícias, sua proximidade, a maneira entristecedora em que seu espírito havia esperado que abraçasse sua necessidade de consolo e a distração foi atraindo-a a abusar de sua amizade da forma mais desprezível. Catherine se referia, à conclusão que tinha tirado que aconteceria uma festa ao terminar a viagem.
— Devemos chegar hoje. Ficaremos um dia ou dois. Depois disso, não sei aonde vou. — Possivelmente, para a América. Pode vir comigo também. Talvez, Julián aprove essa viagem se você for abrindo o caminho para mim através do deserto.
Prepararam-se para a viagem, só para descobrir que a capa de Catherine se encharcada pela caminhada da noite anterior na chuva.
— Use a minha azul e eu usarei a marrom, — Disse Penélope. Abaixou-se para procurar a roupa dobrada em seu baú menor. Catherine a alisou com a palma da mão, a lã superfina e luminosa da cor safira.
— Essa capa é muito bonita.
— Meu irmão me deu de presente.
— Não foi o Sr. Hampton e nem o conde, Pen queria acrescentar. Jamais o conde. Sua atribuição sequer pagava sua casa de Londres se não fosse pela ajuda adicional de Laclere. Ajuda que foi concedida quando deixou o conde.
O manto foi um presente, mas houve outros presentes menos evidentes que havia ganhado. Depois que Laclere se casou e que suas finanças melhoraram, sua esposa Bianca tinha o costume de convidar Pen para unir-se a ela a visitas às costureiras. As faturas dos vestidos de Pen chegavam a Laclere junto com os de Bianca, coisa que ela não esperava era ficar na miséria, mas não foi fácil. Teve que se humilhar. Fui reduzida a viver de caridade, não importa que outro nome bonito lhe deem para isso, mas era. Estava sendo estúpida e ela sabia. Não existia concorrência com Catherine, para saber quem era mais miserável. Catherine daria as mãos somente para recuperar sua filha.
A presença de Catherine se transformava em fastidiosa e irritante. Por um lado, Pen se deu conta que, sua capa azul a deixava impressionante. Fazia ela parecer mais fresca e bonita e lhe deu cor em suas faces. Se Julián já admirava Catherine por sua independência, perceberia também, do quanto era preciosa.
— A outra capa não está aqui. Por favor, peça para os criados trazerem de volta meu baú da carruagem. Quando Catherine se foi, seus olhos azuis olharam brevemente para a parede ao lado do quarto de Julián. O olhar não parecia cúmplice desta vez. Pen imaginava o homem que estava naquele quarto, bonito, escuro, frio e magistral. Se ele tinha beijado a jovem, da mesma forma que beijou ela, provavelmente estava apaixonada. Para Catherine a única preocupação seria a mudança de proteção.
Pen prestou atenção na desordem que tinha feito em seu pequeno baú, preocupada todo o tempo e com uma tristeza latente. Ela não sabia a razão, mas estava amargo e desagradável nessa amanhã.
— Estará pronta para partir em uma hora? -
Olhou para a porta, Julián estava ali. Sim, bonito, obscuro e frio.
— Catherine deixou a porta aberta? Perguntou ela.
— Parece que sim.
— Bom, por favor, feche-a e vai embora. Não sou boa companhia para ninguém hoje.
— Por que?
— Não sei porque Julián. Só desejo que meu outro baú esteja aqui. Desejo dar um passeio e tomar ar fresco. Talvez então, sentirei-me melhor. Fechou a tampa de seu pequeno baú.
— Quando encontraremos Cleo?
Ele apoiou um ombro no batente da porta, sem entrar ou sair.— Chegaremos a Grossington nessa tarde. Pensei ir visitar a senhora Kenwortu amanhã, a menos que você prefira fazer de outra forma.
— Não há outra forma. Pela primeira vez, no que se refere a Cleo, não devo ser uma covarde.
Ela ficou em pé. – Vou buscar baú se não, minha alternativa é esperar um ano para que volte para mim.
Ela lembrava coisas que não desejava lembrar. Admitiu isso, enquanto caminhava por um jardim escondido atrás da posada. Cada quilometro mais perto de Cleo, trazia imagens que engendravam mais culpa e humilhação.
Ela foi tão ignorante. Tão incrivelmente ingênua. Quando ela viu a casa de campo isolada em Wiltshire, cheia de servos de pele escura, nunca suspeitou que viviam na Inglaterra como escravos, assim como eram na Jamaica.
Não imaginava que Glasbury mantinha a propriedade isolada, para ele poder desfrutar dos criados de um jeito, que não seria permitido a um criado Inglês.
Ela passou bem por um tempo, até que um ano depois começou a tratá-la como se fosse uma escrava também.
A princípio o conde ditava ordens leves, mas sua raiva era mordaz e a atemorizava quando algo ela fazia ele não gostava. Quando ele mandava ela trocar o vestido para o jantar, e depois não gostava sua nova escolha, a fazia mudar uma e outra vez acompanhando de críticas sobre sua incompetência para ser uma condessa. Ele encontrava defeitos em tudo e ela começou a ter medo de sua presença, se encolhendo quando era foco de sua mira.
Isolou-a de seus amigos, dizia coisas terríveis sobre sua família e ficou furioso quando ela teve a ousadia de contrariá-lo. Ao não ficar grávida, ele usava isso como um chicote contra ela também. Seu medo crescia e sua alegria morreu. Ele desfrutava do que fazia. Finalmente, quando a tinha intimidado tanto como a uma menina, começaram os castigos.
Ela parou de caminhar e ficou ali imóvel, vendo como as lembranças rompiam as barreiras que havia construído a seu redor. Os castigos físicos tinham sido os menores dos males. Os rituais que exigia eram os desagradáveis.
Ele não se limitava de bater simplesmente, mas sim a fazia esperar como uma menina preparando-se para uma surra. Assim que chegava em seu quarto a obrigava a despir-se e caminhar para ele, deitava-a em seu colo e usava sua mão em seu traseiro. Isso o excitava, levou muito tempo para entender. E depois, os rituais se tornaram mais criativos e mais sexuais. Estremeceu-se diante a lembrança da primeira noite, que a fez arrastasse até ele e por sua vez, pegou seu cinto e com a fivela a golpeou até fazê-la gritar. Quando ele a teve implorando para que parasse, tomou-a como se fosse um animal submisso em que a tinha transformado.
Ela tirou essas imagens de sua cabeça e se forçou a colocá-las nas sombras onde havia guardado. Ela se saiu melhor que Cleo, pelo menos tinha fugido antes que o conde fosse mais longe, assim como fez com a garota.
Um manto azul apareceu na porta do jardim, Catherine fez gestos para lhe indicar que a carruagem estava pronta para partir.
Pen estava consumida, pela raiva que sentia contra ela mesma por ter sido tão dócil, deveria ter confiado em alguém, sem se importar com a humilhação que teria sido para ela confessá-lo. Deveria ter visto antes, que ela não era a única mulher nessa casa que se encolhia de medo.
Voltou caminhando preocupada com seus pensamentos, como quando ela partiu quando deixou o conde.
Mesmo na carruagem ao lado do condutor, Julián podia sentir que ela estava inquieta.
Nessa noite ficou parado frente à janela, olhando para fora em silêncio. Do outro lado da rua podia ouvir os ruídos das outras carruagens. O chão soava com um ritmo regular de pisadas que iam e vinham. Havia dito a ele que tinha lembrando “ de coisas”.
Ele também estava acompanhando sua insônia, embora ela jamais soubesse. Durante duas horas, escutou o ritmo de seus passos. “Ele sente prazer dando esses castigos” foram as palavras que ela usou nesse dia, enquanto olhava decididamente um canto de seus aposentos para que não pudesse ver sua reação. Supôs que ela passou semanas, tentando encontrar uma maneira de dizer isso sem ter que dizer muito realmente. Entretanto, tinha sido eloquente a sua maneira. Ela não havia dito "ele me bate quando está bêbado". Sua simples declaração se referiu a muito mais.
Parecia que o ritmo de seus passos que iam e vinham, nunca parariam. Finalmente, não conseguia mais suportar. Saiu de seu quarto e brandamente tocou em sua porta que estava a poucos passos do seu.
A porta se entreabriu. Pen estava ali com sua camisola branca de renda e com sua bata em cima, um xale azul envolvendo seus ombros e seios. Ele olhou em seus olhos e soube que ela caminhou pelo seu quarto intranquila toda a noite.
Pressionou mais a porta com a palma de sua mão. Na escuridão do quarto, podia ver Catherine dormindo em uma cama pequena contra a parede. Pegou a mão de Pen e a tirou do quarto e fechou a porta. Ignorando sua resistência, arrastou-a para seu quarto.
CAPÍTULO 13
Ela cruzou seus braços sobre seu xale e pressionava suas costas contra a porta.
— Catherine diz que se um homem a assediasse, mandaria seu joelho em um local onde ele não têm armadura.
— Se eu lhe perseguir espero o mesmo.
Ele caminhou afastando-se dela, porque desejava muito tocá-la. Estava tão adorável e tão feminina em sua roupa de dormir. Imaginava tirando seu gorro de dormir e ver seu cabelo cair livremente sobre suas costas.
— Ainda não dormiu Pen. Já é meia noite.
— Você tampouco está.
—Estive escutando você caminhar.
— Isso acontece algumas vezes quando eu não consigo dormir. — Continuava encostada na porta, como se tivesse medo dele. — Tenho um motivo dessa vez é que ficarei sozinha manhã. Não pode me afastar disso Julián. Não pode me proteger com escudo deste dragão. Afastou-se da porta. Sua expressão ficou triste como se caminhasse sem rumo pelo quarto.
— Eu era a senhora dessa casa. Era a responsável, mas estava cega.
— Ele estava convencido que você estava aterrorizada.
— Não, Julián, eu cobri meus próprios olhos porque o que existia na frente deles, não fazia sentido e era tão alheio ao mundo que eu conhecia. Lançou um olhar desafiante.
— Ele não queria que eu perdesse de nada. Assim em uma noite, quando castigou Cleo, ele me obrigou a ser testemunha. Fiquei horrorizada. Chocada. Tremendo e insensível ao mesmo tempo. Eu não compreendia tudo isso ainda, mas não podia mentir a mim mesma depois disso. Assim fui a você.
Ele sempre suspeitou que algo específico, havia acontecido para que ela fosse a ele e lhe confiasse tudo o que contou em seu escritório. Uma noite de iniciação. Uma noite em que o conde mostrou a Pen o tipo de prazer que ele queria. Não duvidava que ele havia pensado que ela já estava quebrada então. Mas ele estava errado. A suave e inocente esposa tinha tirado uma força que o conde não esperava.
— Foi desagradável, — murmurou ela, falando mais para si mesma do que para ele. — Acho que nesse dia desci para o próprio inferno.
— Você foi.
— Meu coração estava quebrado por ela. Mas um pensamento permanecia em minha cabeça e não saía. Um muito egoísta. Que poderia ser sua. Que algum dia seria.
Ela se virou. Ele sabia que estava chorando. O coração dele estava fechado. Foi atrás dela e pôs suas mãos em seus ombros. — Você a tirou dali Pen.
— Foi você quem fez Julián. — Deu a volta, mas não saiu de seu toque. — Adivinhou tudo isso, não é? Sua imaginação pode ver tudo, não é assim? Seus olhos cheios de lágrimas presas. — Sempre soube de tudo que ele fez para mim e para ela.
— Eu não insistirei em saber o que ele fez para você. Ele limpou com seu dedo uma lágrima que descia por sua face. — Você foi só uma vítima. Uma doce e adorável menina que foi raptada pelo demônio. Eu sinto desejo de matá-lo por isso, mas jamais mudei meus pensamentos sobre você. A reação dela quase quebrou seu coração. Parecia agradecida, cética e terrivelmente vulnerável. As velhas imagens de entrar com Glasbury em um campo de honra, retornaram em sua memória. Graças a Deus, ela tinha sido forte. Graças a Deus, ela encontrou coragem para deixá-lo. E graças a Deus, essas experiências não a arruinaram, ou a transformado em uma sombra, como transformou a pequena Cleo.
Seu dedo ainda descansava no rosto de Pen. Os olhos dela ainda cheios de confusão e de tristeza. O quarto pulsava pela intimidade provocada por suas emoções. — Devo ir, — disse ela.
— Poderá dormir agora?
— Possivelmente não. —
— Então fique aqui. Esperaremos o amanhecer juntos.
— Não devo.
Ele não desejava que voltasse para seu quarto e continuasse com seus pensamentos e lembranças.
— Se não estiver sozinha, possivelmente o dragão ficará em sua guarida. Ele pegou sua mão e a beijou. — Descansa aqui, em meus braços. Você retornará para seu quarto antes que Catherine desperte.
Ela não aceitou, mas tampouco negou. Quando ele deu um passo atrás para a cama, não houve resistência real no corpo que ele guiava pela mão. Olhou à cama por um longo tempo.
— Se eu lhe assediar, ainda pode seguir as instruções de Catherine sobre joelhos em lugares desarmados, — disse ele. Ela riu. O som musical quebrou através da tristeza e levantou a escuridão. Ela tirou seu xale, dobrou cuidadosamente e o colocou em uma cadeira. A domesticidade dessa ação o deixou em transe.
— Tem certeza que me levará para fora, antes que mesmo que os criados levantem?
— Prometo. Ela levantou a roupa de cama e subiu.
— Continuamos fazendo as coisas que não deveríamos, mas tem razão, não quero ficar sozinha com meus pensamentos nessa noite. Havia uma confiança implícita em seus movimentos, enquanto ela se acomodava na cama. Era de uma vez aduladora e divertida. As imagens que passavam por sua imaginação, não eram nada confiáveis, mas esperava poder sobreviver nessa noite. Depois de uma vida de contenção, algumas horas mais deveriam ser manejáveis.
Ela o olhou do travesseiro. — Não pensa ficar sentado na cama como uma enfermeira?
— Não.
— Não pensará descansar com casaco e com o lenço?
— Não. Ele tirou seu casaco e desamarrou o lenço.
— Não. Ele deslizou seu casaco para fora e foi começou a trabalhar com sua gravata. Depois apagou a vela. O fogo se reduziu a cinzas, mas ainda dava um pouco de calor e toques de luz.
— Acho que deve tirar a camisa.
— Agora? Poderia ser conveniente se um de nós não estivesse vestido na cama. Há limites ao cavalheirismo de qualquer homem.
— Sim. É obvio. Perdoe-me. Sempre é mais sensato do que eu Julián.
— Sensato, Ah sim? Tirou a maldita camisa. E se virou para encontrar seu olhar. Pelo menos ela não parecia estar mais pensando em Glasbury. Sentou-se na cama e tirou as botas. Decidido não ser nem mais um pouco sensato, tirou a calça, jogou na cadeira e se juntou a ela debaixo da manta. Seu corpo já estava na condição de fazer sua noite uma tortura.
— Suponho que isso é muito arriscado e perigoso, — disse ela.
— Não corre perigo comigo. Isso não era muito verdadeiro.
— Isso não é o que eu queria dizer.
— Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão.
— Isso ajuda a não ficar sozinha. Estou contente também, por estar comigo manhã. Não acho que eu poderia fazer de outra maneira.
— Você pode fazer algo se decidir que é importante. Já demonstrou.
— Não acredito que seja verdade. Se pensar nisso nunca atuei sozinha. Sempre há alguém para me ajudar. Mas não desejo pensar ou falar mais disso nessa noite.
— Do que prefere falar então ?
Ela se levantou sobre seu cotovelo. — Que a mágica luz do fogo, dá um brilho especial aos contornos de seu rosto, como se fosse uma pintura. Estendeu sua mão e riscou uma linha ao longo de seu nariz, sobre seus lábios e desceu pelo queixo. O desejo começou a percorrer através dele. O toque de Pen riscava linhas sobre seus ombros e nos músculos de seu peito. Moveu a manta para baixo com sua mão.
— O que está fazendo Pen?— disse ele com voz contida.
— Você me olhou, eu desejo olhar você. É mais atlético do que esperava. Não duvido que os remos podem explicá-lo. — Seus dedos percorreram em cima de uma linha áspera em seu lado esquerdo. — Como fez essa cicatriz? — É muito longa.
— Fiz isso alguns anos atrás em Hampstead.
— Não compreendo como um jogo de espadas na Sociedade do Duelo, pode ser tão perigoso.
Ela se referia ao grupo de amigos de Laclere, que se reuniam na casa de Chevalier para praticar com espadas e pistolas. Julián fez parte deste grupo da universidade e ainda se reunia com eles ocasionalmente, para continuar com sua velha camaradagem.
— Todos temos alguns arranhões. As espadas fazem isso.
— Isso é mais que um pequeno arranhão. — Sua mão traçou a cicatriz até o final sobre seu quadril. Seu corpo reagiu proeminente. Ele moveu as mãos dela para trás e suprimiu as surpreendentes imagens que conquistavam sua cabeça nesse momento.
— Está fazendo isso perigoso, apesar de minhas boas intenções. Inclusive, os velhos amigos não são de pedra. Não sou todo o tempo completamente sensato.
— Não, não é. O que é um descobrimento muito interessante. Seus dedos e seu olhar se moveram em cima de seu abdômen.
Ele pegou sua mão, segurando. — Está tentando me seduzir Pen?
— Não completamente, sussurrou. — Suponho que estou devolvendo o dragão para sua guarida Julián. E estou lembrando, que também há bons momentos, bons amigos e que não estou arruinada para tais coisas.
Bons momentos, mas não com ele. Outro lhe tinha mostrado que não estava em ruínas, muito antes que Julián Hampton a beijasse.
Ele sabia muito bem, como fazer que todos os dragões se retirassem. Ponderava se ele se atreveria a fazer isso e se teria a contenção que ela esperava. Não desejava mais jogos sexuais incompletos. Fazer amor na praia tinha sido precioso, mas não desejava ser um mais dos homens que roubavam carícias e beijos através dos anos. Homens que podia esquecer facilmente e ser relegado de uma lista frívola de jogos de flertes, sem consequências e sem significado.
Se ela tivesse permanecido ali tranquilamente, poderia ter continuado com seu bom senso. Mas ela se virou um pouco e seu quente fôlego caiu sobre seu peito e de repente, ele queria o que poderia obter se não o fizesse.
Uma antecipação sensual alagava o silêncio entre eles. Sua mão ainda descansava sobre sua pele debaixo da sua. Levantou-a e a beijou na palma da mão e sobre o pulso.
— Vamos pôr os dragões para dormir nessa noite se quiser.
Ela virou a cabeça e o olhou.— Não é justo para você, certo? Como disse antes, inclusive os velhos amigos não são de pedra.
— Não é única coisa que quero. Não vou mentir a respeito disso. Mas será suficiente.
Levantou-a e moveu sobre suas costas, que de tal forma era a única recebia os brilhos do fogo moribundo brilhando em cima dela. Deslizou seu gorro e seu cabelo caiu livremente para baixo. Ele tentou lembrar quando tinha sido a última vez, que a tinha visto com o cabelo solto. Anos atrás quando ela era uma menina, estava certo. Entretanto, frequentemente a via desta maneira em seu pensamento. Percorreu seus cabelos até que se dispersaram no travesseiro. Tirou os laços dos arcos que mantinham a camisola fechada. Ela olhou seus dedos por debaixo dos grossos cílios com as pálpebras abaixadas.
— Você me deixa sem fôlego Julián e sequer me deu um beijo ainda.
— Então você vai ficar sem fôlego quando eu tirar isso.
— Totalmente?
— Sim. Afinal de contas, havia esperança que isso pudesse acontecer completamente nessa noite, pensou ele.
Ele levantou seu ombro para que pudesse deslizar para fora a roupa ver algumas polegadas mais de seu corpo. Seu aroma lhe disse que havia despertado sua libido ao despi-la, pois sua expressão era de uma mulher que estava na metade do caminho para o êxtase. Ela estava certa sobre o fogo. Tinha desenhado uma linha brilhante em seu corpo. Ele fez como ela tinha feito com ele, traçou seu rosto, pescoço e depois ao longo de seu peito e a curva de seus seios. Seus mamilos rosados se ergueram quando seus dedos os cercaram e suas costas se arquearam sutilmente. Sua respiração era mais audível agora.
Suavemente circulou um mamilo com os dedos. – Você é muito bonita Pen. Não posso imaginar paixão mais bonita que a sua. A mão dela pressionou sua nuca para baixo para aproximá-lo de seu rosto.
Não só o dragão dorme quando fazemos isso Julián. Morrer por um tempo. É como se eu fosse uma garota outra vez em Laclere Park e nada feio e triste tivesse acontecido.
Suas palavras o tocaram.
– Então voltaremos a Laclere Park Pen. Para quando eras uma garota e eu um rapaz. – Ele beijou seu rosto.— É primavera, voltei ao lago e encontrei você ali sozinha, sentada no meio das flores.
Ela riu baixinho e fechou os olhos.— Sim, é primavera. É um dia quente, com céu azul e grandes nuvens brancas. Há juncos em baixo das árvores. As folhas de carvalho, não estão no entanto. Onde estão meus irmãos? Por que você está sozinho?
— Eles se foram com o mordomo comprar um cavalo. Eu escolhi ficar para trás.
— Para me ver sozinho?
— Possivelmente. Se você quiser.
— Acho que foi por a caso. Um impulso. Nós somos jovens a final. Não acredito que devemos falar de uma sedução calculada.
— Atualmente, em minha história você me seduz.
Ela reagiu assombrada, mas um pequeno sorriso se derreteu em seus lábios. — Sou muito travessa…
— Bom, não é nada novo. Quando conheci você, estava subindo o vestido à cintura para poder entrar no lago e tentar pegar peixes com as mãos, assim foi em um verão em que eu e Vergil lhe encontramos.
— Minha preceptora me fez permanecer em casa por uma semana, quando cheguei em casa com os pés enlameados. Se eu levantar minha saia para entrar no lago, você vai ver muito das minhas pernas, não acha?
— Ele deslizou a manta, para ver todo seu lado esquerdo até os dedos de pé. Observava enquanto acariciava sua pele sedosa a até o joelho.— Muito. As pernas mais belas. Estou encantado.
— Então, depois de brincarmos no lago, nos beijamos. — ela sussurrou. — É meu primeiro beijo de verdade. Ele a beijou.
Ela levantou o olhar e passou seus dedos no rosto dele.
– E para você? É seu primeiro beijo de verdade Julián?
— Sim, Pen. É minha primeira vez.
— Fico feliz. Beija-me outra vez Julián.
Ele já não era tão jovem, mas poderia fazer. Ela não era realmente sua primeira vez, mas ele a acariciava com sua mão, como se nunca tivesse tocado outra mulher. A diferença estava em seu coração. Cada beijo era novo e perfeito, uma revelação de emoções enterradas há muito tempo, assim como não poderia ter futuro para eles, no passado tampouco houve. Ela só desejava matar os dragões por uma noite, mas a alma de Julián se sacudia com o que estava acontecendo.
Seu corpo rugiu com impaciência, mas seu coração desejava um passo à eternidade. Ele controlava sua fome e a beijava lentamente, escutando cada pausa e cada resposta que lhe dava. Pequenos mordidas em sua orelha a fizeram estremecer. Beijos no pescoço a fez ofegar. Durante um longo e profundo beijo ela se uniu a ele, aventurando-se a fazer sua própria invasão, pouco a pouco dentro de sua boca, lhe fazendo saber que ela não era tão passiva. Ele beijou um seio e acariciou o outro, em transe por sua suavidade. Memorizando a sensação de sua pele entre seus dedos, sua boca e um lado de sua loucura estava cada vez maior. Um sonho de êxtase marcava sua expressão e seu respiração ofegante fluía em seus ouvidos.
Ele se levantou sobre ela, para poder ver seu rosto e para lembrá-la sempre. Acariciou seus duros e eróticos mamilos, enquanto observava com alegria seu prazer. Ela abriu seus olhos. Parecia envergonhada por ele ver suas reações, mas depois pode ver como o calor entrou em seus olhos.
— Você gosta de ver o que me produz?
— Sim.
O olhar dela baixou lentamente sobre seu peito. — Então não se importará se eu jogar também. O justo é justo.
Suas palavras infantis, o lembraram a fantasia que tinham compartilhado. Entretanto, não era a mão de uma menina, que se movia para baixo de seus ombros acariciando seu corpo. Sua carícia o fez apertar os dentes. Chamas ardentes atravessaram seu sangue e queimavam sua cabeça. Ela foi se aventurando cada vez mais abaixo e sua cabeça começou a estalar. Em seguida ela tocou seu membro ereto em sua cueca e deslizou suas mãos para dentro para acariciá-lo. A excitação dele se transformou selvagem e perigosa, mas ela se manteve lírica e luxuriosa. Ele baixou sua cabeça para lamber e chupar seus apertados mamilos de veludo. Firmou o corpo dela com sua mão, acariciando suas suaves curvas para deliberadamente obrigá-la ao abandono.
Ela mordeu seu lábio inferior e ele pôde ver como uma poderosa tensão pulsava através dela, como se cedesse ao controle de suas reações.
— Talvez, possivelmente não tenha que ser só “o suficiente” esta noite Julián. Só que dessa vez, talvez...
Ele a olhou aos olhos, mal se atrevia a respirar, muito menos a falar. Entretanto, seu corpo não ficou em silêncio. Gritou com ânsias caóticas que o liberasse de suas tênues ataduras.
— Possivelmente, se formos cuidadosos afinal não tem que ser tão injusto, — disse ela.
Um bom amigo não deveria lhe permitir decidir isso agora, aqui, enquanto ele sentia um atraente prazer. Um homem honrado não podia lhe permitir abandonar o cuidado de toda uma vida, especialmente em uma noite, quando as lembranças a tinham deixado tão vulnerável.
Mas seu próprio desejo o empurrava para muito longe de ser bom e honrado.
— Posso assegurar que seremos cuidadosos. — De algum jeito encontraria força para cumprir essa promessa
— Tem certeza Pen?
— Acho que vou morrer se não fazemos. — foi toda sua resposta.
Ele a levou mais à frente do pensamento, além de todo julgamento. Afogou-a no prazer para assegurar-se que não pudesse mudar de opinião. Seus gritos se fizeram frenéticos. Quando ele a acariciou mais acima, entre suas pernas e a tocou intimamente, ela se uniu a ele em um estado de paixão onde não havia nada cuidadoso, lento ou contido. Compartilhavam e negociavam, agarravam e mordiam entre beijos e carícias mais eróticas.
— Sim, — sussurrava ela uma e outra vez até transformar-se em uma desesperada melodia de assentimento e desejo. Ele se moveu em cima dela. Outro “Sim” fluiu em seu fôlego, mas de repente se tornou envergonhada estranha, como se não soubesse o que fazer agora. Uma nota diferente soava em seus suspiros.
Ele a desejava tanto que mal podia pensar, mas sua sutil vacilação restaurou um ponto de calma em meio de sua fúria.
Com seus corpos apertados, de coração a coração, ele a olhou aos olhos, mais à frente do desejo e viu a vulnerabilidade que quase tinha esquecido no calor da paixão.
— Está assustada Pen?
Ela o olhou.
— Não precisa ficar. Eu nunca a machucaria. Ele abriu suavemente suas pernas. Entrou devagar, como se fosse realmente uma virgem na pequena fantasia que havia começado tempo atrás.
Ela reagiu como se fosse, com surpresa e mal estar inicial. Na continuação, seu corpo se relaxou e ela o aceitou profundamente.
Era sua vez de ser surpreendido. A sensualidade era o de menos. Uma profunda alegria impregnava seu ser e o intimidava. Fechou os olhos e saboreou todas as sensações, sem se mover. Nunca esteve tão totalmente vivo em um momento de sua existência.
Quando levantou suas pálpebras, Pen o olhava com uma expressão preocupada que tocou seu coração.
— Estou bem agora,— sussurrou. – Ficou quieto tanto tempo, que pensei que você não conseguia seguir adiante com isso, com medo de mim.
— Eu não sou tão cavalheiro para fazer isso. Só estava desfrutando da sensação de sentir você.
— Oh. Igual o olho na tempestade, quis dizer.
— Suponho que sim.— Ele sabia disso. Como os ventos começavam a uivar de novo.
Se manteve a raia da loucura, tanto como podia. Se retirou e empurrou lentamente, desfrutando da deliciosa sensação e dos suaves suspiros de suas respostas. Se ajoelhou e se apoiou sobre seus braços para poder ver seu rosto, seu corpo e olhar abaixo como eles se uniam. Seu corpo não o deixaria continuar assim por muito tempo. A urgência por terminar forçava suas demandas. Equilibrou seu peso em um braço, agachou-se e deslizou seu dedo em sua fenda para acariciar seus clitóris. Foi a tormenta dela que guiou o restante. Seus gemidos falavam de como o prazer a desenquadrava. Seus movimentos o apertavam mais a cada vez. Seus quadris subiam e desciam procurando ansiosamente o alívio. A própria paixão dele se tornou tão intensa e selvagem na resposta, que começou a levantar em um pico. Ele endireitou suas pernas e as apertou juntas debaixo das suas.
– Não se mexa – quando empurrou a outra vez, os dedos dela se cravaram em seus ombros encontrando a pressão que o acariciava mais eficientemente por dentro.
–Sim, sussurrou ela, começando seu transe musical de novo. Ela gemeu com prazer surpreendo outra vez. Logo pequenos assentimentos exalavam com cada respiração.
Sua ascensão lhe disse o perto que ela estava e ele encontrou o controle para continuar. Quando ela amorteceu seus gritos contra seu ombro e se estremeceu com seu orgasmo, ele finalmente cedeu às demandas de seu corpo. Inclusive no meio do clímax, jamais esqueceu que era Pen quem segurava entre seus braços. Sua presença só o embriagou de felicidade da mesma forma, que fizeram suas carícias e todo o prazer que lhe acabava de dar. De algum jeito, nesse glorioso cataclismo de prazer, ele manteve sua promessa e renunciou a sua união física derramando-se fora de seu corpo.
CAPÍTULO 14
Os dragões se retiraram para suas celas durante toda a noite. Embora Pen tenha deixado os braços de Julián e voltado para seu quarto, ela não se incomodou. Somente começou a agitá-la quando o amanhecer despertou. Mesmo assim, o passado permanecia vago e distante. As más lembranças não podiam penetrar em seus pensamentos da noite.
Entretanto, quando estava colocando sua capa lembrou. Caminhando pelas escadas para unir-se a Julián na carruagem a tirou de seu estupor.
Ela estava um pouco envergonhada quando viu Julián à luz do dia. Sua saudação foi formal e correta, mas seus olhos mostravam calidez e um toque de conspiração brincalhão. Reuniu-se com ela na carruagem e saíram da cidade. Sentou-se de frente a ela, sem dizer nada, como era sua forma habitual. Ela foi quem se sentiu obrigada a falar da noite anterior.
— Não sei como me comportar hoje contigo Julián. A única coisa que posso fazer é não rir bobamente.
— Sempre pensei que era um som encantador.
— Estou surpreendida comigo mesma. Parece que sou mais sofisticada do que pensava. Suponho que minha longa abstinência teve a ver com perda de minha cabeça na noite passada.
— Não se necessita de uma longa seca para desfrutar de uma chuva de verão.
—Estou tendo dificuldades ao lembrar o quanto fui atrevida. Não acha? Alguma vez teve uma relação sofisticada antes?
— Eu sozinho tive relações sofisticadas Pen.
— Bem. Pelo menos um de nós sabe o que fazer e que dizer no dia seguinte.
Ela esperou. Depois de uma conta de cinco, uma expressão um pouco desconcertada passou por seu rosto. Então com diversão, percebeu que ela esperava que a guiasse.
— Bem Pen, normalmente, em algum momento dos próximos dias, se expressa alguma gratidão.
— Certamente, como vejo. Pois bem, então obrigada Julián.
Ele coçou sua testa, enquanto um sorriso dançava nos cantos de sua boca.
— Estou falando de expressar gratidão Pen, não isso.
— Eu assumi que ambos.
— Não normalmente.
Isso não ajudou muito a sua situação. Estava certa que havia também expectativas para a mulher. Possivelmente, ela deveria esclarecer o assunto e lhe assegurar que não haveria cenas. Ela conheceu mulheres que entendiam mal as coisas e construíam enormes expectativas sobre os romances casuais que mantinham com outros homens.
— Julián quero que saiba que, não me comportarei infantilmente, ou que ficarei implorando ou insistindo que continue com suas atenções. Não convencerei a mim mesma, de que foi outra coisa mais do que realmente aconteceu.
Seu sorriso não mudou, mas em seus olhos brilhavam luzes penetrantes.
— E que foi que “aconteceu” realmente Pen?
A pergunta a desconcertou, mas ele estava certo, era necessário esclarecer. Ela pensou no que experimentou com essa paixão antes e depois. Deixou algumas dessas reações de lado, porque não eram nada adequadas.
— Acho que foi uma noite muito especial compartilhada entre dois amigos Julián. Um momento de abandono a uma intimidade segura e sem reservas, para que eu pudesse ignorar o passado por um tempo mais. Suspeito que tais coisas sejam estranhas acontecer entre um homem e uma mulher, possivelmente aconteceu graças a nossa longa e antiga história.
Ele estendeu sua mão, levantou-a pela cintura e a colocou em seu colo.
— Extremamente estranho. Mas não tão momentânea, para que hoje eu não queira abraçá-la e desfrutar do que compartilhamos, por um pouco mais de tempo.
Ele a segurou por quase todo o caminho até seu destino. Ela se sentia grata por estar em seus seguros e solidários braços.
Essa sensação de tranquilidade acalmou a agitação que tinha pelo encontro que a esperava. Quando a carruagem deixou a estrada e foi para um caminho através de algumas castanhos, ele a deslizou de seu colo. Pararam em frente a uma modesta casa cercada por extensas plantações.
— Que bela deve ser aqui na temporada — disse Pen.
Julián pegou sua mão e a ajudou a descer da carruagem.
— A Sra. Kenworthy cuida pessoalmente. Os livros e isso, são suas grandes paixões.
— É uma mulher sábia?
— Ela era uma amiga de meu tio que o vigário e conversava com ele sobre qualquer assunto de igual para igual.
— É por isso que acha que necessitaria de Cleo?
— Não, disse.
A razão pela qual estavam ali, não podia ser ignorada por mais tempo. Seu coração começou a acelerar em um ritmo incômodo.
— Eu sabia que ela era uma mulher de bom coração e achei que podia ajudar à menina.
A criada aceitou o cartão de Julián e depois retornou para levá-los ao jardim dos fundos. Encontraram à senhora Kenworthy flexionada cortando os caules mortos de um jardim herbáceo. Ela usava um chapéu de homem feito de palha, com laço simples e um vestido largo verde sem enfeites.
Quando se aproximaram da mulher, ela se endireitou com cuidado, como se seu corpo se rebelasse contra sua atividade.
— Isso realmente é uma surpresa maravilhosa. — Seus olhos claros foram para Julián com uma cálida inspeção, como se fosse uma velha enfermeira — Julián , raramente vem por esses lugares, talvez já faça oito anos desde a última vez, que veio com seu tio.
— Se você está dizendo que fui negligente com os velhos amigos, aceito a recriminação.
Apresentou Pen e a curiosidade da Sra. Kenworthy se viu obviamente picada.
— A condessa deseja falar com Cleo, — explicou Julián.
A Sra. Kenworthy piscou com força. — Você não recebeu minha carta?
— Em primeiro de janeiro? — Sim, eu respondi.
— Mas não a seguinte? Quatro meses atrás?
— Não recebi nada, madame.
A Sra. Kenworthy de repente, não parecia rígida ou velha para nada. Uma clara nitidez se via em seus olhos.
Vamos para dentro, precisamos conversar, se você não recebeu minha carta, algo muito suspeito está acontecendo.
— O que dizia a carta?
— Cleo está morta Julián. Ela se enforcou. — Sempre soubemos que estava em perigo certamente.
A Sra. Kenworthy passou para Pen uma xícara de café. Estavam sentados em um balde na biblioteca abarrotada de livros e panfletos.
— Ela nunca esteve bem depois que chegou. Possuía uma profunda depressão. Mesmo depois de viver comigo todos esses anos, ela agia como um cachorrinho que foi chutado e expulso.
Pen lembrava a forma que Cleo tentava parecer, pequena e invisível. Podia vê-la na casa do conde em Wiltshire deslizando-se fora de uma sala, com a cabeça e os ombros encurvados.
As notícias de que Cleo estava morta a deixaram dormente. — Quanto tempo faz que aconteceu?
— Ela simplesmente se afastou desta propriedade, procurou uma árvore, a grande e velha castanha que há na próxima curva da estrada, amarrou uma corda e saltou de um tronco. Eu escrevi para Julián a respeito deste triste acontecimento. Enviei a carta através de um agente como requereu. Agora me pergunto, se realmente seria seu agente afinal.
— Não era. Não tenho nenhum agente que pudesse tê-la contatado.
A Sra. Kenworthy suspirou profundamente. — OH, querido, acho que fui muito negligente. Receio que a pobre mulher tenha morrido por minha culpa.
— Você não foi mais que generosa com ela e não foi nenhuma negligência. Entretanto, por favor me fale a respeito, desse suposto meu agente.
— Ele veio na primavera passada. Disse que trabalhava para você, que você estava muito ocupado em seus deveres, assim que o contratou para tratar de certos assuntos em seu nome. Assuntos tais como este. Você havia enviado ele para falar com Cleo, para ver como estava passando. Disse que você continuaria enviando dinheiro para sua pensão, mas que seria mais fácil se qualquer pedido ou notícia enviasse a ele primeiro no futuro.
Pen não tinha se dado conta, que Julián mantinha Cleo. Havia dito que a Sra. Kenworthy a tinha contratado em sua equipe de serviço.
— Ele se encontrou com ela? — perguntou Julián.
A Sra. Kenworthy ficou inquieta. — Sim. Permiti eles conversarem a sós. Ela era uma mulher madura e era de índole pessoal. Obviamente eu podia vê-los da janela de meu jardim. Ela não mostrou nenhuma reação a qualquer coisa que ele disse.
— Seu julgamento não pode ser criticado — disse Julián.
— Receio que você está errado. Foi na semana seguinte, que ela se suicidou. Pergunto-me agora, se foi o que esse homem lhe disse, que a levou a fazer isso.
Um sentimento sinistro se espalhou através de Pen. Tinha muito medo que a Sra. Kenworthy estivesse certa. O homem que tinha vindo foi enviado por Glasbury, sem dúvida nenhuma. Cleo poderia muito bem, ter procurado refúgio na morte se tinha medo de cair nas mãos de Glasbury novamente.
Eu gostaria de ver o lugar onde a encontraram. — disse Pen.
Julian negou com a cabeça e levantou a mão em um gesto imperioso.
— Não, milady isso somente a angustiará mais.
— Exijo ver onde aconteceu senhor Hampton.
Ela parou debaixo da velha árvore, imaginando Cleo mais velha agora, mas ainda como uma jovem vestida com roupa infantil. Ela se identificava com o desespero, que a tinha levado tomar essa decisão. Suas horríveis suspeitas se cristalizaram em palavras.
— Glasbury sabia que ela poderia apoiar minhas acusações Julián. Escreveu a Nápoles me dizendo que o acerto estava concretizado, depois do que tinha acontecido. Ele sabia que ela era uma ameaça, antes que eu percebesse isso e compreendeu, como sua morte desamarraria suas mãos.
Julián parecia perdido em seus pensamentos. Não examinava a árvore da mesma forma que ela fazia. Ele não olhava nada absolutamente.
— Meu Deus Julián, nós pensamos que o tínhamos derrotado e ele esteve observando ela a todo o tempo. Possivelmente, desde que ela foi embora. Talvez, desde que eu fui.
O senhor Hampton, o advogado estava parado aqui, mas ela sabia que não estava desativado a respeito disso. Suas reservas escondiam contemplações, que ela não podia ver, mas sabia muito bem, que não era porque ele não estivesse afetado por esta tragédia. De sua parte, ela não podia ser tão silenciosa, seu coração chorava com raiva e frustração.
— Esse homem certamente lhe disse que voltaria e ela era muito ignorante para entender que Glasbury não tinha nenhum poder sobre ela. Isso a levou a tomar essa atitude. E o conde contava com isso. Ela nasceu escrava e ainda pensava como tal. Depois de provar a liberdade e a segurança, certamente desejava morrer antes de aceitar as algemas de novo. Eu teria feito isso também.
— Não acho que foi isso que aconteceu. — Seu tom de voz a fez virar para ele. Ele estava muito aborrecido. Perigosamente furioso. — Esse homem não lhe disse que veio a pedido de Glasbury Pen. Disse que veio de minha parte. A inconsistência pode ter vindo quando Cleo falou com a Sra. Kenworthy, algo que havia lhe dito e fez em meu nome.
Ela temia que ele estivesse correto. Se Julián tinha enviado uma mensagem a Cleo lhe dizendo que retornaria, ela não teve mais nenhuma esperança. A não ser olhar para o velho castanho em volta do caminho. Não qualquer árvore. Uma muito grande e antiga, conhecida por toda as pessoas da região. Por que escolheu esta árvore? Um calafrio percorreu Pen pela espinha dorsal. Cleo não foi ali para suicidar-se, a não ser encontrar-se com o agente do Senhor Hampton, quem a levaria dali para outro lugar seguro. Por isso, a Sra. Kenworthy não tinha visto nenhum gesto de tristeza naquela conversa.
Pen estava errada em suas suposições, Glasbury não tinha visto Cleo todos esses anos, entretanto ele esteve procurando ela e na primavera passada, a encontrou finalmente. Pen pensou a respeito, do que ela conhecia do caráter verdadeiro de Glasbury. Viu sua casa com os servos escravos e viu sua expressão, enquanto a feria na casa de praia. Ele poderia ter feito isso? Contratar alguém para matá-la? Sua cabeça desejava desprezar essa ideia, mas seu coração conhecia a verdade.
— Julián, quando negociou minha liberdade com Glasbury o que ele lhe disse?
— Falei-lhe de seu abuso com os servos, especialmente da garota. Disse a ele que se não a libertasse, você se divorciaria dele e isso tiraria a luz tudo o que acontecia ali e os crimes que ele havia cometido.
— Especificou que esses crimes foram além do uso de Cleo?
— Não foi necessário. Ele entendeu. Sabia que um homem não podia ter escravos na Grã-Bretanha, nem legalmente ou na prática. Ele sabia que seria desprezado publicamente, se soubessem sobre a pequena plantação que tinha em Wiltshire.
Teria sido suficiente? Que soubessem que praticou outros crimes, alguns maiores que provocariam uma queda maior de escândalo e desprezo, se caísse ao conhecimento? E se Cleo havia visto muito mais que ela a condessa de Glasbury ? Ela afastou-se para que Julián não visse o horror que seus pensamentos lhe estavam provocando.
Glasbury havia matado Cleo. Ela estava certa disso. Ele pode ter estado procurando por anos, desde que tudo começou para poder eliminá-la. Cleo havia mudado para lá em nome de Julián e foi assassinada.
Pen de repente, se sentia terrivelmente vulnerável, inclusive com a presença de Julián , não podia se sentir protegida. Mas ela não experimentou o pânico. Nem o terror. Com certa calma, percebeu o que realmente agora enfrentaria.
Glasbury poderia ter êxito e forçá-la a voltar ou também poderia matá-la, assim não haveria continuação de seu acordo. Ela não ganharia nenhum divórcio com sua história, mesmo se o provocasse a divorciar-se dela. Ela se virou para olhar a Julián, mas com medo visceral. Se Glasbury descobrisse o que aconteceu na noite anterior, o que poderia fazer? Uma queda do penhasco, enquanto Julián visitava sua casa de campo? Um acidente a cavalo, enquanto galopava para Hampstead?
Ela esteve preocupada com a reputação de Julián e seu sustento.
Teria que ter se preocupado com sua vida.
CONTINUA
CAPÍTULO 08
Se o beijo era uma indicação de sua habilidade, Julián Hampton poderia muito bem ser absolvido.
Esse foi o primeiro pensamento lúcido que aconteceu na cabeça de Pen, quando recuperou certo controle sobre sua agitada condição.
Sentou-se no sofá, tentando encontrar alguma explicação a essa repentina mudança em sua amizade.
Não tinha ideia do que deveria fazer agora.
Levantou-se e olhou pela janela. Não estava no terraço.
Poderia pensar que se sentia insultada por aquele beijo, ou que agora ela suspeitava de suas intenções. Aquele beijo poderia mudar tudo a respeito, de como ela via as motivações para sua ajuda e proteção.
Ela não desejava perguntar se esse foi o caso dela.
Seu casaco estava à vista, assim pegou a manta e a envolveu ao redor de seus ombros. Ela foi ao terraço para ver onde ele estava.
Julián não estava longe do último degrau da escada de pedra, em uma saliente faixa de areia da praia, lançada pela maré. Era uma bela imagem em pé, cercado pelo mar, seu cabelo escuro em contraste com seu casaco de cor clara. Seu corpo tinha uma postura casual, como se meditasse sobre os elementos e como se as forças da natureza fluíssem através dele.
Ele não parecia ser alguém que nesse momento, desejasse a intromissão em sua solidão.
De qualquer forma, ela foi para as escadas e parou perto dele.
Ele não olhou para ela. – Devia ter ficado na casa de Pen.
— Eu não vou ofendê-lo. Estou bastante recuperada de meu teste.
— Isso não é o que eu tentava dizer. Olhou-a brevemente e depois voltou sua atenção para o mar.
— Não tenho a intenção de me desculpar, se for isso que você espera.
— Não há necessidade de fazer isso. Foi um impulso. Todos agimos muitas vezes sem pensar.
— Sim, pode ter sido um impulso. Também, pode ter sido a coisa mais intencional que eu tenho feito em toda minha vida. Eu ainda não decidi qual foi.
Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas se sentiu obrigada a dizer algo.
— Estou surpresa e isso é tudo. Lisonjeia-me também, sem dúvida, mas sobre tudo me surpreende. Não fazia ideia de que, alguma vez pensasse em mim dessa maneira.
— Por que não poderia? Você é uma mulher atraente e os homens, habitualmente pensam nas mulheres dessa maneira em todo caso.
Isso sem dúvida dava ao episódio uma cor diferente. Também explicava o motivo real para aquele beijo. Algo comum que não tinha nada a ver com os impulsos, ou mesmo com o fato de que pensasse nela dessa maneira.
O orgulho dele estava ferido. Sua masculinidade tinha sido insultada, porque a condessa de Glasbury não o incluiu na tola lista de possíveis amantes, não lhe importava qual amante ela finalmente escolhesse.
Bom, o que ela esperava? Podia ser um velho amigo, mas no final continuava sendo um homem.
— Julián , eu quis dizer quando se referia que não estava em minha lista, é que é um homem honrável e o risco que seria para você esse escândalo. Quase escrevi seu nome, na verdade. Minha pluma estava disposta a fazer, mas considerando tudo o que perderia, foi o que me fez parar. Claro, que a ideia veio em minha cabeça, mas dadas as circunstâncias achei melhor não considerá-lo.
Ele parou na frente dela, entre ela e o mar, escutando com diversão. Estendeu a mão e brandamente colocou dois dedos em seus lábios, parando sua intenção de acalmar seu orgulho.
— É muito amável de sua parte tentar explicar Pen. Também é um erro. Teria sido melhor, que não falasse isso.
Ela pegou sua mão entre as suas.
— Eu achei que devia lhe dizer isso Julián. Eu não quero insultar ou machucá-lo por causa de uma estúpida lista.
O olhar dele se fixou em suas mãos unidas. Seus olhos tinham pequenos relâmpagos que os iluminavam.
— Tocar-me agora foi outro erro Pen. Um muito grande.
Ela sentiu como se estivesse dentro de uma névoa imprecisa, quando ele a puxou em seus braços e a capturou em um abraço que a cobria.
Beijou-a de novo, mas foi diferente dessa vez. Definitivamente impulsivo. Perigosamente furioso. Ela poderia ter controlado suas reações no último beijo, se tivesse realmente desejado. Esse beijo lhe dava uma pequena escolha para a submissão.
A manta a envolvia, mas a força dele também cercava. Seu abraço apertado a mantinha tão próxima, que ela podia sentir tudo dele. O peito de Julián pressionava seus seios e ele compreendia que, ela estava desfrutando dos beijos em sua boca e em seu pescoço.
Ele parou e a olhou, não havia equívoco na forma em que a olhava. Não havia dúvida, da fúria sensual de seus olhos. Tampouco podia ignorar a forma em que seus lábios se incharam e pulsavam por seus beijos, como seu pulso batia frenético em seu peito e sob seu pescoço para seus seios. Essa pulsação emocionante, transformou sua inicial surpresa em um sedutor alarme de êxtase.
Seu corpo inteiro reagiu, diante seu olhar audacioso. Os batimentos do coração, se transformaram indubitavelmente em sexuais e seu ritmo batia seu sangue, sua cabeça e fisicamente em seus seios além do estômago.
Ele sabia. Novas luzes dançavam em seus olhos com esse conhecimento. Não importava o atordoamento que seu rosto pudesse mostrar, poderia dizer que seu corpo atuaria imprudentemente se ele a beijasse novamente.
E ele fez, sem piedade. Despertou como se soubesse exatamente o que fazer. Cada beijo estava calculado, para deixá-la impotente à escalada do prazer que prometia.
Um incrível prazer. Como um vento quente de prazer. Suaves correntes de fome fluíam sem compaixão inundando-a em uma piscina de desejo. Seus seios cresceram fortes, cheios e sensíveis. A umidade começou a grudar em suas apertadas coxas. Ela logo notou, que seus passos retrocediam para a seca areia na base do muro do terraço. Ele olhou para baixo, como se a areia fosse a única opção que ela teria para escapar.
Ele desdobrou a manta na areia e tirou o casaco. Ela abraçou seu calor durante o seguinte beijo. Sentia-se muito bem enquanto ele a segurava, a felicidade que invadiu seu espírito a deixava sem defesas. Os beijos a acalmaram. Eram doces, lentos e muito ternos. Seu corpo estava desfrutando tanto desse lento prazer, que se arqueava pedindo mais. Ele se apoiou em um braço e a olhou, a imagem que ela viu dele permaneceria em sua memória até seu último dia. O vento despenteava seu cabelo escuro e as mangas de sua camisa. Seu olhar seguia as carícias de sua mão em seu rosto e pescoço.
— Deseja voltar à casa ?— perguntou ele.
Ela não pôde resistir de tocá-lo também. Acariciou o rosto que a olhava e os lábios que a tinham beijado. Adorava a sensação de sua pele sob seus dedos. Suas intensas reações a confundiam, aterravam-na e outra parte dela tremia com antecipação, reconhecendo exatamente o que desejava, mas a consciência gritava dizendo que devia se retirar, antes de arriscar e complicar as coisas arruinando sua amizade.
— Eu não sei exatamente o que é que desejo. — finalmente respondeu.
—Eu sim. — Suas carícias desceram por seu pescoço. Ela sentia brilhos de calor em sua pele.
— Melhor, você deveria ficar Pen e desfrutaremos do mar e de outras coisas também...
O beijo seguinte lhe disse o que poderia acontecer e o que não, mais que uma promessa era um pedido e ela sabia que no fundo de seu ser, sempre seriam amigos. Ela não sabia o que desejava e ele não tentaria tomar vantagem disso.
Não estava confusa, a não ser absorta nas sensações e nas mudanças. Quando perguntou se desejava mais, ela não pôde negar.
As intimas carícias em sua boca, enviavam incríveis tremores por todo seu ser, incentivando seu corpo, fazendo-a sentir impaciente por mais proximidade.
Suas carícias foram descendo ao lado e sentiu sua mão claramente. Sua mão se moveu de novo, sobre a plenitude de seus seios com a mesma confiança, como se ele tivesse desempenhado assim, milhares de vezes antes.
Só que nunca aconteceu e o inesperado poder do prazer que enviou ao seu corpo, a fez estremecer. Desejava desesperadamente que continuasse tocando-a. Seu corpo se moveu instintivamente para animá-lo. Inclusive, sua respiração soava a um ritmo que suplicava por mais.
O que sua mão fazia agora a estava matando, seus dedos encontraram seu mamilo através do tecido e o acariciou enviando correntes de excitação para baixo de seu ser. Ela fechou os olhos tentando controlar a loucura, que ameaçava destruir sua compostura. Devolveu o beijo, pedindo para aliviar o aterrador desejo, que se construía dentro dela.
A mão dele se moveu para seu ombro, gentilmente a fez virar de lado. Sua decepção só durou um momento, antes de sentir como ele desabotoava seu vestido.
Ele acomodou novamente a manta em suas costas, então lentamente foi baixando seu vestido e sua camisa. Deslizou o tecido para baixo revelando seu corpo. Ela deu uma olhada, no que ele estava vendo. Seus seios subiam nus em cima das roupas reviradas. Seu corpo estava completamente nu até a cintura. Ele se apoiou em um cotovelo deixando-a totalmente vulnerável a seu olhar. A sensação de estar nua e exposta era incrivelmente erótica.
Sua mão descansava no estômago dela e seu olhar escuro para sua pele branca.
— Você é muito bonita Pen. Perfeita e suave.
Baixou as pálpebras e viu a mão dele sobre ela. Seus seios cresciam sensíveis devido a sua proximidade. Inclusive, o vento parecia despertá-los.
— Muito suaves, — murmurou ela. — Esse vestido precisa permanecer em cima, pois você esqueceu de me levar o espartilho.
Ele acariciou onde deveria estar o vestido.
Não esqueci nada. Aqui não há mais ninguém além de mim. Não precisa de uma armadura antinatural. — Fica bonita neste vestido e mais bonita com ele fora de seu corpo...
Tranquilamente, quase vagarosamente, ele traçou um caminho com seus dedos entre seus seios e ao redor de seus mamilos. Eles se endureceram em resposta e uma coceira de antecipação ao que viria, começou a deixá-la louca outra vez.
Acariciava-a como se tivesse todo o tempo do mundo. Ela apertou os dentes e tentou conter o que estava acontecendo dentro dela.
Seus dedos roçaram gentilmente um mamilo. Ela teve que engolir um soluço. Ele o rodeou suavemente e efetivamente até que ela pensou que começaria a gritar.
— Faz quanto tempo Pen? — Ele olhava sua mão, enquanto desenhava padrões nela e via como seu corpo reagia.
— Quanto tempo faz que não a tocam? — Seu polegar esfregou a ponta de seu mamilo. A sensação derrotou seu controle e ela se mexeu arqueando suas costas.
— Não faz muito tempo. — surpreendeu-se de poder falar, pois mal conseguia respirar. — Mas… — Seus dedos continuavam com a suave tortura. — Mas o que?
— Eu precisava ser cuidadosa, certo? Ficar em guarda. Não podia confiar, ou correr riscos de perder o controle.
Ele estava absorto em seus pensamentos, enquanto continuava lentamente despertando seu corpo. Sua cabeça se inclinou sobre seu outro seio.
— Há quanto tempo não faz amor?
Ela podia tocar nele agora e deslizar seus dedos dentro de seu cabelo, enquanto ele dava beijos suaves em seu seio.
— Quer dizer completamente?
— Sim. Completamente.
— Nunca. Desde que deixei o conde.
— Nem mesmo com Witherby?
Esse nome liberou uma corrente de tristeza, dentro de sua felicidade. Uma antiga humilhação e uma decepção se deslizou através de seu coração. Estava surpresa de Julián mencionar Witherby agora, entre todos os momentos.
Ninguém lhe havia mencionado ter conhecimento desse antigo amor. Nem Julián ou seus irmãos, ninguém deveria saber.
— Não podia me arriscar a ter um filho. Glasbury poderia reclamá-lo como dele e tirá-lo de meu lado e meu filho estaria condenado ao poder desse homem.
Ele parecia surpreso por sua resposta. Tinha concluído, que havia sido uma relação completa. Ela esperou que todos tivessem acreditado nisso.
— Não, eu suponho que não se arriscaria a isso, — disse ele — Fazendo amor de forma incompleta, não abandonar a si mesma, porque não confia nos homens. — Sua mão retomou o caminho sinuoso.
— Confia em mim Pen?
Confiava? Seu corpo parecia que sim. Do contrário, estava traindo ela da pior maneira.
— Parece que sim.
— Fico feliz. — Ele beijou de novo seu seio. Dessa vez sobre a ponta do mamilo. Sua língua a sacudiu fazendo-a gritar.
— Agora, não quero mais conversa, não desejo ouvir outro som que não seja o mar, o vento e seus gritos de prazer.
Estava muito seguro de que ela gritaria. Usava sua boca e sua mão para derrubar qualquer controle que ela ainda tivesse.
Seus seios ficaram cada vez mais sensíveis e ele provava cada um com sua língua e dentes. O abandono fazia gestos em sua consciência, alimentada pelos prazeres que sugeriam que desse o controle total para ele, para obter algo que não podia ter e que furiosamente desejava. Ela não podia lutar contra isso, não queria lutar. Seu coração sabia que não precisa, não dessa vez. Seu corpo inteiro e sua cabeça renunciavam neste momento o controle. Entrou em um lugar, onde somente as sensações mais puras existiam, em um estado de prazer e desejo, de maravilhosas respostas físicas. Não ouvia o mar ou o vento. Somente a pulsação de sua necessidade e seus próprios gemidos entravam em sua cabeça. Escutou sua voz lhe perguntando mais uma vez, — Confia em mim Pen?
Uma nova carícia explicou sua pergunta. Descendo em seu quadril e coxas, pressionando sua anágua. Seu corpo respondeu por ela, levantando-se para receber seu toque, se omitindo dos riscos, esquecendo do perigo.
Ele pressionou seu centro quente entre suas pernas e ela quase desmaiou de alívio. Nada mais importava agora, exceto que estava sendo tocada ali.
Cada sensação, cada emoção estava nesse lugar e gemeu mais de prazer. Sentiu uma nova nudez, vulnerável, maravilhosa e uma mão quente e suave sobre suas pernas. Ela abriu seus olhos para ver a queda de sua saia amassada e sua anágua em sua cintura.
Levantou-se de seu abraço e olhou onde ela poderia ver. Acariciava suas coxas mais lentamente como fez com seus seios. Ele se virou para ela e ela o aproximou para beijá-lo loucamente, lhe dando livre acesso a todo seu desejo sexual.
Ele continuou sua carícia para cima até que seus dedos tocaram o único lugar, onde se focava toda sua essência. Um traço, um toque suave e lento, fez seus soluços ficarem presos em sua garganta. A intensidade do prazer que sentiu, a impactaram. Ele beijava suas faces suavemente.
— Não perca a coragem agora. Se você se arriscar a se abandonar, poderá conhecer o que isso realmente significa.
Tocou-a novamente, mais profundo. Ela se segurou nele com mais força, apertando suas costas para conter essas pequenas sensações que agora a abandonavam.
— Abre as pernas Pen.
Seu corpo obedeceu. Desejava fazer isso. Inclusive, a impressão estava muito delicioso para recusar. Ele derramou beijos lentos em seu rosto, nos seios, enquanto sua mão criava calafrios que subiam através de seu sangue e depois desciam outra, vez para o mesmo lugar. A carne que ele acariciava pulsava tão fortemente, que parecia o ritmo de sua própria vida. Agora, ela ouvia as ondas em sua cabeça, misturadas com as lágrimas que já não conseguia conter. Chorava de prazer e frustração. Seu corpo gritava por algo. A intensidade era cada vez maior e sua loucura mais envolvente.
Seu espírito entrou em um lugar sem sentido e perigoso. Mesmo assim, o prazer crescia pressionando cada vez mais alto, até que ela cambaleou na beira da sensação mais poderosa e mais dolorosa. Ele a beijou forte, como se seu toque forçasse a última etapa. Seu grito saiu como a sensação de ele tê-la penetrado, explodindo.
Depois desse raio impressionante, seguiu uma linda chuva de prazer e a paz fluía através dela, pulverizando sua magia.
Ela estava tão adorável, que seu coração não podia suportar. O assombro dela correspondia ao seu próprio. A praia parecia um lugar místico, separado do mundo real, um ponto pendurando entre os sonhos e a realidade, entre o céu e a terra.
Seus suspiros e os suaves movimentos de sua pulsação pareciam as ondas do mar ao vento. Ele percorreu com seus dedos a superfície de seu rosto, desfrutando da sensação de sua pele suave. Ele a olhou como sempre desejou, devagar e cuidadosamente, seus olhos memorizaram cada detalhe para não esquecer de nada. Tocou-a como tantas vezes imaginou fazer. Em seu rosto, ao redor da sua testa, sua mandíbula e queixo. As pequenas rugas ao redor de seus olhos. Beijou-as também, elas eram o símbolo de suas risadas, de sua doce disposição e de sua habilidade para ver o bem e ter esperança, sem se importar com seus próprios problemas. Também, representavam as vezes que a tinha desejado. As festas, os jantares, a solidão de seu quarto. Desejando-a como uma parte de sua própria existência, era algo que ele não se lamentaria ou se arrependeria. Agora, que finalmente ele tinha provado o que tanto desejou. Sabia que não deveria ter feito, mas não se importava com nada agora. Ela não disse nada, enquanto estava deitada entre seus braços, era um abraço tão sereno que poderia ter ficado assim para sempre.
O pôr do sol e o vento frio, entretanto, lembrava-lhe que não deviam continuar ali.
Ela deixou-o colocar suas roupas e a cobrisse com a manta. Não fez objeção, quando apoiou suas costas contra a parede e a atraiu novamente em um abraço ao seu lado. Juntos olharam as sombras da tarde sobre as rochas e o oceano. Os olhos dele veriam essas imagens diferentes a partir de hoje em sua cabeça, pela paixão de Pen.
Nunca escutaria o mar novamente sem escutar seus suspiros e seus soluços de paixão.
E a admissão de que não teve amantes, pelo menos não totalmente. Por ser o homem que a desejava, ficou encantado de ter escutado, mas o amigo que conhecia suas desilusões não ficou. Com o passar dos anos, esteve com muitos ciúmes das pequenas evidências dos amantes, mas ele não desejava sua solidão e muito menos sua infelicidade.
— No que está pensando ? Não lhe incomodava seu silêncio, mas se perguntou por que estava tão calada.
Ela se aconchegou para mais perto e apoiou sua cabeça em seu ombro. — Estava pensando em eu que, realmente devo lembrar-me de colocá-lo em minha lista agora...
Ela tinha levado tudo muito bem.
— Perdemos completamente a cabeça, não é Julián? Penso que foi muito bom e acredito que a intimidade com um bom amigo é melhor que com um grande amor. Por um lado há mais confiança.
Não ficou surpreso, de ela ter decidido que isso foi um impulso entre dois velhos amigos. Possivelmente, assim era melhor.
— Também estive pensando, se fazendo uso dessa lista seria o melhor, ou deveria se encontrar seguir outro caminho. O que acontecerá comigo se ele não reagir como nós esperamos que faça? Se depois, de um romance público e embaraçoso ele não se divorciar de mim?
— Ele não será capaz de ignorá-lo. Não é um homem que gosta de aceitar tais coisas.
— Não, mas poderia decidir tratar o assunto de outra forma — Sua tranquila voz dizia como profundamente esteve pensando em tudo isso.
Sim, ele é capaz de fazer isso. A indignação de Glasbury o levaria a tomar um passo definitivo, para cortar essa relação.
Ela se liberou de seu abraço e ficou de pé. Sacudiu a manta — Tenho que decidir algo logo, não posso fugir mais...
Não, ela não podia e não só pelo o que havia acontecido nessa areia.
Seu humor havia mudado. Ela saiu sutilmente, mais que fisicamente.
Ele ficou onde estava. – Eu vou dormir em cima do estábulo.
Com à luz da noite, ela o viu um pouco triste.
— Continuas sendo meu amigo, não é Julián? Vamos continuar como antes, não é verdade? Não vamos permitir que o que aconteceu aqui mudo isso, certo?
— Claro que não.
Sua postura pareceu relaxar. – Então, não precisa dormir no estábulo.
— Então, vou a usar o quarto debaixo.
Ela riu um pouco.— Sim, será melhor.
Ele a viu subir pelas escadas de pedra. Dormir em baixo não era somente o melhor. Era essencial. Ele nunca descansaria se utilizasse o quarto ao lado do seu nessa noite. Inclusive, duvidava de que fosse capaz de permanecer em sua própria cama. Esta não era a noite, para pôr mais ainda a prova de sua confiabilidade.
Voltou a olhar o mar ficando negro pela noite.
Ele tinha mentido para ela, quando disse que não havia mudado sua amizade.
Na verdade, mudou absolutamente.
CAPÍTULO 09
Pen se ajeitou em sua cama. Tentou dar um nome, ao que aconteceu com Julián.
Ela sabia que havia mulheres que, tinham romances com propósito de também obter prazer físico.
Seus breves encontros íntimos, foram apenas pequenos jogos e nada mais. Seus romances incompletos, foram somente isso e nada mais, com exceção de Witherby. Ela teve experiência suficiente, brincado com carícias roubadas e pequenos flertes. Mas isso, foi mais diferente que um entusiasmo superficial. Sua relação de amizade com Julián tinha ido além disso. Agradável, mais íntima, ela acreditou nele, mas isso tinha mudado tudo. Essa amizade estava confundindo suas reações de outras maneiras. Se ela não o conhecesse há muito tempo, se sua história não fosse tão próxima há anos, a sensação de ter sido beijada por ele, não seria tão assombrosa.
Afinal de contas, ele era um homem e ela uma mulher. Como ele dizia, porque teria que pensar nela de outra forma?
Por que não deveria reagir a seus beijos? Se ela não fosse tão estúpida, ela deveria ter percebido que, sua contínua proximidade nesses últimos dias poderia levar a esse comportamento. Todo mundo sabia que os homens, se inclinavam para seus impulsos sexuais com a menor provocação.
Virou-se de costas e escutou o silêncio. Julián deveria estar dormindo profundamente, em seu quarto no primeiro andar, diretamente abaixo do dela. Tentou escutar se roncava ou se mexia.
As lembranças dos seus abraços permaneciam em sua cabeça. Eram tão reais, que sentia suas carícias novamente. A fantasia despertou. Seu corpo voltou a desejar suas carícias.
Não duvidava que a abstinência teve um papel muito importante também nessa noite. Possivelmente, quando uma mulher passava muitos anos sendo adulada e tendo relações incompletas, ficaria disposta a abandonar-se e baixar a guarda.
A beleza e a paz que ela tinha encontrado nessa paixão, tinha sido mais sedutora que do que prazerosa. Ela foi tão inocente. Como se Glasbury não existisse. Jamais havia se sentido tão completa, esquecendo todos esses anos passados.
Julián estava certo quando a repreendeu por não tê-lo incluído nessa lista. Se ela tivesse um romance com ele, não precisaria lhe explicar nada. Sabia por que ela estava fazendo. Ele podia entender o risco que teria com essa relação.
Poderia ter um romance carinhoso com um bom amigo e não uma relação superficial de simples conveniência. Não seria humilhante e barato. Quando chegasse ao fim, eles poderiam continuar sendo amigos.
Ela imaginou essa relação amorosa explicitamente. Imaginou caminhando através de sua porta com seu peito nu como esteve no barco. Ela o sentia deitado ao seu lado na cama e tocando seus seios. Via-o em cima dela e seu corpo imaginava ele entrando nela. A fantasia era tão intensa que sentiu uma excitação que a transpassava. Ela pegou seu casaco. Desceria e o encontraria acordado, esperando-a. Só sabia que ele estava pensando nela, tal como ela pensava nele. Até a casa de campo estava gemendo com o desejo de completar que tinham começado na areia.
Poderiam ter esse romance e o conde se divorciaria dela. Seria livre.
Ela abriu sua porta. Novas imagens entraram em sua cabeça. Matando-a de antecipação. Congelou sua mão no trinco da porta. Imaginou Julián sendo interrogado, na Casa dos Lordes quando o pedido de divórcio fosse proposto. As acusações do pedido de Glasbury poderiam ser desumanas e cruéis, tratando seu amante como um delinquente.
Os motivos de Julián poderiam ser impugnados. Sua falta de honra ficaria explícita. Os periódicos imprimiriam também cada palavra e todos poderiam ler. Todo mundo. O escândalo se tornaria público e o desprezo implacável. Muitos de seus clientes também o abandonariam. Outros advogados poderiam evitar de fazer negócios com ele. Inclusive, o uso de seus serviços, por parte de seus irmãos se veriam comprometidos. Se ele fosse chamado por um conde, por um comportamento criminoso com uma condessa, seria sua ruína.
Era pedir demais, não importava a extensão do prazer que ele receberia com sua negociação. Ele já tinha sido muito nobre e amável. Assim, como foram seus beijos. Ele estava oferecendo um resgate a uma donzela em apuros, embora o malvado dragão pudesse queimá-lo horrivelmente, enquanto a salvava.
Esse era um problema seu e não dele. Seu erro juvenil e de sua vida desperdiçada. Era indesculpável que ela o arrastasse em sua queda.
Retornou para a cama com uma tristeza em seu coração, que não entendia ou esperava.
Tentou concentrar-se em suas outras opções menos egoístas.
— Não sabia que cozinhava também.
Julián se virou ao escutar o som da voz de Pen. Não ouviu ela descer. Seus olhos olhavam os peixes assando na frigideira, enquanto ele estava imaginando como Glasbury reagiria seu pedido de divórcio.
No caso de que, realmente chegasse ter um divórcio. Ele não pensava que poderia ter. Se Pen tivesse um romance com Julián Hampton, de todos os homens, Glasbury desejaria fazer muito mais coisas, que simplesmente destruir o amante de sua esposa.
Ela olhou por cima de seu ombro, sua presença próxima, fez com que seu sangue queimasse novamente.
— Pescou-os nessa manhã? Deve ter se levantado muito cedo.
Muito cedo realmente, já que ele não tinha dormido quase nada. Ela tampouco o tinha feito. Ele escutou seus passos no quarto de cima, durante toda a noite. Ouviu como passeava pelo seu quarto. Silenciosamente o impulsionava a fazer isso. Seus dentes apertavam com a intensidade de seu desejo. Sua cabeça estava exausta, pela batalha que levava contra o impulso de subir as escadas.
Cada um de seus passos acima dele, tinha enviado fragmentos nervosos através de seu crânio e de seu sangue. Sua longa pausa o havia enlouquecido. Amaldiçoou energicamente, quando ela se deitou.
Ele deslizou os peixes em dois pratos e os levou a sala de jantar. Pen chegou trazendo o chá e o pão.
Ela estava muito bonita na luz suave que entrava pela janela do norte. Seu vestido nessa manhã era mais da moda que o de ontem, verde com rendas marfim no pescoço e um trançado preto no corpo da saia, que se ajustava em sua cintura estreita e depois se abria em uma saia cheia no quadril feminino, que conhecia graças às carícias de ontem. Mangas com punhos bem fechados por uma longa fila de botões.
Ela conseguiu entrar em seu espartilho e nas anáguas hoje. Havia sentido a necessidade de usá-los como armadura.
Quando os passos acima pararam na porta, ele imaginou o que ela o faria.
— Decidi o que fazer Julián.
— Decidiu o que fazer ou o que não fazer?
— Eu não sei o que significa essa pergunta.
Sim, sim, maldita seja.
— Por favor, diga seu plano.
Ela colocou toda sua atenção em servir o chá para os dois.
— Não é realmente um plano. Só decidi qual vai ser meu próximo passo.
Não farei amor com Julián Hampton; isso era o que ele realmente já sabia.
Ele comeu o café da manhã, lhe permitindo decidir como daria uma explicação sobre o que tinha a ver com ele. Esperou o turno dos eventos com silêncio, porque a reação dentro dele estava a ponto de explodir com palavras não muito gentis.
— Eu não gostaria que Glasbury controlasse essa situação, disse ela. — Se ele ficar mal humorado, eu serei obrigada a escolher entre a miséria ou o escândalo. Não é justo. Não comigo e tampouco com quem eu escolha criar esse escândalo.
— O mundo não é justo. A lei do casamento certamente também não é. O ressentimento não soluciona seu dilema.
— Não, mas na noite passada estava tão furiosa, que pude ver outra opção. Ele pensa que tem tudo a seu favor, para estar seguro. Eu não acredito. O acha que seria minha palavra contra a dele. Não é necessário. — Ela o olhou de frente — Cleo poderia apoiar minhas acusações.
Ele recostou em sua cadeira surpreso. — Não deseja me usar, mas deseja usar uma menina?
— Ela já não é uma menina.
— Ela estava meio louca quando a tiramos de lá.
— Isso faz anos que aconteceu. O tempo cura bastante. Possivelmente já esteja curada.
— Estou atônito com o que você considera a fazer.
— Ela pode desejar fazer isso. Pode ser que queira denunciá-lo. Você considerou isso? Eu acho que ela deve lembrar daqueles anos com uma visão diferente agora. Se eu fosse ela, o odiaria e não teria medo dele. Desejaria um pouco de justiça.
—Está pedindo por justiça Pen? Você vai se divorciar e o contará tudo? Ou só usará este testemunho para que você e Glasbury continuem com o acordo, como foi todos estes anos?
Sua expressão disse tudo. Ela tinha pensado que com esta ameaça, Glasbury se retiraria e a deixaria em paz.
Havia concluído que, mantendo a chantagem era a melhor solução.
A irritação estava em seus olhos. — Pensa que gosto de viver nesse limbo no qual eu vivo? Que dou boas-vindas?
— Estou certo que não. Entretanto, também acho que se Glasbury não tivesse feito esse movimento, você o aceitaria para sempre.
— Por que sou uma covarde?
— Não, porque isso significaria que ninguém mais seria ferido, exceto você. Mas acredito que ele fará qualquer coisa para assegurar-se que você volte para ele, ou que fique livre para ter outra esposa. Assim sendo, você deve pensar muito, antes de dar o próximo passo e ter certeza para continuar nesse curso.
Ela se levantou.
— Meu próximo passo não requer que mantenha o curso, porque eu não o escolhi ainda. Só desejo saber se esse caminho está aberto. Se Cleo tiver um preço, se poderia e deseja fazer.
Saiu da sala para garantir que não discutisse nada mais com ela.
Ele a deixou ir, porque uma tempestade estava se formando em sua cabeça.
Julián caminhou para o jardim, seu sangue fervia de raiva.
Ela ia fazer novamente. Voltaria para as meias medidas. Depois de tudo que fez antes, ela achava que poderia funcionar novamente.
Ele foi ao estábulo e começou a trabalhar para se livrar do explosivo ressentimento que queimava nele. Raramente se zangava. Podia contar a vezes com uma mão. A maioria dessas vezes estavam relacionadas com Penélope.
Uma delas tinha sido o dia que soube que ela iria se casar. E o dia que confrontou
Witherby.
Mas a pior vez, entretanto, foi quando ela o visitou em seu escritório e lhe havia confiado a verdade de seu casamento.
Ele era muito jovem na época, só tinha vinte e um anos e estava no processo de assumir o cargo de um advogado mais velho, que tinha dirigido os negócios da família Duclairc por décadas. Entretanto, fazia três anos que estava em seu estágio e faltavam mais dois e já cuidava da maioria dos assuntos legais do trabalho nesse escritório e todos ali sabiam. Seu futuro parecia feliz e próspero.
Então, em uma tarde de inverno, a doce e boa Penélope entrou em seu escritório, sentou-se e se dirigiu a ele como senhor Hampton e contou sua história.
Penélope estava envergonhada e assustada pelo que contava. Ele ficou atônito e o único que fez foi escutar. Brigou duro consigo mesmo, para permanecer impassível, mas com cada palavra dela, ele desejava mais e mais encontrar Glasbury e lhe dar uma surra sangrenta.
Eventualmente sua compostura se quebrava. Assim como seu coração, o lembrava ter tocado seu braço com impotente tranquilidade, batalhando contra o impulso de tomá-la em seus braços e lhe jurar que lhe daria a salvação.
Enquanto, ela chorava tirando tudo o que tinha em seu coração, as imagens finalmente entravam em sua cabeça mostrando tudo o que ela descrevia e todos os detalhes que evitava dizer. Uma terrível fúria fez estragos nele, quase saiu para pegar uma arma e ir matá-lo.
Ao invés disso, escondeu sua indignação e lhe enumerou suas opções como um maldito, lógico e imparcial servo que se supunha que ele era. Certificou-se que ela entendesse que nada justificava viver no inferno, um inferno que poderia ser pior.
— Agora que você sabe que isso não é normal, pode tratar de se divorciar, — explicou a ela.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu acho que nenhuma corte, acreditaria que alguma mulher poderia cooperar com isso livremente senhor Hampton.
— Há muitas mulheres que desfrutam de tais coisas madame.
— Seriamente? Você não pensa que Anthony poderia alegar que eu faço isso?
— Indubitavelmente ele faria.
Ela chorou de novo, entretanto, havia uma nova resolução em seus olhos.
— Então, eu tenho que ir embora, não é?
—Acho que isso está claro. Permita-me considerar suas opções nesse sentido.
Havia bem poucas malditas opções. Ela poderia tentar divorciar-se dele, alegando adultério e crueldade. Um divórcio através do Parlamento poderia deixá-la livre para voltar a casar-se, mas as mulheres quase nunca tinham êxito tentando obter.
O pior que para uma ação parlamentar procedia somente por duas provas: a primeira o divórcio pela igreja e então se procede o divórcio civil contra Glasbury.
O Divorcio, através da igreja não permitiria nenhum dos dois casar novamente, mas ela tinha mais chance ali, pois os juízes eram cada vez mais flexíveis em assuntos de crueldade. Uma mulher já não precisava provar, que seu marido lhe oferecia uma vida de violência. Mas um divórcio deixando um conde sem um filho, um detalhe que poderia afetá-lo negativamente.
De qualquer maneira seria muito público,— disse. – Eu li os depoimentos impressos em todos os jornais. Não importa o quanto seja sórdido. Inclusive, no Times não encanta o espetáculo e o lucro que generosamente oferecem.
— Acho que as circunstâncias, justificam a aceitação da vergonha condessa.
— Minha família vai sofrer por ela. Não importa quais sejam minhas justificativas, eles serão afetados.
— Seus irmãos não se importarão.
— Mas Charlotte ainda é uma garota. Vai afetar todas as possibilidades de um bom casamento para ela, quando for apresentada na sociedade.
As finanças familiares não estão boas e se for manchada, por um escândalo estará arruinada.
Não podia mentir como ele queria. Ele não podia prometer que sua irmã mais nova não sairia machucada. Mas seu coração gritava em rebeldia, porque deixava de lado suas objeções e a proteção que somente o divórcio lhe poderia dar.
— Para que fique segura, deve se divorciar dele. Se só o deixar, continuará a sua mercê.— Disse com mais seriedade do que pretendia.
— A qualquer momento, pode apresentar um pedido para que seus direitos conjugais sejam restaurados. Ele sequer precisa pedir. Ele pode obrigá-la a retornar ao seu lar, a sua cama e ninguém o deterá.— Deve haver uma maneira de garantir que ele nunca faça isso. Não existe?
– Sim existia.
Ele tinha negociado duramente quando se reuniu com Glasbury. Tinha empurrado o homem sob ameaças de um escândalo, para que a deixasse partir. Quando terminou a reunião tinha entregado a Pen a metade da vitória que era o que ela havia escolhido. Não a liberdade, mas finalmente seu santuário. Um santuário que agora estava ameaçado. Ele saiu do estábulo, limpou suas botas e lavou as mãos. Caminhou pela casa. Foi ao terraço de onde se via a praia. Um ponto azul estava parado em um banco de areia. Sua ira não tinha sido tão altruísta. Era em parte, possivelmente em grande medida, pela frustração de um homem que queria tanto uma mulher, que faria qualquer coisa para poder tê-la. Ele viveu durante muito tempo na torre de que tinham construído anos atrás, a que lhe tinha servido bem para sentir-se protegida. Não podia culpá-la de querer tentar reparar essas paredes, ao invés de andar ao encontro do inimigo. Em comparação com a segurança que tinha encontrado na fortaleza, a oportunidade de ter uma relação de conveniência com seu amigo e advogado, não a atraía muito em absoluto. Desceu para à praia e se juntou a ela.
Cleo ainda está em Yorkshire com a senhora Kenworthy,— disse. – Levarei você a ela.
CAPÍTULO 10
Depois que decidiram fazer a viagem, ficaram prontos ao mesmo tempo.
Julián cavalgou em seu cavalo até o povoado mais próximo Billings, para contratar um cocheiro que fosse levar Pen e transportar seus baús.
O plano era alugar um quarto para passar a noite, em um lugar seguro na cidade, enquanto ele voltava para Londres. Lá ele encontraria uma mulher para que viajasse como acompanhante de Pen, a fim de preservar a sua respeitabilidade.
Decidiram ficar em um hotel pequeno, até chegar a Yorkshire e viajariam com nomes falsos. Ela seria a senhora Thompson e Julián seu primo, sua escolta para um casamento no Distrito Lake.
Depois que Julián partiu, Pen caminhou pela casa e percebeu que se sentia um pouco triste ao deixá-la. Ela havia redescoberto uma antiga amizade ali, que havia se escurecido nos últimos anos. Tinha saído com o senhor Hampton e voltava com o Julián e ela sempre se lembraria desse retiro, como o lugar mais belo que havia conhecido em de sua vida.
Ela recolheu seu tratado da mesa. Quando chegasse a Billericay o enviaria à Sra. Levanham. Posteriormente, seus comentários se comparariam com os que as outras fizeram e o projeto final, ficaria pronto. As lições que aprendeu no desastre de sua vida poderiam marcar uma diferença para outras mulheres algum dia.
Em seu quarto, começou a guardar suas coisas em seus baús. Ela estava terminando com o grande, quando ouviu Julián voltar. O som das rodas vinham pelo caminho, então uma batida na porta da cozinha ouviu depois.
Colocou seus últimos pertences no baú e se aproximou da porta.
Na metade da escada, parou abruptamente. O alarme a deixou imobilizada.
Já podia ver as pernas do homem que a esperava. As roupas não eram de Julián.
As botas se dirigiram para ela e o restante do homem ficou à vista. Seu estômago adoeceu.
Glasbury lhe sorriu.— Bem-vinda de volta a Inglaterra, minha querida.
O pânico cresceu em sua cabeça. Ela deu meia volta para correr e esconder-se, apesar de saber que não havia lugar para ir.
— Desce, Penélope.
Ela lutou para esconder seu terror. Ele desfrutaria vendo, mas não lhe daria essa satisfação de saber o que sentia. Parou bem na base das escadas. Ele não se moveu, enquanto descia. Isso a forçou tocá-lo, enquanto descia seu último degrau e fazia a volta ao redor dele. Ele a agarrou pelo braço.
— Nenhum beijo? Depois de todo esse tempo?
— Eu prefiro que não.
— Eu gostaria de um beijo querida. Ela olhou pela janela. Ele não havia trazido sua carruagem. Não havia símbolos marcados nesta. Só um cocheiro que a dirigia e ele não usava as cores do conde...
— Peça para que um dos cavalos lhe beije. Se negarem, você pode fazer usar seus direitos com a impunidade.
— Não só os cavalos Penélope. Tudo o que eu tenho.— Atraiu-a para mais perto e lhe deu um beijo nos lábios.
Seu estômago se revoltou pela bílis e puxou o braço para livrar-se. Ele a deixou ir, mas sua expressão disse que era sua escolha não dela.
Passeava pela cozinha, vendo tudo com desgosto.
— Então, Hampton a escondeu nesse casebre. Foi muito irritante ter que segui-lo. Teria sido mais simples, se ele tivesse dito onde encontrá-la.
— Eu insisti para que não o fizesse. Como encontrou este lugar?
— Eu simplesmente mandei investigar as propriedades que possuía e depois quando me informaram que tinham visto uma mulher ontem à noite aqui, soube que era você.— Olhou a próxima sala.
— Esteve vivendo aqui com você?
— Ele estava em Londres. Não há dúvida, que muitas pessoas podem testemunhar isso.
Ele se dirigiu à porta do jardim e fez um gesto para o cocheiro, para que subisse pelos baús, enquanto isso Glasbury entrou na biblioteca.
Pen seguia o conde, desesperada olhando ao seu redor, todo tipo de provas que delatassem que Julián esteve ali recentemente, com a esperança de poder esconder as provas do olhar do conde. Ela não tinha ficado a sós com Glasbury desde que ela o deixou e estava apavorada. Um tremor visceral passou através dela.
— Esse é um lugar tão rústico. Não há criados. Não tem conforto. Tenho certeza, que ficará aliviada de poder estar de volta a Grosvenor Square.
— Não vou voltar para Grosvenor Square.
— É obvio que sim.
— Não de boa vontade.
— Sua vontade não me preocupa. Só meus direitos importam. Se você mostrar graça e obediência para o qual foi criada, serei bom. Se me obrigar, a ter que arrastar você pelos cabelos, vou castigá-la.
Castigar. Ele gostava dessa palavra. Acariciou o som de sua voz, enquanto falava. Ele a olhou com a boca frouxa em um sorriso cruel. Seus olhos refletiam lembranças dos castigos do passado.
— Por que agora Anthony? Depois de tantos anos, porque está tão decidido que eu volte agora?
— Você quebrou o acordo.
— Eu não quebrei.
— O mundo pensa que você fez. Assim, eu também. Além disso, recebi uma carta na primavera passada. Um relatório anônimo. Que incluía uma cópia de um tratado estrangeiro, escrito por uma mulher demente e delirante contra o casamento. Ele a olhou como se fosse uma menina estúpida.
— Achou de verdade, que eu ia cruzar os braços e permitir que minha esposa condenasse publicamente, meu direito de controlar minha família e meu lar?
— Não há nenhuma só palavra nesse documento a seu respeito.
Cada maldita palavra diz respeito a mim.
— Dobrará minhas costas e eu ainda o publicarei.
— Asseguro a você que jamais fará.
Soava como uma ameaça. Um calafrio deslizou pela sua espinha dorsal.
Tornou-se mais difícil nos últimos anos. Mais cruel. As tentativas de esconder suas inclinações pareciam ter sido abandonadas. Foi um erro ignorá-lo todo esse tempo. Fingir que não existia, ter perdido de vista no que havia se transformado.
— Nego-me a acreditar, que correrá o risco do escândalo que simplesmente posso criar, porque não deseja que o tratado seja publicado.
Ele sorriu de novo. Nunca gostou de seu sorriso. Inclusive, quando era jovem e estava entusiasmada pela proposta de um conde, mas não se preocupou pelos sorrisos do conde.
— Eu não quero sua volta só por essa razão. Tem outras. A mais importante, é que meu sobrinho está agora em sua terceira esposa e nenhuma delas deu a luz a um filho, tampouco nenhuma das escravas das plantações.
Acredito, que o problema não é das as mulheres, mas o mais correto, que é dele.
— Deve estar furioso ao reconhecer que a nova lei obrigará a que todos os escravos agora sejam libertados e que já não estão disponíveis, para pôr a prova as habilidades de reprodução dos homens de sua família. Gostava de ir visitar a Jamaica. Arrumou uma viagem no ano passado, não é? Talvez, pense em sustentar a escravidão por um tempo.
Haverá compensações para a situação das fazendas. Entretanto, não vão resolver as insuficiências de meu sobrinho. Quando foi embora, convenci-me de que através dele a sucessão seria uma maneira aceitável. Agora novamente, esse dever me corresponde . E a você.
Sua expressão se suavizou. Por um momento parecia suplicante, inclusive triste.
— Volte comigo e me dê meu herdeiro Penélope. Dê-me o filho que prometeu em seus votos.
— Estou assombrada de que jogue os votos diante de mim, como se sua posição fosse de uma moral superior. Fui embora, porque não tinha a mínima decência humana. Se me quiser de volta, de verdade, vais ter que me arrastar pelos cabelos. Mas deve ficar preparado, porque vou deixar que o mundo inteiro saiba tudo o que tem feito.
Ele riu e negou com a cabeça. Suspirou.— É uma vaca estúpida. Como expliquei a seu representante de chantagens, poucos lhe acreditarão, inclusive se tivesse a oportunidade de falar disso. A ninguém importará agora de todos os modos. Tudo isso aconteceu há muito tempo no passado.
— Há outros que sabem. Não vai ser só minha voz.
— Ninguém da minha gente falará ao meu contrário. Meu controle sobre eles é total, sem importar o que as novas leis digam.
Foi para ela. Ela se assustou e retrocedeu até ficar presa contra a janela.
— Seus baús já estão na carruagem.
— Vamos querida, é hora de voltar para casa.
— Não.
Ele estendeu a mão para ela. Ela tentou escapar, mas ele a agarrou seu pulso. Seu domínio se fechou energicamente.
— Tinha a esperança, que poderíamos fazer isso com um pouco de dignidade, mas vejo que não podemos. Teria sido melhor fazer isso em nossa casa, mas esta casa servirá. É o suficientemente privada.
Seus dedos a seguraram com tanta força, que seus olhos umedeceram. Ele parecia indiferente a sua dor. Quase aborrecido.
Fazia muito tempo que ela tinha aprendido a reconhecer os sinais que dissessem o contrário, entretanto, ela os via agora.
O rubor vagou em seu pescoço. As pálpebras de seus olhos ficaram pesadas. Gostava de machucar às pessoas.
Apertou os dentes e se negou a gritar. Seu aperto ficou pior e pior até que seu braço ficou em chamas.
— Os anos lhe fizeram rebelde. Muita liberdade deixam desastradas às pessoas de natureza inferior, mas entretanto, isso será fácil de remediar. Sua vontade é uma coisa frágil. Nós dois já sabemos, o quanto pode ser rapidamente dobrada e quebrada.
— Para uma mulher torpe, que estava dobrada e quebrada, pode se superar. Cuspiu as palavras à direita de seu rosto.
Ele se ruborizou.
— Acho que estou contente de que tenha resistido tão estupidamente. Quanto antes aprenda qual é seu lugar outra vez, melhor.
Seu apertão no braço se transformou em um tormento. Flechas saíram disparadas por suas veias devido à pressão que exercia. Manchas negras ficavam à vista.
– Você se ajoelhará hoje em minha presença querida. Lembra-se de como fazer, não é?
As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas ela não fez nenhum som. A dor tinha reclamado seu braço inteiro e o ombro. Parecia estar invadindo seu peito e bloqueava a respiração.
Glasbury não repetiu seu comando. Continuou segurando seu braço, aumentando a dor, esperando que sucumbisse a sua ordem para que mostrasse humildade.
Seria um erro se fizesse. Ela entendia o que ele realmente queria. Não a mera obediência. Queria o controle que supusesse o medo. Seu prazer na degradação dos outros era complexo e escuro.
Seu corpo queria tanto alívio, que implorou que cedesse até sua alma, entretanto, sabia que cederia assim que começasse a percorrer o caminho para a impotência novamente.
Julián quase não viu as marcas na estrada. Tinha conduzido vários metros pelo caminho até à casa, antes que o significado das marcas penetrassem em sua consciência.
De repente, apareceram. Todo pensamento abandonou sua cabeça. Um estado de alerta, frente ao perigo pulsava nele.
Parou o cavalo e olhou para baixo as marcas que havia no barro da rua.
As marcas estavam frescas, o que indicava que uma carruagem tinha passado por aqui faz algumas horas. Quando montou em seu cavalo para Billericay, foi cuidadoso mais uma vez, em busca de sinais que pudessem indicar que o homem que Pen tinha visto, havia chegado de carreta ou a cavalo. A falta dessas provas foi a única razão pela qual a tinha deixado sozinha.
Soube imediatamente que tinha sido um erro. Alguém passou por aqui desde que partiu.
Ele amaldiçoou a si mesmo, desceu imediatamente e amarrou o cavalo em um arbusto baixo. Depois da curva do caminho em frente, podia ver o telhado da casa.
Rezando para que não fosse muito tarde, com a esperança de que Glasbury não tivesse descoberto essa propriedade, saiu do caminho e voltou à direita. Olhou para casa de campo, através dos arbustos e das árvores finas.
Um movimento, chamou sua atenção ao passar atrás da curva do caminho. Um homem estava sentado, apoiado em um tronco de uma árvore fina. Estava de costas para Julián e parecia decidido a olhar para a estrada.
Julián olhou para a casa de campo. Podia ver agora, a parte superior de uma carruagem escura. O recém-chegado não foi embora ainda. Se tinha deixado um guarda no caminho, sem dúvida Pen estava em perigo.
O medo e a ira o cegaram por um momento. Medo por Penélope e raiva contra si mesmo. Então sua cabeça limpou e só ficou uma determinação de gelo. Jogou uma olhada para o chão em seus pés e levantou uma pedra de bom tamanho.
Dirigiu-se para o homem sentado de costas.
O cavalo relinchou e sua presa ficou rígida. O chapéu do homem virou em um ângulo para cima, como se farejasse o ar como um cão. Ficou de joelhos e uma pistola apareceu em sua mão direita.
Não ouviu Julián até que foi muito tarde. Virou-se com surpresa e levantou a pistola antes que a pedra caísse sobre sua cabeça. Não teve tempo de gritar, antes de cair de cara no mato.
Julián pegou a pistola. Encontrou outra pistola colocada na cintura das calças do homem.
Levou uma em cada mão, voltou para a estrada e foi para a casa.
Ele viu indícios de que outra pessoa entrou recentemente através deste caminho. Várias vestígios de barro estavam no chão. A grama e os ramos do jardim estavam pisoteadas.
A auto-recriminação fazia estragos em sua cabeça. Pen tinha razão sobre o homem de ontem. Não houve provas, porque o intruso fez o mesmo que ele nesse momento. Não se ouvia vozes vindo da casa. Não havia gritos ou desordens. A carruagem apareceu abandonada, mas podia ver os baús de Pen amarrados na parte de trás.
Atravessou o pátio para o transporte e olhou para dentro. O cocheiro descansava no assento, ele bebia de novo de uma pequena garrafa. Ele era um homem gordo com cabelos brancos e ralos que saíam por baixo de seu chapéu.
Viu Julián quando foi dar um gole. A princípio só franziu o cenho com curiosidade. Então viu o canhão da pistola apoiada na beira da janela, apontando para seu estômago.
Os olhos do homem se arregalaram em choque e o líquido começou a cair por um lado de sua boca.
— Qual é seu nome. Perguntou Julián
— Harry. Harry Dardly. — balbuciou sem deixar de olhar a pistola.
Além de seu passageiro, você está sozinho?
— Havia outro homem, mas voltou para a estrada.
— Quem alugou essa carruagem?
Harry engoliu em seco.
— Não disse seu nome. É um homem elegante. Um cavalheiro que paga muito bem.
Isso soava como se Glasbury tivesse vindo pessoalmente. Possivelmente, alugou essa carruagem anonimamente e sem usar seus criados e sua bagagem, não teria testemunhas.
O silêncio da casa deixou de ser tranquilizador.
Julián abriu a porta da carruagem. — Venha comigo.
— Agora Senhor? Você não precisa fazer isso. Eu ficarei aqui sozinho cuidando dos cavalos. Tem minha palavra.
— Para fora.
Harry saiu pesadamente, afastando a distância entre ele e a pistola. Ficou lívido quando viu a outra pistola, em sua mão esquerda.
Julián fez um gesto para que caminhasse para a casa. O olhar do homem era como se fosse levado para a forca. Harry abriu o caminho.
— Harry, seu passageiro é o conde de Glasbury.
— Glasbury! OH, que inferno. Não quero ter problemas com um conde.
— Ali dentro, também está uma mulher. Se Glasbury a machucou de alguma forma, preciso de uma testemunha.
— Testemunha!— Harry parou em seus calcanhares. — Não, não serei. Não desejo me colocar em problemas, por falar contra um conde. Minha mulher me mataria se me arriscasse fazendo tal coisa.
Julián tocou o homem com a pistola. — Eu preciso que venha comigo, tenha coragem homem.
Com um olhar cada vez mais miserável com cada passo que dava, Harry entrou na cozinha.
Nenhum som os recebeu. Quando Julián olhou para a cozinha, viu que a mesma e as outras salas atrás estavam vazias, apontou a Harry que seguisse para a Biblioteca.
O cocheiro entrou primeiro e ficou parado como pedra na entrada.
— OH, meu Deus, murmurou.
—O que você está fazendo aqui? Disse que esperasse até que o chamasse. A afiada voz era de Glasbury.
Julián empurrou Harry para frente alguns passos e entrou na sala.
Uma fúria explosiva estalou em sua cabeça, quando viu o que estava acontecendo na biblioteca.
O bastardo tinha agarrado Pen pelo braço, em um aperto tão forte que os nódulos dos dedos estavam brancos. Com o braço estendido estava tentando obrigá-la a se ajoelhar. O corpo de Pen se inclinava de forma antinatural, resistindo à queda e para aliviar seu sofrimento.
E certamente ela estava sofrendo muito. Seu rosto perdeu toda a cor e seus olhos estavam vidrados. Parecia a ponto de desmaiar. Entretanto, tinha uma forte determinação em sua expressão. Não saíam sons por sua boca, não havia gritos ou suplicas.
Ela viu primeiro Julián . O conde estava tão interessado em sua vítima, que não percebeu que Harry não tinha entrado sozinho.
Julián apontou sua pistola, para o coração do conde e a engatilhou. Apenas teve que se controlar para não apertar o gatilho.
— Solte-a. — Sua voz soava estranhamente calma para seus próprios ouvidos. Seu cérebro foi o que gritou a ordem.
Sua alma implorava para que Glasbury resistisse. O olhar deste se quebrou e por um momento, pareceu estar muito assustado. Então fez uma careta de desprezo.
— Você não se atreveria...
— Não só me atreverei, mas como terei êxito. Liberte-a.
Glasbury vacilou. Os dedos de Julián acariciavam o gatilho.
Com uma expressão de desgosto e repugnância, Glasbury a soltou. Pen cambaleou para longe dele.
Glasbury olhou para o cocheiro.
— Essa é minha esposa e este homem está interferindo, afaste-o...
— Que o afaste? Eu?
— Pagarei você muito bem, pagarei agora.
— Ele tem duas armas, se por acaso vossa senhoria não notou.
— Ele não as usará.
— Que me crucifiquem se acha que vou averiguar. Harry cruzou seus braços em seu amplo peito, deixando claro que não se moveria.
Julián estava olhando para Penélope. Um pouco de cor tinha retornado a sua aparência e parecia mais estável.
— Condessa, ali fora há uma carruagem com seus baús amarrados, vá e me espere lá.
Os olhos de Glasbury brilhavam — Se você a levar de meu lado, estará interferindo em meus direitos.
— Você perdeu todos seus direitos quando abusou deles. — disse Pen em voz baixa.
Quando passou pelo lado de Julián , lhe estendeu uma das pistolas.
— Pega isso, no caso de ele ter trazido outro homem, que acredito que está perdido.
Ela fez uma pausa e jogou um olhar sobre suas costas e de seu marido. Uma expressão profana em seus olhos revelavam a tentação que sentia.
— Espere lá fora madame, — Julián disse firmemente.
Ela recuperou sua compostura. Passou pelo lado de Harry, com seu braço pendurando limpamente ao lado. Harry viu a expressão de dor em seu rosto.
— Se estou correto milorde, você roubará minha carruagem e meus cavalos?
— Se você estiver de acordo com meu plano, terá a ambos hoje a noite e também seu pagamento pelo uso.
— Bem, agora você pinta um quadro diferente.
— Isto é intolerável, — disse Glasbury — Eu aluguei essa carreta para o dia e…
— Vou deixar a carruagem no final do caminho. Os cavalos irão comigo um pouco mais longe, a meio do caminho de Billericay. Pelo uso de sua propriedade, vou deixar cinco guinéus dentro da carruagem.
— Isto é um roubo, se levar a carruagem vou fazer que o persigam como ladrão.
— Acredito, milorde, que me corresponde decidir se fui roubado. Nunca vi um ladrão que deixasse cinco guinéus. — disse Harry.
— Ficaremos presos aqui idiota!
Somente por um dia. Harry será capaz de caminhar para buscar os cavalos e retornar aqui antes que anoitecer. Julián saiu da biblioteca.
Agora, cavalheiros não quero vê-los deixar essa casa, quando for pelo caminho. A dama que está me esperando, suspeito que está muito disposta a usar a pistola que lhe entreguei. Se não, não duvidarei em usar a minha.
— Pare-o, idiota inútil — gritou Glasbury a Harry.
— Faça você. Ou os condes só são valentes quando se trata de mulheres? Burlou-se Harry com desgosto. — Só lhe digo uma coisa, deve ficar feliz, por minha esposa não estar aqui presente.
Julián deixou Glasbury com a censura de Harry. Pen conseguiu subir no assento do cocheiro, enquanto ele voltava à carruagem.
— Estamos roubando? Não parecia que lhe afetasse muito.
Ele subiu ao seu lado e pegou as rédeas.
— Estamos tomando emprestado, com o consentimento de seu proprietário.
Depois ele virou a carruagem e foi para o caminho, seu olhar caiu sobre ela, seu braço descansava inerte em seu colo. Sua expressão era uma máscara estoica. Suas pálpebras escondiam a maior parte de seus olhos.
— Lamento muito Pen. Culpo a mim mesmo.
— Aqui o único homem culpado não é você. Agradeço por ter vindo e pelo que fez. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse chegado.
Nada bom certamente. Se o conde quisesse somente levar sua esposa, poderia ter feito em sua carruagem com toda a pompa e estilo, que gostava de demonstrar para chamar a atenção de todo reino.
O conde não foi capaz de resistir a oportunidade de ter Pen sozinha e isolada, entretanto, tentaria lhe prejudicar de algum jeito desde o começo. O que significava, o quanto longe poderia ir, esse pensamento se enrolava na cabeça de Julián. A imagem dela brigando contra a dor, se abatia em seus pensamentos como um véu. Fogo e gelo enfrentavam uma batalha dentro de seu corpo. O impulso de devolver e matar o canalha não o abandonava.
Ela tocou seu braço.— Sobreviverei, Julián. Mas dirija rapidamente, assim que chegarmos à estrada, eu gostaria de colocar distância entre mim e o que aconteceu.
Não havia dúvida, que agora eles atuariam com rapidamente. Não só precisavam colocar distância entre Pen e o que tinha acontecido. Tinha que levá-la para longe do conde de Glasbury.
CAPÍTULO 11
Eles mudaram de carruagem quando chegaram. Julián desenganchou os cavalos de marcha e amarrou um na calesa, deixando a carruagem maior no caminho. Pen testou seu braço. Já não estava insensível. O lugar onde Glasbury segurou palpitava. Entretanto, uma dor profunda estava em toda a extremidade. Ela suspeitava que um enorme hematoma estava escondido pela manga. Julián parecia ter se acalmado um pouco. Ela nunca o tinha visto tão zangado, como quando entrou na biblioteca. Ele parecia muito perigoso e escuro, tanto que esperou que ele disparasse em Glasbury. Em sua dor e desespero, ela esperou que de verdade o fizesse. Depois que colocou a arma em sua mão, estive tentada a fazer ela mesma.
— Ainda quer ver Cleo? Perguntou Julián.
— Sim. OH, sim. É claro que sim.
Ela superou Glasbury antes e agora faria novamente. O mundo poderia não acreditar, mas poderia escutar a história de Cleo: diante essa possibilidade, o conde se retiraria e nunca mais a tocaria de novo:
— Não pode permanecer em Billericay. Devemos fazer isso de outra forma. Vou ter que procurar um lugar seguro para passar essa noite, onde eu tenha certeza absoluta que estará protegida. Enquanto não estivermos bem longe de Glasbury, não ficará sozinha novamente.
— Não acredito que exista um lugar assim. Estamos ficando sem santuários.
— Há mais um.
Nessa noite, enquanto a luz desaparecia, a calesa rodava por um caminho cercado de árvores, eles deixaram em liberdade os cavalos na metade do caminho a Billericay.
Tinha sido uma viagem exaustiva na calesa. O cavalo precisava descansar frequentemente e o longo caminho estava cheio de pequenos buracos. Somente o conhecimento de que Glasbury estava separado pela costa, fez com que Pen conseguisse ficar mais calma e com menos medo, embora muito impaciente com seu progresso. Eles se aproximaram de uma velha cruz de madeira, situada pitorescamente perto de uma casa.
— Acha que ele concordará com isto?
— Ficará adulado pela pergunta. Não duvidará em enfrentar a qualquer homem, que tente interferir.
— É velho para isso.
Julián riu baixinho — Sua espada continua sendo insuperável Pen. Também cedeu e aprendeu a usar uma pistola.
O homem de que falavam saiu pela porta de entrada, para vê-los melhor. Cabelos grisalhos, ossos magros, estatura mediana, não dava indícios de uma força de aço. Entretanto, Pen o tinha visto treinar com sabre e florete, sabia que a concentração e a precisão mortal, lhe davam essa forma de combater.
O senhor Corbet caminhava para a calesa. Saudou Pen com uma inclinação de cabeça.
— Condessa, sinto-me honrado. Julián, trouxeste a dama para mostrar suas habilidades? É um pouco tarde, mas não importa.
— Não é uma visita social Louis. Tenho que deixar à condessa sob sua proteção até manhã. Não espero nenhum problema, mas entretanto, talvez você possa mostrar suas habilidades se for necessário.
Os olhos de Chevalier brilharam com um sorriso contido e suave, enquanto ajudava Pen descer da calesa.
— Pelo bem estar da dama, espero que não. Mas por minha própria diversão, não duvidaria. Faz tanto tempo desde a última vez que o fiz, que agora não faço mais que dividir instruções para outros.
— Espero que não tenha lições para amanhã cedo, — Disse Pen.
— Não espero ninguém. Se alguém chegar inesperadamente, despacharei-o de volta. Sua pessoa e sua reputação estão completamente a salvo.
Julián levou seus baús, para dentro da casa e os deixou no quarto indicado por Corbet. Pen recebeu um pouco de vinho na sala, que ficava ao lado do grande salão de aulas pelo qual, Chevalier era famoso.
Louis a fez sentir-se bem-vinda e acolhida. Ela o conhecia há muitos anos, porque seus irmãos Vergil e Dante eram seus alunos, assim como Julián, St. John e alguns outros conhecidos, ainda hoje se reuniam para praticar com a espada.
Quando Julián se uniu a eles, Chevalier saiu discretamente, Julián pegou uma vela e a colocou em cima da mesa que estava perto de sua cadeira.
Ele não parece muito curioso por essa intrusão — disse ela.
— Ele não pedirá explicações, ou dará conselhos a menos que o pergunte. Cuidará de você com sua vida. Não tenho dúvida disso.
Ele pegou sua mão esquerda. Ela pensou que era um gesto de consolo. Gentilmente trouxe seu braço e começou a desabotoar sua manga.
— Não estou certa se gostarei de ver isso, — disse ela.
— Eu sei — seus dedos desabotoavam cuidadosamente os botões menores. — Você me disse que Glasbury não era violento com você.
Ela estremeceu quando ele chegou nos botões em cima da ferida. O aperto de Glasbury tinha deixado pequenas protuberâncias em sua pele. — Não foi no passado. Isso foi minha culpa. Recusei-me a fingir e o incitei a fazer isso, para ser honesta.
— Nunca mais diga isso novamente.— A culpa é só dele e não sua. Separou a manga aberta para revelar o dano. Sua pele mostrava um hematoma escuro, como uma faixa grossa ao redor de seu antebraço. A imagem dos dedos do conde eram claramente visíveis.
— Maldito bastardo. Julián contemplou o abuso apoiando em sua mão. – Você deve sentir uma dor terrível.
— Não é tão doloroso. — Era uma mentira, embora a sensação do contato de Julián a distraísse de sua dor. Um calor diferente, mais agradável subia por sua pele, enquanto sentia a firme palma de sua mão.
— Vou comprar algo para aliviar o inchaço.
— Não Julián , deve sair logo de Londres, eu posso cuidar disso e se precisar de ajuda pedirei a Chevalier, atrevo-me a dizer, que ele sabe mais a respeito dessas feridas e lesões do que nós.
Ele se mostrava relutante. — Retornarei na alvorada com o que precisamos, para continuar a viagem, — disse ele. — Espere-me algumas horas antes do amanhecer.
— Estarei preparada.
Ele beijou suavemente a feia ferida. — Aconteça o que acontecer Pen, prometo que ele nunca mais fará mal à você de novo. Nunca.
— Glasbury me pegou de surpresa, sigilosamente por trás. — contou ela.
— Se um advogado é melhor que você Jones, o quanto bom você é?
Glasbury passeava pelo pequeno quarto ridículo, que lhe tinham dado na estalagem de Billings. Esperar na casa de campo, enquanto Dardly recuperava os cavalos foi intolerável. Depois o cocheiro insistiu que esperassem até manhã, para retornar a Londres. Agora estava preso nessa pocilga de estalagem, sem seu valete ou roupa limpa. Os olhos de Jones pareciam duas pequenas fendas em seu rosto de lua cheia.
– Eu vou encontrá-lo, assim retorne a Londres. Não duvide. Também, tenho uma dívida para cobrar de Hampton. – Disse Jones, esfregando o cabelo com sangue seco em sua cabeça.
— É um idiota, acha que a levaria para Londres agora? Hampton não é a cabeça mais brilhante da criação, mas não totalmente idiota.
— Se não vai para Londres, então para onde vai?—
— Ao diabo se soubesse. Também têm um dia de vantagem, por causa de sua negligência, poderá segui-los não é?
Glasbury mal conseguia conter sua frustração. Ter ficado tão perto, de finalmente acabar com essa alienação ilegal e humilhante, para que somente a incompetência de Jones e do cocheiro arruinassem. Tomou mais do insípido vinho, que a estalagem tinha enviado com sua comida. Bebeu um longo gole.
O encontro com Penélope ocupava sua cabeça todo o dia, enfurecendo-o. Durante anos, foi impotente por causa de suas ameaças, mas agora não. Muito em breve, ela compreenderia isso. Claro que havia outras pessoas que sabiam. Sim, mas nenhum eram dos que falavam. O melhor do poder e da riqueza, é que poderia comprar o silêncio com o medo e com o dinheiro. E comprar homens como Jones, se fosse necessário.
— Bom, se ele não está a levando para Londres, precisamos esperar até que ela se mostre,— disse Jones.— Não existe uma maneira, de varrer a terra com todos os caminhos, canais e aldeias da Inglaterra, não é?
Glasbury tomou outro gole de vinho. Imaginou o rosto de Penélope na casa. Agressivo.
Uma provocação. Ela tinha mudado com os anos. Mas assim, gostava mais. Já não lhe atraía a fragilidade, não existe vitória se seu oponente for fraco.
Sua resistência foi muito emocionante. “Existem outros que sabem. Minha voz não será a única.” Lembrou de suas palavras. Viu sua expressão de confiança, quando o ameaçou.
Deixou seu copo na mesa e de repente, entendeu o significado de suas palavras. Claro, certamente, ela não falava de suas escravas da Jamaica ou da Inglaterra. Não, esses ainda estavam sob seu domínio. Riu entre dentes, já não se preocuparia com os incômodos de uma noite nessa estalagem.
— Eu sei para onde foram. Sei onde encontrá-la. Pode ser que inclusive, a pegue na estrada. Eu lhe darei instruções amanhã. Você terá outro homem que lhe acompanhe. Isso deve acontecer sem incidentes, sem notoriedade.
Jones se retirou e Glasbury se sentou na mesa. O vinho estava com melhor sabor e serviu-se um pouco mais.
Quando disse que uma mulher nos acompanharia, pensei que significava certa maturidade,— disse Pen.
Ficou de pé ao lado de Julián em frente a Casa de Cavalier, enquanto seus baús eram levados até a parte de cima da carruagem contratada, que Julián havia trazido.
Liderando Chevalier e o cocheiro, havia uma jovem dama chamada Catherine Langton. Tinha os cabelos loiros e pele branca, com uma constituição robusta tanto em sua aparência física, como em seu comportamento e era uma cabeça mais alta que Penélope. Sua postura e as fortes ordens, mostravam que não tolerava os tolos.
Chevalier desceu da carruagem e sacudiu suas mãos com firmeza. Os férreos olhos azuis de Catherine, examinavam os laços no peito. Chevalier respondeu com uma expressão, que indicava que uma só mais uma crítica implicaria em riscos.
Ela é uma mulher amadurecida,— disse Julián.
— Sabe o que quer dizer amadurecida? Pelo menos, não muito mais velha do que eu. Ela não deve ter mais de vinte e cinco anos.
Catherine caminhou para a porta da carruagem, subiu, arrumou as cortinas a seu agrado e esperou.
— Onde a encontrou?
— Chamei uma amiga sua a senhora Levanham ontem de noite e pedi uma recomendação. Sua fama como mulher que abandonou seu marido, atrai outras mulheres em uma situação semelhante.
— Igual a mim.
— E igual a Catherine. Eu pensei que outra esposa infeliz do nosso lado, seria bem-vinda. Entretanto, o marido de Catherine é um capitão de navio e estará de volta a Inglaterra algum dia, a oportunidade de fazer uma viagem longe de Londres a atraiu muito.
— Ela é muito dominante.
— Não há dúvida de que é, devido suas circunstâncias. Ela agora faz seu próprio caminho.
Sua voz soava como se ele a admirasse. Por alguma razão, isso fez com que gostasse ainda menos de Catherine.
— Sabe quem sou?
— Vamos utilizar nossos nomes falsos nos hotéis, mas não podia manter a farsa por muito tempo com ela. Ela deve fazer isso esplendidamente Pen. Ela está disposta a atuar como donzela, mas é educada e bem falada. A senhora Levanham me informou, que também tem um talento muito incomum.
— E qual é?
— É perita em armas de fogo. É uma excelente atiradora.
Guiou Pen para o transporte e a entregou à mulher formidavelmente jovem, a que esperava dentro.
Catherine imediatamente, tirou uma manta e colocou nos pés de Pen. – O Senhor Hampton ficará em cima?
— Parece que sim.
— Por que será? Tem espaço suficiente aqui.—
— Não sei.
— Não o conhece? É um estranho para você?
— Conheço o senhor Hampton desde que era menina. Ele é um velho amigo, entretanto não posso ler seus pensamentos.
— Não precisa ler o pensamento de um homem, para conhecer seus hábitos e preferências. Catherine falou bruscamente, sem rodeios, com o tom que Pen se aborreceria sempre.
– Ele gosta ficar fora das portas. Talvez, queira ver o campo e sentir o vento.
Após se despedirem de Cavalier, a carruagem tomou o caminho e foi para o noroeste. O dia nublado aparecia como um pano úmido e amargo, Pen estava agradecida pela manta que envolvia seus pés.
Olhou para baixo e reparou nos sapatos velhos de Catherine, aparecendo por baixo da saia e anáguas. Ela se inclinou e arrumou a manta para que cobrisse seus pés e também as pernas de Catherine.
A expressão de Catherine caiu como se o gesto a surpreendesse. De repente, pareceu muito jovem sem a expressão tão severa. Com algumas sardas no nariz e nas faces, na verdade parecia um pouco menina.
Nivelou seus olhos azuis com os de Pen. Não se transformaram em gelo, entretanto, em alguns poucos anos a mais poderia acontecer.
— Eu sei que você,— disse.— estranho você fugir de um conde. Deve ser difícil renunciar essa vida de luxos.
— Não mais difícil ou mais audaz, que sua própria decisão. Pelo menos, eu tenho uma família e recursos que você não tem.
— Batia em você?
Ela balançou a cabeça. O conde não tinha utilizava seus punhos nela, antes de ontem, nunca lhe tinha feito mal dessa maneira. Os golpes foram de outras maneiras, mais perversos.
— Meu Jacob. Embebedava-se e me batia. Primeiro o aceitei porque era meu marido. Depois porque eu tinha uma filha. Então um dia fui embora, mesmo que isso significasse perder minha preciosa filha, porque era muito perigoso permanecer ali.
— Tinha medo por sua vida?–
— Medo pela dele. Levantei-me uma manhã roxa e ferida, com ódio em meu coração. Soube que se voltasse a me ferir o mataria primeiro. Assim o deixei.
Ela contou sua história tão calmamente, que alguém poderia pensar que descrevia uma velha história em sua vaga memória. Mas seus olhos a traíam, mostravam suas verdadeiras emoções. A tristeza e a raiva brilhavam neles como chamas sem extingui-las.
— Não viu sua filha desde então?
— Ele a enviou para o norte com sua família, perto de Carlisle. Pensou que meu grande amor por ela me obrigaria a voltar, ou possivelmente, me forçar a fazer ele mesmo. Estou segura enquanto estiver no mar. Mas quando seu navio retornar a Inglaterra, vou desaparecer se puder.
— Deve ser difícil conservar um emprego.
Apenas mantenho-me. Entretanto, ainda não precisei vender meu corpo. Embora poderia fazê-lo se precisasse. Afinal, vendi eu mesma para Jacob, não é? Se fiz com um homem que fez crescer meu o medo e o ódio, suspeito que não me custaria fazer com um estranho.
Pen sabia que podia dizer algo moral sobre a virtude e o pecado, mas quem era ela para julgar uma jovem mulher, pelas escolhas que fosse obrigada a tomar, especialmente quando ela mesma, havia feito uma lista de homens com os quais ela poderia fazer “isso” com a intenção de achar uma saída para sua liberdade.
Passaram por fazendas cinzas e inóspitas como o céu. Em poucos dias estariam em Grossington e ela poderia ver Cleo. Perguntava-se em que tipo de mulher havia se transformado agora, com o passar dos anos a temerosa menina que tinha sido.
Seria covarde por não ter escolhido um movimento audaz? Desejava ser totalmente livre. Invejava a grande liberdade de Catherine, embora as duas permanecem unidas a seus maridos pela lei, Catherine podia fugir do alcance de Jacob, podia desaparecer dentro da Grã-Bretanha. Enquanto que a condessa de Glasbury não poderia. Para ela fugir e se esconder, significava deixar para trás tudo o que ela conhecia e amava. E se parasse de brigar, significava também ferir sua família e amigos.
— O senhor Hampton é muito atraente, — disse Catherine.
— De fato.
— Toda mulher deve pensar. Embora silencioso. Acho que poucos homens podem permanecer tão silenciosos. Geralmente eles falam, mas dizem coisas insignificantes.
— Acho que o senhor Hampton estaria de acordo com você.
Catherine alisou a manta sobre seus joelhos. Ela olhava seus longos dedos, para brincar com eles.
— Estão indo para uma festa? É esse o motivo dessa viagem?
Parece que Julián não explicou nada. — Tenho que fazer uma visita e o senhor Hampton está me escoltando.
— Ah. Estou vendo. Estranho que usem diferentes nomes, mas isso não me corresponde comentar. — Seus dedos continuavam fazendo traços e alisando a manta. — Você e eu compartilharemos o quarto nas estalagens?
— Acredito que sim.
— O Sr. Hampton também ficará conosco nas estalagens?
— Acho que será necessário. Não deve se preocupar, se Jacob a encontrar não estará desprotegida.
— Posso cuidar de mim mesma milady. Entretanto, ter o Sr. Hampton por perto será muito útil, pois durmo profundamente. Principalmente, depois de uma viagem e precisam trazer um canhão para me despertar. É bom saber que ele estará por perto, se por acaso houver algum problema. Se alguém entrar em nosso quarto durante a noite, eu ficaria completamente inconsciente disso. Pen entendeu o que Catherine estava insinuando.
— Estou certa que ninguém entrará ou deixará o quarto durante a noite.
— Sim, milady. Entretanto, pensei que deveria saber o quanto profundamente eu durmo. Ela se inclinou e pegou outra manta debaixo do assento. —Permita que lhe dê outra manta milady, na luz você está muito pálida.
Estava muito óbvio, que Catherine Langton havia tirado muitas conclusões a respeito dela e Julián.
Primeiro, Catherine achava que sua presença, servia para prover respeitabilidade à escapada entre um casal de amantes.
Segundo, ela havia decidido que não tinha interesse de interferir nessa escapada.
Ela possuía um admirável talento para se fazer invisível. Chegava tarde aos jantares e se retirava cedo, assim ele e Pen poderiam ter tempo a sós. Quando descia da carruagem, antes de todos, encontrava desculpas para deixar Pen no quarto por regulares intervalos de tempo na noite. Se ela e Julián tivessem mesmo um romance, ele ficaria fascinado por lady Catherine.
Entretanto, desejava que ficasse bem claro que não era, embora adorasse a privacidade que podia ter com Penélope de todas as maneiras.
Na terceira noite, quando eles jantavam no quarto de Pen na estalagem dos York, assim que terminou de comer, Catherine se desculpou para sair.
Acho que vou tomar um pouco de ar, se não se importa milady.
— Está chovendo Catherine.
— Não me importo com um pouco de chuva. Tenho minha capa e ficarei debaixo do teto, sinto necessidade de tomar um ar depois de ter viajado de carruagem todo o dia. —
Ela deixou o quarto e Julián se perguntava, se estava levando sua pistola com ela. Ele olhava através da velas a perfeita pele de Pen, seus suaves lábios e sua expressão doce.
A vontade de se aproximar e acariciar seu rosto, estava a ponto de contrariar seu bom senso. Ele amava a suavidade de seu rosto, seu corpo e seu grande coração.
Talvez, ela fosse uma mulher que precisasse de uma asa protetora, podia ver como agora ela era muito cálida com o Catherine. Pen poderia nunca usar uma arma, mas podia realmente ser muito desinteressada defendendo aos que mais precisavam.
— Vejo que fui muito rápida ao julgar Catherine. Estava certo senhor Hampton, ela é uma companhia muito agradável para mim. Escolheu muito bem.
— Entristece-me ver que volta a se dirigir a mim, novamente com formalidade. Considerando o que aconteceu na casa de campo, é um absurdo voltar a essa direção de novo.
Ela se ruborizou encantadoramente. O reflexo do fogo a iluminavam aumentando sua beleza. Seus olhos também refletiam a verdadeira razão, pela qual havia sido tão formal. À medida que seu olhar baixava, olhava ao redor do quarto com a consciência de que estavam sozinhos em seu dormitório. Ela mexia nervosamente em sua mão, o cabo do garfo que estava perto. Ele sabia que tinha que ir, ou dizer algo para fazer que se sentisse cômoda.
Mas as lembranças de seu corpo, seus seios firmes, os suaves lábios sob seus e seus quadris levantando para receber suas carícias, invadiam seus pensamentos. A luz do fogo das velas, a cama escondida atrás das cortinas, as mútuas lembranças do que haviam compartilhado, criavam um ambiente que não tinha nenhum interesse em dissipar.
— Se aproximar da senhora Levanham pedindo ajuda, foi também muito inteligente. Ela sabia que estava me ajudando?
— Eu não contei que a dama que precisava de uma companheira era a condessa de Glasbury, mas acho que ela entendeu facilmente. Afinal, eu a conheci quando me enviou para aconselhá-la sobre a lei.
— Se eu soubesse que iria vê-la, teria aproveitado para entregar a ela meu ensaio com as revisões. Enviarei amanhã antes de sairmos dos York.
— Prefiro que não Pen. Isso pode esperar até que tenha terminado essa viagem. -
— Não vejo a razão para atrasá-lo.
Julián olhou para seu braço esquerdo, que ainda não estava bom. — Quando falou com Glasbury ontem, mencionou algo sobre esse projeto?
— Sim.
— Suponho que está aborrecido.
— Muito aborrecido. Eu lhe disse que o publicaria de todas as formas. Disse que essa era uma das razões para me fazer voltar, além da necessidade de um herdeiro, mas não acho que tudo isso se deva só por essas duas coisas, não realmente.
— O que é que você acha?
A expressão de Pen se tornou pensativa.
— Disse-lhe sobre suas terras na Jamaica e de como a nova lei o obrigaria a libertar seus escravos. Um pouco parecido ao medo que passou por seus olhos, quando lhe disse isso. Uma raiva, talvez uma faísca de ressentimento.
— A lei terá consequências econômicas. Mesmo com as compensações garantidas pelo Parlamento, custará-lhe muito caro.
— Não acredito que sejam os efeitos financeiros, que o motivou reagir assim. Julián ele adora ter escravos. Adorava ser dono dos direitos dos seres humanos e os ter submetidos a ele. O tentou recriar esse mundo aqui na Inglaterra e depois que fui, ele visitava a Jamaica de vez em quando, para poder desfrutar desse poder de novamente por um tempo. Agora, com a nova lei, isso terminou. Legalmente, nunca poderá fazer de novo.
— Exceto comigo.
O quarto parecia sussurrar as palavras. Julián virtualmente ouvia em seu pensamento, essa frase final que não expressou com palavras.
Ela estava certa, Glasbury poderia estar muito perto dos direitos sobre as vidas alheias que tanto gostava, com sua esposa e filhos. Todos os homens podiam, mas muitos deles não exploravam esse poder.
Ela se levantou e caminhou para a janela. Olhava através das cortinas, como certamente fez quando discutiu com Glasbury.
Até ontem, não tinha entendido realmente o que o motivava, não compreendia realmente o quanto ele é malvado. Entretanto, em dois dias enfrentaríamos à evidência que deveria esclarecer.
— Pen tenho a sensação, que está um pouco perturbada por ter que ver Cleo. Ela inclinou a cabeça para um lado e outro, olhando através da escuridão, seu fôlego embaçou um pouco o vidro.
— É que vê-la me faz ter lembranças, isso é tudo. Não é uma coisa, que algum dia possa esquecer de verdade.
Sua voz era suave, mas seus olhos pareciam fantasmas. Estava agora mesmo lembrando, levantou e se aproximou dela. Ele queria que ela nunca mais lembrasse. Cuidadosamente colocou suas mãos sobre seus ombros e com gesto obrigou-se a ser tranquilizador e não possessivo. Queria abraçá-la e desterrar suas preocupações. Queria lhe fazer o amor. Esteve pensando nisso há pouco mais de três dias.
— Vou falar com Cleo sozinho Pen. Não precisa vê-la.
Ela o olhou. Via-a vacilante, tentada. Ela balançou a cabeça negativamente.
— Eu era responsável por ela. Deveria ter compreendido isso antes. Se for mexer no passado, não devo evitar presenciar o que significa para ela. Preciso saber se ela tem coragem de permanecer ao meu lado, se houver necessidade.
Parecia tão preocupada e triste. Ele reagiu instintivamente e acariciou para baixo seus braços em um impulso, de que? Conforto? Sedução? O corpo dela se flexionou em consequência e não se mexeu. Uma preciosa cor percorria seu elegante pescoço até seus deliciosos lábios. Ele esperou um sinal, qualquer sinal que lhe indicasse que suas carícias seriam bem-vindas. Ele era indiferente ao que era certo e ao que não o era e estava tão faminto por ela, que as razões já não importavam.
Ela não se mexeu. Não se afastou de seu carinho. Seu belo pescoço o tinha hipnotizado. Estava convencendo a si mesmo, que era uma sedução que não devia ser desonrosa, quando uma pequena tumulto fora o interrompeu. Fora da porta, uma voz feminina chamava pedindo água. Os sapatos pisavam na madeira em meio aos fortes murmúrios, a respeito da chuva fria e das ruas enlameadas.
Catherine tinha voltado e estava assegurando-se de que eles a notassem. Pen saiu de suas mãos e correu para o outro lado do quarto.
CAPÍTULO 12
— O Sr. Hampton está esperando para partir agora?
Típico de sua irritante eficiência, querer saber tudo, Catherine estava ocupada planejando a manhã até o último minuto, enquanto ela e Pen tomavam o café da manhã em seu quarto.
— Não falei com o senhor Hampton, desde que nos deixou ontem a tarde, assim não sei seu plano. Depois da estupidez com que recebeu Catherine ao voltar ontem a noite, Pen sentia certa obrigação de esclarecer que ela e Julián não tinham uma aventura, ou intenção de começar uma.
— O Sr. Hampton falou de um curto trajeto para o dia de hoje. Estamos perto de seu destino?
Pen passou uma má noite e uma manhã incerta. Sua conversa com Julián na noite anterior, provocou reações nela que não podia classificar. Uma tristeza dilaceradora escurecia toda essa confusão e não somente por Cleo. Suas carícias, sua proximidade, a maneira entristecedora em que seu espírito havia esperado que abraçasse sua necessidade de consolo e a distração foi atraindo-a a abusar de sua amizade da forma mais desprezível. Catherine se referia, à conclusão que tinha tirado que aconteceria uma festa ao terminar a viagem.
— Devemos chegar hoje. Ficaremos um dia ou dois. Depois disso, não sei aonde vou. — Possivelmente, para a América. Pode vir comigo também. Talvez, Julián aprove essa viagem se você for abrindo o caminho para mim através do deserto.
Prepararam-se para a viagem, só para descobrir que a capa de Catherine se encharcada pela caminhada da noite anterior na chuva.
— Use a minha azul e eu usarei a marrom, — Disse Penélope. Abaixou-se para procurar a roupa dobrada em seu baú menor. Catherine a alisou com a palma da mão, a lã superfina e luminosa da cor safira.
— Essa capa é muito bonita.
— Meu irmão me deu de presente.
— Não foi o Sr. Hampton e nem o conde, Pen queria acrescentar. Jamais o conde. Sua atribuição sequer pagava sua casa de Londres se não fosse pela ajuda adicional de Laclere. Ajuda que foi concedida quando deixou o conde.
O manto foi um presente, mas houve outros presentes menos evidentes que havia ganhado. Depois que Laclere se casou e que suas finanças melhoraram, sua esposa Bianca tinha o costume de convidar Pen para unir-se a ela a visitas às costureiras. As faturas dos vestidos de Pen chegavam a Laclere junto com os de Bianca, coisa que ela não esperava era ficar na miséria, mas não foi fácil. Teve que se humilhar. Fui reduzida a viver de caridade, não importa que outro nome bonito lhe deem para isso, mas era. Estava sendo estúpida e ela sabia. Não existia concorrência com Catherine, para saber quem era mais miserável. Catherine daria as mãos somente para recuperar sua filha.
A presença de Catherine se transformava em fastidiosa e irritante. Por um lado, Pen se deu conta que, sua capa azul a deixava impressionante. Fazia ela parecer mais fresca e bonita e lhe deu cor em suas faces. Se Julián já admirava Catherine por sua independência, perceberia também, do quanto era preciosa.
— A outra capa não está aqui. Por favor, peça para os criados trazerem de volta meu baú da carruagem. Quando Catherine se foi, seus olhos azuis olharam brevemente para a parede ao lado do quarto de Julián. O olhar não parecia cúmplice desta vez. Pen imaginava o homem que estava naquele quarto, bonito, escuro, frio e magistral. Se ele tinha beijado a jovem, da mesma forma que beijou ela, provavelmente estava apaixonada. Para Catherine a única preocupação seria a mudança de proteção.
Pen prestou atenção na desordem que tinha feito em seu pequeno baú, preocupada todo o tempo e com uma tristeza latente. Ela não sabia a razão, mas estava amargo e desagradável nessa amanhã.
— Estará pronta para partir em uma hora? -
Olhou para a porta, Julián estava ali. Sim, bonito, obscuro e frio.
— Catherine deixou a porta aberta? Perguntou ela.
— Parece que sim.
— Bom, por favor, feche-a e vai embora. Não sou boa companhia para ninguém hoje.
— Por que?
— Não sei porque Julián. Só desejo que meu outro baú esteja aqui. Desejo dar um passeio e tomar ar fresco. Talvez então, sentirei-me melhor. Fechou a tampa de seu pequeno baú.
— Quando encontraremos Cleo?
Ele apoiou um ombro no batente da porta, sem entrar ou sair.— Chegaremos a Grossington nessa tarde. Pensei ir visitar a senhora Kenwortu amanhã, a menos que você prefira fazer de outra forma.
— Não há outra forma. Pela primeira vez, no que se refere a Cleo, não devo ser uma covarde.
Ela ficou em pé. – Vou buscar baú se não, minha alternativa é esperar um ano para que volte para mim.
Ela lembrava coisas que não desejava lembrar. Admitiu isso, enquanto caminhava por um jardim escondido atrás da posada. Cada quilometro mais perto de Cleo, trazia imagens que engendravam mais culpa e humilhação.
Ela foi tão ignorante. Tão incrivelmente ingênua. Quando ela viu a casa de campo isolada em Wiltshire, cheia de servos de pele escura, nunca suspeitou que viviam na Inglaterra como escravos, assim como eram na Jamaica.
Não imaginava que Glasbury mantinha a propriedade isolada, para ele poder desfrutar dos criados de um jeito, que não seria permitido a um criado Inglês.
Ela passou bem por um tempo, até que um ano depois começou a tratá-la como se fosse uma escrava também.
A princípio o conde ditava ordens leves, mas sua raiva era mordaz e a atemorizava quando algo ela fazia ele não gostava. Quando ele mandava ela trocar o vestido para o jantar, e depois não gostava sua nova escolha, a fazia mudar uma e outra vez acompanhando de críticas sobre sua incompetência para ser uma condessa. Ele encontrava defeitos em tudo e ela começou a ter medo de sua presença, se encolhendo quando era foco de sua mira.
Isolou-a de seus amigos, dizia coisas terríveis sobre sua família e ficou furioso quando ela teve a ousadia de contrariá-lo. Ao não ficar grávida, ele usava isso como um chicote contra ela também. Seu medo crescia e sua alegria morreu. Ele desfrutava do que fazia. Finalmente, quando a tinha intimidado tanto como a uma menina, começaram os castigos.
Ela parou de caminhar e ficou ali imóvel, vendo como as lembranças rompiam as barreiras que havia construído a seu redor. Os castigos físicos tinham sido os menores dos males. Os rituais que exigia eram os desagradáveis.
Ele não se limitava de bater simplesmente, mas sim a fazia esperar como uma menina preparando-se para uma surra. Assim que chegava em seu quarto a obrigava a despir-se e caminhar para ele, deitava-a em seu colo e usava sua mão em seu traseiro. Isso o excitava, levou muito tempo para entender. E depois, os rituais se tornaram mais criativos e mais sexuais. Estremeceu-se diante a lembrança da primeira noite, que a fez arrastasse até ele e por sua vez, pegou seu cinto e com a fivela a golpeou até fazê-la gritar. Quando ele a teve implorando para que parasse, tomou-a como se fosse um animal submisso em que a tinha transformado.
Ela tirou essas imagens de sua cabeça e se forçou a colocá-las nas sombras onde havia guardado. Ela se saiu melhor que Cleo, pelo menos tinha fugido antes que o conde fosse mais longe, assim como fez com a garota.
Um manto azul apareceu na porta do jardim, Catherine fez gestos para lhe indicar que a carruagem estava pronta para partir.
Pen estava consumida, pela raiva que sentia contra ela mesma por ter sido tão dócil, deveria ter confiado em alguém, sem se importar com a humilhação que teria sido para ela confessá-lo. Deveria ter visto antes, que ela não era a única mulher nessa casa que se encolhia de medo.
Voltou caminhando preocupada com seus pensamentos, como quando ela partiu quando deixou o conde.
Mesmo na carruagem ao lado do condutor, Julián podia sentir que ela estava inquieta.
Nessa noite ficou parado frente à janela, olhando para fora em silêncio. Do outro lado da rua podia ouvir os ruídos das outras carruagens. O chão soava com um ritmo regular de pisadas que iam e vinham. Havia dito a ele que tinha lembrando “ de coisas”.
Ele também estava acompanhando sua insônia, embora ela jamais soubesse. Durante duas horas, escutou o ritmo de seus passos. “Ele sente prazer dando esses castigos” foram as palavras que ela usou nesse dia, enquanto olhava decididamente um canto de seus aposentos para que não pudesse ver sua reação. Supôs que ela passou semanas, tentando encontrar uma maneira de dizer isso sem ter que dizer muito realmente. Entretanto, tinha sido eloquente a sua maneira. Ela não havia dito "ele me bate quando está bêbado". Sua simples declaração se referiu a muito mais.
Parecia que o ritmo de seus passos que iam e vinham, nunca parariam. Finalmente, não conseguia mais suportar. Saiu de seu quarto e brandamente tocou em sua porta que estava a poucos passos do seu.
A porta se entreabriu. Pen estava ali com sua camisola branca de renda e com sua bata em cima, um xale azul envolvendo seus ombros e seios. Ele olhou em seus olhos e soube que ela caminhou pelo seu quarto intranquila toda a noite.
Pressionou mais a porta com a palma de sua mão. Na escuridão do quarto, podia ver Catherine dormindo em uma cama pequena contra a parede. Pegou a mão de Pen e a tirou do quarto e fechou a porta. Ignorando sua resistência, arrastou-a para seu quarto.
CAPÍTULO 13
Ela cruzou seus braços sobre seu xale e pressionava suas costas contra a porta.
— Catherine diz que se um homem a assediasse, mandaria seu joelho em um local onde ele não têm armadura.
— Se eu lhe perseguir espero o mesmo.
Ele caminhou afastando-se dela, porque desejava muito tocá-la. Estava tão adorável e tão feminina em sua roupa de dormir. Imaginava tirando seu gorro de dormir e ver seu cabelo cair livremente sobre suas costas.
— Ainda não dormiu Pen. Já é meia noite.
— Você tampouco está.
—Estive escutando você caminhar.
— Isso acontece algumas vezes quando eu não consigo dormir. — Continuava encostada na porta, como se tivesse medo dele. — Tenho um motivo dessa vez é que ficarei sozinha manhã. Não pode me afastar disso Julián. Não pode me proteger com escudo deste dragão. Afastou-se da porta. Sua expressão ficou triste como se caminhasse sem rumo pelo quarto.
— Eu era a senhora dessa casa. Era a responsável, mas estava cega.
— Ele estava convencido que você estava aterrorizada.
— Não, Julián, eu cobri meus próprios olhos porque o que existia na frente deles, não fazia sentido e era tão alheio ao mundo que eu conhecia. Lançou um olhar desafiante.
— Ele não queria que eu perdesse de nada. Assim em uma noite, quando castigou Cleo, ele me obrigou a ser testemunha. Fiquei horrorizada. Chocada. Tremendo e insensível ao mesmo tempo. Eu não compreendia tudo isso ainda, mas não podia mentir a mim mesma depois disso. Assim fui a você.
Ele sempre suspeitou que algo específico, havia acontecido para que ela fosse a ele e lhe confiasse tudo o que contou em seu escritório. Uma noite de iniciação. Uma noite em que o conde mostrou a Pen o tipo de prazer que ele queria. Não duvidava que ele havia pensado que ela já estava quebrada então. Mas ele estava errado. A suave e inocente esposa tinha tirado uma força que o conde não esperava.
— Foi desagradável, — murmurou ela, falando mais para si mesma do que para ele. — Acho que nesse dia desci para o próprio inferno.
— Você foi.
— Meu coração estava quebrado por ela. Mas um pensamento permanecia em minha cabeça e não saía. Um muito egoísta. Que poderia ser sua. Que algum dia seria.
Ela se virou. Ele sabia que estava chorando. O coração dele estava fechado. Foi atrás dela e pôs suas mãos em seus ombros. — Você a tirou dali Pen.
— Foi você quem fez Julián. — Deu a volta, mas não saiu de seu toque. — Adivinhou tudo isso, não é? Sua imaginação pode ver tudo, não é assim? Seus olhos cheios de lágrimas presas. — Sempre soube de tudo que ele fez para mim e para ela.
— Eu não insistirei em saber o que ele fez para você. Ele limpou com seu dedo uma lágrima que descia por sua face. — Você foi só uma vítima. Uma doce e adorável menina que foi raptada pelo demônio. Eu sinto desejo de matá-lo por isso, mas jamais mudei meus pensamentos sobre você. A reação dela quase quebrou seu coração. Parecia agradecida, cética e terrivelmente vulnerável. As velhas imagens de entrar com Glasbury em um campo de honra, retornaram em sua memória. Graças a Deus, ela tinha sido forte. Graças a Deus, ela encontrou coragem para deixá-lo. E graças a Deus, essas experiências não a arruinaram, ou a transformado em uma sombra, como transformou a pequena Cleo.
Seu dedo ainda descansava no rosto de Pen. Os olhos dela ainda cheios de confusão e de tristeza. O quarto pulsava pela intimidade provocada por suas emoções. — Devo ir, — disse ela.
— Poderá dormir agora?
— Possivelmente não. —
— Então fique aqui. Esperaremos o amanhecer juntos.
— Não devo.
Ele não desejava que voltasse para seu quarto e continuasse com seus pensamentos e lembranças.
— Se não estiver sozinha, possivelmente o dragão ficará em sua guarida. Ele pegou sua mão e a beijou. — Descansa aqui, em meus braços. Você retornará para seu quarto antes que Catherine desperte.
Ela não aceitou, mas tampouco negou. Quando ele deu um passo atrás para a cama, não houve resistência real no corpo que ele guiava pela mão. Olhou à cama por um longo tempo.
— Se eu lhe assediar, ainda pode seguir as instruções de Catherine sobre joelhos em lugares desarmados, — disse ele. Ela riu. O som musical quebrou através da tristeza e levantou a escuridão. Ela tirou seu xale, dobrou cuidadosamente e o colocou em uma cadeira. A domesticidade dessa ação o deixou em transe.
— Tem certeza que me levará para fora, antes que mesmo que os criados levantem?
— Prometo. Ela levantou a roupa de cama e subiu.
— Continuamos fazendo as coisas que não deveríamos, mas tem razão, não quero ficar sozinha com meus pensamentos nessa noite. Havia uma confiança implícita em seus movimentos, enquanto ela se acomodava na cama. Era de uma vez aduladora e divertida. As imagens que passavam por sua imaginação, não eram nada confiáveis, mas esperava poder sobreviver nessa noite. Depois de uma vida de contenção, algumas horas mais deveriam ser manejáveis.
Ela o olhou do travesseiro. — Não pensa ficar sentado na cama como uma enfermeira?
— Não.
— Não pensará descansar com casaco e com o lenço?
— Não. Ele tirou seu casaco e desamarrou o lenço.
— Não. Ele deslizou seu casaco para fora e foi começou a trabalhar com sua gravata. Depois apagou a vela. O fogo se reduziu a cinzas, mas ainda dava um pouco de calor e toques de luz.
— Acho que deve tirar a camisa.
— Agora? Poderia ser conveniente se um de nós não estivesse vestido na cama. Há limites ao cavalheirismo de qualquer homem.
— Sim. É obvio. Perdoe-me. Sempre é mais sensato do que eu Julián.
— Sensato, Ah sim? Tirou a maldita camisa. E se virou para encontrar seu olhar. Pelo menos ela não parecia estar mais pensando em Glasbury. Sentou-se na cama e tirou as botas. Decidido não ser nem mais um pouco sensato, tirou a calça, jogou na cadeira e se juntou a ela debaixo da manta. Seu corpo já estava na condição de fazer sua noite uma tortura.
— Suponho que isso é muito arriscado e perigoso, — disse ela.
— Não corre perigo comigo. Isso não era muito verdadeiro.
— Isso não é o que eu queria dizer.
— Ele virou de lado e apoiou a cabeça na mão.
— Isso ajuda a não ficar sozinha. Estou contente também, por estar comigo manhã. Não acho que eu poderia fazer de outra maneira.
— Você pode fazer algo se decidir que é importante. Já demonstrou.
— Não acredito que seja verdade. Se pensar nisso nunca atuei sozinha. Sempre há alguém para me ajudar. Mas não desejo pensar ou falar mais disso nessa noite.
— Do que prefere falar então ?
Ela se levantou sobre seu cotovelo. — Que a mágica luz do fogo, dá um brilho especial aos contornos de seu rosto, como se fosse uma pintura. Estendeu sua mão e riscou uma linha ao longo de seu nariz, sobre seus lábios e desceu pelo queixo. O desejo começou a percorrer através dele. O toque de Pen riscava linhas sobre seus ombros e nos músculos de seu peito. Moveu a manta para baixo com sua mão.
— O que está fazendo Pen?— disse ele com voz contida.
— Você me olhou, eu desejo olhar você. É mais atlético do que esperava. Não duvido que os remos podem explicá-lo. — Seus dedos percorreram em cima de uma linha áspera em seu lado esquerdo. — Como fez essa cicatriz? — É muito longa.
— Fiz isso alguns anos atrás em Hampstead.
— Não compreendo como um jogo de espadas na Sociedade do Duelo, pode ser tão perigoso.
Ela se referia ao grupo de amigos de Laclere, que se reuniam na casa de Chevalier para praticar com espadas e pistolas. Julián fez parte deste grupo da universidade e ainda se reunia com eles ocasionalmente, para continuar com sua velha camaradagem.
— Todos temos alguns arranhões. As espadas fazem isso.
— Isso é mais que um pequeno arranhão. — Sua mão traçou a cicatriz até o final sobre seu quadril. Seu corpo reagiu proeminente. Ele moveu as mãos dela para trás e suprimiu as surpreendentes imagens que conquistavam sua cabeça nesse momento.
— Está fazendo isso perigoso, apesar de minhas boas intenções. Inclusive, os velhos amigos não são de pedra. Não sou todo o tempo completamente sensato.
— Não, não é. O que é um descobrimento muito interessante. Seus dedos e seu olhar se moveram em cima de seu abdômen.
Ele pegou sua mão, segurando. — Está tentando me seduzir Pen?
— Não completamente, sussurrou. — Suponho que estou devolvendo o dragão para sua guarida Julián. E estou lembrando, que também há bons momentos, bons amigos e que não estou arruinada para tais coisas.
Bons momentos, mas não com ele. Outro lhe tinha mostrado que não estava em ruínas, muito antes que Julián Hampton a beijasse.
Ele sabia muito bem, como fazer que todos os dragões se retirassem. Ponderava se ele se atreveria a fazer isso e se teria a contenção que ela esperava. Não desejava mais jogos sexuais incompletos. Fazer amor na praia tinha sido precioso, mas não desejava ser um mais dos homens que roubavam carícias e beijos através dos anos. Homens que podia esquecer facilmente e ser relegado de uma lista frívola de jogos de flertes, sem consequências e sem significado.
Se ela tivesse permanecido ali tranquilamente, poderia ter continuado com seu bom senso. Mas ela se virou um pouco e seu quente fôlego caiu sobre seu peito e de repente, ele queria o que poderia obter se não o fizesse.
Uma antecipação sensual alagava o silêncio entre eles. Sua mão ainda descansava sobre sua pele debaixo da sua. Levantou-a e a beijou na palma da mão e sobre o pulso.
— Vamos pôr os dragões para dormir nessa noite se quiser.
Ela virou a cabeça e o olhou.— Não é justo para você, certo? Como disse antes, inclusive os velhos amigos não são de pedra.
— Não é única coisa que quero. Não vou mentir a respeito disso. Mas será suficiente.
Levantou-a e moveu sobre suas costas, que de tal forma era a única recebia os brilhos do fogo moribundo brilhando em cima dela. Deslizou seu gorro e seu cabelo caiu livremente para baixo. Ele tentou lembrar quando tinha sido a última vez, que a tinha visto com o cabelo solto. Anos atrás quando ela era uma menina, estava certo. Entretanto, frequentemente a via desta maneira em seu pensamento. Percorreu seus cabelos até que se dispersaram no travesseiro. Tirou os laços dos arcos que mantinham a camisola fechada. Ela olhou seus dedos por debaixo dos grossos cílios com as pálpebras abaixadas.
— Você me deixa sem fôlego Julián e sequer me deu um beijo ainda.
— Então você vai ficar sem fôlego quando eu tirar isso.
— Totalmente?
— Sim. Afinal de contas, havia esperança que isso pudesse acontecer completamente nessa noite, pensou ele.
Ele levantou seu ombro para que pudesse deslizar para fora a roupa ver algumas polegadas mais de seu corpo. Seu aroma lhe disse que havia despertado sua libido ao despi-la, pois sua expressão era de uma mulher que estava na metade do caminho para o êxtase. Ela estava certa sobre o fogo. Tinha desenhado uma linha brilhante em seu corpo. Ele fez como ela tinha feito com ele, traçou seu rosto, pescoço e depois ao longo de seu peito e a curva de seus seios. Seus mamilos rosados se ergueram quando seus dedos os cercaram e suas costas se arquearam sutilmente. Sua respiração era mais audível agora.
Suavemente circulou um mamilo com os dedos. – Você é muito bonita Pen. Não posso imaginar paixão mais bonita que a sua. A mão dela pressionou sua nuca para baixo para aproximá-lo de seu rosto.
Não só o dragão dorme quando fazemos isso Julián. Morrer por um tempo. É como se eu fosse uma garota outra vez em Laclere Park e nada feio e triste tivesse acontecido.
Suas palavras o tocaram.
– Então voltaremos a Laclere Park Pen. Para quando eras uma garota e eu um rapaz. – Ele beijou seu rosto.— É primavera, voltei ao lago e encontrei você ali sozinha, sentada no meio das flores.
Ela riu baixinho e fechou os olhos.— Sim, é primavera. É um dia quente, com céu azul e grandes nuvens brancas. Há juncos em baixo das árvores. As folhas de carvalho, não estão no entanto. Onde estão meus irmãos? Por que você está sozinho?
— Eles se foram com o mordomo comprar um cavalo. Eu escolhi ficar para trás.
— Para me ver sozinho?
— Possivelmente. Se você quiser.
— Acho que foi por a caso. Um impulso. Nós somos jovens a final. Não acredito que devemos falar de uma sedução calculada.
— Atualmente, em minha história você me seduz.
Ela reagiu assombrada, mas um pequeno sorriso se derreteu em seus lábios. — Sou muito travessa…
— Bom, não é nada novo. Quando conheci você, estava subindo o vestido à cintura para poder entrar no lago e tentar pegar peixes com as mãos, assim foi em um verão em que eu e Vergil lhe encontramos.
— Minha preceptora me fez permanecer em casa por uma semana, quando cheguei em casa com os pés enlameados. Se eu levantar minha saia para entrar no lago, você vai ver muito das minhas pernas, não acha?
— Ele deslizou a manta, para ver todo seu lado esquerdo até os dedos de pé. Observava enquanto acariciava sua pele sedosa a até o joelho.— Muito. As pernas mais belas. Estou encantado.
— Então, depois de brincarmos no lago, nos beijamos. — ela sussurrou. — É meu primeiro beijo de verdade. Ele a beijou.
Ela levantou o olhar e passou seus dedos no rosto dele.
– E para você? É seu primeiro beijo de verdade Julián?
— Sim, Pen. É minha primeira vez.
— Fico feliz. Beija-me outra vez Julián.
Ele já não era tão jovem, mas poderia fazer. Ela não era realmente sua primeira vez, mas ele a acariciava com sua mão, como se nunca tivesse tocado outra mulher. A diferença estava em seu coração. Cada beijo era novo e perfeito, uma revelação de emoções enterradas há muito tempo, assim como não poderia ter futuro para eles, no passado tampouco houve. Ela só desejava matar os dragões por uma noite, mas a alma de Julián se sacudia com o que estava acontecendo.
Seu corpo rugiu com impaciência, mas seu coração desejava um passo à eternidade. Ele controlava sua fome e a beijava lentamente, escutando cada pausa e cada resposta que lhe dava. Pequenos mordidas em sua orelha a fizeram estremecer. Beijos no pescoço a fez ofegar. Durante um longo e profundo beijo ela se uniu a ele, aventurando-se a fazer sua própria invasão, pouco a pouco dentro de sua boca, lhe fazendo saber que ela não era tão passiva. Ele beijou um seio e acariciou o outro, em transe por sua suavidade. Memorizando a sensação de sua pele entre seus dedos, sua boca e um lado de sua loucura estava cada vez maior. Um sonho de êxtase marcava sua expressão e seu respiração ofegante fluía em seus ouvidos.
Ele se levantou sobre ela, para poder ver seu rosto e para lembrá-la sempre. Acariciou seus duros e eróticos mamilos, enquanto observava com alegria seu prazer. Ela abriu seus olhos. Parecia envergonhada por ele ver suas reações, mas depois pode ver como o calor entrou em seus olhos.
— Você gosta de ver o que me produz?
— Sim.
O olhar dela baixou lentamente sobre seu peito. — Então não se importará se eu jogar também. O justo é justo.
Suas palavras infantis, o lembraram a fantasia que tinham compartilhado. Entretanto, não era a mão de uma menina, que se movia para baixo de seus ombros acariciando seu corpo. Sua carícia o fez apertar os dentes. Chamas ardentes atravessaram seu sangue e queimavam sua cabeça. Ela foi se aventurando cada vez mais abaixo e sua cabeça começou a estalar. Em seguida ela tocou seu membro ereto em sua cueca e deslizou suas mãos para dentro para acariciá-lo. A excitação dele se transformou selvagem e perigosa, mas ela se manteve lírica e luxuriosa. Ele baixou sua cabeça para lamber e chupar seus apertados mamilos de veludo. Firmou o corpo dela com sua mão, acariciando suas suaves curvas para deliberadamente obrigá-la ao abandono.
Ela mordeu seu lábio inferior e ele pôde ver como uma poderosa tensão pulsava através dela, como se cedesse ao controle de suas reações.
— Talvez, possivelmente não tenha que ser só “o suficiente” esta noite Julián. Só que dessa vez, talvez...
Ele a olhou aos olhos, mal se atrevia a respirar, muito menos a falar. Entretanto, seu corpo não ficou em silêncio. Gritou com ânsias caóticas que o liberasse de suas tênues ataduras.
— Possivelmente, se formos cuidadosos afinal não tem que ser tão injusto, — disse ela.
Um bom amigo não deveria lhe permitir decidir isso agora, aqui, enquanto ele sentia um atraente prazer. Um homem honrado não podia lhe permitir abandonar o cuidado de toda uma vida, especialmente em uma noite, quando as lembranças a tinham deixado tão vulnerável.
Mas seu próprio desejo o empurrava para muito longe de ser bom e honrado.
— Posso assegurar que seremos cuidadosos. — De algum jeito encontraria força para cumprir essa promessa
— Tem certeza Pen?
— Acho que vou morrer se não fazemos. — foi toda sua resposta.
Ele a levou mais à frente do pensamento, além de todo julgamento. Afogou-a no prazer para assegurar-se que não pudesse mudar de opinião. Seus gritos se fizeram frenéticos. Quando ele a acariciou mais acima, entre suas pernas e a tocou intimamente, ela se uniu a ele em um estado de paixão onde não havia nada cuidadoso, lento ou contido. Compartilhavam e negociavam, agarravam e mordiam entre beijos e carícias mais eróticas.
— Sim, — sussurrava ela uma e outra vez até transformar-se em uma desesperada melodia de assentimento e desejo. Ele se moveu em cima dela. Outro “Sim” fluiu em seu fôlego, mas de repente se tornou envergonhada estranha, como se não soubesse o que fazer agora. Uma nota diferente soava em seus suspiros.
Ele a desejava tanto que mal podia pensar, mas sua sutil vacilação restaurou um ponto de calma em meio de sua fúria.
Com seus corpos apertados, de coração a coração, ele a olhou aos olhos, mais à frente do desejo e viu a vulnerabilidade que quase tinha esquecido no calor da paixão.
— Está assustada Pen?
Ela o olhou.
— Não precisa ficar. Eu nunca a machucaria. Ele abriu suavemente suas pernas. Entrou devagar, como se fosse realmente uma virgem na pequena fantasia que havia começado tempo atrás.
Ela reagiu como se fosse, com surpresa e mal estar inicial. Na continuação, seu corpo se relaxou e ela o aceitou profundamente.
Era sua vez de ser surpreendido. A sensualidade era o de menos. Uma profunda alegria impregnava seu ser e o intimidava. Fechou os olhos e saboreou todas as sensações, sem se mover. Nunca esteve tão totalmente vivo em um momento de sua existência.
Quando levantou suas pálpebras, Pen o olhava com uma expressão preocupada que tocou seu coração.
— Estou bem agora,— sussurrou. – Ficou quieto tanto tempo, que pensei que você não conseguia seguir adiante com isso, com medo de mim.
— Eu não sou tão cavalheiro para fazer isso. Só estava desfrutando da sensação de sentir você.
— Oh. Igual o olho na tempestade, quis dizer.
— Suponho que sim.— Ele sabia disso. Como os ventos começavam a uivar de novo.
Se manteve a raia da loucura, tanto como podia. Se retirou e empurrou lentamente, desfrutando da deliciosa sensação e dos suaves suspiros de suas respostas. Se ajoelhou e se apoiou sobre seus braços para poder ver seu rosto, seu corpo e olhar abaixo como eles se uniam. Seu corpo não o deixaria continuar assim por muito tempo. A urgência por terminar forçava suas demandas. Equilibrou seu peso em um braço, agachou-se e deslizou seu dedo em sua fenda para acariciar seus clitóris. Foi a tormenta dela que guiou o restante. Seus gemidos falavam de como o prazer a desenquadrava. Seus movimentos o apertavam mais a cada vez. Seus quadris subiam e desciam procurando ansiosamente o alívio. A própria paixão dele se tornou tão intensa e selvagem na resposta, que começou a levantar em um pico. Ele endireitou suas pernas e as apertou juntas debaixo das suas.
– Não se mexa – quando empurrou a outra vez, os dedos dela se cravaram em seus ombros encontrando a pressão que o acariciava mais eficientemente por dentro.
–Sim, sussurrou ela, começando seu transe musical de novo. Ela gemeu com prazer surpreendo outra vez. Logo pequenos assentimentos exalavam com cada respiração.
Sua ascensão lhe disse o perto que ela estava e ele encontrou o controle para continuar. Quando ela amorteceu seus gritos contra seu ombro e se estremeceu com seu orgasmo, ele finalmente cedeu às demandas de seu corpo. Inclusive no meio do clímax, jamais esqueceu que era Pen quem segurava entre seus braços. Sua presença só o embriagou de felicidade da mesma forma, que fizeram suas carícias e todo o prazer que lhe acabava de dar. De algum jeito, nesse glorioso cataclismo de prazer, ele manteve sua promessa e renunciou a sua união física derramando-se fora de seu corpo.
CAPÍTULO 14
Os dragões se retiraram para suas celas durante toda a noite. Embora Pen tenha deixado os braços de Julián e voltado para seu quarto, ela não se incomodou. Somente começou a agitá-la quando o amanhecer despertou. Mesmo assim, o passado permanecia vago e distante. As más lembranças não podiam penetrar em seus pensamentos da noite.
Entretanto, quando estava colocando sua capa lembrou. Caminhando pelas escadas para unir-se a Julián na carruagem a tirou de seu estupor.
Ela estava um pouco envergonhada quando viu Julián à luz do dia. Sua saudação foi formal e correta, mas seus olhos mostravam calidez e um toque de conspiração brincalhão. Reuniu-se com ela na carruagem e saíram da cidade. Sentou-se de frente a ela, sem dizer nada, como era sua forma habitual. Ela foi quem se sentiu obrigada a falar da noite anterior.
— Não sei como me comportar hoje contigo Julián. A única coisa que posso fazer é não rir bobamente.
— Sempre pensei que era um som encantador.
— Estou surpreendida comigo mesma. Parece que sou mais sofisticada do que pensava. Suponho que minha longa abstinência teve a ver com perda de minha cabeça na noite passada.
— Não se necessita de uma longa seca para desfrutar de uma chuva de verão.
—Estou tendo dificuldades ao lembrar o quanto fui atrevida. Não acha? Alguma vez teve uma relação sofisticada antes?
— Eu sozinho tive relações sofisticadas Pen.
— Bem. Pelo menos um de nós sabe o que fazer e que dizer no dia seguinte.
Ela esperou. Depois de uma conta de cinco, uma expressão um pouco desconcertada passou por seu rosto. Então com diversão, percebeu que ela esperava que a guiasse.
— Bem Pen, normalmente, em algum momento dos próximos dias, se expressa alguma gratidão.
— Certamente, como vejo. Pois bem, então obrigada Julián.
Ele coçou sua testa, enquanto um sorriso dançava nos cantos de sua boca.
— Estou falando de expressar gratidão Pen, não isso.
— Eu assumi que ambos.
— Não normalmente.
Isso não ajudou muito a sua situação. Estava certa que havia também expectativas para a mulher. Possivelmente, ela deveria esclarecer o assunto e lhe assegurar que não haveria cenas. Ela conheceu mulheres que entendiam mal as coisas e construíam enormes expectativas sobre os romances casuais que mantinham com outros homens.
— Julián quero que saiba que, não me comportarei infantilmente, ou que ficarei implorando ou insistindo que continue com suas atenções. Não convencerei a mim mesma, de que foi outra coisa mais do que realmente aconteceu.
Seu sorriso não mudou, mas em seus olhos brilhavam luzes penetrantes.
— E que foi que “aconteceu” realmente Pen?
A pergunta a desconcertou, mas ele estava certo, era necessário esclarecer. Ela pensou no que experimentou com essa paixão antes e depois. Deixou algumas dessas reações de lado, porque não eram nada adequadas.
— Acho que foi uma noite muito especial compartilhada entre dois amigos Julián. Um momento de abandono a uma intimidade segura e sem reservas, para que eu pudesse ignorar o passado por um tempo mais. Suspeito que tais coisas sejam estranhas acontecer entre um homem e uma mulher, possivelmente aconteceu graças a nossa longa e antiga história.
Ele estendeu sua mão, levantou-a pela cintura e a colocou em seu colo.
— Extremamente estranho. Mas não tão momentânea, para que hoje eu não queira abraçá-la e desfrutar do que compartilhamos, por um pouco mais de tempo.
Ele a segurou por quase todo o caminho até seu destino. Ela se sentia grata por estar em seus seguros e solidários braços.
Essa sensação de tranquilidade acalmou a agitação que tinha pelo encontro que a esperava. Quando a carruagem deixou a estrada e foi para um caminho através de algumas castanhos, ele a deslizou de seu colo. Pararam em frente a uma modesta casa cercada por extensas plantações.
— Que bela deve ser aqui na temporada — disse Pen.
Julián pegou sua mão e a ajudou a descer da carruagem.
— A Sra. Kenworthy cuida pessoalmente. Os livros e isso, são suas grandes paixões.
— É uma mulher sábia?
— Ela era uma amiga de meu tio que o vigário e conversava com ele sobre qualquer assunto de igual para igual.
— É por isso que acha que necessitaria de Cleo?
— Não, disse.
A razão pela qual estavam ali, não podia ser ignorada por mais tempo. Seu coração começou a acelerar em um ritmo incômodo.
— Eu sabia que ela era uma mulher de bom coração e achei que podia ajudar à menina.
A criada aceitou o cartão de Julián e depois retornou para levá-los ao jardim dos fundos. Encontraram à senhora Kenworthy flexionada cortando os caules mortos de um jardim herbáceo. Ela usava um chapéu de homem feito de palha, com laço simples e um vestido largo verde sem enfeites.
Quando se aproximaram da mulher, ela se endireitou com cuidado, como se seu corpo se rebelasse contra sua atividade.
— Isso realmente é uma surpresa maravilhosa. — Seus olhos claros foram para Julián com uma cálida inspeção, como se fosse uma velha enfermeira — Julián , raramente vem por esses lugares, talvez já faça oito anos desde a última vez, que veio com seu tio.
— Se você está dizendo que fui negligente com os velhos amigos, aceito a recriminação.
Apresentou Pen e a curiosidade da Sra. Kenworthy se viu obviamente picada.
— A condessa deseja falar com Cleo, — explicou Julián.
A Sra. Kenworthy piscou com força. — Você não recebeu minha carta?
— Em primeiro de janeiro? — Sim, eu respondi.
— Mas não a seguinte? Quatro meses atrás?
— Não recebi nada, madame.
A Sra. Kenworthy de repente, não parecia rígida ou velha para nada. Uma clara nitidez se via em seus olhos.
Vamos para dentro, precisamos conversar, se você não recebeu minha carta, algo muito suspeito está acontecendo.
— O que dizia a carta?
— Cleo está morta Julián. Ela se enforcou. — Sempre soubemos que estava em perigo certamente.
A Sra. Kenworthy passou para Pen uma xícara de café. Estavam sentados em um balde na biblioteca abarrotada de livros e panfletos.
— Ela nunca esteve bem depois que chegou. Possuía uma profunda depressão. Mesmo depois de viver comigo todos esses anos, ela agia como um cachorrinho que foi chutado e expulso.
Pen lembrava a forma que Cleo tentava parecer, pequena e invisível. Podia vê-la na casa do conde em Wiltshire deslizando-se fora de uma sala, com a cabeça e os ombros encurvados.
As notícias de que Cleo estava morta a deixaram dormente. — Quanto tempo faz que aconteceu?
— Ela simplesmente se afastou desta propriedade, procurou uma árvore, a grande e velha castanha que há na próxima curva da estrada, amarrou uma corda e saltou de um tronco. Eu escrevi para Julián a respeito deste triste acontecimento. Enviei a carta através de um agente como requereu. Agora me pergunto, se realmente seria seu agente afinal.
— Não era. Não tenho nenhum agente que pudesse tê-la contatado.
A Sra. Kenworthy suspirou profundamente. — OH, querido, acho que fui muito negligente. Receio que a pobre mulher tenha morrido por minha culpa.
— Você não foi mais que generosa com ela e não foi nenhuma negligência. Entretanto, por favor me fale a respeito, desse suposto meu agente.
— Ele veio na primavera passada. Disse que trabalhava para você, que você estava muito ocupado em seus deveres, assim que o contratou para tratar de certos assuntos em seu nome. Assuntos tais como este. Você havia enviado ele para falar com Cleo, para ver como estava passando. Disse que você continuaria enviando dinheiro para sua pensão, mas que seria mais fácil se qualquer pedido ou notícia enviasse a ele primeiro no futuro.
Pen não tinha se dado conta, que Julián mantinha Cleo. Havia dito que a Sra. Kenworthy a tinha contratado em sua equipe de serviço.
— Ele se encontrou com ela? — perguntou Julián.
A Sra. Kenworthy ficou inquieta. — Sim. Permiti eles conversarem a sós. Ela era uma mulher madura e era de índole pessoal. Obviamente eu podia vê-los da janela de meu jardim. Ela não mostrou nenhuma reação a qualquer coisa que ele disse.
— Seu julgamento não pode ser criticado — disse Julián.
— Receio que você está errado. Foi na semana seguinte, que ela se suicidou. Pergunto-me agora, se foi o que esse homem lhe disse, que a levou a fazer isso.
Um sentimento sinistro se espalhou através de Pen. Tinha muito medo que a Sra. Kenworthy estivesse certa. O homem que tinha vindo foi enviado por Glasbury, sem dúvida nenhuma. Cleo poderia muito bem, ter procurado refúgio na morte se tinha medo de cair nas mãos de Glasbury novamente.
Eu gostaria de ver o lugar onde a encontraram. — disse Pen.
Julian negou com a cabeça e levantou a mão em um gesto imperioso.
— Não, milady isso somente a angustiará mais.
— Exijo ver onde aconteceu senhor Hampton.
Ela parou debaixo da velha árvore, imaginando Cleo mais velha agora, mas ainda como uma jovem vestida com roupa infantil. Ela se identificava com o desespero, que a tinha levado tomar essa decisão. Suas horríveis suspeitas se cristalizaram em palavras.
— Glasbury sabia que ela poderia apoiar minhas acusações Julián. Escreveu a Nápoles me dizendo que o acerto estava concretizado, depois do que tinha acontecido. Ele sabia que ela era uma ameaça, antes que eu percebesse isso e compreendeu, como sua morte desamarraria suas mãos.
Julián parecia perdido em seus pensamentos. Não examinava a árvore da mesma forma que ela fazia. Ele não olhava nada absolutamente.
— Meu Deus Julián, nós pensamos que o tínhamos derrotado e ele esteve observando ela a todo o tempo. Possivelmente, desde que ela foi embora. Talvez, desde que eu fui.
O senhor Hampton, o advogado estava parado aqui, mas ela sabia que não estava desativado a respeito disso. Suas reservas escondiam contemplações, que ela não podia ver, mas sabia muito bem, que não era porque ele não estivesse afetado por esta tragédia. De sua parte, ela não podia ser tão silenciosa, seu coração chorava com raiva e frustração.
— Esse homem certamente lhe disse que voltaria e ela era muito ignorante para entender que Glasbury não tinha nenhum poder sobre ela. Isso a levou a tomar essa atitude. E o conde contava com isso. Ela nasceu escrava e ainda pensava como tal. Depois de provar a liberdade e a segurança, certamente desejava morrer antes de aceitar as algemas de novo. Eu teria feito isso também.
— Não acho que foi isso que aconteceu. — Seu tom de voz a fez virar para ele. Ele estava muito aborrecido. Perigosamente furioso. — Esse homem não lhe disse que veio a pedido de Glasbury Pen. Disse que veio de minha parte. A inconsistência pode ter vindo quando Cleo falou com a Sra. Kenworthy, algo que havia lhe dito e fez em meu nome.
Ela temia que ele estivesse correto. Se Julián tinha enviado uma mensagem a Cleo lhe dizendo que retornaria, ela não teve mais nenhuma esperança. A não ser olhar para o velho castanho em volta do caminho. Não qualquer árvore. Uma muito grande e antiga, conhecida por toda as pessoas da região. Por que escolheu esta árvore? Um calafrio percorreu Pen pela espinha dorsal. Cleo não foi ali para suicidar-se, a não ser encontrar-se com o agente do Senhor Hampton, quem a levaria dali para outro lugar seguro. Por isso, a Sra. Kenworthy não tinha visto nenhum gesto de tristeza naquela conversa.
Pen estava errada em suas suposições, Glasbury não tinha visto Cleo todos esses anos, entretanto ele esteve procurando ela e na primavera passada, a encontrou finalmente. Pen pensou a respeito, do que ela conhecia do caráter verdadeiro de Glasbury. Viu sua casa com os servos escravos e viu sua expressão, enquanto a feria na casa de praia. Ele poderia ter feito isso? Contratar alguém para matá-la? Sua cabeça desejava desprezar essa ideia, mas seu coração conhecia a verdade.
— Julián, quando negociou minha liberdade com Glasbury o que ele lhe disse?
— Falei-lhe de seu abuso com os servos, especialmente da garota. Disse a ele que se não a libertasse, você se divorciaria dele e isso tiraria a luz tudo o que acontecia ali e os crimes que ele havia cometido.
— Especificou que esses crimes foram além do uso de Cleo?
— Não foi necessário. Ele entendeu. Sabia que um homem não podia ter escravos na Grã-Bretanha, nem legalmente ou na prática. Ele sabia que seria desprezado publicamente, se soubessem sobre a pequena plantação que tinha em Wiltshire.
Teria sido suficiente? Que soubessem que praticou outros crimes, alguns maiores que provocariam uma queda maior de escândalo e desprezo, se caísse ao conhecimento? E se Cleo havia visto muito mais que ela a condessa de Glasbury ? Ela afastou-se para que Julián não visse o horror que seus pensamentos lhe estavam provocando.
Glasbury havia matado Cleo. Ela estava certa disso. Ele pode ter estado procurando por anos, desde que tudo começou para poder eliminá-la. Cleo havia mudado para lá em nome de Julián e foi assassinada.
Pen de repente, se sentia terrivelmente vulnerável, inclusive com a presença de Julián , não podia se sentir protegida. Mas ela não experimentou o pânico. Nem o terror. Com certa calma, percebeu o que realmente agora enfrentaria.
Glasbury poderia ter êxito e forçá-la a voltar ou também poderia matá-la, assim não haveria continuação de seu acordo. Ela não ganharia nenhum divórcio com sua história, mesmo se o provocasse a divorciar-se dela. Ela se virou para olhar a Julián, mas com medo visceral. Se Glasbury descobrisse o que aconteceu na noite anterior, o que poderia fazer? Uma queda do penhasco, enquanto Julián visitava sua casa de campo? Um acidente a cavalo, enquanto galopava para Hampstead?
Ela esteve preocupada com a reputação de Julián e seu sustento.
Teria que ter se preocupado com sua vida.