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CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.
CONTINUA
CAPÍTULO 15
Já tomei uma decisão Julián. Já sei o que vou fazer.
Ela tomou coragem para abordar o assunto de novo em Grossington, depois de seu jantar no refeitório particular da pousada.
Catherine comeu rapidamente, depois se retirou, alegando uma dor de cabeça. Pen suspeitava que sua companheira não dormia muito bem e se deu conta da sua saída e entrada na noite passada. Agora queria dar aos amantes um tempo sozinhos.
Julián fez um gesto para se dispensar a criada, que esperava para ver se estavam cômodos. Quando ficaram sozinhos pegou sua mão. – Qual é sua decisão?
Seu coração se encheu de triste e nostalgia. Nesta manhã estava segura, que a noite passada não foi um erro, mas agora se dava conta que sim, tinha sido.
Não só pelo perigo que Julián sofreria com Glasbury. Não havia percebido, o quanto se sentia próxima e quanto difícil seria negar o que tinham compartilhado.
— Eu tenho que ir embora Julián. Como inicialmente havia planejado. Se Glasbury foi tão diabólico com Cleo, se ele causou sua morte, não vai ser só comigo. Não é um homem que age e pensa normalmente, ou cuja honra e a consciência, fazem restrições normais.
Ela esperava uma discussão. Em vez disso, ele só olhou para sua mão, enquanto o polegar acariciava suas costas.
Esse toque continha tudo o que havia conhecido. Ela se concentrou em não esquecer jamais essa sensação. Cada minuto de sua amizade estava sendo estampado, em essa discreta carícia.
— Bianca me falou que tem amigos em Baltimore. Vou para lá e pedirei sua ajuda, até mesmo Laclere pode organizar algo para mim.
— Eu não permitirei que saia semeando esperança, na caridade de pessoas que você não conhece.
— Não é você que vai permitir ou proibir Julián, — disse brandamente.
Viu um lampejo de raiva em seus olhos. Mudou de uma pressão leve para possessiva em seu toque, como se estivesse querendo dizer que, não ter direito era um insulto para ele.
Esse era outro motivo, pela qual a noite passada foi um erro. Não acreditava que os homens podiam dar conselhos honestos as mulheres que eram suas amantes, mesmo que união tivesse sido marcada por uma amizade, ao invés de uma união apaixonada.
— Pen se o que aconteceu com Cleo, a fez ficar com mais medo de Glasbury é compreensível. Disse à você, que jamais permitirei que ele a machuque e eu disse a sério.
— Eu sei disso Julián. Continuo pensando que seria melhor eu ir embora. Porque você me protegerá, inclusive se colocando em perigo. Não só por causa da noite passada, mas por todos os nossos anos de amizade e o dever que você pensa que tem comigo. Por causa daquelas tardes quando éramos crianças em Laclere Park.
E se Julián Hampton enfrentar o conde de Glasbury agora, o conde tratará de tirar de cima esse problema.
— Se você está decidida, então assim é como acontecerá. Entretanto, você não irá sem um centavo. Sobre isso vou me manter firme. Amanhã vou contratar uma carruagem e viajarei a Londres. Vou trazer o suficiente para que você possa viver de forma normal. Insisto nisso Pen. Vai demorar somente alguns poucos dias.
Havia prometido deixá-la tomar a decisão e estava fazendo... Mas em seu coração, ela desejava que não aceitasse com tanta calma. Ela desejava que tivesse tentado de dissuadi-la de um jeito que não podia.
Estava ocupada nessa confusa decepção que turvava suas emoções.
No máximo, poderia ter sido um romance de conveniência se ela não partisse. Uma ilusão temporária, para forçar a mão do Conde. Se terminasse depois de uma noite, ou em vinte anos, realmente não faria nenhuma diferença. Só que teria tido com muito gosto os vinte anos. A apreensão em sua alma lhe dizia que ir embora seria muito duro de muitas formas, mas especialmente porque isso significava que não veria mais, seu querido amigo de novamente.
— Suponho que mais alguns dias não farão diferença.
— Pode ficar aqui, ou na casa da Sra. Kenworthy, o que você preferir. Eu acredito que estará segura em qualquer dos dois lugares...
—Eu gostaria de ficar com a Sra. Kenworthy se ela nos receber.
A respiração de Catherine marcava a passagem dos segundos e dos minutos, enquanto Pen permanecia em sua cama nessa noite. Ela estava lembrando de novo. Não de Cleo ou de Glasbury. Esse dragão estava escondido profundamente nas sombras da noite, sabendo que ela podia abandonar sua guarida e ficaria esperando para devorá-la. Mas nessa noite, seus pensamentos eram diferentes. Belos e tristes ao mesmo tempo. Lembranças de Julián de anos atrás até a noite passada. Seu olhar em uma festa quando ela enfrentava o desprezo da sociedade lhe dando tranquilidade para ficar segura. Parado na biblioteca de Laclere Park, cercado familiarmente como um vaso ou uma cadeira. Olhando-a com seu rosto transformado pela paixão, tão masculino e severo, tão gentil e quente ao mesmo tempo. Ele não havia dito ou feito, nada que sugerisse que poderiam repetir a indiscrição da noite anterior. Tinha permitido que ela fosse embora, sem nenhum comentário ou olhar especial, aceitou o que na última noite havia tomado e o que lhe ofereceu e nada mais, uma noite para consolá-la e distraí-la.
De manhã ele partiria para Londres e sequer sabia se seria seu último adeus.
Ela se sentou na cama, o silêncio da estalagem pendurava ao redor dela. A respiração de Catherine permanecia firme e profunda. A noite passada foi um erro por muitas razões e não deveria se repetir. Ela sábia disso, mas seu coração se entristecia tanto, que ela precisava estar pelo menos, uma última vez em sua presença nesta noite. Deslizou para fora da cama e caminhou alguns poucos passos até a porta de Julián. A porta estava entreaberta e ela abriu mais. Ele estava parado perto do fogo, seus braços tensos sobre o suporte da lareira e seu olhar descia para o fogo. Sua luz enviava reflexos de ouro sobre sua camisa. Parecia tão romântico e tão bonito sem seu terno e gravata, com seus cabelos escuros revoltos, seus olhos escuros e perigosamente intensos.
Ela entrou e fechou a porta. O pequeno som chamou sua atenção. Seus braços caíram da lareira. Virou-se e a olhou.
— Não achei que você viria.
— Não tinha certeza que você me desejaria aqui.
— Sempre vou desejar você.
Ele não se aproximou dela. Permaneceu justo onde estava, olhando-a tão maravilhosamente que seu coração bateu com força.
Não tenho medo nessa noite. — Disse ela para encher o silêncio que pedia por… algo.
— Tomar uma decisão fez eu me sentir mais livre do que imaginava.
— Fico feliz. Veio para me contar isso?
— Não sei porque vim.
— Não sabe?
Sim, ela sabia, mas achou que amanhã seria muito difícil. Ele estendeu sua mão. Ela caminhou os poucos passos para colocar a mão nas suas. Assim que se tocaram, a fria resistência de Julián quebrou. Atraiu-a para ele e a abraçou com seus possessivos braços.
Havia um pouco de suas carícias da noite passada em sua paixão. Seus beijos não atraíam, mas sim pediam suas carícias e exigiam o corpo dela, de uma forma que não permitia negação, seu calor a incendiava e em poucos segundos ela estava gritando, primeiro por atordoamento e depois pela excitação selvagem que fervia dentro dela.
Não houve palavras ou pedidos, não havia ilusões como na noite passada. Eles não eram jovens que experimentavam sua primeira vez. Eram um homem e uma mulher afligidos um pelo outro. Ela abandonou a si mesma no delicioso prazer. Ela recebeu com satisfação os beijos que consumiam seu pescoço, boca e suas seguras passadas de mãos pelo seu corpo. Ela se inundou nessa primitiva fúria, com a segurança que estava a salvo apesar do perigo.
Desejava-o muito, quase violentamente, ela usava sua boca, sua língua e suas mãos para dizer-lhe e intensificar o ardor entre eles. Tirou-lhe a camisa, ansiosa de remover tudo e poder senti-lo. De algum jeito ele conseguiu tirar tudo, em meio de seu aperto, lhe dando pequenos beijos e mordidas. Ela pressionou sua mão em seu peito e seus lábios também, com força, como se quisesse deixar sua marca quente e deixar sua pele, seu sabor gravados em sua memória para sempre.
Ele a abraçou, olhando que ela estava fazendo. O poder não diminuiu nesse intervalo. Ela sentiu ser levantada contra ele, em voz alta a fez segurar-se nele ele. Deslizou-a para fora de sua camisola e terminou de despir-se até ficarem nus em frente ao fogo. Ela estendeu uma mão entre seus corpos para tocar a ponta de seu excitação. Como se isso tivesse sido um desafio, ele a acariciou ali onde pulsava sua fome fazendo todo seu corpo tremer.
Começou a enlouquecer, a desesperar-se e a perder a segurança de seu mundo. Desejava que ele estivesse dentro dela e nada mais. Em sua loucura deve ter sussurrado, mas não escutou falar.
— Logo, — murmurou ele.
Ela esperou que a levasse para a cama, ao invés disso virou-a e ela ficou olhando para o fogo quente e brilhante que morria. Beijava-a atrás, lhe dava beijos quentes no pescoço provocando incríveis tremores, que a faziam inclinar seu traseiro contra ele contorcendo-se languidamente em seus braços. Ele a acariciava livremente, maravilhosamente, suas mãos se moviam devagar, fazendo traços deliciosos em seus seios, barriga, em seus quadris e coxas.
Um luxuoso prazer agarrou-se nela em deliciosas ondas. Sentindo-se tão bem, que ela não conseguia resistir. Incrementava sua impaciência, assim como fazendo-a desejar que nunca terminasse. Ele levantou suas mãos na borda da lareira e puxou seus cabelos sobre seu ombro. Ela entendeu o que ele tentava fazer, seu assombro foi eclipsado por uma erótica excitação que fez tremer seu corpo. Ele acariciou suas costas para baixo e até a parte inferior.
— Você é tão bonita que faz meu coração parar. — Suas mãos agarraram seus quadris e ele entrou, parou um pouco, apenas se uniu criando uma plenitude tentadora que brincava com ela a deixando quase louca. Ela fechou os olhos, enquanto o sabor da satisfação se transformou na única realidade. Sentindo muito claramente.
Sua carne palpitava com a deliciosa tortura. A sensação tornou-se poderosa demais para suportá-la.
Finalmente, ele empurrou profundamente. A perfeição a fez gemer. Ele colocou a mão ao redor de seu corpo a onde seus seios formigavam, sensíveis ao ar e ao calor do fogo. Ele acariciou suavemente as pontas, enviando um prazer intenso onde eles estavam unidos. Ela não conseguiu conter-se. Agarrando a beira da lareira arqueou as costas, se submetendo totalmente as culminantes sensações que a levaram a felicidade do mais puro prazer.
Ela se aconchegou nele na cama. Ele a levou até ali fazia algum tempo, mas o estupor de sua paixão havia se dissipado naquele momento. Ela desenhava linhas com seus dedos no braço que a matinha abraçada.
— Quantos romances sérios você teve antes de mim Julián? — Ele pensou a respeito dessa estranha pergunta. Possivelmente, ela desejava encher o grande vazio que tinha sobre o que conhecia da vida dele, desde que se transformou no Sr. Hampton.
— Suponho, que alguns homens podem ter em conta, mas eu não. Não há ninguém que realmente me interesse ou eu a ela. O ruim disso era que tinha tentado fazer desse assunto, como um homem jovem convencendo assim mesmo, que tinham tido grandes paixões. Eventualmente e rapidamente, teria que admitir em sua alma, que estava mentindo a sua amante e a si mesmo. Era durante momentos parecidos como este, que não podia negar o vazio emocional que lhe deixavam esses romances. Era uma desonra tomar uma mulher e ter claro dentro de sua cabeça, que desejava estar com outra.
— Então, os que você teve foram encontros frívolos e não só sérios, — disse ela.
— Temos algo em comum.
— Nem um pouco.
— Certo. Eu não tive romances realmente.
Não era sobre isso que ele se referia.
— É por isso que nunca se casou? Por que não há ninguém que realmente o interesse?
Ele não estava certo se desejava ter essa conversa com ela.
— Depois que você e seu irmão casaram estive considerando, parecia que já era hora de me estabelecer. Mas meu interesse não durou o suficiente. Então finalmente concluí, que não fui feito para o casamento.
Cada palavra era certa, mas incompleta.
—Não lembro de você no mercado matrimonial. Nunca o vi cortejando as garotas. Seus amigos não lhe apresentaram algumas?
— Aconteceu, mas não foi na sociedade. Os advogados procuram suas esposas em outros círculos. Círculos mais baixos, filhas de viscondes não eram para eles. Isso não seria aceito e ele sabia muito bem, que isso nunca deveria ser dito.
Pen não fez mais pergunta no momento, estava ocupada com seu dedo riscando figuras totalmente distraída. Encontrou caminho novamente para a cicatriz ao lado da cintura.
— Quem fez isso foi meu irmão? Deveria ter sido mais cuidadoso.
— Foi outro membro de nossa equipe.
Seu toque o levou de volta no tempo, imagens do dia em que recebeu a profunda ferida. Havia combinado um encontro com Witherby na academia Corbet, em um dia que sabia que Chevalier não estaria ali. Só tinha em mente ter uma conversa a respeito de suas suspeitas. Ele estava esperando já preparado. Julián caminhou pelo longo corredor e viu Witherby praticando seus passos e movimentos, com sua espada na mão. Ele esperava que Witherby tivesse suas próprias razões para ter aceitado vir.
— O que foi todo aquele drama aqui com Glasbury na semana passada?— Witherby disse quando começaram a simulação da luta. — Parecia que estava lhe acusando de algo.
— Estava errado em suas suspeitas sobre mim. Entretanto, alguém tem evidências e sabe de coisas que não deveria saber.
A espada de Witherby fez um elegante bloqueio na de Julián.
— Bem, os segredos eventualmente são descobertos.
— Somente quando alguém fala deles. Neste caso acho que alguém falou com você.
Witherby parou. Uma dura expressão mascarava seu rosto, quando voltou à luta. Seus olhos guardavam uma frieza, que Julián jamais viu antes.
— Tenha cuidado homem, o que quer dizer?
— O que esperas que eu diga, só duas pessoas conhecem os segredos do conde. A condessa e eu. Eu não falei com ninguém, isso significa que foi ela quem fez, ela lhe disse isso.
Witherby riu, deu uma volta em sua espada no ar e tomou posição novamente. Eles se engajaram na luta de novo.
— E porque ela me diria isso? É mais provável que o fizesse com um amigo.
— Disse-lhe isso, porque você a seduziu. — Colocá-lo em palavras, escureceu seu ânimo e aguçou sua habilidade. — Ela confiou em você como seu amante. Só que você viu uma forma de ganhar dinheiro, chantageando o conde com o escândalo. Não há outra explicação Witherby. Não há nenhuma desculpa, para uma violação tão desonrosa de confiança.
O sorriso de Witherby se transformou em zombaria.
— Não pode provar.
— Só preciso lhe perguntar se você disse isso.
— E eu só preciso lhe dizer que fique quieta e ela fará. Qual de nós dois acredita que lhe dará sua lealdade? A espada de Witherby se fez instantaneamente mais agressiva.
— Permaneça fora disso Hampton. Não se atreva a interferir.
Uma tempestade rompeu na cabeça de Julián e sua espada atuou de acordo. Eles já não estavam lutando por esporte, a não ser em um duelo. O barulho do aço ressonava na sala vazia. Os esforços de seus combates os levaram a uma dança cada vez mais mortífera. A espada de Julián roçou o braço de Witherby. O primeiro sangue foi derramado. Julián deu um passo atrás e olhou atento a linha vermelha e fina. A prudência retornou. Witherby olhava fixamente e atônito sua ferida. Julián baixou sua espada.
— Afaste-se de qualquer contato com o conde e eu não direi nada a respeito disso.
— Você está tratando de proteger a si mesmo de suas suspeitas, ou a esse porco de seus crimes?
— Só desejo proteger à condessa, não desejo que ela descubra que a usou tão vil.
Julián se virou para partir, de repente uma dor quente cortou de seu lado, cambaleou e viu os olhos de loucura de Witherby em seu rosto vermelho. De algum jeito, encontrou a força para defender o desafio mortal que se realizou. Deixou sua própria fúria solta e manteve a dor a raia. Com um ataque implacável levou Witherby contra a parede até que não tivesse lugar para se mover. Witherby soltou sua espada e tratou de afundar-se na parede. Julián colocou a ponta de sua espada em seu pescoço e lutou contra a primitiva vontade de matar. Por alguns instantes só suas respirações profundas soavam. A luxúria de sangue passara, mas não totalmente. Ele não conseguiu resistir a vontade de cravar na pele do pescoço de Witherby, onde mostrou-se um pouco mais vermelho. Logo baixou sua espada e lançou seu punho esquerdo no corpo de Witherby. Seu oponente caiu no chão.
A luta não tinha deixado o descarado derrotado ainda, sorrindo se levantou dobrado em seu estomago. — Nunca o vi tão apaixonado Julián. E eu que pensava que era feito de gelo. Você espera que ela viva toda sua vida sozinha igual a você, assim poderá vê-la de longe com a alegria de que nenhum homem a tenha?
Julián se afastou caminhando. — Se a ferir, vou fazer você lamentar. Se voltar a traí-la, matarei você. Essa advertência fez Witherby parar. O conde não voltou a receber pedidos anônimos de dinheiro. Mas a desonra de Witherby foi além de tudo e Pen saiu ferida efetivamente.
— Outro membro causou essa cicatriz? Pen perguntou, fazendo ele retornar ao presente. — Não acho que tenha sido St. John ou Adrian Burchard. Eles estão muito capacitados para tal falta de cuidado. Ela de repente parou, como se seu processo de eliminação a tivesse feito chegar a uma conclusão aterradora, como se tivesse ouvido seus pensamentos do que aconteceu nesse dia em Hampstead.
— OH, meu querido Deus. Ele fez isso porque você adivinhou o que ele estava fazendo. Podia ter matado você.
— Podia ter feito, mas não fez.
Não, ele não tinha feito, Pen considerava isso, enquanto tocava sua cicatriz mais uma vez, Julián fez soar como se tivesse sido generosidade por parte de Witherby, mas ela não achava que tivesse acontecido dessa forma. Não acreditou que Witherby tivesse ganhado essa luta de espadas. Ela abraçou o homem que tinha enfrentado quem a tinha enganado todos esses anos atrás. Passou seus braços ao redor dele e pressionou seu rosto em seu peito.
Era pecaminoso ela ter vivido esse tempo todo, sem saber como ele tentou protegê-la.
A passagem do tempo de repente, apertou sobre ela. Ela sentiu os minutos e as horas se foram voltando ao passado e com ela a doce intimidade. Estava com medo do amanhecer e da partida dele para Londres. Respirou profundamente para poder lembrar de seu perfume. Ela apertou os lábios em seu peito e memorizou seu sabor. Ele tocou em sua cabeça e abaixou a dele para que ela pudesse beijá-lo.
Sua paixão não era selvagem nesse momento, mas lenta e comovente. Ele a moveu para cima dele, montando em seu quadril e sentou com ela que pudesse olhá-la, enquanto acariciava seu corpo. Ela olhou para baixo e tocou cada centímetro de seus musculosos ombros e seu peito, enquanto suas fortes mãos, acariciavam seus seios.
Sua excitação se construía acentuadamente. Perfeitamente. Ele não tinha pressa. Ela tinha plena consciência, de cada prazer que causava com cada carícia. Era tudo tão maravilhoso e triste que queria chorar. Ele levantou seu quadril e depois a baixou sobre seu membro até que os dois estivessem unidos. Ela se inclinou para lhe dar um beijo, e depois falou como uma carícia na curva de seu pescoço.
— Julián, disse que o ato sexual não havia realmente importado para você ou para suas amantes.
— Sim.
— Quero que saiba que não dessa vez. Quero que saiba que realmente me importa muito isso que temos compartilhado.-
Ele a levantou o suficiente, para que pudesse ver seu rosto.— Como é para mim Pen.
— Fico feliz Julián. Estou agradecida por sermos os primeiros nisso. É muito especial ter isso com um bom amigo em quem se confia plenamente.
Um sorriso estranho apareceu na boca de Julián.
— Sim, um bom amigo.
Ele a levantou trazendo a frente para que pairasse sobre ele. Sua língua acariciou um mamilo e seus dedos brincavam com outro.
— Agora chore por mim querida, assim não ouvirei outra coisa em todo o caminho de volta a Londres.
CAPÍTULO 16
— Você vai dizer para onde vamos agora milady?
Catherine fez a pergunta assim que deixaram a casa da senhora Kenworthy, duas manhãs mais tarde. Catherine não estava contente pela mudança repentina nos planos de Pen. Não tinha gostado da ideia de continuar a viajem com tão pouco descanso.
A carruagem que trouxeram desde Hampstead fez a volta no cruzamento onde o grande e velho castanho cresceu. A vista de seus ramos reforçou a certeza de que Pen estava fazendo o correto. “Poderia ter sido eu, um dia com certeza vai ser eu”.
— Vou a Liverpool, Catherine. Depois disso, vou para a América.-
— Estados Unidos! Isso sem dúvida é uma mudança de direção. Não disse nada, que pretendia ir embora para a América.
— Você pode vir se quiser, ou você pode tomar uma diligência na primeira estalagem que chegarmos, o Sr. Hampton se encarregará de seu salário no último caso. Se você embarcar comigo, não posso lhe prometer nada, salvo a liberdade, aventura e a incerteza econômica até me coloque em contato com meu irmão.
— Milady, vai de verdade para os Estados Unidos? Se você teve um desentendimento com o Sr. Hampton, não poderíamos simplesmente visitar Bath? Se sua insatisfação for será grande, atrevo-me a dizer que vai se arrepender muito.
— Tem que ser os Estados Unidos, garanto que isso não é um impulso, ou o resultado de alguma briga. Eu estive pensando nisso há algum tempo. Meses inclusive.
— Se não tem nenhum motivo claro para sua decisão, ainda é pior. O Sr. Hampton ficará com o coração partido.
— Espero que logo se recupere, Catherine. Você entendeu mal a viagem desde o início, e agora está entendendo conclusão errado sua conclusão. Pen não estava segura de grande parte dessa decisão, mas estava bastante certa que Julián não ficaria com o coração partido. Ela tinha aprendido há muito tempo, que a paixão e o amor não eram a mesma coisa, especialmente para os homens.
Seu afeto por ela era precioso, mas sua partida não o faria sentir-se traído.
Talvez inclusive, se sentiria aliviado. Seu desaparecimento poderia fazê-lo prescindir de enfrentar um dragão que não podia vencer e além disso, evitaria de ver-se comprometido em um assunto, que poderia destruir sua segurança.
Ela seria a única que lembraria para sempre dessa breve relação. Era a única cujo coração havia tocado em novas profundidades. Todavia, lhe doía a intensidade da última noite e isso, lhe tinha feito tanto mal que queria chorar.
— A oferta para que a acompanhe é generosa e tentadora— disse Catherine. — Entretanto, eu não acho que poderia ficar tão permanentemente separada de minha filha. A acompanharei até Liverpool, milady. E como vamos estar muito perto de Carlisle, vou viajar e a encontrar uma maneira de ver minha Bet.
Pen adivinhou que essa seria a resposta de Catherine. Ela sabia que ela navegaria para os Estados Unidos completamente sozinha.
A estalagem em Blackburn era um lugar muito concorrido, com carruagens e cavalos enchendo seu pátio e de pé havia cocheiros na aglomeração de suas salas públicas. Damas com mantos em carruagens com a borda de pele misturadas com passageiros viajavam. Criados servindo cerveja e vinho quente a qualquer pessoa com uma moeda.
Como o tinha feito desde que saiu de Hampstead e como fez na noite passada em Skipton, Pen deu um nome falso e conseguiu um quarto pequeno para ela e Catherine. Enquanto ela tirava algumas roupas para a noite e para o dia seguinte, Catherine a deixou para ter uma pausa, como era seu costume a noite.
Quando terminou as tarefas domésticas, Pen ficou sozinha com seus pensamentos.
Amanhã cedo chegariam a Liverpool e ela compraria uma passagem para o navio. Muito em breve, iria embora da Inglaterra para sempre.
Continuaria vendo seus irmãos e irmãs, como a última vez que os viu, as imagens nunca mudariam ou envelhecerem. Imaginou suas sobrinhas e sobrinhos, sempre jovens em sua memória, inclusive à medida que envelhecessem encontrariam suas próprias vidas.
Seria o mesmo para eles, também. Ela seria a tia que tinha sido engolida pelos Estados Unidos. Em dez anos, seria como se nunca tivesse existido.
Se os pensamentos de seu velho mundo a enchiam de nostalgia, os de agora a deixavam muito ansiosa. Viu a si mesma, como na América veriam uma condessa que deixou seu próprio povo, uma mulher que tinha abandonado seu marido.
Esse último ponto, manteria muitas pessoas da sociedade impedidas de relacionar-se com ela, tal como foi no passado na Grã-Bretanha.
Haveria homens que, não queriam que suas esposas a tivessem como amiga e mulheres que só falariam dela em sussurros de fofocas. Teria que viajar para longe das cidades e da sociedade, com o propósito de escapar da sombra de sua história. Teria que escapar do conde lá também. Julián tinha razão nisso.
Julián.
Ela se negou a pensar em rosto quando descobrisse que ela embora. Ela então, não quis especular sobre sua expressão, ou sua resposta. Nenhuma das que lhe passavam pela cabeça tiravam sua melancolia. Todas elas, as de tristeza, de alívio ou de sua aceitação, rasgavam seu coração.
Ouviu passos no chão de madeira do corredor da pousada. Esperava que anunciassem a volta de Catherine. Ela precisava encontrar outro assunto para falar com Catherine e distrair-se de seus pensamentos tristes.
Os passos pararam em frente a sua porta. Uma gota de curiosidade pingou em sua consciência. Um calafrio de pequena antecipação dançou em seu coração.
Um passo mais perto havia soado. Talvez fosse Julián.
A porta se abriu bruscamente. O choque apagou seu crescente entusiasmo.
Catherine voou, tentando manter o equilíbrio, enquanto seu corpo era jogado para frente, precipitado por um impulso bruto. Dois homens a seguiram e fecharam a porta atrás deles.
— Agora, não gritem, um homem ordenou.— Não há razão para fazer machucar a nenhuma de vocês.
Pen correu para Catherine.— OH, querida. Jacob de alguma forma a seguiu? Eu sinto muito.
— Não foi Jacob, quem nos seguiu, milady.— disse Catherine. — São homens de Glasbury.
Julián encontrou Laclere em casa, sentado na biblioteca com a viscondessa. Não se surpreendeu de encontrá-los juntos. Laclere e sua esposa Bianca estavam acostumados a passarem muito tempo juntos, como se nessa mansão não tivesse quarenta cômodos e não vivessem em uma casa de campo onde compartilhavam todos os espaços.
Não era a primeira casa grande que Julián visitou hoje, enquanto corria ao redor de Londres, mas seria a última.
— Fico feliz que tenha vindo Hampton,— Laclere disse.— Você vem muito pouco nos últimos tempos e há assuntos que precisam de sua atenção.
Bianca tirou seus pés de debaixo de seu assento no sofá e assumiu uma postura mais decorosa. A esposa de Laclere nunca se ajustou às expectativas de um comportamento normal inglês. Era uma herdeira americana, uma mulher bela com cabelo loiro, grandes olhos azuis e um rosto em forma de coração, mas não era tampouco uma grande beleza.
Se preocupava muito pouco com as intrigas dos salões. Ela tinha dado a Laclere quatro filhos, então surpreendeu à sociedade ao subir ao palco como uma cantora de ópera. Seu êxito nessa carreira e sua evidente devoção a sua família, só em parte, a absolvia da mancha habitual de atuar nessa carreira. Na opinião geral, era Laclere que devia estar um pouco louco por ter permitido tal coisa.
— Sim, esteve muito ausente. Estamos todos muito preocupados com Penélope, agora que Glasbury deixou suas intenções claras,— disse. – Nos tranquilizou saber que você lhe serviu de conforto.
— Tive responsabilidades que exigiram que eu saísse da cidade. Como é o caso, tenho que sair de novo brevemente e não devo retornar por vários dias.
Bianca levantou uma sobrancelha. – Eu posso ser de alguma ajuda nessas outras responsabilidades que você tem?
— Não, milady, mas seu marido pode.
— Então vou deixá-los. Confio em que depois de assistir a essas outras questões, dará a Glasbury toda sua atenção e assegure-se de que Penélope não seja obrigada a voltar para ele.
Julián há muito tempo prometeu que Pen não seria obrigada a voltar para ele. Agora precisava garantir que com a liberdade teria segurança.
— Como posso lhe ajudar— Laclere perguntou, depois que Bianca saiu da biblioteca.
— Tenho algumas dívidas que preciso pagar imediatamente. Achei que estaria de acordo em cobri-las para mim. -
— Você está metido em jogo Julián?
— Julguei errado meu oponente. Ele tinha ases que eu não esperava. Eu trouxe alguns papéis para você assinar. Julián tirou de seu casaco e os colocou sobre a mesa.
Laclere os examinou.— Deixemos as suposições, isso é para minha irmã, certo? Tenho que assinar essa remessa bancária para ela.
— Está em meu nome. Mas vou registrar como pagamento pelos serviços prestados. No momento em que o banco receber na verdade, não importa para eles quem o utiliza.
A expressão de Laclere se tornou triste. – Então, ela está partindo para onde?
— Vergil, você não é um homem que facilmente poderia mentir diante a lei. Não me peça que o coloque em uma posição, onde tenha que fazê-lo com o fim de proteger sua irmã.
Laclere mergulhou a pluma e assinou o cheque bancário.— Tinha a esperança de que houvesse outra solução. Quanto julgamos mal seu oponente de jogo?
— Muito mal. Devia ter me dado conta há anos, do que o homem era capaz. A evidência estava na minha frente. Fiz errado meu julgamento, não você ou ela.
— Está errado. Foi minha família, que a permitiu casar-se com ele. Sem você, ela estaria presa em seu poder para sempre.
Pegou o papel ligeiramente entre seus dedos.
— Diga a ela, que assim que se estabeleça me encarregarei de lhe enviar um subsídio regular. Pensando bem, vou vê-la com você. Não posso suportar o pensamento que ela nos deixe assim, sem uma palavra de despedida.
— Ela quer agir com rapidez. Ficar invisível. Ela não pode ficar anônima se o visconde Laclere acompanhá-la.
— Pelo menos leve minha carruagem de seis cavalos. Se ela quer mover-se com rapidez, será muito mais rápido.
— Já arrumei um transporte, de outra fonte. Um que não tem brasão.
— Sim. Obviamente. Laclere entregou o papel.— Eu não estou acostumado a fugir dos assuntos importantes para outros, como você sabe. Há poucos homens em quem confiaria a segurança de minha irmã. Sei que seu julgamento é sólido e provavelmente mais sensível, do que seria o meu seria, dadas as circunstâncias.
Julián se perguntou se Laclere assumiria esse mesmo julgamento, sobre solidez e sensatez, se soubesse que seu fiel advogado se deitou com sua irmã em questão.
Ele olhou para seu amigo de toda uma vida e as imagens saíram de um canto particular de sua cabeça. Viu Vergil em sua juventude, brandindo sua espada de madeira, enquanto brigavam na antiga torre como um homem muito jovem, também quando via St. John fazer os passos ao ritmo de um duelo e depois, juntos pela primeira vez, viram um homem morrer na frente do novo visconde Laclere, cortando o ar na costa francesa, tendo sua própria estação em outro duelo, com espada na mão.
Os olhos azuis de Vergil olharam profundamente os seus. – A quantia de 500 libras não é muito, é ainda menor nessas circunstâncias.
— Há outros recursos e outros pagamentos pelos serviços prestados.
— De repente, tenho a sensação Julián, que meu mundo está perdido sem a presença de uma irmã nos próximos dias. Se tem a intenção do que penso, é pedir muito de um advogado da família e não vou permitir. Nós encontraremos outro protetor para fazer isso.
— Não há outro. Pode ser que seja pedir muito de um advogado, mas não muito de se esperar de um amigo.
A mandíbula de Laclere ficou tensa.— Muitas vezes agradeci a Deus por sua amizade, mas ainda mais nesse momento.
Ele acompanhou Julián até a porta.— Quanto tempo devo esperar sua volta?
Julián cruzou a soleira da casa que sempre esteve aberta para ele e se afastou da única família verdadeira que teve.
— Não sei Vergil.
CAPÍTULO 17
O cocheiro de St. John e seis cavalos poderiam fazer muito bom tempo se fosse necessário. Dois dias depois se sacudia no caminho que levava a casa da senhora Kenworthy.
Sua proprietária foi para frente, estava podando de novo as roseiras que beiravam a estrada. Julián desceu.
— Impressionante, Julián. Você foi muito bem nesses últimos anos. Não tinha nem ideia.
— Não é meu. Confio que tudo está bem aqui e que a condessa se acomodou.
— Receio que não está tudo bem. Tampouco encontrará à condessa e sua companheira aqui. Ela saiu quase imediatamente. Na manhã seguinte. Eu insisti, mas foi em vão.
Julián olhou à casa, enquanto seu coração absorvia o golpe. Seu cérebro não aceitou com tanta rapidez.
Um trovão retumbou na borda de sua cabeça.
Ela fez isso. Se afastou de tudo. Afastou-se dele.
Ela foi a ele naquela noite sabendo que faria.
— Não fique muito zangado Julián. Não acho que a escolha foi fácil para ela. Ela estava muito nostálgica, na verdade.
— Não tem dinheiro. Algumas poucas joias e alguns guines, nada mais. Ela não está protegida. Inferno, apenas tem o suficiente para entrar no mar e conseguir alimentos. Chegaria como uma indigente na América.
A senhora Kenworthy o olhou fixamente, por debaixo da borda de seu chapéu de palha.
— Falou de ficar a salvo para sempre. Eu acho que ela suspeita que, a morte de Cleo não foi suicídio, como eu acho. Preocupa-me que ela tenha medo por sua vida.
É possível. Provavelmente. Ele deveria saber que ia ver tudo. Não deveria ter tentado protegê-la do medo, escondendo suas próprias conclusões dela.
— Ela não precisava sair tão rápido, ainda assim,— disse, sustentando sua fúria a raia com palavras racionais. – Ela poderia ter esperado minha volta.
— Poderia ter feito. No entanto, parece que isso não é o que ela queria.
A tempestade se rompeu e a ira caiu sobre suas emoções.
— Não, ela não quis.
Bom, ele estaria condenado, antes de deixá-la ir assim.
— Tenho que ir agora, senhora Kenworthy. Obrigado por sua generosidade e amabilidade. Se alguém chegar aqui perguntando pela condessa, a peço para fingir que jamais a conheceu.
— Isso não deve ser difícil Julián. Sou uma mulher de idade e excêntrica com memória muito ruim.
O cocheiro se aproximou da estalagem em Blackburn de tarde. Julián tinha dado instruções ao cocheiro que fosse a toda a velocidade possível, enquanto seguia o caminho de Pen para a costa. Sua expectativa é que ela se dirigia a Liverpool foi confirmada, quando interrogou o hospedeiro na parada que tinha feito em sua primeira noite em Skipton.
Agora, quando seu cocheiro entrou no pátio da estalagem, viu a carruagem alugada que a tinha tirado de Hampstead. Seu coração se levantou em sinal de triunfo, mas imediatamente um pressentimento sufocou seu alívio.
Deveria que ter chegado mais longe que Blackburn agora. Se ela chegou aqui na segunda noite, ela já deveria estar em Liverpool. Talvez, tenha pensado melhor em seu plano?
Entrou no edifício e perguntou ao hospedeiro.
— A senhora Monley foi quem chegou nessa carruagem e já não está,— disse o hospedeiro.— A outra está acima, esperando o magistrado.'.
— Quer dizer que sua companheira ainda está aqui? A dama saiu por sua conta?
— Sim, ela saiu. Deixou de cima para enfrentar à lei. Aconteceu todo um drama aqui há duas noites. Não é o que se espera das mulheres e muito menos de uma dama de qualidade.
— Tenho que falar com a jovem.
— Faça o que quiser. O seu quarto é o próximo à esquerda.
Subiu as escadas com toda pressa e bateu na porta do quarto.
Abriu a porta. Quando viu Catherine, seu fôlego o deixou por um momento.
Dos grandes hematomas marcavam seu rosto. Um deles causou tanto inchaço que quase fechou o olho direito. Sua postura cuidadosa, sugeriu que tinha recebido outros golpes em seu corpo.
Ela esboçou um sorriso distorcido e fez um gesto para que entrasse no pequeno quarto.
— Sabia que viria senhor. Ela pensava que não aconteceria, mas eu sabia que não seria de outra maneira. Eu estava esperando por você.
— Conte-me o que aconteceu.
Ela se sentou em uma cadeira.
— Os homens de Glasbury estavam nos seguindo. Agarraram-me quando saí para tomar ar e depois me trouxeram para aqui. Então, a sequestraram. Nos dirigíamos a Liverpool, mas acredito que ela está passando por lá agora.
— E seus golpes?
Seus olhos azuis se tornaram cristalinos.
— Não se preocupe comigo. Se explicar ao dono da estalagem o que aconteceu, o juiz deixará eu ir. Você deve seguir seu caminho muito rapidamente, para encontrá-la.
— Ela está ferida também?
— Só eu. Quando nos disseram que íamos com eles, eu sabia o que significava para ela. Assim, enquanto que arrumávamos nossas bagagens, me apoderei da pistola. Eu sempre o carrego com pó seco todas as noites. Pensei que com o ruído faria chegar ajuda.
Só que me pararam antes que eu pudesse disparar e a levaram. Todavia, tinham tempo para lutar um pouco.
Agora, deve ir senhor. Eles tem quase dois dias de vantagem sobre você.
— Não irei até que tenha certeza, que não irá sofrer mais por isso. Vou falar com o hospedeiro e esperar o juiz, se for necessário. Tirou dez guines de seus bolsos. Em seguida, pagou seu salário e um pouco mais por tentar protegê-la.
Ela pegou o dinheiro e o colocou em sua maleta.
— O que você vai fazer depois que sair daqui?
— Vou para Carlisle, ver minha filha. Vou a tentar de alguma maneira vê-la sozinha. Eu gostaria de tê-la comigo para sempre, mas só em vê-la ajudará a nós duas.
Julián olhou para essa jovem e valente mulher que havia recebido um duro golpe por tentar salvar Penélope.
Desculpou-se, voltou para carruagem e retornou com mais dinheiro.
— Toma isso, assim pode viver por um tempo. Também paguei para que use a carruagem que nos trouxe de Londres.
Ela guardou o dinheiro, fazendo uma careta, enquanto o fazia. – Você deve ir procurá-la agora, senhor. Posso dirigir o juiz. Enquanto aos golpes, não vão parar. Nunca fizeram antes. Oh, mais há algo que você deve saber.
— O que é?
— Ela se apoderou da pistola, quando enfrentaram a mim. Ela disparou e deu em um deles na perna. Isso pode tê-los feito avançar mais devagar.
Penélope olhou nos olhos do Sr. Jones, quem lhe devolveu o olhar. Se sentaram um frente ao outro, na sala de estar nos subúrbios de Manchester. A única luz na sala vinha de um candelabro de ferro onde se queimavam cinco velas de sebo.
Amortecendo os grunhidos de dor, que penetravam a porta que os separavam da cozinha. O cirurgião que vivia nessa casa estava cavando para tirar a bala da coxa do Sr. Henley.
— Ele não poderá viajar,— disse.— Continuará sangrado se estiver montando um cavalo. Pode chegar a passar mal.
— Não é meu problema se acontecer. Temos um trabalho a fazer. Ele sabe o que é.
Se seus sequestradores tivessem adquirido uma carruagem, poderiam ter chegado de volta ao conde, antes que necessitassem desse procedimento. Mas o senhor Jones insistiu que todos fossem a cavalo e isso agravou a ferida do Sr. Henley. Eles tinham diminuído tanto o passo, que sequer conseguiram sair de Lancashire ainda.
O Sr. Jones não parecia desconcertado pela dor de seu companheiro. Sem dúvida, ele insistiria em que o Sr. Henley voltasse a cavalo pela manhã.
Apesar de seu brilhante olhar, sua atenção não estava realmente nela. Ela sentiu que ele escutou alguma coisa. Esse homem sempre estava alerta, sempre no controle da estrada e dos campos, sempre em guarda. Ela suspeitava que este não era o primeiro ato criminoso que havia realizado. Foi o senhor Jones, quem derrotou Catherine.
Ela ainda tinha medo, mas sua inteligência havia retornado e não estava mais dormente. Uma indignação estava a ponto de explodir que se acumulou durante a maior parte do dia.
Um forte grito de dor veio da cozinha.
— Espero que lhes paga bem, se esse trabalho lhes pode custar uma perna ou a vida.— disse Pen.
— Generosamente, obrigado.—
— Está a serviço de Glasbury há muito tempo?
Ele não respondeu.
— Se você me seguiu, adivinhou onde estava e quando saí da estalagem de Grossington. Então está familiarizado com os lugares. Você esteve ali antes. Acho que você sabia que eu estava lá.
Suas pálpebras continuavam abaixadas.
Ela soube então, que suas suspeitas eram corretas. Esse foi o homem que tinha visitado a senhora Kenworthy e que disse ser agente de Julián.
Esse foi o homem que matou Cleo.
O terror soprou em seu pescoço. Ela tinha assumido, que a levariam para o conde e de repente o Sr. Jones desviou o olhar para a porta. Seu corpo ficou rígido e sua concentração afiada.
Tentou escutar o que tinha levantado sua atenção. Os únicos sons eram os guturais gemidos que vinham da cozinha.
— Você não respondeu. Esteve em Grossington antes?
— Fique calada. Sentou-se com as costas reta, ligeiramente movendo a cabeça.
— E se eu não me calar? O que vai fazer? Não esqueça de que não sou uma mulher sozinha neste mundo. Meu irmão é um visconde e também tenho amigos poderosos, que pediriam respostas e uma prestação de contas, se me acontecer alguma coisa.
— Calada.
Se levantou e deu vários passos para frente da casa. Ficou bem quieto escutando e depois tirou as velas de perto da janela e levantou a cortina para olhar a escuridão.
A porta da cozinha estava aberta.
— Tudo pronto, anunciou o cirurgião. Era um homem jovem, com cabelos loiros e um corpo forte. Manchas de sangue fresco em seu avental.
— Ele não pode caminhar. Todos vocês podem ficar aqui, se quiserem. A soma é de cinco libras uma noite.
O Sr.Jones olhou atrás para o cirurgião. – Deveria ter aqui um hotel de primeira classe.
— Para os estranhos que me procuram na escuridão em minha casa, conheço o valor de minha habilidade e do silêncio.
— Foi só um remendo. Vamos embora.
O cirurgião se retirou da cozinha. O Sr. Jones continuou estudando a escuridão fora da janela.
Tomou uma decisão, ele apagou as velas deixando a sala às escuras e também sentou. Depois se mexeu um pouco ao redor e abriu a porta.
Seu corpo formou uma silueta na porta. Com a fraca luz da lua, Pen pode ver que em sua mão direita tinha uma pistola.
Ele ficou ali, esperando e procurando.
De costas para ela, como se ela não representasse nenhum perigo segurava a arma.
Sua indignação rangeu. Sua certeza, de que o medo a fazia frágil, de repente, se tornou o maior insulto que recebeu em sua vida.
Silenciosamente ela levantou o candelabro da mesa.
Deu quatro passos rápidos, levantou o mesmo com as duas mãos e bateu nele.
Ele cambaleou para frente, mas não caiu. Curvado como um animal ferido, se desviou um pouco e com ar cruel levantou a pistola.
— Cadela!
Em estado de choque, ficou olhando a arma apontada para ela.
Então, de repente, a arma havia desaparecido e também o Sr. Jones. Em um segundo, simplesmente saiu voando.
Outra figura de pé estava em seu lugar. Ela o reconheceu. O doce alívio a alagou.
Julián a tinha encontrado. Julián não estava sozinho.
Dois outros dois homens entraram na casa, depois dele, levando uma pessoa inconsciente, o Sr. Jones.
— Deu um bom golpe nele senhor,— o mais alto dos estranhos, disse. Um homem de meia idade com cabelos grisalhos e chapéu de feltro com abas bem longas, que olhou para o senhor Jones.
— Encontramos como você disse. Foi inteligente consultar a lista de cirurgiões da região. Um homem não pode andar muito rápido com um buraco na coxa.
Esse cirurgião em particular, estava na porta da cozinha, lavado e consternado.
— São criminosos? Eu não tinha ideia.
— Você pode explicar isso mais tarde senhor, mas um homem honesto teria perguntado sobre essa perna e sobre essa mulher aqui,— disse o homem.
— Esse é o senhor Fletcher e seu filho,— disse Julián, apresentando seus companheiros.
— O Sr. Fletcher é o juiz de paz da comarca.
O Sr. Fletcher e seu filho haviam chegado bem armados. Cada um tinha pistolas na cintura e no peito debaixo de seus casacos. O filho de vinte anos de idade, parecia decepcionado que a caça da noite terminou sem a oportunidade de usar suas armas de fogo.
— Vamos precisar de carruagem para ir a cadeia,— o Sr. Fletcher disse a Julián.
— Uma prisão segura, assim espero,— disse Pen.
— OH, vai ser segura. Vamos mantê-los na prisão até o próximo trimestre. Você vai ter que depor contra eles, senhora. A outra mulher, também.
Pen abriu a boca para objetar.
— É obvio que cumprirá com seu dever,— disse Julián.
Levou uma hora para eles transportarem seus sequestradores a prisão e outra para Julián realizar as formalidades e legalidades. Estava amanhecendo quando subiram na carruagem e foram embora.
Ela o abraçou com gratidão e alivio.
— Graças a Deus estamos seguros,— disse entre beijos.
Fechou as cortinas e manteve seu braço ao redor dela.
Ele não falou durante alguns quilômetros. Não pretendia ficar em silêncio habitual. Apesar de seu abraço, percebeu sua preocupação. O ar dentro da carruagem se estremeceu.
— Obrigado,— disse.
— Obrigado por ter batido na cabeça dele. Fez com que o trabalho ficasse rápido para nós.
— Catherine?
— Ela está a caminho para ver sua filha.
— Realmente preciso voltar para depor? Não vejo como posso.
— Fletcher viu o suficiente para colocar Jones e Henley em um navio para Nova Gales do Sul. Se você testemunhar só complicaria mais as coisas, já que o hospedeiro e Fletcher acreditam que você é a Senhora Monley. Receio que terá que escrever a Dante explicar que utilizou o nome da falecida mãe de sua esposa.
— Foi o primeiro nome que veio à cabeça na primeira posada. Sim, provavelmente deveria explicar isso.
Sua conversa não fez nada para limpar o ar. Todavia, continuava sentado no escuro e descontente, a agitação em suas profundezas.
— Você vai me repreender? Perguntou ela.
– Não precisa. Já sei o que você vai dizer.
Que foi imprudente, perigoso e que...
— Você não pode sequer imaginar o que eu quero dizer, senhora.
Ela esperava que ele tirasse o braço que a estava abraçando. Como não fez, esperou a que a frágil veemência de seu comentário passasse. Depois de alguns quilômetros mais, o silêncio parecia menos fácil.
— Acha que Jones foi nossa sombra durante todo o caminho Julián?
— Infelizmente sim. Glasbury deve ter adivinhado que procuraria Cleo, ao ter alguém que apoiasse suas acusações.
— Então, não só esteve me seguindo. Estava um passo na minha frente esse tempo todo.— Durante anos. Uma preocupação maior apareceu imediatamente.
— Se o Sr. Jones nos seguiu, Glasbury sabe que estive com você desde que saímos da casa.
— Jones provavelmente lhe enviava informações. Entretanto, isso é o menor de nossas preocupações.
Ela não estava de acordo. Seu alívio por o ter salvado, se afogou imediatamente pela preocupação que a levou a Liverpool. Não por sua própria segurança, mas sim pela de Julián.
Se o senhor Jones tinha enviado informações, o conde poderia ter concluído a verdade a respeito dessas noites nas pousadas.
O Sr. Jones poderia estar na prisão, mas há outros que se ocupariam de tomar seu lugar. Glasbury era rico e sempre poderia encontrar aqueles que cumpram suas ordens, para o pagamento de direito.
Adormeceu na carruagem. Quando despertou era tarde e estavam parados em um pequeno povoado em frente de uma pousada.
— Ficaremos aqui nessa noite em Bruton,— disse Julián.— Com um equipamento como esse, seremos notados onde quer que vamos, mas aqui a chance é menor de sermos notados.
Reservou dois quartos para eles. Assim que seus baús foram depositados e que o segundo andar da estalagem ficou em silêncio, ele entrou em seu quarto.
A expressão de seu rosto a fez engolir a saliva.
— Sabia que era esperar muito, que não me repreendesse.
— Você deixou claro que tinha o direito de fazer. Também é suficientemente inteligente, para saber os seus riscos no plano. Mas fez de todos os modos. Só quero saber porque?
— Já lhe disse. Eu não posso vencê-lo. Ele vai ganhar, de uma maneira ou de outra. Decidi que meu primeiro plano era melhor.
— Isso não explica porque foi antes de minha volta.
— Eu decidi não demorar mais.
— Por que?
— Não vou ser questionada como uma criminosa. Diga que fui estúpida se desejar, mas não me interrogue.
— Não estou a interrogando. Não estou falando com você como advogado, maldito seja. Eu sou o homem a quem você se entregou e eu quero saber porque optou por fugir, sem sequer uma palavra de despedida.
Nunca tinha visto sua expressão tão escura e dura. Afetou todo o seu ser e todo o quarto.
Quase esperava sair raios de sua cabeça.
— Não acredito que Cleo se suicidou. Isso muda tudo Julián. Procurei em meu coração e admiti que Glasbury pode ter feito isso. Para ela. Para mim. Eu não sabia que estavam nos seguindo. Pensei que se desaparecendo...
Ela sentiu ele atrás dela.
— Acredita que ele não me faria mal.
— Se lhe fizer isso agora, eu nunca me perdoarei.
Ele virou e olhou em seus olhos. Todavia parecia zangado, mas era difícil não admirá-lo.
— Você vida fez isso Pen e deve deixá-lo.
— Percebo que nem sempre fui um modelo de bom julgamento Julián, mas não estou sendo justa. Eu não achei que essa pequena viagem seria perigosa.
— Eu não falo do perigo, ou do seu julgamento nos últimos anos, mas sim, de como sacrifica sua própria segurança e felicidade, para proteger os outros. Para economizar a família do escândalo não aceitou o divórcio. Inclusive se casou com Glasbury para que os outros não fossem prejudicados.
A última acusação a surpreendeu.— Não me casei com ele por isso.
— Não? Sua mãe nunca explicou a grande quantidade que Glasbury lhes deu? Mantiveram as coisas flutuantes durante vários anos mais, quando as finanças familiares estavam um desastre.
— Explicar. Ela não fez tal coisa. Casei-me com ele porque eu era jovem e estúpida. Ele era um conde e essas coisas era o assunto das garotas ignorantes.
— Sua mãe a jogou para ele. Inclusive seus irmãos não gostaram.
Teve que respirar fundo para conter a indignação. – Você está mentindo.
— Eu vi as contas Pen. Tampouco acredito que as ignore totalmente.
— Que coisas horríveis você diz. Como se atreve a acusar minha mãe de...de...
Ela esteve a ponto bater nele.
Ao invés disso, pegou um xale e saiu correndo do quarto.
Correu pelas escadas e saiu para fora da estalagem de Red Roof com ressentimento. Ela caminhou pela rua, impaciente para encontrar um pouco de intimidade e poder amaldiçoar Julián por injuriar sua família. O comércio e casas imprecisas passavam, enquanto mentalmente colocava o homem em seu lugar e o fustigava por fazer acusações tão atrevidas e injustas.
Encontrou o caminho para o cemitério, onde os olhos das pessoas não virariam para olhar para ela. Ela passeava com sua raiva em meio das lápides e atalhos de um pequeno jardim.
Pouco a pouco a raiva foi diminuindo. Julián poderia ter visto as contas, como advogado da família, ele tinha acesso a todos os registros financeiros, inclusive o que a comprometia a Glasbury.
Ela se dirigiu para a praia e caminhou ao lado de uma fileira de plantas mortas. A confusão foi substituída pela raiva e a indignação pela tristeza.
Uma sombra apareceu na terra na frente dela, Julián a seguiu. Ela jogou um olhar onde ele estava parado no final da fileira.
— Mamãe falava muito bem de Glasbury. Ela preparou o caminho, antes que eu me apresentasse, — admitiu ela. – Quando lhe sugeri que eu gostaria de esperar até minha segunda temporada para decidir, ela disse que não poderiam financiar novamente. Eu sabia o quanto havia custado minha apresentação e a minha temporada. Ela frequentemente falava das dificuldades de meu pai e como ele vivia endividado.
— Tenho certeza, que você também falava disso.
— Sim, frequentemente. — Ela olhava para ele. — Devo admitir que ignorava meus receios a respeito disso. Se você disser que foi pelo dinheiro, não seria nada novo. Não acredito que ela sabia o que ele era, não poderia ter suspeitado sequer.
— Estou certo que ela não suspeitava de nada. Eu não referia às motivações de sua mãe, a não ser às suas. Agora, mais uma vez, você tomou um caminho para proteger outros. Sua família, eu, isso é uma amostra que você tem um grande coração Pen, mas estou muito aborrecido. Eu decidirei por mim mesmo, que riscos tomar e que custos devo pagar.
Ele procurou dentro de sua capa e tirou uma pilha de papéis dobrados. Colocou-os no banco.
— O que é tudo isso?
— Seu futuro se o desejar. Remessas bancárias e cartas de apresentação. Pode ir para a América mas não como uma indigente. Tudo está aqui, inclusive as passagens.
Ela abriu os documentos. Os papéis estavam assinados por seu irmão e seu querido amigo. Era mais que o suficiente para viver confortavelmente por anos. Só precisava ir a Liverpool e encontrar um lugar seguro para ela, pelo menos por algum tempo. Uma folha tinha uma carta de St. John lhe dando uma passagem grátis em qualquer um de seus navios.
Abriu uma última carta.
— Que é isso Julián?
— Uma carta de transferência.
— Do seu banco e sua conta? Tanto? Não preciso querido amigo, não com todo o resto.
— Isso não é para você, é somente para mim.
Sua resposta a deixou atônita.
— Não posso permitir Julián. Não preciso da proteção, que você pensa em me dar. Não estou tão necessitada e especialmente não com todos esses papéis e cartas.
— Não é escolha sua, a não ser a minha.
— Realmente, não preciso da sua proteção na viagem, especialmente se for com um dos capitães dos navios de St. John. Não pode ir embora de Londres, por tanto tempo para ver eu me estabelecer segura na América. Isso o ausentaria por meses.
— Acho que muito tempo, pelo menos até que Glasbury morra.
A calma na voz decidida lhe permitiu compreender o que ele estava dizendo. As implicações de suas palavras a deixaram atônita. Ele não só tentava protegê-la na América. Planejava permanecer lá também. — Isto é uma estupidez de sua parte Julián. O que você faria na América? Suas leis podem derivar das nossas, mas duvido que sejam as mesmas. Terá que se transformar em um empregado e começar novamente?
— Farei o que precisar fazer. Tornar-me um pescador ou em um granjeiro se for necessário.
— Não está sendo sensato em nada.
— Sim, estou sendo.
— Não, você não está sendo. Você está sendo honrado da mesma maneira, que a honra de um homem em um duelo. Sente-se responsável por mim agora, por isso decidiu isso. O resultado é a ruína que eu temia que poderia enfrentar aqui, continuará na América e isso será muito pior.
— Disse que é minha decisão, qualquer que seja o custo que eu tenha que pagar.
— Ambos pagaremos. Pensa continuar essa relação? Se eu usar essas cartas, todos saberão quem sou e também que estou casada. Nos olharão como adúlteros. Não acredito que isso seja mais aceitável lá do que aqui. Talvez menos, segundo o que ouvi Bianca falar sobre a moralidade.
— Não faço isso para que continuarmos nosso romance. Pode me ignorar no caminho. Pode se recusar a me receber na América. Pode decidir nunca mais falar comigo novamente.
— Não desejo que vá! — disse ela firmemente. Era mentira, seu coração se agarrava a possibilidade de que não estaria sozinha, que ele estaria lá com ela. Ele não podia ouvir seus pensamentos, mas suas palavras o tinham ferido. Sua expressão afiada e sua reserva isolada como uma barreira.
— Ainda assim eu vou.
— Posso cuidar de mim mesma.
— Normalmente concordaria. Entretanto, essa situação está longe de ser normal e eu estarei olhando suas costas agora em diante.
Sua voz estava calma, muito firme e de repente, ela o entendeu. Ele não se unia a ela pela paixão dos últimos dias, mas sim, pela amizade de muitos anos. Não pelas obrigações criadas na cama, mas sim, pelo cavalheirismo que aprendeu desde criança.
Ela baixou a cabeça para a carta de transferência em sua mão. Ele estava deixando para trás toda sua vida. Afastando-se dela. Só havia uma razão, para que ele desse esse passo irreversível.
— Você também acha que ele matou Cleo, certo? —disse ela.
— Sim.
— Não acredita que estarei segura na América, de todos os modos. Uma vez me disse que Glasbury poderia me seguir até lá e que você achava que isso aconteceria finalmente.
— Suspeito que, nunca esquecerá a humilhação que sentiu por você partir. Também, porque ele deseja seu herdeiro, como qualquer homem faz, por isso acredito que ele fará tudo o que for necessário para ter um.
“Tudo que for necessário”. Forçar sua condessa voltar, ou encontrar a forma de ter uma nova condessa.
— Quando concluiu que ele era capaz de fazer isso, Julián?
— Depois da minha reunião com ele em Londres. — Antes do primeiro beijo, inclusive, pensou Pen.
— Julián , desejo perguntar ao Sr. Hampton algo. Pode ser ele de novo, só por um pequeno tempo? Necessito de sua assessoria e desejo saber qual seria seu conselho a uma mulher em minha situação.
— Farei o meu melhor trabalho milady.
Ele sorriu quando colocou seu tom profissional. Entretanto, esse sorriso dava a seus olhos uma calidez que a fazia pensar em coisas, que nunca se atreveu a pensar do Sr. Hampton.
— Então, diga Sr Hampton o que você pensa, que deve ser o melhor curso de ação?
— Primeiro devo saber, quais opções você está considerando.
Ela deu uma olhada em sua alma, repassando a confusão das últimas semanas, para encontrar a resposta.
— Desejo parar de viver assim, sendo livre, mas não realmente livre, desejo não ter que nunca mais pensar nele de novo. Desejo acabar com esse medo de que ele vá me prejudicar ou aos que me importam, se ele se sair com a sua.
Você não terá nada disso se for para a América.
Não, ela não teria a não ser com Julián como seu escudeiro, ela não teria.
— O que devo fazer para obter o que eu desejo Sr. Hampton?
— Você descobrirá essa resposta dentro de si mesma, antes que eu volte a ser Julián novamente.
— Você quer dizer que devo forçar sua mão e lhe dar uma razão fácil para divorciar-se de mim.
— Ele assim obterá o que deseja, que é a possibilidade de voltar a casar e ter seu herdeiro. Você terá o que deseja, como sempre certamente, o grande custo será para você que é mulher, entretanto, isso dá a ele uma solução com poucos riscos.
— Poucos riscos para ele, não para mim. E o que acontece se ele não estiver disposto a tomar essa decisão?
— Você estará segura em Londres de todas as formas. Tem amigos, família e uma pessoa que se encarrega de protegê-la em sua casa. Nunca estará sozinha, se o mundo souber que está envolvida com outro homem, as suspeitas cairão em Glasbury se lhe acontecer algo. Seria um estúpido se feri-la, ao invés de tomar a via mais rápida e acredito que ele não é um homem estúpido.
Ela escutava, o Sr. Hampton expondo a lógica de seus pensamentos. Algo em seus olhos a fazia perguntar se Julián poderia lhe ter dado o mesmo conselho.
— Entretanto, milady, devo acrescentar que se você fizer isso, deve fazê-lo imediatamente e com muita publicidade, também é meu dever a informar que não há nenhum caminho que garanta que você obterá o que deseja. Não há nada absolutamente, que assegure sua segurança onde você estiver, das duas opções, pediria que decidisse essa opção ao invés de partir para América.
— E meu bom amigo Julián. O que me aconselha?
Ele não respondeu imediatamente. Seu silêncio matinha uma turbulência de emoções, como se sua alma estivesse em uma batalha com a resposta.
— Julián espera que por uma vez, em sua vida você escolha o melhor para você e não para ele ou para alguém mais.
O que falou não disse muito a ela, seus olhos deixavam explícitas as palavras não ditas e talvez pouco de tristeza. Ela não podia fazer essa escolha por ela mesma, como ele insistia. Qualquer dos caminhos afetava a ele, ambos poderiam lhe custar muito. Olhou abaixo à carta de transferência, só uma escolha poderia lhe custar tudo o que ele tinha. De repente o perigo de permanecer na Inglaterra não era tão aterrador, já sabia o que devia fazer. Seguiria o conselho do Sr. Hampton, faria uma batalha com Glasbury e brigaria na terra que ela conhecia. Então enfrentaria o conde e procuraria a vitória. Levantou-se e caminhou ao redor dele.
— Sr. Hampton, tudo parece indicar que preciso de um amante, para o romance de conveniência.
— Penso que é uma sábia decisão. — ele fez uma pausa. — Além disso, não há tempo suficiente para você provar todas as perspectivas desejadas.
A referência a sua estúpida lista a fez rir. Isso a fez voltar para Julián de novo, ele pegou sua mão e a olhou calidamente.
— Posso oferecer meus serviços Pen? Não precisa ser um romance verdadeiro se não desejar. Precisava de uma pessoa mais forte que ela para resistir sua indulgência nesse crime, especialmente se iria provocar um escândalo de todos os modos. Apesar de suas palavras, seu olhar e sua aura estavam descaradamente seduzindo-a. Seu toque poderia parecer discreto, mas fazia pulsar seu coração com antecipação. Não, a paixão e o amor não eram a mesma coisa, mas a paixão temporária com quente afeto poderia ser muito agradável.
— Avaliou realmente o custo que será para você Julián? Está seguro que deseja jogar esse papel?
Ele como resposta, levantou a mão de Pen até seus lábios, seu fôlego e seus beijos enviavam gloriosos tremores de excitação subindo por seu braço.
— Ficarei honrado em fazê-lo.
CAPÍTULO 18
Pen e Julián deram instruções ao cocheiro de St. John, para que fizesse um agradável passeio de volta a Londres. Eles já não escondiam suas identidades. Ficavam nos grandes povoados e usavam as melhores acomodações dos hotéis, Julián sempre reservava dois quartos, mas os criados não deixavam de notar que, a dama não tinha uma criada que a acompanhasse e que o cavalheiro que a acompanhava era muito carinhoso com ela. Em duas ocasiões, Julián não usou sua cama para nada, um fato que as criadas poderiam notar facilmente.
Dois dias antes de chegarem a Londres, eles viram a primeira indicação de que seus comportamentos já eram conhecidos. Julián conseguiu uma cópia do Times, na última página no meio das notícias dos condados, eles encontraram uma curta nota de um ocasional jornalista, onde contavam que certa lady da alta sociedade tinha sido vista em Warwick, hospedada no King's Royal Arms. Só acompanhada de um cavalheiro altamente estimado pela Chancelaria e cuja reputação até agora irrepreensível. Na última audiência, o marido da dama, um par do reino, estava residindo em sua casa em Londres, esperando por muito tempo que sua esposa retornasse para ele.
— Reunir-me com ele. A última sentença apontada com o dedo diretamente. — disse Pen. — Os jornalistas do Times às vezes se orgulham de seus cuidados na escolha das palavras. — Julian afastou o papel.
— Acha que se reunirá comigo na entrada da cidade com o bispo e me proibir a entrada?
— Duvido que seja tão dramático.
— Assim que estivermos na cidade, o que mais devemos fazer?
— O suficiente para que seus criados saibam mais da indiscrição, do que a dama discreta desejaria. Está preparada para o escândalo Pen?
— Confesso que se pudéssemos ficar fora uma semana mais, não contestaria.
Ele pegou sua mão na dele. — Eu não duvidaria, não pelo escândalo em si mesmo, mas sim porque esses últimos dias foram preciosos e desejaria ter mais deles.
Realmente tinham sido alegres e despreocupados, ele os entesouraria todos, porque sabia que logo as coisas mudariam. O romance poderia continuar, mas dessa vez sob o olhar de milhares de olhos. As notícias nos jornais seriam menos prudentes. Os dias foram cheios de conversas e deliciosos silêncios. As noites repletas de êxtase. Não estavam unidos por um bispo, mas estavam unidos da mesma forma. Alguns quilômetros longe de Londres, a carruagem começou a diminuir a velocidade inesperadamente e parou na beira do caminho. Alguns minutos depois, a cabeça do coureiro apareceu na janela.
— É melhor que veja isso senhor. À esquerda.
Julián abriu a porta e virou seu corpo no ângulo indicado.
— O que acontece?— Pen perguntou.
— Carruagens. Três delas. Ele se sentou e fechou a porta. — É gente de Glasbury. Posso ver seu brasão daqui.
— O que vamos fazer?
— Continuaremos. Ele não pode parar seis cavalos.
— Se encheu três carruagens com homens, possivelmente possa.
Indicou ao chofer que continuasse. Enquanto se moviam pegou uma pistola do compartimento da parede em suas costas.
— O que está fazendo?
— Estou me assegurando que o pó está seco.
— Não pensa usar isso, não é?
— Desejo estar preparado. Isso é tudo.
A carruagem diminuiu e parou de novo.
— A carruagem do conde está na metade do caminho, em frente a nós. — disse seu cocheiro.
— Está bloqueando a estrada.
A cor desapareceu do rosto de Pen.
— Não vai tirá-la desta carruagem. — disse Julián. — Prometo que não permitirei.
Os cavalos relinchavam lá fora. Seu cocheiro pediu para que a carruagem do conde fosse para o lado, a resposta que recebeu foi inaudível. Os sons de uma discussão entravam pela janela.
Pen estreitou seus olhos. — Soa como a voz de Laclere.
— Assim é. — Inclusive, enquanto a discussão continuava mais adiante, o visconde em questão apareceu na portinhola.
— Bem vinda ao lar Pen.
A expressão de Laclere era cálida, enquanto se dirigia a sua irmã. — Será melhor que desça Pen. Glasbury não vai tirar sua carruagem até que a veja.
Laclere deu uma mão a Pen para que descesse. Enquanto fazia olhou para Julián com um rápido olhar crítico. Julián leu sua mensagem. “É desta forma que protege a minha irmã, velho amigo? Submetendo-a ao escândalo e a raiva de seu marido? Julián desceu da carruagem, Dante caminhava para unir-se a seu irmão e irmã.
— O que estão fazendo aqui? Pen perguntou a seus irmãos, depois de trocarem abraços.
— Seu retorno a Londres foi bem documentado, assim pensamos que Glasbury trataria de ver você pelo caminho. Decidimos nos assegurar que tivesse nossa companhia. — disse Dante.
— Todo esse drama por uma nota que apareceu no Times?
— O Times foi o menor de todos. Notas similares foi aparecendo em periódicos menos discretos toda a semana. — disse Laclere.
Julián olhou para frente do caminho. O conde estava em frente sua carruagem, tão reto como se alguém lhe tivesse soldado uma barra de ferro na coluna vertebral. Não estava sozinho, vários de seus criados estavam ao lado.
Laclere e Dante tampouco estavam sozinhos. Parados a seu lado, perto de suas próprias carruagens estavam Daniel St. John e Adrian Burchard.
Burchard tinha colocado um homem cuidando da casa de Glasbury para avisar qualquer saída que fizesse e pudesse segui-lo.
Laclere explicou.— Acredito que St. John veio assegurar-se de que sua carruagem não saísse danificada. Ele agradecerá por não ter tentado quebrar o bloqueio.
— Parece que ainda pode ter medo— disse Pen.
Um grito chamou sua atenção. Outra carruagem se aproximou por trás deles. O cocheiro agitou o braço, para lhes dizer que se movessem para frente ou fossem para um lado.
— À longa fila de carruagens, estava criando congestionamento através de Middlesex,— disse Dante.
— Glasbury terá que mover-se com o tempo, então poderia acabar com isso de uma vez. — Vou explicar para ele, disse Julián. Deu um passo para fazer isso precisamente.
Laclere segurou ele pelo braço.— Se for até ele, só colocará mais lenha na fogueira. Deve permanecer aqui. E deve devolver a pistola que tem abaixo de você ao compartimento da carruagem.
Julián ignorou a última sugestão. Mais a frente, Adrian Burchard se aproximou e falou com o conde. Depois se dirigiu para eles. Os olhos negros de Adrian e seus traços do mediterrâneo, o qualificavam como bastardo muito tempo antes que seu pai nominal, o conde de Dincaster, extra oficialmente lhe repudiasse. Em baixo de seu encanto urbano vivia uma profunda veia de perigo. As pessoas ardilosas sentiam isso, embora não conhecessem quantos feitos realizaram essa veia mais perigosa. Julián se perguntou, se Glasbury teria mostrado bom senso o suficiente para não insultar a Burchard. Não surpreendeu a Julián que o duque de Everdon havia tido a ideia de ter a casa de Glasbury vigiada. Em seus dias menos domesticados, Burchard tinha realizado missões para o governo que lhe engendraram essa perícia de olhar e seguir às pessoas. Adrian saudou Penélope, logo olhou a Glasbury.
— Diz que quer sua esposa e acrescentou algumas palavras a respeito de Julián, que não é necessário repetir.
— Ela não irá com ele — disse Julián.
— Disse-lhe isso, mas assinalou que o melhor para os dois é colocar um ponto final aqui ou será pior a derrota. Continuando, ameaçou chamar Julián para um duelo, aqui e agora, mas o dissuadi de fazer isso.
— Se ele quiser assim, por mim tudo bem. Por poucos momentos ninguém falou, ou moveu. Pen o olhou com assombro.
— Não está nada bem,— disse ela.
— De todas as formas, Glasbury pensou melhor,— disse Adrian.— Insiste entretanto, que não vai mover sua carruagem até que ele fale com sua esposa.
Sua esposa. Só menção, quase fez Julián tirar à pistola.— Ela não tem nada para falar com ele. Pode ficar ali até que o inferno o engula, mas ele não pode exigir nada que ela não queira. Os homens suavizaram suas expressões em reação a sua veemência. Penélope ficou olhando a estrada para Glasbury.
— Vou falar com ele,— disse.
— Ele não pode exigir. Deve saber.
— Vou falar com ele Julián. Sr. Burchard, pode me escoltar por favor? Diga a ele que vamos conversar ali, nesse pequeno campo, longe de seu cocheiro e de seus criados que estão em sua volta. Adrian ofereceu seu braço. Pegou Pen e se foi com ela pelo caminho. St. John se adiantou a seu encontro na metade do caminho. O que deixou Julián sozinho com Dante e Vergil. Eles observaram o progresso de Pen para Glasbury e a agitação em construção que demonstrava Glasbury.
— Ele está compreensivelmente zangado,— disse Laclere. – Toda a cidade espera a chegada dos dois amantes. Suponho que isso foi planejado com antecipação.
— Sim, foi previsto. É bom saber que conseguimos.
— Sem dúvida fizeram. Isso foi publicado ontem e vendeu bastante bem.— Laclere tirou um documento de seu casaco, desdobrou-se para abri-lo e o entregou.
Era uma gravura feita por um editor dos que se encarregam de explorar os escândalos e as controvérsias políticas. Mostrava a caricatura do conde com grandes chifres que saíam de sua cabeça, enquanto outra figura dessa vez um desenho de Julián, que lia um longo cilindro de escritura legal. Ao lado de Julián havia uma imagem bonita da condessa. O braço do Julián estava atrás da condessa e apesar de sua pose profissional, sua mão estava apoiada em seu traseiro nu, que usava a saia levantada nas costas.
— O artista captou muito bem a imagem de sua irmã.
— Sim seu rosto. Eu não sei sobre o restante,— disse Laclere.
— Pensei que ela estava fugindo,— disse-lhe Dante.
— Mudou de opinião a respeito,— respondeu Julián
— Então agora está lhe incentivando a divorciar-se dela?
— Essa é a esperança.
Os dois irmãos mudaram o peso. Julián quase podia ouvir a avaliação que faziam sobre interpretação dessa nova informação.
— Portanto, é uma farsa todo esse assunto? Ou realmente você e Pen são amantes? – perguntou Dante e Laclere soprou.
— Caramba, se os dois forem se pendurar, parece-me que bem poderiam fazê-lo.
— Sim, sim, eu tenho certeza que é isso o que você faria,— disse Laclere.
— Julián, sua vontade de acompanhar e proteger Pen em sua fuga seria muito cavalheirismo, mas fingir ser seu amante e sacrificar sua reputação para conseguir o divórcio para ela é temerário. O escândalo que se espera na cidade é insuperável.
Julián continuava olhando para Pen. Ela e Burchard tinham deixado a estrada e St. John falava agora com Glasbury. Este começou a caminhar para o campo a esquerda.
Pen se afastou de Burchard e se dirigiu a Glasbury. Burchard e St. John tomaram suas posições a beira do caminho, bloqueando os lacaios de chegarem ao campo. Pen se aproximou de seu marido. Seu marido. A cabeça de Julián quase se separou pelo sentimento de ressentimento, por esse laço que os unia. Odiava tudo o que isso implicava. Glasbury tinha direitos dos quais tinha abusado e afirmava coisas que ele não merecia. Julián Hampton não tinha nenhum direito perante a lei. Nenhum absolutamente.
Mas agora tinha outros direitos, além do jogo de dados pela lei. Direitos de posse.
— Não estou fingindo ser seu amante Vergil, por isso devo rejeitar os elogios que me faz como se fosse um grande sacrifício.
— Dante lhe deu um golpe leve no braço de brincadeira, para mostrar sua aprovação. Vergil tossiu como se seu fôlego ficasse preso na garganta.
Pen não podia mentir para si mesma. O conde a atemorizava. Seu último encontro na casa de praia havia aguçado seu senso de perigo. As recentes revelações a respeito de Cleo só pioravam as coisas. Não podia esconder seu ódio para ele nunca mais e menos agora que compreendia a verdadeira profundidade de sua depravação. Tentou sorrir, mas sua boca não conseguiu. Os olhos dele revelavam sua raiva.
— Esmagarei-o.
— Há anos que sei como é cruel Anthony. Nunca pensei que fosse também estúpido. Exigiu falar comigo e aqui estou. Se só deseja emitir ameaças, nossa conversa será muito breve.
— Este escândalo não tem apresentação. Como se atreve a exibir publicamente sua imoralidade e adultério.
— Você é ridículo ao falar em imoralidade. Além disso, se esse escândalo não tiver apresentação, pode fazer como os outros homens e se livrar do peso.
Sua expressão era relaxada, mas seus olhos ainda ardiam. – Então, esse é o seu joguinho para que eu me divorcie de você?
— Sou simplesmente consciente que sob tais circunstâncias não terá problemas em fazê-lo.
— Falas como se não tivesse um preço a pagar se o fizer.
— Não posso ver onde está.
— É uma condessa. Se me divorciar não será mais nada. Menos que nada.
— OH, você está falando do preço que vou pagar. Já paguei a maior parte dele. A queda que me espera é muito pequena em comparação, com o que me aconteceu quando o deixei pela primeira vez. Com o passar dos anos, essas questões se tornaram mais insignificantes para mim de todos as forma. Assim não se preocupe comigo querido. Divorcio-me com a consciência tranquila. Estou certa que há muitas mulheres que com muito gosto pagarão o que custa ser a condessa de Glasbury, mas decidi que o preço é muito alto há muito tempo.
Sua boca flácida encontrou certa firmeza. Seu cenho se levantou até juntar-se com as sobrancelhas. Olhou atrás dela, onde seus irmãos estavam com Julián.
— Esta foi sua ideia. Ele a seduziu com esse absurdo e a enrolou.
— Acredite quando digo que isso foi minha ideia. Também quando digo que não vou voltar para você. Um homem sábio acolheria uma simples solução.
Seu olhar afiado se dirigiu a Julián.
— Posso pensar em várias soluções simples.
A ameaça a Julián era inconfundível. Uma quebra de onda de pânico tentou se apoderar dela, mas ela as colocou de lado.
— Não deixe que seu orgulho o leve a loucura. Não pense nem por um minuto, que derrotá-lo significa sua vitória. Não é mais que minha distração do momento, haverá outros.
— Não se estiver comigo.
— Inclusive se estiver.
Sua atenção se voltou para ela. Ele pareceu surpreso. Então sua raiva se fundiu e um olhar lascivo iluminou seus olhos.
— Mas, é obvio. Devia ter percebido, que suas experiências brincando de puta devem ter feito a diferença. Encontrou o que você gosta minha querida? A ideia de fidelidade em uma cama a aborrece agora, depois que desfrutou de tanta variedade? Não há dúvida que se o homem for bastante bonito, inclusive acolherá o que resistiu comigo.
Ela sentiu seu rosto esquentando. Ele voltou sua cabeça para ela.
– Volte e me dê meu herdeiro. Depois disso pode ter tantos amantes como quiser, da forma que desejar. Pode conservar seu título, viver no luxo e até mesmo distribuir livremente seus favores.
Sentia-se suja por estar em presença. Ela virou em seus calcanhares e caminhou para seus irmãos.
— Encontre outra mulher para lhe dar um herdeiro. Se me obrigar a voltar, assegurarei-me de que nunca saiba com certeza, se algum filho que carrego seja seu.
CAPÍTULO 19
Entraram em Londres como em um desfile. Glasbury encabeçou a procissão de carretas e carruagens graças ao congestionamento que causou devido seu bloqueio.
O cocheiro do conde saiu da fila perto de Grosvenor Square, mas as carruagens da sociedade rodaram em fila para a casa de Laclere. Lá se juntaram com outra coleção de carruagens que indicava que a viscondessa não estava sozinha.
Julián reconheceu o veículo e o cavalo de cada um. As mulheres que tinham pensado em lhe encontrar uma esposa, estavam reunidas. Pen caminhava ao seu lado para a porta.
— Imagino que estarão esperando alguma explicação, — disse ela.
— Esse giro nos acontecimentos e a indiscrição como deve ter as deixado surpresas. Atreveria-me a dizer que você deixou todos atônitos.
— Não mais do que deixei a Laclere.
— Pensa isso? Bem, ele pode desaprovar duramente depois de tudo.
Ela se conteve e deu uma ligeira olhada para trás em seu irmão — Estou muito segura que se acomodará aos acontecimentos.
Eles encontraram às mulheres na biblioteca. Diane St. John estava sentada junto à esposa de Dante, Fleur. A viscondessa e Sofía a duquesa de Everdon, estavam conversando com a irmã do Pen, Charlotte.
— Bom, Julián, se eu tiver que brigar na batalha do escândalo, poderia ser pior se não tivesse essa formidável tropa ao meu lado,— sussurrou Pen.
— E algumas muito experientes. — Das mulheres reunidas, só Charlotte se livrou do olhar cruel da sociedade.
A presença mais formidável era a da esposa de Adrian, Sofía. Era duquesa por direito próprio, embora tentou rejeitar esse papel. Depois de ter aceitado finalmente sua posição, entretanto, ela não estava por cima de seu uso.
Tinha obrigado à sociedade a aceitar a seu marido Adrian e exercia o poder de seu status para proteger a seus amigos. Havia alguns círculos muito seletos, que não estavam muito de acordo em aceitá-la, mas não se atreviam ainda, a deixá-la de lado totalmente.
E no entanto, Julián sabia que quando Sofía deixava algumas salas de desenho, as intrigas se voltavam para a forma em que ela não era digna de sua posição, que era muito frouxa na escolha de amigos e por descuidar seus deveres, na sua linhagem com a escolha que fez para marido.
Todos os olhos se viraram para a porta, assim que o lacaio abriu. Julián estava junto a Penélope, com seu séquito em volta. Laclere rompeu o incômodo silêncio que seguiu, dizendo ao lacaio para que solicitasse e servissem refrescos.
As damas continuaram dando a Julián uma inspeção muito curiosa.
Diane St. John se aproximou para abraçar Pen.
— Minha querida amiga, é uma alegria vê-la de novo. Sinto-me aliviada por ter retornado para nós e agradeço que o senhor Hampton, tenha se encarregado de sua segurança.
As outras acompanharam seu engenho. As damas caíram sobre Pen e a absorveram lhe dando as boas-vindas entre abraços e beijos.
Laclere ofereceu brandy aos homens e eles fizeram um círculo e conversaram também. Julián podia ver a viscondessa olhando-o através da biblioteca, enquanto as outras mulheres continuavam falando.
“Minha querida Lady Laclere,
Sinto muito por sua surpresa. Espero que não esteja muito decepcionada, porque seus esforços em meu nome tenham sido de repente irrelevantes, possivelmente a boa sociedade nunca volte a me considerar um partido adequado para o casamento. Se você se perguntar porque eu contribui para tal ruína, possivelmente deva consultar à Sra. St. John.
Eu tenho razões para pensar que ela é a única pessoa nessa sala, que suspeita a verdade sobre tudo isso. Ou talvez, você poderia perguntar a seu marido, que também arriscou muito ou possivelmente, mais do que eu e por uma razão similar.
Seu devoto servidor, Julián.”
— Parece que temos algumas decisões a tomar, — disse Laclere, interrompendo tanto os pensamentos de Julián como a descrição de Dante de uma raça de cavalos. Sua voz foi o suficientemente forte para que as senhoras ouvissem. A sala ficou em silêncio e toda a atenção se voltou para ele.
— Nós? Você espera que a decisão seja coletiva? — perguntou Julián.
Um murmúrio, — certamente que não— e — nós não deveríamos nos colocar — se ouviu através da biblioteca.
— Poderíamos ser de ajuda, entretanto, devemos saber quais decisões tomarão — disse Sofía.
— Devemos tratar de desafiar o escândalo? Negar as acusações? Explicar outra forma a intriga? Recebi mais cartões de convites nos últimos dois dias, que nas últimas duas semanas, da maior quantidade de damas que normalmente, não gostam de minha companhia. Estou segura que elas somente convidam com a esperança de escutar as particularidades que eu saiba, pois sabem que sou muito amiga de Penélope.—
— Segundo Laclere, tudo foi publicado. Um jornal inclusive, inclui quais comidas consumimos, enquanto viajávamos para Londres, — disse Julián. — O que mais essas mulheres querem saber?
– Acredite-me senhor, você não gostaria de ouvir a resposta a essa pergunta, — respondeu Charlotte.
— O ponto é que nós confiamos em vocês dois para nos orientar — disse Sofía. — Se juntarmos nossos esforços poderemos dirigi-lo.
— Não tenho a intenção de ser discreta, — disse Pen. — Não desejo que nenhum de vocês dirijam nada. Deixaremos que os ventos soprem como tem que ser.
— Então é como pensamos. Você e o senhor Hampton idealizaram essa estratégia para obrigar Glasbury para que peça o divórcio,— disse Charlotte.— Suponho que será um alívio finalmente terminar isso bem.
— Se o restante de vocês pensam em um propósito, que seja a proteção de Penélope,— disse Julián.— Glasbury não deve ter a oportunidade de estar a sós com ela, ou encontrá-la sem amigos ou sem família ao seu lado.
— Ela não pode viver em sua casa sem contar com tal proteção,— disse St. John.— Seus criados não podem fazer frente a Glasbury.
— Ela residirá aqui,— respondeu Laclere.— Eu não admitirei nenhum argumento de ninguém nesse ponto. Deu um olhar severo a Julián que lhe dizia o que ele entendia por qualquer pessoa.
— Acho que prefiro voltar para minha casa,— disse Pen, o que demonstrou que seu irmão julgou mal a fonte de resistência.
Bianca se aproximou e acariciou sua mão.— Ficará conosco, para que Laclere possa trancar a porta com sua espada. Enquanto ao escândalo e suas conclusões previstas, não tenha medo se assim o desejar, nossos criados podem ser tão indiscretos como os seus.
Os outros convidados se foram, mas Julián permaneceu. Quando Bianca convidou Pen para subir e escolher seu quarto, ele ficou sozinho com Laclere.
— Vamos ao jardim,— disse Laclere.
Caminharam entre as roseiras e os troncos das árvores emolduradas e cobertas de hera. Laclere parecia muito pensativo, mas com o tempo um sorriso irônico apareceu em seu rosto.
— Como Penélope é uma mulher com mais de trinta anos, percebo que não existe nada absolutamente que possa dizer á você, sem parecer ridículo.
— Talvez deveria dizer alguma coisa de todas as formas.
Caminharam um pouco mais.
— Esta não é a primeira vez, que um de meus melhores amigos começou a sair com ela, obviamente. — Eu não sou Witherby, Vergil.
— Não. Ele era só conversa, engenho e encanto. Poderia supor que ninguém sabia o que havia dentro dele realmente, mas na verdade não conhecia nada de sua alma. Você é o oposto. Você é um grande desconexo, autoindulgente sem problema moral. É um fino livro de poesia.
Por um lado, Julián se sentia adulado pela comparação. Por outro, sabia que era o romance mais popular e mais fácil de compreender.
— Pen está recebendo a pior parte,— disse Laclere.— As brincadeiras a pintam como uma Jezabel, que teve vários amantes antes de você. Fofocas que vieram de Nápoles e se distribuíram livremente.
— Não tinha amantes em Nápoles. Flertes, mas não romances.
— Isso não importa agora, não é? E você além disso, está sendo pintado como sua vítima, um homem que levava uma vida irrepreensível, sendo agora induzido à loucura pela mulher escandalosa.
— Sinto-me insultado.
— Merece isso, por ser tão inescrutável e discreto todos esses anos.
— Suponho que posso tomar providências para que meus enlaces anteriores saibam. Provavelmente, posso encontrar pelo menos uma mulher que atestará, que sou perfeitamente capaz de realizar uma sedução.
Laclere começou a rir e continuaram caminhar lentamente. – Entretanto Bianca, anunciou que está livre para continuar com esse teatro, enquanto Pen residir aqui, não tenho nada que dizer a respeito. Exceto é obvio, pedir que seja discreto ao se referir as crianças.
Caminharam um pouco mais. Julián conhecia Laclere muito bem e podia afirmar, que tinha problemas à respeito de algo e se debatia sobre como abordá-lo.
— Você percebe é claro, que o divórcio não é a única opção do conde. Ninguém sabe como é bom com una pistola. As investigações que foram realizadas, não deram resultados a respeito.
— Se ele me chamar perceberemos.
— A ideia não parece incomodar você absolutamente.
Julián escutava prazerosamente o rangido de suas botas sobre as folhas caídas, enfrentando-o em um duelo.
O olhar de Laclere o perfurou.— Isso é o que você esperava que acontecesse na estrada, não é?
— De um homem como Glasbury, sim.
— Pen sabe que deseja ver esse assunto resolvido em um duelo?
— Não.
— E se perder?
— Então você terá que usar a espada que guarda na barra da porta e que sua esposa descreveu. Confio que pode fazê-lo. Entretanto, não espero perder.
— Não posso tolerar isso Julián.
— Se isso acontecer, acredite quando digo que Glasbury fez coisas em sua vida, que poderiam levar outro homem a forca. E também acredite quando digo à você, que só sua morte na verdade é a única coisa que pode proteger Pen. Você não pode tolerá-lo Vergil, mas eu com gosto lhe darei as boas vindas.
— Para castigá-lo ou para livrar a ela?
Ali estava, a pergunta que foi a sombra durante toda essa conversa. – Está perguntando se minhas intenções são honráveis?
— Maldito seja, suponho que sim.
— Quanto aos meus motivos para um duelo, ou para sua irmã?
— Diabos, Julián.
— Se a ocasião surgir, por causa do divórcio ou de outra maneira, eu obviamente, farei o certo na luz do meu papel no escândalo que a envolveu. No entanto, acredito que é pouco provável que volte a se casar e ficar livre.
— O casamento não foi bom para ele, não é?— Laclere suspirou profundamente. O pequeno sulco entre as sobrancelhas se aprofundou.
— Não, não foi — Laclere apontou em direção à casa. — Vamos nos unir às damas, penso que já tiveram tempo suficiente, para que Bianca tivesse todos os detalhes tal e como Sofía ressaltou há pouco tempo.
— Supõe que os “detalhes” significam que elas estarão perguntando se fui um bom amante? — Laclere, ruborizou-se — Só Deus sabe.
Onde diabos estavam Jones e Henley?
Glasbury bateu em uma pilha de cartas sobre a mesa para descarregar sua frustração. Não havia nenhuma carta na pequena e fina gaveta que Jones usava entre eles.
Mesmo que Penélope tivesse escapado das mãos, eles deveriam ter escrito para informá-lo. E agora, toda a Grã-Bretanha conhecia quais os caminhos que tomou e em quais hotéis se hospedou, como Jones não podia saber?
O desgraçado provavelmente pegou o dinheiro e desapareceu.
Seu ajudante de quarto sustentou seu casaco no alto e ele se deslizou dentro.
— Necessitará de mim quando retornar Senhor?
— Não. Atenderá algumas coisas essa noite Cesar.
— Muito bem, senhor.
Glasbury olhou afiadamente para seu valete refletido no espelho. Estava percebendo que o homem se atreveu a piscar em desaprovação? Houve um tempo, que tal audácia lhe teria significado algo mais que um castigo. Glasbury suprimiu seu rancor. O rosto de seu valete não mostrava nada, deixando ver sozinho a desaprovação. Ele permitiu que o encontro com Penélope o zangasse mais do que devia.
Agora estava complemente vestido, para o jantar dessa noite. Esperava que os outros convidados fossem mais agradáveis, que aqueles que participaram nas semanas anteriores. O tal Pérez lhe foi apresentado em uma dessas ocasiões, junto com sua mal nascida esposa.
A mulher ficou lhe perguntando, suas apreciações sobre a nova lei contra a escravidão. Seu sangue mestiço era óbvio e sua presença na boa sociedade era uma abominação. Claramente, se via que ela não era mais que uma exótica curiosidade do momento e que nada tinha mudado realmente. Sua estúpida pergunta, implicava que era o suficientemente estúpida para pensar que todo o país aprovava essa escandalosa e atroz lista de direitos que a lei tinha apresentado recentemente.
Ele tinha visto o sorriso e seu olhar direto quando lhe expôs o assunto. Isso não o envergonhava em nada, entretanto, ele a colocou em seu lugar de todas as formas. Particularmente, deixou conhecer sua suspeita de que ela não fosse realmente a esposa de Pérez, a não ser sua puta.
Isso a fez se retirar. Ele não perdeu o delicioso medo exposto em seus olhos, quando ela o olhou e então, ele foi incapaz de resistir de pressionar sua vantagem uma vez que viu sua expressão.
Desceu para sua carruagem, realmente era ainda cedo para a festa, mas havia outras coisas que deveria atender primeiro nessa noite.
Jones e Henley tinham desaparecido, mas seu trabalho não estava ainda completo. Dirigiu-se para o seu cocheiro e lhe disse que seguisse a rua perto de Newgate. Ele necessitava do serviço do tipo de gente que perambulava por ali.
A noite depois da sua chegada, Pen pavoneava seu romance em frente a todo mundo. Assistiu o Teatro Adelphi em companhia de Sofía e Adrian Burchard, sentou no camarote dos Everdon onde ficou muito visível e não podia ser ignorada. Julián ia com eles, usava seu chapéu e caminhava ao seu lado como um bastão de marfim. Estava muito atraente e elegante. Quando ele se moveu para pegar a cadeira atrás dela, inclinou-se e lhe deu um breve beijo no rosto. Não era mais o que um velho amigo fazia para saudar, mas sob tais circunstâncias dava veracidade às fofocas sobre eles. Entretanto, não era Julián o amante que estava sentado atrás dela. As pessoas no teatro viam era o Sr. Hampton que eles conheciam, frio em seu silêncio e misterioso em sua reserva. A única diferença era que ele não tinha deixado o seu lado. Eles pareciam diante do mundo como duas metades em tudo e não como uma relação de conveniência que era.
— Está muito apagado essa noite, — disse ela.
— Se eu agir embargado pela paixão, só os convencerei de que fiquei louco.
Certamente ele ouviu a forma como as fofocas descreviam seu romance.
— Em todo caso, todo mundo vai estar nos jogando um olhar eventualmente, — acrescentou ele. — E essa é a meta, não é?
Isso era a verdade, em seu lugar em frente do camarote, ela não perdia as olhadas em sua direção, nem os comentários escondidos atrás dos leques abertos.
O tom que utilizou para apontar isso, tinha sido muito displicente. Ela sentia como se uma tormenta se forjava nele.
Poderia ser pior, — disse ela para acalmá-lo. — Eu esperava que me cortassem diretamente e ninguém o fez. Houve certa frieza, mas nada insultante.
— Nós ainda somos uma novidade. A curiosidade é mais atraente que a moralidade. No seu caso suponho, os cortes acontecerão até que esteja divorciada.
— Em seu caso? Já aconteceu, não é?
— Não foi nada importante.
Possivelmente não, mas tinha acontecido. Isso provavelmente explicava seu estado de ânimo nessa noite. E aconteceria outra e outra vez. Seu coração se contorceu, não era justo que ele enfrentasse primeiro desprezo antes dela.
Os amigos que foram visitar Sofía, deram as boas vindas a Pen, nenhum deles disse uma só palavra sobre o escândalo. As palavras e as expressões que dirigiram a Pen e a Julián foram cuidadosamente escolhidas. Entretanto, a curiosidade brilhava através deles e em ocasiões, com um toque de recriminação moral. Na primeira hora, Pen identificou duas mulheres de seu círculo que provavelmente nunca mais voltaria a se relacionar novamente.
Não só os velhos amigos passaram por ali, os novos também passaram. Quando o camarote já estava abarrotado, o senhor Pérez, um emissário da Venezuela, chegou com sua exótica esposa de braço. Na pouca luz do teatro, Pen notou que o rosto da Sra. Pérez tinha olhos escuros e fogosos, com uma boca cheia e sensual. O restante do pacote era mais visível. Seu profundo decote era muito da moda na corte e muito revelador em si mesmo.
Não havia nada realmente impróprio em seu traje e nada realmente audaz em seu comportamento esperto e vivaz. Entretanto, sua chegada imediatamente fez com que todas as mulheres parecessem umas virgens colegiais. Pen de repente se sentiu torpe, pálida e insossa. Muitos homens em seu camarote subitamente se moveram de seu posto até ficar mais perto dessa exótica flor. Parecia que não tinham controle sobre seus movimentos, como se fossem ferros atraídos por um ímã. Logo ela se virou para o centro de sua atenção, inclusive se falava com alguém mais.
A Sra. Pérez se virou como se conhecesse Julián. Quando ele não se uniu a seus admiradores, ela projetou um ardente olhar, que ele reconheceu com um pequeno assentimento de sua cabeça. Um sorriso de diversão atravessou o rosto dela e caminhou para ele. Pen conseguiu resistir o impulso de se atravessar entre Julián e sua sedutora. A Sra. Pérez aceitou a apresentação a Pen com um longo olhar de avaliação. Não parecia muito impressionada pelo que via. Então, desdobrou todo seu magnetismo para Julián.
— Que prazer tê-lo de volta entre nós Sr. Hampton. Sua ausência fez nossa vida muito mais aborrecida.
— Eu duvido que minha ausência tenha sido notada.
— Claro que foi. Senti saudades da sua tranquilidade em águas profundas. Em poucos dias me senti completamente seca. A voz de sua garganta estava carregada de insinuações.
Pen sentia seu próprio sorriso apertado e viu com satisfação, como se formava também uma linha apertada na boca do senhor Pérez. O marido tinha notado a conversa de sua esposa. A atenção da Sra. Pérez seguiu o olhar do Pen e viu o resplendor em seus olhos. Ela se virou para Julián com um sorriso aveludado.
– Parece que de repente, se converteu em um homem perigoso Sr. Hampton. Que golpe foi para todos os homens descobrir o que as mulheres sempre souberam. —
— Possivelmente você deveria lhe assegurar que não represento nenhum perigo, absolutamente, — Julián disse.
Não acredito que uma esposa possa lhe assegurar que seu marido está segura com você agora. Além disso, eu não gosto de mentir para Raúl e um pouco de ciúmes é uma coisa boa para um homem. — Com um convite silencioso e descarado, ela se retirou e se insinuou para um grupo próximo.
— Que mulher descarada! — assinalou Pen.
Ela só estava zangada porque uma abelha não zumbiu sobre ela.
Pen ficou grata, por sua abelha não fazer, mas a expressão dele durante a troca anterior não foi totalmente indiferente. É possível, que ele não estivesse agora interessado na Sra. Pérez, mas ela pensava que ele talvez, teve alguma intenção com ela no passado.
Seus ciúmes não tinham justificativas, nem ela tampouco, tinha direito de ter. Mas teve que admitir que não sufocou ainda os desejos de esbofetear essa mulher descarada.
—Suponho que devo esperar que tais coisas, continuem acontecendo no futuro – ela tratou de brigar com a petulância que apertava sua voz. — Agora, cada esposa infeliz, o considerará como um potencial amante.
— Sabíamos que minha reputação se veria afetada.
— No entanto, parece que terá compensações.
Ele não parecia nada consternado pela recente insinuação. Ela suspeitou que as primeiras notas haviam jogado algum tempo atrás e a Sra. Pérez, só estava continuando o flerte que começaram no passado.
— Haverá outras Julian?
— Outras?
— Outras mulheres jogando seu chamariz nas tranquilas e profundas águas do lago? Mulheres não muito desanimadas pelo nosso romance de conveniência, mulheres que foram suas amantes e que tentarão fazer você voltar?
—Recentemente, apenas a Sra. Morrison, mas talvez, nesse momento esteja pescando com seu respeitável marido, embora espere que se mantenha em sua linha e olhe para outra parte.
Deus do céu, acabou de lhe dizer o nome de sua última amante, agora tinha um nome para a vaga e feminina essência naquele quarto da casa de campo e depois com segurança teria um rosto.
— Parece zangada Pen.
— A Sra. Pérez me surpreendeu foi só isso.
— Suspeito que a partir de agora, receberemos um trato diferente, mais audaz.
— Eu sei que serei tratada diferentemente Julián , conheço o quanto cortante e insultante pode ser essa gente e espero muitas insinuações a respeito de minha moral. Mas estou preparada, o que não esperava era que as mulheres abertamente, me desafiassem sobre você. Penso que deveria tê-la desencorajado mais diretamente.
Ele a pegou pelo braço e a levou para onde estava Sofía.
— Eu fui muito direto com ela, uma mulher como essa escuta o que lhe diz, mesmo que não se use as palavras. Agora Pen sorria, ou todo mundo vai pensar que estamos tendo nossa primeira briga.
CAPÍTULO 20
Fora do teatro na aglomeração, Pen entrou na carruagem de Julián e não dos Everdon. Embora pretendesse ser rápida e discreta, estava segura que pelo menos uma das damas percebeu. A chegada da carruagem à casa de Laclere e a partida da mesma sem seu proprietário um pouco depois, não duvidava que também seria notado.
Laclere e Bianca se retiraram cedo, tornando mais fácil para Julián acompanhar Pen para cima e seu quarto.
O lacaio que os recebeu não tinha abandonado a sala de recepção, quando eles começaram a caminhar para a grande escada. A criada que esperava atender Pen, recebeu sua dispensa sem piscar.
Espero que Glasbury tenha muitas cartas pela manhã, — disse Pen, enquanto tirava suas plumas.
Julián largou sua bengala. Caminhou ao redor do quarto examinando os adornos, checava as notas nos dois livros da mesa e percorreu com seus dedos a beira esculpida de uma cadeira. Seu olhar percorreu a cama de mogno, suas brancas cortinas e seu cobre leito.
— Estou certo que terá muitas cartas Pen. O romance de conveniência tem feito um bom trabalho. As indiscrições dessa noite marcarão todas as fofocas e suspeitas.
Algo em seu tom fez com que ela parasse e o tocasse em suas mãos.
Todo mundo suporá como nós queiramos, não importa o que realmente aconteça entre nós.
— O que está dizendo Julián?
— Estou dizendo que acompanhar você ao quarto foi suficiente. O plano não precisa de mais nada. — Embora seu tom não fosse descortês, a fria distância que tinha mostrado toda a noite se intensificou. Seu comportamento a fez sentir uma terrível apreensão por dentro, sua alma sentia que alguma coisa estava errada e a ponto de acontecer.
— Certamente, não deve se sentir obrigado a fazer esse papel mais do necessário, Julián.
— Não falo de meu senso de obrigação mas sim do seu.
— Isso é o que pensa que nós estivemos compartilhando? Asseguro que eu não sou tão complacente como você pensa.
— Você está me interpretando mal.
— Então explique por favor, claramente está aborrecido por algo. Foi por causa do meu pequeno ressentimento com a Sra. Pérez? Não costumo ter tal comportamento, mas serei mais sofisticada no futuro.
— Não tem nada a ver com essa mulher, garanto-lhe isso.
— Então qual é a razão para o seu mau humor?
Não respondeu imediatamente. Sentia como se emoldurasse seus pensamentos em palavras.
— Enquanto estava sentado no teatro, vendo o drama no cenário, percebi que nós estávamos interpretando outro no balcão. Isso não é o que importa, juro-lhe isso. Entretanto, uma vez que essa porta se fechou atrás de nós, a cortina caiu. A audiência foi satisfeita e nosso atual romance não tem necessidade de mentir perante um juiz. Não há razão para que esse assunto de conveniência continue atualmente.
— Isso não começou como um assunto de conveniência Julián.
— Não, começou como dois amigos matando o dragão por uma noite. Glasbury nenhuma vez esteve longe de ser algo disso, verdade?
Uma dor torceu em seu estômago. Seu coração pulsava dolorosamente, inchado pelo peso doentio causado pela antecipação da perda.
— Está me abandonando, Julián?
Ela pensou que ia morrer, quando ele não respondeu imediatamente.
Aproximou-se dela. Estendeu a mão e acariciou seu rosto, seus dedos fizeram só um contato leve.
— Pen, você me aceitou como um velho amigo que a ajuda a lutar contra as más lembranças e como seu sócio em um assunto de conveniência. Estou explicando que se fizermos amor uma vez mais, não teremos uma boa desculpa, salvo que a desejo e que você me deseja. Se não fazermos amor, isso não afetará nosso plano. Não seria importante em absoluto.
Exceto para ela, se essa carícia no rosto fosse o último toque de todos, seu coração quebraria. Uma vitalidade fluiu para ela através de seu gentil contato. Acalmou sua angústia e estimulou seus sentidos, poderia seduzi-la além de qualquer outra coisa. Ele parou a um braço de distância dela, ainda contido e calmo. Entretanto, seus olhos davam a entender que por dentro não havia tal calma.
— Você me deseja dessa forma Pen? Sem uma boa desculpa?
Ela o desejava de qualquer forma que pudesse tê-lo. Iria chorar se ele jamais a abraçasse novamente. Admitir que sua vulnerabilidade para ele se multiplicava por dez, a fez se sentir ao mesmo tempo eufórica e assustada.
— Sim Julián, o desejo dessa forma, sem desculpa. Desejo muito você.
— Então, quando estivermos sozinhos e baixe o pano de fundo, deve ser algo diferente do drama que vê a opinião pública. Não o desejo aqui entre nós. Temos todo o dia para isso, mas a noite devemos ser só eu e você.
Ele começou a despi-la lentamente, suas mãos deliberadamente soltavam suas roupas uma por uma. Seu comportamento era sutilmente diferente, como se estivesse declarando um novo direito sobre ela, com cada peça que caía no chão.
No momento em que deslizou os cordões do espartilho por suas casas, seu desejo despertou totalmente.
Aprendeu que não ter desculpas não significava não ter defesas. Tudo era diferente. A forma em que a olhou quando sua camisa caiu ao chão. A forma em que a levantou em seus braços e a levou a cama. A forma em que dirigiu a paixão dela depois que se despiu e se uniu com ela ali.
Ela quase resistiu à forma em que a afetava. Seu coração não deveria permitir. Ao admitir que não podia perdê-lo, ela expôs a si mesma a um poder maravilhoso. Seu calor, seu aroma, sua pele, seu fôlego e sua consciência completamente se encheu com sua presença e sua realidade, tanto que inclusive, estava encharcada de prazer.
Ela o desejava dentro dela antes que se entregasse ao abandono total, sentia falta da intimidade compartilhada, mais que o êxtase em se que lhe provocava. Ela tocou seu rosto e apertou seu ombro para que soubesse. Ele se moveu sobre ela, parecia que seus corpos se adaptavam perfeitamente essa noite, com sua virilidade aninhada em sua suavidade.
Ela se estremeceu quando ele entrou nela. A sensação de plenitude a comoveu tanto que queria chorar. Ela o puxou para baixo em seu peito e o abraçou com força, saboreando a poderosa emoção que a embargava.
— É diferente quando não há desculpas,— sussurrou ela.
Ele se levantou o suficiente para olhar em seus olhos.
— Sim.
— Pode não haver desculpas, mas há boas razões. A felicidade é uma boa razão.
— Também são o desejo e afeto.— disse Pen.
Ele a beijou brandamente.
— Essas são boas razões.
Assim é o amor. Seu coração a obrigou a receber as palavras em sua cabeça, antes que ela compreendesse o que estava admitindo.
Não era o amor por um velho amigo. A gente não pensava morrer com uma só ideia de perder a carícia de um amigo. Só um coração apaixonado podia ter medo de tal solidão e miséria.
— Isso é realmente muito surpreendente Julián.
— Podemos nos surpreender juntos.
Ela não se deu conta do quanto surpreendida ficaria, não imaginou que ao admitir seu amor poderia mudar tudo. Cada carícia, cada beijo e cada movimento os unia de uma maneira, que ela sentiu que a alma dele se fundia com a sua. Ele ainda continuava dominando seu abandono. Os gritos de Pen levavam seu nome. Ela se submeteu às emoções que saturavam seu clímax, por isso nesse momento de intensidade cega se transformou. Mais tarde, quando deitados entrelaçados e esgotados, ela não se mexeu para não perturbar essa beleza. Eventualmente, ela teve que renunciar a ele. Algumas poucas horas mais tarde, ele se levantou e começou a vestir-se.
A incomodava que esta noite preciosa tivesse que terminar assim, com Julián saindo furtivamente nas horas mais escuras. Ela queria que ficasse com ela, para que pudessem saudar juntos o novo dia. Ele se sentou na cama e em ângulo virado para ela e deu um último beijo. Ela não podia ver seu rosto na escuridão que reinava no quarto, devido à extinção do fogo na lareira, mas esse carinhoso beijo revelava mais que qualquer expressão ou palavra pudesse dizer. Tocou seu rosto.— Eu gostaria...
Ele virou a cabeça para beijar sua mão.
— O que quer você, milady? Sou todo seu para que mande.
Seu coração ardia com a alusão lúdica as brincadeiras de sua infância. Essa noite tinha revivido essas antigas lembranças. Eles agora tinham profundas e fortes raízes que apoiavam esse amor especial.
— É uma coisa horrível o que penso, mas eu gostaria que ele se fosse Julián. Que Deus me perdoe, mas desejo. Eu gostaria que não tivéssemos que interpretar só uma obra no cenário do mundo.
A cabeça dele se abatia perto da sua.— Ele irá logo. Isto terminará rapidamente Pen. Agora tenho que ir, embora eu daria um ano de minha vida para ficar, inclusive uma hora mais.
Levantou-se e se afastou, fundindo-se com a escuridão.
Foi só muito mais tarde, quando a cabeça sonolenta de Pen se encheu com as lembranças da noite, que ela entendeu as outras implicações de seu amor.
As apostas em sua batalha contra Glasbury acabavam de ser levantadas.
Julián se deslizou fora da porta da cozinha vazia e passou através do jardim. Considerando sua paz eufórica, era difícil acreditar que a noite tinha começado com tal turbulência por dentro. Enquanto esteve sentado no camarote do teatro, não tinha se importado com as olhadas curiosas sobre ele, mas se ressentiu como um inferno ao ver como esses olhos examinavam Pen. A audácia da Sra. Pérez e o ciúmes do Pen, só acrescentou em seus sentimentos que ele só representava um papel em uma farsa.
Sua cabeça se tornou turbulenta ao reconhecer como seu jogo com Glasbury, o fazia ver seu romance como algo frívolo e barato, mais farsa que uma peça que se desenvolvia abaixo. Sua relação foi prazenteira e divertida, sensual e amistosa, mas sempre como um meio para um fim. Essa noite, ele subiu as escadas para o quarto dela com o conhecimento que as coisas não continuariam dessa forma. Ele poderia ver tudo através dela, mas não a abraçaria de novo como parte de um drama representado para a sociedade. Não mentiria a si mesmo que era algo mais se na verdade não era.
Ela o tinha impressionado e assombrado com suas palavras, suas carícias, com o olhar em seus olhos o deixou sem nenhuma defesa. Ele a tinha amado por anos, tanto como seu coração podia amar, mas essa noite tinha aprofundado esse amor tanto, que sacudiu sua essência e enquanto matinha sua consciência.
De repente, o mundo real quebrou sua tranquila solidão. Seus instintos gritaram em alarme. A escuridão se mexeu. Duas figuras tinham emerso das sombras para bloquear seu andar no beco. Eles não se aproximaram. Só esperaram que ele os visse. Olhou para trás dele e viu que outra figura bloqueava sua saída.
Laclere estava certo. O conde tinha outras opções, além do divórcio. Enquanto caminhava para frente foi tirando suas luvas, assim poderia segurar firmemente sua bengala.
— Estiveram esperando por mim toda a noite nessa umidade? O conde não é muito considerado com seus criados. Ele se moveu para eles, eles retrocederam alguns passos, como se os surpreendessem por sua audácia.
— Vocês não são homens inteligentes, entretanto tampouco são criminosos muito ardilosos.
Eu só preciso gritar e estarão na prisão ao amanhecer.
— Teriam que nos agarrar primeiro, — o mais valente grunhiu.
Julián sentiu um braço oscilante sobre ele, mas ao vê-lo se agachou e bateu com sua bengala nos joelhos do homem.
Uma barra de ferro que caiu sobre os paralelepípedos fez o seu próprio ruído. A arma soou e o homem se afundou. Com muita dificuldade um uivo afogado soou pelo beco.
Passos de botas anunciaram a rápida aproximação de um terceiro homem. Não esperou por outro ataque, Julián girou sua bengala novamente e o atingiu o segundo homem.
Julián passou em cima de ambos os homens e enfrentou o último camarada. O gemido de seus companheiros o pegou desprevenido.
— Leva ele daqui e os entregue ao canalha que os enviou. — disse Julián. — Entregue a Glasbury uma mensagem de minha parte. Diga-lhe que não será desta forma, em um beco escuro. Se ele deseja me matar, terá que fazer ele mesmo em um duelo.
O último homem se inclinou para ajudar a seu amigo levantar em sua perna boa. Julián deixou eles encontrarem seu caminho de volta a seu senhor.
Deu uns golpes com sua bengala no pavimento, enquanto caminhava pela rua em silêncio. Ao menos nessa noite, não foi obrigado a se ver usando a espada escondida por dentro.
Foi uma sorte que os sequestradores de Pen, se encontrassem na prisão de Lancashire. Assim o conde se viu obrigado a recorrer a criminosos mais desastrados e covardes.
Se o Sr. Jones e Mr. Henley estivessem esperando por ele no beco, provavelmente alguém estaria morto agora.
CAPÍTULO 21
As mulheres falam a respeito dos talentos dos homens o tempo todo — disse Dante.
Ele falava com grande autoridade aos outros membros da Sociedade do Duelo, que estavam agora reunidos no White’s por convite de Adrian Burchard.
Era uma de suas noites de cartas e bebidas. Entretanto, Julián sabia que esta reunião especial foi organizada com um propósito. Os homens nessa mesa de cartas tratavam de mostrar ao mundo, que certo advogado não seria cortado ou abandonado por alguns dos seus mais influentes amigos e clientes.
Outros não foram tão generosos. Três dias depois de retornar a Londres, Julián chegou em seu escritório e encontrou a primeira carta de um cliente explicando que tinha transferido seus assuntos legais para outro advogado. Na semana passada, três cartas mais como essa haviam chegado.
Estou certo que você está errado Dante, — disse Laclere. — As damas não falam de tais indelicadezas.
— Charlotte me advertiu disso e confirmou que assim era.
Dante deu uma longa tragada em seu charuto. — Acreditem no que quiserem, mas Fleur me disse que esses assuntos eram discutidos todo o tempo, abertamente, embora mulheres solteiras pudessem ouvir.
— Fleur disse isso? Fleur? — Laclere perguntou incrédulo.
— Isso é surpreendente, — disse St. John.
— Estou impressionado, permitam lhes dizer, que ela me disse isso, antes de nos casarmos formalmente.
— Ela estava alfinetando você Dante. Devido a seus namoricos e a sua reputação de mulherengo. — disse Laclere.
— Não acho que ela fez exatamente por isso. Minha impressão foi que ela estava muito inteirada do que estava dizendo.
— Lamento dizer, que tenho razões para acreditar que o que Dante diz está correto, inclusive, o que diz sobre as mulheres solteiras, mas principalmente as mais amaduras. — afirmou Adrian.
— Antes de me casar, permito-me lhes dizer que tive alguma evidência de que evidentemente esse assunto se discutia entre elas.
Um pensativo silêncio caiu sobre eles.
— Não acredito que nenhum homem aqui tenha alguma preocupação a respeito de sua reputação nessa matéria, — replicou St. John.
— É obvio que não.
— Certamente.
Outro silêncio pensativo seguiu.
Cavalheiros, vamos pelo menos deixar a cabeça um dos outros em paz. Estamos de acordo, que no caso improvável do que diz Dante seja certo e as damas mantêm tais confidências indiscretas entre si— disse Laclere.— Todos os aqui presente reconhecemos que nossas mulheres, não nos informaram de qualquer fofoca a respeito que tenham sabido sobre outro homem.
— O que meu irmão quer dizer é sobre outro homem sentado nessa mesa, acredito.— Com uma expressão que revelava completa confiança em sua própria reputação, Dante jogou mais cinza de seu charuto.
A mão do Adrian foi em cima de seu coração.— Sofía nunca, nunca, de maneira nenhuma, indicou inclusive por insinuação, que ela tenha ouvido que o homem sentado aqui, tenha alguma falta nesse departamento, juro.
St. John parecia muito aborrecido.— Estou certo de que Diane não participaria nunca de uma conversa como essa.
— Não me olhem todos,— protestou Dante.— Fleur me disse que elas falavam disso. Ela não disse nada de ninguém.
— Estou certo, que essas conversas não são comuns e que as mulheres falam de muitas outras coisas quando estão juntas,— disse Julián.
— É obvio.
— Vestidos, crianças, política.
— Claro, que esse assunto provavelmente não ocupa mais que, oh, a metade de sua hora de tempo,— disse Julián.
Todos riram,e St. John começou a repartir as cartas. Seu olhar levantou quando suas mãos se moveram. Sua expressão se endureceu e uma intensidade se focou em seus olhos. Olhou bruscamente a Laclere e continuou repartindo cartas.
Laclere virou a cabeça por um segundo.— Glasbury acaba de entrar. Alguém avisou a ele que Adrian convidou Julián para estar aqui nessa noite.
Julián recolheu suas cartas. Assim que notou seus números, a maior parte de seus sentidos estavam na presença invisível do conde atrás dele. Ele sentiu o homem como um frio espectro tivesse entrado na sala de jogos.
O canto rebelde de sua cabeça estava cheio de Pen nos últimos dez dias. Ela morava ali todo o tempo, sua bela voz, seu rosto em paz e sua calma. Seus abraços tinham feito que todos os desprezos e as caretas fossem insignificantes. Agora ela retirava-se e emoções mais antigas se agitaram dentro dele. Uma raiva profunda gelava seu sangue. Ele olhou acima das cartas e se encontrou com St. John examinando-o fixamente.
— Não está levando uma arma, verdade Hampton?
Os outros homens da mesa dirigiram sua surpreendida atenção para ele.
— Repetirei o que uma vez me disse, desejaria ir por esse caminho? — perguntou St. John. — ele está nos olhando e logo estará aqui, estou seguro que sua intenção não é matá-lo, mas nos permita nos assegurar que não cairá em tentação. Passe a pistola para Adrian por debaixo da mesa.
A ordem não vinha só pela parte de St. John, as expressões dos outros três também lhe pediam que o fizesse. Exalando entre seus dentes, Julián deslizou a pequena pistola debaixo de seu casaco e a colocou na invisível mão de Adrian que estava esperando. Glasbury tomou seu tempo, mas eventualmente foi se aproximando de sua mesa. Agiu como se Adrian Burchard fosse a única pessoa sentado ali.
— Burchard, acho que os membros do clube podem abordar a questão dos convidados inapropriados que são trazidos aqui, não acha?
— Não vejo que seja necessário. Nós deixamos que cada um tome a decisão por si mesmo.
— Normalmente assim é. Entretanto, a pessoas que supõe que cavalheiros exercendo discrição, saberão que é melhor não convidar a alguém que é sujeito a notoriedade e a escândalo. Se o julgamento de um membro falha nisso, outro membro pode ter motivos para reclamar.
Adrian olhou a Glasbury diretamente nos olhos. — Os escândalos que acontecem frequentemente são só intrigas. Se julgássemos os homens que estão nesta sala só nos apoiando nisso, perderíamos a metade de nossos membros. Agora, no caso que esteja falando de um convidado que foi oficialmente escandaloso, apoiado em evidências concretas, eu poderia estar completamente de acordo com você.
Por exemplo, se um homem fosse chamado criminoso, tendo por esposa um par do reino, os outros membros considerados pares do reino também, se considerariam insultados, especialmente se esse par fosse um membro também. Entretanto, tais coisas não levadas em conta nesse clube, exceto como tópico de conversa.
A coluna de Glasbury se endireitou. — Verá que tenho alguma influência no palácio, alguns ouvidos sempre me escutam.
— O que quer dizer com isso? St. John perguntou, ignorando Glasbury como rondava por seu ombro.
— Eles estão pensando em me dar um título, — disse Adrian. — Por dois anos estiveram debatendo. Parece que meu casamento com Sofía representa um quebra-cabeças. Por um lado, eles desaprovam e não desejam ter outro, uma duquesa cujo marido não é o dono do título, não é para eles adequado, não é assim? — St. John encolheu os ombros.
— Você nunca foi adequado.
— Eles poderiam ter feito pelos serviços prestados à coroa, antes de seu casamento, assim ignorando o casamento em si mesmo. — comentou Laclere.
— Mas isso exigiria admitir que esses serviços foram prestados, no qual o Secretário de Assuntos Exteriores se negará a fazer. Assim o quebra-cabeças fica mais difícil.
Glasbury não perdeu de perceber, que sua presença se transformou em algo irrelevante, poderia ser uma cadeira vazia nessa mesa. Seu rosto avermelhou. Seu olhar caiu sobre Julián.
— Você é um descarado. Não é bem visto que Laclere e Burchard o tenham trazido você para aqui. Mas o que se pode esperar de homens que atraem escândalos para si mesmo.
—Estou certo que, você não vai pegar em alto a bandeira de indignação moral Glasbury. Isso seria hipócrita e ridículo. — disse Julián.
— Conheço seu jogo Hampton. Penélope me disse o que você espera, isso não acontecerá, não permitirei que aconteça, nunca a deixarei ir.
— Então temos um ponto em comum, não é?
— Ao inferno que o temos.
— Suponho que isso significa, que você recebeu a mensagem que enviei junto com os homens que contratou e que você enviou para me desafiar. A boca de Glasbury se debilitou pela surpresa, que Julián o tivesse deixado em uma posição incômoda.
— Não é uma provocação? Então foi só uma bravata. Que lástima.
Glasbury tratou de encontrar seu desprezo novamente. — Não vou duelar por puta.
Cinco homens se levantaram de suas cadeiras por um momento. Adrian atravessou seu braço para bloquear Julián e Laclere agarrou o conde, enquanto St. John parava Dante. Todos os olhos no salão de jogo estavam sobre a disputa.
— Peça desculpa Glasbury, — Adrian lhe advertiu. — Explique que sua raiva o levou o melhor de você, ou terá três desafios a enfrentar.
— Em que posição? Ela é minha esposa.
— Não me importa nada se ela for, — Julián grunhiu. — Se você a insultar, eu exijo uma satisfação.
Glasbury manteve sua postura por poucos segundos mais. Então deu um passo atrás.
— Admito que está me tentando Hampton, mas tenho outros planos. Desejo que saiba, que hoje iniciei uma petição diante a corte, pedindo que devolvam meus direitos conjugais. Quanto ao restante de vocês, estou recolhendo votos contra o estatuto parlamentarista do projeto Durham no qual vocês são sócios.
Um silêncio ensurdecedor caiu na mesa. Julián tentou escapar das mãos que o seguravam de estrangular ele mesmo o bastardo. Glasbury sorriu com satisfação, ao ver sua reação de surpresa.
— Minha raiva tirou o pior de mim cavalheiro. Desculpo-me por chamar sua irmã de puta, não importa que sua conduta mereça esse nome apelativo.
Girou sobre seus calcanhares e partiu. Julián recuperou a prudência.
— Covarde, — murmurou.
Ninguém deu uma palavra a respeito dos anúncios de Glasbury, mas isso os surpreenderam. Sentaram de novo e cada um retornou as suas cartas, exceto St. John. Ele colocou a palma de sua mão na mesa e se inclinou para frente para centrar uma intensa inspeção em Julián.
— Ele é um covarde e você se transformou em um idiota. Ele tinha razão, ele pode desafiá-lo, mas você não. Um amante não pode organizar um duelo para matar o marido de sua amante e sair-se bem. O que aconteceu com você? Perdeu a cabeça?
Julián devolveu o olhar, mas seu lado racional admitiu a verdade.
O amor falou por ele e tinha perdido a razão.
— Acredito que vou me retirar agora— disse Bianca. — Duvido que os cavalheiros voltem para casa, antes de algumas horas.
Enquanto a Sociedade do Duelo, reunia-se no White's, suas damas se reuniram na casa de Laclere.
Depois que os convidados se foram, Pen e Bianca caminharam para a escada. Pen se estava perguntando se Julián se uniria a ela nessa noite. Talvez, seria muito difícil para ele chegar e subir essas escadas com Laclere.
Os homens podiam ser muito suscetíveis a respeito de tais coisas. É claro, que Julián não sabia que Laclere e Bianca tiveram um romance antes do casamento.
Ela confiava que a visitasse de todos as formas, por isso não foi para a cama e ficou na mesa ocupada com seu ensaio. Lady Levanham havia enviado o rascunho final de seu ensaio, sobre as leis do casamento para seu revisão. A carta que o acompanhava, tinha explicado que em tais circunstâncias, o nome de Pen já não seria incluído como autor.
Disse que não lhe importava, embora em seu coração, realmente importava. No entanto, o objetivo era começar o debate social sobre o assunto e não crédito sobre o ensaio.
— A natureza do seu divórcio não acrescentaria nada ao debate. — disse em voz alta enquanto começava o parágrafo. — Meu adultério será o único problema e não o comportamento de Glasbury. Meu nome não contribuirá em nada no julgamento deste ensaio, agora só o prejudicará. Leria os parágrafos que eram seus, mas nunca poderia reivindicá-los. Na metade da leitura uma batida leve na porta a distraiu.
Sabia que não era Julián, já que ele não pedia permissão para entrar.
Abriu a porta para encontrar uma das criadas. A jovem parecia um pouco furtiva.
— Desculpe milady. Alguém está perguntado por você.
— O conde?
— Não, milady. Sabemos que não é permitido. Mas é uma mulher. Ela esteve na cozinha por várias horas esperando, até que as outras damas se fossem. O cozinheiro ficou com pena dela e a deixou ficar, disse para que eu viesse lhe avisar agora. Esperamos que não fique aborrecida pelo que fizemos. Com curiosidade Pen a seguiu até a cozinha.
Uma figura se levantou de um banco perto da mesa de trabalho de pinho.
— Catherine!
— Que bom vê-la milady. — Catherine tocou o ombro pequeno de uma menina loira de uns cinco anos, que ficou em pé também.
— Está é a minha Beth.— Querida, essa é a condessa de Glasbury.
Os olhos da menina abriram como pratos. Ela fez uma reverência. Catherine de alguma forma solicitou privacidade, antes de falar mais. Pen pediu para a criada levar Beth no final da cozinha para comer e se sentou perto de Catherine.
— Como conseguiu sua filha junto a você?
— Roubei-a, — Catherine disse francamente. — Vi como era tratada e a trouxe, estava suja e nem sempre dormia em uma cama, são sua família e mesmo assim, a tratavam como se fosse uma faxineira. Olhe como está magra, não me diga que não tenho direito, sou sua mãe e tenho todo o direito.
— Sou a última pessoa que a condenaria pelos seus direitos, como foi que a levou?
— Suas próprias negligências permitiram. Ninguém prestava atenção a onde ela estava ou o que fazia. Poderia ter caído no rio, pelo conhecimento deles Levá-la foi fácil.
— O que você vai fazer agora?
— Decidir levá-la comigo para América, da forma que você havia planejado. Ouvi dizer que é um grande país. Imagino que tão grande como Grã-Bretanha.
— Sim é muito grande.
— Uma mulher e uma menina podem desaparecer facilmente lá. Devo partir rapidamente, pois Jacob logo saberá que fiz isso, se é que não sabe agora. Beth diz que ele devia ir visitá-la logo, assim já deve estar nos procurando. Não posso atrasar mais.
— Precisa de dinheiro?
Os olhos azuis de Catherine ficaram úmidos. — Não tenho direito de pedir, eu sei que o Sr. Hampton foi muito generoso quando me deixou em Blackburn, mas não esperava ter que sair do país. Se só fosse eu, pegaria qualquer lixo, mas não desejo que minha Beth adoeça nessa viagem.
— Certamente que vou ajudá-la, darei todo dinheiro que tenho, mas sei de uma forma para ajudá-la com um pouco mais de dinheiro. Espere aqui que já volto.
Pen caminhou através da casa adormecida, de volta para seu quarto. Tirou um monte de documentos que usaria se ela viajasse, talvez nunca os necessitasse. Sentou em sua mesa, fez algumas rápidas correções em três dos papéis e então, pegou sua capa marrom e voltou à cozinha.
— Como chegou aqui Catherine?
— Caminhamos.
— Bem, não podemos caminhar agora. — Pen enviou à criada para chamar um lacaio, e ordenou-lhe para que conseguisse uma carruagem de aluguel.
— Se assegure que ninguém o siga. — disse-lhe. — Vigie também que ninguém esteja olhando a casa ou o beco.
Catherine olhou para a capa que Pen tinha em seus braços.
— O que está fazendo?
Pen levantou os documentos.
— Um deles é uma transferência de banco assinada por meu irmão, agora está em seu nome. Espero que ainda o aceitem, o outro é uma carta de apresentação à tia de sua esposa que vive em Baltimore. Coloquei uma mensagem que estou certa que ela entenderá. Pen agitou a última
— Essa carta é de Daniel St. John dirigida a todos seus capitães, para que lhe aceitem em qualquer um de seus navios. Uma delas é do no porto daqui. Saí para Marselha amanhã. Levarei você e explicarei ao capitão que viajará em meu lugar, assim ele escreverá outra carta, que será entregue a qualquer um dos capitães de St. John dos navios que deva abordar. Será uma maneira indireta de fazer a viagem, mas a tirará da Inglaterra de todas as formas e finalmente chegará a América.
Quando a carruagem de aluguel chegou, Pen apressou Catherine e Beth para dentro. Deu instruções ao criado para que as seguisse por um tempo e verificasse que sua partida não fosse seguida por ninguém. Deu ao cocheiro a direção e se sentou. Tomou todas as precauções possíveis e não esperava nenhuma interferência. Só estaria fora por poucas horas, e uma carruagem anônima não atrairia a atenção. Glasbury teria que ser um mago se conseguisse saber como encontrá-la. Sentia-se segura em si mesma e muito positiva.
— Catherine, só por curiosidade, você tem a pistola?
— Certamente milady. Não penso viajar sem ela.
Pen sentiu Julián em seu quarto. Sua presença a despertou do profundo sono que a tinha reclamado, depois que voltou das docas.
Demorou mais que duas horas ao acompanhar Catherine e sua filha. O capitão aceitou a carta de St. John sem duvidar, mas requereu um pouco de persuasão para entender que precisava garantir que o privilégio de viagem era transferível. Pen decidiu que queria que ele escrevesse de uma vez a carta de transferência, assim Catherine teria a carta em seu poder de ali. Julián não estava ali esperando-a quando ela retornou, no qual foi bom, pois sabia que iria repreendê-la por ter ido. Quando se preparava para ir a sua cama pareceu escutar a voz de Laclere, que indicava que havia voltado para casa, mas Julián não subiu as escadas com ele.
Agora ele estava aqui, algumas horas mais tarde.
— Fingiu voltar para casa, para não envergonhar meu irmão? — Perguntou ela quando ele se uniu com ela na cama.
— Senti necessidade de caminhar por um tempo.
— Para limpar sua cabeça? Muita bebida?
— Sim, para limpar minha cabeça, mas não por causa da bebida. Volte a dormir querida. Ficarei só um pouco. Devo voltar a minha casa logo, para preparar-me para a viagem.
— Viagem?
— Seu irmão decidiu que devem partir para Laclere Park.
— Decidiu agora? Isso é uma decisão repentina, porque Bianca não sabia nada disso.
— Vamos todos amanhã.
— Ela não preparou nada, ficará chateada com Laclere por causa disso.
— Todos vão ao mesmo tempo e eu a acompanharei. Acho que St. John e Burchard também levarão suas famílias depois de amanhã.
Ela se ergueu em seu cotovelo. — Por que tão precipitadamente se organizou essa festa de campo?
— Vergil interferiu muito, como é de seu antigo hábito e não mudou com os anos. Agora volta a dormir.
Ela recostou-se em seu travesseiro e se enrolou em seu lado. Sentiu-se adulada por ele ter vindo, embora fosse só por uma hora ou duas, mas esses novos e repentinos planos eram muito estranhos.
— Julián, aconteceu alguma coisa essa noite para que meus irmãos tomassem essa decisão?
— Glasbury esteve no clube, isso foi tudo. — disse isso, com o propósito de terminar a conversa. Ela duvidou que isso fosse tudo, estava claro que Julián não queria dizer o que aconteceu. Deveria esperar ter os detalhes com Bianca.
Pen deixou Londres na tarde seguinte, depois de descobrir que uma fila de carruagens, transportando à família de Laclere por todo o país, não era um assunto muito simples. Crianças, babás, governantas, tutores e bagagens encheram as carruagens.
Dante e Fleur viajavam com Pen e Julián. Pen esteve em Nápoles quando Dante e Fleur se casaram e tinha ouvido toda a história de seu romance, assim que desembarcou em Londres. Ela estava muito agradecida, por ter tido a oportunidade de passar algumas horas com eles.
Fleur estava grávida e só agora começava a ser percebido. Dante tratava sua esposa com uma atenção e cuidado que Pen achava adorável.
— Querido, realmente não preciso de outra manta. — Disse Fleur quando seu devoto marido tratou de agasalhá-la, com uma segunda manta em sua volta.
— Acho que ficará mais frio agora que estamos entrando no campo, não pode pegar um resfriado Fleur.
— Uma mulher em minha condição, raramente se resfria meu amor. Justamente o contrário.
— Possivelmente deveria deixar que Fleur o guie sobre sua comodidade, Dante, — disse Pen. — Ela não arriscará a si mesma.
Isso o parou. — Certamente, tem razão.
Fleur deu a Pen um olhar de agradecimento e Pen devolveu. Era uma alegria ver a mudança em Dante e seu descarado amor por sua esposa, sentia uma nova admiração por ele só por isso, já que agora compreendia essa emoção mais do que antes, já que nunca teve anteriormente.
Seu próprio amante estava muito silencioso durante a viagem. Ela olhou seu perfeito perfil, com a paisagem movendo-se atrás através da janela. Ele percebeu sua atenção e a olhou. Pegou sua mão na sua e olhou significativamente a seus acompanhantes. Dante e Fleur contemplavam um ao outro, em um particular olhar e perdidos ao restante do mundo.
— E pensar que eu lhe adverti contra esse casamento — sussurrou Julián.
— É por isso que está tão pensativo? O advogado está contando seus erros?
— Não estou pensativo. Só admirando sua paz, sua felicidade por seu amor e a alegria pela criança que está a caminho.
Ela não achou que ele estava só admirando-os. Perguntou-se se também os invejaria.
De repente seus pensamentos se viram interrompidos, por alguma razão a carruagem começou a parar. Essa mudança tirou Dante de seu mundo privado.
— Outro bloqueio? Glasbury deve saber que não permitiremos um assalto na estrada.
Julián colocou sua cabeça para fora da janela. A carruagem parou, mas o som das carruagens e dos cascos dos cavalos se sentia a distância.
— Estamos sendo seguidos e aclamados, mas não acredito que seja Glasbury, um cocheiro e quatro cavalos se aproximam, junto com dois homens a cavalo. — Um desses cavaleiros galopa sobre um corcel baio. Julián abriu a porta da carruagem e saiu para ter uma melhor visão. — Um cavaleiro está falando com Laclere.
— Pergunto-me sobre o que estão falando. — disse Fleur. — Reconhece o homem?
Julián olhou atrás para o caminho. — Infelizmente, reconheço um dos homem que está fora da carruagem, seu nome é Lovejoy e é o inspetor da Polícia Metropolitana.
— Dante murmurou uma maldição. — Também é uma marionete de Glasbury. Pulou fora e se juntou a Julián.
Um antigo e familiar pânico acelerou o coração de Pen. Era a mesma sensação que tinha quando sentia que o conde estava à espreita atrás dela, antes da proteção de Julián a ter feito se sentir segura. De repente, não se sentiu nada segura. Embora seus irmãos e Julián estivessem ali, até com os lacaios e serventes de Laclere formando um escudo ao seu redor, toda a vulnerabilidade retornou. Uma mão tocou a sua, olhou para baixo e viu a luva de Fleur cobrindo a sua reconfortando-a. Botas e vozes baixas se aproximaram. A expressão de Julián se endureceu, de repente Laclere apareceu ao lado da carruagem com dois homens que ela nunca viu antes. Laclere parecia saber do que se tratava tudo isso, olhou os estranhos até que eles retrocederam alguns poucos passos, então disse algo a Julián, ambos se dirigiram à porta da carruagem.
— Todos devemos retornar a Londres ao mesmo tempo, — disse Laclere.
— O que está acontecendo Vergil?
— Pen, Glasbury foi encontrado morto essa manhã. Alguém o assassinou.